Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Introdução
Vamos continuar nossa viagem pelo tempo?
Nesta aula, daremos uma parada em Roma e na Grécia Antiga, trazendo de lá as ricas contribuições à
constituição da educação a partir dos seguintes filósofos clássicos: Sócrates (469 a.C.-399 a.C.), Platão (428
a.C.-347 a.C.) e Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.).
Afinal, há muito para refletir sobre seus pensamentos, o que nos permitirá ir ao encontro das raízes e dos
fundamentos da educação e da sociedade.
Na educação grega, explicaremos a Paideia. Na romana, apresentaremos o ensino da gramática, o respeito aos
ancestrais, a defesa da disciplina, a retórica e a oratória como pilares da formação cidadã.
Bons estudos!
Objetivos
Enumerar as contribuições da educação grega e romana para a história da humanidade;
Explicar o modelo de formação humanística adotado pela civilização clássica (greco-romana) e seus
desdobramentos para a educação atual.
Sócrates
Sócrates (469 a.C.-399 a.C.) entendia a Filosofia como a procura da verdade, trilhando o caminho da
sabedoria.
Com a famosa frase “Conhece a ti mesmo”, o filósofo ateniense impulsionou a busca das verdades
universais – o caminho para a prática do bem e da virtude. Em resumo, ele almejava que as pessoas se
livrassem das falsas certezas para alcançar a verdade própria do ser humano.
Esse método tinha duas etapas que destruíam as falsas verdades para criar a universal. São elas:
1ª etapa
De início, implantava-se a dúvida, de modo que o saber adquirido fosse interrogado para revelar as
fraquezas e contradições na forma de pensar.
2ª etapa
Depois, estimulava-se a busca de novos conceitos, de novas opiniões, o pensamento por si mesmo, a
fim de desvelar a verdade, livrando-se do falso conhecimento.
Platão
Platão (428 a.C.-347 a.C.) valorizava a Academia como local da Filosofia. Na linha do mestre está a
busca da verdade como condição do conhecimento filosófico.
Seu método separa os dois mundos: sensível e inteligível. Os fenômenos estão em constantes
mudanças, mas algo nunca se modifica. A realidade está além das coisas sensíveis ou aparentes, que
precisam ser descobertas pelo intelecto.
Saiba mais
É preciso conhecer as formas, a verdade e a razão de tudo o que existe no mundo sensível. Tudo o
que nasce e desaparece não pode ser considerado o ser de maneira plena.
Neste mundo, tudo é instável, pois se transforma com o tempo. A verdade é o lugar para onde
devemos retornar, pois viemos dela, das formas inteligíveis e das essências.
A instrução deve culminar na formação do cidadão e da cidade dos justos. Por isso, é necessário
haver equilíbrio entre as três almas presentes no homem: animal, passional e intelectual. O
intelecto (razão) tem de dominar as paixões e os instintos.
A educação precisa levar à reminiscência 2, que conduz o homem e a cidade à verdade. Nesse
sentido, são canais de harmonização humana:
Nela, prisioneiros acorrentados de frente para a parede somente podiam ver as sombras. Quando um
deles se libertou, encontrou uma realidade diferente.
Impressionado, o preso voltou para contar aos demais sobre o mundo real que existia fora da caverna e
para livrá-los da escuridão. Mas eles se recusaram a acreditar no homem e o mataram.
Moral da história:
Aristóteles
Para Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.), somente na pólis 4, o homem se realizava plenamente em busca
do bem supremo.
No entanto, esse viver bem não era definitivamente alcançado, pois não estava preso a um tempo
específico, mas se refazia – inclusive como sensação –, na medida em que o homem decidia por novas
determinações em seu ato constitutivo e reconstitutivo.
Cada vez que o sujeito constituía sua determinação, o que somente podia acontecer a partir da vida na
pólis, exercia a phrónesis: uma verdade prática que o contextualizava, humanizava e o colocava à
frente da interrogação sobre sua existência, tornando-o criador e recriador de sua vida.
A preocupação para que as coisas fossem de outra maneira impelia ao não cumprimento apenas das
determinações traçadas para ele.
Somente pelo entendimento do conceito de pólis, era possível compreender seu projeto de educação
como canal capaz de desenvolver as condições necessárias para a segurança do regime e para a saúde
do Estado, que devia ocupar toda a vida do cidadão – desde sua concepção.
Contudo, só o que o Estado legislava tinha de contribuir para a educação, e a ele cabia:
01
Guiar os cidadãos à prática das virtudes.
02
03
Estabelecer leis que promovessem a educação conforme a moral, voltada à vida política, o que
estabelecia seu equilíbrio.
04
05
Para Aristóteles, a política era a ciência mais importante, e apenas por meio da
educação, o homem desenvolvia a prática do bem-estar comum.
Mas, para que a educação alcançasse seus objetivos, era necessário um conjunto de atividades
pedagógicas e coordenadas, que visassem a uma cidade perfeita e a um cidadão feliz.
O filósofo grego também deixou de herança o método peripatético 5, que discutia as questões
filosóficas mais profundas, relacionadas à metafísica, à física e à lógica.
Democracia ateniense
Antes de começarmos a refletir sobre a educação grega, é importante conhecermos a democracia
ateniense.
O regime democrático de lá trouxe importantes modelos e práticas para as sociedades posteriores, tais
como:
1
Educação grega
O princípio da educação grega era a formação integral. A própria família tinha essa responsabilidade,
conforme a tradição religiosa.
Muitas atividades reuniam os gregos em comemoração. Esses eram os momentos que faziam a
educação acontecer naturalmente.
O ensino das letras e dos cálculos demorou um pouco mais para se difundir, pois, na formação escolar, a
preocupação recaía, prioritariamente, sobre a prática esportiva.
Assim como a intelectual, a educação pelas artes era fundamental para gerar esse homem. Esse
processo era resumido pela palavra paideia 7, que não é possível traduzir em virtude de seus inúmeros
significados.
[...] não se [pode] evitar o emprego de expressões modernas como
civilização, tradição, literatura ou educação. Nenhuma delas [coincide],
porém, com o que os gregos entendiam por paideia. Cada um daqueles
termos se limita a exprimir um aspecto daquele conceito global. Para
abranger o campo total do conceito grego, teríamos de empregá-los todos
de uma só vez. [...] [Trata-se de] todas as formas e criações espirituais e
[do] tesouro completo da sua tradição, tal como nós o designamos por
bildung ou pela palavra latina cultura.
Jaeger, 1995.
As crianças atenienses que se tornariam cidadãos eram preparadas para o debate e a deliberação.
Tinham um dia de estudos e de instrução para a cidadania.
Elas se encaminhavam para a palestra – local onde estudavam – duas vezes ao dia: de manhã, quando
aprendiam música e ginástica, e à tarde, após o almoço em casa, para o ensino da leitura e da escrita,
que era acompanhado por um escravo, chamado de pedagogo 8.
Antiga Ágora. Disponível em: https://goo.gl/p8r3uY <https://goo.gl/p8r3uY> . Acesso em: 20 jun. 2018.
Foi nessa cidade que o ideal de uma educação integral, aliando mente e corpo, concretizou-se. O Estado
era entendido como uma maneira de garantir a liberdade do cidadão, o que era possível por meio da
prática educativa.
Até os 7 anos de idade, a educação das crianças era responsabilidade das famílias e ocorria no
espaço doméstico. Entretanto, essa tarefa não era exclusiva dos pais. Cabia, preferencialmente,
aos escravos e às amas (pedagogos) o cuidado de ensinar, iniciado pela educação física e musical,
e pela alfabetização.
10
As meninas continuavam a ser educadas no ambiente familiar, especificamente no gineceu . Já a
educação masculina organizava-se em três níveis:
Saiba mais
A partir da Educação Elementar, as crianças eram encaminhadas para aprender algum ofício, ou
continuavam estudando e frequentando os ginásios. Inicialmente, esses lugares eram destinados
apenas aos exercícios físicos, mas, com o tempo e as exigências da pólis, incluíram as práticas
musicais e literárias.
A partir dos 16 ou 18 anos, o jovem se dedicava ao Ensino Superior. Esse foi o momento em que
Sócrates, Platão e Aristóteles desenvolveram suas reflexões e teorias.
Assim, a educação ateniense propiciou o surgimento e o desenvolvimento da Filosofia, que pode ser
dividida em três fases:
1
Período pré-socrático
Período socrático
Aqui, a reflexão residia sobre o homem. Este foi o momento em os filósofos clássicos estudados se
destacaram.
Período helenístico
Aqui, a Filosofia ficou marcada pela visão cristã e por soluções individuais em detrimento do coletivo.
O poder político-militar deu o sentido da educação na cidade de Esparta, que, patrocinada pelo Estado,
tinha como principal objetivo preparar os futuros soldados.
Em Esparta,(Fonte:
o principal objetivo era preparar futuros soldados.
matrioshka / Shutterstock)
Após esse período, o Estado assumia a educação: os jovens eram afastados da família e encaminhados
12
para as casernas públicas , onde recebiam ensinamentos militares e treinavam:
Ginástica;
Saltos;
Natação;
Corrida;
Lançamentos de dardo e de disco.
Eles também aprendiam a suportar a fome, o frio, a dormir com desconforto e a vestir-se de forma
despojada. Além disso, estudavam as armas e manobras militares, com o propósito de se tornar hábeis,
perspicazes e com autodomínio.
Comentário
As mulheres também se preparavam fisicamente e eram criadas para viver de maneira saudável, a
fim de conceber filhos sadios. A educação sexual fazia parte da instrução feminina a partir da
puberdade e era de responsabilidade da mãe.
Em torno dos 20 anos, a moça recebia autorização do governo para casar e procriar, e era
estimulada a engravidar, pois, quanto mais filhos nasciam, mais soldados havia na cidade.
A disciplina era um valor, e o respeito dos guerreiros a seus superiores era primordial. Assim, a
educação moral espartana valorizava a obediência, a aceitação dos castigos e o respeito aos mais
velhos, bem como privilegiava a vida comunitária (ARANHA, 2000, p. 51).
Educação romana
Na fase latina da educação romana, havia resistência à influência helenística.
Os pequenos camponeses do Lácio 13 protegiam-se das inovações estrangeiras pelo respeito a uma
tradição ancestral, de acordo com a qual a finalidade da educação era prática e social.
Esperava-se que se proporcionasse à criança o saber necessário para o exercício de sua profissão de
soldado ou de proprietário rural.
Nesse período, a educação da criança era de responsabilidade da família, do
pater familias 14 [...]. Isso significa que, desde os primeiros tempos da
Leitura
No século II a.C., o pater familias concedeu à mãe os direitos sobre a educação de seus filhos
durante a primeira infância, incluindo as meninas, que também aprendiam os elementos iniciais do
alfabeto. A criança crescia em casa e com os colegas, entre os brinquedos e as aprendizagens
básicas.
A mulher adquiriu uma autoridade desconhecida na Antiguidade grega. Essa tradição permaneceu
por muito tempo, inclusive no século I d.C., conforme destaca Manacorda (2006, p. 75):
“Quintiliano 15 também atribui à mãe a tarefa de ensinar aos filhos os primeiros elementos do
falar e do escrever”.
Mas, por volta dos 7 anos de idade, essa função era de responsabilidade do pai, que deveria
proporcionar ao filho a educação moral e cívica, baseada na tradição, bem como na aprendizagem
de noções jurídicas e de conceitos estabelecidos na Lei das XII Tábuas 16, a fim de desenvolver
sua consciência histórica e o patriotismo.
Em torno de 16 anos, finalmente livre da infância, o jovem dava início à aprendizagem da vida
pública, militar ou política, acompanhado do pai ou, se necessário, de um parente e, até mesmo,
de um escravo instruído, com o objetivo de se inserir na sociedade.
Durante cerca de um ano e antes de cumprir o serviço militar, adquiria conhecimentos de Direito,
de prática pública e da eloquência 17.
Provavelmente, a evolução histórica foi do escravo pedagogo e mestre da
Assim, em Roma, esses vassalos foram gregos que, falando ou não latim, ensinaram a própria língua e
transmitiram sua cultura aos romanos. Além disso, os etruscos que povoaram parte da Península foram
influenciados pelos gregos, de quem buscaram o alfabeto.
De modo gradual, a educação tornou-se um ofício praticado, inicialmente, por escravos no interior da
família e, em seguida, por libertos na escola.
Em resumo, observamos a influência grega e etrusca sobre a origem de uma forma de educação não
familiar, mas institucionalizada na escola.
Logo, a cultura grega converteu-se em patrimônio comum dos povos do Império Romano e, depois, foi
repassada durante muito tempo à Europa medieval e moderna, chegando, assim, a nossa época.
Nesse período, os mestres eram mais desprezados do que estimados e, muitas vezes, lembrados pelos
castigos corporais e pela pobreza. Apesar de sua severidade, é comum encontrarmos relatos de revoltas
por parte dos alunos, que até os agrediam fisicamente.
<https://goo.gl/Y56b6H>
Professor punido. Disponível em: https://goo.gl/Y56b6H
. Acesso em: 20 jun. 2018.
A memorização e a repetição marcaram fortemente essa escola inicial.
A crítica a esse modelo de educação se fez presente e partiu de dentro da própria sociedade, que, por
meio de seus importantes pensadores ou filósofos, não só condenou como também externou
proposições a respeito da escola.
[...] em Roma, encontramo-nos, pela primeira vez, perante uma crítica
fundamental da escola pelo que ela é, e não pelos acidentes de sua vida
Leitura
Em seguida, foram criadas as cátedras de retórica nas grandes cidades. Além disso, houve
favorecimento e promoção da instituição de escolas municipais de gramática e de retórica nas
províncias.
Nesse contexto, pela primeira vez, os romanos desenvolveram um sistema de ensino: um organismo
centralizado que coordenava inúmeras instituições escolares espalhadas por todas as províncias do
império e constituídas em carácter oficial pela intervenção do Estado.
Esse processo ocorreu de forma lenta, mas, aos poucos, com o passar dos anos e até mesmo dos
séculos, verificamos avanços nesse sentido.
Atividade
1. O método investigativo, criado por Sócrates no século IV a.C., que se baseava nas interrogações
para dar à luz o conhecimento e que destruía as falsas verdades para gerar uma universal, era
conhecido como:
a) Arché
b) Dialética
c) Maiêutica
d) Pedagogia
e) Peripatético
2. Aristóteles deixou muitas heranças para a educação grega e romana. Uma delas foi um método
de ensino que discutia as questões filosóficas mais profundas, relacionadas à metafísica, à física e
à lógica, conhecido como:
a) Phisis
b) Aleteia
c) Dialética
d) Maiêutica
e) Peripatético
Notas
Maiêutica 1
Termo de origem grega usado por Sócrates para homenagear a profissão de sua mãe (parteira).
Etimologicamente, significa: μαιευτικη [maieutike] = “arte de partejar, parir”
Reminiscência 2
Lembrança de uma verdade que, contemplada pela alma no período de desencarnação (entremeio que separa
suas existências materiais), ao tornar à consciência, evidencia-se como o fundamento de todo o conhecimento
humano.
3
Dialética
Processo de diálogo, debate entre interlocutores comprometidos com a busca da verdade, por meio do qual a
alma se eleva, gradativamente, das aparências sensíveis às realidades inteligíveis ou ideias.
Pólis 4
O mesmo que cidade-estado. Na Grécia Antiga, era um pequeno território localizado geograficamente no ponto
mais alto da região, e cujas características equivaliam a uma cidade.
Seu surgimento foi um dos mais importantes aspectos do desenvolvimento da civilização grega. Constituída por
um aglomerado urbano, abrangia toda a vida pública de um pequeno território e, geralmente, encontrava-se
protegida por uma fortaleza.
Método peripatético 5
Doutrina cujo nome deriva de perípato: alameda dos jardins do Liceu (escola filosófica fundada por Aristóteles,
onde ministrava suas aulas caminhando). Ao longo do tempo, o método se difundiu e passou a designar todo
aquele que tem o hábito de ensinar dessa forma.
6
Ostracismo
Lei que punia politicamente o cidadão que elaborasse projetos públicos em proveito próprio, condenando-o à
expulsão ou ao exílio por 10 anos.
7
Paideia
“[...] a essência de toda a verdadeira educação, [o] que dá ao homem o desejo e a ânsia de se tornar um
cidadão perfeito, [o que] o ensina a mandar e a obedecer, tendo a justiça como fundamento”.
Pedagogo 8
Termo que surgiu na Grécia Clássica, advindo da palavra παιδαγωγός, cujo significado etimológico é “preceptor,
mestre, guia, aquele que conduz”. O paidagogo (paidagōgós) era o condutor que guiava a criança e o jovem
até o local de ensino, ou seja, em direção ao saber.
Retórica 9
Gineceu 10
Local da casa reservado aos afazeres domésticos.
11
Licurgo
12
Casernas públicas
Edifícios ou alojamentos para moradia de soldados dentro de um quartel ou de um forte. Os espartanos viviam
nesses locais até por volta dos 45 anos, quando eram indicados para a reserva.
13
Lácio
14
Pater familias
O mesmo que “pai de família” – mais elevado estatuto familiar da Roma Antiga (sempre uma posição
masculina).
Quintiliano 15
16
Lei das XII Tábuas
Antiga legislação que estava na origem do Direito romano e que formava a essência da constituição da
República de Roma, bem como do mos maiorum (antigas leis não escritas e regras de conduta).
Eloquência 17
Referências
MANACORDA, M. A. História da Educação: da Antiguidade aos nossos dias. 12. ed. São Paulo: Cortez, 2006.
SOUZA, N. M. M. (Org.). História da Educação: Antiguidade, Idade Média, Idade Moderna, Idade
Contemporânea. São Paulo: Avercamp, 2006.
Próximos Passos
Explore mais
Em caso de dúvidas, converse com seu professor online por meio dos recursos disponíveis no ambiente de
aprendizagem.
Leia os textos:
O ensino em Roma;
<http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/momentos/escola/ensinoroma/index.htm>
História da Educação – período grego <http://www.pedagogia.com.br/historia/grego.php> .
Assista ao vídeo: