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`` Vi Satanás cair do céu como um raio ``

PERGUNTA
Nome: Ariovaldo
Enviada em: 19/04/2005
Local: JANDAIA DO SUL - PR,
Religião: Católica
Idade: 42 anos
Escolaridade: Pós-graduação concluída
Profissão: CONTADOR

Minha dúvida é a seguinte: Lucas 10:18 - Jesus disse-lhes: "Vi Satanás cair do céu como um raio".
Ao ler isso pela primeira vez não dei tanta importância. Relendo outras vezes duas coisas me chamaram a
atenção nessa citação: primeiro o fato de ser o próprio Jesus que a proferiu, segundo a expressão "Vi
Satanás cair do céu? Do céu? Não entendi? Pensei que Satanás vivia no inferno. Peço que me esclareçam
por gentileza.

RESPOSTA

Prezado Ariovaldo,
salve Maria,

        O episódio todo é bem interessante. Relata-nos o Evangelista:


         "Voltaram alegres os setenta e dois, dizendo: Senhor, até os demônios se nos
submetem em teu nome! Jesus disse-lhes: Vi Satanás cair do céu como um raio." (Lc, X, 17-18) 
        Os discípulos que voltam da pregação haviam se orgulhado de seus feitos, notadamente a
expulsão dos demônios em nome de Cristo. Para combater então as consequências funestas desse
comportamento orgulhoso, Nosso Senhor lembrar-lhes a queda do demônio, que tendo estado no céu sob a
forma de anjo de luz, caiu como um raio depois de seu pecado, tornando-se então Satanás (inimigo de todo
bem, como explica São Basílio invocando o sentido da palavra hebraica). (Aquino, São Tomás de, Catena
Áurea , Exposicion de los cuatro Evangelios - San Lucas, Ed. Cursos de Cultura Católica, Buenos Aires,
1948, pág. 250).
        Note que Cristo não disse "... vejo agora, mas vi, quando caiu." (Aquino, 250). Portanto, Cristo
Nosso Senhor não falava do demônio em sua situação presente, mas de sua queda passada. E São
Gregório então completa: "O Senhor repreendeu admiravelmente o orgulho no coração de seus discípulos,
recordando-lhes a perdição do mestre da soberba, para que no autor da soberba aprendessem o que
deviam temer desse vício. " (Aquino, 250).
        Convém ainda mostrar um outro motivo para a repreensão aos discípulos, mais nobre e menos
explícito, do qual trata São Cirilo:
            "Antes se havia dito que o Senhor enviou seus discípulos revestidos com a graça do Espírito
Santo e que, constituídos ministros da pregação, receberam poder de dominar os espíritos imundos; agora,
quando retornam, confessam o poder daquele que os honrou, pois se diz: "Voltaram os setenta e dois com
alegria, dizendo: Senhor, até os demônios se sujeitam em teu nome". Parece que se alegravam mais
porque fizeram milagres que por haver sido destinados à pregação. Melhor se tivessem se alegrado
naqueles que converteram, como dizia São Paulo (Philip. 4): "Vós sois minha alegria e minha coroa."
(Aquino, 250).
        São Cirilo assim nos mostra uma riqueza ainda mais profunda no ensinamento do Evangelho:
Nosso Senhor não só combate o vício capital da soberba com um exemplo facilmente assimilável, como
também faz com que seus discípulos não se apeguem aos efeitos secundários de sua pregação, senão que
se alegrem e rejubilem com a conversão dos pecadores, que é a finalidade da pregação.
    
        Note, Ariovaldo, a riqueza de ensinamentos patrísticos em apenas uma passagem da Bíblia! 
        E todo esse tesouro de exegese foi desprezado pelos pseudo-reformadores protestantes com
seu "livre-exame da Bíblia". A esses falsos discípulos poderíamos aplicar com muita propriedade a
repreensão de Nosso Senhor: "Vi Satanás cair do céu como um raio"

        Esperando ter resolvido sua dúvida, despedimo-nos,


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In Jesu et Mariae
Marcos Libório

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