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Luis T. Magalhães
IST
31.MAR.2016
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Teoremas de Função Inversa e Função Implı́cita
Motivação
Em geral não se consegue resolver explicitamente equações f(x) = y em
termos de funções elementares do cálculo. Exceptuam-se os casos em
que f é uma transformação linear, ou de equações escalares em que é
uma função polinomial de grau ≤ 4 , ou os que podem ser reduzidos a
esses casos por mudanças de variáveis ou simetrias.
Como a resolução de equações é importante, convém estudar as soluções
mesmo sem ser possı́vel obtê-las explicitamente (e.g. se existem ou não,
quantas são, como obter conjuntos a que pertençam, como calcular
computacionalmente aproximações).
É natural considerar a extensão de sistemas de equações lineares com
solução única, ou seja quando se pode garantir que f tem inversa, pois
então a solução é x = f −1 (y) . Como o gráfico de uma função f
diferenciável é tangente num ponto (a, f(a)) a um plano translação do
gráfico de f ′ (a) de 0 para (a, f(a)) , é de esperar que se Df(a) é não
singular, i.e. f ′ (a) é invertı́vel, também a restrição de f a uma vizinhança
de a seja invertı́vel. Esta é a ideia do Teorema da Função Inversa.
O Teorema da Função Implı́cita corresponde à extensão análoga de
sistemas de equações lineares com infinitas soluções, dadas obtendo
algumas das incógnitas como função das outras (das incógnitas livres). 2 / 15
Teorema de Existência de Inversa Local
Se f : S → Rn , S ⊂ Rn , f é diferenciável em S, Df é contı́nua num
ponto a ∈ S, e Jf(a) 6= 0 , então existe um conjunto aberto X ⊂ S
com a ∈ X tal que a restrição f|X tem inversa.
Dem. Sem perda de generalidade a = 0 , f(a) = 0 , Df(a) = In (translação
de coordenadas no domı́nio e no espaço de chegada de modo ao ponto
a, f(a) passar para a origem, e composição de [f ′ (a)]−1 com f ).
Prova-se que ∃R>0 : f|BR (a) é injectiva. Com G(x) = x−f(x) , é G(a) = 0 ,
DG(a) = 0 e f(y) = f(x) ⇔ y−x = G(y)−G(x) .
Aplicando o T. de Lagrange e a desigualdade de Cauchy-Schwarz a cada
componente, para alguns ck no segmento de recta de x a y é
|Gk (y)−Gk (y)| = |∇Gk (ck ) · (y−x)| ≤ k∇Gk (ck )kky−xk , k = 1, . . . , n .
Como G é diferenciável em S, ∇Gk é contı́nua em a e ∇Gk (a) = 0 ,
1
∃Rk >0 : k∇Gk (ck )k < 2n , k = 1, . . . , n ; logo, se R = min{R1 , . . . , Rn }, é
kG(y)−G(x)k ≤ nkG(y)−G(x)k∞ ≤ 12 ky−xk para x, y ∈ BR (a) . Portanto,
f(y) = f(x), x, y ∈ BR (a) ⇒ ky−xk ≤ 21 ky−xk ⇒ ky−xk = 0 ⇒ y = x .
Conclui-se que ∃R>0 : f é injectiva em BR (a) . Q.E.D.
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Soluções de equações e pontos fixos de funções associadas
Pretende-se provar que nas condições do resultado precedente existe
X ⊂ S tal que f −1 = [f|X ]−1 é diferenciável num conjunto aberto Y ,
pois então, mesmo sem fórmula explı́cita para f −1 , a regra da cadeia
aplicada a f −1 ◦ f = 1X dá Df −1 (y) Df(x) = In com y = f(x) ; logo,
Df −1 (y) = [Df(x)]−1 .
É preciso provar que X pode ser tal que Y = f(X ) é aberto.
Observa-se que
f(x) = y ⇐⇒ Qy (x) = x , com Qy (x) = x−f(x)+y
(x é solução da equação f(x) = y se e só se é ponto fixo da função Qy )
O objectivo pode ser conseguido observando que uma função que contrai
distâncias num conjunto fechado tem um único ponto fixo no conjunto,
que é o limite de sucessões obtidas por aplicação sucessiva da função a
partir de um ponto qualquer, o que também dá um método para cálculo
computacional da função inversa. A ideia aplica-se em condições mais
gerais para obter a existência e unicidade de soluções de equações e
calculá-las aproximadamente.
Como o limite é desconhecido, precisamos de poder decidir que uma
sucessão converge comparando termos da sucessão em vez de os
comparar com o limite. 4 / 15
Sucessões de Cauchy
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Teorema de Contracção
Chama-se contracção em S ⊂ Rn a uma função Q : S → S tal que
∃λ∈[0,1[ : kQ(y)−Q(x)k ≤ λky−xk para x, y ∈ S .
Teorema de Contracção: Toda contracção Q num conjunto
fechado ∅ = 6 F ⊂ Rn tem um único ponto fixo em F .
Dem. Verifica-se kQk (y)−Qk (x)k ≤ λk ky−xk , com λ ∈ [0, 1[ .
Com x0 ∈ F arbitrário considera-se a sucessão com termos xk = Qk (x0 ) . É
kxk −xk+m k = kQk (x0 )−Qk+m (x0 )k
= kQk (x0 )−Qk (Qm (x0 )k
Pm
≤ λk kx0 −Qm (x0 )k = λk
j=1 Qj (x0 )−Qj−1 (x0 )
Pm−1
λk
≤ λk j=0 λj
Q(x0 )−x0
≤ 1−λ
Q(x0 )−x0
.
Como λk → 0 quando k → +∞ , {xk } é uma sucessão de Cauchy;
logo, convergente, xk → x∗ ∈ Rn , e, como F é fechado, é x∗∈ F .
Como Q é contı́nua, Q(xk ) → Q(x∗ ) , mas Q(xk ) = Qk+1 (x0 ) → x∗ ,
pelo que Q(x∗ ) = x∗ . Logo, ∃ ponto fixo em F .
Se Q(x∗1 ) = x∗1 e Q(x∗2 ) = x∗2 , é kx∗1 −x∗2 k = kQ(x∗1 )−Q(x∗2 )k ≤ λkx∗1 −x∗2 k .
Como λ ∈ [0, 1[ , é kx∗1 −x∗2 k = 0 e, portanto, x∗1 = x∗2 . Q.E.D.
(A convergência exponencial! Tanto mais rápida quanto λ for menor.
É válido o resultado análogo em espaços métricos completos. Aplica-se
em espaços de funções para equações diferenciais, integrais ou outras). 7 / 15
Teorema de contracção
Aplicação a resolução computacional de equações escalares:
Método de Newton-Raphson
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Teorema de contracção
Aplicação a resolução computacional de equações escalares:
Método de Newton-Raphson – Exemplo
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Teorema da Função Inversa
Se f : S → Rn , S ⊂ Rn , f é diferenciável em S, Df é contı́nua em a ∈ S
e Jf(a) 6= 0 , então existe X ⊂ S aberto com a ∈ X tal que:
(1) a restrição f|X tem inversa f −1 ;
(2) Y = f(X ) é aberto;
(3) f −1 é diferenciável em Y, Df −1 (y) = [Df(x)]−1 c/ x = f −1 (y), y ∈ Y ;
(4) f é C m (m ∈ N) ⇒ f −1 é C m .
Dem. (1) Já provado: sem perda de generalidade a = 0,f(a) = 0, Df(a) = In ,
e com G(x) = x−f(x) , ∃R>0 : BR (0) ⊂ S e f é injectiva em BR (0) ,
kG(y)−G(x)k ≤ 12 ky−xk para x, y ∈ BR (0) , Jf(x) 6= 0 para x ∈ BR (0) .
(2) f(x) = y ⇔ Qy (x) = x , com Qy (x) = x−f(x)+y = G(x)+y .
Verifica-se para y ∈ B R (0) e x, z ∈ BR (0) que
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Teorema da Função Implı́cita
Motivação
Os teoremas da Função Inversa e da Função Implı́cita são equivalentes.
Aqui prova-se o 2o a partir do 1o , mas poderia ser ao contrário.
Para obter o resultado com base na inversa de uma matriz não singular é
preciso estender o sistema a um outro equivalente com matriz de
coeficientes n×n , o que se pode fazer acrescentando n−m equações
independentes que sejam
sempre verificadas,
x= x , ou seja
e.g.
In−m 0 x x
= .
A11 A12 y b
A matriz de coeficientes é não singular se e só se det A12 6= 0 .
Para obter o Teorema da Função Implı́cita do Teorema da Função Inversa
no caso em que a função F pode ser não linear considera-se a extensão
análoga da equação F(x, y) = 0 , obtida acrescentando a equação x = x ,
e aplica-se à equação obtida o Teorema da Função Inversa. 14 / 15
Teorema da Função Implı́cita
Se F : S → Rm , S ⊂ Rn é aberto, m < n , F é diferenciável em S, a ∈ S,
∂F
∂y (x, y) é contı́nua em a = (x0 , y0 ) ∈ R
n−m
×Rm e det ∂F ∂y (x0 , y0 ) 6= 0 ,
então existe X ⊂ S aberto com a ∈ X e U ⊂ Rn−m aberto tais que:
(1) ∃ f:U → Rm diferenciável: F(x, y) = 0 p/(x, y) ∈X ⇔ y = f(x) p/x ∈U ;
−1 ∂F
(2) Df(x) = − ∂F
∂y x, f(x) ∂x x, f(x) para x ∈ U ;
(3) F é C m (m ∈ N) ⇒ f é C m .
Dem. Aplicação imediata do Teoremada Função Inversa à função
h : S → Rn tal que h(x, y) = x, F(x, y) , pois Jh = det ∂F
∂y ,
e h é diferenciável em S (resp., Dh é contı́nua em a) se e só se F é.
(2) também pode ser obtida directamente aplicando a Regra da Cadeia a
F x, f(x) = ∂F
d
∂F
F x, f(x) , o que dá dx ∂x x, f(x) + ∂y x, f(x) Df(x) ,
de que é imediata a fórmula em (2). Q.E.D.