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Principia
Caminhos da Iniciação Científica
Universidade Federal de Juiz de Fora
Pró-reitoria de Pesquisa da UFJF - PROPESQ
Conselho Editorial
Pró-reitora de Pesquisa: Profa. Dra. Marta Tavares d’Agosto
Coordenador de Programas de Pesquisa: Prof. Márcio Tavares Rodrigues
Comissão Editorial
Ciências Exatas e da Terra: Pablo Zimmermann Coura - Universidade Federal de Juiz de Fora
Ciências Biológicas: Cláudio Galuppo Diniz - Universidade Federal de Juiz de Fora
Engenharias e Ciências da Computação: Marcelo Lobosco - Universidade Federal de Juiz de Fora
Ciências da Saúde: Cláudia Helena Cerqueira Mármora - Universidade Federal de Juiz de Fora
Ciências Sociais Aplicadas: Marcos Vinício Chein Feres - Universidade Federal de Juiz de Fora
Ciências Humanas: Ângelo Alves Carrara -Universidade Federal de Juiz de Fora
Lingüística, Letras e Artes: Ana Beatriz Rodrigues Gonçalves - Universidade Federal de Juiz de Fora
Principia
Caminhos da Iniciação Científica
ISSN 1518-2983
Principia Juiz de Fora v.15 1-132 2011
© Editora UFJF, 2011
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Principia - Caminhos da Iniciação Científica/Universidade Federal
de Juiz de Fora, Pró-Reitoria de Pesquisa. - v.1, n. 1 ago. 1994 -
Juiz de Fora: Editora UFJF; 1997 -
Anual
A partir de 2006 v.11 somente online
ISSN
1. Pesquisa - Periódicas
Disponível em www.ufjf.br/principia
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autorização.
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Editorial......................................................................................................................................... 9
A Revista Principia: Caminhos da Iniciação Científica, em seu quarto volume em edição online,
é importante instrumento de divulgação da pesquisa acadêmica realizada com o envolvimento de
discentes na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Seu foco de atuação é centrado na divulgação
de resultados de pesquisas nas diversas áreas do conhecimento vinculadas aos Programas de Iniciação
Científica gerenciados pela PROPESQ.
Anualmente, a UFJF realiza o Seminário de Iniciação Científica quando são feitas apresentações
orais e em painéis dos trabalhos desenvolvidos. Os trabalhos que são premiados durante o Seminário
são publicados na Revista Principia, editada pela Editora da UFJF, que tem o relevante papel de expor
à comunidade científica os avanços da pesquisa no âmbito do ensino de graduação, como produto da
integração do ensino e da pesquisa.
Marta d´Agosto
Pró-Reitora de Pesquisa
Márcio Tavares Rodrigues
Coordenador de Programas e Pesquisa
RESUMO
A asma alérgica é uma doença pulmonar inflamatória crônica decorrente sobretudo de uma res-
posta imunológica alérgeno-específica tipo T helper 2 (Th2). Resultados de estudos em modelos
experimentais têm reforçado a hipótese de que determinadas micobactérias, incluindo o Myco-
bacterium bovis-BCG, são capazes de modular a resposta imune alérgica. No entanto, devido
à complexidade da resposta imunopatológica da asma alérgica, os mecanismos de ação do BCG
são pouco conhecidos. Desta forma, o objetivo deste trabalho foi estudar o efeito da adminis-
tração intranasal de Mycobacterium bovis-BCG sobre a modulação da resposta imunológica
em um modelo murino de alergia pulmonar experimental (APE), induzido por ovalbumina
(OVA). Os resultados obtidos demonstraram que o tratamento com BCG reduziu o infiltrado
inflamatório pulmonar, promovendo uma diminuição significativa no número total de células e
eosinófilos presentes no lavado broncoalveolar (LBA) dos animais sensibilizados/desafiados com
OVA. Estes animais também apresentaram redução nos níveis séricos de IgE específica anti-
-OVA, enquanto os níveis de IFN-g e IL-10 no LBA permaneceram inalterados. Além disto, os
linfócitos provenientes do pulmão dos animais alérgicos tratados com BCG apresentaram menor
expressão de CD28 e CTLA-4, quando comparados aos animais alérgicos não tratados. Estes
dados confirmam a capacidade do Mycobacterium bovis-BCG em reduzir a resposta imune
alérgica previamente estabelecida, sugerindo que um dos mecanismos envolvidos nesta imuno-
modulação esteja relacionado à redução da expressão de moléculas coestimulatórias, em uma via
independente da indução de uma resposta imune de perfil Th1.
Introdução
O estudo foi realizado em camundongos BALB/c fêmeas com 6 a 8 semanas de idade fornecidos
pelo Biotério do Centro de Biologia da Reprodução da Universidade Federal de Juiz de Fora (CBR-
UFJF), mantidos sob condições padrões no laboratório de Imunologia do ICB-UFJF. Todos os
protocolos experimentais foram aprovados pela Comissão de Ética na Experimentação Animal (CEEA)
da UFJF (027/2008). Os animais foram divididos em 4 grupos (n=6 animais/grupo): (i) Controle
(animais não manipulados); (ii) Controle Tratados (submetidos à administração i.n. de BCG); (iii) Asma
(submetidos à indução de Alergia Pulmonar Experimental - APE); (iv) Asma Tratados (submetidos à
indução de APE e à administração i.n. de BCG).
Para indução da APE, os animais foram sensibilizados com injeção i.p. de 10µg de OVA (Grade
V; Sigma-Aldrich Corp, St Louis, MO, USA) adsorvida em 200µL de hidróxido de alumínio (Sigma-
Aldrich Corp, St Louis, MO, USA) nos dias 0 e 14. Os desafios ocorreram nos dias 28, 29, 30, 34, 41 e
63 do experimento, através de nebulização com OVA 1% durante 20 minutos/dia (Inalatec Plus, NSR
Ind. Com. e Repr. Ltda, SP, Brasil). Nos dias 35 e 42 do experimento os animais foram anestesiados
(xilasina/ketamina intraperitoneal) e tratados (i.n.) com uma dose de 1x105 CFU de M. bovis BCG
(Fundação Ataupho de Paiva, Rio de Janeiro, Brasil) diluída em 0.03 mL de tampão fosfato (Fig. 1).
No 63° dia do experimento, 8 horas após o último desafio, os animais receberam dose letal
de xilasina/ketamina (i.p.). O sangue dos camundongos foi coletado através de punção venosa no
plexo retro-orbital e o soro foi obtido após centrifugação, sendo armazenado a -20oC para dosagem
posterior de imunoglobulina. A análise de IgE anti-OVA foi realizada através de ELISA, de acordo com
instruções do fabricante (PharmingenTM, Becton Dickinson, San Diego, CA, USA).
O lavado bronco-alveolar (LBA) foi coletado e o número de células presentes foi determinado
através de contagem em câmara de Neubauer. Para contagem diferencial de células no LBA foi
realizada uma centrifugação em “Cytospin” (Eppendorf 5410, Eppendorf Biochip Systems, Germany)
e coloração com hematoxilina/eosina (Kit Instant Prov - Newprov, PR, Brasil). Foram contadas 200
células por lâmina e os resultados foram expressos como número específico de célula x 106/mL de
LBA.
O LBA restante foi centrifugado e o sobrenadante foi armazenado a -20oC até análises das
citocinas IL-10 e IFN-g através de ELISA, seguindo-se recomendações do fabricante (PharmingenTM,
Becton Dickinson, San Diego, CA, USA).
As células presentes no sedimento do LBA foram submetidas à avaliação da expressão de moléculas
coestimulatórias e imunorregulatórias, através de citometria de fluxo. Seguindo-se recomendações
do fabricante, as células receberam dupla-marcação com os anticorpos anti-CD3/ anti-CD28, anti-
CD3/ anti-CD152, anti-CD3/ anti-CD25, anti-CD11/ anti-CD86 e anti-CD11/ anti-CD80
(PharmingenTM, Becton Dickinson, San Diego, CA, USA). A leitura dos dados foi realizada em
citômetro de fluxo (FACScalibur, Becton Dickinson, San Jose, CA, USA) e os dados foram analisados
através do software CellQuest® (BD CellQuestTM Pro software, Becton Dickinson, San Jose, CA,
USA).
Após a obtenção do LBA, o lobo pulmonar superior direito foi retirado e fixado em formaldeído
tamponado a 10% para avaliação histopatológica. Os cortes histológicos foram corados com
Hematoxilina-Eosina (HE), sendo avaliados os parâmetros: grau de inflamação pulmonar, presença
de hiperplasia de células caliciformes, fibrose e hipertrofia/hiperplasia do músculo liso das vias aéreas.
Os dados numéricos foram analisados pelo teste de normalidade de D’Agostino Pearson.
Posteriormente, foram utilizados os testes t não pareado, para os dados paramétricos, e Mann Whitney,
Resultados e Discussão
Nos últimos anos, o uso de produtos micobacterianos tem se mostrado promissor como
estratégia terapêutica no controle das doenças alérgicas (HOPFENSPIRGER, 2002; EL-ZEIN.
et al; ARNOLDUSSEN et al., 2011). No entanto, apesar das evidências indicando a função
imunomoduladora das micobactérias, os mecanismos envolvidos nesse processo são pouco conhecidos.
Diante desse fato, este trabalho avaliou o efeito da administração intranasal de Mycobacterium bovis-
BCG sobre o desenvolvimento da inflamação alérgica pulmonar, utilizando-se um modelo murino de
alergia pulmonar experimental induzida pela OVA.
A análise histopatológica dos pulmões revelou que os camundongos sensibilizados/desafiados
com OVA apresentaram uma intensa reação inflamatória pulmonar. Embora os pulmões dos animais
alérgicos tratados com o BCG também tenham apresentado infiltrado inflamatório, as imagens
sugerem que o tratamento com o M. bovis-BCG atenuou o desenvolvimento da resposta alérgica
induzida pela OVA (Fig. 2). A partir da análise do número total de células e eosinófilos presentes no
LBA, foi confirmado que o tratamento com a micobactéria inibiu efetivamente o desenvolvimento
da inflamação alérgica pulmonar induzida pelo alérgeno, visto que os animais alérgicos tratados
apresentaram uma redução significativa no número total de células e eosinófilos no LBA (Fig. 3).
Considerando-se que a IgE exerce papel fundamental no estabelecimento da inflamação alérgica
(QIAO et al, 2006), a ação supressora do BCG sobre o processo alérgico pulmonar foi também confirmada
a partir da análise sérica da IgE específica anti-OVA, cujos níveis apresentaram-se significativamente
reduzidos nos animais alérgicos tratados com a micobactéria (Fig. 4). Estes resultados foram também
encontrados por outros pesquisadores (HERZ et al, 1998). Em contrapartida, alguns autores obtiveram
redução do processo inflamatório pulmonar por uma via independente da inibição de produção de IgE
(HOPFENSPIRGER et al, 2002; ZUANY-AMORIN et al, 2002). Desta forma, acreditamos que a
divergência encontrada entre esses resultados seja decorrente dos diferentes protocolos utilizados para
o tratamento com a micobactéria, os quais podem influenciar a produção das citocinas de perfis Th1
e Th2.
Diferentes modelos experimentais comprovaram que a exposição a produtos micobacterianos é
capaz de limitar respostas imunes de perfil Th2 (HOPFENSPIRGER et al, 2001; HOPFENSPIRGER;
ZUANY-AMORIN et al, 2002), sendo que alguns autores atribuem este efeito inibitório à indução
de uma resposta imunológica Th1 (ERB et al, 1998; HERZ et al, 1998; KE et al, 2010). Entretanto,
neste modelo de estudo verificamos que o tratamento com BCG não influenciou a produção e secreção
de IFN-g pelas células do LBA dos animais alérgicos (Fig. 5), sugerindo que o mecanismo de ação da
micobactéria seja independente da indução de Th1. A partir de resultados similares, Zuany-Amorim
e outros (2002) verificaram que o tratamento com M. vaccae inibe o desenvolvimento da resposta
inflamatória alérgica através da indução de células T reguladoras. De forma similar, Li e Shen (2009)
demonstraram que o tratamento com BCG induz a ativação de células T CD4+CD25+ com forte
expressão de Foxp3, as quais suprimem a resposta Th2 exacerbada através das citocinas inibidoras IL-
10 e TGF-β.
Com relação à presença de IL-10 no LBA, embora alguns estudos tenham demonstrado sua
participação no processo inflamatório alérgico (BILENKI et al., 2010), verificamos que o tratamento
Conclusão
Agradecimentos
Anexo de Figuras
Fig. 1. Representação esquemática do tempo de sensibilização/desafio com OVA e imunização com BCG.
Allergic asthma is a chronic inflammatory lung disease resulting mainly from an allergen-specific
immune response T helper type 2 (Th2). Results of experimental studies have strengthened the
hypothesis that certain mycobacteria, including Mycobacterium bovis-BCG are able to modu-
late the allergic immune response. However, due to the complexity of the immunopathologic
response in allergic asthma, mechanisms of action of BCG are still unknown. Thus, this paper
studied the effect of intranasal administration of Mycobacterium bovis-BCG on the modulation
of immune response in a murine model of experimental lung allergy (EPA) induced by ovalbu-
min (OVA). The results showed that treatment with BCG reduced the lung inflammatory in-
filtrate, promoting a significant decrease in total cells and eosinophils in bronchoalveolar lavage
(BAL) of animals sensitized / challenged with OVA. These animals also showed reduced serum
levels of IgE anti-OVA, whereas IFN-g and IL-10 in BAL remained unchanged. Furthermore,
lymphocytes from the lungs of allergic animals treated with BCG had lower expression of CD28
and CTLA-4 when compared to untreated allergic animals. These data confirm the ability of
Mycobacterium bovis-BCG in reducing the allergic immune response established in advance,
suggesting that one of the mechanisms involved in this immunomodulation is related to reduced
expression of co-stimulatory molecules in an independent pathway of a Th1 immune response.
Keywords: allergic asthma, Mycobacterium bovis-BCG, Th1/Th2 profile, regulatory T cells,
immune modulation.
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RESUMO
* Bolsista PROBIC/FAPEMIG/UFJF.
** Doutoranda colaboradora da Universidade Federal de Juiz de Fora.
*** Professores colaboradores da Universidade Federal de Juiz de Fora.
**** Professor orientador do Instituto de Ciências Biológicas - UFJF..
Endereço Profissional do Professor Orientador:
Prof. Cláudio Galuppo Diniz. Laboratório de Fisiologia e Genética Molecular Bacteriana. Instituto de Ciências Biológicas da
Universidade Federal de Juiz de Fora. Campus Universitário, s/n – Bairro São Pedro Telefone: 2102-3213 – Fax: 2102-3213
Email: claudio.diniz@ufjf.edu.br
1.Introdução
As bactérias anaeróbias representam um grupo ecologicamente significativo da microbiota
residente de seres humanos e outros animais. No trato gastrintestinal, estes microrganismos chegam
a atingir, especialmente no cólon, a proporção de mil anaeróbios para cada aeróbio (FINEGOLD,
1995). Entre estes microrganismos, espécies do gênero Bacteroides são importantes constituintes
da microbiota residente, e podem colonizar outros locais do corpo, como a superfície de mucosas
(SALYERS,1984; WEXLER, 2007). Algumas espécies do gênero Bacteroides se comportam como
patógenos oportunistas, tais como a espécie Bacteroides fragilis (SALYERS,1984).
B. fragilis é o anaeróbio mais encontrado em isolados de infecções do trato gastrintestinal
humano, sendo capaz de colonizar outros sítios anatômicos, como a cavidade abdominal, cérebro,
fígado, pulmões ou corrente sanguínea, podendo causar a formação de abscessos (PUMBWE et. al.,
2007). Em contrapartida, o tratamento para as infecções causadas por este patógeno é dificultado
devido a crescente resistência de B. fragilis a uma grande variedade de antimicrobianos (SALYERS,1984;
ULGER et. al., 2004), tais como os β-lactâmicos, clindamicina, metronidazol e cloranfenicol, que
são amplamente utilizados para o tratamento de infecções causadas por microrganismos anaeróbios
(RASMUSSEM et. al.,1997).
Drogas antimicrobianas podem interferir na microbiota residente quando são usadas de forma
inadequada ou quando são incompletamente absorvidas. Estas substâncias podem induzir alterações
na microbiota, selecionando organismos resistentes ou provocando outros tipos de alterações que
podem interferir na relação droga-bactéria-hospedeiro. Bactérias tanto Gram-positivas quanto Gram-
negativas, quando expostas a concentrações subinibitórias de antimicrobianos, podem apresentar
alterações morfológicas, resultando em células mais alongadas e filamentosas. Além disso, outros
aspectos também podem ser observados, como mudanças ultraestruturais e alterações na capacidade
de adesão (SILVESTRO et. al., 2006).
Alterações morfológicas e fisiológicas decorrentes da exposição a baixas ou altas concentrações
de antimicrobianos tem sido observadas e descritas como indicativo de modificação nas propriedades
2. Metodologia
2.1. Amostra bacteriana e obtenção das linhagens em concentrações subinibitórias das
drogas:
Foi utilizada a amostra de referência Bacteroides fragilis ATCC 25285, considerada como amostra
parental (BfPAR), pertencente à coleção do Laboratório de Fisiologia e Genética Molecular Bacteriana
do Departamento de Parasitologia, Microbiologia e Imunologia do Instituto de Ciências Biológicas
da Universidade Federal de Juiz de Fora. A partir da exposição da amostra parental às concentrações
subinibitórias das drogas ampicilina, ampicilina/sulbactam, clindamicina e cloranfenicol, foram
obtidas as seguintes linhagens: BfAMP (linhagem selecionada em concentração subinibitória 2μg/mL),
BfAMS (linhagem selecionada em concentração subinibitória 1μl/mL), BfCLI (linhagem selecionada
em concentração subinibitória 2μl/mL) e BfCLO (linhagem selecionada em concentração subinibitória
1μl/mL), respectivamente.
As linhagens foram cultivadas em meio de cultura Brain Heart Infusion ágar (BHIa) ou caldo
(BHIc) suplementado com L-cisteina, extrato de levedura, hemina e menadiona. Para avaliação da
concentração inibitória mínima (CIM) e a concentração subinibitória mínima (CSI), foi utilizado o
método de diluição em caldo, de acordo com o CLSI (2007).
Após a determinação da CSI, a linhagem BfPAR e as demais BfAMP, BfAMS, BfCLI e BfCLO
foram submetidas a cultivos sucessivos em Caldo Brucela (BRUc), por 10 passagens na presença e na
ausência dos antimicrobianos, em intervalos de 24 horas. A cada novo cultivo, foram feitos esfregaços
para coloração pelo método de Gram e teste respiratório das culturas, para avaliação da pureza das
mesmas. O teste respiratório consistia em cultivo das linhagens em placas de BHIa em condições de
anaerobiose e aerobiose para a detecção de possíveis colônias contaminantes.
Durante todos os experimentos, as linhagens bacterianas foram cultivadas em condições de
anaerobiose mecânica, utilizando o método físico da jarra com atmosfera controlada (N2 90% e CO2
10%), a 37o C , em estufa bacteriológica.
O intestino de cada camundongo foi macerado separadamente com solução de extração (0,4 de
NaCl, 10mM de NaPO4, 0,1 mM PMSF, 0,1 mM de cloreto benzetônio, 10 mM de EDTA, 20 pM
de aprotina, 0,05% de PBS tween 20) até a completa diluição dos tecidos e, em seguida, o macerado
foi centrifugado a 10000 rpm por 15 minutos e os sobrenadantes foram separados para as dosagens de
TNF, IFN-γ, IL-6, IL-10 e IL-17.
A dosagem de citocinas foi realizada pelo método imunoenzimático (ELISA) utilizando-se kits
comerciais específicos para dosagem IL-6, IL-10, TNF-, IFN-γ (BD Opteia TM, San Diego/CA, USA)
A análise estatística dos dados foi baseada nos testes de análise de variância (One-way Anova),
para comparação das médias; no teste do t pareado, para comparação entre médias e no teste de Tukey,
para comparação múltipla, para os quais foram considerados valores significativos quando p<0,05.
Todos os testes foram realizados com o auxílio do software GraphPad Prism 5.
3.Resultados
3.1. Avaliação da morfologia bacteriana
Analisando o baço e o fígado dos camundongos desafiados com as diferentes linhagens bacterianas
selecionadas em CSI dos antimicrobianos, foram observadas alterações em ambos os órgãos em todos
os grupos do 7o dia pós-infecção (pi). Foram observadas lesões moderadas relacionadas a áreas de
hiperplasia folicular linfoide, com centro germinativo, sugestivo de grande atividade imunológica, além
de hipertrofia da polpa vermelha, no baço. Para o fígado, foi observado um quadro de degeneração
hepática, com discreta desestruturação da arquitetura do órgão nos grupos controle e Bf parental,
lesões moderadas no grupo BfCLI, lesões intensas nos grupos BfAMS e BfCLO, e nenhuma alteração
aparente no grupo BfAMP.
No 14º dia pi, não foram observadas alterações significativas em relação ao observado no 7º
dia pi para os dois órgãos na maioria dos grupos, exceto para a linhagem BfCLI, cuja lesão no baço se
mostrou discreta neste momento, e para BfAMP, no qual somente no 14º dia pi foi observada lesão
discreta do fígado, e grupos controle e Bf parental, nos quais não foi observada lesão aparente no
mesmo órgão (Fig.2 e 3).
Figura 3- Representação gráfica da análise de parâmetros histológicos do fígado (A a D) dos camundongos desafiados com as linha-
gens de BfPAR, BfAMP, BfAMS, BfCLI e BfCLO. 0 – lesão ausente, 1 – lesão discreta, 2 - lesão moderada e 3 – lesão intensa.
Foi observada grande variação nos níveis das diversas citocinas quantificadas a partir do
sobrenadante de macerado de intestino dos camundongos desafiados com as diferentes linhagens
bacterianas selecionadas pela exposição a CSI dos antimicrobianos, como pode ser observado na Fig. 4.
4. Discussão e Conclusão
Bactérias do grupo B. fragilis são anaeróbios Gram-negativos que compõem grande parte da
microbiota residente do cólon e algumas vezes do trato genital feminino, sendo também isolada de
infecções intra-abdominais, podendo produzir bacteremias. Nos últimos anos, houve um aumento
nas linhagens de B. fragilis relatadas pela literatura como resistentes a agentes antimicrobianos
frequentemente usados para o tratamento de infecções intra-abdominais, sanguíneas e pélvicas (PAULA
et. al., 2004).
Antimicrobianos podem induzir direta ou indiretamente alterações na síntese proteica, acarretando
elongação de bacilos Gram-negativos, que passam algumas vezes, a assumir morfologia fusiforme.
Além disso, a exposição a concentrações subinibibitórias de antimicrobianos desde β-lactâmicos a
estreptomicina tem sido observada, provocando alterações na morfologia, nos perfis bioquímicos,
na ultraestrutura e nas taxas de multiplicação em várias espécies bacterianas, incluindo alterações no
número e localização dos ribossomos, elongação e alargamento celular, além de modificações no aspecto
da parede celular. Todas estas alterações tem sérias consequências nos padrões de virulência, bem como
na susceptibilidade às defesas imunológicas no hospedeiro (DINIZ et. al., 2000, SILVESTRO et. al.,
2006).
Do exposto, no presente estudo a morfologia e a complexidade celular bacteriana foram
avaliadas, bem como a resposta imunológica do hospedeiro frente a uma infecção causada por B.
fragilis selecionada em concentrações subinibitórias de diferentes antimicrobianos, através da avaliação
histopatológica in vivo do baço e do fígado de camundongos, e da quantificação das citocinas.
Agradecimentos
Ao Laboratório de Fisiologia e Genética Bacteriana da Universidade Federal de Juiz de Fora,
onde o trabalho foi realizado, à Dra. Denise Carmona Cara, do Departamento de Morfologia do
ABSCTRACT
Bacteroides fragilis is an anaerobic Gram negative member of resident gut microbiota. An im-
portant feature of their biology not directly related to the production of infectious diseases, but
related to their persistence, is the increased resistance to antimicrobial drugs. Several evidences
show that antimicrobial may interfere with the expression of microbial virulence determinants.
Our objectives were to investigate the interference of selected antimicrobials on the B. fragilis
pathogenicity in BALB/c mice, after experimental challenge. Thirty animals were intraperitone-
ally infected with B. fragilis ATCC 25285 (parent wildtype) and four derived strains selected by
exposure to subinhibitory concentrations of ampicillin (AMP), ampicillin/sulbactam (AMS),
clindamycin (CLI) and chloramphenicol (CLO). The mice were necropsied, levels of TNF-α,
IL-6 and IFN-γ were determined by ELISA in their small intestines and histology was per-
formed to evaluate the spleen and liver of these animals. The mice challenged with the B. fragilis
AMS strain showed an increased level of TNF-α, IL-6 and IFN-γ when compared to the others
seven days post-infection (pi), as well as animals challenged with AMP strain, considering IL-6.
However, these cytokines levels showed to be decreased, after fourteen days pi. Animals chal-
lenged with CLI and CLO strains did not show any significant levels of cytokine release in the
small intestine. Histological alterations were observed at the spleen and at the liver from animals
challenged with the different bacterial strains. These preliminary data may suggest that, once
these drugs have different interactions with bacterial cell, B. fragilis may display different host-
pathogen interactions in response to the use of antimicrobials. Since these interactions might be
harmful to the hosts, as observed by increasing the release of inflammatory mediators, our results
draw attention to the risk that inappropriate therapy, even with low concentrations of drugs,
may affect the pathogenicity of Bacteroides spp.
Key words: Bacteroides fragilis, morphological changes, subinhibitory concentrations, cytokines.
Referências Bibliográficas
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RESUMO
Neste trabalho, a modelagem numérica de campos eletromagnéticos estáticos é abordada pelo
acoplamento dos métodos dos elementos finitos (MEF) e de contorno (MEC). Duas metodo-
logias iterativas são consideradas para o acoplamento, cujas técnicas permitem que cada subdo-
mínio do modelo seja analisado de forma independente, sendo a interação entre os subdomínios
estabelecida por intermédio de condições de interface. Na 1ª abordagem, condições de contorno
essenciais (Dirichlet) são prescritas nas interfaces dos subdomínios discretizados pelo MEC,
enquanto condições de contorno naturais (Neumann) são prescritas nas interfaces dos subdo-
mínios discretizados pelo MEF. Na 2ª abordagem, estas condições de interface são trocadas. Em
ambos os casos, parâmetros de relaxamento otimizados são empregados, de forma a garantir e/
ou agilizar a convergência do algoritmo iterativo.
Palavras-chave: Método dos Elementos de Contorno, Método dos Elementos Finitos, Acopla-
mento Iterativo, Eletromagnetismo Computacional.
Introdução
Com os avanços tecnológicos da computação, o Método dos Elementos Finitos (MEF) e
o Método dos Elementos de Contorno (MEC) passaram a ser usados para resolução de equações
diferenciais parciais e o acoplamento entre esses dois métodos passou a ser estudado para se desfrutar
das vantagens de cada um. Este acoplamento pode ser feito de diversas maneiras, sendo o método
iterativo abordado neste artigo.
Como características principais do MEF, têm-se: (i) boa eficiência computacional e fácil
implementação para solução de problemas complexos; (ii) flexibilidade na geração da malha; (iii)
cálculos em nível de elementos distribuídos ao longo do domínio; (iv) dificuldade em se modelar meios
* Bolsista PROBIC/FAPEMIG?UFJF.
** Professor Orientador da Faculdade de Engenharia - UFJF.
Endereço Profissional do Professor Orientador:
Faculdade de Engenharia, Universidade Federal de Juiz de Fora, Cidade Universitária, Bairro Martelos, CEP 36036-330, Juiz
de Fora, MG, Brasil. E-mail: delfim.soares@ufjf.edu.br
Metodologia
Equações de Maxwell
Os fenômenos eletromagnéticos são regidos pelas equações de Maxwell:
→ → → → →
onde E , H , D , B , J e r representam a intensidade de campo elétrico, intensidade de campo
magnético, densidade de campo elétrico, densidade de campo magnético, densidade superficial de
corrente elétrica e densidade volumétrica de cargas, respectivamente.
→ → → → →
Entre E , H , D , B , J existem ainda as seguintes relações constitutivas:
Equações governantes
Partindo da equação de Poisson em sua forma genérica, temos:
Nas equações (14) e (15), N representa a matriz de interpolação do modelo, sendo esta composta
pelas funções de interpolação no elemento (assim como no MEC).
Figura 1. Corpo modelado por subdomínios discretizados pelo MEF e pelo MEC.
Primeira metodologia
Nesta primeira abordagem, condições de contorno essenciais ou de Dirichlet são prescritas nas
interfaces dos subdomínios discretizados pelo MEC, enquanto condições de contorno naturais ou de
Neumann são prescritas nas interfaces dos subdomínios discretizados pelo MEF. As etapas do algoritmo
de solução são descritas a seguir.
(i) Estando valores para os potenciais nas interfaces do MEC atribuídos, os sistemas de equações
do MEC são resolvidos, sendo os fluxos q I calculados nas interfaces;
B
(ii) Com os valores de fluxo q I calculados, estes são convertidos para valores de forças nodais f I ,
B B
cujo negativo servirá de condição de contorno para os nós do MEF na interface (eq. 20).
(iii)Os sistemas de equações do MEF são resolvidos, sendo os valores de potenciais uFI obtidos.
Os novos potenciais uBI para os nós de interface dos elementos do MEC são obtidos pela ponderação
descrita abaixo (seguindo a relação (19) e adotando um parâmetro de relaxamento a):
dada tolerância ε.
Segunda metodologia
Nesta segunda abordagem, as condições de interface são trocadas em relação à primeira
metodologia. As etapas do algoritmo de solução são descritas a seguir.
(i) Estando valores para os potenciais nas interfaces do MEF atribuídos, os sistemas de equações
do MEF são resolvidos, sendo os fluxos q I calculados nas interfaces, a partir dos gradientes dos
F
potenciais;
(ii) Com os valores de fluxos qFI calculados, estes são utilizados como condição de contorno qBI
para o MEC (- kB qBI = kF qFI ), sendo as interfaces do MEC discretizadas por nós duplos (devido a
descontinuidades nos valores de gradiente provindos do MEF);
(iii) Os sistemas de equações do MEC são resolvidos, sendo os valores de potenciais uBI obtidos.
Os novos potenciais para os nós de interface dos elementos do MEF são obtidos pela ponderação
descrita abaixo:
(iv) Segue-se para o passo (i) do algoritmo, continuando o processo iterativo. A iteração termina
quando a diferença normalizada dos vetores de potencial uBI, n+1 e uBI, n torna-se menor do que uma
dada tolerância ε.
Ressalta-se que, nas primeira e segunda metodologias, o parâmetro de relaxamento α (0<α≤1)
é computado (ver eq.(22) ou eq.(25)) tendo em consideração a minimização do funcional de erro:
Resultados e Discussão
Duas análises de um modelo simples serão apresentadas a seguir: uma considerando meio
homogêneo e outra considerando meio heterogêneo, de forma a ilustrar a precisão das metodologias
discutidas. O problema em foco é esquematizado pela Figura 2 abaixo:
Figura 3. Meio homogêneo: campo potencial calculado pelo (a) método 1 e (b) método 2 campo gradiente calculado pelo (c) método
1 e (d) método 2 de acoplamento MEF-MEC.
Figura 5. (a) Número de iterações para convergência do resultado para cada valor de α fixado e (b) valor de α calculado a cada passo
iterativo (meio homogêneo).
Figura 6. Meio heterogêneo: campo potencial calculado pelo (a) método 1 e (b) método 2 campo gradiente calculado pelo (c) método
1 e (d) método 2 de acoplamento MEF-MEC.
Analogamente à Figura 5, para o caso homogêneo, a Figura 7 é apresentada a seguir, para o caso
heterogêneo:
Figura 7. (a) Número de iterações para convergência do resultado para cada valor de α fixado e (b) valor de α calculado a cada passo
iterativo (meio heterogêneo).
Mais uma vez observa-se nas Figuras 7(a) e 7(b), como as expressões propostas para o cálculo
otimizado de α introduzem significativa melhora na convergência dos resultados. Para a presente
análise de meio heterogêneo tal aprimoramento é ainda mais acentuado tendo em consideração o
método 1 de acoplamento MEF-MEC, uma vez que, conforme ilustrado na Figura 7(a), para este caso
raramente se obtém convergência para valores fixos de α.
Agradecimentos
Agradecimentos são aqui prestados ao CNPq e à FAPEMIG pelo apoio financeiro conferido à
presente pesquisa.
ABSTRACT
In this work, the numerical modeling of static electromagnetic fields is discussed taking into
account the coupling of finite and boundary element methods (FEM and BEM, respectively).
Two iterative techniques are considered for the coupling, allowing each subdomain of the model
to be analyzed independently, being the interactions of the subdomains established through in-
terface conditions. In the 1st approach, essential (Dirichlet) boundary conditions are prescribed
at the interfaces of the sub-domains discretized by BEM, whereas natural (Neumann) boundary
conditions are prescribed at the interfaces of the sub-domains discretized by FEM. In the 2nd
approach, these interface boundary conditions are switched. In both cases, optimized relaxation
parameters are employed to ensure and/or to speed up the convergence of the iterative algorithm.
Keywords: Boundary Element Method, Finite Element Method, Iterative Coupling, Compu-
tational Electromagnetism.
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RESUMO
Este artigo apresenta uma modelagem para o problema de Unit Commitment térmico incluindo
as restrições de fluxo na rede elétrica e a disponibilidade de gás para a geração termoelétrica. O
modelo proposto é formulado através de um problema de programação não linear onde inicial-
mente um problema de otimização linear é resolvido para determinar o sentido de fluxo de gás
na rede. A formulação proposta para o problema não linear considera as restrições de pressão nos
nós da rede bem como a priorização do gás para a indústria de base. Os resultados obtidos com
a metodologia proposta evidenciam a forte influência dos limites da rede elétrica e da disponibi-
lidade de gás no despacho das unidades termoelétricas.
Palavras-chave: Despacho termoelétrico, Disponibilidade de gás, Limite nas linhas de transmissão
Introdução
Este trabalho tem por objetivo mostrar o planejamento da operação de sistemas elétricos de
potência em estudos de curtíssimo prazo (planejamento horário), incluindo a rede de distribuição de
gás natural no planejamento.
A distribuição do gás é realizada por gasodutos em uma rede interligada de ‘nós’, que podem ser:
as próprias fontes, as usinas termelétricas ou a indústria (onde há uma demanda), entradas e saídas de
reservatórios, ou apenas lugares de passagem de gás, que são interligações entre dois ou mais gasodutos
distintos.
O foco deste problema consiste na modelagem da rede de distribuição de gás naturale como
esta rede de gás se comporta quando acoplada ao sistema de geração e transmissão de energia elétrica.
Para tanto, foi implementado um modelo computacional para encontrar o menor custo global e foram
realizados estudos em um sistema teste.
* Bolsistas PROBIC/FAPEMIG/UFJF
** Professor Orientador da Faculdade de Engenharia - UFJF
Endereço Profissional do Professor Orientador:
Faculdade de Engenharia. Universidade Federal de Juiz de Fora, Cidade Universitária, Bairro Martelos, CEP 36036-330, Juiz
de Fora, MG, Brasil. Email: edimar.oliveira@ufjf.edu.br
A função objetivo deste problema, equação (1), consiste em minimizar o custo total de operação
do sistema. Este custo é formado por quatro termos: (i) o primeiro termo representa o custo de operação
das usinas térmicas; (ii) o segundo termo, o custo da retirada de gás das fontes de gás natural; (iii) o
terceiro termo está relacionado ao custo de retirada de gás dos reservatórios de gás natural; e o último
(iv) é referente ao custo do déficit pelo não atendimento à demanda. Pode-se observar que todos os
a) Dutos passivos
Sinal (g k-m(i)) eepresenta o sentido do fluxo de gás nos gasodutos. Se (g tk-m(i)) > 0, o fluxo vai
t
Para gasodutos com compressores, utiliza-se uma inequação de fluxo para permitir o acréscimo
de pressão no ponto onde é instalado o compressor.
Em trechos com compressores o quadrado do fluxo de gás pode ser maior que o módulo da
diferença dos quadrados das duas pressões multiplicado pelo quadrado da constante correspondente
ao gasoduto. Isso acontece devido ao “boost” de pressão injetada pelos compressores neste tipo de
gasoduto.
Metodologia de Solução
O fluxograma da fig. 1 mostra o algoritmo passo a passo proposto para solução do problema de
despacho com rede de gás. Os passos necessários para obtenção do resultado final são apresentados a
seguir.
Este problema linear simplificado é obtido através do problema completo (1) desprezando-se as
restrições (1.4), (1.5) e (1.6). Este resultado aproximado é necessário para definir o sentido do fluxo
de gás nos dutos, ou seja, a partir desta solução obtém-se a “função sinal” que será usada na etapa não
linear de solução.
A partir dos sinais dos fluxos de gás obtidos no modelo linear, é realizada a simulação considerando
também as equações e inequações não lineares correspondentes ao sistema de fluxo e pressão, restrições
(1.5 e 1.6). Destaca-se que devido às restrições de pressão mínima e máxima nos nós, o resultado
obtido é mais realista que o modelo linear, podendo apresentar déficit de gás devido à falta de pressão.
Este aspecto justifica a utilização de compressores, principalmente em rede longas de abastecimento
de gás.
Nesta etapa as restrições de tempo de parada e de partida das usinas termoelétricas ainda não são
levadas em consideração.
Nesta fase são verificadas e corrigidas as possíveis violações das restrições dos tempos de parada e
partida das termelétricas. A partir do resultado obtido da resolução não linear do problema, identifica-
se uma matriz com elementos binários (0 - usina desligada, 1 - usina ligada) arranjados de forma que
as linhas da matriz representam o horário de operação (normalmente de 0 a 24 horas) e cada coluna da
matriz fica associada a uma unidade geradora.
O algoritmo então “corrige” essa matriz, de modo que todas as restrições de tempo mínimo do
sistema sejam satisfeitas. Com a nova matriz de geração, os limites de geração dos elementos alterados
são remodelados, de modo que todas as usinas obedeçam às restrições na próxima iteração. O problema
é então simulado novamente, desta vez, com o resultado adequado.
Para considerar o custo relativo da utilização de compressores na rede de gás, além de simplificar
o problema, foi sugerida a adição de mais uma variável no sistema, chamada BTR, representativa do
Booster de pressão introduzido pelos compressores. Esta variável é inserida nas equações (1.5) e (1.6),
de forma a tornar as duas restrições como uma única equação, veja a expressão (2):
Para dutos passivos, a variável BTR do duto é sempre igual a 1, o que torna a nova equação a
própria restrição (1.5). Para dutos com compressores, a variável BTR pode ser maior ou igual a 1.
Assim sendo, foi inserido um custo, na função objetivo, associado a esta variável a fim de simular o
custo da utilização do compressor no sistema.Se o resultado da variável for 1, seu custo é nulo, já que
demonstra a não utilização do compressor em tal duto.
A demanda do sistema obedece a uma curva de carga típica, baseada na curva de carga da região
Sudeste do país, fig. 3, em porcentagem de um máximo de 11 MW. Nas tab. I a VI são representados
os dados do sistema.
O resultado da geração, para o caso em que o gasoduto 2 possui compressor (BTR) e para o caso
em que todos os gasodutos são passivos, é apresentado no gráfico da fig. 4.
Conclusão
Este artigo propôs um método de resolução do problema de fluxo de potência de modo a unir
a rede de distribuição de gás natural com a rede de transmissão elétrica. Foram consideradas todas as
equações e inequações não lineares decorrentes dos cálculos do fluxo de gás em gasodutos com ou sem
compressores acoplados. Para inclusão do custo oriundo dos compressores foi adicionada uma nova
variável ao problema. Outro ponto de destaque é a verificação de restrições dos tempos mínimos de
parada e partida de usinas termelétricas. Estas foram analisadas e resolvidas por meio de um método
algoritmo que se aproxima do já conhecido unitcommitment.
Com base nos resultados obtidos, é possível destacar alguns pontos importantes:
- A desconsideração da rede de gás em alguns casos pode levar a resultados equivocados,
principalmente devido aos limites de fluxo de gás, que dependem da pressão nas saídas do gasoduto,
quando este não possui um compressor acoplado.
- A utilização de compressores em gasodutos estratégicos nos sistemas de distribuição de gás
pode ser uma saída econômica e produtiva, principalmente em momentos que seja necessário a partida
de usinas termelétricas mais importantes.
- Reservatórios em locais de fácil distribuição para as usinas da rede podem ser essenciais em
horários de pico e momentos com a demanda acima do normal, de modo a funcionarem como uma
usina hidrelétrica em épocas de seca; no caso, em curtíssimo prazo.
ABSTRACT
This article presents a model for the problem of Unit Commitment including power flow res-
trictions in the electrical network and the availability of natural gas for thermoelectric power
generation. The proposed model is formulated using a nonlinear programming problem where
initially a linear optimization problem is solved to determine the direction of gas flow in the
network. The proposed formulation for the nonlinear problem considers the constraints of pres-
sure in the gas network nodes as well as the prioritization of gas to the base industry. The results
obtained with the proposed methodology show the strong influence of the boundaries of the
electrical grid and the availability of gas in the dispatch of thermal units.
Key words: Thermoelectric dispatch, Gas availability, Transmission line limits
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Science Direct, 2007.
RESUMO
Os escorregamentos são eventos de ordem natural, ou induzida, que fazem parte da dinâmica
externa de modelagem da superfície terrestre. Grandes esforços têm sido feitos para entender e
prever os processos envolvidos na ocorrência desse tipo de fenômeno a fim de orientar um me-
lhor planejamento das cidades e a ocupação humana minimizando assim o risco sob a população
e seus patrimônios. O desenvolvimento de metodologias visando a previsão de movimentos de
massa e seus condicionantes vem sendo destacadas na literatura geomorfológica e geotécnica.
Com esse propósito, o modelo matemático determinístico SHALSTAB foi desenvolvido a fim
de identificar e mapear as áreas em diversos níveis de instabilidade. Esse modelo é baseado na
combinação dos modelos de estabilidade da encosta e no modelo hidrológico, aplicados em am-
biente ArcView. Esta metodologia foi aplicada na Bacia Hidrográfica do Rio Paraibuna MG/RJ
objetivando a identificação de suas áreas susceptíveis a escorregamentos. Foram utilizados dados
de elevação extraídos do SRTM/EMBRAPA e posteriormente criados mapas de área de contri-
buição e declividade. Os resultados obtidos apontaram diversas áreas de alta e altíssima instabi-
lidade em toda área da bacia. Desta forma, foi possível afirmar que essa ferramenta é de grande
importância para o planejamento urbano visando, principalmente, a segurança patrimonial e
humana. É importante ressaltar que este trabalho é parte componente do Projeto Diagnóstico
Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Paraibuna apoiado financeiramente pela PROPESQ/
UFJF e CNPq.
Palavras-Chave: Escorregamentos, SHALSTAB, Rio Paraibuna.
Resultados e Discussão
Os resultados apresentados referem-se ao Zoneamento de Áreas Susceptíveis a Ocorrência de
Escorregamentos na Bacia do Paraibuna MG/RJ (Fig. 1). A escala adotada foi de 1:250000 afim de
englobar a Bacia do Paraibuna em sua totalidade. Foi destacada a classe Altíssima Instabilidade, uma
vez que é nesse tipo de área a maior probabilidade de ocorrência de escorregamentos.
Devido à inexistência de mapeamentos de cicatrizes de escorregamentos na área de estudo
tornou-se necessário analisar as áreas de altíssima instabilidade através das imagens do Google Earth,
na medida em que outras imagens de satélites disponíveis à comunidade acadêmica não possuíam a
mesma capacidade de detalhamento dos terrenos. No entanto, apesar das imagens do Google Earth
não serem indicadas para análises com precisão métrica de terreno, foi possível identificar diversas áreas
com indícios de movimentos de massa pretéritos e que de acordo com o modelo SHALSTAB foram
apontadas como de Altíssima Instabilidade.
A análise do zoneamento da bacia foi feita em 2 etapas: a primeira foi observar a distribuição
das classes de instabilidade nas porções leste, oeste, norte e sul da bacia e a segunda etapa foi observar
através das imagens do Google Earth as características do terreno das áreas apontadas como de Altíssima
Instabilidade no município de Passa Vinte como área piloto.
Fig. 1: Representação do mapa de Susceptibilidade a Escorregamentos na Bacia do Paraibuna com destaque em vermelho as áreas
de altíssima instabilidade.
Fig. 2: Gráfico demonstrativo das Classes de Instabilidade a escorregamentos e suas respectivas áreas (m2).
Na segunda etapa deste estudo foi escolhido o município de Passa Vinte para exemplificar
as áreas classificadas como de Altíssima Instabilidade (Fig.3). De acordo com o Zoneamento de
Susceptibilidade a Escorregamentos, este município apresentou cinco áreas de altíssima instabilidade,
todas com características geomorfológicas semelhantes, como encostas com alta declividade, extensos
paredões rochosos, solos expostos. Na primeira imagem do Google é possível visualizar a presença
de solo exposto e pouca cobertura vegetal, que em conjunto aumenta o risco de queda ou rolamento
de blocos rochosos. Na segunda imagem, é possível visualizar declives acentuados e várias linhas de
drenagem o que pode caracterizar deslizamentos pretéritos.
Conclusão
O uso de Sistemas de Informações Geográficos (SIG’s) e modelos matemáticos desenvolvidos
em bases físicas se mostraram uma ferramenta eficaz para a previsão de áreas susceptíveis a movimentos
de massa, uma vez que as áreas apontadas como de Altíssima Instabilidade apresentaram na realidade
porções do relevo com características de áreas instáveis.
A escolha da escala cartográfica de análise (1:250000) foi essencial para o estudo de toda a
área da Bacia do Paraibuna o que subsidiará futuros estudos de detalhe de cada uma dessas áreas de
Altíssima Instabilidade.
Dessa forma, observou-se que a porção da Bacia do Paraibuna que apresenta a maior área de
Altíssimo Risco é a porção Leste, seguida das porções Oeste, Norte e Sul respectivamente. Em relação
às características geomorfológicas das áreas analisadas foi observado que são constituídas por altas
declividades, solo exposto, vegetação esparsa e afloramentos rochosos. A partir das imagens do Google
Earth, mesmo não sendo indicadas para esse tipo de análise, foi possível observar também áreas de
possíveis escorregamentos pretéritos.
Por fim, conclui-se que este estudo será uma ferramenta importante que subsidiará estudos
de maior detalhe para a Bacia do Paraibuna, uma vez que já foram apontadas as áreas de maior
instabilidade. Assim sugere-se que estudos posteriores sejam feitos utilizando escalas como de 1:50000,
1:25000, 1:10000, pois assim as áreas urbanas poderão ser analisadas detalhadamente subsidiando um
melhor planejamento para o uso e ocupação das encostas.
The landslides can either occur naturally or to be induced. They compose the external dynamic
of the earth’s surface. Great efforts have been done in order to understand and to predict the
processes involved in the occurrence of these phenomena in order to guide a better planning of
cities and the human occupation, minimizing the risk for the population and their patrimony.
The development of methodologies aiming the prediction of mass movements and their relates
has been highlighted in the geomorphologic and geotechnical literature. With this purpose, the
deterministic mathematical model SHALSTAB was developed in order to identify and to map
the areas in different instability levels. This model is based on combination of models applied on
stability of hillsides and in the hydrologic model applied on environment ArcView. This metho-
dology was applied in the hydrographic basin of the River Paraibuna MG/RJ aiming the iden-
tifying of susceptible areas to landslides over all the basin. It was used elevation data obtained
from SRTM/EMBRAPA in order to develop maps of areas of contribution and declivity. The
results show several areas of high and very high instability over in this basin. Thus, it is possible
to affirm that this tool is of great importance for the urban planning, mainly for the human and
patrimonial security. This work is linked to the project Environmental Diagnostic of Hydrogra-
phic Basin of the River Paraibuna supported by PROPESQ/UFJF and CNPq.
Key words: Landslides, SHALSTAB, River Paraibuna.
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RESUMO
Nosso trabalho consistiu em pesquisar sobre a prática da reutilização a partir de estudo do uni-
verso da venda de roupas usadas em estabelecimentos da cidade de Juiz de Fora (MG). O motivo
que nos levou a estudar esse assunto foi o fato de o consumismo, comportamento extremamente
presente no universo capitalista atual, ter-se revelado como orientação insustentável em uma
época em que as práticas racionais de uso do ambiente natural vêm sendo defendidas. Por isso,
a relevância do interesse de se investigar o grau de existência, nas sociedades atuais, da prática
do reaproveitamento, do não desperdício. Assim sendo, além da leitura bibliográfica relacionada
à questão do consumo nas sociedades modernas, dedicamo-nos a realizar entrevistas com pro-
prietários de bazares e brechós da cidade em questão, bem como com consumidores dos artigos
vendidos nesses espaços, visando à investigação de aspectos importantes, tais como: a procedên-
cia das mercadorias vendidas, o perfil do consumidor de tais artigos e a motivação que o leva à
compra de roupas usadas, além da aceitação desses produtos na sociedade e os tabus relacionados
ao uso dessas mercadorias.
Palavras-chave: reutilização; roupas usadas; sociedade de consumo.
Introdução
Em um mundo em que a produção cada vez mais crescente de resíduos torna-se uma das grandes
preocupações dos gestores públicos e que o esgotamento dos recursos naturais é ponto que vem gerando
inúmeras discussões, a perspectiva de reaproveitamento de materiais ganha destaque como alternativa
sustentável ou até como prática indispensável na atual conjuntura histórica.
Metodologia
Resultados
Através das entrevistas realizadas com 25 donos de estabelecimentos de roupas usadas e 19
consumidores, buscou-se identificar como o comércio de roupas usadas em Juiz de Fora é percebido
pelos donos de bazares e brechós e pelos compradores dos produtos citados.
Figura 1
Figura 2
Figura 3
Com relação aos consumidores, pôde-se perceber que vários aspectos os impulsionam a adquirir
roupas usadas, como demonstra a Fig. 4. Dentre os fatores citados, destacaram-se o preço baixo e a
qualidade dos produtos (31,58%). Muitos entrevistados enfatizaram o fato de encontrarem nesses
estabelecimentos produtos de marcas famosas e em estado de boa conservação, além de um preço
muito mais acessível. Para muitos consumidores, os preços praticados nesse tipo de comércio ainda se
tornam mais vantajosos se comparados aos de lojas populares da zona central da cidade - estas vendem
artigos novos, porém de qualidade inferior, embora os preços possam ser equivalentes aos de lojas de
roupas usadas.
Figura 4
Figura 5
Discussão
Uma importante consideração sobre o consumo de roupas é perceber que o ofício que o sustenta
já funcionava antes mesmo das grandes inovações tecnológicas, como atestado por Lívia Barbosa:
No entanto, nos tempos atuais, tal consumo entrou na esteira do que se convencionou chamar
de “consumismo”, ou seja, um consumo exagerado que se baseia em uma insaciabilidade extrema, fruto
de um desejo sempre estimulado. Nesse sentido, a perspectiva da moda para a indumentária nada mais
faz do que corroborar o consumo excessivo de produtos de vestuário:
A moda deve ser considerada, pois, como um sintoma do gosto ideal que flu-
tua no cérebro humano acima de tudo o que a vida natural nele acumula de
grosseiro, terrestre e imundo, como uma deformação sublime da natureza, ou
melhor, como uma tentativa permanente e sucessiva de correção da natureza.
(BAUDELAIRE, 1996: 25)
A pressão que o consumismo vem exercendo sobre os recursos naturais do planeta, no entanto,
vem obrigando o homem a repensar esse comportamento exagerado que o tem tornado refém da
cultura do sempre novo, a qual trata o planeta Terra como fonte inesgotável para os desejos humanos. É
a perspectiva, defendida pelos ambientalistas, de se pensar em diminuir o consumo de novos produtos:
Tal perspectiva vem sendo muito identificada com a reciclagem. No entanto, a reciclagem não
deve ser vista como a única saída para o problema. De fato, reduzir o consumo é uma necessidade dos
tempos atuais, bem como reutilizar os produtos:
Importante, portanto, seria que a prática da recuperação significasse uma mudança profunda no
modo de o homem perceber suas reais necessidades e de compreender sua presença na Terra:
A proposta de se investigar o comércio de roupas usadas na cidade mineira de Juiz de Fora partiu
dessa intrigante perspectiva de mudança de mentalidade por parte do ser humano – o estudo proposto
buscou tentar entender a motivação da presença da prática da reutilização na atualidade, destacando
suas restrições e o que revela sobre o modo de o homem se relacionar com o mundo em que vive.
Conclusão
Concluiu-se, através do estudo proposto, que o comércio de roupas usadas é uma atividade
tradicional na cidade de Juiz de Fora. A pesquisa também apontou que, apesar de a maioria dos
entrevistados perceberem a importância do ato da reutilização para a conservação ambiental, não soube
explicar como se dá essa conexão. Outro aspecto que merece ser ressaltado é em relação à motivação
que leva os consumidores a adquirirem esses produtos: o preço e a qualidade estão entre os fatores
principais que levam a tal prática de reutilização.
Percebe-se assim que a prática da reutilização de roupas na cidade não se dá devido a uma
consciência ambiental, relacionada a uma orientação de não desperdício, mas sim pela questão
econômica (roupas de boa qualidade e preços mais acessíveis do que os das lojas populares).
Referências bibliográficas
BARBOSA, Lívia. Sociedade de consumo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.
EIGENHEER, Emílio Maciel; FERREIRA, João Alberto; ADLER, Roberto Rinder. Reciclagem:
mito e realidade. Rio de Janeiro: In-Fólio, 2005.
LATOUCHE, Serge. Pequeno tratado do decrescimento sereno. São Paulo: Editora WMF Mar-
tins Fontes, 2009.
Resumo
O presente artigo tem como objetivo apresentar resultados da pesquisa intitulada “Expansão da
Autoridade Pública e Cidadania: proposição, implantação e recepção dos projetos de República
no Brasil (1870-1909)”. O enfoque é dado sobre as associações de caráter mutualista, entendidas
como expressão do processo de organização da sociedade civil e contribuidoras para a expansão
da cidadania.
Palavras-chave: Mutualismo; Cidadania; Sociedade Civil; Autoridade Pública; República.
Introdução
O artigo apresentado resulta de pesquisas parciais realizadas no âmbito de um projeto mais geral,
intitulado “Expansão da Autoridade Pública e Cidadania: proposição, implantação e recepção dos
projetos de República no Brasil (1870-1909)”.
As atividades foram desenvolvidas no Laboratório de História Política e Social – LAHPS,
localizado no Departamento de História do Instituto de Ciências Humanas da Universidade Federal
de Juiz de Fora. Os estudos realizados neste equipamento de pesquisa buscam fortalecer o Grupo de
Pesquisa do CNPq identificado como “Cidadania, Trabalho e Exclusão”.
Neste trabalho, em específico, abordaremos as estratégias construídas pelos trabalhadores com o
fim de escapar ou de superar a situação de pobreza e de desamparo social, num contexto de implantação
da República, caracterizado pela ausência de políticas públicas de proteção social, as quais demorariam
para ocorrer.
*
Bolsista de Iniciação Científica FAPEMIG/PROBIC/UFJF.
**
Professora Orientadora do Instituto de Ciências Humanas - UFJF. Email: claudia.viscardi@ufjf.edu.br
Resultados e Discussão
No momento de nossa integração às atividades do Projeto de Pesquisa “Expansão da Autoridade
Pública e Cidadania”, os trabalhos já se encontravam em estágio avançado, sendo que a maior parte da
documentação necessária para o desenvolvimento da pesquisa já se encontrava à disposição. A pesquisa
se dava no âmbito do Laboratório de História Política e Social (LAHPS) e contava ainda com o
trabalho de outros bolsistas do projeto. Sob esta circunstância, fomos alocados nas atividades referentes
ao terceiro eixo do Projeto de Pesquisa em questão.
Retomando as informações, o terceiro eixo de abordagem do Projeto contempla as reações da
sociedade civil em relação ao modelo republicano adotado no Brasil. Neste viés, a abordagem recai
especialmente sobre as associações de caráter mutualista, uma vez que as mesmas representaram uma
das mais importantes possibilidades de organização social, daquele período. Tratava-se de uma forma de
organização autônoma em relação ao Estado e funcionava também como mecanismo de representação
de interesses da época, o que permitia à sociedade civil relacionar-se diretamente com o Estado.
Agradecimentos
Agradecemos ao Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento – CNPq, pelo patrocínio
do Projeto de Pesquisa “Expansão da Autoridade Pública e Cidadania”; à Fundação de Amparo à
Pesquisa de Minas Gerais – FAPEMIG, que também financiou a pesquisa e concedeu bolsas de
Iniciação Científica que possibilitaram nossa participação nas atividades desenvolvidas; a todos os que
prestaram suas contribuições que auxiliaram ou enriqueceram as investigações e à Professora Doutora
Cláudia Maria Ribeiro Viscardi que esteve sempre presente na orientação das atividades da pesquisa.
Referências Bibliográficas
FONSECA, Vitor M. M. da. No Gozo dos Direitos Civis: associativismo no Rio de Janeiro
(1903-1916). Rio de Janeiro: FAPERJ e Muiraquitã, 2008.
LUCA, Tânia Regina de. O Sonho do Futuro Assegurado. São Paulo: Contexto Brasília, 1990.
SILVA JR, Adhemar L. da. As Sociedades de Socorros Mútuos: estratégias privadas e públicas.
Estudo centrado no Rio Grande do Sul – Brasil, 1854-1940. Tese de doutoramento apresentada
ao Programa de Pós-Graduação em História da PUC, Porto Alegre, 2005.
VISCARDI, Cláudia Maria Ribeiro. As Experiências Mutualistas de Minas Gerais: um ensaio inter-
pretativo. In: Nomes e Números: alternativas metodológicas para a história econômica e social.
ALMEIDA, Carla Maria Carvalho & OLIVEIRA, Mônica Ribeiro (Orgs.). Juiz de Fora: EDUFJF,
2006.
Viscardi, Cláudia Maria Ribeiro & GASPARETTO JÚNIOR, Antonio. O Mutualismo em Juiz de
Fora: as experiências da Associação Beneficente dos Irmãos Artistas. In: VISCARDI, Cláudia Maria
Ribeiro & OLIVEIRA, Mônica Ribeiro de. (Org.) À Margem do Caminho Novo. Editora FGV,
2010.
RESUMO
Em Juiz de Fora destaca-se uma série de investimentos públicos e privados em modernização de
infra estrutura viária (aeroportos, criação de eixos de acesso e duplicação de rodovias), criação
de centros empresariais e condomínios industriais, desenvolvimento de projetos urbanísticos,
que culminaram com a valorização de espaços urbanos refletindo no incremento do mercado
fundiário/imobiliário, com a instalação de condomínios fechados e criação de espaços privados
de lazer e cultura, dinamizando a prestação de serviços e comércio. Em decorrência desta valori-
zação observa-se a emergência de novas polaridades urbanas, criando uma nova ordem espacial
em Juiz de Fora, com implicações para região de influência direta da cidade. Observou-se ainda
a estruturação de novos subcentros nas regiões sudoeste e nordeste da cidade. Estes novos inves-
timentos, muitos dos quais previstos no “Plano Estratégico de Desenvolvimento Sustentável”
visam à inclusão da cidade na economia globalizada, através de mecanismo de city marketing.
Obviamente estes investimentos logísticos propiciam a ampliação de fluxos, inserindo Juiz de
Fora quanto ponto nodal na rede de circulação e produção da economia globalizada, amplian-
do a competitividade dos setores econômicos da cidade em escala local, regional e nacional. A
presente pesquisa “O Espaço Urbano de Juiz de Fora e a Dinâmica Regional Contemporânea”
intenta constatar e analisar os fluxos estabelecidos a partir dos novos fixos territoriais e a territo-
rialização das novas dinâmicas espaciais no espaço intraurbano de Juiz de Fora e microrregião.
Palavras Chaves: espaço urbano, dinâmicas espaciais, fixos, fluxos e rede urbana.
Introdução
O “Espaço Urbano de Juiz de Fora e a Dinâmica Regional Contemporânea” (2009) é um projeto
que dá continuidade ao projeto “Novas Geografias no Espaço Urbano-Regional de Juiz de Fora” (2007),
ambos contemplados com recursos da FAPEMIG. O primeiro, direcionado para a análise da expansão
urbana ao longo dos eixos viários nas regiões sudoeste e noroeste (eixos de ligação com a BR-040) permitiu
Metodologia
Na primeira fase do desenvolvimento da pesquisa foi realizada uma revisão bibliográfica sobre
a literatura referente à Geografia Urbana, consistindo no embasamento teórico para reconhecimento
e análise posterior das novas dinâmicas espaciais urbanas e regionais; foi realizada ainda revisão de
literatura sobre a Cartografia para elaboração de mapas temáticos (segundo normas e padrões técnicos
vigentes) sobre os novos fixos presentes na cidade, a nova ordem espacial urbana e as mobilidades
intraurbana e microrregional.
A legislação urbana, projetos urbanísticos e documentos oficiais foram pesquisados em diversos
arquivos históricos e em portal oficial da prefeitura municipal, para o entendimento da evolução
urbana de Juiz de Fora, com ênfase nas regiões onde se observou o surgimento de novas polaridades.
As informações obtidas foram documentadas e catalogadas. Intenta-se a criação de um banco dados
do LATUR (Laboratório de Territorialidades Urbano-regionais/Depto. Geociências - UFJF) acerca da
evolução urbana de Juiz de Fora para subsídios também aos demais projetos do laboratório.
Os trabalhos de campo, ainda em fase de execução, consistiram na identificação das novas formas
de uso e ocupação do solo, especialmente aquelas que configuram as novas geografias locais, a fim de
montar acervo fotográfico que evidencie a evolução das novas áreas de polaridades urbanas. Os trabalhos
de campo são imprescindíveis para a coleta de dados a serem utilizados na elaboração de mapas.
Por fim, intenta-se a constatação da territorialização das novas dinâmicas no espaço urbano de
Juiz de Fora, os fluxos estabelecidos e os principais atores envolvidos.
Resultados e Discussão
O município de Juiz de Fora, com 517.872 habitantes residentes (IBGE, 2010) é centro regional
da Zona da Mata, posição consolidada desde início do século XX, constituindo centro polarizador
Conclusão
As mudanças na paisagem urbana de Juiz de Fora com o estabelecimento de novos fixos estruturam
novos fluxos. Estes se materializam no espaço urbano e regional formatando um novo padrão de
desenvolvimento baseado na refuncionalização da economia urbana de Juiz de Fora e, em especial,
das áreas valorizadas pelo capital imobiliário. Como efeito cascata, isto é sob o ponto de vista do custo
empresarial, estes novos equipamentos significam novos projetos urbanísticos, tais como centros de
eventos e negócios, equipamentos de logística, indústrias, shoppings e condomínios fechados. Numa
possível regionalização interna do espaço urbano são destacados os eixos que demandam a rodovia BR
040, os chamados acesso norte e acesso sul. Ambos vêm se desenvolvendo a partir de novas localizações
de uso e ocupação do solo atrelados aos equipamentos supracitados. Esta dinâmica espelha também
a chegada de empresas nacionais e estrangeiras que revelam a posição estratégica funcional da cidade
Referências Bibliográficas
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Juiz de Fora – Cidades, disponível em http://
www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1, acesso em 20/04/2011.
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cipal de Juiz de Fora, 2001.
MENEZES, Maria Lucia Pires. O Espaço Urbano de Juiz de Fora e a Dinâmica Regional Con-
temporânea. Projeto: FAPEMIG, 2009.
SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo. Razão e Emoção. São Paulo: Hucitec,
1997.
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo apresentar a educação bilíngue em contexto formal de ensino
de línguas de sociedades monolíngues bem como algumas das práticas observadas para o desen-
volvimento dessa abordagem. Apresentaremos aqui um panorama dos aspectos que permeiam o
desenvolvimento dos profissionais e alunos envolvidos nesse processo de aquisição de linguagem.
Também estão presentes neste trabalho características pertinentes ao mundo atual que fizeram
com que a perspectiva da educação bilíngue encerrasse a melhor opção de formação daquele
indivíduo que estará diante de um fenômeno de globalização nunca antes observado. Com base
nos estudos de Krashen (2003; 1982), Garcia (2009), Stryker & Leaver (1997), Mehisto et al
(2008), Mejía (2002), Salgado (2008) e Myers-Scotton (2006), essa pesquisa discute questões
tais como motivação, contexto de ensino, aspectos pedagógicos da abordagem e aquisição de
línguas apresentados através das notas de campo colhidas das observações participantes feitas em
uma instituição de ensino de línguas da cidade de Juiz de Fora/MG. A preocupação dessa insti-
tuição é oferecer aos alunos atividades em língua inglesa que visam a motivar a participação dos
alunos e desenvolver neles autonomia e confiança quanto ao uso da língua. As notas de campo
dos pesquisadores, que posteriormente foram expandidas, apresentam registros de abordagens
por parte dos profissionais especializados, busca por motivação e interação dos estudantes, re-
ações dos alunos face ao novo conhecimento apresentado, a manutenção da perspectiva de re-
criação constante de ambiente bilíngue entre outros aspectos. Esse trabalho também se propõe a
elencar características básicas que permitam a compreensão de conceitos tais como bilinguismo
e bilingualidade.
Palavras-chave: bilinguismo, bilingualidade, educação bilíngue, CLIL, CBI
1
Fazemos a opção pelo termo bilinguismo para nos referir a duas ou mais línguas para evitarmos controvérsias acerca de termos
tais como trilinguismo, plurilinguismo, polilinguismo, multilinguismo.
Caminhos metodológicos
Esta pesquisa desenvolveu-se, teórica e empiricamente, nos âmbitos da Universidade Federal de
Juiz de Fora e de uma escola de idiomas que atende crianças de três a quatorze anos na cidade de Juiz de
Fora/MG. Nessa instituição de ensino – campo de nossa investigação de cunho etnográfico –, bolsistas
do projeto de pesquisa acompanharam aulas desenvolvidas com base na proposta da observação
participante no momento em que produziam suas notas de campo. Tais notas eram posteriormente
expandidas (NE = notas expandidas), debatidas e contrastadas com aportes teóricos dos quais nos
servimos.
Assim, em nossos encontros semanais, o grupo avaliava os diferentes aspectos do ensino de
língua, no caso específico o inglês, na referida escola. Questões tais como motivação, contexto de
ensino, abordagens pedagógicas do ensino e aquisição de línguas foram subsidiados pelas leituras de
Krashen (1982; 2003), García (2009) e Houwer (2009). As concepções metodológicas de ensino de
línguas nos levaram a estudar as propostas da educação bilíngue (GARCIA, 2009), da instrução baseada
em conteúdo - Content-Based Instruction (STRYKER & LEAVER, 1997) e do CLIL – Content and
Language Integrated Learning (MEHISTO et al., 2008). Os aspectos sociais que envolvem o bilinguismo
também foram avaliados por nós com base na perspectiva de Mejía (2002) e Myers-Scotton (2006).
Acompanhamos as aulas de inglês na escola de idiomas que nos serve de lócus de pesquisa.
Percebemos nessa instituição de ensino uma proposta de metodologia inovadora em relação a outras
escolas e centros de ensino de idiomas, justamente por se apoiar nos fundamentos da educação bilíngue.
Constatamos que a produção em língua inglesa dos alunos, tanto oral quanto escrita, apresenta franco
desenvolvimento. Esses estudantes vão, a cada dia, tornando-se mais e mais livres para transitarem por
um ou outro código linguístico (português ou inglês), com perceptível autonomia e segurança.
Nessa escola, as aulas são baseadas nas abordagens CBI e CLIL e os professores são preparados
para, junto com alunos e funcionários, construírem um ambiente de motivação e desenvolvimento
para os alunos. As turmas são compostas por até 12 estudantes de faixas etárias homogêneas e com base
no ano em que esse aluno se encontra na escola regular de educação básica.
Destacamos, brevemente, alguns momentos de interação das aulas que observamos, como, por
exemplo, quando o professor ensina o uso do tempo passado em inglês (simple past).
Após uma cooking class, o professor relembra os ingredientes que foram usados
no preparo do sanduíche.
Students: “Carrots, tuna fish, mayo, ricotta cheese, bread”
Teacher: “And then we mix the ingredients, right?”
Students: “Right teacher.”
Em seguida, o professor relembra a mistura que fizeram com os ingredientes e,
como a resposta foi dada no presente, pergunta onde estão os materiais para que
possam misturá-los novamente. Neste momento, uma das alunas diz que o fato
ocorreu na aula anterior e que os ingredientes não estão mais ali, portanto, não
poderiam fazer a mistura novamente.
Teacher: “So, let’s mix the ingredients. Where are they?”
Lara: “Teacher, não tem ingredients. Foi yesterday.”
Teacher: “But you said we are going to mix the ingredients...”
Lara: “No, teacher. We mix the ingredients yesterday.”
A partir do reconhecimento da situação feito pelos alunos, o professor aproveita
para explicar que é preciso dizer isto de forma diferente para marcar o que já
foi feito.
Teacher: “So, we must say it in a different way. We mixed the ingredients.”
Students: “Mixed the ingredients.” (NE 002)
Outra aula observada, dessa vez com um assunto ligado à área de Ciências cujo tema era ossos
e músculos, sugere que o professor, além de elaborar as aulas, deve se preparar para elas e ser bastante
versátil.
A motivação é parte imprescindível quando se trata de ensino de língua. Deixar com que os
alunos percam o interesse pelas aulas é fator de preocupação. A seguir apresentaremos uma atividade
que, de maneira simples, fez com que, através da criação de um ambiente agradável, os estudantes
ficassem mais motivados para assistirem as aulas que seriam dadas posteriormente.
Da mesma forma, atividades feitas fora do ambiente da sala de aula também são muito bem
recebidas pelos alunos e geram bons resultados. Fazer com que os alunos se sintam parte do processo de
ensino é parte importante do processo de motivação. Ensejar neles a liberdade de ousar na outra língua
e criar oportunidades para que os alunos a utilizem é fundamental. No trecho abaixo – NE 007 – o
professor ensinava medidas lineares:
Em seguida, propõe que os alunos saiam pela escola fazendo diversas medições.
(...)
O professor distribuiu uma folha de papel em branco e disse que as crianças
deveriam copiar as perguntas que ele iria escrever no quadro.
1) How long is our lunch room table?
2) How long is the seat in our school front desk?
3) How long is our school front desk?
4) How long is the car in front of our school?
5) How long is our school’s gate?
(…)
O professor busca pranchetas para todos os alunos apoiarem suas folhas e po-
derem sair da sala para fazerem as medições. Ao chegar à recepção, o professor,
com a ajuda dos alunos, tira as medidas dos objetos mencionados para que todos
possam fazer suas anotações. Ao longo da atividade, todos querem participar.
(...)
ABSTRACT
This article aims at presenting bilingual education in a formal context of language teaching in
monolingual societies as well as discussing some practices which were observed for the development
of this approach. We present here an overview of the aspects which undergo the development of the
professionals and students involved in the process of language acquisition. We also discuss the cha-
racteristics of present world that suggest that the bilingual education could be the best perspective
for the formation of those individuals who face a unique globalizing phenomenon. Our research was
anchored by the studies of Krashen (2003; 1982), Garcia (2009), Stryker & Leaver (1997), Mehisto et
Referências bibliográficas
BAKER, C. Foundations of Bilingual Education and bilingualism. UK: Multilingual Matters,
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GARCÍA, O. Bilingual education in the 21st century: a global perspective. Oxford: Wiley-Bla-
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GROSJEAN, F. Life with two languages. Cambridge: Cambridge University Press, 1982.
HAMERS.J.F. & BLANC, M.H.A. Bilinguality and Bilingualism. Cambridge: Cambridge Uni-
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KRASHEN, S.D. Y T. D. TERRELL. The Natural Approach. Language Acquisition in the Clas-
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MEHISTO, P.; MARSH, D. & FRIGOLS, M.J. Uncovering CLIL: Content and Language In-
tegrated Learning in Bilingual and Multilingual Education. Oxford: MacMillan Books, 2008.
RESUMO
Em A idade do serrote (1968), o poeta Murilo Mendes acopla poesia e prosa para engendrar um
texto fragmentário, labiríntico e multiforme, no qual desvela-se a analogia entre o funcionamento
do aparelho mnemônico e a máquina hipertextual. Enquanto rizoma textual, a escrita da
memória se caracteriza pelos links e enlaces que realizam o trânsito entre espaços, tempos e
personae virtuais.
Palavras-chave: Memória; Hipertexto; Rizoma; Murilo Mendes; A idade do serrote
Em torno do hipertexto
Oriunda do verbo latino těxō, -is, -ěre, texŭī, textum, com o sentido de coisa a ser tecida, entrelaçada
ou tramada, a palavra “texto” comporta o que podemos chamar de tessitura, arranjo e rearranjo, um
verdadeiro entrecruzamento de significantes, significados e referências. Conceitualmente, o vocábulo
“hipertexto” contém a definição apresentada anteriormente e trata-se de uma transformação há
muito antevista e desejada. Em O virtual e o hipertextual (1999), André Parente esclarece que coube
ao filósofo e sociólogo norte-americano, Theodore Nelson, pioneiro da Tecnologia da Informação,
primeiro recriar a própria Biblioteca de Alexandria, denominando-a Projeto Xanadu (1960) – uma
rede de computadores de interface simples –, para depois cunhar os termos “hipertexto” (hypertext)
e hipermídia (hypermedia), conforme constam no livro publicado em 19651. O hipertexto, ainda
segundo Parente, será definido por Nelson como “um texto de dimensões cósmicas, informatizado,
contendo todos os livros, incluindo imagens e sons, acessível à distância e navegável de forma não-
linear” (PARENTE, 1999, p. 73).
Desta forma, observa-se a conectividade do todo e das partes da obra, que tem como subtítulo
“Memórias”. Tal palavra plural anuncia uma escrita constituída por experiências diversas e distintas
no tempo e no espaço, figurando o princípio da heterogeneidade rizomática. São necessárias três
vivências para compor a lembrança: um hospital na juventude do narrador e a Catedral de Chartres
vista na idade adulta se misturam, recebendo ainda a interferência do homem maduro que escreve tal
relato.
No que concerne ao princípio da multiplicidade do rizoma textual muriliano, cite-se como
exemplo a referência às “notícias de Eros” que o narrador “captava com o ar mais sonso do mundo”
(Ibidem). A narrativa da iniciação sexual demonstra que, quando as grandezas mudam de tamanho,
mudam também de natureza e, por consequência, multiplicam-se os pontos de conexão. No primeiro
ponto, a investida de Dona Coló causa repulsa ao menino de dez anos: “Repeli-a com a maior violência.
Não por virtude, mas por nojo.” (Ibidem, 37). A “amizade amorosa” de Cláudia inaugura um segundo
ponto de conexão, a partir do qual o narrador deriva para todos os amores futuros, configurando-a
como “uma colagem de tipos de mulher que me (lhe) atraíam e me (lhe) atrairiam depois” (Ibidem, 66).
De modo diverso, embora próximo, Cláudia encerra uma outra sexualidade, vinculada a afinidades –
literatura, música, questionamentos. Mais adiante no livro – mas não no rizoma, uma vez que neste o
tempo não se configura linearmente –, outra mulher, Teresa, desperta “inclinação erótica” no menino-
adolescente. Juntos descobrem carícias e o jogo do amor: “Mas não é o amor uma representação
teatral?” (Ibidem, p.147).
Ainda com as “notícias de Eros”, temos a possibilidade de interromper e retomar a navegação
pelo rizoma sem qualquer prejuízo. Elucidando o princípio da ruptura, a figura de Asta Nielsen
compõe lembranças que principiam em Juiz de Fora, cidade de origem do narrador, e o acompanham
em suas investidas na descoberta de signos cinematográficos. A atriz representa algo fora do comum:
“O avanço de Asta Nielsen na tela equivalia a um tiro de revólver numa situação acadêmica, na vida
corrente, prevista” (Ibidem, p. 106).
Para exemplificar o quinto princípio de funcionamento do rizoma – a cartografia –, pode-
se recorrer a algumas das diversas descrições da cidade de Juiz de Fora feitas pelo narrador. Desde
Conclusão
Os seis princípios de funcionamento de um rizoma definidos por Deleuze e Guatarri podem ser
detectados em um único fragmento, tal como naquele que o poeta intitula “A lagartixa” (Ibidem, p.
109-111). A partir de observações acerca do “pequeno sáurio” num jardim romano, engendra-se um
pensar que se mostra a mercê do devir. “Falando lagartixa” fala “infância” e também “adolescência,
mocidade, madureza e próxima velhice” que, por sua vez, fala “figura feminina”. Este tom próximo ao
relato oral permite acompanhar tanto o vaguear mnemônico quanto as conexões feitas pelo narrador.
A repetição do vocábulo lagartixa por diversas vezes (decalcomania) implica, a cada aparição, uma
outra forma de acesso às memórias do narrador (cartografia). O desvelar de formas, a passagem do
tempo, a diversidade comportamental entre seres aparentemente semelhantes relacionam a pequena
lagartixa com algo diferente, tornando-a múltipla (princípio da multiplicidade). A fim de compor a
heterogeneidade desta única lembrança, é preciso lançar mão de lagartixa, carnaval, jardim, Dolores. A
ruptura do rizoma textual pode ser mais uma vez exemplificada com as “notícias de Eros”. A inevitável
presença feminina é invocada até mesmo na semelhança entre os pequenos animais e os traços comuns
às “meninas chinesas”, à figura feminina capaz de fazer durar o mundo, à “namorada”, “ex-linda amiga”,
“menina-moça” Dolores. Porque, na textualização da memória, vigoram a dor e a saudade, fêmeas e
verticais, mesmo quando a palavra enseja recuperar o tempo, as coisas e as pessoas perdidas.
Referências bibliográficas
BERGSON, Henri. A evolução criadora. Trad. Bento Prado Neto. São Paulo :Martins Fontes,
2005.
DRAAISMA, Douwe. Metáforas da memória: uma história das ideias sobre a mente. Trad. Jussara
Simões. São Paulo: Edusc, 2005.
DELEUZE, Gilles; Guattari, Fellix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia, vol. 1. Trad. Aurélio
Guerra Neto e Célia Pinto Costa. São Paulo: Editora 34, 1995.
RESUMO
Este artigo pretende analisar as relações entre realidade biográfica e ficção na construção da obra
Murilo Mendes.
Palavras chave: Murilo Mendes, Memória, Nijinski, I Ching.
Introdução
Reconhecida por manter o espírito original prontamente moderno e por revelar um extremismo
poético do surreal, a obra do juiz-forano Murilo Mendes se apresenta como uma “biografia sonhada”
que faz confundir de forma singular o “real biográfico” e o “real ficcional”. A obra muriliana nasce
com seu autor na modernidade e permanece nela. A partir das considerações, a hipótese da presente
pesquisa traz a leitura de que a obra de Murilo Mendes se constrói na medida em que se constrói o
personagem Murilo Mendes a partir da infância.
A “escrita do eu” em Murilo Mendes favorece o diálogo entre o sonho e a realidade, pois se
determina pelo distanciamento no tempo e no espaço entre o Murilo autor e o Murilo personagem.
O sentimento da escrita madura sobre as memórias da infância presente em Idade do Serrote perpassa
também Retratos-Relâmpago, pois a composição de ambos os livros se deu em Roma simultaneamente
(entre 1965/66, a 2ª série de RR entre 1973/75). A nostalgia de um “exilado” faz com que ficção e sonho
caracterizem a memória da sua infância. A premissa deste trabalho é que a formação do menino a partir
da memória do adulto, que se descreve, é o caminho de formação do próprio poeta, e, assim, da obra
que ele compõe. É possível ler que a obra e o “menino Murilo” descrito, que é um forte personagem,
se “formam” na mesma medida. A partir das considerações, é interessante um aprofundamento sobre
* Bolsista PIBIC/CNPq/UFJF.
** Professora Orientadora da Faculdade de Letras - UFJF.
Endereço Profissional da Professora Orientadora:
Depto. de Letras, Faculdade de Letras da Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF. Email: scherpereira@acessa.com
Metodologia
Discussão/Resultados
As discussões principais analisaram as relações real-biográfico e real-ficcional, o desdobramento
do conceito de “memória” no surrealismo e suas aproximações com o lugar do sonho, o masculino e o
feminino na infância e o lugar da autoria na crítica contemporânea.
I.
A VOLTA DO FILHO PRÓDIGO
Ofício no altar terrestre,
Roseiras dando-se as mãos,
Iluminações na usina.
O filho pródigo
Despenteou as nuvens,
Levanta a saia das árvores,
Abraça o amigo e o inimigo.
Navios batendo palmas
O esperam na enseada.
Ordenam a sinfonia:
Nijinski dançando no arco-íris
Reconcilia o céu e a terra.1
II.
Cito Vaslav Nijinski no “Espectro da Rosa”: através de uma janela voa no espaço, mal toca o pavimento; traz
consigo o apetite da terra e o disfarce do céu. Estamos no Rio de Janeiro dançante, ainda com o infinito da
baía, sem arranha-céus ou pistas de automóveis. Tenho 16 anos, logo rejeito a dimensão comum do mundo.
1
MENDES, Murilo. Poesia Completa e Prosa. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 2006. p. 324.
Nijinski atrai a força do universo. Escreve um livro onde por meio de sinais inventados registra os passos
da dança. Penetra agora a zona da perturbação da própria personalidade oficial; ajudado pelas sandálias da
noite voa-se, talvez construa no escuro uma barca lunar, dialogue com o sacerdote esotérico ou a sibila que
presidiram ao rito da primeira dança em tempos antiqüíssimos da formação do cosmo.
Conduzem-no (“ressuscitará?”) a um espetáculo de ballets russos. Distingue um homem forte de bigodes, que
traja smoking e domina a atmosfera. Pergunta: “Quem é este?” “Diaghilev”. “E quem é Diaghilev?”
Figuras do mesmo conflito, eclipsam-se luz e sombra. Em que território sem galáxia ou escadas volantes
penetrou Nijinski? Desfeito o apetite da terra, suspenso o disfarce do céu, dissolvidas a palavra “outrora” que
nos alimenta, e as torres de Kiev, Nijinski sonhará que é dançado pela dança?2
A leitura de (I) nos dá uma sofisticada aproximação entre as imagens do filho pródigo da
tradição cristã e do polêmico bailarino. O bailarino aparece, numa primeira leitura, entre o celestial e
o mundano. A relação Murilo-Nijinski se tornou mais simbólica com a inserção da tradição oriental
para a leitura dos significantes “céu” e “terra”. No I CHING, as imagens se referem ao masculino
e ao feminino respectivamente. De um lado, o trigrama Chi’en, formado por três linhas não
interrompidas, representa o céu e está associado ao pai e à criatividade. Do outro, K’un, , formado
por três linhas interrompidas, representa a terra e se associa à imagem da mãe e da receptividade. Neste
sentido, “Nijinski dançando no arco-íris” não está simbolicamente situado apenas entre o terreno e o
celestial, mas também entre o masculino e o feminino.
Símbolo de transgressão do menino Murilo Mendes frente à família, Nijinski é uma figura de
profundo interesse, porque toca de forma muito particular a questão de gênero, que é um ponto chave
de leitura dos fragmentos (I) e (II), selecionados. Trata-se de uma leitura em que, ao buscar análise da
obra a partir da infância, surge do texto a necessidade de se tratar a relação familiar, e assim, o lugar do
sujeito entre o masculino e o feminino.
O caráter de transgressão se acentua na aproximação do “personagem” Nijinski à parábola cristã
do filho pródigo, em (I), poema do livro As Metamorfoses. O paralelo que se estabelece é muito
interessante na medida em que nos traz outra característica da obra de Murilo Mendes que é a
religiosidade, quase sempre mediada por um “algo profano”. A existência do filho pródigo é dependente
de uma figura paterna autoritária, que motiva um desejo de liberdade e leva a um comportamento de
rebeldia. Ao fugir do colégio interno para assistir ao balé de Nijinski, o Murilo descrito se veste de filho
pródigo e transgride a autoridade familiar. Na medida em que se constrói a obra do poeta, em que o
sonho e a ficção promovem a biografia, a recusa em continuar os estudos tem um significado marcante
de oposição à atitude de opressão da família — castradora do destino do menino à arte, à sensibilidade
poética.
Tenho 16 anos, logo rejeito a dimensão comum do mundo. Precipita-se o carro do meu destino (...).
Prossegue o diálogo sonho realidade. Sete anos anteriormente eu participara do cometa Halley.3
2
Ibidem. p. 1275.
3
Ibidem. p. 1275.
(...) através de uma janela voa no espaço, mal toca o pavimento; traz consigo o apetite da terra e o disfarce do
céu (...). Nijinski atrai a força do universo. (...) Penetra agora a zona da perturbação da própria personalidade
oficial; ajudado pelas sandálias da noite voa-se (...)4
A análise se torna ainda mais sofisticada quando se observa o sentido dos hexagramas formados
pela união dos dois trigramas. “Céu” sobre a “Terra” forma o hexagrama P’I, que nos indica a imagem
da “estagnação”:
No julgamento oracular pressupõe-se um indivíduo que está sendo afastado de seus princípios
pelo relacionamento que não se estabelece com a figura de autoridade. A relação de conflito que se
estabelece entre o desejo de Murilo à arte e a autoridade do pai contra esse desejo pode ser lida por esse
hexagrama. Assim como a relação de autoridade entre Nijinski e o patrono Diaghilev.
A inversão dos trigramas “Terra” e “Céu” formam o hexagrama T’AI:
De modo muito instigante, tal inversão faz com que o sentido de “estagnação” se transforme no
sentido de “paz”. Nijinski e Murilo através da arte se reconciliam com a autoridade repressora.
No diálogo entre o ficcional e a biografia, chegamos na relação de Murilo Mendes com o pai,
Onofre Mendes, que, se a princípio era castrador da vontade do filho à poesia, sabe-se, finalmente,
como um pai extremamente carinhoso e presente.
Meu pai é de uma paciência absoluta com o adolescente estranho que eu sou (...) Declaro sistematicamente
que só quero ser poeta, nada mais. (...) Mais tarde alegra-se diante do sucesso dos filhos (...) Quanto a mim,
alheio às maquinações literárias, recebo o prêmio de poesia da Fundação Graça Aranha com o meu primeiro
livro Poemas, que ele próprio fizera editar em Juiz de Fora. 5
Ibidem. p.1275/76
4
5
Ibidem. p. 972
III.
MEMÓRIA
O diadema da noite
Tecido de madressilvas
Espera núpcias solenes.
IV.
MEMÓRIA
Obscuríssimos quartos
Dando para terraços em azulejos
Onde um homem de couro e seda
Faz sinais para Saturno
E onde moças inconscientes
Mostram o coração
Tatuagens
A memória lida como tatuagem revela o caráter arbitrário da recordação biográfica para a
construção ficcional. A “memória-tatuagem” é aquela que é escolhida para ser gravada no tempo.
Tempo o qual, em Murilo Mendes, dentro da compreensão surrealista, não se estrutura na linearidade,
já que o alimento poético é “retirado de tudo”: passado, presente e futuro. Segundo Bachelard:
Neste sentido, é interessante pensar o quanto a “escrita do eu”, em caráter literário, está sujeita
à “traição” do real, especialmente quando se fala de uma escrita memorialística como a de Murilo
Mendes, construída no deslocamento temporal “maturidade-infância” e espacial “Roma-Juiz de Fora”.
O conhecer-se no tempo nada mais é que conhecer algumas fixações (ou tatuagens) de realidade no
tempo. Que, no artifício da construção literária e poética, consiste em trabalho, escolha precisa da
linguagem.
Conclusão
Referências
BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. Trad. Antônio da Costa Leal e Lídia do vale Santos
Leal. Rio de Janeiro: Eldorado Tijuca, [s.d.]
BENJAMIN, W. Teses sobre o conceito de História. In: W. BENJAMIN, Magia e técnica, arte e
política. São Paulo, Brasiliense, p. 222-232, 1994.
6
BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. Trad. Antônio da Costa Leal e Lídia do vale Santos Leal. Rio de Janeiro: Eldorado
Tijuca, [s.d.]
BOSI, Alfredo. História concisa da Literatura Brasileira. São Paulo, Cultrix, 2006.
FÉLIX, Loiva Otero. História e memória: a problemática da pesquisa. Passo Fundo: EDIUPF,
1998
MENDES, Murilo. Poesia Completa e Prosa. Ed. de Luciana Stegagno Picchio. Rio de Janeiro.
Aguilar, 2006.
RIBEIRO, Gilvan Procópio. Murilo Mendes: o visionário. Org. Gilvan Procópio Ribeiro e José
Alberto Pinho Neves. Juiz de Fora: EDUFJF, 1997.
WILHELM, Richard. I CHING, o livro das mutações. São Paulo. Pensamentos, 2006.
RESUMO
A partir de estudo sobre plataformas interativas multicódigos, lançamos a ideia de que estaría-
mos frente a uma inédita preocupação com a cidadania e a consequente construção de estratégias
relativas a essas atividades em ambientes imersivos digitais. Daí, este trabalho procura verificar, a
partir da análise de três grupos ativistas constituídos no Second Life, se de fato, estaria surgindo
tal sentimento de cidadania dentro do metaverso e se já existe uma organização efetiva para re-
pensar as condições deste ambiente virtual como espaço colaborativo.
Palavras-chave: Metaversos; Cidadania; Semiótica.
1. INTRODUÇÃO
Este trabalho se insere nas atividades do projeto de pesquisa ‘Plataformas interativas e seus
padrões sígnicos: o caso Second Life’, que busca melhores formas de aproveitar os recursos hipermídia
nas plataformas interativas em redes multicódigos, tomando como base a plataforma do Second Life.
Envolve pesquisadores e bolsistas da Universidade Federal de Juiz de Fora e de outras universidades
associadas, com financiamentos da Sesu-MEC, Capes-Pibic, Capes-DS e Capes-Procad. Como uma
sub-hipótese do projeto, foi proposta a ideia de que estaríamos frente a uma inédita preocupação com
a cidadania e a consequente construção de estratégias relativas a essas atividades em um ambiente
imersivo digital.
Este trabalho procura verificar, a partir da análise de três grupos ativistas constituídos no Second
Life, se, de fato, estaria surgindo tal sentimento de cidadania dentro do metaverso1; e se já existe uma
organização efetiva para repensar as condições deste ambiente virtual como espaço colaborativo.
* Bolsista PIBIC/CNPq/UFJF.
** Professor Orientador da Faculdade de Comunicação - UFJF.
Endereço Profissional da Professora Orientadora:
Programa de Pós Graduação em Comunicação Facom - Universidade Federal de Juiz de Fora, Cidade Universitária, Bairro
Martelos, CEP 36036-330, Juiz de Fora, MG/Brasil. E-mail: paoliello@acessa.com
1
O termo “metaverso” vem do romance de ficção cyberpunk Snow Crash, de Neal Stephenson, publicado em 1992, e refere-se
às plataformas de realidade virtual interativas.
2. Metodologia
Após o recorte dos grupos a serem estudados, foi feita uma análise de caráter semiótico de seus
padrões sígnicos predominantes, obtidos por meio da observação das características visuais, sonoras e
verbais; das formas de representação do que é externo à plataforma; dos laços de existencialidade que
ligam os signos e respectivos objetos; e os efeitos que possivelmente os construtores da plataforma
desejavam gerar em seus visitantes.
Foram consideradas três hipóteses de padrões predominantes de acordo com as categorias
triádicas de Charles Sanders Peirce (Peirce, 1998). A primeira sugere que os padrões poderiam ter um
caráter delimitado pela interferência da interface digital e dos demais mecanismos de funcionamento
do software. Sendo assim, as representações ficariam restritas a um determinado modo de operação, que
só poderia ser alterado por meio de mudanças ou adaptações no programa que gerencia o Second Life.
Outra hipótese prevê a predominância de padrões específicos, ligados a um grupo social, cultural
ou temático. Sendo assim, as representações do Second Life estariam presas a representações que utilizam
padrões particulares de referências. Já a terceira hipótese avalia a possível existência de padrões cada vez
mais amplos e complexos, caminhando para um pensamento de caráter mais universal, assim como
definido dentro da vertente da biosemiótica (Kull, 1999).
Tais hipóteses podem ser relacionadas, então, à nossa sub-hipótese, segundo a qual estaria
se desenvolvendo um movimento pela cidadania nos ambientes virtuais, caso encontremos um
predomínio de padrões na terceira esfera, ou seja, naquela que trabalha com pensamentos de caráter
mais universal. Isto porque adotamos como critério para nossa concepção de cidadania aquelas ações
que não estão meramente associadas a aspectos técnicos (primeira esfera) nem, tampouco, a qualquer
tipo de particularidade social ou cultural (segunda esfera).
3. Resultados
O conceito de cidadania, no que se refere à relação dos indivíduos diante do Estado e da Sociedade,
toma outras formas dentro do Second Life. A empresa desenvolvedora Linden Lab, que assume a figura
de “Estado” deste mundo virtual, incentiva a organização e a discussão entre os residentes. Assim,
dentro do metaverso, existem vários grupos de temática política voltada tanto para a Second Life (SL)
quanto para a Real Life (RL). Entretanto, também foram definidas regras gerais que devem ser seguidas
por todos, os chamados “Big Six” e “TOS”, cuja desobediência é punida com ações da empresa que vão
desde avisos, passam pela suspensão e chegam até a pena de banimento do metaverso.
O “Big Six” são seis comportamentos condenáveis, aplicáveis a todas as áreas do Second Life,
Second Life Forum, bem como ao Second Life Website: 1. intolerância (relativa à raça, à etnia, ao sexo, à
religião ou à orientação sexual); 2. assédio (avanço sexual ou comportamentos que causem mal-estar ou
tensão); 3. agressão (atirar, empurrar ou atropelar outro residente ou criar programas que o impedem
de se divertir); 4. ameaça à privacidade (divulgação de informações pessoais e de conversas travadas no
ambiente digital); 5. Pornografia (limitada a regiões privadas ou ao continente adulto, o Zindra) e 6.
Pertubação da paz (atrapalhar eventos ou o sistema informático, transmitir publicidade indesejada ou
sons repetitivos).
Apesar de não se responsabilizar por todas as ações, incluindo as financeiras, que acontecem
no metaverso, a empresa se preocupou em criar a ferramenta “denunciar abuso”, por meio da qual são
emitidos relatórios de uso indevido, com a identidade do relator mantida em caráter confidencial, para
posterior análise e punição, se for o caso. Já o “TOS” são os termos de serviço da Linden Lab, ou seja,
o acordo firmado entre cada usuário e a empresa. Veremos, a seguir, outras características da cidadania
no Second Life, por meio da descrição de três ambientes por nós analisados.
Em 2006, com o objetivo de promover uma conscientização no mundo virtual sobre os distúrbios
étnicos em curso no Sudão, foi construída a ilha “Better World” dentro do SL. O chamado “Camp
Darfur” recriava uma área de refugiados, intercalando as tendas azuis da ONU e grandes fotos de
campos reais. Contudo, assim como existe violência no RL, ela também ocorre no SL, e, assim, após
uma onda de ataques ao local, um usuário reuniu alguns amigos e criou um grupo de vigilantes, o
“Green Lantern Core” para patrulhar a área, e mais tarde, todo o Second Life.
O Second Life Left United (SLLU) é um grupo criado pelo avatar Plot Tracer dentro do metaverso
para reunir simpatizantes e participantes de partidos de esquerda ao redor do mundo. O grupo tem sua
própria ilha dentro do SL, onde construiu a sede do grupo e outros dois prédios de grupos de discussão
específicos: SLLU Feminist Network e o SLLU LGBT. Em um manifesto, o grupo define sua proposta
da seguinte forma:
O AIRE é um organização ecologista sem fins lucrativos que existe desde 1996 e tem sua sede na
cidade de Moulins, na França, e que, a partir de outubro de 2006, também ganhou uma sede no Second
Life. Seu grupo inworld é composto por duzentos e treze avatares e oferece exposições, workshops e
eventos em todos os campos da arte contemporânea (2D, 3D, música, design e arquitetura), bem
como da temática ecologia transacional: natural, social e psicológica.
O responsável pelo grupo tanto no SL quanto na vida real é o artista multimídia Marc Blieux
cujo avatar chama-se Marc Moana. O AIRE realizou sua primeira ação ativista artística no Second Life,
intitulada EP-AIRE, em 22 de Abril de 2007. Neste dia foi realizado o primeiro turno das eleições
presidenciais na França, na qual um dos candidatos era José Bové, líder esquerdista do movimento
antiglobalização que detém a simpatia da grande maioria dos ecologistas franceses. Nesse mesmo dia
era comemorado o Dia da Terra, evento que tem como objetivo despertar a consciência global para a
preservação e a conservação do meio ambiente. Foram, então, espalhados, em três movimentadas ilhas
do Second Life, dezenas de barris de lixo radioativo prontos para explodir, que liberavam fumaça verde
e folders com mensagens contra a utilização de energia nuclear.
A partir daí, o grupo prossegue com atividades conjugando ativismo e ecologia, sempre com sua
ênfase principal voltada para as proposições de caráter artístico.
A análise da limitação técnica, procedimental, na produção dos signos pelos três grupos traz
resultados bastante próximos, já que existem restrições do próprio suporte para a representação fiel do
real nos três ambientes observados. Os signos se mostram semelhantes (iconicidade, segundo Peirce) e
com conexões existenciais com seus objetos (indexicalidade, segundo Peirce) dentro da realidade 3D
do Second Life, mas ainda assim poderiam ter muito mais pontos em comum com aquilo que intentam
representar.
O ambiente que deveria ter avatares se movimentando e gesticulando, como seres humanos, não
atinge seu objetivo. Existe um menu separado para comandar gestos como rir, acenar, dançar, se irritar,
mas ele é pouco funcional e geralmente fica esquecido pelos usuários. Como a maioria das conversas
ocorre através de textos escritos, as emoções são representadas com “emoticons”, ou seja, desenhos com
sinais gráficos que formam expressões faciais, também usados nos demais intercâmbios digitais fora do
metaverso.
Já existe a opção de conversa por meio de voz no metaverso, mas esta não se compara à uma
conversa em um “chat” (conversa) de voz pois existe um delay nas falas, ou seja um atraso na chegada
da mensagem de áudio. Além disso, nessa forma de comunicação perde-se a possibilidade de uso de
programas de tradução para as mensagens. Como muitos dos usuários não falam a mesma língua e se
comunicam graças a tais programas de tradução anexados à caixa de diálogo, isto acaba por reduzir
toda a complexidade do mundo virtual a um “chat” textual. É o que acontece, por exemplo, nas
reuniões da SLLU e LV.
A tentativa de resolução de dificuldades de ordem procedimental, por sinal, é uma das funções
dos LV no Second Life, na medida em que estes ajudam residentes a entender melhor a interface e
executar tarefas. Porém, isso não os exime dos mesmos problemas técnicos, reduzindo as possibilidades
de interação nesse tipo de suporte.
No caso do AIRE, por se tratar de uma plataforma criada sem a pretensão de reproduzir um
ambiente da RL e por propor instalações artísticas para mobilizar os residentes, existe a oportunidade
de se criar algo novo, uma arte específica para o SL, com o que é fornecido pela plataforma. Portanto,
dos três ambientes observados, é o único que se apropria da interface digital sem tantas restrições de
caráter técnico, o que o credencia a estimular, de forma mais produtiva, atividades pró-cidadania na
Rede.
Ao analisarmos se os padrões sígnicos são limitados por aspectos particulares de cada um desses
grupos nos foi possível perceber que mesmo dentro das temáticas e propostas globais que os movem
são fortes alguns traços particularistas. No caso do SLLU, o prédio da SLLUFN e suas referências à luta
feminista trazem informações que nem todos os participantes do SLLU partilham, daí algumas perdem
a força e seu sentido inicial.
O prédio de três andares tem, em sua parte térrea, uma loja de discos de vinil de bandas feministas
e posters colados nas paredes, entre eles o da cantora Billie Holiday. No segundo andar, fica a biblioteca
que tem um manifesto sobre tráfico de mulheres afixado na parede, assim como um desenho da
ativista negra Angela Davis com a frase “Irmã, você é bem-vinda nesta casa!”. Na mesa, fica o jornal
que é link para um site contra pornografia (http://www.oneangrygirl.net/antiporn.html). A prateleira
Por outro lado, podemos dizer também que os três grupos observados buscam, de alguma forma,
a projeção ao universalismo. O SLLU, em suas representações de símbolos da esquerda, como Marx
e Che Guevara, pintados em tinta vermelha na parede principal da ilha, busca se identificar com o
pensamento da esquerda universal. A ideia de urbanidade permeia todos os signos da plataforma, que
faz clara referência aos prédios, praças e muros das cidades globais e também transforma a ilha em um
lugar que se assemelha a diversos outros do mundo real.
No campo das ações, a SLLU tem se direcionado mais para as discussões em grupo sobre as
possíveis ações do que para manifestações, o que mantém inexploradas diversas possibilidades da
plataforma 3D. Contudo, busca-se uma polifonia nas discussões e sempre que ainda houver alguém
contrário ou disposto a falar sobre determinado assunto o tópico é reaberto. Apesar da predominância
dos assuntos de apelo maior na Europa, como o caso Berlusconi e ações antinazistas, em detrimento
de discussões sobre pobreza na America latina ou ações Chavistas, por exemplo, ainda assim propostas
da esquerda mundial estão presentes no discurso da SLLU e em suas reuniões. De alguma forma, o
grupo consegue atrair avatares de diferentes vertentes, caminhando para um pensamento mais amplo
e universal.
No caso dos LV, a presença da biblioteca e das salas de aula mostra que existe uma busca pela
participação ativa dos residentes que visitam o local e uma tentativa de construção conjunta de
signos. Os critérios que norteiam o grupo na busca do aperfeiçoamento dos LV como indivíduos e
da comunidade do Second Life gera um padrão de pensamento voltado para o que é aceito dentro do
metaverso, com ênfase em uma cidadania do espaço virtual.
O AIRE, por sua vez, apesar de marcado pelo particularismo dos signos da arte de vanguarda,
busca passar sua mensagem sobre ecologia através de instalações de espaços para interação dos
avatares. As ações do grupo visam à inserção do usuário no movimento ecológico internacional, e
5. CONCLUSÃO
Podemos concluir, portanto, que após pesquisarmos a possível emergência de uma consciência
cidadã na esfera virtual do Second Life, é possível afirmar que isso de fato vem ocorrendo, a partir
dos exemplos apresentados, embora todos os processos possam ser descritos como ainda bastante
incipientes. É importante ressaltar que existem inúmeras outras iniciativas nesse sentido e que os
ambientes observados constituem apenas uma pequena amostra, embora representativa, desse universo.
Conforme vimos na primeira parte, a própria empresa desenvolvedora desse metaverso se preocupa com
uma convivência colaborativa entre seus usuários, até mesmo como forma de garantir o sucesso de seu
empreendimento.
Porém, o que dá consistência à nossa hipótese de que estaríamos frente ao surgimento de um
movimento de cidadania na esfera virtual são as iniciativas do tipo que apresentamos aqui, ou seja,
lançadas por grupos sociais sem interesses comerciais e que se propõem a conscientizar os usuários seja
por meio de ideias, signos, ações políticas, colaborativas ou artísticas.
Nos casos observados, constatamos, contudo, a existência de muitas limitações técnicas,
restringindo a capacidade de representação de ambientes e de interações entre grupos e pessoas e também
o apego a uma estética, ações e pensamentos particularistas. Por outro lado, observamos, também, a
preocupação com valores universais, o que conduz seus proponentes a uma postura colaborativa e
cidadã, pelo menos de acordo com nossos critérios.
ABSTRACT
From a study about interactive multicode platforms, we propose the idea that we would be
facing an unprecedented concern for citizenship and the consequent development of strategies
relating to these activities in digital immersive environments. So, analysing three activist groups
from Second Life, this study seeks to verify if there is indeed a citizenship feeling emerging in
metaverses and if there is already an effective organization to rethink these virtual environments
as a collaborative spaces.
Keywords: Metaverses; Citizenship; Semiotic.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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127(1/4). S.l: s.n, p. 385-414, 1999.
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RYMASZWESKY, M. et al. Second Life - O Guia Oficial. 1 ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2007.
O professor orientador deverá encaminhar o artigo a ser publicado para o email pesquisa.
propesq@ufjf.edu.br, assunto “Principia: artigo para publicação”, que será analisado pelo
Conselho Editorial, quanto ao cumprimento das normas.
O artigo deverá ser redigido em português, arquivo em word, formatado com fonte Arial tamanho
12, espaçamento 1,5, margens de 2cm, texto justificado, contendo no máximo 10 páginas, com a
seguinte sequência:
1. Título
2. Nome dos autores por extenso, com número sobrescrito indicando o Programa de IC
envolvido, e endereço profissional completo do professor orientador.
6. Key words
Figuras e Tabelas
Fotos, desenho, gráficos e mapas serão denominados Figuras. As Figuras e Tabelas devem ser
numeradas, respectivamente, em algarismos arábicos, e serem chamadas no texto em ordem crescente,
abreviadas Fig. 1. Tab. I.
Citações Bibliográficas:
No texto, as citações bibliográficas devem ser mencionadas no sistema AUTOR (ano) NBR
10520:2002, no caso de dois autores e et al.
117
Referências
As citações devem ser apresentadas em ordem alfabética e conforme normas da ABNT - NBR:
6023:2002; espaçamento simples entre as linhas e 1,5 entre elas.
Artigos em Periódicos
AUTOR(ES). Título: subtítulo do artigo (se houver). Título do periódico, local, volume,
fascículo, página inicial-final, ano.
SILVA, V.A.; ANDRADE, L.H.C. Etinobotânica Xucuru: espécies místicas. Biotemas, Florianópolis,
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BODEN, M.J.; KENNAWAY, D.J. Circadian rhythms and reproduction. Reproduction, v. 132, p.
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AUTOR(ES) do capítulo. Título. In: SOBRENOME, Prenome (autor da obra no todo). Título.
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119