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05/04/2020 “A periferia é a base da economia solidária” - Pequenas Empresas Grandes Negócios | Empreendedorismo

EMPREENDEDORISMO

“A periferia é a base da economia


solidária”
Conheça Thiago Vinícius, empreendedor que criou banco
comunitário e é dono de uma das vozes mais inovadoras da
periferia paulistana

13 min de leitura

Robson Viturino
15 Ago 2018 - 06h25 | Atualizado em 15 Ago 2018 - 06h25

À frente de diversos negócios sociais e culturais, Thiago Vinicius desafia o


preconceito (Foto: Celso Doni)

Falar em geração de renda como forma de combater a


desigualdade social, a falta de oportunidades e a violência não
é novidade no lugar de onde veio Thiago Vinícius.

SAIBA MAIS

Empreendedora cria o maior evento de


cultura negra da América Latina

Como ocorre com milhões de jovens das periferias, o


empreendedorismo surgiu para ele como uma resposta a
experiências dolorosas — entre elas, a violência doméstica e a
perda precoce de um irmão.

À frente de diversos negócios sociais e culturais, Vinícius é


dono de uma das vozes mais inovadoras da periferia
paulistana. Sua trajetória e bom humor têm desafiado — e, em
parte dos casos, vencido — as barreiras do preconceito. A
seguir, ele defende uma “quebrada conectada” e critica o
“preconceito institucional” que impossibilita o seu acesso aos
fundos de negócios sociais.

Nascido em São Paulo (SP) em 1989, fez parte da primeira


turma de empreendedores sociais da Artemisia, quando tinha

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15 anos. Daí em diante, criou uma série de negócios nas


periferias de SP.

Entre os mais importantes, estão o Banco Comunitário União


Sampaio, que fornece microcrédito para famílias de baixa
renda, a moeda Sampaio, que circula na zona sul paulistana, e
o festival Percurso, que em 2017 reuniu mais de 10 mil
pessoas.

Qual foi o seu primeiro contato com alguém que criasse ou


transformasse alguma coisa?
Ah, mano, a referência mais antiga é de quando eu nasci, no
dia 31 de janeiro de 1989, quando eu comecei a chorar nos
braços da minha mãe. Ela é uma grande inspiradora do meu
trabalho.

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Sofreu violência doméstica, como muitas mulheres de várias


classes sociais. Ela reverteu todo um jogo e, nesse processo
de vencer a violência, a questão da geração de renda foi muito
forte.

Ela sempre empreendeu para cuidar dos quatro filhos. Já foi


doméstica, manicure, empreendedora da alimentação... Toda
vez que a gente vê uma favela de pé, ali está a base da
economia solidária.

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Thiago Vinicius é um dos principais empreendedores da periferia de SP (Foto:


Celso Doni)

Como assim?
A economia solidária de que se fala na Vila Madalena [bairro
nobre de SP] — de empreendedorismo social e
compartilhamento — surge na favela. Muitas vezes eu vi a
minha mãe doando um balde de água para famílias mais
necessitadas que a nossa.

Por outro lado, ela mobilizou vários homens para “bater a laje”
de casa. A periferia vive de economia solidária, e essas
memórias me dão um alicerce para caminhar. 

Quando começa a sua trajetória como empreendedor?


Em 2004, depois de participar da ONG Projeto Arrastão, fui da
primeira turma da Artemisia, organização que identifica e apoia
empreendedores sociais. Tinha 15 anos. Eu e minha família
moramos de frente para o córrego Pirajussara e sempre
sofremos com enchentes.

Vendo isso, e com a formação do Projeto Arrastão, me liguei


que eu poderia pensar numa ação de empreendedorismo,
geração de renda e educação ambiental — tudo ao mesmo
tempo. Na época, nem sabia o que era empreendedorismo
social.

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Como era o seu projeto?


Eu queria desenvolver um projeto de educação ambiental e
coleta seletiva. Antes de investir na ideia, a Artemisia fez todo
um processo de formação. Fui para o Sítio Arco-Íris, em São
Roque [interior de São Paulo], participei de um processo muito
profundo para conhecer meu poder pessoal, entender a
importância da formação de uma rede e reforçar o meu
empenho para mudar aquela realidade. Sinto que, no fundo, a
minha mãe sabia que aquele negócio ia me fazer bem e me
levar a fazer o que estou fazendo.

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Mano Brown (à frente) e banda tocam no Festival Percurso, projeto criado por
Thiago Vinícius que este ano levou 10 mil pessoas aos shows na periferia

Qual foi o impacto dessa experiência aos 15 anos?


Primeiro a gente se ligou que poderia gerar renda e causar
impacto positivo na comunidade ao mesmo tempo.

Eu lembro de alguns amigos, que hoje são uns “frentes” do


tráfico, do crime e do partido [PCC, Primeiro Comando da
Capital], dando risada de mim porque eu andava carregando
papel pra cima e pra baixo. Eu fazia um outro corre. O crime
organizado está muito próximo da juventude, né, mano. Uma
das coisas que me inspiram a fazer algo é atrair a atenção do
jovem. A todo momento o crime está disputando a atenção
deles.

Pode falar mais sobre isso?


O crime dá algumas coisas que a família e a escola não têm
condições de dar. Quando alguém pega uma bolsa de drogas
pra vender, tem de prestar contas e, para isso, tem de saber
matemática. Daí a galera do crime ajuda a aprender
matemática, entendeu? O crime está ali, do nosso lado.

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Por isso, o meu processo com a Artemisia foi muito


importante. Depois, eles me pagaram um curso de
administração de empresas na PUC. Estudei dois anos lá. Me
conectei com outra classe social. Enquanto o mano curtia na
Riviera de São Lourenço, eu estava aqui no Embu das Artes.

Você fez dois anos e aí...


Eu tranquei porque, tipo, não consegui acompanhar. Aí a gente
esbarra numa outra questão, que é a educação básica. Os
meus professores na PUC perguntavam se eu não tinha visto
algumas matérias no ensino médio. Eu não tinha visto! Essa é
a nossa realidade. Nós trabalhamos com economia solidária,
mas esbarramos no ensino de matemática e português.
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De toda forma, esse contato deve ter trazido outras


referências. Você falou de amigos que não resistiram e...
Amigos não, mano. Meu irmão mais novo. André Oliveira de
Paula. Tinha 21 anos. Ele foi fazer um assalto a banco e a
polícia deu 11 tiros nele. Não costumo falar desses bagulhos
nas entrevistas, costumo passar por cima, mas vou abrir o
coração porque acho que isso tem de ser levado para mais
pessoas.

Como foi o baque na família?


Vai fazer quatro anos que ele morreu. Antes de acontecer,
minha mãe notou que ele estava fazendo coisa errada e foi
morar na Ilha Comprida. Não queria desfrutar daquele bagulho
que vinha do crime. Depois, se acontecesse alguma coisa, ela
também passaria a fazer parte daquilo.

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Eu também acabei indo morar com o meu pai quando vi que


ele estava nessa. Porque a gente sabe, né? A gente cola no
pancadão, a gente vai no fluxo... Tipo, a gente não faz trabalho
institucional. A Agência Solano Trindade está aberta aos
sábados, quando as ONGs fecham na quebrada. Depois de bar
e igreja, o que mais tem na periferia é ONG. Pode procurar: tem
ONG pra tudo. Você já assistiu àquele filme Quanto vale ou é
por quilo?

Não.
É um documentário do Sérgio Bianchi em que ele fala da
pobreza como mercadoria do terceiro setor. Entendeu? Pode
ver o tanto de ONG que tem aí. Só que a ONG faz o trabalho da
porta pra dentro. Da porta pra fora, ela não quer saber, não é
problema dela.

Agora, voltando ao seu projeto feito com a Artemisia.


Eu criei o Reativar e Empreender, que é um projeto de educação
ambiental e coleta seletiva. Formamos 15 jovens em agentes
socioambientais e construímos um galpão onde funcionavam
uma sala de aula e um espaço de coleta seletiva.

Está lá no Arrastão até hoje. A ideia era sensibilizar as crianças


para depois sensibilizar os pais. “Troque um lixinho por um
livrinho”, a gente dizia. Eu contava com um corpo pedagógico e
recebi US$ 40 mil da Artemisia.

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Com isso, uma parte dos jovens ficou focada na operação de


transformar o resíduo sólido em produtos — bolsas, por
exemplo. A outra parte ficou mais focada no trabalho de
educação. Depois disso, vários deles foram estudar engenharia
ambiental.

Mais tarde, aos 20 anos, você cria o Banco União Sampaio.


Em 2008, eu passo a frequentar a União Popular de Mulheres,
uma espécie de clube de mães fundado no Capão Redondo,
um ponto de cultura muito forte na periferia. Em 2009, nós
fechamos uma parceria com a incubadora tecnológica de
cooperativas populares da Universidade de São Paulo.

Foi quando surgiu a ideia de um banco comunitário. Eu já tinha


lido O banqueiro dos pobres, do Muhammad Yunus
[economista e banqueiro bengali, recebeu o Prêmio Nobel da
Paz em 2006], e pensei que era aquilo mesmo que eu queria
fazer. Isso trouxe de volta toda a história da minha mãe e a
necessidade de fortalecer a questão econômica para vencer a
violência.

Daí, além da alfabetização, das aulas de costura, de cozinha e


de outros cursos, a União Popular de Mulheres passou a ter um
banco. Assim, depois de fazer um curso, as pessoas podiam
emprestar o capital de giro no banco.

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Qual o capital inicial?


Comecei em 2012 com R$ 20 mil captados no Catarse
[plataforma de crowdfunding]. A gente tinha duas carteiras —
uma produtiva e outra para consumo. A produtiva opera em
reais, com juros de até 2%; a de consumo funciona com
Sampaio, uma moeda criada por nós, sem juros, já que é para a
pessoa que está fodida porque o dinheiro acabou antes do
final do mês e precisa comprar comida. Já giramos mais de R$
1 milhão.

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Imagens do Festival Percurso: 1. apresentação de grupo de artistas locais; 2.


cartaz inspirado na mãe de Vinícius, dona Cleunice; 3. o empreendedor e sua
esposa, Fernanda Mourão da Silva, ao lado de Mano Brown e Seu Jorge

Como foi esse começo?


O banco causou. E isso aconteceu tanto na favela quanto com
os boys. O pessoal do outro lado da ponte queria vir aqui, e
disso surgiu o Vivência Comunitária, que é um negócio de
turismo para trazer a galera para a quebrada. Quem nunca
pisou numa favela vem com a gente numa van, almoça por
aqui, vai conhecer o banco, depois vai no sarau e volta pra casa
dando risada, chapadão. Tudo em segurança. Já veio gente de
várias empresas, inclusive os trainees da IBM. Como é que
podem falar de rede sem nunca ter visto uma gambiarra? É
essa a relação que a gente faz. Quero mostrar pro mundo que
temos uma potencialidade aqui, temos inovadores e todo um
ecossistema onde a gente consegue revolucionar muitas
coisas.

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Qual a inadimplência?
É bem baixa, né, mano. Porque a gente não funciona como um
banco tradicional, das 10 às 16 horas. Nós somos executivos
da periferia. E a gente vive 24 horas nessa quebrada. Então a
gente tromba a galera na feira, de madrugada no baile funk, e
cobra. Hoje mesmo veio aqui uma mulher querendo uma ajuda
para legalizar o negócio dela. A gente nunca fala: “Não temos
financiamento, não vamos te atender”. É tão difícil mobilizar,
mano. É tão difícil ter essas pessoas do seu lado. Aqui jamais
fechamos a porta.

Como se isso fosse pouco, você começou a agenciar artistas.


Como foi isso?
O banco comunitário foi um grande treinamento para a gente
poder trabalhar um fluxo financeiro no qual a gente pudesse
financiar os nossos próprios livros, discos e roupas. Por isso,
somos o primeiro banco que empresta para a cultura de São
Paulo. Aqui estão o Sarau do Binho, Sarau da Cooperifa,
Racionais MC’s, Mano Brown, Ice Blue, Ferréz, Raquel Trindade,

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Neide Abate, Marcos Pezão... Entendeu? A periferia é muito


cultural. Vimos que investir nisso daria um bom arranjo
produtivo local.

Como é esse trabalho?


Nós temos uma carteira de artistas. Vendemos o trabalho
deles para eventos como a Virada Cultural e o Sesc. O cara
entra numa porta querendo fazer o livro e sai em outra porta
com o livro para vender. Aqui na comunidade mesmo eu
contrato o designer, o jornalista, a gráfica e encontro o local
para a venda. Assim, eu fortaleço o arranjo produtivo local. De
2012 até hoje houve um amadurecimento dessa base, tanto no
fomento, com dinheiro na mão do artista, como na produção,
com os serviços de apoio ao artista.

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De onde surgiu a ideia de agenciar os artistas locais?


Era sempre uma dor de cabeça contratar alguém na periferia.
“Ah, a gente não tem documento...”. Aqui, a gente vive tendo
enchente, então às vezes o documento do cara é perdido
assim...  Às vezes o artista não é nem MEI
[Microempreendedor individual], não tem nem CNPJ. Os
curadores dos eventos culturais viviam perguntando: “Cadê a
periferia? Cadê os índios?”. Agora, a gente tem tudo pronto
aqui.

Mais tarde, surge o Festival Percurso. Como foi isso?


O Festival Percurso é um evento que a gente realiza na periferia
e onde já tocaram Racionais MC’s, Seu Jorge, Flora Matos, Rico
Dalasam, BaianaSystem. É o nosso Rock in Rio ou Lollapalooza
da quebrada. Por que eu faço isso? Porque ninguém aqui tem
dinheiro pra pagar esses shows. Tivemos 10 mil pessoas este
ano.

Você paga algo pra eles?


Ah, eu pago, né, mano. É um evento de economia solidária,
temos de pagar todo mundo. Olha ali na parede, minha mãe
virou um cartaz [pausa]. Estou devendo até hoje para o Mano
Brown. Mas um dia eu vou pagar.

Parece que seus negócios sempre nascem com as demandas


reprimidas das periferias. Faz sentido?
Todos os negócios que estão aqui dialogam com a falta de
algo. Faz um tempo eu também criei um armazém de
orgânicos. Insisti nisso para combater os desertos alimentares
da região.

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Os desertos alimentares existem quando uma pessoa precisa


andar mais de 1 quilômetro para encontrar comida in natura.
Nós aqui não temos hortifrúti, Pão de Açúcar ou St Marche.
Aqui é preciso andar pra caralho para conseguir alface, batata
ou tapioca. A periferia vive hoje uma especulação imobiliária e
as feiras de rua estão diminuindo. Tudo aqui dialoga com uma
demanda. Não tem nada pra inglês ver.

Ao contrário, o que a gente faz é subverter a necessidade do


financiador. O investidor vem aqui com a cabeça de quem vai
investir em projetos para a sustentabilidade da camada de
ozônio e a gente pergunta: “E a enchente? E a violência? E o
direito à cidade? E a alimentação? E a geração de renda?”.

Como você vê os investidores de negócios sociais?


Existe um problema anterior, que é a falta de visibilidade dos
empreendedores da periferia, dos empreendedores negros, das
mulheres negras. Às vezes parece que nós não existimos. Por
isso, o dinheiro não chega na quebrada.

Existe um racismo institucional, um preconceito, uma


desconfiança. O dinheiro chega aqui de forma indireta. Às
vezes o dinheiro de algum fundo cai nas mãos de uma galera
que está ali na JK [avenida Juscelino Kubitschek, na região
onde está a elite do capital financeiro] e diz representar a
periferia.

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Daí esse pessoal me liga pedindo ajuda para entrar na periferia.


Às vezes a gente está fodido, precisa pagar o aluguel e acaba
aceitando. Mas é com dor no coração. Por que o dinheiro não
vem direto pra cá? O pessoal dos coworkings de São Paulo
vive no ar condicionado, mas vem prototipar seus negócios
aqui. Daí, nós viramos objeto e acabamos fazendo figuração
nas apresentações deles.

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MEU BAIRRO, MINHA VIDA Com o Vivência Comunitária, Vinícius faz um tour
pelos projetos socioculturais da zona sul de SP

De que forma você sente esse racismo institucional?


Tem fundo social que ninguém da periferia consegue acessar.
Tipo, periferia nenhuma. É só uma turma que já vem de uma
classe preestabelecida, que já vem com domínio de finanças,
planilhas, apresentação, site, tudo pronto.

Outro dia tentei participar de um edital, mas não conseguimos


responder nenhuma pergunta. Só tinham perguntas
sofisticadas. Só quem tem aquela planilha, aquele inglês e
aquele francês vai conseguir. E esses grupos não te preparam,
não se preocupam com a questão da acessibilidade, não
fazem nenhuma oficina pra você.

Por isso, são sempre os mesmos que são apoiados pelos


fundos. Você tem de desconfiar de quem tem uma boa
apresentação. Às vezes o cara tem uma puta apresentação,
mas não tem a base. Nós não temos a apresentação da hora,
mas temos o trabalho louco.

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Você segue algum indicador? Como sabe se as coisas estão


indo bem ou mal?
Eu olho a autoestima da periferia, mano. O fato de você estar
vindo aqui hoje e chegar bem, por exemplo. Você não ia
conseguir fazer isso na década de 90. No mínimo, alguém ia te
trombar ali, perguntar o que você está fazendo aqui.

Hoje não, você está numa quebrada livre, linda, que tem uma
juventude com orgulho de falar que é do Capão Redondo e do
Campo Limpo. Uma juventude que veste boné do Capão. Você
não vê um cara com boné de Higienópolis, vê? Tive outro
indicador com o Festival Percurso, quando veio muita gente do
Centro para a periferia. Eu amei ver outros rostos aqui! Isso
reforça a ideia de uma periferia conectada e global.

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Queremos uma visão empoderada da cidade. Quero que o


Capão Redondo seja meu, assim como quero que o Jardim
Europa também seja. Da mesma forma, eu quero que o cara do
Jardim Europa sinta que o Capão também é dele e que, quando
alguém morrer numa chacina aqui, ele sinta que também
perdeu alguém com aquele crime.

Onde você busca referências? 


O que me forma são as letras do Racionais Mc’s, os livros do
Ferréz, os poemas do Sérgio Vaz, o Sarau do Binho... Além
disso, hoje eu estudo ciências sociais na FESPSP (Fundação
Escola de Sociologia e Política de São Paulo). Estou no
primeiro semestre.

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Qual a sua leitura, na posição de empreendedor, ativista e


cidadão, do momento atual?
Eu faço parte de uma periferia que só me dá orgulho. É uma
periferia que emociona, que a gente ama e de que temos
orgulho. Bem diferente do que mostra o noticiário de Brasília,
que faz a gente sentir vergonha de ser brasileiro.

Você vê o noticiário e é delação atrás de delação, roubo atrás


de roubo, e a gente é que paga essa conta social. É muito
triste. O tensionamento que o capitalismo gera na cidade é
distensionado nas periferias. Quando as pessoas se conectam
com a gente, é uma lavagem de alma. Elas dizem: “Não
acredito que vocês estão fazendo isso com tão pouco
recurso”.

Como a periferia vive a crise?


Hoje está bem difícil, mas a gente busca empreender, vender
pastel, cerveja, roupa. Porque a política deu um baile na gente,
e isso em todas as classes sociais. Algumas pessoas deixam
de trocar de carro, de comprar uma bolsa ou de fazer uma
viagem. Para nós, a piora econômica tem um acentuamento
muito forte. A gente está se fodendo. Mas a gente não vai
fechar a porta. A gente vai empreender até os últimos dias.

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