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Uma embaixada para o céu

Orlando Fedeli
Sacerdotes que deixavam tudo e empreendiam viagem em direção à morte certa, ávidos de darem
seu sangue por Nosso Senhor Jesus Cristo.
Isso aconteceu no Japão do século XVI.
A ação apostólica de São Francisco Xavier em todo o Oriente foi fecundíssima. No Japão,
especialmente, os frutos de seu apostolado lembram os trabalhos do Apóstolo São Paulo, como eles são
contados nos Atos dos Apóstolos. Milhões de nipônicos foram batizados e chegou-se a julgar, sem otimismo
exagerado, que todo o Império do Sol Nascente ia aderir sinceramente ao Catolicismo.
Isto o demônio não podia permitir. Atiçada por sopro diabólico, desencadeou-se perseguição a mais
sangrenta. Todo ocidental – e particularmente todo sacerdote – que chegasse às ilhas nipônicas, era
imediatamente assassinado.
Paradoxalmente, ao invés de afugentar os padres missionários pelo terror, a possibilidade de morrer
por Cristo despertou tanto zelo que, nas colônias portuguesas do Oriente, foi preciso proibir a partida de
sacerdotes para o Japão, pois que tantos iam, tantos morriam.
Nem os decretos, nem a prudência humana conseguiam frear a sede do martírio. À noite, nas
praias, era necessário colocar soldados de vigia para impedir que os padres partissem...para o céu.
Vendo que não havia como conter o ardor dos sacerdotes, o Governador de Malaca decidiu enviar
uma embaixada ao Shogun, para ver se era possível obter alguma concessão, que evitasse a morte de
tantos cristãos e de tantos ministros de Deus.
E lá se foi a caravela da esperança...
Quando ela chegou às ilhas japonesas, imediatamente todos os que estavam a bordo, exceto um,
foram mortos. Deixou-se um sobrevivente, para que ele levasse a Malaca a notícia do massacre.
Ao ter a notícia do ocorrido, o Governador de Malaca ordenou que se tocassem festivamente os
sinos das igrejas, porque Portugal mandara uma embaixada ao Japão, e Deus a julgara tão digna que a
convocara para o céu.
***
Hoje, o espírito apostólico desses padres será tido talvez como imprudente, pelos moderados do
tíbio século em que vivemos...
Certamente, em nossos dias, não é mais preciso fazer editos contra o zelo “imprudente”.
“Prudência”, “equilíbrio”, “moderação” – as três grandes "virtudes" dos mornos – são aquelas que os
católicos de hoje pretendem ter acima de tudo. Nas praias, hoje, em lugar dos sacerdotes ávidos para
deixar Malaca em direção à morte, padres fazem a “pastoral do turismo”.
De calção de banho e whisky na mão. Com moças de biquíni.
Já não é preciso haver Neros ou Yeasseihassus, porque não há mais quem esteja disposto a ser
mártir...
Já não temos “embaixadas para o céu”...
“Ensurge, Domine! Quare obdormis?” Dai-nos sacerdotes capazes do martírio! Dai-nos
embaixadores do céu!

    Para citar este texto:


Orlando Fedeli - "Uma embaixada para o céu"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/index.php?secao=veritas&subsecao=igreja&artigo=embaixada&lang=bra
Online, 29/11/2006 às 12:51h

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