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Métodos Qualitativos para a Ciência Política

Tipos de conhecimento

• Ciência em sentido estrito: conhecimento, saber.

• Ciência em sentido lato: pode ser entendida quer como o processo de adquirir
conhecimento sobre a realidade, fundamentado no método científico, quer como o
corpo organizado de conhecimentos científicos.

• Conhecimento científico: surge da evidência empírica, é sustentado em teorias,


métodos e técnicas que procuram compreender o fenómeno ou a relação causal
estabelecida fenómenos. Ex: relação entre o deitar cedo e a saúde do indivíduo
(explicação científica).

✓ Há vários tipos de conhecimento e nem todo o conhecimento é científico

• Senso comum: pode ser entendido como o conjunto de crenças partilhadas pelos
seres humanos, justificado pela experiência quotidiana e transmitida de geração em
geração (de forma acrítica). Faz parte das tradições de um grupo, sendo traduzido em
provérbio e ditados populares. Ex: Gato escaldado de água fria tem medo.

Características do conhecimento científico

• Sistemático: a ciência é organizada na sua procura e nos seus resultados. Relaciona os


dados com a teoria.

• Verificável: todas as verdades científicas são apenas provisoriamente definitivas.

• Generalizável: conhecer um objeto individual como ponte para alcançar um


conhecimento mais amplo.

• Racional: a ciência trabalha-se com conceitos, com a lógica e a razão, não com
sensações.

• Objetivo: obter um conhecimento que concede com a realidade do objeto que o


descreva ou explique como é e não como desejaríamos que fosse- a obtenção do
conhecimento científico.

• Fiável: todas as verdades científicas são provisoriamente definitivas (não há verdades


absolutas para todo o sempre).


Conceitos

• Teoria: conjunto de conceitos, de proposições e de definições que visam descrever,


explicar ou predizer factos. É o princípio e o fim de todo o trabalho de investigação. 


• Paradigma: definido por Khun enquanto um modelo ou padrão aceite


• Método: do grego «Méthodos», significa chegar a um fim (orientar a selecção de


métodos e técnicas assim como fixar os critérios de verificação ou demonstração do
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que se afirma na investigação). 


Princípios básicos da investigação

• Rutura: consiste em romper os procedimentos e falsas evidências, que somente nos


dão a ilusão de que conhecemos as coisas. A futura é o primeiro ato construtivo do
procedimento científico.

• Construção: a rutura só pode ser efetuada a partir de um sistema concetual


organizado, susceptível de exprimir a lógica que o investigador supõe estar na base do
fenómeno. É graças a esta teoria que ele pode erguer as proposições explicativas do
fenómeno a estudar e prever qual o plano de pesquisa a definir, as operações a aplicar
e as consequências que logicamente devem esperar-se da observação.

• Verificação: uma proposição só tem direito ao estatuto cientifico se poder ser verificada
pelos factos.

As sete etapas do processo de procedimento

1. Pergunta de partida

2. Exploração: leitura, entrevistas exploratórias

3. Problemática

4. Construção do modelo de análise

5. Observação

6. Análise da informação

7. Conclusões

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Esquema do processo de procedimento e respetivas etapas:

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Ciclo de Pesquisa
Ideias: Como ter ideias?

Questão de partida ou questão


de pesquisa

Como definir um tema/questão de investigação?

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Problemas sociais e problemas de investigação

• Problemas sociais:

• Pobreza

• Violência urbana

• Bullying

• Desemprego

➡ Os problemas sociais tornam-se em problemas de investigação quando são estudados


de maneira científica.

• Estudar de forma científica pressupõe algumas condições:

• O método científico tem de estar suportado em evidências (recurso a técnicas) e


fundamentado por teorias: análise de factos reais cientificamente comprovados.

Lógica dedutiva Vs Lógica indutiva

• Lógica dedutiva: parte de premissas teóricas, premissas gerais e vai à realidade


procurar um exemplo que a ilustre. Partindo de uma premissa geral verdadeira,
dificilmente as outras serão falsas. No fundo, para além da própria reconfirmação do
pressuposto inicial, a lógica dedutiva acaba por não acrescentar nada de novo. Ao
começarmos o raciocínio com um argumento dedutivamente válido, então, o
argumento final será dedutivamente válido.

Todo o metal conduz electricidade.

O ferro é um metal.

Logo, o ferro conduz electricidade.

• Lógica indutiva: parte de casos específicos, concretos, para o geral.

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O ferro conduz electricidade.

O ferro é um metal.

O ouro conduz electricidade.

O ouro é metal.

O cobre conduz electricidade.

O cobre é metal.

Logo (todos) os metais conduzem electricidade.

Etapas do processo de procedimento

Etapa 1

• Um investigador deve procurar enunciar o projeto de investigação na forma de uma


pergunta de partida, a partir da qual tenta exprimir o mais exatamente possível o que
procura saber, elucidar ou compreender melhor.

• É essencial distinguir uma pergunta ideal de uma pergunta possível.

• Uma boa pergunta de pesquisa deve ser FINER:

• Feasible [realizável/exequível]: É concretizável? Tenho pessoal, capacidades,


equipamento, financiamento e tempo necessários? Tenho acesso aos dados de
que preciso? É observável?

• Interesting: É interessante / motivante para mim? A exigência e dedicação exigidas


levam naturalmente a um desgaste do pesquisador, mesmo que tenha alguma
curiosidade pelo tema – imagine se não gostar muito dele.

• Novel [original]: É novidade? Confirma, refuta ou amplia descobertas anteriores?


Preferencialmente deve gerar um conhecimento novo, embora seja exigência real
apenas ao nível de um doutoramento.

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• Ethical: É ético? Sempre é necessário ter esta questão em consideração,
especialmente se envolve humanos e animais.

• Relevant: É relevante? Terá importância para o conhecimento científico como um


todo? Para conhecer a relevância deve estar atualizado – imprescindível o
conhecimento global da literatura.

• Uma boa pergunta de partida deve poder ser tratada, deve-se poder trabalhar
eficazmente a partir dela e, em particular, deve poder fornecer elementos para lhe
responder.

• Qualidades da clareza:

• Dizem respeito à precisão e à concisão do modo de formular a pergunta de partida.

• A pergunta deve ser precisa. As interpretações devem convergir e o sentido não


deve dar aso a confusões.

• Não deve cobrir um campo de análise demasiado vasto. Deve permitir direcionar o
investigador ao longo do processo de procedimento.

• Uma boa pergunta de partida deverá ser tão concisa e unívoca quanto possível.

• Qualidades de exequibilidade:

• Estão ligadas ao trabalho realista ou irrealista do trabalho que a pergunta deixa


entrever.

• Ao formular a pergunta, o investigador deve assegurar-se de que os seus


conhecimentos, mas também os recursos em tempo, dinheiro e meios logísticos,
lhe permitirão obter elementos de resposta válidos.

• Uma boa pergunta de partida deve ser realista, isto é, adequada aos recursos
pessoais, materiais, e técnicos, em cuja necessidade podemos imediatamente
pensar e com que podemos contar.

• Qualidades da pertinência:

• Dizem respeito ao registo (normativo, explicativo, preditivo, etc) em que se enquadra


a pergunta de partida.

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• Uma pergunta é moralizada quando a resposta que lhe damos só tem sentido em
relação ao sistema de valores de quem formula.

• O facto de um projeto corresponder a uma preocupação de caráter ético e político


não é, em si, um problema.

• Uma boa pergunta de partida não deve procurar julgar, mas compreender. O seu
objetivo o do conhecimento, não o da demonstração.

• Deve abordar o estudo que existe ou existiu e não daquilo que ainda não existe.

• Deve visar um melhor conhecimento dos fenómenos estudados e não apenas a sua
descrição.

• Formulação de uma boa pergunta de partida:

• Formular um projeto de pergunta de partida

• Testar a pergunta de partida

• Verificar se a pergunta possui as qualidades acima referidas

• Reformula-la caso seja satisfatória e recomeçar o processo.

Etapa 2

• A pergunta de partida é o fio condutor do trabalho. É necessário realizar alguma


exploração no terreno para se poder elaborar uma problemática de investigação. A
exploração engloba opções de leitura, entrevistas exploratórias e alguns métodos de
exploração complementares. As operações de leitura visam assegurar a qualidade da
problematização, ao passo que as entrevistas e os métodos complementares ajudam o
investigador a entrar em contacto com a realidade vivida pelos atores sociais.

• Escolha e organização das leituras:

a) critérios de escolha

• A seleção das leitura deve obedecer a alguns critérios:

• Ligação à pergunta de partida

• Dimensão razoável, de modo a evitar uma sobrecarga de leituras

• Privilegiar textos de intervenção e análise, e não apenas de descrição

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• Incluir abordagens diversificadas do fenómeno estudado

• As leituras: refletir e trocar pontos de vista com colegas ou pessoas experientes.

b) onde estão estes textos?

• É necessário saber o que se procura. Pedir conselhos a especialistas, utilizar artigos de


revistas, consultar biografias, índices e sumários das obras que vão sendo
encontradas.

• Como ler?

• Grelha de leitura

• Resumo

1. Pontos de vista adotados: pontos de vista adotados pelos atores escolhidos e como
se situam uns em relação aos outros? Colocar em evidência: convergências,
divergências, complementariedades.

2. Os conteúdos: os autores podem defender teses conciliáveis ou inconciliáveis.


Sublinhar as concordâncias, divergências e complementariedades.

• Entrevistas exploratórias: vem ajudar a construir a problematização da investigação. As


leituras podem ajudar a fazer o balanço dos conhecimentos relativos e da pergunta de
partida; as entrevistas contribuem para descobrir os aspetos a ter em conta e alargam
ou ratificam o campo de investigação das leituras. É essencial que decorram de forma
aberta e flexível. Servem para encontrar pistas de reflexão, ideias e hipóteses de
trabalho, e não para verificar hipóteses estabelecidas.

• Interlocutores válidos:

• Testemunhas privilegiadas: pessoas pela sua posição, ação ou


responsabilidades, têm um bom conhecimento do problema.

• Docentes, investigadores e peritos no domínio da investigação: pessoas que


conhecem o tema e que têm experiência de investigação.

• Público potencial para o estudo: pessoas que podem indicar a relevância do


projeto de investigação na perspetiva do cliente final.

• Principalmente nas entrevistas como as das duas últimas categorias de interlocutores,


é importante ter uma adequada com os seguintes traços:

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• Fazer o menor número possível de perguntas

• Formular as intervenções da forma mais aberta possível

• Abster de se implicar no conteúdo da entrevista

• Procurar que a entrevista se desenrole num ambiente e contexto adequados

• Gravar a entrevista

• Exploração das entrevistas exploratórias: é importante considerar duas fontes de


informação: o discurso enquanto dado e o discurso enquanto processo.

A. Discurso enquanto fonte de informação: as entrevistas exploratórias não têm


como função verificar hipóteses nem recolher ou analisar dados específicos,
mas sim, abrir pistas de reflexão, alargar e precisar horizontes de leitura, tomar
consciência das dimensões e dos aspetos de um dado problema, nos quais o
investigador não teria decerto pensado espontaneamente. Permitem também
não nos lançarmos em falsos problemas, produtos inconscientes dos nossos
pressupostos e pré-noções. É elementar ouvir repetidamente as gravações,
anotar as pistas e as ideias, e evidenciar as contradições.

B. O objetivo é levar o interlocutor a sua vivência ou a sua percepção que tem do


problema. É preciso ter em consideração o facto de o interlocutor ir
elaborando o seu pensamento ao longo da entrevista. Estudar. Possibilidade
de fazer uma análise de conteúdo das entrevistas enquanto processo.

Etapa 3

• A problemática é a abordagem ou a perspectiva teórica que se decide adoptar para


tratar o problema formulado pela pergunta de partida. Deve responder à pergunta:
“Como vou abordar este fenómeno?” constitui uma barreira entre a rutura e a
construção. Num primeiro momento devemos explorar as leituras e as entrevistas a
fazer num balanço. Deve-se fazer depois construir a problemática com base no
confronto crítico das diferentes perspectivas que se afiguram possíveis. Na prática,
construir a problemática equivale a formular os principais pontos de referência teóricos
da investigação: a pergunta que estrutura finalmente o trabalho, os conceitos
fundamentais e as ideias gerais que inspiram a análise. A escolha da problemática não
depende do acaso ou da inspiração pessoal. O próprio investigador faz parte de uma
época, com os seus problemas, acontecimentos marcantes, debates, sensibilidades e
correntes de pensamento em evolução.

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• Elaborar uma problemática equivale a definir conjuntamente três elementos: o que se
pretende explicar, aquilo com que se relaciona com o investigador e o tipo de relação
que este perspetiva entre os dois primeiros elementos. Esta relação é pensada em
termos de causa.

• A palavra causa pode ser entendida no sentido restrito de antecedente exterior ao seu
efeito, a que está ligado por uma ligação necessária. Também pode ser entendida no
seu sentido amplo como o princípio de produção do fenómeno que exige a aplicação.

• Através destes diferentes esquemas de inteligibilidade esboçam-se três abordagens


totalmente diferentes:

• Acentua a estrutura de que o fenómeno constitui um elemento de interação com


outros.

• Fenómeno como uma realidade em devir produzido pela ação dos seres humanos
e pelas contradições internas nos sistemas por eles construídos.

• Fenómeno como a expressão de um sentido a descobrir.

• As perspectivas geralmente conjugam traços de cada uma destas três


abordagens:

• Atribuir-se uma problemática: fase crucial: a problemática constitui o início da


orientação teórica de investigação, cujas linhas de força define. Atribui coerência e
potencial de descoberta à investigação.

Etapa 4

• O trabalho exploratório explora conceitos e ideias que têm de ser traduzidos numa
linguagem e forma de trabalho sistemático de análise e recolha de dados de
observação ou experimentação. A fase de construção do modelo de análise constitui
uma fronteira fixa entre a problemática estipulada e o trabalho de elucidação sobre um
campo de análise restrito e preciso.

• A organização de uma investigação em torno de hipóteses constitui a melhor forma de


a conduzir com ordem e rigor. As hipóteses direcionam o caminho da procura e
oferecem um fio condutor à investigação, assim como, atribuem o critério para a
recolha de dados que confronta as hipóteses com a realidade.

• Uma hipótese é uma resposta temporária a uma pergunta.

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• Para construir o modelo, o investigador pode centrar-se nas hipóteses ou nos
conceitos.

• A concetualização só retém o essencial. Trata-se de uma construção-seleção. Construir


um conceito consiste em determinar as dimensões que o constituem e em precisar os
indicadores que permitem a medição dessas dimensões.

• Indutiva: conceitos operatórios isolados: construído empiricamente através da


observação direta ou de informações reunidas por outros que indicam diferentes
dimensões a reter. Não define a sua relação com outros conceitos.

• Dedutiva: conceitos sistémicos: construído por raciocínio abstrato motivado pelo


comportamento dos objectos reais e no conhecimento adquirido. Articulando-se com o
paradigma- um quadro de pensamento mais geral.

• Construção das hipóteses: sendo que a hipótese é uma proposição provisória, esta
deve ser verificada a hipótese é a antecipação de uma relação entre dois conceitos, ou
entre os dois tipos de fenómenos que designam. Na sua formulação, a hipótese deve
ser de forma observável.

• Um modelo é um sistema de hipóteses articuladas logicamente entre si, sendo que


estas são a precisão da relação entre dois conceitos.

• Modelo hipotético-indutivo: conceitos operatórios, hipóteses empíricas e um


modelo mimético- poder descritivo.

• Modelo hipotético-dedutivo: conceitos sistémicos, hipóteses dedutivas e um


modelo teórico- poder explicativo.

• Critério de refutabilidade da hipótese: a hipótese deve ser testada quando existe


possibilidade de decidir, a partir da análise de dados, em que medida é que é
verdadeira ou falsa. Para ser refutável, uma hipótese deve ser dotada de generalidade,
não deve ser afeta a uma situação particular e não-reproduzível. Uma hipótese só deve
ser refutável se admitir enunciados contrários susceptíveis de verificação. A verificação
da proposição oposta infirmaria a hipótese de partida

Etapa 5

• A observação engloba o conjunto das operações através das quais o modelo de


análise é submetido ao teste dos factos e confrontado com dados observáveis. É
fundamental responder às perguntas seguintes:

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• observar o quê? : a definição de dados pertinentes. Os dados necessários são
definidos pelos indicadores das dimensões dos conceitos que estão envolvidos
em cada hipótese.

• Quem?: é preciso limitar as análises empíricas no espaço, geográfico e social e no


tempo. O investigador tem três hipóteses: recolher dados e analisar a população
coberta; limita-se a uma amostra representativa da população; estuda
componentes típicas, ainda que não representativas da população.

• Como?: a elaboração dos elementos de observação representa-se de formas


diferentes, consoante se trate de uma observação direta ou indireta.

• Observação direta: o investigador procede diretamente à recolha de


informação, sem existir a intervenção de sujeitos observados. Incide sobre
todos os indicadores pertinentes previstos. Tem como suporte um guia de
observação: questionário ou guia de entrevista.

• Observação indireta: o investigador dirige-se ao sujeito para recolher a


informação necessária. Ao responder às questões, o sujeito participa na
produção de informação. Há dois intermediários entre a informação
procurada e a informação obtida: sujeito observado e o instrumento de
observação- questionário ou guia de entrevista.

• O questionário deve ser testado previamente de modo a detetar e corrigir


ineficiências. Questões indiscretas e questionários extensos podem levar o
entrevistado a recusar responder a perguntas enganadoras.

• As três operações de observação:

1. Conceber um instrumento capaz de produzir todas as informações necessárias


e adequadas para testar as hipóteses.

2. Teste do instrumento de observação: as perguntas devem ser claras e


precisas, de forma a que todas as pessoas interrogadas as interpretem da
mesma maneira. Além disso, a pessoa interrogada deve estar em condições
de dar a resposta, conhecê-la e não estar constrangida ou inclinada a
escondê-la. No caso das entrevistas, a forma de conduzi-las deve ser
experimentada.

3. Recolha de dados: execução propriamente dita da observação. Os dados


obtidos devem ter sido previstos no momento da concepção da observação.

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Devem dar a informação e o grau de precisão necessário para as fases que se
seguirem.

Etapa 6

• Principais métodos de recolha de informação: a seleção dos métodos depende dos


objetivos, do modelo de análise e das características do campo de análise. Só
conhecemos corretamente um método de investigação depois de o termos
experimentado nós próprios.

• Para cada método existe:

• Apresentação

• Variantes

• Objetivos para os quais o método é adequado

• Principais vantagens

• Limites e problemas

• Método complementar

• Formação exigida

• Referências bibliográficas

• Inquérito por questionário

• Apresentação: colocar a um conjunto de indivíduos, geralmente uma amostra


representativa da população, um conjunto de questões relativas à situação social,
profissional, familiar, às opiniões, à atitude em relação a opções ou questões sociais,
etc. As respostas geralmente são pré-codificadas de forma a que os entrevistados
devem escolher a sua reposta entre aquelas que lhe são disponibilizadas/propostas.

• Variante: administração indireta quando o inquiridor preenche e direta quando o


próprio inquirido preenche. Este último processo merece pouca confiança.

• Objetivos para os quais o método é adequado: conhecimento de uma população:


condições e modos de vida, valores, comportamentos e opiniões. A análise de um
fenómeno social que se julga apreender melhor a partir de informações relativas aos
indivíduos da população em questão. Casos em que é necessário interrogar um
grande número de pessoas e em que se levanta o problema da representatividade.

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• Limites e problemas:

• Peso e custo elevado

• Superficialidade das respostas

• Individualização dos entrevistados, que são separados pelas suas relações sociais

• Fragilidade da credibilidade do dispositivo

• Método complementar: análise estatística dos dados, dá utilidade e significado aos


dados escolhidos.

• Entrevista

• Apresentação: os métodos de entrevista distinguem-se pela aplicação dos processos


fundamentais de comunicação e interação humana. Corretamente valorizados,
permitem retirar das entrevistas informações e elementos de reflexão muito ricos e
matizados. Caraterizam-se por um contacto direto entre o entrevistado e o
entrevistador. O conteúdo da entrevista será objecto de uma análise de conteúdo
sistemática, destinada a testar as hipóteses de trabalho.

• Variantes:

• Entrevista semidiretiva: ou semi-dirigida é certamente a mais utilizada. O


investigador dispõe de perguntas-guias relativamente abertas.

• Entrevista centrada: tem por objetivo analisar o impacto de um acontecimento ou


de uma experiência precisa. O investigador dispõe de uma lista de tópicos que
está disposto a abordar.

• Objetivos para os quais o método é adequado: análise do sentido que os atores dão
às suas práticas e aos acontecimentos com que se veem confrontados: os seus
sistemas de valores, referências normativas, interpretações de situações conflituosas
ou não, as leituras que fazem das próprias experiências, etc. A análise de um
problema específico: os dados do problema, os pontos de vista, o que está em jogo,
os sistemas de relações, o funcionamento de uma organização, etc. A reconstituição
de um processo de ação, de experiências ou de acontecimentos passados.

• Principais vantagens: grau de profundidade dos elementos de análise. A flexibilidade


e fraca diretividade do dispositivo que permite recolher os testemunhos e as
interpretações.

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• Limites e problemas:

• Flexibilidade do método toma importante a capacidade e incompetência do


investigador

• A informação não fica acessível de forma imediata

• A flexibilidade não nos deve levar a acreditar numa completa espontaneidade do


entrevistado e numa total neutralidade do investigador

• Métodos complementares: método de análise de conteúdo. As entrevistas devem


fornecer o máximo de elementos de informação e reflexão possíveis, que servirão de
materiais para uma análise sistémica de conteúdo que corresponda, por seu lado, às
exigências de explicitação, de estabilidade e de intersubjetividade dos processos.

• Observação direta

• Apresentação: os métodos de observação direta captam os comportamentos no


momentos em que eles são produzidos e em si mesmo, não existe a mediação de
um documento ou de um testemunho. As observações sociológicas incidem sobre
comportamentos de atores, na medida em que manifestam sistemas de relações
sociais, bem como sobre os fundamentos culturais e ideológicos que lhes
subjazem.

• Variantes:

• Observação participante: tipo etnológico consiste em estudar uma comunidade


durante um longo período de tempo, participado na vida coletiva.

• Observação não-participante: o investigador observa do exterior.

• Objetivos para os quais o método é adequado: o método é especialmente


adequado à análise não verbal e daquilo que este revela: as condutas instituídas e
os códigos de comportamento, a relação com o corpo, os modos de vida e os
traços culturais, a organização espacial dos grupos, etc.

• Principais vantagens: a apreensão dos comportamentos e acontecimentos no


momento em que se produzem. Recolha de material relativamente espontâneo. A
autenticidade dos dados.

• Limites e problemas:

• Dificuldade em ser aceite como observador pelo grupo em questão

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• Registo dos dados e selectividade da memória

• Interpretação das observações

• Métodos complementares: método da entrevista seguida de uma análise de


conteúdo.

• Recolha de dados preexistentes: dados secundários e dados documentais

• Apresentação: o investigador escolhe documentos para estudar ou porque espera


encontrar informações úteis para outro projeto.

• Variantes: podem ser documentados, manuscritos, impressos ou audiovisuais, oficiais


ou privados, contendo números ou texto. Frequentemente são dados estatísticos.

• Objetivos para os quais o método é adequado: análise de fenómenos macrossociais,


económicos, demográficos, políticos. Análise das mudanças sociais e do
desenvolvimento histórico. Análise da mudança de organizações. Estudo das
ideologias, sistemas de valores e culturas.

• Principais vantagens:

• Economia de tempo e dinheiro

• Evita o recurso abusivo das sondagens e questionários

• Aproveita a riqueza do material documental disponível

• Limites e problemas: o investigador pode ver-se impedido de divulgar as informações


ou pode verificar que os dados são inadequados ou manipulados.

• Métodos complementares: dependem dos dados recolhidos, incluem: análise


estatística, análise de conteúdo e análise de documentos.

• Análise de dados estatísticos

• Apresentação: a utilização dos computadores transformou profundamente a análise


dos dados. Apresentar os mesmos dados sob diversas formas favorece
incontestavelmente a qualidade das interpretações. Nesse sentido, a estatística
descritiva e a expressão gráfica dos gráficos são muito mais do que simples métodos
de exposição de resultados.

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• Variantes:

• Quando os dados são prévios à investigação: análise secundária

• Quando os dados foram adquiridos através de um inquérito por questionário


realizado propositadamente para a investigação: tratamento de inquérito

• Quando os dados examinados são textuais: análise de conteúdo

• Objetivos para os quais o método é adequado: é adequado ao estudo das


correlações entre fenómenos susceptíveis de ser serem expressados por variáveis
quantitativas, especialmente numa perspetiva de análise causal.

• Principais vantagens: precisão e rigor, satisfazendo o critério da intersubjetividade

• Limites e problemas: nem todos os factos interessantes são qualitativamente


mensuráveis. Este método permite descrever relações mas, não fornece uma
explicação ou sentido.

• Métodos complementares: a montante: o inquérito por questionário e a recolha de


dados estatísticos existente.

• Análise de conteúdo

• Apresentação: a análise de conteúdo incide sobre mensagens tão variadas como


obras literárias, artigos de jornais, documentos oficiais, programas audiovisuais,
declarações políticas, atas de reunião ou relatórios de entrevista pouco diretivas.
Exemplos de métodos utilizados: cálculo das frequências relativas ou das ocorrências
dos termos utilizados.

• Variantes:

• Métodos qualitativos: intensivos e baseiam-se na presença ou ausência de uma


característica ou modo segundo o qual os elementos do discurso estão articulados.

• Métodos quantitativos: extensivos e baseiam-se na frequência do aparecimento de


certas características do conteúdo ou de correlação entre elas.

• Análises temáticas: tentam revelar as representações sociais ou os juízos dos


locutores a partir do exame de certos elementos constituitivos do discurso.

• Análise categorial: consiste em calcular e comparar as frequências de certas


características previamente agrupadas categorias significativas.

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• Análise de avaliação: incide sobre os juízos formulados pelo locutor- é calculada a
frequência, direção e intensidade dos juízos formulados.

• Análises formais: relativa às formas e enquadramento do discurso.

• Análise de expressão: baseando-se no vocabulário, tamanho das frases, ordem


das palavras e nas hesitações, informa a sobre o estado de espirito do do locutor
e suas tendências ideológicas.

• Análise de enunciação: concebe o discurso como tendo uma dinâmica própria


reveladora e baseia-se no desenvolvimento geral do discurso, na ordem das
sequências, nas repetições, nas quebras de ritmo, etc.

• Análises estruturais: focam-se na maneira como os elementos da mensagem estão


dispostos, tentando revelar aspectos subjacentes e implícitos da mensagem.

• Análise co-ocorrência: examina as associações de temas nas sequências da


comunicação informando acerca das estruturas mentais e ideológicas ou de
preocupações latentes.

• Análise estrutural propriamente dita: o objetivo é revelar os princípios que


organizam os eleitos do discurso, independentemente do conteúdo tentando
descobrir uma ordem oculta.

• Objetivos para os quais o método é adequado: a análise do conteúdo pode incidir


sobre comunicações das formas mais diversas. É útil para:

• Análise de ideologias, sistemas de valores, representações e aspirações e suas


transformações.

• Exame da lógica de funcionamento das organizações, graças aos documentos


que elas produzem.

• Estudo das produções culturais e artísticas.

• Análise dos processos de difusão e de socialização.

• Análise das estratégias, do que está em jogo num conflito, das interpretações ou
reações.

• Reconstituição das realidades passadas não-materiais: mentalidades,


sensibilidades.

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• Principais vantagens: métodos adequados ao estudo do não dito, do implícito.
Obrigam o investigador a manter uma grande distância em relação a interpretações
espontâneas, em particular as suas próprias interpretações. Permite controlo
posterior.

• Limites e problemas: alguns métodos baseiam-se em pressupostos, no mínimo,


simplistas. Outros são muito pesados e laboriosos. Cada método tem um campo de
aplicação muito restrito.

• Métodos complementares: métodos de recolha de dados qualitativos que se situam a


montante da análise do documento. Entrevistas semidiretivas, recolha de documentos
e inquéritos por questionário.

• Limites e complementariedades dos métodos específicos: nenhum dispositivo


metodológico pode ser aplicado de forma mecânica. O rigor no controlo
epistemológico do trabalho não pode ser confundido com rigidez na aplicação dos
métodos. A problemática e o modelo de análise primam sobre a observação. O
verdadeiro rigor não é sinónimo de formalismo técnico. O rigor não incide
primordialmente sobre os pormenores da aplicação de cada procedimento utilizado,
mas sim, sobre a coerência de conjunto do processo de investigação e modo como ele
realiza exigências epistemológicas bem compreendidas.

Etapa 7

• Conclusões: a conclusão de um trabalho é das partes que os leitores costumam ler em


primeiro lugar, procurando nessas páginas indicações do interesse que o trabalho pode
ter. A conclusão compreende geralmente três partes:

• Uma retrospectiva das grandes linhas de pensamento:

• Pergunta de partida na sua formulação definitiva

• Apresentação das características gerais do modelo de análise e das hipóteses de


pesquisa

• Apresentação do campo de observação, dos modelos utilizados e das


observações efetuadas, assim como, uma interpretação das diferenças.

• Comparação entre os resultados esperados e os resultados obtidos

• Uma apresentação pormenorizada dos contributos originados pelo trabalho:

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• Novos contributos para o conhecimento: mostrar em que é que a investigação
permitiu conhecer melhor o objeto selecionado. Estes novos conteúdos têm uma
dupla natureza:

• Matizam e corrigem

• Colocam em causa os conhecimentos anteriores

• Os novos conhecimentos evidenciam-se na resposta às duas perguntas seguintes:

• O que sei a mais sobre este projeto de investigação?

• O que sei de novo sobre este projeto?

• Quanto mais o investigador se afasta dos preconceitos do conhecimento corrente


e se preocupa com a problemática, mais probabilidades tem a sua contribuição de
novos conhecimentos ser de tipo corretivo.

• Novos conhecimentos teóricos: o investigador define uma problemática e elabora um


modelo de análise composto por conceitos e hipóteses. Este domínio concreto e
progressivamente revelado e foi posta à prova a pertinência da problemática e do
modelo de análise. O investigador deve avaliar- a posteriori- o seu próprio trabalho
teórico relativamente:

• À pertinência da problemática

• À operacionalização do modelo de análise

A partir deste exame crítico podem ser formuladas novas perspectivas teóricas. Um novo
ponto de vista, reformulação de uma hipótese, redefinição de um conceito ou afinação de
indicadores.

• Considerações de ordem prática: as conclusões de uma investigação raramente


conduzem a aplicações práticas e indiscutíveis. Entre a análise e a decisão prática,
não é possível, nomeadamente, contornar a questão do juízo moral e da
responsabilidade. No seu sentido mais negativo, a ideologia pode consistir
precisamente em fixar de forma indevida conclusões normativas em nome de
pretensas duradouras e profundamente as práticas sociais que não imponham um
incessante trabalho autoformação teórica.

21
22
23
Fontes de informação

• Onde procurar informação?:

• Bases de dados

• Google

• Google Books

• Google Scholar

• Google Académico Repositórios

• Bibliotecas on-line

• Revistas especialidade

• Como procurar?

• Operadores booleanos: “E” (AND) “Ou” (OR) “Não” (NOT)

• Aspas: Participação Política ≠”Participação Política”

• Como selecionar?:

• Skimming: captação da tendência geral, sem entrar em minúcias, valendo-se dos


títulos, subtítulos e ilustrações, se houver; deve-se também ler parágrafos, tentando
encontrar a metodologia e a essência do trabalho.

• Scanning: procura de certo tópico da obra, utilizando o índice ou sumário, ou a leitura


de algumas linhas, parágrafos, visando encontrar frases ou palavras-chave.

• Mapping

• Como registar?

• Pastas

• Livro de estilos e referenciação: WORD- referências

• Fases e objetivos da leitura informativa:

• Objetivos:

• Certificar-se do conteúdo do texto, constatando o que o autor afirma, os da- dos


que apresenta e as informações que oferece;

• Correlacionar os dados coletados a partir das informações do autor com o


problema em pauta;

• Verificar a validade dessas informações.

24
• Fases:

a) Leitura de reconhecimento ou prévia: leitura rápida, cuja finalidade é procurar


um assunto de interesse ou verificar a existência de determinadas informações.
Faz-se olhando o índice ou sumário, verificando os títulos dos capítulos e suas
subdivisões;

b) Leitura exploratória ou pré-Ieitura: leitura de sondagem, tendo em vista localizar


as informações, uma vez que já se tem conhecimento de sua existência. Parte-se
do princípio de que um capítulo ou tópico trata de assunto que nos interessa, mas
pode omitir o aspecto relacionado diretamente com o problema que nos
preocupa. Examina-se a página de rosto, a introdução, o prefácio, as "orelhas" e
a contracapa, a bibliografia e as notas de rodapé;

c) Seletiva: leitura que visa à seleção das informações mais importantes


relacionadas com o problema em questão. A determinação prévia dos distintos
propósitos específicos é importante para esta fase, que se constitui no último
passo de localização do material para exame e no primeiro de uma leitura mais
séria e profunda. A seleção consiste na eliminação do supérfluo e concentração
em informações verdadeiramente pertinentes ao nosso problema;

d) Reflexiva: mais profunda do que as anteriores, refere-se ao reconheci- mento e


à avaliação das informações, das intenções e dos propósitos do autor. Procede-
se à identificação das frases-chave para saber o que o autor afirma e por que o
faz;

e) Crítica: avalia as informações do autor. Implica saber escolher e diferenciar as


ideias principais das secundárias, hierarquizando-as pela ordem de importância.
O propósito é obter, de um lado, uma visão sincrética e global do texto e, de
outro, descobrir as intenções do autor. No primeiro momento da fase de crítica
deve-se entender o que o autor quis transmitir e, para tal, a análise e o julgamento
das ideias dele devem ser feitos em função de seus próprios propósitos, e não
dos do pesquisador; é no segundo momento que devemos, com base na
compreensão do quê e do porquê de suas proposições, retificar ou ratificar
nossos próprios argumentos e conclusões;

f) Interpretativa: relaciona as afirmações do autor com os problemas para os


quais, através da leitura de textos, está-se buscando uma solução. Se, de um
lado, o estudo aprofundado das ideias principais de uma obra é realiza- do em
função dos propósitos que nortearam seu autor, de outro, o aproveitamento
integral ou parcial de tais proposições está subordinado às metas de quem
estuda ou pesquisa: trata-se de uma associação de ideias, transferência de
situações e comparação de propósitos, mediante os quais seleciona-se apenas o
que é pertinente e útil, o que contribui para resolver os problemas propostos por
quem efetua a leitura. Assim, é pertinente e útil tudo aquilo que tem a função de
provar, retificar ou negar, definir, delimitar e dividir conceitos, justificar ou
desqualificar e auxiliar a interpretação de proposições, questões, métodos,
técnicas, resultados ou conclusões;

25
g) Explicativa: leitura com o intuito de verificar os fundamentos de verdade
enfocados pelo autor (geralmente necessária para a redação de monografias ou
teses).

Fontes de informação

• Fontes Primárias e Secundárias: são diferentes e devem ser vistas de forma diferente
por quem as utiliza.

• Algumas têm mais credibilidade que outras: é importante não acreditar em tudo
simplesmente porque está impresso (as primeiras estão mais próximas do
fenómeno em estudo; não houve nenhuma reinterpretação).

• Principal diferença entre fontes primárias e secundárias: as primeiras apresentam


um primeiro olhar, uma primeira abordagem aos dados; as segundas, um
segundo olhar, alguém que não o autor.

• Não existe uma correlação direta entre a qualidade de uma fonte e o ser primária
ou secundária. Algumas fontes primárias podem ser muito suspeitas, enquanto
algumas secundárias podem ser excelentes

• Atenção!: A utilização das diferentes fontes documentais deve permitir o “contar


de uma história”, uma narrativa e não uma mera listagem de ideias e autores:
importância da “consciência crítica”.

Primárias Secundárias
autobiografias biografias
diários Dicionários e enciclopédias
Cartas e correspondência Artigos de revisão
(incluindo eletrónicas)
Documentos e estatísticas Textos escolares
governamentais
Documentos originais (como
registos de nascimento)
Fotografias, audio ou vídeo
discursos

Relação teoria-factos

• A teoria serve como sistema de concetualização e de classificação dos fatos - um fato


não é somente uma observação prática ao acaso, mas também uma afirmativa
empiricamente verificada sobre o fenómeno em pauta: dessa forma, engloba tanto as
observações científicas quanto um quadro de referência teórico conhecido, no qual
essas observações se enquadram. No universo, a variedade de fenómenos passíveis

26
de estudo é infInita; entretanto, a ciência seleciona aqueles que deseja estudar e, além
disso, os abstrai da realidade, escolhendo alguns aspectos do fenómeno (massa,
velocidade, graus de socialização etc.), não estudando, portanto, todo o fenómeno.
Constitui, assim, um ato de abstração separar qualquer fenómeno de tudo aquilo com
que está relacionado. Se cada ciência estuda determinados aspectos da realidade e
possui um sistema abstrato de pensamento para interpretar estes segmentos,
necessita de sistemas conceptuais que expressem os fenómenos de cada área do
saber. Na realidade, conceitos são símbolos verbais característicos, conferidos às
ideias generalizadas, abstraídas da percepção científica sobre os fenómenos, como
veremos mais adiante. Para Barbosa Filho (1980:17), a teoria, como sistema de
concetualização e de classificação dos fatos, tem as seguintes funções:

a) Representar os fatos, emitindo sua verdadeira concepção. Exemplo: os


componentes de uma sociedade ocupam nela posições diferentes (fato) = status
(conceito);

b) Fornecer um universo vocabular científico, próprio de cada ciência, facilitando


a compreensão dos fenómenos e a comunicação entre os cientistas. Exemplo:
para estudar os fenómenos de mudança cultural, a Antropologia Cultural deve
possuir uma terminologia própria, que englobe os conceitos de aculturação (fusão
de duas culturas); sincretismo (fusão de elementos culturais- religiosos ou
linguísticos); transculturação (troca de elementos culturais) etc.;

c) Expressar uma relação entre fatos estudados. Exemplo: E = mc2 , isto é, a


energia é igual à massa multiplicada pelo quadrado de sua velocidade;

d) Classificar e sistematizar os fenómenos, acontecimentos, aspectos e objetos


da realidade. Exemplo: a classificação periódica dos elementos químicos, feita
por Mendeleev, de acordo com seu peso atómico, não teria sentido sem os
conceitos de "átomo", "próton", "elétron", “neutrôn" etc.;

e) Resumir a explicação dos fenómenos, expressando sua concepção e cor-


relação. Exemplo: classe social = "conjuntos de agentes sociais determinados
principalmente, mas não exclusivamente, por seu lugar no processo de produção,
isto é, na esfera econômica, significando, em um e mesmo movimento,
contradições e luta de classes …” (Poulantzas).

• A teoria serve para, baseando-se em fatos e relações já conhecidos, prever novos fatos
e relações- a teoria toma-se um meio de prever fatos, pois resume os fatos já
observados e estabelece uma uniformidade geral que ultrapassa as observações
imediatas. Exemplo: verifIcamos que a introdução da tecnologia, nos países ocidentais,
produziu uma acentuada redução na taxa de mortalidade e uma redução, não tão
marcante, na taxa de nascimentos (pelo menos durante as fases iniciais). Assim,
podemos prever que a introdução dessa tecnologia, em outros países, acarretará o
aparecimento desses padrões. Esperamos a ocorrência dos mesmos padrões em
virtude de:

27

a) acreditarmos conhecer quais os fatores que causam esses padrões; e

b) acreditarmos que esses fatores serão encontrados na nova situação (Goode e


Hatt, 1969:17).

• O que nos leva a acreditar em tal? A razão é que, por trás de nossas generalizações
empíricas, existe uma teoria e esta assevera que, nas condições X, Y será observado.
Portanto, sempre que encontrarmos as condições X, podemos prever o aparecimento
de Y. Ou, de forma mais elaborada, se comprovarmos que o fato X leva ao
acontecimento Y em dada situação A, na situação B, semelhante a A, X levará
novamente ao acontecimento Y.

• A teoria serve para indicar os fatos e as relações que ainda não estão satisfatoriamente
explicados e as áreas da realidade que demandam pesquisas - é exatamente pelo fato
de a teoria resumir os fatos e também prever fatos ainda não observados que se tem a
possibilidade de indicar áreas não exploradas, da mesma forma que fatos e relações
até então insatisfatoriamente explicados. Assim, antes de iniciar uma investigação, o
pesquisador necessita conhecer a teoria já existente, pois é ela que servirá de
indicador para a delimitação do campo ou área mais necessitada de pesquisas.
Exemplos: Barbara Wooton, em sua obra Social science and social pathology
(Bottomore, 1970:272), selecionou e analisou 21 obras referentes ao crime e à
delinquência e concluiu que elas indicam, 12 diferentes fatores, possivelmente
relacionados à criminalidade ou à delinquência, e que "essa coleção de estudos,
embora escolhidos pelo seu mérito metodológico comparado, só produzem
generalizações insuficientes e de fundamentação duvidosa". Por sua vez, Edwin H.
Sutherland (Merton, 1970: 158-9) identificou uma grande lacuna no conhecimento do
comportamento criminoso: verificou que os estudos até então realizados, sobre o
comportamento criminoso e suas causas, levaram a teoria a correlacionar os "crimes",
entendidos como assassinato, incêndio proposital, roubo, latrocínio e outros, com as
classes baixas; entretanto, se "crime" for conceituado como "violação da lei criminal",
os mesmos estudos deixaram de lado os "crimes" cometidos pelas classes médias e
altas (rotulados de white collar), resultantes das atividades comuns de comércio,
cometidos inclusive pelas poderosas empresas comerciais americanas. Tanto em um
caso como no outro, as preocupações teóricas seguiram novo rumo, necessitando de
outras investigações sobre os fatos e suas relações por não terem sido
satisfatoriamente explicados ou por apresentarem lacunas.

• Desde que se conclui que o desenvolvimento da ciência pode ser considerado como
uma inter-relação constante entre teoria e fato, e desde que verificamos as diferentes
formas pelas quais a teoria desempenha um papel ativo na explicação dos fatos, resta-

28
nos verificar de que maneira os fatos podem exercer função significativa na construção
e desenvolvimento da teoria.

• Os fatos podem provocar a rejeição ou a reformulação de teorias já existentes.


Havendo a possibilidade de, para incluir um grupo específico de observações, serem
formuladas várias teorias, concluímos que os fatos não determinam completamente a
teoria; entretanto, entre teoria e fatos, estes são os mais resistentes, pois qualquer
teoria deve ajustar-se aos fatos. Quando isso não ocorre, a teoria deve ser
reformulada, ou então, rejeitada. Assim:

a) os fatos não conduzem a conclusões teóricas completas e definitivas, por


produzirem constantemente novas situações.

b) qualquer teoria é passível de modificação, já que se constitui em expressão


funcional das observações.

c) como a pesquisa é uma atividade contínua, a rejeição e a reformulação das


teorias tendem a ocorrer simultaneamente com a observação de novos fatos; se
as teorias existentes não podem ajustar os novos fatos à sua estrutura, devem
ser reformuladas.

d) as observações são acumuladas gradualmente e o surgimento de novos


fatos, não abrangidos pela teoria, as coloca em dúvida, de forma que, enquanto
novas verificações são planejadas, desenvolvem-se novas formulações teóricas,
que procuram incluir esses fatos.

• Um exemplo da atuação dos fatos em relação à teoria no campo da Sociologia, pode


ser dado com o trabalho de Durkheim sobre o suicídio. Fenómeno largamente
estudado por outros cientistas, o suicídio foi explicado por teorias que se baseavam na
psicopatologia, assim como em clima, raça e nacionalidade; entretanto, não abarcavam
todos os fatos aceitáveis. Durkheim provou que, mantendo-se constante qualquer
desses aspectos, a taxa de suicídio, ao contrário do preconizado, não era constante.
Partiu, portanto, para uma nova concetualização, demonstrando que todos os fatos
poderiam ser abarcados por uma classificação de tipos diferentes de suicídio (egoísta,
altruísta e anômico) e uma teoria nova de desorganização social e pessoal, concluindo
que a causa básica do suicídio é a deficiência de integração em um grupo social.

• Os fatos redefinem e esclarecem a teoria previamente estabelecida, no sentido de que


afirmam em pormenores o que a teoria afirma em termos bem mais gerais. Mesmo que
novos fatos descobertos confinem a teoria existente, ela poderá sofrer modificações,
em virtude de:

a) novas situações, não previstas, conduzirem a observações mais


pormenorizadas, não incluídas na teoria.

29
b) a teoria, explicando os fenómenos apenas em termos mais gerais, não incluir a
previsão de aspectos particulares e, assim, novos fatos -, mesmo que concordem
com a teoria, se enfocarem (e afirmarem) em pormenores aspectos que ela afirma
apenas em termos bem gerais -, levarão à sua redefinição;

c) surgirem hipóteses específicas, dentro do contexto da teoria geral, que


conduzem a novas inferências, exigindo sua explicação, a renovação e a
redefinição da teoria; novas técnicas de pesquisa empírica exercerem pressão
sobre o foco de interesse da teoria, alterando-o e, em consequência, redefinindo
a própria teoria.

• Um exemplo pode ser dado pela previsão teórica geral de que indivíduos, quando se
transferem da zona rural para o meio urbano, sofrem apreciável aumento na
desorganização pessoal. Exaustivos estudos sobre os migrantes (e seus filhos)
demonstraram que uma série de fatores é responsável pelo aumento da
desorganização, tais como aquisição de novos hábitos, técnicas, costumes, valores
etc. Não sendo alguns desses fatores previstos pela teoria geral, uma redefinição e um
esclarecimento se fazem necessários. Outro exemplo é citado por Merton (1970:178),
referente às teorias existentes sobre a magia: Malinowski, estudando os trobriandeses,
verificou que não recorriam à magia quando realizavam a pesca em sua lagoa interna,
pois nessa atividade não havia perigo, nem incerteza, nem acasos incontrolaveis; a
atitude era outra nas pescarias em alto mar - esta trazia incerteza e graves perigos - e,
em consequência, a magia flores- cia. Portanto, as teorias foram redefinidas para
incorporarem "o surgimento das crenças mágicas em decorrência de incertezas nas
buscas práticas do homem, para aumentar a confiança, para reduzir a angústia, para
abrir caminhos, para escapar a impasses". Finalmente, novas técnicas de pesquisa,
como as criadas por Moreno - sociométricas -, alteraram as preocupações teóricas no
campo das relações interpessoais.

• Os fatos, descobertos e analisados pela pesquisa empírica, exercem pressão para


esclarecer conceitos contidos nas teorias, pois uma das exigências fundamentais da
pesquisa é a de que os conceitos (ou variáveis) com que lida sejam definidos com
suficiente clareza para permitir o seu prosseguimento. Apesar de, em geral, a
clarificação de conceitos pertencer à "área privativa" do teórico, muitas vezes constitui
um resultado da pesquisa empírica. Se, como assinalou Rebecca West (ln: Merton,
1970:185), podemos descobrir que A, B e C estão entrelaçados por certas conexões
causais, não nos é possível apreender com exatidão a natureza de A, B e C, a menos
que a teoria esclareça os conceitos relativos a eles. Quando tal exigência não é
cumprida, as pesquisas contribuem para o progresso dos procedi- mentos de
investigação, embora suas descobertas não integrem o repositório da teoria cumulativa
da ciência em pauta.

• Um exemplo de como as investigações empíricas "forçam" a clarificação dos


conceitos pode ser dado em Sociologia: as concepções teóricas sustentam que os
30
indivíduos têm múltiplos papéis sociais (derivados dos diferentes status ocupados na
sociedade) e tendem a organizar seu comportamento em termos das expectativas
estruturalmente definidas e atribuídas a cada status (e papel). Além disso, quanto
menos integrada estiver a sociedade, maior será a frequência com que os indivíduos
se submetem à pressão de papéis sociais incompatíveis. Ora, o problema de procurar
predizer o comportamento do indivíduo, decorrente da incompatibilidade dos papéis,
exigia o esclarecimento dos ter- mos conceituais de "solidariedade", "conflito",
"exigências e situação do papel": a própria pesquisa, elaborando índices de pressões
de grupos em conflito e observando o comportamento dos indivíduos em situações
específicas, forçou a clarificação dos conceitos-chave implícitos no problema

Em síntese

a) Teoria e facto não são diametralmente opostos, estão antes inter-relacionados,


sendo indispensáveis à abordagem científica;

b) Teoria não é especulação, é um conjunto de princípios fundamentais, que se


constituem em instrumento científico apropriado na procura e principalmente na
explicação dos fatos;

c) Ambos, teoria e facto, são objetos de interesse dos cientistas: não existe teoria
sem ser baseada em factos; por sua vez, a compilação de factos ao acaso, sem
um princípio de classificação (teoria), não produziria a ciência – ter-se-ia um
acúmulo de fatos não sistematizados, não relacionados, mas amorfos e dispersos,
impossíveis de serem interligados e explicados;

31
d) o desenvolvimento da ciência pode, assim, ser considerado como uma inter-
relação constante entre teoria e facto (Lakatos)

• Papel da Teoria em Relação aos Fatos

1. Orienta os objetivos da ciência

Restringindo a amplitude dos fatos a serem estudados em cada campo de


conhecimento.

2. Oferece um sistema de conceitos

• Representar os factos.

• Fornecer um universo vocabular científico, próprio de cada ciência.

• Classificar e sistematizar os fenómenos, acontecimentos, aspectos e objetos da


realidade.

3. Resume o conhecimento

• Generalizações teóricas a partir da empíria

• Sistema de inter-relações

4. Prevê factos

5. Indica lacunas no conhecimento

• Papel dos factos em relação à teoria

1. O facto inicia a teoria

2. O facto reformula teorias

a) os fatos não conduzem a conclusões teóricas completas e definitivas

b) qualquer teoria é passível de modificação

c) as observações são acumuladas gradualmente e o surgimento de novos


factos, não abrangidos pela teoria, as coloca em dúvida

3. O facto clarifica os conceitos contidos nas teorias

32
Paradigma

• Paradigma: segundo Thomas Khun, paradigma é “(…) um termo muito próximo de


«ciência normal». Ao escolhê-lo, quis sugerir que alguns exemplos aceites de prática
científica concreta – exemplos que reúnem leis, teorias, aplicações e instrumentos –
fornecem modelos que dão lugar a uma determinada tradição de investigação
científica coerente” (1996:32). “Conjunto de regras e critérios de prática científica”(p.
32), “plataforma de comprometimento profissional” (p.32), “critério para escolher
problemas que sejam solucionáveis” (p.66), “o que os membros de uma comunidade
científica compartilham, e, reciprocamente, uma comunidade científica é comporta por
aqueles que compartilham um paradigma” (p.237), “constelação dos
comprometimentos do grupo” (p.244)

(Kuhn, T (1996 [1962]] A Estrutura das revoluções Científicas. Lisboa: Guerra e Paz)

Paradigma quantitativo Paradigma qualitativo

Paradigmas clássicos
Positivismo Interpretativismo
Visão objectiva da realidade: possibilidade de Visão subjectiva da realidade: não é possível apreender
apreender a realidade tal qual ela é. Só se analisa o que a realidade tal qual ela é – a apreensão da realidade é
é mensurável ou categorizável. subjectiva (não existe uma realidade, mas sim várias
realidades – a do investigador, a dos sujeitos
investigados, a de quem lê, etc).
O investigador não é uma variável de perturbação (não O investigador é o principal instrumento de recolha de
influencia) – os factos sociais são exteriores aos informação: o facto de ser ele e não outro a ouvir,
indivíduos. sentir, ver, cheirar a realidade, condiciona o rumo e o
resultado final da pesquisa.
Parte sempre de pressupostos teóricos e de hipóteses Parte de objectivos e não de hipóteses de pesquisa.
de pesquisa (a realidade é objectivável)
O projecto de pesquisa apresenta uma estrutura rígida, O projecto de pesquisa não é vinculativo, no sentido
uma vez que a preocupação é a de confirmar/refutar em que evolui com o desenvolvimento da pesquisa
a(s) hipótese(s) previamente definidas. (sobretudo devido ao contacto com o terreno) a
preocupação não é medir a realidade, não é verificar se
uma variável é causa/efeito de outra, mas sim
compreendê-la
A realidade é quantificável e/ ou categorizada de forma A realidade é traduzida em frases, em textos, em
a permitir o recurso à estatística no processo de análise imagens – não é quantificável. A escrita surge como um
dos dados. método, no sentido em que as opções linguísticas
constroem realidades.
Recurso a técnicas quantitativas, tais como: Recurso a técnicas qualitativas, tais como: observação
questionários, observação sistemática, análise de directa participante, entrevistas qualitativas, focus
conteúdo, entrevistas estruturadas, testes estatísticos. group, testes projectivos, mapas mentais, conversas
informais e histórias de vida; apresentação dos dados
sob a forma de texto
Permite a extrapolação da amostra para o universo Os dados obtidos não são passíveis de extrapolação
(representatividade da amostra). As conclusões obtidas estatística mas sim teórica (em situações idênticas, é
são generalizáveis a todos os elementos da população. possível que se cheguem a resultados similares)
Preferencialmente recorre-se a amostras probabilísticas. Recurso a amostras não-probabilísticas.
Nível macro (escala) – os casos concretos apenas Nível micro (escala) – Interessam os casos concretos,
interessam quando são agrupados em categorias interessa a pessoa humana, interessa a situação em que
homogéneas, perdendo a sua dimensão humana em ocorre determinado fenómeno. No entanto, estes
detrimento de uma construção analítica. indivíduos não devem ser vistos como átomos
(comportamentos isolados poderão ter interesse para a
psicologia clínica, mas não para a maioria das ciências
sociais), como peças únicas, mas sim como moléculas –
várias situações ilustram um determinado tema.

33
Operacionalização de conceitos

• Passagem do conceito a unidades menores, unidades observáveis, medíveis.

Conceito Dimensões Indicadores

Exemplo: Participação política

Conceito: Participação Política Como medir?

• Definição [Dicionário de Política, Norberto Bobbio, pp.888-889]: “Na terminologia


corrente da ciência política, a expressão Participação política é geralmente usada
para designar uma variada série de atividades: o ato do voto, a militância num
partido político, a participação em manifestações, a contribuição para uma certa
agremiação política, a discussão de acontecimentos políticos, a participação num
comício ou numa reunião de seção, o apoio a um determinado candidato no decorrer
da campanha eleitoral, a pressão exercida sobre um dirigente político, a difusão de
informações políticas e por aí além[…]

• Há pelo menos três formas ou níveis de Participação política que merecem ser
brevemente esclarecidos.

• A primeira forma, que poderíamos designar com o termo de presença, é a forma


menos intensa e mais marginal de Participação política; trata-se de comportamentos
essencialmente receptivos ou passivos, como a presença em reuniões, a exposição
voluntária a mensagens políticas, etc, situações em que o indivíduo não põe qualquer
contribuição pessoal.

• A segunda forma poderíamos designá-la com o termo de ativação: aqui o sujeito


desenvolve, dentro ou fora de uma organização política, uma série de atividades que
lhe foram confiadas por delegação permanente, de que é incumbido de vez em
quando, ou que ele mesmo pode promover. Isto acontece quando se faz obra de
proselitismo, quando há um envolvimento em campanhas eleitorais, quando se
difunde a imprensa do partido, quando se participa em manifestações de protesto,
etc. O termo participação, tomado em sentido estrito, poderia ser reservado,
finalmente, para situações em que o indivíduo contribui direta ou indiretamente
para uma decisão política. Esta contribuição, ao menos no que respeita à maior
pane dos cidadãos, só poderá ser dada de forma direta em contextos políticos muito
restritos; na maioria dos casos, a contribuição é indireta e se expressa na escolha do

34
pessoal dirigente, isto é, do pessoal investido de poder por certo período de tempo
para analisar alternativas e tomar decisões que vinculem toda a sociedade.”

2 Seleção dimensões 3 Seleção indicadores Variáveis [plano empírico]


[plano teórico] [plano teórico]
Presença Reuniões Exemplo – entrevista semi-
estruturada
Comícios
[…]
Exposição voluntária a
mensagens políticas Tópico – Presença em
actividades (variável 1)
[…]
É usual participar em reuniões
políticas (categoria 1)? O que
o leva a participar nessas
reuniões (categoria 2)?

E em comícios (categoria 3)?


Já participou em algum
(categoria4)? Qual ou quais
(categoria 5)? O que o motivou
a essa participação (categoria
6)? […]
Ativação Envolvimento em Exemplo – questionário
campanhas eleitorais
[…]
Propaganda
Na escala que se segue,
Manifestações públicas assinale com um X o nível do
seu envolvimento em
[…] campanhas eleitorais (1 –
nenhum; 5 total) [variável 1]:

(categoria)

1 2 3 4 5

[…]
Decisão Voto

[…]

35
Operacionalização do conceito no seu lugar de pesquisa

Ideias

Questão de pesquisa

36
Objetivos de investigação

• O que são os objetivos de investigação:

• O que queremos estudar

• O que queremos analisar

• O que queremos compreender

• O que queremos explicar

Tipos de objetivos de investigação

• Objetivo tem a ver com intencionalidade, com alvo/meta a atingir, finalidades que se
pretendem atingir.

• A definição clara dos objectivos é de extrema importância, de modo a que o


investigador possa tomar as suas decisões metodológicas.

• Os objectivos gerais são mais amplos, mais abrangentes. São a meta a atingir. Os
objectivos específicos desconstroem o(s) objectivo(s) geral(ais), possibilitando que
se compreenda como é que o investigador vai atingir o objectivo a que se propõe.

• Do ponto de vista técnico, devem ser por meio de verbos no infinitivo, tais como:
analisar, investigar, compreender, enunciar, verificar, registar, exemplificar, formular,
aplicar, medir, localizar, descrever, criar… Os verbos utilizados estão directamente
relacionados com o tipo de estudo: descritivo, explicativo, causal, comparativo, etc.

37
Objetivos SMART (específicos, medíveis, alcançáveis, relevantes, temporais)

Métodos qualitativos para a CP

Etnográfico Estudo de caso Biográfico


Técnicas Entrevistas Entrevistas Entrevistas
qualitativas qualitativas qualitativas

Observação direta Observação direta Observação direta


(participante e não (participante e não
Análise documental
participante) participante)

[…]
Focus group
Focus group

Conversas informais Conversas informais

[…] […]

Inquérito

Análise SWOT

Análise relatórios

[…]

Ferramentas Guiões Questionário


-
Registos de
informação (diário)

• Amostra: perfil onde vou observar indicadores do conceito.

38
Triangulação da informação na abordagem qualitativa

• A triangulação, associada à abordagem qualitativa, é a combinação de múltiplas


práticas metodológicas, materiais empíricos, perspectivas e observadores num mesmo
estudo. É, no fundo, um plano de acção que visa reduzir o viés característico do uso de
um só método (Denzin 2000; Denzin 1978).

• A triangulação dos dados: diz respeito ao empenho do investigador em obter os


dados a partir de fontes diversas: diferentes lugares, diferentes espaços, diferentes

• A triangulação do investigador: apela à constituição, sempre que possível, de equipas


de trabalho, ou seja, investigações que integrem vários profissionais ao invés de
investigações individuais.

• A triangulação teórica: Invoca o recurso a múltiplas perspectivas em relação ao


mesmo objecto.

• A triangulação metodológica: Há que distinguir a triangulação intra-métodos (recurso


a várias técnicas da mesma natureza, por exemplo, no caso de o investigador optar
pelo método etnográfico, tem ao seu dispor uma panóplia de técnicas da mesma
natureza, designadamente observação participante, entrevista qualitativa, conversas
informais, focus group, entre outras) da triangulação inter-métodos (quando possível,
cruzar dados obtidos a partir de métodos distintos, por exemplo, o método biográfico
ou o estudo de caso com sondagens).

39
Entrevista

• A entrevista é um encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha in-
formações a respeito de determinado assunto, mediante uma conversação de natureza
profissional. É um procedimento utilizado na investigação social, para a coleta de
dados ou para ajudar no diagnóstico ou no tratamento de um problema social. A
entrevista é importante instrumento de trabalho nos vários campos das ciências sociais
ou de outros setores de atividades, como da Sociologia, da Antropologia, da Psicologia
Social, da Política, do Serviço Social, do Jornalismo, das Relações Públicas, da
Pesquisa de Mercado e outras. Alguns autores consideram a entrevista como o
instrumento por excelência da investigação social. Quando realizado por um
investigador experiente, "é muitas vezes superior a outros sistemas de obtenção de
dados", afirma Best (1972: 120)

• A entrevista tem como objetivo principal a obtenção de informações do entrevistado,


sobre determinado assunto ou problema.

• Quanto ao conteúdo, Selltiz (1965:286-95) apresenta seis tipos de objetivos:

a) Averiguação de factos. Descobrir se as pessoas que estão de posse de certas


informações são capazes de compreendê-Ias. 


b) Determinação das opiniões sobre os factos. Conhecer o que as pessoas


pensam c;>u acreditam que os fatos sejam.

c) Determinação de sentimentos. Compreender a conduta de alguém através de


seus sentimentos e anseios.

d) Descoberta de planos de ação. Descobrir, por meio das definições individuais


dadas, qual a conduta adequada em determinadas situações, a fim de prever qual
seria a sua. 

As definições adequadas da ação apresentam em geral dois componentes: os
padrões éticos do que deveria ter sido feito e considerações práticas do que é
possível fazer.

e) Conduta atual ou do passado. Inferir que conduta a pessoa terá no futuro,


conhecendo a maneira pela qual ela se comportou no passado ou se com- porta
no presente, em determinadas situações.

f) Motivos conscientes para opiniões, sentimentos, sistemas ou condutas.


Descobrir quais fatores podem influenciar as opiniões, sentimentos e conduta e
por quê. 


40
• Há diferentes tipos de entrevistas, que variam de acordo com o propósito do
entrevistador:

• Padronizada ou Estruturada: aquela em que o entrevistador segue um roteiro


previamente estabelecido; as perguntas feitas ao indivíduo são pre- determinadas. Ela
se realiza de acordo com um formulário (ver mais adiante) elaborado e é efetuada de
preferência com pessoas selecionadas de acordo com um plano. O motivo da
padronização é obter, dos entrevistados, respostas às mesmas perguntas, permitindo
"que todas elas sejam comparadas com o mesmo conjunto de perguntas, e que as
diferenças devem refletir diferenças entre os entrevistados e não diferenças nas
perguntas" (Lodi, 1974:16). O pesquisador não é livre para adaptar suas perguntas a
determinada situação, de alterar a ordem dos tópicos ou de fazer outras perguntas.

• Despadronizada ou não-estruturada: o entrevistador tem liberdade para desenvolver


cada situação em qualquer direção que considere adequada. É uma forma de poder
explorar mais amplamente uma questão. Em geral, as perguntas são abertas e podem
ser respondidas dentro de uma conversação informal.

• Este tipo de entrevista, segundo Ander-Egg (1978:110), apresenta três modalidades:

• Entrevista focalizada: Há um roteiro de tópicos relativos ao problema que se


vai estudar e o entrevistador tem liberdade de fazer as perguntas que quiser:
sonda razões e motivos, dá esclarecimentos, não obedecendo, a rigor, a
uma estrutura formal. Para isso, são necessários habilidade e perspicácia
por parte do entrevistador. Em geral, é utilizada em estudos de situações de
mudança de conduta.

• Entrevista clínica: trata-se de estudar os motivos, os sentimentos, a conduta


das pessoas. Para esse tipo de entrevista pode ser organizada uma série de
perguntas específicas.

• Não dirigida: há liberdade total por parte do entrevistado, que poderá


expressar suas opiniões e sentimentos. A função do entrevistador é de
incentivo, levando o informante a falar sobre determinado assunto, sem,
entretanto, forçá-lo a responder.

• Painel: consiste na repetição de perguntas, de tempo em tempo, às mesmas


pessoas, a fim de estudar a evolução das opiniões em períodos curtos. As
perguntas devem ser formuladas de maneira diversa, para que o entrevista-
do não distorça as respostas com essas repetições.

• Como técnica de aquisição de dados, a entrevista oferece várias vantagens e


limitações:

• Vantagens:
41
a) Pode ser utilizada com todos os segmentos da população: analfabetos ou
alfabetizados.

b) Fornece uma amostragem muito melhor da população geral: o entrevistado não


precisa saber ler ou escrever.

c) Há maior flexibilidade, podendo o entrevistador repetir ou esclarecer perguntas,


formular de maneira diferente; especificar algum significado, como garantia de
estar sendo compreendido.

d) Oferece maior oportunidade para avaliar atitudes, condutas, podendo o


entrevistado ser observado naquilo que diz e como diz: registro de reações,
gestos etc.

e) Dá oportunidade para a obtenção de dados que não se encontram em fontes


documentais e que sejam relevantes e significativos.

f) Há possibilidade de conseguir informações mais precisas, podendo ser


comprovadas, de imediato, as discordâncias.

g) Permite que os dados sejam quantificados e submetidos a tratamento


estatístico.

• Limitações:

• A entrevista apresenta algumas limitações ou desvantagens, que podem ser supera-


das ou minimizadas se o pesquisador for uma pessoa com bastante experiência ou
tiver muito bom-senso. As limitações são:

a) Dificuldade de expressão e comunicação de ambas as partes.

b) Incompreensão, por parte do informante, do significado das perguntas, da


pesquisa, que pode levar a uma falsa interpretação.

c) Possibilidade de o entrevistado ser influenciado, consciente ou


inconscientemente, pelo entrevistador, pelo seu aspecto físico, suas atitudes,
ideias, opiniões etc.

d) Disposição do entrevistado em dar as informações necessárias.

e) Retenção de alguns dados importantes, receando que sua identidade seja


revelada.

d) Pequeno grau de controle sobre uma situação de coleta de dados. Ocupa


muito tempo e é difícil de ser realizada.

42
• A preparação da entrevista é uma etapa importante da pesquisa: requer tempo (o
pesquisador deve ter uma ideia clara da informação de que necessita) e exige algumas
medidas:

a) Planeamento da entrevista: deve ter em vista o objetivo a ser alcançado.

b) Conhecimento prévio do entrevistado: objetiva conhecer o grau de familiaridade dele


com o assunto.

c) Oportunidade da entrevista: marcar com antecedência a hora e o local, para assegurar-


se de que será recebido.

d) Condições favoráveis: garantir ao entrevistado o segredo de suas confidências e da


sua identidade.

e) Contato com líderes: espera-se obter maior entrosamento com o entrevistado e maior
variabilidade de informações.

f) Conhecimento prévio do campo: evita desencontros e perda de tempo.

g) Preparação específica: organizar roteiro ou formulário com as questões importantes.

• A entrevista, que visa obter respostas válidas e informações pertinentes, é uma


verdadeira arte, que se aprimora com o tempo, com treino e com experiência. Exige
habilidade e sensibilidade;· não é tarefa fácil, mas é básica. Quando o entrevistador
consegue estabelecer certa relação de confiança com o entrevistado, pode obter
informações que de outra maneira talvez não fossem possíveis. Para maior êxito da
entrevista, devem-se observar algumas normas:

a) Contacto inicial: o investigador deve entrar em contato com o informante e


estabelecer, desde o primeiro momento, uma conversação amistosa, explicando a
finalidade da pesquisa, seu objeto, relevância e ressaltar a necessidade de sua
colaboração. É importante obter e manter a confiança do entrevistado,
assegurando-lhe o caráter confidencial de suas informações. Criar um ambiente
que estimule e que leve o entrevistado a ficar à vontade e a falar espontânea e
naturalmente, sem tabus de qualquer ordem. A conversa deve ser mantida numa
atmosfera de cordialidade e de amizade (rapport). Mediante a técnica da
entrevista, o pesquisador pode levar o entrevistado a uma penetração maior em
sua própria experiência, explorando áreas importantes, mas não previstas no
roteiro de perguntas. O entrevistado pode falar, mas principalmente deve ouvir,
procurando sempre manter o controle da entrevista.

b) Formulação de perguntas: as perguntas devem ser feitas de acordo com o tipo da


entrevista: padronizadas, obedecendo ao roteiro ou formulário preestabelecido;
43
não-padronizadas, deixando o informante falar à vontade e, depois, ajudá-lo com
outras perguntas, entrando em maiores detalhes. Para não confundir o
entrevistado, deve-se fazer uma pergunta de cada vez e, primeiro, as que não
tenham probabilidade de ser recusadas. Deve-se permitir ao informante restringir
ou limitar suas informações. Toda pergunta que sugira resposta deve ser evitada.

c) Registo de respostas: As respostas, se possível, devem ser anotadas no momento


da entrevista, para maior fidelidade e veracidade das informações. O uso do
gravador é ideal, se o informante concordar com a sua utilização. A anotação
posterior apresenta duas inconveniências: falha de memória e/ou distorção do
fato, quando não se guardam todos os elementos. O registro deve ser feito com
as mesmas palavras que o entrevistado usar, evitando-se resumi-las. Outra
preocupação é manter o entrevistador atento em relação aos erros, devendo-se
conferir as respostas, sempre que puder. Se possível, anotar gestos, atitudes e
inflexões de voz. Ter em mãos todo o material necessário para registrar as
informações.

d) Fim da entrevista: a entrevista deve terminar como começou, isto é, em ambiente


de cordialidade, para que o pesquisador; se necessário, possa voltar e obter
novos dados, sem que o informante se oponha a isso. Uma condição para o êxito
da entrevista é que mereça aprovação por parte do informante.

e) Requisitos importantes: As respostas de uma entrevista devem atender aos


seguintes requisitos, apontados por Lodi (12:9): validade, relevância,
especificidade e clareza, profundidade e extensão.

• Validade: comparação com a fonte externa, com a de outro entrevistador,


observando as dúvidas, incertezas e hesitações demonstradas pelo
entrevistado.

• Relevância: importância em relação aos objetivos da pesquisa.

• Especificidade e clareza: referência a dados, data, nomes, lugares, quantidade,


percentagens, prazos etc" com objetividade. A clareza dos termos colabora na
especificidade.

Observações

Entrevista qualitativa

• É uma das técnicas mais utilizadas em investigação social.

44
• Consiste na obtenção de informação mediante uma conversa de natureza profissional,
conduzida por um entrevistador que formula as questões e regista as respostas em
função de um objectivo determinado (há um estímulo e uma reacção)

• Constitui um método indirecto de recolha de dados (E-e-fenómeno a analisar)

➡ A situação de entrevista surge como um jogo de papéis:

• Criação de uma situação artificial na qual são distribuídos papéis não habituais.

Tipos de entrevistas

• Estruturada: situações em que se utiliza:

• Quando se tem pouco tempo

• Quando o tema é delicado e complexo

Este tipo de entrevista tem um guião onde estão descritas as várias etapas da entrevista-
identificação do tema, identificação dos tópicos, identificação dos itens
exploratórios, etc.

• Não-estruturada: situações em que se utiliza:

• Estudos que têm por objectivo explorar ou aprofundar determinados temas

• Quando se tem bastante tempo

• Quando o tema é delicado e complexo

• Semi-estruturada: situações em que se utiliza:

• Estudos que têm por objectivo aprofundar ou verificar determinados temas

• Quando não se tem muito tempo disponível para cada uma das entrevistas

• Fatores que condicionam a qualidade dos dados obtidos no âmbito das entrevistas
qualitativas:

• Fatores associados ao entrevistador: equação pessoal.

• Fatores associados ao entrevistado: relevância do tema, capacidade verbal do


entrevistado, motivação e memória.

• Fatores associados ao ambiente/ atmosfera: lugar, tempo real de que ambos


dispõem, audiência (real/percecionada).

45
• Fatores associados à linguagem: possibilita localizar/justificar interesse de E. por e.,
produz efeito junto de e. Deve ser, por isso: acessível, permitir uma respostas,
motivar e. a responder e ser conforme as expectativas.

• Tipos de amostras (amostra teórica- não probabilística):

• Amostra por conveniência

• Amostra por tipicidade

• Amostra em «bola-de-neve» (amostra acidental)

Focus group

• Técnica qualitativa de recolha de dados, com a finalidade de obter respostas de


grupos a textos, filmes e questões relacionadas com uma determinada temática.
Principal finalidade: extrair das atitudes e respostas dos participantes do grupo,
sentimentos, opiniões e reações que contribuirão para um novo conhecimento.

• Robert Merton, considerado o “pai” do focus group: o 1º focus group teve lugar no
Office of Radio Research at Columbia University em 1941, a convite de Lazarsfeld;
técnica inicialmente aplicada em programas de rádio, tendo sido mais tarde estendida
a outras áreas dos media, por exemplo, programas de propaganda e de treino de
militares americanos. Atualmente, o focus group apresenta três áreas distintas de
atuação:

• pesquisas de mercado

• investigação científica

• investigação-ação.

• Estrutura: 6 a 9 pessoas, numa sala.

• Objetivos: recolha de informação e pontos de vista de uma categoria de atores,


agentes ou beneficiários; Aprofundar conhecimentos sobre uma categoria de atores,
agentes ou beneficiários; analisar o impacto de um programa, em particular à escala
local e compreensão das divergências de pontos de vista entre diferentes grupos de
atores, independentemente de pertencerem ou não à mesma categoria sócio-
institucional.

46
• Etapas:

• Vantagens:

• Permite aprofundar informação recolhida a partir de entrevistas individuais.

• Permite comprovar a relevância de opiniões expressas individualmente em situação


de grupo.

• Permite confronto de opiniões e estimula a capacidade de argumentação dos


intervenientes.

• Muito útil em estudos de impacto.

• A situação de focus group exige menos tempo que a da entrevista individual, logo,
menos dispendioso.

• Limites:

• Uma organização e uma preparação complexas.

• Alguns participantes podem sentir-se constrangidos em dar a sua opinião.

• Falta de participantes que atuem como motor da dinâmica de grupo.

• Possibilidade de as pessoas darem respostas “politicamente corretas”, que vão ao


encontro da maioria.


Observações

• Em suma, como referem Krueger e Casey (2009, p. 15), os focus group são criaturas
especiais no reino dos grupos, sendo que aquilo que os define e os distingue de outros
tipos de grupo é o facto de serem dirigidos à recolha de dados qualitativos junto de
pessoas com algum tipo de semelhança, numa situação de grupo, através de uma
discussão focada.

47
• Os focus group quando combinados com outros métodos, podem ocorrer em
diferentes fases do projecto de investigação, designadamente:

• Fase inicial (ex., gerar questões para um questionário).

• Fase intermédia (ex., ajudar a interpretar os resultados obtidos num questionário).

• Fase final (ex., discutir com os participantes os resultados obtidos, discussão essa
que poderá conduzir a novos insights) (Krueger & Casey, 2009; Stewart et al., 2007).

• Entre o leque de possíveis usos dos focus group, Stewart et al. (2007) referem os
seguintes como sendo os mais comuns:

• Obtenção de informação sobre um tópico de interesse; gerar hipóteses de


investigação.

• Estimular novas ideias e conceitos criativos.

• Diagnosticar os potenciais problemas com um novo programa, produto ou serviço.

• Gerar impressões sobre produtos, programas, serviços, instituições ou outros


objectos de interesse.

• Compreender como os participantes falam acerca de um fenómeno de interesse, o


que facilita o desenvolvimento de inquéritos ou de outros instrumentos de
investigação de pendor mais quantitativo.

• Interpretação de resultados quantitativos obtidos previamente.

• Entre o leque de vantagens sistematizadas por Stewart et al. (2007) do focus group
face a outros métodos de investigação, salientamos o facto de este permitir fornecer
dados de um grupo muito mais rapidamente e frequentemente com menores custos do
que se essa informação tivesse sido obtida a partir de entrevistas individuais e a sua
flexibilidade, podendo ser usados para a análise de um leque alargado de tópicos com
uma variedade de indivíduos (incluindo indivíduos com baixos níveis de escolaridade) e
de contextos.

• A fragilidade do focus group, à semelhança da sua força, está relacionada com o


processo de produção de interacções focadas, levantando questões acerca do papel
do moderador na geração dos dados e do impacto do próprio grupo nos dados
(Morgan, 1996). Por exemplo, em relação ao primeiro aspecto, estilos mais directivos
de moderação poderão influenciar a capacidade do grupo “ganhar” a sua própria
dinâmica enquanto que em relação ao segundo se pode assistir a um efeito de
“polarização” após certa discussão do grupo. Centrada também nos participantes,
outra crítica aponta para estes tenderem a racionaizar as suas respostas, embora tal

48
aspecto se aplique a todos os métodos de investigação que se baseiam em questões e
respostas (Krueger & Casey, 2009).

Fases da realização do focus group

• A discussão do grupo, como sublinham Mitchell e Branigan (2000), constitui a ponta


visível do iceberg, a fase intermédia de um longo processo que se inicia com o
planeamento e finaliza com a análise dos dados e a elaboração de um relatório.
Partindo da literatura consultada, em especial Bloor et al. (2001), Krueger e Casey
(2009) e Morgan (1998), agregámos as várias decisões e tarefas subjacentes à
implementação de um processo de focus group em cinco fases- planeamento,
preparação, moderação, análise dos dados e divulgação dos resultados- as quais,
passamos a apresentar.

• Planeamento

• As questões a que é necessário dar resposta na fase do planeamento tipicamente


relacionam-se com os seguintes aspectos: Quais são os objectivos orientadores da
realização do projecto de investigação em geral e do focus group, em particular? Qual
a estrutura do guião de entrevista? Quem deverão ser os participantes? Qual o
tamanho desejado para os grupos? Quantos grupos?

• O planeamento começa por alicerçar-se nos objectivos do próprio projecto de


investigação. Como sublinham diversos autores (Krueger & Casey, 2009; Morgan,
1996, 1998; Stewart et al., 2007), a definição clara dos objectivos do estudo é um
elemento essencial no planeamento de todo o projecto, dado que muitas das
decisões subsequentes dependerão do(s) objectivo(s) que se pretenda(m) alcançar.

• Um dos aspectos directamente relacionados com os objectivos do estudo prende-se


com o grau de estruturação dos focus group, traduzindo-se este, como refere Morgan
(1998) no guião da entrevista e no papel adoptado pelo modera- dor. De um modo
geral, pode dizer-se que os projectos oscilam entre uma abordagem muito
estruturada até uma abordagem muito pouco ou quase nada estruturada, ainda que,
como sublinha o autor citado, a abordagem mais frequente corresponda a projectos
moderadamente focados. Assim, numa abordagem mais estruturada, o projecto
começa com um conjunto de questões pré-determinadas constituindo o objectivo
central a obtenção de respostas através da discussão ancorada nos temas
previamente definidos no guião. Nesta abordagem, o guião da entrevista encontra-se
bastante “fechado” desde o início do projecto constituindo uma preocupação central
do moderador manter cada grupo na tare- fa de obtenção das respostas para as
questões previamente delineadas. Numa perspectiva oposta à anteriormente descrita,
o projecto inicia-se sem que se saiba exactamente quais são as questões a fazer no
âmbito de um dado tópico. Nesta abordagem, o guião de entrevista privilegia
questões “abertas”, podendo incluir palavras ou temas chave, centrando-se o papel

49
do moderador no suporte ao grupo na exploração do tópico de tal forma que possa
emergir novos insights face ao mesmo (Morgan, 1997, 1998).

• Como referido, os grupos moderadamente estruturados constituem, no entanto, a


abordagem mais comum. Uma estratégia específica para implementar um grau de
estrutura moderado é a estratégia do “funil” (Morgan, 1997), em que à medida que a
discussão avança, as questões tornam-se cada vez mais específicas ou, se
quisermos, mais “afuniladas” sendo que as questões iniciais, ao serem mais
genéricas, como referem Krueger e Casey (2009), ajudam as pessoas a falarem e a
pensarem sobre o tópico. Tal abordagem de compromisso torna assim possível
aceder, por um lado, às perspectivas dos próprios participantes na primeira parte de
cada discussão e, por outro, às respostas a interesses específicos do investigador na
segunda parte.

• Preparação

• Na segunda fase da realização do focus group, a preparação, deverão ser


consideradas pelo menos dois tipos de questões: o recrutamento dos participantes e
as condições logísticas de realização dos grupos como a escolha do local.

• Segundo Morgan (1998), o recrutamento é um processo sistemático, sendo a


abordagem tradicional a seguinte: duas semanas antes da realização do focus group
os participantes deverão ser contactados; passado uma semana, deverão receber
uma carta de confirmação e, no dia anterior à realização do focus group, deverão ser
contactados telefonicamente. No âmbito deste processo também podem ser
equacionadas estratégias para aumentar a adesão dos potenciais participantes como
encontros prévios com o investigador ou equipa de investigação de modo a clarificar
eventuais dúvidas, utilização de incentivos ou envio de lembretes (Bloor et al., 2001;
Rodrigue et al., 2007; Stewart et al., 2007), incluindo mensagens telefónicas de texto
(McParland & Flowers, 2012).

• Independentemente da estratégia adoptada, os participantes deverão ser claramente


informados sobre os objectivos do estudo e as regras de participação, incluindo
tempo estimado de duração de modo a evitar abandonos precoces aquando a
discussão em grupo (Bloor et al., 2001). Uma vez definido na fase do planeamento
quem deverão ser os participantes, as “bolsas” de potenciais participantes elegíveis
podem encontrar-se disponíveis em diversos formatos, como por exemplo, em
listagens (por ex., sócios de uma associação); outras vezes, trata-se de um grupo
social pré-existente (por ex., trabalhadores de um departamento de uma
organização). Quando não existe a possibilidade de identificação prévia, pode ser
necessário recorrer-se a uma abordagem individual ou a um intermediário,
adoptando-se, neste caso, uma estratégia de recrutamento tipo “bola de neve”.
Quando o investigador não é o responsável directo pelo recrutamento é útil o
desenvolvimento de um questionário de “triagem” onde conste os critérios relevantes
50
de recrutamento de modo a haver alguma garantia que os participantes contactados
são apropriados no contexto da discussão de um dado tópico (Bloor et al., 2001).

• Quanto à escolha do local para a realização dos focus group, a recomendação geral é
a de que este seja acessível, assegure conforto aos participantes bem como a
confidencialidade da informação gerada (Bloor et al., 2001; Morgan, 1998, McParland
& Flowers, 2012; Rodrigues et al., 2007; Sagoe, 2012; Stewart et al., 2007). Neste
âmbito, McParland e Flowers (2012) com base na sua experiência de realização de
focus group com doentes crónicos referem a importância de serem assegurados
recursos específicos em certos grupos de participantes (por ex., transporte no caso
de participantes com reduzida mobilidade e/ou com dificuldades económicas).

• Moderação

• A moderação é a fase seguinte do processo, podendo a sua duração ir atas duas


horas e meia (Stewart et al., 2007), embora, em média, se situe nos 90 minutos
(Morgan, 1996). A intervenção do moderador constitui um elemento chave nesta
fase (Kueger & Casey, 2009; Sagoe, 2012; Stweart et al., 2007) e, nesse sentido, as
competências de moderação e de dinâmica de grupo que este possua representam
elementos críticos do ponto de vista do seu sucesso. Como sublinham Krueger e
Casey (2009), a intenção do focus group é a de promover auto-revelação entre os
participantes havendo condições para alcançar tal propósito quando os
participantes se sentem confortáveis, respeitados e livres para darem a sua opinião;
assim, prosseguem os autores, o papel do moderador não é o de emitir
julgamentos, mas o de questionar, ouvir, manter a conversação no trilho e certificar-
se que cada participante tem oportunidade de parti- cipar. Para aumentar a eficácia
deste processo, os autores citados defendem a relevância de uma “equipa de
moderadores”:

• i) um moderador, que teria como principal missão a condução e a manutenção da


discussão e,

• ii) um auxiliar de moderação, cujas principais tarefas seriam a gestão do


equipamento de gravação, estar atento às condições logísticas e do ambiente
físico, dar resposta a interrupções inesperadas e tomar notas sobre a discussão
do grupo.

• Análise dos dados

• Uma vez recolhida a informação, passamos à quarta fase do processo, dedicada à


análise dos dados. Os focus group, quando inseridos em projectos de investigação,
tipicamente são gravados e posteriormente alvo de transcrição, devendo esta ser
uma reprodução o mais fiel possível de modo a que a sua leitura permita “visualizar”
o que ocorreu no grupo e constitua a base da análise de dados; uma das tarefas
mais intensas em termos de tempo deste método de recolha de informação prende-
51
se exactamente com o processo de transcrição, podendo chegar até oito vezes o
tempo de gravação (Bloor et al., 2001; Morgan, 1997; Stewart et al., 2007). A
propósito da relevância da gravação, McParland e Flowers (2012) sugerem mesmo a
utilização de mais do que um gravador, no sentido de assegurar a “captação” de
todas as interações ocorridas ao longo da discussão do grupo. A
complementaridade das transcrições com as notas que tenham sido recolhidas
aquando a moderação dos focus group é uma prática recomendável bem como a
audição das primeiras pelo investigador ou equipa de investigação quando tal tarefa
não foi por si realizada de modo a certificar-se da qualidade das transcrições (Bloor
et al., 2001). Além disso, como sublinham Galego e Gomes (2005), o moderador
possui informações privilegiadas sobre expressões faciais, gestos, tom de voz e os
contextos em que os discursos foram proferidos, o que torna a sua participação
fundamental no processo de descodificação, interpretação e análise de dados.

• Divulgação dos resultados

• A quinta e última fase do processo de implementação do focus group é dedicada à


divulgação dos resultados, geralmente sob a forma de relatório escrito. Entre os
pontos habitualmente contemplados num relatório de investigação (objectivos,
metodologia, etc.), a apresentação dos dados reveste-se de particular dificuldade,
dada a necessidade de tornar inteligível a análise dos dados realizada. A transcrição
de frases ilustrativas das categorias adoptadas ou a apresentação das categorias
com indicação da sua frequência são alguns exemplos encontrados na literatura
(Yin, 2011). Em relação à primeira prática, Morgan (2010) sublinha que o relato de
citações é em si mesmo uma parte importante da investigação qualitativa dado que
fornece evidência para a credibilidade da análise realizada, permitindo uma ligação
directa entre o conteúdo mais abstracto dos resultados e os dados gerados; além
disso, constitui também a conexão mais forte entre o leitor e a voz dos participantes
(Morgan, 2010; Yin, 2011).

• O ciclo do processo fecha-se nalguns casos com a devolução dos resultados aos
próprios participantes. De modo a maximizar a adesão dos participantes à iniciativa
promovida para a divulgação dos resultados (por ex., através de uma sessão de
apresentação) podem também ser utilizadas certas estratégias à semelhança da
fase do recrutamento dos participantes.

• Em suma, a metodologia de focus group está dirigida à recolha de informação,


tipicamente de natureza qualitativa, procurando aumentar a compreensão das
pessoas sobre um dado tópico. Ainda que a fase mais “visível” do processo seja a
moderação dos grupos, este começa bem antes na fase do planeamento e termina
bem depois na fase da divulgação dos resultados.

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Contributos para a evolução do conhecimento científico e para a prática científica

53
54
55
Observação direta

• Recolha de dados em ambiente natural; com o tempo, as pessoas tendem a agir/


comportar-se naturalmente, como se não estivessem a ser observadas. Esta pode ser:

• Participante / Não Participante

• Manifesta /Encoberta

• Vantagem:

• Imersão na realidade em estudo

• Desvantagens são:

• Falta de controlo sobre meio envolvente

• Nem todos os fenómenos políticos são acessíveis à observação.

• Questão de representatividade:

• Exemplo: Fenno estudou 18 membros do Congresso em profundidade.


Representatividade?

• Observação direta intensiva, com técnicas de:

• Observação: utiliza os sentidos na obtenção de determinados aspectos da realidade.


Não consiste apenas em ver e ouvir, mas também em examinar fatos ou fenómenos
que se deseja estudar. Pode ser: Sistemática, As- sistemática; Participante, Não-
participante; Individual, em Equipe; na Vida Real, em Laboratório;

• Entrevista: é uma conversação efetuada face a face, de maneira metódica;


proporciona ao entrevistador, verbalmente, a informação necessária. Tipos:
Padronizada ou Estruturada, Despadronizada ou Não-Estruturada, Painel.

• Observação direta extensiva, apresentando as técnicas seguintes:

• Questionário: constituído por uma série de perguntas que devem ser respondidas por
escrito e sem a presença do pesquisador;

• Formulário: roteiro de perguntas enunciadas pelo entrevistador e preenchidas por ele


com as respostas do pesquisado;

• Medidas de opinião e de atitudes: instrumento de "padronização", por meio do qual


se pode assegurar a equivalência de diferentes opiniões e atitudes, com a finalidade
de compará-las

56
Revisão da Literatura

• Revisão da Literatura: resumo cuidadosamente elaborado a partir dos estudos recentes


desenvolvidos sobre um determinado assunto e que inclui os principais resultados,
métodos e fontes de informação utilizadas.

• Objetivos: a revisão da literatura consiste em determinar: se o assunto já foi tratado


previamente, que conceitos foram utilizados, que metodologias foram adaptadas e que
resultados e conclusões foram alcançados.

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• Estratégias de leitura: Após a recolha da informação, há que estudá-la e transformá-la
em conhecimento próprio. Também, para auxiliar esta tarefa, e considerando que o
volume de informação a ler pode ser enorme, podem adotar-se algumas técnicas. Em
apenas alguns minutos é possível aceder-se ao conteúdo principal de um texto,
adotando as seguintes abordagens:

• Devem definir-se prioridades nas leituras a desenvolver. Os dicionários e


enciclopédias devem ser das primeiras obras a consultar, porque permitem a
compreensão rápida dos conceitos a trabalhar. As obras que abordam o tema de
forma mais direta e os autores de referência devem ser também das primeiras leituras
a realizar. As que menos se relacionam com o tema devem ser relegadas para
segundo plano, podendo ser úteis mais tarde para desenvolver capítulos específicos
ou para complementar ou expandir o conhecimento sobre o tema, relacionando-o
com questões mais abrangentes.

• No caso de artigos, deve ler-se em primeiro lugar o sumário com muita atenção
porque resume todo o artigo. Por vezes, quase que é dispensável ler o artigo todo. Os
primeiros parágrafos da introdução indicam o tema e objetivos do artigo e como tal
também devem ser lidos e assinalados. Os parágrafos da conclusão, em princípio,
apontam os pontos mais importantes e indicam novas áreas de pesquisa. Por fim, ver
os gráficos e as tabelas dos artigos, porque normalmente resumem os principais
dados encontrados. Deve ainda ler-se os subtítulos das várias partes do artigo.

• Tratando-se de livros, a consulta do índice pode explicar, em primeiro lugar, se a obra


tem ou não informação útil para a investigação e os capítulos identificados como
relevantes devem ser assinalados para serem lidos numa fase mais avançada da
pesquisa.

• Quando se pretende um conhecimento mais detalhado há instrumentos que auxiliam


a trabalhar os textos: fichas bibliográficas, fichas de leitura e anotações. Permitem ao
investigador listar obras e fixar conteúdos e notas úteis para o desenvolvimento da
revisão da literatura e análise dos textos. Os textos podem ser revisitados em
diferentes etapas do processo de pesquisa, obedecendo a uma leitura seletiva dos
mesmos. As fichas de leitura permitem uma releitura dos aspetos considerados
relevantes, sem recorrer à leitura dos textos originais. Caso se figure importante reler
o texto original este pode ser lido de forma parcial ou seletiva, lendo apenas as
secções ou partes necessárias. Por exemplo, para apurar detalhes sobre a
metodologia utilizada, o investigador poderá ler especificamente e apenas o capítulo
da metodologia.

• Estratégias de escrita: A escrita é, por norma, uma etapa difícil acarretando inibições
várias que atrasam ou adiam a sua concretização. Esta é talvez a etapa mais
importante de todo o processo. É aqui que verdadeiramente se demonstra o saber
adquirido e se organiza a informação publicada num texto crítico, original e que
acrescente valor. Para iniciar o processo de escrita pode juntar perto de si as
fotocópias já anotadas, as fichas de leitura que elaborou e, uma a uma, ler e escrever,
citando no texto as passagens que lhe interessam. É uma forma de começar a escrever
um texto estruturado sobre determinado assunto.

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• O primeiro esboço deve ser escrito de forma contínua e rápida evitando de forma
consciente interrupções. Na escrita do primeiro draft não é necessário aperfeiçoar o
estilo da escrita e não se julga relevante ter grandes preocupações com a forma e
até com a articulação entre as ideias. Pensar, planear, escrever e rever o texto não
são tarefas autónomas, são tarefas que se entrecruzam contribuindo
cumulativamente para a compreensão do tema. No final da escrita deste primeiro
esboço, o domínio da matéria melhorou substantivamente e o processo de revisão e
reescrita do texto torna-se mais fácil e acurado.

• O processo de revisão ou de reescrita pode ser dividido em três fases. Na primeira


revisão deve-se melhorar a organização e a lógica do texto; na segunda, o estilo de
escrita e a utilização correta das palavras, e, na última fase, o objetivo consiste na
revisão minuciosa das regras gramaticais, pontuação, referências bibliográficas,
entre outros aspetos finais.

• Salienta-se ainda que o desenvolvimento de uma perspetiva crítica sobre o assunto


em investigação advém da leitura, escrita e reescrita das sínteses efetuadas. Ao ler,
sintetizar e comparar informação alcança-se um entendimento mais profundo das
ideias e pensamento dos autores e identificam-se os aspetos consensuais e
divergentes da produção científica realizada.

Tratamento de dados qualitativos: análise sequencial

• Entrevistas (individuais/grupo/histórias de vida): observações / conversas informais


(registadas em diários)


O problema maior do investigador não é o saber como vai recolher os dados, mas sim o
de imaginar o que fazer com os dados que obteve

• Análise: envolve a definição de categorias conceptuais, tipologias, que interpretam os


dados para o leitor e as categorias são conceitos indicados pelos dados — não são os
dados propriamente ditos.

Anotações/Gravação Transcrição Leituras sistematizadas

Sistematização dos dados Redação Material em papel, impresso,


transcrito (caso das entrevistas).

• Conceitos básicos para orientar a organização e exploração dos dados:

• Descrição - O que é que se passa aqui?

• Análise - Como é que as “coisas” funcionam

• Interpretação - O que é que isto significa?

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Análise das respostas às questões abertas

• Construção das sinopses da informação qualitativa: Com base na leitura anterior,


constroem-se as SINOPSES das entrevistas/observações numa grelha vertical cuja
primeira coluna apresenta as grandes temáticas do guião.

• Sinopses: sínteses dos discursos que contêm a mensagem essencial e são fiéis,
inclusive na linguagem, ao que disseram os sujeitos investigados. As sinopses podem
ser completadas por outros esquemas que dão conta de percursos biográficos, dados
de caracterização (=caracterização da amostra).

• Objectivos centrais das sinopses:

• Reduzir o montante de material a trabalhar identificando o corpus central da


informação;

• Permitir o conhecimento da totalidade do discurso, mas também das suas


diversas componentes;

• Facilitar a comparação;

• Ter a percepção do ponto de saturação teórica. A intenção é contar ao leitor o que


nos disseram os sujeitos, mas, em lugar de contar 25 opiniões diferentes,
agregam-se as diferentes lógicas do que nos foi contado. Só depois é possível
proceder a análise interpretativas (análises de ideal-tipo e/ou outro tipo de
arrumação das interpretações sociológicas).

• Análise interpretativa: É permitido ao investigador, nesta passagem para o


nível interpretativo, conceber novos conceitos e avançar com proposições
teóricas potencialmente explicativas do fenómeno que estuda. É uma etapa
arriscada, porque se corre o risco de descolar do material, e exigente na
articulação da teoria e a realidade empírica, sendo importante o pensamento
crítico.

Pesquisa bibliográfica: onde, como e o que procurar

• Revisão da literatura: relevante ao longo de todo o processo de pesquisa, define o


problema de pesquisa, identifica o estado atual dos conhecimentos sobre um dado
tema e permite identificar lacunas. Os objetivos principais são: determinar o que foi
escrito sobre o tema e esclarecer a forma como o problema foi estudado.

• Estratégia de pesquisa documental informatizada: enunciar claramente a questão,


destacar os conceitos, escolher as palavras-chave, aplicar operadores booleanos,
muito úteis em investigação; servem para juntar as palavras-chave com a ajuda das
palavras «e» (and), «ou» (or), «salvo» (not) e proceder à pesquisa.

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Observações finais

• Projecto de Pesquisa (Fase 1):

• Relevância do tema

• Estado da Arte

• Objetivos

• Metodologia

• Plano de trabalho

• Infraestrutura disponível para a realização do projecto

• Fontes de financiamento

Pistas para desenvolvimento do projecto de investigação:

• Desenvolver o vício de registar as ideias que vão surgindo;

• Entender as críticas que lhe possam fazer como uma forma de aprendizagem e não de
pôr em causa todo o trabalho. Um projecto é um processo em construção que pode
melhorar com a sua capacidade para aceitar as críticas e mostrar capacidade para
relacionar as articulações do seu projecto e evidenciar as razões das suas escolhas;

• Trocar ideias com professores, colegas, informantes qualificados, outros profissionais;

• Aprender a olhar para o projecto (assim como para todo o processo de pesquisa)
como um todo integrado: a componente teórica deve refletir a componente empírica e
vice-versa;

• Integrar redes sociais onde seja possível discutir temáticas com relevância para si;

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• Participar em colóquios, seminários, congressos: forma de conhecer e entrar em
contacto com especialistas na área.

• Estado da arte: O Estado da Arte é uma das partes mais importantes de todo trabalho
científico, uma vez que faz referência ao que já se tem descoberto sobre o assunto
pesquisado, evitando que se perca tempo com investigações desnecessárias. Além
disso, auxilia na melhoria e desenvolvimento de novos postulados, conceitos e
paradigmas. Trata-se de uma actividade árdua por ser crítica e reflexiva. Não se pode
copiar no papel informações geradas por outros autores, sem fazer jus aos mesmos
através da referência. Também não se deve iniciar um processo de colocação de dados
sem reflectir sobre eles, sem relacioná-los com a temática desenvolvida, sem interagir
com o autor, apresentando um novo texto, com força argumentativa e conclusões
adquiridas pela reflexão.

• Metodologia: explicação detalhada e exata de toda ação desenvolvida no (caminho) do


trabalho de pesquisa. É a explicação do tipo de pesquisa, dos instrumentos utilizados
(questionário, entrevista etc), do tempo previsto, da equipe de pesquisadores e da
divisão do trabalho, das formas de tabulação e tratamento dos dados, enfim, de tudo
aquilo que se utilizou no trabalho de pesquisa. A metodologia consiste então em:

• Método de Abordagem

• Método de Procedimento

• Técnicas

• Descrição

• Forma de aplicação

• Codificação e tabulação

• Método: programa que antecipadamente regulará uma sequência de operações a


executar, com vista a atingir certo resultado.

• Classificação e divisão da ciência:

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Senso comum e conhecimento científico

• Conhecimento vulgar ou popular, às vezes denominado senso comum, não se distingue


do conhecimento científico nem pela veracidade nem pela natureza do objeto

conhecido: o que os diferencia é a forma, o modo ou o método e os instrumentos do

"conhecer". Saber que determinada planta necessita de uma quantidade "X" de água e

que, se não a receber de forma "natural", deve ser irrigada pode ser um conhecimento

verdadeiro e comprovável, mas, nem por isso, científico. Para que isso ocorra, é

necessário ir mais além: conhecer a natureza dos vegetais, sua composição, seu ciclo

de desenvolvimento e as particularidades que distinguem uma espécie de outra. Dessa

forma, patenteiam-se dois aspectos:

a) A ciência não é o único caminho de acesso ao conhecimento e à verdade.

b) Um mesmo objeto ou fenómeno- uma planta, um mineral, uma comunidade ou


as relações entre chefes e subordinados - pode ser matéria de observação tanto
para o cientista quanto para o homem comum; o que leva um ao conhecimento
científico e outro ao vulgar ou popular é a forma de observação.

Características do senso comum

• Superficial: isto é, conforma-se com a aparência, com aquilo que se pode comprovar
simplesmente estando junto das coisas: expressa-se por frases como "porque o vi",
"porque o senti", "porque o disseram", "porque todo mundo o diz";

• Sensitivo: ou seja, referente a vivências, estados de ânimo e emoções da vida diária;

• Subjetivo: pois é o próprio sujeito que organiza suas experiências e conhecimentos,


tanto os que adquire por vivência própria quanto os "por ouvi dizer";

• Assistemático: pois esta "organização" das experiências não visa a uma


sistematização das ideias, nem na forma de adquiri-las nem na tentativa de validá-las;

• Acrítico: pois, verdadeiros ou não, a pretensão de que esses conhecimentos o sejam


não se manifesta sempre de uma forma crítica.

Outros tipos de conhecimento

• Conhecimento Popular: valorativo, reflexivo, assistemático, verificável, falível, inexaio.

• Conhecimento Científico: real (factual), contingente, sistemático, verificável, falível,


aproximadamente exato.

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• Conhecimento Filosófico: valorativo, racional, sistemático, não-verificável, infalível,
exato.

• Conhecimento religioso (Teológico): valorativo, inspiracional, sistemático, não-


verificável, infalível, exato.

Conceito de ciência

• Entendemos por ciência uma sistematização de conhecimentos, um conjunto de


proposições logicamente correlacionadas sobre o comportamento de certos
fenómenos que se deseja estudar: "A ciência é todo um conjunto de atitudes e
atividades racionais, dirigidas ao sistemático conhecimento com objeto limitado, capaz
de ser submetido à verificação" (1974:8). As ciências possuem:

a) Objetivo ou finalidade: preocupação em distinguir a característica comum ou as


leis gerais que regem determinados eventos.

b) Função/ aperfeiçoamento: através do crescente acervo de conhecimentos, da


relação do homem com o seu mundo.

c) Objeto. Subdividido em:

• Material: aquilo que se pretende estudar, analisar, interpretar ou verificar, de


modo geral

• Formal: o enfoque especial, em face das diversas ciências que possuem o


mesmo objeto material.

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