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SAPIENTIAE CHRISTIANAE
PREFÁCIO
1. Estas palavras competem à matéria desta epístola. A arca, com efeito, é figura da Igreja,
como diz I Pedro 3, 20, porque, assim como na arca, enquanto outras pereceram, poucas
almas foram salvas, assim na Igreja poucos, isto é, só os eleitos, serão salvos.
Segundo, a água extingue o fogo. Eclo. 3, 33: A água extingue o fogo ardente. As tribulações
extinguem o ímpeto das concupiscências de modo que os homens não as sigam segundo seus
caprichos, mas não extinguem a verdadeira caridade da Igreja. Cant. 8, 7: As muitas águas não
puderam extinguir a caridade, nem os rios terão força para a afogar.
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Terceiro, as águas submergem pela inundação. Lam. 3, 54: Um dilúvio de águas veio sobre minha
cabeça. Mas a Igreja não é por elas submersa. Jn. 2, 5: As águas me cercaram até a alma, o abismo me
encerrou em si, as ondas do mar me cobriram a cabeça, etc., e após isso: eu contudo verei ainda o
teu santo templo, etc. (v. 5).
2. Portanto, ela não desanima, mas é sublevada. Primeiro, pela elevação da mente a Deus.
Gregório: as coisas más que aqui nos comprimem compelem-nos a ir a Deus. Os. 6, 1: Vendo-se na sua
tribulação, dar-se-ão pressa a recorrer a mim.
Segundo, pela consolação espiritual. Sal. 93, 19: Segundo as muitas dores que provou o meu
coração, as tuas consolações alegraram a minha alma. II Cor. 1, 5: Porque, à medida em que nos
crescem as penas de Cristo, crescem também por Cristo as nossas consolações.
Terceiro, pela multiplicação dos fiéis, porque em tempo de perseguições Deus fez crescer a
Igreja. Ex. 1, 12: Quanto mais os oprimiam, tanto mais se multiplicavam e cresciam.
Assim, portanto, [aquelas palavras do Gênesis] convêm a esta epístola, pois, padecendo estes
muitas tribulações, permaneceram fortes. Vejamos, pois, o texto.
[…]
[27] 1Ora nós vos rogamos, irmãos, pela vinda de nosso Senhor Jesus Cristo e pela nossa
reunião com ele, [29] 2que não vos movais facilmente dos vossos sentimentos nem vos
perturbeis por qualquer espírito, ou por certos discursos, ou por qualquer carta como
enviada de nós, como se o dia do Senhor estivesse perto. [32] 3Ninguém de modo algum vos
engane, porque isto não será sem que antes venha a apostasia e sem que tenha aparecido o
homem do pecado, o filho da perdição, [38] 4o qual se oporá a Deus e se elevará sobre tudo o
que se chama Deus ou que é adorado, de sorte que se sentará no templo de Deus,
apresentando-se como se fosse Deus. [41] 5Não vos lembrais que eu vos dizia estas coisas,
quando ainda estava convosco?
27. Mais acima [na leitura anterior] o Apóstolo mostrou as coisas futuras quanto à pena dos
maus e ao prêmio dos bons; aqui anuncia as coisas futuras quanto aos perigos para a Igreja,
que existirão no tempo do Anticristo. E primeiro anuncia a verdade sobre estes perigos
futuros; segundo, admoesta-os a permanecer na verdade: E vós, irmãos. Quanto ao primeiro
faz duas coisas: Primeira, exclui a falsidade; segunda, instrui-os acerca da verdade: Porque isto
não será. Novamente, a primeira [divide-se] em três: primeiro, rememora por que devem ser
induzidos; segundo, mostra a que devem ser induzidos: que não vos movais facilmente; terceiro,
remove aquilo que poderia movê-los: por qualquer espírito.
28. Mas ele os induz por três coisas, ou seja, pelas próprias preces: Nós vos rogamos, não
preceituamos. Filem. 1, 8-9: Ainda que eu tenha muita liberdade em Jesus Cristo para te mandar o
que convém, contudo peço-te por caridade. Segunda, pelo advento de Cristo, desejável para os
bons, ainda que terrível para os maus. Am. 5, 18: Ai dos que desejam o dia do Senhor, etc. II Tim.
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4, 8: Não só a mim, mas também àqueles que desejam a sua vinda, etc. Apoc. 22, 20: Vem, Senhor
Jesus, etc. Terceira, pelo desejo e pelo amor da inteira congregação dos santos, com ele, ou
seja, onde está Cristo, porque em qualquer lugar, em que estiver um cadáver, juntar-se-ão aí as
águias (Mat. 24, 28). Ou com ele, isto é, no mesmo, pois todos os santos estarão no mesmo
lugar e na mesma glória. Sal. 49, 5: Congregarei diante dele os seus santos.
29. Mas a que ele os induz? Para que não vos movais facilmente dos vossos sentimentos. Uma coisa
é ser movido, outra coisa é ser impelido pelo terror. Mas é movido de seus sentidos aquele
que abandona o que tinha. É como se dissesse: não abandoneis facilmente a minha doutrina.
Eclo. 19, 4: Aquele que crê de leve é leviano de coração. O terror, porém, é certa trepidação com
temor do contrário. E por isso diz: nem vos aterrorizes. Jó 15, 21: Um estrondo de temor está
sempre em seus ouvidos. Igualmente, se há paz, ele sempre suspeitará de insídias. Sab. 17,
10: Porque sendo medrosa a maldade, ela condena-se por seu próprio testemunho, etc.
30. Em seguida, quando diz: por qualquer espírito, ele remove o que poderia movê-los;
primeiro, em especial; segundo, em geral: Ninguém.
31. Mas alguém é seduzido por uma falsa revelação; por isso diz: por qualquer espírito, isto é,
se alguém disser que lhe foi revelado por meio do Espírito Santo, ou pelo Espírito Santo, algo
que é contrário à minha doutrina, não vos aterrorizeis. I Jo. 4, 1: Não queirais crer em todo o
espírito. Ez. 13, 3: Ai dos profetas insensatos, que seguem o seu próprio espírito, e não vêem nada. Às
vezes até Satanás se transforma em anjo de luz, como se diz em II Cor. 11, 14. I Reis 22, 22: Irei
e serei um espírito mentiroso na boca de todos os seus profetas. Segundo, [alguém é seduzido] pelo
raciocínio ou pela falsa exposição da Escritura; por isso diz: por certos discursos. II Tim. 2, 17: E
a palavra deles lavra como gangrena. Ef. 5, 6: Ninguém vos seduza com palavras vãs. Terceiro, por
uma autoridade aduzida segundo uma significação má. II Ped. 3, 15-16: Conforme também
nosso irmão caríssimo Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, como também faz em
todas as suas cartas, em que fala disto, nas quais há algumas coisas difíceis de entender, que os
indoutos e inconstantes adulteram (como também as outras Escrituras), etc. Mas quanto a que eles
eram seduzidos? Como se o dia do Senhor estivesse perto. E diz: nem por qualquer carta como
enviada de nós. Pois na primeira epístola, se não fosse bem entendida, ele parecia dizer que o
advento do Senhor instava, como aqui: Nós, os que vivemos, etc. (I Tess. 4, 16).
32. Ao dizer em seguida: Ninguém, etc., faz o mesmo em geral. Luc. 21, 8: Vede, não vos
deixeis enganar, etc. I Cor. 15, 33: Não vos deixeis seduzir. Mas a razão por que o Apóstolo
remove estas coisas, ou seja, sobre o advento do Senhor, é porque o prelado não deve de
modo algum querer que pela mentira sejam procurados alguns bens. I Cor. 15, 15: Somos
assim considerados falsas testemunhas de Deus, etc. Igualmente, porque a coisa crida – ou seja,
que instava o dia do Senhor – era perigosa. Primeiro, porque se daria ocasião para maior
sedução, porque depois do tempo dos apóstolos haveria alguns que diriam ser o Cristo. Luc.
21, 8: Muitos dirão: sou eu, etc. E por isso o Apóstolo não o quis. Igualmente, o demônio
freqüentemente simula ser o Cristo, como se patenteia [na história] de São Martinho. E por
isso não quis que fossem seduzidos. Mas Agostinho põe outra razão, porque o perigo para a
fé era iminente.[De civ. Dei, XX, 19 (PL 41, 685).] Daí um diria: “O Senhor virá tarde, e então
me prepararei para ele”. Outro diria: “Ele vem logo, e por isso me prepararei agora”. Ainda
outro diria: “Não sei”. E este diz melhor, porque concorda com Cristo. Mas erra mais aquele
que diz: “logo”, porque, tendo-se passado um termo [de tempo], os homens se desesperam e
crêem que as coisas escritas são falsas.
33. Ao dizer em seguida: Sem que antes venha a apostasia, etc., afirma a verdade; e primeiro
mostra as coisas que hão de vir no advento do Anticristo. E são duas: uma delas precede o
advento do Anticristo; a outra é o seu próprio advento.
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34. A primeira é a apostasia, que é multiplamente exposta na Glosa. Primeiro, da fé, porque a
fé havia de ser recebida em todo o mundo. Mat. 24, 14: Será pregado este Evangelho do reino por
todo o mundo. Isto portanto precede [a apostasia], o que, segundo Agostinho, ainda não se
cumpriu; [Epist. ad Cath. sive De unit. ecc., 43 (PL 43, 424).] e depois disso muitos apostatarão
da fé, etc. I Tim. 4, 1: Nos últimos tempos alguns apostatarão da fé, etc. Mat. 24, 12: A caridade de
muitos se esfriará. Ou apostasia do Império Romano, ao qual o mundo todo estava sujeito.
Agostinho, porém, diz que o Império Romano é figurado em Daniel (2, 31), pela estátua, onde
se nomeiam quatro reinos; e após a apostasia, o advento de Cristo. [De civ. Dei, XX, 23 (PL 41,
694).] [E diz] que isto era um signo conveniente, porque o Império Romano foi firmado para
que sob seu poder a fé fosse pregada por todo o mundo.
35. Mas como pode ser isto, uma vez que as nações já se apartaram do Império Romano e
contudo o Anticristo ainda não veio? Deve dizer-se que [o Império Romano] não cessou, mas
comutou-se de temporal em espiritual, como diz o Papa Leão no sermão sobre os apóstolos.
[Sermo LXXXII (PL 54, 422B).] E por isso se deve dizer que a apostasia do Império Romano é
entendida não só do temporal, mas do espiritual, ou seja, da fé católica da Igreja Romana.
Mas este sinal é conveniente, pois, assim como Cristo veio quando o Império Romano
dominava sobre todos, assim, pelo contrário, um sinal do Anticristo é a apostasia dele.
36. Em segundo lugar, prediz o segundo que virá, a saber, o Anticristo. E, primeiro, quanto à
sua culpa e pena; segundo, quanto ao seu poder: a vinda dele. Igualmente, primeiro, toca a sua
culpa e a sua pena comumente e implicitamente; segundo, explica as duas: o qual se oporá.
37. Portanto, diz: virá primeiro a apostasia, e então ele será revelado. Ele é chamado, porém,
de homem do pecado, o filho da perdição, porque, segundo a Glosa, assim como em Cristo
abundou a plenitude da virtude, assim no Anticristo [abundará] a multidão de todos os
pecados. [PL 114, 621C.] E, assim como Cristo é melhor que todos os santos, assim ele [será]
pior que todos os maus. E por isso é chamado homem do pecado, pois se entregará totalmente
aos pecados. Mas não se diz homem do pecado de tal modo que não possa ser pior, porque o
mal nunca corrompe todo o bem, embora quanto ao agir não pudesse ser pior. Mas nenhum
homem poderia ser melhor que Cristo. Diz-se, porém, filho da perdição, isto é, ele será
destinado à extrema perdição. Jó 21, 30: O ímpio é reservado para o dia da vingança, e será
conduzido ao dia do furor. Ou da perdição, isto é, do Diabo, não por natureza, mas pelo
complemento da sua malícia, que se completará nele. E diz será revelado, porque, assim como
todos os bens e todas as virtudes dos santos que precederam o Cristo foram figuras de Cristo,
assim em todas as perseguições da Igreja os tiranos foram como figuras do Anticristo, que
estava latente neles: e assim toda a malícia, que estava latente neles, será revelada naquele
tempo.
38. Em seguida, quando diz: o qual se oporá, explica o que havia dito. E, primeiro, mostra
como será o homem do pecado; segundo, como será filho da perdição: e então se manifestará.
Igualmente, primeiro, prenuncia a sua culpa futura; segundo, assinala a sua causa: e vós agora.
Igualmente, primeiro, descreve a culpa; segundo, diz que não anuncia uma doutrina nova:
Não vos lembrais. Igualmente, primeiro, mostra a culpa; segundo, seu sinal: de sorte que.
39. Mas sua culpa é dupla, ou seja, a contrariedade a Deus; por isso diz: se oporá a todos os
bons espíritos. Jó 15, 26-27: Correu contra Deus com o pescoço levantado, e com a cerviz gorda
armou-se, a si e a seus membros. Is. 3, 8: As suas palavras e as suas obras são contra o Senhor, para
provocarem os olhos da sua majestade. A segunda [culpa] é porque ele se prefere a Cristo. Por
isso diz: se elevará, etc. Diz-se Deus de três modos: primeiro, naturalmente. Deut. 6, 4: Ouve, ó
Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Segundo, opinativamente. Sal. 95, 5: Todos os deuses
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das gentes são demônios. Terceiro, participativamente. Sal. 81, 6: Eu disse: sois deuses. Mas o
Anticristo prefere-se a todos estes. Dan. 11, 36: Elevar-se-á e engrandecerá contra todo o deus;
falará insolentemente contra o Deus dos deuses.
40. Mas o sinal da culpa dá-se quando diz: De sorte que se sentará no templo, etc. Com efeito, a
soberba do Anticristo é maior do que a de todos os precedentes. Por isso, como se lê sobre
Caio César, que quando ainda vivo quis ser adorado, pondo uma estátua sua em certo
templo, e [como] se diz em Ezequiel (28, 2) sobre o rei de Tiro: disseste: Eu sou Deus, assim é
crível que o Anticristo faça o mesmo, dizendo ser Deus e homem. E como sinal disto se
sentará no templo. Mas em que templo? Não foi ele destruído pelos romanos? E por isso
dizem alguns que o Anticristo é da tribo de Dan, que não está nomeada entre as outras doze
tribos em Apocalipse 7, 5-8. E por isso os judeus serão os primeiros a recebê-lo e reedificarão
o templo em Jerusalém, e assim se cumprirá aquilo de Daniel 9, 27: Estará no templo a
abominação e o ídolo; Mat. 24, 15: Quando, pois, virdes a “abominação da desolação”, que foi predita
pelo profeta Daniel, posta no lugar santo – o que lê entenda. Mas outros dizem que nem Jerusalém
nem o templo jamais serão reedificados, mas a desolação permanecerá até a consumação e o
fim. E crêem nisto até alguns judeus. E por isso se expõe no templo de Deus, isto é, na Igreja,
porque muitos da Igreja o receberão. Ou segundo Agostinho sentar-se-á no templo de Deus,
[De civ. Dei, XX, 19 (PL 41, 685)] isto é, reinará e dominará, como se ele com seus núncios
fossem o templo de Deus, assim como Cristo é com os seus.
41. Em seguida, quando diz: Não vos lembrais, mostra que não escreve nada novo; é como se
dissesse: outrora, quando estava convosco, eu vos disse isso. I Jo. 2, 7: Eu não vos escrevo um
mandamento novo, mas um mandamento velho, que vós recebestes desde o princípio. II Cor. 10,
11: Quais somos nas palavras por carta, estando ausentes, tais seremos também de fato, estando
presentes.
[42] 6E vós agora sabeis o que é que o retém, a fim de que seja manifestado a seu tempo.
[44] 7Com efeito, o mistério da iniqüidade já se opera, somente falta que aquele, que agora
retém, desapareça. [46] 8E então se manifestará esse iníquo (a quem o Senhor Jesus matará
com o sopro da sua boca e destruirá com o resplendor da sua vinda); [47] 9a vinda dele é por
obra de Satanás, com todo o poder, com sinais e prodígios mentirosos, [51] 10e com todas as
seduções da iniqüidade para aqueles que se perdem, porque não abraçaram o amor da
verdade para serem salvos.
42. Acima o Apóstolo, prenunciando, narrou o advento e a culpa do Anticristo; aqui ele
mostra a causa da dilação. E, primeiro, mostra que eles tinham ciência da causa; segundo,
propõe a causa obscuramente: com efeito, o mistério.
43. Diz, portanto: digo que é necessário que seja revelado o homem do pecado. O que agora o
detém, isto é, qual é a causa que o tarda, vós sabeis, porque eu vos disse, de sorte que no
presente o detém a fim de a seu tempo, isto é, no tempo congruente, seja revelado. Ecl. 8, 6 e 3,
11: Todas as coisas têm o seu tempo e a sua oportunidade. Tudo ele fez bem a seu tempo.
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45. Só falta que aquele, que agora o retém, etc. Isto é exposto de muitos modos. De um modo,
segundo a Glosa [PL 114, 621C] e segundo Agostinho, [De civ. Dei, XX, 19 (PL 41, 686)] que
dizem que alguns opinaram que o Anticristo era Nero, que primeiro perseguiu os cristãos, e
que não foi morto, mas foi subtraído, e um dia há de voltar. Por isso o Apóstolo, suprimindo
[esta opinião], diz: falta que aquele, que agora o retém, o Império Romano, retenha-o até que seja
tirado, isto é, até que morra. Mas deste modo não é conveniente, porque já se passaram
muitos anos desde que Nero morreu, ou seja, no mesmo ano em que o Apóstolo [morreu].
Mas é melhor que se refira a Nero enquanto pessoa pública do Império Romano, até que seja
tirado, isto é, até que o Império Romano seja tolhido do mundo. Is. 23, 9: Foi o Senhor dos
exércitos que formou este desígnio, para derrubar a soberba de toda a glória e para reduzir à ignomínia,
etc. Ou então, somente falta que aquele que agora o retém, isto é, que agora detém o advento do
Anticristo, retenha-o para que não venha; é como se fosse necessário que alguns ainda venham
à fé e que outros se apartem dela. Como se dissesse: que estas idas e vindas, que agora o retêm,
até que venha, retenham-no até que aquele imundo seja tolhido. Ou assim: aquele que agora
retém a fé, retenha-a, isto é, esteja firme nela. Apoc. 3, 11: Guarda o que tens, para que ninguém
tome a tua coroa. Até que seja tirado, isto é, [até que] a confusa congregação dos maus seja
separada e posta à parte, o que ocorrerá na perseguição do Anticristo. Ou: falta que, etc., isto é,
que o mistério da iniqüidade, isto é, a iniqüidade mística, que o retém, retenha-o até que seja
tirado, isto é, até que a iniqüidade se torne pública: e ocorra como algo público entre os
homens. Com efeito, muitos agora pecam ocultamente, mas um dia o farão abertamente:
porque Deus tolera os pecadores enquanto são ocultos, até quando pecarem publicamente, e
então não os tolerará, como se patenteia no caso dos sodomitas (Gên. 19, 24). Contudo,
Agostinho confessa que desconhecia aquilo que o Apóstolo lhes dissera, e que já sabiam.
[Loc.cit.] Daí que diga: Vós agora sabeis o que é que o retém. E, ademais, não era muito necessário
sabê-lo.
46. Ao dizer em seguida: E então, etc., põe o advento do iníquo e sua pena. Primeiro, a
manifestação; segundo, sua pena. Quanto ao primeiro diz esse iníquo, no singular, manifestar-
se-á, porque a sua culpa será manifesta, a quem o Senhor Jesus matará com o espírito da sua boca.
Is. 9, 6: Fará isto o zelo do Senhor dos exércitos, isto é, o zelo da justiça, que é o amor. Com efeito,
o espírito de Cristo é o amor de Cristo; e este zelo que tem pela Igreja procede do Espírito
Santo. Ou com o espírito da sua boca, isto é, com seu mandato; porque Miguel há de matá-lo no
monte das oliveiras, de onde Cristo ascendeu; assim como também o imperador Juliano foi
extinto pela mão de Deus. E esta é a pena presente, ainda que seja punido também
eternamente, porque o destruirá com o resplendor, isto é, em seu advento resplandecendo todas
as coisas. I Cor. 4, 5: Porá às claras o que se acha escondido nas trevas, etc. E o destruirá, ou seja,
com a danação eterna. Sal. 27, 5: Tu os destruirás, etc. Di-lo com o resplendor, porque parecia
que ele havia obscurecido a Igreja, e as trevas são expelidas pelo resplendor, porque tudo o
que o Anticristo prometer se mostrará mentira.
47. Ao dizer em seguida: A vinda dele é, prediz o poder do Anticristo. E quanto a isto faz duas
coisas: primeira, põe o seu poder de sedução; segunda, a sua causa, pela justiça do
Senhor: porque não abraçaram o amor. Igualmente, a primeira [divide-se] em três: primeiro, põe
o autor deste poder; segundo, o modo da sedução; terceiro, mostra os que serão seduzidos.
48. O autor deste poder é o Diabo, e por isso Cristo o destruirá. I Jo. 3, 8: Para destruir as obras
do Diabo é que o Filho de Deus veio ao mundo. E por isso diz que o advento do Anticristo é por
obra de Satanás, isto é, por instigação sua. Apoc. 20, 7: Satanás será solto da sua prisão, sairá e
seduzirá as nações, etc. Com efeito, algo é operado por obra de Satanás, como no possesso, em
quem não só instiga a vontade, mas também impede o uso da razão: o que, contudo, não se
lhe imputa como culpa, porque não tem uso do livre-arbítrio. Mas o Anticristo não será
assim, senão que terá uso do livre-arbítrio, segundo as sugestões do Diabo, como se diz de
Judas. Jo. 13: 27: Entrou nele Satanás, ou seja, instigando-o.
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49. Mas enganará do seguinte modo: primeiro, pelo poder secular; segundo, pela virtude dos
milagres. Quanto ao primeiro diz: com todo o poder, ou seja, secular. Dan. 11, 43: Tornar-se-á
senhor dos tesouros de ouro e de prata, de tudo que há de precioso no Egito. Ou com um poder
simulado. Mas quanto ao segundo diz: com sinais, etc. Sinais são maravilhas, ainda que
pequenas. Mas os prodígios são grandes, que mostram alguém como prodigioso, como que
“longe do dedo”. Apoc. 13, 13: Operou grandes prodígios, de sorte que até fez descer fogo do céu
sobre a terra à vista dos homens. Mat. 24, 24: Farão grandes milagres e prodígios, de tal modo que (se
fosse possível) até os escolhidos seriam enganados.
51. Em seguida, mostra os que serão seduzidos, ao dizer: para aqueles que se perdem, isto é,
para os condenados à perdição segundo a presciência divina. Jo. 17, 12: Nenhum deles se
perdeu, exceto o filho da perdição. E é assim porque as minhas ovelhas ouvem a minha voz (Jo. 10,
27).
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Um católico busca ser coerente com a Doutrina. Ver todos os posts por LUCIANO
TAKAKI
25 de janeiro de 2023
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