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CÂMARA LEGISLATIVA DO DISTRITO FEDERAL

Presidência
Secretaria Legislativa

NOTA TÉCNICA

ASSUNTO: Análise sobre os


questionamentos realizados pelo
Gabinete da Deputada Arlete
Sampaio acerca da Redação Final do
PLC N. 46/2020.

SOLICITANTE: Gabinete da Deputada ARLETE SAMPAIO

RELATÓRIO

Esta Secretaria Legislativa – SELEG recebeu solicitação de serviço do


Secretário Legislativo desta Casa de Leis, a fim de que se pronunciasse acerca
dos questionamentos realizados, conforme documento anexo, pelo Gabinete da
Deputada Arlete Sampaio acerca da Redação Final do PLC N. 46/2020, feita pela
Comissão de Constituição e Justiça-CCJ.
Inicialmente, ressalte-se que o trâmite legislativo do PLC N. 46/2020
foi respeitado, devidamente tramitado na CAS, na CEOF e na CCJ, discutido e
devidamente aprovado em primeiro e segundo turno. Conforme despacho
exarado pela CCJ, no dia 02/07/2020, foi expedida a redação final, nos termos
da emenda substitutiva n. 10 (doc. 0149405); e submendas: 11 (doc. 0149415),
21 (doc. 0151566) e 22 (doc. 0149501), no dia 03/07/2020. A redação final do
PLC N. 46/2020 foi publicada no DCL n. 154 de 06/07/2020. Por fim, a Lei
Complementar n. 970/2020 foi publicada no DODF N. 128, de 09/07/2020.

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Por meio da Mensagem n. 288/2020, o Chefe do Poder Executivo opôs


veto parcial, especificamente ao inc. III do art. 1° do PLC N. 46/2020. O veto
parcial foi derrubado por esta Casa, na Sessão Extraordinária Remota, no dia
25/11/2020, conforme permitido pela Resolução n. 317/2020

É o relatório.

ANÁLISE JURÍDICA, LEGAL E REGIMENTAL ACERCA DOS


QUESTIONAMENTOS LEVANTADOS PELO GABINEDE DA DEPUTADA ARLETE
SAMPAIO

1) Quanto à articulação do art. 1º do PLC:

No documento do Gabinete da Deputada, questiona-se acerca da


forma de articulação do projeto após a redação final, conforme o art. 68 da
LC 13/96, que dispõe sobre sobre a elaboração, redação, alteração e
consolidação das leis do Distrito Federal. No documento, argumenta-se que
o articulado deveria ter sido mantido tal qual aprovado no texto da Emenda
(subemenda) nº 22, uma vez que o texto não padecia de nenhum vício
relacionado à técnica legislativa e, além disso, inviabilizaria a oposição de
veto pelo Poder Executivo quanto às alterações feitas pelo art. 1º do projeto.

Válido relembrar que o trâmite legislativo foi devidamente respeitado:


o PLC N. 46/2020 foi proposto pelo Poder Executivo e, durante a sua
tramitação, foram apresentadas e aprovadas quatro emendas (substitutivo,
aditiva, supressiva e modificativa), na forma prevista no Regimento Interno.
Concluída a votação, o projeto foi encaminhado para elaboração da Redação

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Final, a cargo da Comissão de Constituição e Justiça, conforme art. 201, §1º,


III, do RICLDF.

Durante a elaboração da Redação Final do PLC N. 46/2020, a


Comissão de Constituição e Justiça fez adequações no articulado da
proposição, respeitando-se o previsto na LC 13/96 e no Manual de Elaboração
de Textos Legislativos da CLDF, sobretudo no que se referiu ao art. 1º do
PLC 46/2020, que alterava a Lei Complementar nº 769/08.

Ademais, o Regimento Interno dessa Casa assevera que:

“Art. 201. Concluída a votação, as propostas de emenda à Lei Orgânica e os projetos


serão encaminhados para a elaboração:

(...)

§ 2º Quem elaborar a redação do vencido e a redação final poderá,


independentemente de emenda, efetuar as correções de linguagem e eliminar os
absurdos manifestos e as incoerências evidentes, desde que não fique alterado o
sentido da proposição, relatando-se o fato ao Plenário.”

Assim, a elaboração da redação final pela CCJ visa a consolidar o texto


do projeto aprovado, jungindo as normas emanadas das proposições
principais e acessórias em um só texto definitivo.

No caso em tela, a CCJ optou por cingir as alterações promovidas pelo


art. 1º do PLC 46/2020 em três incisos, em vez de efetivar todas as alterações
propostas diretamente no caput do art. 1º, conforme disposto na Emenda
nº 22.

Tal escolha da CCJ, a nosso ver, foi acertada. Vejamos o disposto na


Lei Complementar nº 13/96, que respalda sua atuação:

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Art. 107. Alteração é a modificação de dispositivo de lei.

Parágrafo único. A alteração ocorre por:

I – supressão;

II – acréscimo;

III – nova redação.

(...)

Art. 110. A lei alteradora obedecerá às normas de articulação estatuídas


por esta Lei Complementar e indicará, em seus dispositivos, a alteração ocorrida.
(grifou-se)

Nota-se, pois, que o art. 1º do PLC N. 46/2020 tem por objetivo


implementar dois tipos de alteração distintos na Lei Complementar 769/08,
quais sejam:

a) Dar nova redação ao art. 60;

b) Dar nova redação ao art. 61, caput e §1º;

c) Acrescentar o §3º ao art. 61.

Dessa forma, em obediência ao que determinam os artigos


anteriormente citados na LC 13/96, bem como a boa técnica legislativa, é
necessário indicar, em cada dispositivo da lei alteradora, o tipo de alteração
ocorrida dentre as previstas no art. 107 da LC 13/96.

Ademais, a técnica de expressar a regra geral no art. 1º ( “A Lei


Complementar nº 769, de 30 de junho de 2008, passa a vigorar com as

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seguintes alterações:”) e explicitar o tipo de alteração ocorrida nos incisos está


em consonância com o previsto no art. 70 da LC 13/96:

“Art. 70. O artigo conterá apenas uma regra e será expresso por uma
única frase, cujo sentido oracional poderá ser complementado ou
explicitado por incisos.”

Diante do exposto, adequada e correta a redação final do dispositivo.

2) Quanto à “desconsideração da emenda nº 21”:

A celeuma gira em torno das emendas nº 10, 21 e 22. A emenda 10,


na forma de substitutivo, dava a seguinte redação ao PLC Nº 46:

“Art. 1º Ficam referendadas no âmbito do Regime Próprio de Previdência Social do


Distrito Federal/RPPS/DF, as alterações promovidas pelo art. 1º da Emenda
Constitucional Federal nº 103, de 12 de novembro de 2019, no art. 149 da Constituição
Federal, nos termos do inciso II do art. 36 da referida emenda, observado o disposto
nesta lei.

Art. 2º A Lei Complementar nº 769, de 30 de junho de 2008, passa a vigorar com as


seguintes alterações:

“Art. 60. A contribuição previdenciária dos segurados ativos, de que trata o art.
54, II, será de 14% (quatorze por cento), incidente sobre a remuneração-de-
contribuição, conforme o disposto no art. 62.”

“Art. 61. A contribuição previdenciária dos segurados inativos e dos


pensionistas, de que trata o art. 54, III, incidente sobre a remuneração-de-
contribuição, conforme o disposto no art. 62, observará os seguintes parâmetros:
I – sobre os valores abaixo de um salário mínimo (R$ 1.045,00), não incidirá
alíquota alguma;
II – sobre os valores acima de R$ 1.045,00 até R$ 1.200,00, incidirá alíquota
de 11%;

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III - sobre os valores acima de R$ 1.200,01 até R$ 1.800,00, incidirá alíquota


de 12%;
IV - sobre os valores acima de R$ 1.800,01 até R$ 3.000,00, incidirá alíquota
de 13%;
V - sobre todos os valores acima de R$ 3.000,01, incidirá alíquota fixa de 14%.
§ 1º Quando o beneficiário da aposentadoria ou da pensão for portador de
doença incapacitante, a contribuição de que trata o caput incidirá apenas sobre a
parcela de provento que supere o dobro do limite máximo estabelecido para os
benefícios do RGPS.
§ 2º ........
§ 3º Os valores previstos no caput serão reajustados, a partir do
primeiro dia do quarto mês subsequente ao da publicação desta Lei, na
mesma data e com o mesmo índice em que se der o reajuste dos benefícios do Regime
Geral de Previdência Social.” NR

Art. 3º Esta Lei Complementar entra em vigor na data de sua publicação,


surtindo efeitos, com relação às alterações promovidas no art. 2º a partir do
primeiro dia do quarto mês subsequente ao de sua publicação, revogando-se
as disposições em contrário.”

A subemenda nº 11 apenas acrescentou o texto de um artigo autônomo,


determinando a renumeração dos demais.

A subemenda nº 21, que alterou o substitutivo nº 10, suprimiu o art.


3º do PLC. Dessa forma, restaram apenas os arts. 1º e 2º do substitutivo
nº 10 e o artigo aprovado pela subemenda nº 11.

A subemenda nº 22, deu nova redação aos artigos do substitutivo que


ainda restavam, quais sejam, arts. 1º e 2º. Observemos a nova redação:

Art. 1º A Lei Complementar nº 769, de 30 de junho de 2008, passa a vigorar com as


seguintes alterações:
“Art. 60. A contribuição previdenciária dos segurados ativos, de que trata o art. 54, II,
será de 14% (quatorze por cento), incidente sobre a remuneração-de-contribuição,
conforme o disposto no art. 62.”
“Art. 61. A contribuição previdenciária dos segurados inativos e dos pensionistas, de
que trata o art. 54, III, incidente sobre a remuneração-de-contribuição, conforme o
disposto no art. 62, observará os seguintes parâmetros:
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I - até um salário mínimo ficará isento;


II - de um salário mínimo até o valor vigente do teto dos benefícios pagos pelo Regime
de Previdência, incidirá alíquota de 11%;
III - acima do teto dos benefícios pagos pelo Instituto Nacional do Seguro Social
(INSS), incidirá alíquota fixa de 14%.
§ 1º Quando o beneficiário da aposentadoria ou da pensão for portador de doença
incapacitante, a contribuição de que trata o caput incidirá apenas sobre a parcela de
provento que supere o dobro teto dos benefícios pagos pelo Regime Geral de
Previdência Social.”
§ 2º ........
§ 3º Os valores previstos no caput serão reajustados, a partir do primeiro dia
do ano de 2021 ao da publicação desta Lei, na mesma data e com o mesmo índice
em que se der o reajuste dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social” NR

Parágrafo único. Fica mantido o Plano de Benefícios previsto no art. 17 da Lei


Complementar nº 769 de 30 de junho de 2008.

Art. 2º Esta Lei Complementar entra em vigor na data de sua publicação, surtindo
efeitos, com relação às alterações promovidas no art. 1º a partir do primeiro
dia do quarto mês subsequente ao de sua publicação, revogando-se as
disposições em contrário.

Assim, restaram aprovados os arts. 1º e 2º, com a redação dada pela


subemenda nº 22, bem como o texto do artigo aprovado pela subemenda nº
11.

O Gabinete da ilustre Deputada Arlete Sampaio questiona, então, uma


possível “desconsideração” da subemenda nº 21, que suprimiu o art. 3º do
substitutivo nº 10.

No entanto, da análise acurada das emendas aprovadas por esta Casa de


Leis, conclui-se que não houve qualquer desconsideração. Isso porque a
redação do art. 2º, dada pela subemenda nº 22, aprovada em consonância
com os ditames regimentais, estatuiu novamente a norma que havia sido
suprimida do art. 3º pela subemenda nº 21.

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Por fim, a CCJ, ao elaborar a redação final do projeto, apenas consolidou em


um só texto as normas emanadas das proposições acessórias aprovadas,
observado o regular processo legislativo e a boa técnica legislativa. Com
efeito, todas as disposições contidas nos arts. 1º, 2º e 3º do PLC Nº 46/2020, com
a redação final formulada pela CCJ, foram devidamente aprovadas por esta Casa de
Leis, em primeiro e segundo turno, no estrito cumprimento das normais
constitucionais e regimentais vigentes.

Portanto, não prospera a alegação formulada pelo Gabinete da ilustre Deputada


acerca de uma possível desconsideração da emenda nº 21.

3) Quanto à alegação de afronta ao princípio constitucional da


isonomia tributária:

Preliminarmente, destaca-se que não cabe a esta Secretaria Legislativa,


a análise da suposta violação do princípio constitucional da isonomia tributária
(art. 150, II, da CF/88), levantada pela respeitosa Deputada. Tampouco cabe à
CCJ, na consolidação da redação final, a análise formal ou material de
constitucionalidade.
O conteúdo material acerca da suposta violação do princípio
constitucional da isonomia tributária deve ser discutido nas Comissões e em
Plenário, momento oportuno para todas as mudanças e questionamentos acerca
do mérito e da constitucionalidade.
Data vênia, o momento para esta análise é inoportuno, ressaltando-se
que a lei, inclusive, já foi publicada no DODF, no dia 09/07/2020.

Sendo estas as informações que consideramos pertinentes e


necessárias, colocamo-nos à disposição para quaisquer esclarecimentos.

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Câmara Legislativa (DF), 27 de Novembro de 2020.

Sarah Vasconcelos
Consultora Legislativa de Constituição e Justiça
Matr. 23.011

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