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Resposta à carta do Rev.mo Pe.

Renato Arnellas Coelho,


IBP – São Paulo, Brasil

Padre:
Argumento de razão: Cristo ter subido aos céus sem deixar um fator de
unidade é abrir espaço para confusão na sua mensagem (que é o que ocorre com os
protestantes...); é vital para que a mensagem de Cristo chegue até nós, 2000 anos
depois, intacta, que ela seja una e inalterada, e isso se dá apenas via o papado e a
infalibilidade. Mesmo, por absurdo, que S. Gregório fosse contra o Papado, o papado
ainda seria algo necessário à Igreja e ele estaria errado (o que não é o caso, pois ele
não negou o papado).

Carta em questão: Gregório I: Livro V, Carta 18.


Disponível em: http://www.newadvent.org/fathers/360205018.htm.

Resposta:

De fato, deve haver um fator de unidade. Entretanto a Igreja em seus 6 primeiros


séculos interpretava a passagem de Mt. 16, 18 em favor do papado romano como fator
de primazia jurídica além do primado de honra? Antes, gostaria de tratar caso por caso,
e demonstrar que Gregório negou o Papado e em seguida apresentar os fatores que
contradizem o argumento acima do Padre, de que a necessidade de unidade não implica
a necessidade que o Papa seja a sua causa. Continuemos,...

1ª Objeção do Padre:

Argumento histórico: Na carta em questão, S. Gregório estaria atacando a


pretensão de um bispo de se arrogar ser cabeça principal da Igreja. [...] O contexto da
carta é bem complexo (tem que conhecer os costumes da época, a noção de “bispo
ecumênico/universal” dentro do império bizantino e a arrogância histórica dos bispos
dessa diocese que se acha o centro do mundo...). [...].

Resposta:
Falso. O Padre argumenta que Gregório na realidade estaria protestando contra
João IV, que supostamente estaria tomando um título pertencente seu. Ora, isto é falso,
pois em outra carta, Gregório rejeita o título até em relação a si mesmo: (no dia que
conversei pessoalmente com o Padre Renato sobre, ele concordou e prometeu uma
resposta, que nunca veio à tona).

“[...] Pois eu disse que nem a mim nem a qualquer outra pessoa deves
escrever algo dessa espécie; [...]” (Gregório I: Livro VIII, Carta 30, tradução nossa,
grifo nosso). Disponível em: https://www.newadvent.org/fathers/360208030.htm.
Acesso em: 09 dez. 2020.

2ª Objeção do Padre:

Se S. Gregório se achava em igual posição à do bispo João de Constantinopla,


como ele ousa condená-lo como se fosse seu superior? Em outras cartas, S. Gregório
deixa claro que acreditava no Papado que ele chamava de “Sé Apostólica” da qual
dependem as decisões jurídicas das outras igrejas/dioceses (ex.: livro 3, carta 30).

Resposta: Repreensões não necessariamente partem de superiores, mas por vezes,


fraternalmente entre iguais. Sobre a Sé Apostólica, demonstraremos com toda clareza
que não se tratava de uma primazia jurídica exclusiva de Roma, mas que esta mesma Sé
era constituída por três igrejas:

“[...] Sé, sobre a qual, por autoridade divina, três bispos agora presidem. [...]”
- Gregório, Livro VII, carta 40.
Disponível em: https://www.newadvent.org/fathers/360207040.htm.

RAZÕES PORQUE CREIO SER O PAPA O ANTICRISTO


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RAZÕES PORQUE CREIO SER O PAPA O ANTICRISTO

O ANTICRISTO SEGUNDO OS SANTOS PADRES DA IGREJA:

Comentários Patrísticos e de Doutores da Igreja à Segunda Epístola de São


Paulo aos Tessalonicenses, à Primeira Epístola de São João e acerca da Profecia de
Daniel (Cap. II):

“O qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora; de


sorte que SE ASSENTARÁ, COMO DEUS, NO TEMPLO DE DEUS, querendo
parecer Deus.”

— II Tessalonicenses Cap. II, vers. 4.

Pistas de quando o Anticristo se assentou sobre o templo de Deus:

“[...] Agora, eu digo com confiança que todo aquele que se chama, ou deseja ser
chamado, Sacerdote [Bispo/Papa] Universal, está em sua exaltação o precursor do
Anticristo, porque ele orgulhosamente se coloca acima de todos os outros. [...]”

— Gregório I, Magno: Livro VII, Carta 33.

Ao Imperador Mauricius Augustus.


Disponível em: https://www.newadvent.org/fathers/360207033.htm
(Acessado em 13/08/2022 às 12 h 30).

[...] DENOMINAÇÃO ORGULHOSA, CHAMANDO-ME DE PAPA


UNIVERSAL. Mas imploro a Vossa mais doce Santidade que não faça mais isso, pois
o que é dado a outro além do que a razão exige é subtraído de você. [...]

— Gregório I, Magno: Livro VIII, Carta 30.


Para Eulogius, Bispo de Alexandria.
Disponível em: https://www.newadvent.org/fathers/360208030.htm
(Acessado em 13/08/2022 às 12 h 30).

⁷ Porque já o mistério da injustiça opera; somente há um que agora o retém

até que do meio seja tirado;


⁸ E então será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará pelo assopro da sua

boca, e aniquilará pelo esplendor da sua vinda; . . .

— II Tessalonicenses Cap. II, vers 7, 8.

Tertuliano ao responder sobre o que “retinha o poder do Anticristo” na passagem de II


Tessalonicenses II, 7-8:

“Que obstáculo existe SENÃO O IMPÉRIO ROMANO, cuja queda, por ser
espalhada em dez reinos, introduzirá o Anticristo em suas próprias ruínas?”

— Tertuliano (160-220), Sobre a Ressurreição, Cap. 24.

Disponível em: https://www.newadvent.org/fathers/0316.htm


(Acessado em 03/08/2022 às 12 h 37).

Que viria de Roma (o Anticristo):

“E por isso se deve dizer que a apostasia do Império Romano é entendida não
só do temporal, mas também do espiritual, ou seja, DA FÉ CATÓLICA DA IGREJA
ROMANA.”

“Mas este sinal é conveniente, pois, assim como Cristo veio quando o Império
Romano dominava sobre todos, assim, pelo contrário, UM SINAL DO ANTICRISTO
É A APOSTASIA DELE [do Império Romano].”

— Excertos de AQUINO, Sto. Tomás de.


Comentário a Tessalonicenses. Trad. Tiago Gadotti.
Porto Alegre: Concreta Editora, 2015. pp. 129-139.

“E por isso se expõe [que o Anticristo se assentará] no ‘TEMPLO DE DEUS’


(II Tess. Cap. 2, vers. 4), isto é, NA IGREJA, porque MUITOS DA IGREJA O
RECEBERÃO. Ou segundo Agostinho sentar-se-á no ‘templo de Deus’, isto é, reinará
e dominará, como se ele com seus núncios fossem o templo de Deus, assim como
Cristo é com os seus.”

— Excertos de AQUINO, Sto. Tomás de.


Comentário a Tessalonicenses. Trad. Tiago Gadotti.
Porto Alegre: Concreta Editora, 2015. pp. 129-139.

Acerca da interpretação da Igreja em seus primeiros séculos, sobre Mt. 16, 18:

Simão Pedro, respondendo, disse: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo”. Jesus
respondeu-lhe: “Bem-aventurado és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi carne ou
sangue que te revelaram isto, e sim o meu Pai que está nos céus. Também sobre digo
que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”. ⁷ É esse o magnífico

elogio que confirmou a profissão de Pedro. [O] Que quer dizer: “Sobre esta pedra
edificarei a minha Igreja?” Sobre a sua fé, sobre o que ele dissera: “TU ÉS O CRISTO,
O FILHO DE DEUS VIVO”. “SOBRE ESSA PEDRA, diz o Salvador, edificarei a
minha Igreja”.

— Santo Agostinho,
Comentário à Primeira Epístola de São João, (https://www.paulus.com.br/loja/patristica-
comentarios-a-sao-joao-ii-evangelho-homilias-50124-primeira-epistola-vol-
472_p_7000.html?es_content=capa&es_campaign=9786555625806&es_term=novidad
es&es_medium=portal&es_source=portal_paulus) Hom. X, § 1 (1 Jo. V, 1-3ª).
Paulus Editora, 2022.

“Portanto, embora haja muitos apóstolos, no que diz respeito ao próprio


principado, somente a Sé do Príncipe dos Apóstolos se fortaleceu em autoridade, que
em três lugares é a Sé de um. Pois ele mesmo exaltou a Sé em que se dignou até
descansar e terminar a vida presente. Ele mesmo adornou a Sé para a qual enviou seu
discípulo como evangelista. Ele mesmo estabeleceu a Sé na qual, embora devesse deixá-
la, sentou-se por sete anos. Desde então, é a Sé de uma, e uma Sé, sobre a qual, por
autoridade divina, três bispos agora presidem, tudo de bom que eu ouço de você, isso eu
imputo a mim mesmo.”

— Gregório I, Livro VII, carta 40.

Disponível em: https://www.newadvent.org/fathers/360207040.htm (Acessado em


03/08/2022 às 13 h 03).

Sobre o Quarto Reino do Sonho do Rei Nabuco Donosor, no Capítulo XXIII do Livro
XX de A Cidade de Deus, onde Santo Agostinho discorre sobre o Reino do Anticristo,
último reino a ser despedaçado, predito por Daniel:

“Alguns interpretaram aqueles quatro reinos como sendo o dos Assírios, o dos Persas, o
dos Macedônios e o dos Romanos. Os que desejarem saber com quanto acerto emitiram
esta opinião, leiam o livro do presbítero Jerônimo sobre Daniel escrito com bastante
erudição e cuidado.”

— Santo Agostinho,
A Cidade de Deus: Livro XX, Cap. XXIII.
Editora Calouste Gulbenkian, 5ª Edição.

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Leitura de Daniel Cap. II (Opcional):

¹ E no segundo ano do reinado de Nabucodonosor, Nabucodonosor teve sonhos; e o


seu espírito se perturbou, e passou-se-lhe o sono.
² Então o rei mandou chamar os magos, os astrólogos, os encantadores e os caldeus,
para que declarassem ao rei os seus sonhos; e eles vieram e se apresentaram diante do
rei.
³ E o rei lhes disse: Tive um sonho; e para saber o sonho está perturbado o meu
espírito.
⁴ E os caldeus disseram ao rei em aramaico: Ó rei, vive eternamente! Dize o sonho a

teus servos, e daremos a interpretação.


⁵ Respondeu o rei, e disse aos caldeus: O assunto me tem escapado; se não me

fizerdes saber o sonho e a sua interpretação, sereis despedaçados, e as vossas casas


serão feitas um monturo;
⁶ Mas se vós me declarardes o sonho e a sua interpretação, recebereis de mim

dádivas, recompensas e grande honra; portanto declarai-me o sonho e a sua


interpretação.
⁷ Responderam segunda vez, e disseram: Diga o rei o sonho a seus servos, e daremos

a sua interpretação.
⁸ Respondeu o rei, e disse: Percebo muito bem que vós quereis ganhar tempo; porque

vedes que o assunto me tem escapado.


⁹ De modo que, se não me fizerdes saber o sonho, uma só sentença será a vossa; pois

vós preparastes palavras mentirosas e perversas para as proferirdes na minha presença,


até que se mude o tempo; portanto dizei-me o sonho, para que eu entenda que me podeis
dar a sua interpretação.
¹⁰ Responderam os caldeus na presença do rei, e disseram: Não há ninguém sobre a

terra que possa declarar a palavra ao rei; pois nenhum rei há, grande ou dominador, que
requeira coisas semelhantes de algum mago, ou astrólogo, ou caldeu.
¹¹ Porque o assunto que o rei requer é difícil; e ninguém há que o possa declarar
diante do rei, senão os deuses, cuja morada não é com a carne.
¹² Por isso o rei muito se irou e enfureceu; e ordenou que matassem a todos os sábios
de babilônia.
¹³ E saiu o decreto, segundo o qual deviam ser mortos os sábios; e buscaram a Daniel
e aos seus companheiros, para que fossem mortos.
¹⁴ Então Daniel falou avisada e prudentemente a Arioque, capitão da guarda do rei,

que tinha saído para matar os sábios de babilônia.


¹⁵ Respondeu, e disse a Arioque, capitão do rei: Por que se apressa tanto o decreto da

parte do rei? Então Arioque explicou o caso a Daniel.


¹⁶ E Daniel entrou; e pediu ao rei que lhe desse tempo, para que lhe pudesse dar a

interpretação.
¹⁷ Então Daniel foi para a sua casa, e fez saber o caso a Hananias, Misael e Azarias,

seus companheiros;
¹⁸ Para que pedissem misericórdia ao Deus do céu, sobre este mistério, a fim de que

Daniel e seus companheiros não perecessem, juntamente com o restante dos sábios da
Babilônia.
¹⁹ Então foi revelado o mistério a Daniel numa visão de noite; então Daniel louvou o

Deus do céu.
²⁰ Falou Daniel, dizendo: Seja bendito o nome de Deus de eternidade a eternidade,

porque dele são a sabedoria e a força;


²¹ E ele muda os tempos e as estações; ele remove os reis e estabelece os reis; ele dá
sabedoria aos sábios e conhecimento aos entendidos.
²² Ele revela o profundo e o escondido; conhece o que está em trevas, e com ele mora
a luz.
²³ Ó Deus de meus pais, eu te dou graças e te louvo, porque me deste sabedoria e
força; e agora me fizeste saber o que te pedimos, porque nos fizeste saber este assunto
do rei.
²⁴ Por isso Daniel foi ter com Arioque, ao qual o rei tinha constituído para matar os

sábios de babilônia; entrou, e disse-lhe assim: Não mates os sábios de babilônia;


introduze-me na presença do rei, e declararei ao rei a interpretação.
²⁵ Então Arioque depressa introduziu a Daniel na presença do rei, e disse-lhe assim:

Achei um homem dentre os cativos de Judá, o qual fará saber ao rei a interpretação.
²⁶ Respondeu o rei, e disse a Daniel (cujo nome era Beltessazar): Podes tu fazer-me

saber o sonho que tive e a sua interpretação?


²⁷ Respondeu Daniel na presença do rei, dizendo: O segredo que o rei requer, nem

sábios, nem astrólogos, nem magos, nem adivinhos o podem declarar ao rei;
²⁸ Mas há um Deus no céu, o qual revela os mistérios; ele, pois, fez saber ao rei

Nabucodonosor o que há de acontecer nos últimos dias; o teu sonho e as visões da tua
cabeça que tiveste na tua cama são estes:
²⁹ Estando tu, ó rei, na tua cama, subiram os teus pensamentos, acerca do que há de

ser depois disto. Aquele, pois, que revela os mistérios te fez saber o que há de ser.
³⁶ Este é o sonho; também a sua interpretação diremos na presença do rei.

³⁷ Tu, ó rei, és rei de reis; a quem o Deus do céu tem dado o reino, o poder, a força, e

a glória.
³⁸ E onde quer que habitem os filhos de homens, na tua mão entregou os animais do

campo, e as aves do céu, e fez que reinasse sobre todos eles; tu és a cabeça de ouro.
³⁹ E depois de ti se levantará outro reino, inferior ao teu; e um terceiro reino, de

bronze, o qual dominará sobre toda a terra.


⁴⁰ E o quarto reino será forte como ferro; pois, como o ferro, esmiúça e quebra tudo;

como o ferro que quebra todas as coisas, assim ele esmiuçará e fará em pedaços.
⁴¹ E, quanto ao que viste dos pés e dos dedos, em parte de barro de oleiro, e em parte

de ferro, isso será um reino dividido; contudo haverá nele alguma coisa da firmeza do
ferro, pois viste o ferro misturado com barro de lodo.
⁴² E como os dedos dos pés eram em parte de ferro e em parte de barro, assim por

uma parte o reino será forte, e por outra será frágil.


⁴³ Quanto ao que viste do ferro misturado com barro de lodo, misturar-se-ão com

semente humana, mas não se ligarão um ao outro, assim como o ferro não se mistura
com o barro.
⁴⁴ Mas, nos dias desses reis, o Deus do céu levantará um reino que não será jamais

destruído; e este reino não passará a outro povo; esmiuçará e consumirá todos esses
reinos, mas ele mesmo subsistirá para sempre,
⁴⁵ Da maneira que viste que do monte foi cortada uma pedra, sem auxílio de mãos, e

ela esmiuçou o ferro, o bronze, o barro, a prata e o ouro; o grande Deus fez saber ao rei
o que há de ser depois disto. Certo é o sonho, e fiel a sua interpretação.
⁴⁶ Então o rei Nabucodonosor caiu sobre a sua face, e adorou a Daniel, e ordenou que

lhe oferecessem uma oblação e perfumes suaves.


⁴⁷ Respondeu o rei a Daniel, e disse: Certamente o vosso Deus é Deus dos deuses, e o

Senhor dos reis e revelador de mistérios, pois pudeste revelar este mistério.
⁴⁸ Então o rei engrandeceu a Daniel, e lhe deu muitas e grandes dádivas, e o pôs por

governador de toda a província de babilônia, como também o fez chefe dos


governadores sobre todos os sábios de babilônia.
⁴⁹ E pediu Daniel ao rei, e constituiu ele sobre os negócios da província de babilônia

a Sadraque, Mesaque e Abednego; mas Daniel permaneceu na porta do rei.

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“Alguns interpretaram aqueles quatro reinos como sendo o dos Assírios, o dos Persas, o
dos Macedônios e o dos Romanos. Os que desejarem saber com quanto acerto emitiram
esta opinião, leiam o livro do presbítero Jerônimo sobre Daniel escrito com bastante
erudição e cuidado.”

— Santo Agostinho,
A Cidade de Deus: Livro XX, Cap. XXIII.
Editora Calouste Gulbenkian, 5ª Edição.

Comentário de São Jerônimo, argumento principal destacado em vermelho:

Versículo 31. “Tu viste, ó rei, e eis que havia, por assim dizer, uma grande
estátua.” (B) Em vez de “estátua”, que é uma efígie esculpida, a única tradução usada
por Símaco, outros a traduziram como “imagem”, pretendendo com este termo indicar
uma semelhança com eventos futuros. Passemos pela interpretação profética e, ao
traduzirmos as palavras de Daniel (C), vamos explicar detalhadamente os assuntos que
ele afirma brevemente.
“Agora tu és a cabeça de ouro.” “A cabeça de ouro”, diz ele, “é tu, ó rei.” Por esta
afirmação fica claro que o primeiro império, o Babilônico, é comparado ao metal mais
precioso, o ouro.

Versículo 39. “E depois de ti se levantará outro império inferior a ti, feito de


prata.” (A Vulgata LXX não inclui “feito de prata”). Ou seja, o império dos medos e
persas, que se assemelha à prata, sendo inferior ao império anterior e superior ao que se
seguirá.
“E um terceiro império de bronze (a Vulgata LXX tem “feito de cobre”), que governará
toda a terra.” Isso significa o Império Alexandrino, e o dos (p. 504) os macedônios e os
sucessores de Alexandre.
³⁰ E a mim me foi revelado esse mistério, não porque haja em mim mais

sabedoria que em todos os viventes, mas para que a interpretação se fizesse saber ao rei,
e para que entendesses os pensamentos do teu coração.
³¹ Tu, ó rei, estavas vendo, e eis aqui uma grande estátua; esta estátua, que era
imensa, cujo esplendor era excelente, e estava em pé diante de ti; e a sua aparência era
terrível.
³² A cabeça daquela estátua era de ouro fino; o seu peito e os seus braços de
prata; o seu ventre e as suas coxas de cobre;
³³ As pernas de ferro; os seus pés em parte de ferro e em parte de barro.
³⁴ Estavas vendo isto, quando uma pedra foi cortada, sem auxílio de mão, a

qual feriu a estátua nos pés de ferro e de barro, e os esmiuçou.


³⁵ Então foi juntamente esmiuçado o ferro, o barro, o bronze, a prata e o ouro,

os quais se fizeram como pragana das eiras do estio, e o vento os levou, e não se achou
lugar algum para eles; mas a pedra, que feriu a estátua, se tornou grande monte, e
encheu toda a terra.
Agora, isso é propriamente chamado de bronze, pois entre todos os metais o
bronze possui uma ressonância notável e um som claro, e o toque de uma trombeta de
bronze é ouvido em toda parte (634), de modo que significa não apenas a fama e o
poder do império, mas também a eloquência da língua grega.
Versículo 40. “E haverá um quarto império semelhante ao ferro. Assim
como o ferro esmiuça e vence tudo o mais, assim ele quebrará em pedaços e quebrará
todos esses impérios anteriores ...” Ora, o quarto império, que claramente se refere aos
romanos, é o império de ferro que se despedaça e supera todos os outros. Mas seus pés e
dedos são em parte de ferro e em parte de barro, fato mais claramente demonstrado na
atualidade. Pois assim como no início não havia nada mais forte ou mais resistente do
que o reino romano, também nestes últimos dias não há nada mais fraco (D), pois
precisamos da ajuda de tribos bárbaras tanto em nossas guerras civis quanto contra
nações estrangeiras. No entanto, no período final de todos esses impérios de ouro e
prata e bronze e ferro, uma rocha (a saber, o Senhor e Salvador) foi cortada sem mãos,
isto é, sem cópula ou semente humana e por nascimento do ventre de uma virgem; e
depois que todos os impérios foram esmagados, Ele se tornou uma grande montanha e
encheu toda a terra.

— São Jerônimo,
Comentário ao Livro de Daniel.
Disponível em: https://www.tertullian.org/fathers/jerome_daniel_02_text.htm
(Acessado em 03/08/2022 às 14 h 12).

Conclusão: O Reino a ser despedaçado, conforme S. Jerônimo, é Roma, pois como diz
Aquino: “O Império não cessou, mas comutou-se de temporal em espiritual”. Cf.:
Comentário a Tessalonicenses. Trad. Tiago Gadotti. Porto Alegre: Concreta Editora,
2015. pp. 129-139. O Papa é o Anticristo também porque é aquele que “se assentou
sobre o Templo de Deus, i.e., a Igreja. “Querendo parecer Deus” (2 Ts. 2, 4) porque
usurpa os títulos da S.S. Trindade (Santo Padre = O Pai; Cabeça da Igreja = O Filho;
Vigário (substituto) de Cristo = O Espírito Santo. O Papado foi condenado por S.
Gregório Magno, sob o título de “Bispo Universal”, cujo seu segundo sucessor,
Bonifácio III, fez exatamente o que ele (Gregório) condenara. O que “retinha a
manifestação do Anticristo” é interpretada pelos Padres da Igreja (citamos Agostinho,
Jerônimo e Tertuliano) como sendo o Império Romano, obstáculo à supremacia do
Bispo de Roma. Divida em 10 Reinos, Roma originalmente fora construída em torno de
7 colinas, o que corrobora a besta de 7 cabeças e 10 chifres. Lista: ostrogodos,
visigodos, francos, vándalos, suevos, alamanes, anglo-saxões, hérulos, lombardos e
burgúndios.
Resumo Histórico sobre a questão do Bispo Universal:

1) 602 d.C. – O imperador romano Maurício é assassinado em um golpe por Focas, que
então se torna imperador. Ref.: https://en.wikipedia.org/wiki/Maurice_(emperor)
2) 604 d.C. – Gregório Magno, Bispo de Roma morre e é substituído por Sabiniano, que
reina por dois anos.
3) 606 d.C. Sabiniano, Bispo de Roma morre e é substituído por Bonifácio III. Focas
escreve ao novo bispo de Roma, Bonifácio III e, por decreto imperial do governo
romano, proclama Bonifácio III, como o “Chefe de todas as Igrejas” e “Bispo
Universal”. Focas transfere o título de Constantinopla para Roma. Bonifácio III,
Bispo de Roma assume o título: “Bispo universal”: o Catolicismo Romano nasce
formalmente em sua forma evoluída final, mas o leste nunca aceita as reivindicações de
Roma e, finalmente, divide a comunhão com Roma em 1054 d.C.

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