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Todas frases, textos e artes plagiadas de outras fontes e

reorganizados por conta própria. They don’t call us starving


artists in capitalist countries for nothing. Obrigado por nos
manterem vivos!
Todos os direitos dos animais, da terra e dos
humanos reservados ©
(...)

Era novembro de 88 quando uma greve


geral paralisou os fornos daquela fábrica. 20 anos
após o maio de 68, as pessoas não acreditavam
mais em um levante, ou pelo menos numa
paralização total nos meios de produção. Num
clima pós-ditadura, os trabalhadores da maior
siderúrgica do Brasil criaram a coragem
necessária para, pelo menos, questionar os
valores a que eram submetidos e juravam que
daquela vez, ou uma mudança radical iria
acontecer ou aquela fábrica não iria existir mais...

...3 operários mortos, nenhuma


reivindicação aceita de verdade e o início do
projeto neoliberal começava a ser implantado no
Brasil. Em frente à manifestação, soldados
debochavam dizendo que seus esforços seriam em
vão e sussurravam nos ouvidos dos
trabalhadores: “Você tem que desistir! Você tem
que desistir!”
(...)

Mais de 20 anos depois, os filhos da classe


trabalhadora explorada, renascem como a
resistência radical boêmia atual. Envolvidos por
um clima de amor, raiva e subversão, e em cima
daquelas palavras—Desista! Desista!—uma nova
fonte de esperança, entra tantas outras, brota
contra o projeto que se instalou tão bem por aqui.

(...)

Lembro-me que naquela época, já final dos anos


noventa, nossa visão de mundo começava a
ampliar de forma assustadora, nossas vontades
cada vez mais nos dominavam e ficava
praticamente impossível não nos lançarmos em
busca de nós mesmos.
Com o advento do estrondoso boom da
tecnologia, nossos dias iam se perdendo naquele
emaranhado de bugigangas. E com relação a
nossa alimentação também ia piorando a cada
dia...
fertilizantes e mais um monte de porcarias
toxicas, nocivas ao corpo humano e ao meio
ambiente, sem contar com a matança
generalizada de animais em troca da busca pelo
gosto mais requintado que nossa crueldade
conseguia imaginar. Estava mais do que na hora
de procurarmos outra forma de encontrar nossos
desejos, pois esses meios já estavam dando
trabalho demais, precisávamos encontrar um
novo rumo...

(...)

Infelizmente aqueles trabalhadores não tiveram o


discernimento necessário para perceber o real
significado de seus esforços diários. Mas para nós
a abolição do trabalho foi percebida como um dos
males e ameaça para o bem estar físico e mental
das pessoas. Temos não só suposições, mas fatos
de como isso têm estragado as vidas dos animais
—humanos e não-humanos—e também da Terra.
Apesar de essa percepção ter acontecido há algum
tempo, muito pouco se sabia sobre como
combatê-lo ou até mesmo as possibilidades de
promover o desemprego opcional. Ao decorrer dos
anos, muitos companheiros nos Estados Unidos e
outros lugares como Europa e Austrália com quem
nos correspondiam vinham nos falando sobre
como largaram seus empregos, sobre como
passam suas férias permanentes e como
sobrevivem, porém não sabíamos (e continuamos
sem essa resposta definida ainda) sobre as
possibilidades de se livrar do emprego vivendo
num país como o nosso. E como diria o famoso
squatter Sr. Madruga: “o ruim mesmo é ter que
trabalhar”. Estamos fadados a isso quando
nascemos nessa sociedade. É quase um caminho
sem volta, uma corda bamba que todos têm que
atravessar. Mas o maior dos campos de batalha é
o interno. Aquele que travamos com nossa própria
consciência e nossos desejos. E nosso maior
inimigo é nossa própria visão de mundo e de nós
como pessoas. Mas é o trabalho que nos prejudica
tanto, ou o resultado dele? Ou será a demanda
para o trabalho? Ou será o fato de o trabalho ser
a única forma de obter aquilo que nos foi privado
(comida, terra, abrigo, diversão etc.)? 

São vários os pontos atingidos por essa violência.


Perdemos nossas vidas para o trabalho, e ele
nunca nos devolve--a não ser que você esteja
numa posição privilegiada da pirâmide (mesmo
assim, há controvérsias). As pessoas perdem a
vida devido ao trabalho de outras pessoas--existe
sempre uma mão explorada atrás de cada farda,
de cada motor de carro, de cada chaminé, de cada
forno, de cada trator, laboratório, fazenda, escola,
estádio de futebol, televisão, templo... E claro, a
soma de todos os trabalhos é a perpetuação de
uma sociedade insustentável que destrói, polui e
esgota o mundo do qual precisa para existir. 

Talvez não seja possível se dizer livre do trabalho


em lugar algum. Mesmo sendo esse o nosso
objetivo de vida. Pelo menos o de não trabalhar
para alguém ou para a máquina assassina da
civilização diretamente. Afinal, ainda somos
domesticados e nossas guitarras ainda são
elétricas. Assim como ser vegan, ou roubar em
supermercados, devemos fazer o que está ao
nosso alcance e buscar ampliar esse alcance. É
importante trocar informações, se aliar, montar
coletivos, cooperativas, tentar ganhar a vida de
forma diferente e autônoma, ocupar, roubar,
mentir, fazer nós mesm@s, nos fortalecer como
comunidades e indivíduos. Entender contextos e
subvertê-los quando necessário. Só sabemos o
que conseguimos experimentar e o que ouvimos
de gente que está experimentando também. O
Brasil é vasto e diverso, assim como o mundo
todo. Para não passar nem perto de confundir sua
vida ou sua cidade com o país (como acontece
com a maioria das pessoas do
HC/PUNK/Anarquismo/ Etc.-e-tal por aqui), talvez
nos daremos melhor falando sobre nossas
vivências pessoais.
(...)

Viver da forma autônoma como tanto queremos


vêm sendo um desafio desde aqueles dias em que
nossos pais nos contavam histórias de resistência
a exploração e que nossos olhos inocentes
brilhavam ao pensar num modo de viver mais
divertido e sem preocupações. À medida que nos
interessamos mais por essas questões de ser ver
livre, ao máximo (por mais utópico que às vezes
possa parecer) dessa armadilha em que já
nascemos inserid@s, mais alternativas surgiam.
Uma delas foi a necessidade de ocupar casas,
prédios e terrenos abandonados que antes
ficavam trancados enquanto pessoas tinham que
se sacrificar pra poder pagar um aluguel de uma
pocilga qualquer e muitas vezes prédios inteiros
abandonados com inúmeras pessoas dormindo
nas calçadas do mesmo. A criação e manutenção
desses lugares como espaços libertários também
se fez muito presente já que nosso objeto só será
alcançado quando ninguém mais for escravo de
ninguém. Porém faltou perguntar pra quem é
importante ou necessário ocupar e manter tais
espaços. Pra gente, claro que há uma necessidade
de haver espaços urbanos onde possamos nos
encontrar, tocar, trocar informações, materiais,
olhares e fazer novos laços. Para o "movimento",
para a "revolução", para a molecada, sei lá se tem
alguma importância. É sempre bom manter uma
ponte com o mundo para levar e trazer
informação. Lugares para as coisas acontecerem.
A vantagem de uma ocupação é não ter que se
preocupar com pagar aluguel e isso, acredite,
pode fazer muita diferença. Outra é o fato de
estar ocupando o espaço, uma coisa que deveria
ser direito, mas é um privilégio. Só essa afronta e
o peso dessa ação direta já são muito importantes
e fortificantes. 

Nós mantemos um lugar chamado Espaço


Impróprio, que começou com esses objetivos de
ser uma ligação com o mundo, uma catapulta de
ideias e práticas. Um espaço para sustentar e
disseminar as vontades de um coletivo. Muitos
anos se foram, muita gente passou, muitos
aluguéis pagos, a coisa mudou, desvirtuou, sugou
e quase matou todo mundo. Mas por enquanto
está se mantendo retomando o objetivo principal
de ser um espaço para ideias construtivas que
apoiem a existência de um coletivo. Como
mantemos isso? Boa pergunta... Pelo menos
agora, esse é um assunto delicado pra gente. Tá
tudo meio ruindo por aqui. Não vamos querer nos
alongar muito por aqui. Mas escrevemos uma
letra pra uma música da gente que chama
"espaço impróprio":

houve um tempo em que as peças se encaixavam,

mas eu as assisti despencarem.

sutis e queimando sem chama,

estrangulada pela nossa vontade.

eu fiz as contas o bastante,

para saber dos perigos de uma segunda dedução.

destinados a quebrar a menos que cresçamos

e fortaleçamos nossa comunicação.

silêncio frio tende a atrofiar qualquer senso de


compaixão...

(...)

Outro quesito que vimos importante nessa nossa


jornada foi o fato de como nos organizávamos
melhor quando fazíamos as coisas por nós
mesmos, sem uma ajuda externa, só pessoas com
interesses e objetivos em comum. Desde os
shows no fim de semana até as publicações que
lançamos. O Faça Você Mesmo como "movimento"
com origem no punk e no anarquismo é uma coisa
que talvez possamos chamar de "meio". Mas não
devemos esquecer que muitas pessoas estão e
estiveram envolvidas com práticas análogas a
essas que chamamos de FVM mesmo sem se ver
em um contexto maior. Talvez a diferença seja
que elas não tinham uma perspectiva libertária e
confrontante em relação ao status quo. 

Para nós, FVM, pode ser fazer o que


queremos/precisamos sem ter que esperar uma
mediação de uma instituição autoritária (estado,
mercado, etc.) ou de outras pessoas mesmo. FVM
é ação direta no cotidiano. Interessante também
lembrar que é a condição que o ser humano está
sem a sociedade de massas, sem o estado e sem
a divisão social do trabalho. Ou seja, os seres
humanos não civilizados estão diretamente
lidando com os processos necessários para a
manutenção de suas vidas. Não precisam comprar
nada pronto de ninguém nem obedecer a
imperativos alienantes como leis ou dogmas. 

Tão preocupante quanto a camisa escrito


ANARCHY feita pela C&A é o FVM de fim de
semana. Pois algo que tem um potencial
revolucionário se torna uma válvula de escape pra
você consumir, se extravasar, tirar umas fotos e
voltar segunda feira pra mesma rotina estúpida.
Se houver uma barreira entre a vida cotidiana e a
vida que vivemos nos porões com altos falantes
no máximo, então toda a contra cultura se
transforma em apoio à cultura, canalizando a fúria
guardada de segunda a sexta para um escapismo
inofensivo. Aí não haverá diferença entre o que
fazemos e o que se faz nos estádios e nas sessões
do descarrego. E a tempos não tem feito diferença
nenhuma, de fato, a não ser individualmente mas
mesmo assim num nível tão passivo que entedia
qualquer gueto. Lembram-se dos Dois Minutos de
Ódio? Então, essa barreira está aí, mas aceita
quem quer. Ela não é intransponível e nem existe
quem vai sempre estar dentro e quem vai estar
fora. Nossas vidas são o que fazemos dela.
Podemos aceitar estar presos ou arriscar fugir
mesmo correndo o risco de levar um tiro nas
costas. Se a recompensa é liberdade, vale o risco.
(...)

A liberação animal não-humana também veio


sendo um assunto trabalhado desde aqueles dias
em que nos foi plantada uma semente de
esperança e apesar de não colhermos nenhum
fruto real ainda hoje, vimos essa erva daninha
crescer e assustar os “jardineiros” do Estado. Se
nós discutíamos que a exploração do homem pelo
homem é injustificável, como fica a Terra e os
outros seres que vivem nela? Assim começaram
os debates sobre veganismo, e como muita pouca
coisa mudou—na verdade, houve até uma piora
em relação a exploração animal—também
começamos a discutir sobre o freeganismo. O
veganismo como postura e proposta de ação
direta individual, tem que ser algo básico, adotada
e aceita pela sociedade. Assim como o combate ao
racismo, à homofobia e ao sexismo são hoje
aceitos pelo senso comum e pelo estado. Claro
que há quem viole esses acordos e provavelmente
sempre haverá. Teremos que saber lidar com isso.
Se o veganismo passar por um nicho de mercado
para se tornar popular, isso pode ser válido, pois
é isso o que vivemos. Vivemos numa sociedade de
consumo e ser vegan@ aqui é basicamente decidir
o que você vai ou não consumir. Triste? É, mas é
assim. Cabe a tod@s nós não deixar parar por aí.
Se não houver uma crítica à sociedade capitalista,
industrial e à civilização como um todo, o
veganismo estará fadado a ser apenas mais um
nicho absorvido e não mais uma causa de
libertação que caminha para a libertação total. E
pior, pode se tornar estéril em si mesmo, uma vez
que o impacto da monocultura, da expansão
urbana, da domesticação, do crescimento
populacional e da depredação industrial colocam
em risco e destroem muito mais vidas do que a
canja de galinha do quintal da sua avó. Pode ter
mais sangue no creme dental Contente ou no
sorvete vegan da Soroko do que em muito
produto de origem animal. Já pensou?

Quanto ao freeganismo, não sabemos dizer se é


alguma evolução do veganismo e nem se existe
de fato uma evolução, mas talvez seja um ramo
desse enorme rizoma. O veganismo é apenas a
postura e ela pode estar embasada em muitas
teorias diferentes: em pressupostos religiosos, em
questões apenas ecológicas, em teorias
utilitaristas ou em direitos animais (essas duas
últimas são muito interessantes de serem
debatidas e talvez em outra oportunidade
podemos nos aprofundar). Nós, até então, temos
mais afinidades com as ideias abolicionistas de
direitos animais.

Bom, voltando, o freeganismo pode ser uma das


várias estratégias saudáveis para o processo de
libertação, principalmente nos ambientes urbanos.
É também um eficiente protesto, pois nossa
sociedade desperdiça toneladas de comida e uma
infinidade de materiais que podem ser utilizados
se você não se preocupa em comer um rango
igual ao da Ana Maria Braga ou usar uma mobília
igual à da revista Casa e Jardim. Mas também é
apenas um processo e não um fim, certo?

(...)
Preto mais branco não é sempre cinza, e é nessa
toada que meu ser deve pairar.
Exclamando sobre o tempero contido em teus
lábios não conseguiria só respirar seu cheiro.
Terminaria morto e de pau duro, enquanto você
enfraquece seus prazeres e dá lugar para a
dureza das tropas moribundas da sensatez... eu
covarde, me despeço das suas barganhas sexuais,
de seu amor placebo.

(...)

Bom, depois de tanto discutir e argumentar esses


(e outros tantos) aspectos da nossa caminhada,
não podíamos deixar à parte a liberação sexual,
abolição dos gêneros, subversão do amor, desejo
e moral... Fomos ensinados a institucionalizar
nossos desejos pelo clero no passado e hoje
continuamos a reproduzir isso sem ao menos ter
uma consciência do porque o fazemos. Falando de
corpos e sentimentos: se eu quero, tenho a
opção, mas não posso por algum impedimento
externo ou interno provocado por anos expostos a
família nuclear e sua moral—tem alguma coisa
muito errada nisso.

Gostaríamos de começar a falar de quão triste é o


sentimento de não conhecer a nós mesmos. Esse
é um começo complicado, porque praticamente
tudo vivido em relação aos desejos e sentimentos
é encarado como contrário à cultura, a moral e os
valores que conhecemos.
O excesso de rigor e a hipocrisia tornam a
sociedade doente e despertam os piores
sentimentos nas pessoas. Estamos
constantemente em guerra uns com os outros.
Mas o que nós queríamos mostrar é que ao nos
desenvolver como indivíduos sociais, o poder
social estabelece os limites entre o normal e o
patológico, o racional e o irracional, o sano e o
insano. Esse seria um poder normalizador, que
exclui o que não se enquadra dentro dos
parâmetros formais de normalidade. A
normalidade é uma ferramenta de dominação em
nossa cultura. É importante termos nossa solidão
respeitada, nossa individualidade, todos nós
precisamos disso, uns mais, outros menos. Mas o
que realmente pulsa em nossos corações é uma
cultura que dissimula o medo da solidão. Esse que
por hora nos afasta uns dos outros cada vez mais.

Nossa cultura fundamenta uma servidão do


instinto sexual. Nossas disposições encontram um
caminho impedido. Retraem-se, violentam-se,
erguem-se contra si próprias. Então o amor torna-
se menos instintivo e logo os sentimentos são
regulados e reprimidos. Como consequência,
alguns indivíduos sentem repugnância pelas
formas de sentimento, outras se segmentam
criando guetos e procuram situações de conforto
onde possam se sentir menos ameaçadas, vivendo
de uma forma menos insuportável. A tristeza está
em vivermos sempre forçados a nos relacionar
sobre um domínio que é antes de qualquer coisa,
moral.

As relações humanas devem ser morais por


natureza, sabe? É muito triste ter que politizar
todas as esferas da vida, principalmente o nosso
lado afetivo. Pois um sentimento abstrato não
deveria ser sistematizado e objetificado. É preciso
estar com ele perto e entende-lo, internalizar as
percepções, aceitar seu ambiente emocional e se
puder deixa-lo livre! Sabemos que o sofrimento
existe e já que não conseguimos controla-lo, não
podemos cala-lo com regras morais.

Mas o medo de sofrermos nunca deveria ser maior


do que o desejo de nos sentirmos vivos. Pois o
prazer e a aventura são mil vezes mais fortes do
que a dor e a decepção. E deve ser por isso que a
paixão é tão cega e inconsequente. Mas não
somos apenas vitimas dessa moral. Também
somos os carrascos dela...

Há quem diga que satisfação total ainda é possível


no momento do "amor", mas no instante que se
tenta estender esse prazer a outras esferas da
vida, os desejos se frustram. Cada um de nós vive
acorrentado pela exploração geral. Bem cedo nos
acostumamos às consequências de todos os
nossos atos e de todas as nossas iniciativas.
Sobre o ponto de vista material, não há lugar nem
tempo em nosso cotidiano para sonhos
improdutivos, pois no delírio do dinheiro e do
salário, se aliena uma única ideia, a do
"benefício".

Em um mundo como esse, onde amor e realidade


são de fato contraditórios, se você opta pelo
caminho inverso, fica difícil imaginar qualquer
possibilidade de sobrevivência. Pois tudo o que
você vai querer viver, é o oposto que está sendo
colocado em prática. Impulsos afetivos e escolhas
sexuais são reprimidas por isso.

Se você opta pelo caminho contrário é até mesmo


divertido virar a mesa. Você consegue se quiser
mudar tudo em sua volta. O seu jeito de pensar, o
jeito de ver as coisas. E depois de muito tempo
vivendo, tudo passa a ser natural. Alguns
sentimentos não fazem mais parte de sua vida. É
gostoso saber disso. Dá orgulho sentir esta
indiferença com sentimentos que você repugna,
esses que um dia já fizeram parte da sua vida...
Quando você percebe que você consegue viver
sem estes sentimentos e com todo esse
sentimento de libertação, é impossível querer
voltar atrás. Você consegue uma independência
extrema. Você não cria dependência das pessoas
que ama. Cria laços apertados, ao mesmo tempo
em que os deixa frouxos. Cria conexões. Construir
um ciclo de relações livre de preconceitos imbecis
é tão prazeroso. Conhecer a causa do outro. Fazer
um link com a sua causa. Respeitar e admirar a
importância de cada diferença. A abolição dos
gêneros, por exemplo, é um debate muito fértil na
busca de uma libertação dentro da sociedade.
Acho que o nosso ponto de vista é nítido enquanto
aos pesados papeis e valores que são atribuídos
aos gêneros na sociedade. Porque o que estamos
discutindo não é só a abolição dos gêneros e
limites afetivos, é a possibilidade de abolir a
sociedade...

Mas parece difícil visualizar tudo, não é? Nosso


lado socializado sempre quer entender tudo e
controlar. O que não quer dizer que
necessariamente seja um problema, porque essa
é a época em que vivemos e essa é a nossa
chance para debater uma maneira para
desmantelar tudo isso e tentar viver algo com o
que sobrou do selvagem em nós. Mas não adianta
ficar só falando sobre isso. Porque para entender
o amor-livre, você tem que vivê-lo. Os
ingredientes não vão estar escritos no verso e
você nem irá encontrar a receita no google, nem
em alguma rede de relacionamentos, nem em
alguma conversa com um amigo, nem em um
livro ou numa entrevista. Não existe mapa de
tesouro perdido, porque nós sempre somos um
terreno inexplorado.

(...)

Após estudar e entender melhor o sistema, o que


faz ele continuar rodando e como as engrenagens
continuam a girar nessa máquina, algumas
“técnicas contemporâneas” de subversão se
mostraram efetivas em alguns, por menores que
sejam, aspectos. Ocupar e roubar, como já
citados, são alguns exemplos de estratégias que
podem nos ajudar a retomar nossas vidas, uma
vez que sabota a máquina e nos provém os frutos
que nos roubam quando nos deparamos com a
propriedade privada e a necessidade de trabalhar.
Mas é também preciso cuidado para não se tornar
um fim em si, ou um ideal a ser atingido. Afinal,
as possibilidades e os riscos de se cometer essas
práticas são muito desiguais. É muito mais
arriscado para alguns garotos de classe baixa
desapropriarem algo num shopping center do que
para uma garota branca de classe média, não
acham? E as consequências também são
diferentes. O importante é saber o contexto em
que você está e o que você é capaz de fazer. É
sempre bom ter em mente que uma oportunidade
para roubar uma mercadoria de quem rouba a
vida de milhares de seres, não é uma
oportunidade a se perder...

Mas uma vez que nos vemos como heróis


subversivos, conquistadores da cidade dourada,
nos afogamos na nossa própria urina. Pois ao
aceitarmos o roubo como inerentemente
subversivo, paramos de pensar sobre os produtos
químicos que colocamos em nossos corpos, as
gigantes companhias multinacionais que os
produzem, o modo como eles são produzidos,
nossos desejos e necessidades, como eles foram
alterados e colocados de cabeça para baixo, a
própria natureza do supermercado...

Por mais que queremos uma vida nova, mas ainda


dependemos dos produtos deles, do trabalho
escravo deles, da comida antinatural deles, dos
produtos desnecessários que eles nos empurram
goela abaixo, nos fazendo cada vez mais distantes
de poder controlar nós mesm@s e nossos meios
materiais e intelectuais.
Talvez o maior roubo da história do capitalismo foi
nos convencer de que somos ladrões perdidos à
procura de embalagens de ouro. Porque afinal de
contas para que aprender a nos curar, de formas
saudáveis e naturais, se podemos facilmente
roubar um vidro de aspirina? Para que plantarmos
nossa própria comida se podemos facilmente
roubar uma lata de milho em conserva ou um
patê vegan de azeitona, com glutamato
monossódico? Andando pelos corredores de um
supermercado de plástico, seduzidos por rótulos e
embalagens, aprendemos a roubar produtos que
nunca pensaríamos em comprar ou usar sob
outras circunstancias.

Até mesmo a ideia de que assim causamos


prejuízo para as grandes corporações é
idealisticamente ingênua, já que em um
supermercado os "produtos perdidos" já são
descontados, e o roubo de produtos apenas
contribui para a circulação de bens dentro desta
lógica de mercado que tentamos escapar.

Mesmo que todos os produtos não fossem


vendidos, e sim dados, isto levanta óbvias
questões ignoradas de como estes produtos foram
feitos e qual a procedência dos componentes que
foram usados. Por exemplo: olhe para o
suplemento de vitamina b12 de 15 reais, roubado
da farmácia corporativa mais próxima; o que você
sabe sobre ele?!

Não! Ainda nos falta o controle sobre o que


comemos e ainda somos totalmente dependentes
da natureza dos supermercados para satisfazer
nossos desejos manufaturados - um estilo de vida
totalmente incompatível com a própria vida [ou
sobrevivência], devido a um modo de produção
intensivo e a curto prazo que o planeta é
fisicamente incapaz de suportar. Como “os
ladrões” que somos, precisamos reconhecer que
ainda somos dependentes desse sistema de poder
hierárquico para comermos, bebermos e
dormirmos. Mas também não podemos sacrificar a
busca por uma vida mais substancial em nome do
roubo. Sempre existe um valor de troca, e a gente
acaba pagando por um produto que fomos
forçados a escolher. Já que precisamos de coisas
desse sistema pra sobreviver, é bom que façamos
de tudo para roubar deles antes que eles roubem
da gente – mas é bom ter certeza do que
estaremos roubando, do mesmo modo que é bom
ter certeza do que estaremos comprando. Assim
como é bom ter certeza do que não precisamos
comprar [ou roubar] e do que podemos fazer nós
mesmos. Então, acho que o que realmente
importa é saber quem está ganhando com isso.
Se estamos cegamente inseridos na lógica deles
ou se estamos seguindo a nossa.

(...)

Depois de considerar diversas opiniões, de ter


trocado informações, de ter passado noites em
claro discutindo esses assuntos, muitas coisas
veem a cabeça, mas a principal é se vamos—e se
podemos—alcançar nosso objetivo final. Num
sistema de trocas injustas onde tudo se vende
e/ou se compra, nossas vidas acabam por ter um
valor de mercado atribuído a elas para que
possam vir a ser vendidas, apesar de não
poderem ser compradas... Do mesmo jeito que
não esperamos que ninguém vá fazer algo por
nós, não podemos esperar alguém para nos
libertar. Qualquer coisa que deva ser feito em
relação as nossas vidas, deve ser feito a força se
preciso. Roubar não é o termo apropriado pra
isso, porque não precisamos roubar a nossa vida.
Porque minha vida é minha. Mas eu não peço
permissão a ninguém quando eu quero me
libertar...

(...)

Vocês trancafiaram tudo que eu mais amava, me


impediram de gritar, fizeram minha respiração ser
abafada e meu olhar se perder na imensidão das
coisas.

Detiveram-me na ideia de viver meus desejos


(pois eles eram sujos demais). Enfiaram-me em
um ciclo de onde eu tento todos os dias escapar,
mas fica difícil quando percebo que até o ar que
respiro é condicionado.

Alguém aqui sabe o que isso quer dizer estar


condicionado? Não falo do sentido da palavra,
mas sim em suas consequências. Estar
condicionado é estar sobre judicie o tempo todo, é
saber que tudo que fazemos não está em nossas
mãos, todos os dias quando acordo e lembro que
"preciso" trabalhar, uma parte de mim morre e
sinto como se estivesse no corredor da morte,
chego e olho todos ao meu redor.
Como diabos ninguém percebe o que esta
acontecendo aqui? Eu grito sem parar no meu
subconsciente “ACORDEM DESTE MALDITO
SONO!”, mas isso sempre morre em mim, em
meu medo, sempre ele a me pôr pra baixo,
sempre ele a me segurar nesta cultura e eu a
escória da raça humana, não quero mais ser
segurado, só quero DESPENCAR...

(...)

TODOS TEXTOS E INFORMAÇÕES DESSA


REVISTA SÃO LIVRES PARA REPRODUÇÃO,
CÓPIA, COLAGENS E PLÁGIOS. USE-AS COMO
QUISER. DESMONTE, ADAPTE,
RESSIGNIFIQUE-AS. NÃO SÃO SUAS OU
DELES, SÃO NOSSAS. NÃO SÃO
PROPRIEDADE DE NINGUÉM, MAS
RESULTADO DE UMA SÉRIE DE ACASOS,
JUNTOS NO MOMENTO CERTO.

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