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Direito Económico

25-09-2012
Atendimento: Quarta 19:00- 20:00
Contacto: Filomena.carvalho@ipleiria.pt
Bibliografia Direito Económico, Carlos dos Santos 2011 6ª edição
Legislação: Constituição da República Portuguesa
Tratado de Lisboa (TFUE + TUE)
Republicação do Decreto-Lei n.º 558/99 de 17 de Dezembro
Decreto-Lei 10/2003 de 18 de Janeiro

Introdução
Direito e Economia
 O Direito Económico (D.Eco) surge com uma proximidade cada vez maior entre o
Estado e a economia
 Devemos então considerar:
o Uma Ordem Jurídica
 Conjunto de normas e princípios que regulam as relações no contexto
do estado de Direito (no nosso caso um Estado democrático e social
de direito)
o Uma Ordem económica
 Relações que se estabelecem entre agentes económicos em função da
produção e da distribuição da riqueza
 Surge então a expressão “ Ordem Jurídica da Economia”
o São regras jurídicas e princípios aplicáveis á esfera económica. Isto é, um corpo
de normas que tem como objeto assegurar um certo regime económico
o No caso Português as nossas normas orientam-se num sentido neo liberal e
capitalista
 Abrange então formas de organização e ordenação pública da economia nacional e
internacional

Direito Económico:

Como uma disciplina jurídica


 Vai abordar as relações entre o direito e a Economia
 Economia e Direito são consideradas no âmbito das ciências humanas e sociais, pois
estão sujeitos a fenómenos sociais
 São interdependentes, conexas e dotadas de uma relativa autonomia entre si
Parte económica Parte Jurídica
 Produção  Empresa
 Distribuição  Trabalhadores
 Circulação 
 Consumo  Consumidores

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Direito Económico

Como um ramo do Direito


 Existe uma divergência doutrinal no que toca a considerar o D.Eco como um ramo de
Direito
 Assim surgem 3 correntes doutrinais:
o Parte da doutrina nega linearmente pelo facto de o D.Eco ir buscar bases a
vários ramos do direito, não considerando assim este como autónomo
o Outra parte da doutrina considera o D.Eco como uma nova organização
sistemática, e como tal ainda não tem características para ser um ramo
autónomo de Direito
o Por fim existe uma fação doutrinal que considera o D.Eco como um ramo
autónomo do Direito, baseando-se para tal em fundamentos:

Fundamentos da autonomia do Direito Económico


 Os mercados atuais, não são produtos do funcionamento automático das leis
económicas
o Os mercados são influenciados por esferas de ordem social, política, jurídica e
económica
o Não se regulam automaticamente, mas são antes controlados por um
conjunto de normas, princípios e instituições que regem a organização e
direção da atividade económica
o A existência desse conjunto de normas, instituições e princípios são
fundamentais para limitar, condicionar e incentivar a economia
 Multiplicação e complexificação dos agentes económicos
o Presentemente nem só as entidades públicas produzem normas, também as
entidades privadas passaram a produzir normas por delegação pública
 Complexidade das relações entre o sistema económico e os sistemas jurídico e
político
o Controlo ou subordinação do poder económico ao poder político?
 Especial relação entre a Economia e o Direito
o Esta relação leva à necessidade de juridificação de muitos conceitos
provenientes das disciplinas económicas, para os quais os ramos tradicionais
de direito não dão resposta suficiente
 Profunda internacionalização e/ou regionalização dos fenómenos económicos
o Existe um transcender dos espaços delimitados por fronteiras politico-
jurídicas, obrigando a um apelo do Direito internacional
 Esbatimento entre Direito Público e Direito Privado
 Privatização da regulação da justiça
o Criação de resoluções alternativas de litígios
o A arbitragem, a mediação e a conciliação

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Direito Económico

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Comparação entre o Direito Económico e os ramos de Direito tradicionais

Ramos tradicionais:
 Estão codificados: CRP, CC, CP, etc.
 Tem autonomia processual, ou seja dispõe de legislação específica a nível processual
o CPA, CPC,CPP
 Têm magistratura específica

Direito económico
 Carece das características supra
 É um ramo específico, dado que se encontra em desenvolvimento e que procura o
equilíbrio entre o Direito e a economia em função da nossa realidade atual
 Extremamente permeável á realidade social

Evolução histórica do Direito Económico e da disciplina do Direito


Económico
Fase I
 Surge no século XX, mais propriamente após a II Grande Guerra
 Surge com a necessidade sentida pelos Estados na regulação da economia de mercado
 Aparecimento do Estado de previdência
 Pressões de agentes económicos insatisfeitos levam a uma maior intervenção do
Estado
 Observa-se nesta fase:
o Um aumento do papel do Estado na economia
o A passagem de um capitalismo de concorrência perfeito para um capitalismo
organizado

Fase II – década de 80
 Ao surgir de críticas devido á intervenção Estadual na economia dá-se um retrocesso
na intervenção do Estado
 Promoção de algumas alterações na intervenção pública na economia
 Defesa do livre jogo de forças de mercado com o surgimento do neoliberalismo

Fase III - Atualidade


 Aparecimento das privatizações, com formas diferentes de regulação da economia
o Aparecimento de entidades privadas e semipúblicas que fazem essa mesma
regulação
o Levanta-se a questão de quem regula os reguladores
 Substituição da produção pública direta de bens e serviços pela sua contratação a
entidades privadas, mantendo-se no entanto o financiamento público (PPP)
 Novas formas de gestão dos serviços públicos orientados por critérios empresariais
 Internacionalização das economias
o FMI, EU, BCE, etc.
 Privatizações com o objetivo de financiamento do Estado

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Direito Económico

 Crise financeira, economia global e crise das dívidas soberanas

Discussões centrais do panorama atual jurídico económico


 Relação do Estado com a economia
 Reconfiguração dos modelos regulativos nacionais
 Insuficiência das atuais instituições internacionais no domínio económico, financeiro e
comercial
 Incapacidade de alguns Estados para responder às exigências de transparência política,
de confiança dos cidadãos e solidariedade

Natureza do Direito Económico


 O D.Eco é um Direito predominantemente público de origem Constitucional,
administrativo e penal.
 No entanto dada a crescente privatização da esfera pública e publicização da esfera
privada confluem para o D.Eco normas de Direito público e normas de Direito privado
 No D.Eco constata-se um apagamento da distinção público/privado que não põe em
causa a sua autonomia, mas que contribui para a sua diferenciação relativamente a
outros ramos de Direito

Disciplina do Direito económico

Origem e desenvolvimento
 Toma corpo primeiramente na Alemanha, sob a Constituição de Weimar
 Exportado inicialmente para a França e posteriormente para outros países de cultura
jurídica próxima, na Europa e fora dela

Natureza
 Para a generalidade dos seus cultores o D.Eco é uma nova disciplina com identidade
própria
 Para outros está-se perante uma simples adaptação de diversas disciplinas
tradicionais, não devendo ser considerada uma disciplina de estudo autónoma

Objeto
 Estuda a ordenação e regulação específica da atividade económica pelos poderes
públicos ou privados quando têm capacidade para emitir regras vinculativas para os
agentes económicos

A interdisciplinaridade no estudo do Direito Económico


 Existe uma interdisciplinaridade interna no Direito Económico
 Considera-se que ultrapassa o campo jurídico, devido ao especial peso que os temas e
problemas económicos assumem nesta disciplina
 Existe uma certa tensão entre valores quantitativos/económicos
o Eficiência, eficácia, relação custo-benefício, concorrência
 E valores jurídicos ou valores extra económicos juridicamente protegidos
o Segurança social, justiça social, direitos dos trabalhadores, solidariedade
 O D.Eco está “vivo” devido a esta tensão supra, devido à constante luta e evolução
destes valores

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Direito Económico

 O D.Eco como disciplina jurídica não pode proteger interesses especificamente


económicos
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Fontes do Direito Económico


 Grande parte do D.Eco assenta em normas com origem nas autoridades públicas, mas
também normas provenientes de entidades ou instituições privadas desprovidas de Ius
Imperii
o Estas (de entidades ou instituições privadas) têm como objetivo a regulação de
práticas económicas, negociais e profissionais com particular relevância para
os códigos de conduta
o Aplicam-se através de mecanismos privados de arbitragem sustentados por
sanções informais extrajurídicas
o Ex: ordem dos advogados

Tipos de fontes tradicionais


 Internas
o CRP, que constitui a essência da Constituição Económica (Cec)
o Leis 1, Decretos-lei e Decretos legislativos regionais
o Regulamentos do Governo
o Regulamentos autónomos municipais
o Normas e princípios de Direito internacional geral que integram o Direito
Português
 Internacionais
o Convenções de Direito internacional a que Portugal esteja vinculado (OCDE,
FMI, OIT)
o Direito originário: Tratados que instituíram ou modificaram a CE e a UE (ex.
Tratado LX)
o Direito derivado (regulamentos, diretivas e recomendações)

Fontes de origem mista


 Regulação de índole pública
o Decisões, acordos, pareceres emanados das organizações de concertação
económica e social
 Regulação de natureza mista ou privada
o Regulamentação das atividades económicas pelas Associações profissionais
 Decisões internas e códigos de conduta
o Usos da atividade económica internos ou internacionais (Ex: CGG)
o Decisões vinculativas dos grupos de sociedades

Doutrina e jurisprudência
 Relativamente às ações jurisprudenciais quando inovadoras, permitem cristalizar
correntes pelo que são um grande contributo para a construção de princípios gerais de
D.Eco nacional e Europeu
o TJUE, TC, STA, STJ
1
Lei diretriz/lei do plano e a Lei medida que se aplica a um número limitado de casos

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Direito Económico

o Esta realidade é aplicável também à influência da doutrina


o Não esquecer a crescente importância , dos contributos:
 Mecanismos de resolução alternativa de conflitos
 Jurisdição dos Tribunais especiais (x: Tribunal do comércio)
 Decisões dos órgãos da Administração Económica (Ex: Autoridade
concorrência)

Hierarquia das fontes


 Princípios e regras centrados na CRP
 Convenções internacionais (Tratados e Acordos)
 Leis (L, DL,DLR)
 Regulamentos do poder executivo ou do poder local

 O estabelecimento da hierarquia complica-se ao introduzir na mesma, o Direito


originário e derivado da EU (acima, ao lado ou em baixo da CRP?)

Principais caraterísticas do Direito Económico


Dispersão e heterogeneidade das suas fontes
 Manifestada na diversidade das suas proveniências
 É um Direito não codificado

Mobilidade
 Manifestada pela sua grande permeabilidade às mudanças sociais e políticas
 E também pela sua ligação às politicas económicas, estruturais ou conjunturais

Ampliação do âmbito das fontes tradicionais


 Inclusão das leis-medida, leis-plano, atos-incentivo, etc.
 Novas fontes como os códigos de conduta, os acordos de concertação

Certa privatização das suas fontes


 Auto regulação pelas entidades privadas

Declínio da coercibilidade
 Predominância de normas de conteúdo positivo sobre as de conteúdo negativo
 Diminuição dos efeitos da nulidade dos negócios

Direito recente
 O que leva à divisão doutrinal anteriormente referida

Direito hibrido
 O D.Eco não se apresenta como um ramo do Direito público ou privado, uma vez que
se ocupa das relações públicas ou privadas entre entidades privadas, entidades
públicas ou entre entidades públicas e privadas

Três aspetos a considerar para a construção do objeto do D.Eco


 Regulação proveniente das autoridades públicas (Estado, instituições internacionais)
 Relações entre particulares
 Relações concertadas ou negociadas entre o Estado e os particulares

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Direito Económico

Constituição económica

Noção:
 Conjunto de regras e princípios Constitucionais relativos à economia, também
designada como “Ordem Constitucional da Economia”
 É a parte da Constituição do Estado onde se encontra o ordenamento essencial da
atividade económica desenvolvida pelos indivíduos, pelas pessoas coletivas ou pelo
Estado (formalmente)
 Ordenamento este constituído por:
o Liberdades, direitos e deveres
o Normas e princípios relativos à organização económica
o Normas e princípios relativos às competências económicas dos poderes
públicos
 A Constituição económica (Cec) contém normas estatutárias de garantia visando
proteger a O.J. económica
 Tratam-se também de normas diretivas ou programáticas que apontam princípios e
linhas de evolução
 Estas normas estatutárias:
o Conferem direitos
o Enumeram restrições
o Colocam á disposição dos Estados e das suas instituições, instrumentos que
permitem regular o processo económico assim como definir objetivos

Constituição económica e ordem jurídica económica


 A Cec é menos ampla que a OJE, pois inclui somente as normas e princípios
fundamentais, enquanto que a OJE vai incluir todos os princípios e normas
 Existem dois tipos de CEC
o Dirigente: aquela que diminui o papel autónomo do legislador vinculando-o a
soluções constitucional pré definidas
o Programática ou de enquadramento: aquela que potencia o papel do
legislador deixando um impotente espaço para adaptação da ordem
económica em função dos resultados da luta política democrática
 Consideremos o caso de Portugal como uma CEC hibrida, pese embora a Constituição
de 1976 seja considerada programática.

A Constituição económica na história das Constituições


 Qualquer abordagem à CEC, acompanha o desenvolvimento da regulação pública, das
economias de mercado, na passagem do capitalismo concorrencial ao capitalismo
organizado
 Nas Constituições liberais do Século XIX verifica-se a existência da uma CEC, pese o
facto de o Estado se demitir de uma ação corretiva na economia aceitando como
princípio da regulação económica a propriedade privada, a livre concorrência e a
liberdade contratual
 A constituição de Weimar introduz pela primeira vez uma seção especialmente
dedicada ao enquadramento da vida económica

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Direito Económico

09-10-2012

A Constituição económica na história das Constituições portuguesas


1933
 Esta Constituição consagrou pela primeira vez o princípio da hétero regulação do
mercado
 Previsão de um modelo corporativo que reconhecia a necessidade de intervenção dos
poderes públicos com carater subsidiário e corretivo
 Defesa do princípio protecionista da economia nacional

1976
 Constituição claramente compromissória
 Consagra uma economia orientada para o desenvolvimento e aberta ao exterior,
corrigida pela intervenção do estado democrático de Direito
 Caracterizava-se por três aspetos fundamentais
o Garantia do direito dos trabalhadores
o Concilia o planeamento e a concorrência
o Afirma o projeto socialista

A atividade e organizações económicas na CRP 76

Texto originário da CRP


 Teve como fim garantir as transformações revolucionárias de 1974, nomeadamente:
o Desmantelamento de organizações corporativas
o Eliminação de monopólios privados e dos latifundiários e consequente maior
importância ao setor público e cooperativo
o Reconhecimento dos direitos económicos e sociais dos trabalhadores
o Transição para o socialismo
o Coexistência de três setores da atividade económica e de três tipos de
iniciativa
 Pública
 Privada
 Cooperativa e social
o Reconhecimento do princípio do controlo democrático
o Reconhecimento da intervenção dos trabalhadores na vida da empresa

Principais características das revisões constitucionais


1982
 Esbatimento das normas programáticas de conteúdo socialista
 Atenuação da intervenção pública na economia
 Maior consideração conferida à iniciativa privada

1989
 Atenuou as nacionalizações
 Atenuou o regime da reforma agrária
 Suprimiu o objetivo do desenvolvimento da propriedade social

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Direito Económico

 Foram retiradas as expressões: “ sociedade socialista e sociedade sem classes”


 Manteve-se a referência á “democracia económica” e “ aprofundamento da
democracia participativa” art.2º CRP, in fine
1992
 De caracter extraordinário
 Permitiu a ratificação do Tratado de Maastricht

1997, 2001 2004 e 2005


 Sem alterações relevantes a nível da CEC

 Em síntese, as alterações constitucionais conferiram maior flexibilidade á Constituição,


na medida em que foram reforçados o setor privado e a iniciativa privada, também se
alargou a possibilidade das formas de apropriação e de regulação por parte do estado

Constituição económica atual


Modelo de economia
 Podemos caraterizá-lo como uma economia social de mercado, economia mista e
economia concertada
 Este modelo procura estabelecer um equilíbrio entre:
o Economia de mercado
 Liberdade de empresa
 Propriedade privada
 Favorecimento da concorrência
 Definição da posição central do setor privado no processo económico
 Permitem-se as (re) privatizações
o Interesse público e social
 Para garantir a democracia económica e social, A CRP consagra os
princípios da organização económica e social no art.80º CRP –
princípios fundamentais
 Atribuição ao Estado de incumbências em matérias de orientação e
controlo para a atividade económica (regulação pública em alguns
casos)
 Salvaguarda dos direitos fundamentais dos cidadãos na esfera
económica
 Redistribuição da riqueza
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Constituição económica no texto na CRP


 As normas, princípios e instituições que integram a CEC distribuem-se por diferentes
partes no texto da CRP
o Princípios fundamentais: destacamos os art.2º e 9º
o Direitos e deveres fundamentais
 Direitos, liberdades e garantias dos trabalhadores: art.53º e ss
 Direitos e deveres económicos e sociais: art.63º e ss

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Direito Económico

o Normas de organização económica: art.80º e ss


o Normas de organização do poder político: art.108º e ss

Direitos e liberdades fundamentais


 Direitos, liberdades e garantias
o Trata-se de direitos que definem a posição jurídica do individuo ou de
organizações económicas e sociais perante o Estado
 Direitos e deveres sociais e culturais
o Encontram-se sobretudo os direitos de indivíduos ou de organizações a
prestações positivas por parte do Estado

Sistema de economia de mercado


 O que aqui está em causa é que a atividade económica em Portugal depende
essencialmente da capacidade dos indivíduos para organizarem a produção e a
distribuição de bens ou serviços
 Existem três princípios básicos do funcionamento da economia de mercado que a
Constituição garante e explicita:
o A propriedade
 Garante a fruição e a disposição dos bens
o A iniciativa privada
 Garante a possibilidade da livre composição dos bens e utilização
produtiva
o A livre concorrência
 Abrange a concorrência potencial e efetiva

A propriedade privada:
 Noção e conteúdo – art-62º e ss
o Como Direito económico, o direito de propriedade abrange sobretudo os
meios de produção
o O direito de propriedade privada inclui quatro componentes:
 Direito de adquirir
 Direito de usar e usufruir
 Direito de transmitir
 Direito de não ser privado da propriedade
 No entanto observamos restrições a estes componentes:
 Existem bens insuscetíveis de apropriação privada enumerados no
art.84º. É uma reserva da propriedade pública
 Condicionamentos ao uso e fruição por razões ambientais ou de
ordenamento do território, etc.
 Previstos na CRP e também noutra legislação
 A liberdade de transmissão pode estar limitada por direitos a favor de
terceiros
 Direitos de preferência, herdeiros
 Restrições ao direito de não ser privado da propriedade devido à
possibilidade de requisição ou expropriação por utilidade pública
 Art.62º,nº2 e 83º CRP

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Direito Económico

 Notar que não existe homologia entre propriedade privada e setor privado
o Este último não abrange todos os bens cujo titular seja uma entidade privada,
visto que estes podem pertencer ao setor cooperativo ou mesmo pertencer a
uma entidade pública

A iniciativa privada
 Noção e conteúdo – art.61º CRP
o O direito de iniciativa privada é um direito económico independente
do direito de propriedade
o No entanto goza de idêntica proteção constitucional – art.17º e
18º,CRP
o Traduz a possibilidade de exercer uma atividade económica privada
através da liberdade da criação de empresas e da sua gestão
o Compreende:
 Liberdade de investimento ou acesso
 Consiste no direito da escolha da atividade económica
a desenvolver
 Liberdade de organização
 Consiste na liberdade de determinação do modo como
a atividade vai ser desenvolvida
 Liberdade de contratação
 Consiste na liberdade de estabelecer relações jurídicas
e de fixar, por acordo, o seu conteúdo
 Esta liberdade de iniciativa privada não é reconhecida pela CRP em termos
absolutos tendo restrições que se justificam pela necessidade de proteção do
interesse público ou de terceiros.
o Possibilidade de se estabelecer reserva a favor do setor público:
art.86º,nº3
o Disciplina do investimento estrangeiro – art.87º
o A lei configura os tipos de sociedades comerciais
 Só podem existir as previstas na Lei
o Proibição de monopólios privados
o Restrições impostas pela CRP, relativamente á proteção dos
trabalhadores
 Art.53º CRP

16-10-2012

Outras formas de iniciativa

A iniciativa cooperativa
 Noção e conteúdo
o A iniciativa privada abrange a possibilidade de criar cooperativas, a liberdade
de as gerir e a liberdade de contratação inerente a essa gestão- art.61º CRP
o Para o reconhecimento à iniciativa cooperativa, a CRP exige que sejam
observados os princípios cooperativos internacionalmente reconhecidos
 Restrições
o As restrições à iniciativa privada são extensivas à cooperativa

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Direito Económico

o Acrescenta-se a impossibilidade de acesso a determinados setores da


atividade económico reservada ao setor público

A iniciativa autogestionária
 Noção e conteúdo
o Trata-se do direito dos trabalhadores reivindicarem relativamente a bens ou
empresas do setor público, a possibilidade de serem os próprios trabalhadores
a responsabilizarem-se pela sua gestão – art.61º,nº5 CRP
 Restrições
o Não tem sentido prático, pois não tem leis que concretizem este princípio
constitucional

A iniciativa pública
 Noção e conteúdo
o Traduz-se na criação de empresas públicas em sentido amplo ou na
participação no capital de empresas privadas
 Restrições
o Não se conhece qualquer restrição em matéria de acesso a qualquer setor ou
ramos de atividade económica, nem está sujeita ao princípio constitucional da
subsidiariedade

Os direitos sociais, económicos e culturais como limites da atividade económica


 Em termos gerais estes direitos visam dois objetivos:
o Assegurar aos indivíduos as condições materiais tidas como imprescindíveis
para o gozo das suas liberdades e direitos assim como a satisfação das suas
necessidades como pessoas
o A efetivação destes direitos tende a exigir do Estado intervenções na ordem
social segundo critérios de justiça distributiva, sobretudo os direitos sociais
que dependem da ação pública para a sua realização
 Devemos então analisar os seguintes direitos como limite à atividade económica

Direitos dos trabalhadores


 Devemos entender trabalhador como aquele que mediante o pagamento de uma
remuneração se torna agente de produção ou distribuição de bens ou serviços por
conta de outrem
 Estes direitos são reconhecidos:
o Em sede de direitos e liberdades fundamentais – art.53º a 57º da CRP
o Em sede de direitos e deveres económicos – art-58º e 59º da CRP
 O direito ao trabalho (art.58º CRP) deve ser entendido como um direito de prestação
positiva por parte do estado, consistindo no desenvolvimento de políticas que
asseguram o máximo de emprego possível e a igualdade de oportunidades e também
de formação específica e genérica
o Não se trata de um direito subjetivo adstrito a um determinado posto de
trabalho

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Direito Económico

Direitos dos consumidores


 A crescente importância da proteção jurídica aos consumidores está ligada a
diferentes fatores de ordem económica e social
o Verifica-se a cada vez maior sofisticação dos modos de captação de clientela
o Concentração dos espaços de distribuição em grandes superfícies
 Isto leva a um aumento da distância entre consumidor e vendedor
o Maior complexificação e globalização das formas de organizar a produção
 Estes direitos do consumidor estão reconhecidos no art.60º CRP, englobando
o Direito á informação
o Direito á reparação de danos
o Direito á participação às associações de consumidores
 A proteção do consumidor pode ser perspetivada segundo quatro eixos
o Proteção do consumidor contra práticas comerciais desleais e abusivas
 Lei que regula as CCG por exemplo
o Informação, formação e educação do consumidor
 Dever do Estado de contribuir para promover essa formação e
educação
o Representação, organização e consulta
 Direitos reconhecidos às organizações de consumidores
o Os direitos que têm como objetivo protegerem o consumidor contra produtos
defeituosos e perigosos

Direito ao ambiente
 O direito ao ambiente constitui uma ação positiva por parte do Estado no sentido de
controlar e defender as ações poluidoras
 Art. 66º Nº1 e 2 CRP
 Constitui assim um dos limites ao livre exercício da atividade económica
 São obrigações do Estado:
o Preservação dos espaços naturais
o Intervenção nos espaços degradados
o Ordenamento da implantação urbana e industrial e da exploração agrícola e
florestal
o Proibição de ações atentatórias ao ambiente por parte do Estado e de
terceiros
 A CRP destaca o dever de defender, o qual também vincula os particulares

Direito á proteção de dados pessoais informatizados


 Inserido na CRP o art.35º que reconhece a proteção de dados como direito
fundamental dos cidadãos
 Isto surge devido ao uso crescente do computador e de redes de comunicação

Princípios básicos do setor cooperativo


 No art.82º CRP verificamos a existência do princípio da coexistência e onde também
consagra a existência do setor cooperativo
 A definição de cooperativa dada pelo código compreende “ as pessoas coletivas
autónomas de livre constituição, de capital e composições variáveis, que, através de

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Direito Económico

cooperação e entreajuda dos seus membros, com obediência aos princípios


cooperativos, visam, sem fins lucrativos, a satisfação das necessidades e aspirações
económicas, sociais e culturais dos seus membros
 Princípios básicos do setor cooperativo:
o Filiação voluntária
o Organização democrática
o Repartição equitativa de excedentes ou cooperantes
17-10-2012

O setor público
 Está regulado no DL 558/99 de 17 Dezembro
 Estamos perante o Setor empresarial do Estado (SEE) constituído por:
o Empresas públicas propriamente ditas
o Empresas participadas (o Estado participa na gestão dessas empresas,
correspondendo um mínimo de 51%)
 Compreende os institutos públicos, as empresas públicas, sociedades de capitais
públicos ou mistos
 Estas últimas desde que maioritariamente controladas pelo Estado, tendo este a
maioria dos órgãos de gestão

Do Estado produtor ao Estado regulador


De 1974 a 1988
 O SEE ou setor público produtivo tem um importante peso económico, político e social
 Era constituído fundamentalmente pelas empresas direta ou indiretamente
nacionalizadas, posteriormente transformadas em empresas públicas
 Período marcado por dois preceitos constitucionais:
o O princípio da irreversibilidade das nacionalizações
o Proibição do acesso do capital privado aos setores básicos da economia

Após a revisão Constitucional de 1989


 Fim do princípio da irreversibilidade das nacionalizações
 Reservas a favor do Estado mantém-se mas permite-se a concessão desses setores
o Art.86º,nº3 CRP
 Setor público empresarial mais reduzido
 Há um recuo de Estado empresário por via das privatizações

Reforço do Estado regulador


 Definimos regulação como:
o A privatização de grande número de empresas e a abertura do setor privado a
setores que anteriormente lhe eram vedados originou novas regras e
instâncias de regulação
 São objetivos da regulação
o Defesa da concorrência
o Assegurar a quantidade e qualidade de bens e serviços de interesse geral
o Regulação pública das atividades económicas tendo em atenção os riscos para
a saúde, segurança ou meio ambiente

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Direito Económico

 Esta regulação do Estado assenta:


o Numa regulação do risco: priveligia a defesa dos valores sociais suscetíveis de
entrar em conflito com a proteção do mercado
o Numa regulação económica dos mercados financeiros: que obedece a uma
lógica económica, de proteção das atividades económicas e da concorrência
 Em síntese a redução da importância do SEE corresponde a um reforço do Estado
regulador, que para alguns autores configura um novo paradigma de ação do Estado
na economia influenciado por correntes neo liberais

Regulação de natureza geral


 A CRP contempla um vasto conjunto de tarefas de regulação económicas por parte do
Estado onde devemos observar três aspetos em destaque:
o Competências genéricas
o Defesa da concorrência
o Planeamento

Competências genéricas
 Abrange a efetivação dos direitos fundamentais – art.81º h) l) e) CRP
 Constituem fundamentalmente direitos a ações positivas por parte do Estado
 Promove a orientação e controle da atividade económica – art.81º c) d) g) j)CRP
 Promoção da solidariedade (redistribuição dos rendimentos, melhoria da qualidade de
vida de todos os cidadãos, sobretudo os mais desfavorecidos) – art.81º a) b) d)CRP

Defesa da concorrência
 Neste caso o Estado deve proceder ao controlo dos monopólios privados e tem a
obrigação de proteger as PMEs
 Deve assegurar uma política de diversificação de mercado do ponto de vista dos
sujeitos que nela atuam
 Art.81º f) CRP

Planeamento
 É uma das formas de orientação do mercado e tem como objetivo promover o
desenvolvimento económico e social
 Dar orientações das atividades económicas pelo poder político permite a
democratização do sistema económico
 Art.90º a 92º CRP

Políticas de regulação monetárias e financeiras


 Conjunto de normas e princípios fundamentais que se referem a:
o Políticas monetárias
o Políticas financeiras
o Políticas creditícias

Políticas monetárias
 Importa referir que para que o sistema financeiro possa funcionar é necessário a
definição do sistema monetário
 Competência reservada à AR nos termos do art.165º nº1 o)

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Direito Económico

Políticas financeiras
 Importa referir o art.101º e ss CRP abrangendo esta norma as instituições monetárias
e financeiras, nomeadamente o sistema bancário, instituições de crédito e sociedades
financeiras
 Justifica-se a sujeição destas entidades a um regime específico de controlo estadual e
de regulação pública precisamente pela relevância social e económica dos fins que
estas entidades prosseguem

Políticas creditícias
 Menor atenção dispensada pela CRP
 Limita-se a consagrar a necessidade de autorização parlamentar sobre a forma de Lei –
art.161º h) e 166º,nº3 para que o Governo realize operações passivas ou ativas de
crédito

A proteção do ambiente
 A CRP consagra o direito do ambiente (art.66º)
 Importa que sejam tomadas medidas para que o direito seja eficazmente realizado
 A defesa da natureza do ambiente, a preservação dos recursos e do ordenamento do
território é tarefa do Estado – art.9º e)
 Destaque-se o caráter transversal deste campo de regulação pública que se manifesta
no princípio de integração de objetivos ambientais nas várias políticas de âmbito
setorial.

As políticas públicas gerais e setoriais


 São consideradas políticas públicas gerais:
o A política orçamental
 Art.106º,nº1; 107º;162ºd); 164º r) CRP
o A política fiscal
 A CRP procura estabelecer um equilíbrio entre:
 Os valores de certeza e segurança, estabelecendo o princípio
da auto tributação
 Os valores de justiça fiscal, figurando implicitamente na CRP o
princípio da igualdade tributária, formal e material
o A política laboral
 São consideradas políticas públicas setoriais
o A política agrícola
o A política comercial
o A política industrial
o A política monetária e financeira
23-10-2012

Órgãos de definição da política económica


O Governo
 É ao Governo que cabe, em grande medida, a definição da política económica
 Art.182º e ss CRP

XL Página 16
Direito Económico

A Assembleia da República
 Existem limitações ao Governo, pelas competências reservada s à AR
 Art.147º e ss, CRP

Os Governos e as Assembleias legislativas regionais


 A política económica especifica para as Regiões autónomas, cabe aos órgãos regionais
 Art.227º CRP

A Constituição económica Europeia


 A partir da adesão de Portugal à União Europeia (anteriormente CEE) , passou a estar
vinculado ao Direito originário e ao Direito derivado da EU

Objetivos, instrumentos e princípios


Objetivos
 Existem dois tipos de objetivos consagrados no art.3º TUE e no seu preâmbulo
 A relação entre estes dois tipos de objetivos é complexa, difícil e vai se ajustando
enquanto a realidade vai acontecendo
o Objetivos de dimensão social e política
 Pleno emprego e um elevado nível de proteção social
 Igualdade entre homens e mulheres
 Elevado nível de proteção e da melhoria da qualidade do ambiente
 Aumento do nível e da qualidade de vida
 Coesão económica e social, e a solidariedade entre os EM

o Objetivos económicos
 Desenvolvimento harmonioso, equilibrado e sustentável das
atividades económicas
 Crescimento sustentável não inflacionista
 Alto grau de competitividade e de convergência dos comportamentos
da economia

Princípios
 Jurídico – políticos
o Princípio da competência da atribuição
o Princípio da solidariedade
o Princípio da não discriminação
o Princípio da proporcionalidade
 Jurídico- económicos
o Unidade de mercado
o Liberdade de circulação
o Concorrência
 Pós Tratado de Maastricht
o Princípios de uma economia de mercado aberto e de livre concorrência –
art.119º,nº1 e 127º,nº1 TFUE

XL Página 17
Direito Económico

o Princípios orientadores relativamente a preços estáveis, ás finanças públicas,


ás condições monetárias sólidas e à balança do pagamento sustentável –
art.119º,nº3 TFUE
o Princípio da subsidiariedade – art.5º,nº3 TUE
o Princípio da não discriminação – art.2º TUE; art.18º TFUE
o Princípio da liberdade económica – art.28º,29º, 45º TFUE

Áreas e instrumentos de ação


 Devemos considerar o Direito originário e o Direito derivado como instrumentos e
baseado neles é possível elencar áreas e instrumentos de ação
o Mercado interno (MI)
 Anteriormente falava-se em mercado comum
 Art.3º,nº3 TUE
 O mercado interno é considerado um método de integração
económica negativa porque assenta numa base mais liberal e menos
dirigista
 Definimos MI como:
 Espaço sem fronteiras internas
 Juridicamente assegurada a livre circulação de pessoas,
mercadorias, serviços e capitais
 Eliminação de discriminações, de restrições e obstáculos ao
livre movimento de mercadorias e fatores de produção –
art.26º,nº2 TFUE
o União económica e monetária (UEM)
 A UEM é a expressão de um método de integração económica
positiva, isto é, menos liberal e mais dirigista
 Constitui a fase mais avançada do atual processo de integração
 A política monetária é levada a cabo por uma instituição autónoma
(BCE)
 A governação económica é conduzida pela Comissão, pelo Conselho e
pelo PE
o Cooperação interestadual
 Surge nos domínios da competência exclusiva da UE e quando se
aplica o princípio da unanimidade nas decisões do Conselho –
art.114º,nº2 TFUE
o Coordenação de políticas dos Estados membros
 É acionada por instrumentos jurídicos como as recomendações, as
orientações e linhas de ação
 A aplicação destes instrumentos políticos e jurídicos depende de
outros instrumentos
 De natureza financeira
o Orçamento anual da UE e os fundos estruturais
 De natureza administrativa
o Funcionários e as instituições

XL Página 18
Direito Económico

Delimitação das competências de intervenção da EU perante os EM


 NO TLX surge o princípio das competências de atribuição – art.5º,nº1 TUE
 A UE não dispõe de atribuições genéricas ou de competências tendencialmente
ilimitadas
 Não há perda de soberania dos EM para a EU

Antes do Tratado de Lisboa


 Até ao TLX, a UE só podia agir em determinadas áreas quando os Tratados
atribuíssem competência específica às instituições, isto é, cada instituição atuava nos
limites das atribuições2 e competências3 específicas que lhes eram conferidas pelos
Tratados

Depois do Tratado de Lisboa


 Atualmente distinguem-se três tipos de competências
o Competências exclusivas da EU – art.3º TFUE
 Concorrência, políticas monetárias, etc.
o Competências complementares da UE – art.5º e 6º TFUE
 Saúde, indústria, cultura, etc.
o Competências partilhadas UE/EM – art.4º TFUE
 Agricultura e pescas, ambiente, etc.
 Esta nova forma de delimitação de competências é atenuada pelo princípio das
competências implícita e pela causa de flexibilidade

Princípio das competências implícita


 Não resultam de uma atribuição formal, mas sim necessária
 Tem-se em atenção, os objetivos a atingir

Causa de flexibilidade
 Se uma ação for considerada necessária para atingir um dos objetivos definidos nos
Tratados mas não ficar previsto poderes para tal, o Conselho deliberando por
unanimidade e sob proposta da Comissão e após aprovação do PE, adotará as
disposições adequadas – art.352º TFUE
24-10-2012

Direito do mercado interno: Liberdades económicas fundamentais


Liberdade de circulação de mercadorias
 O mercado interno tem como pressuposto a União Aduaneira
o Consiste na fusão de diversos territórios aduaneiros num só
 Esta união vai implicar:
o Abolição de direitos aduaneiros ou de encargos de efeito equivalente
o Proibição de restrições quantitativas ou medidas de efeito equivalente
o Obstáculos não pautais
 Barreiras físicas

2
Fins da pessoa coletiva
3
Referente ao órgão

XL Página 19
Direito Económico

 Resultantes de políticas comerciais, de exigências sanitárias e


dificuldades de transporte
 Barreiras técnicas
 Resultantes de diferenças nas regras de normalização ou do
encerramento do mercado público
 Conceitos fiscais
 Resultante da diversidade dos sistemas fiscais e de controlo
fiscais nas fronteiras

 Notas jurisprudenciais do TJ
o Encargos e medidas de efeitos equivalentes
 Qualquer direito, quaisquer que sejam a sua designação ou a sua
técnica que incidindo sobre o produto importado, com exclusão do
produto nacional similar, tem, ao alterar o seu preço sobre a livre
circulação de mercadorias, a mesma incidência restritiva de um direito
aduaneiro
o Medida de efeito equivalente a uma restrição quantitativa
 Qualquer regulamentação comercial dos EM suscetível de entravar,
direta ou indiretamente, atual ou potencialmente, o comércio
comunitário
 “truques” comerciais que podem causar entrave à circulação
de mercadorias estrangeiras nos EM
 Nota final:
o Atualmente assistimos à efetivação de liberdade de circulação de mercadorias
no território da UE
o Esta liberdade tanto se aplica aos produtos originários dos EM como aos
produtos provenientes de países terceiros, após terem cumprido as
formalidades aduaneiras e pago os direitos exigíveis – art.28º a 32º TFUE

Liberdade de circulação de agentes económicos

Trabalhadores assalariados
 Tem como objetivo a constituição de um mercado unificado do trabalho assalariado e
funda-se na abolição de quaisquer discriminações entre os trabalhadores* dos EM, no
que respeita ao emprego, à remuneração e demais condições de trabalho – art.45º a
48º TFUE
o *Todo aquele que mediante um contrato de trabalho ou de um contrato de
qualquer outro tipo se encontra na dependência de um empregador,
exercendo a sua atividade remunerada, por conta alheia, sendo indiferente
que a exerça a tempo parcial ou que aufira outros rendimentos de trabalho –
noção de trabalhador, dada pelo TJ
 Esta liberdade de circulação do trabalhador assalariado:
o Não se aplica aos empregos na AP (art.45º,nº4 TFUE)
o Inclui o direito de residência – art.45º,nº3 c)e d)
o Inclui o direito de responder a ofertas de trabalho

XL Página 20
Direito Económico

o Inclui o direito de livre deslocação


o Abrange os membros da família do trabalhador – art.48º TFUE
o Atualmente o conceito de cidadania da união, reforçou a proteção jurídica das
liberdades pessoais, estendendo-se a pessoas fora do setor produtivo
 Estudantes, reformados, turistas, etc. – art.20º a 25º TFUE

Liberdade de estabelecimento
 Diz respeito:
o Ao acesso às atividades não assalariadas e ao seu exercício
 Profissionais liberais, comerciantes, artesãos
o À constituição e gestão de empresas e sociedades nas condições definidas pela
legislação do país de estabelecimento para os seus próprios nacionais
 Art.49º e ss TFUE
 A noção de sociedade está prevista no art.54º TFUE (2º parágrafo)
o Por sociedade entende-se as sociedades de direito civil ou comercial, incluindo
as sociedades cooperativas, e as outras pessoas coletivas de direito ´publico ou
privado, com exceção das que não prossigam fins lucrativos
 A liberdade de estabelecimento exige igualdade de tratamento, isto é, a proibição da
discriminação fundada na nacionalidade.
 Embora os EM possam estabelecer limitações à liberdade de estabelecimento, não o
podem fazer discriminando entre nacionais e membros de outros países da EU
o Art.18º e 49º,nº1 TFUE

Liberdade de prestação de serviços


 Previsto no art. 56º a 62º TFUE
 Abrange atividades de natureza industrial, atividades artesanais e profissões liberais
 Esta liberdade permite às pessoas físicas e às sociedades nacionais de um EM
estabelecidas sobre o seu território, oferecer a título ocasional serviços a clientes
situados nom outro EM.
o É um corolário da liberdade de circulação de pessoas

Liberdade de circulação de capitais e pagamentos


 Liberdade de circulação de capitais
o Operação financeira que constitui uma transação de caráter autónomo, não
sendo portanto um corolário de uma outra com fins diversos
 Liberdade de pagamentos:
o Consiste na supressão de restrições de um operador de um EM poder efetuar
a contrapartida de uma prestação fornecida por um outro operador situado
noutro EM.
o Estende-se também a países terceiros
 Art.63º a 66º TFUE

Liberdade de concorrência
 Art.101º e ss TFUE – é uma verdadeira política da UE
 É uma consequência das liberdades económicas referidas previamente

XL Página 21
Direito Económico

 É uma forma de coordenação económica reconhecida como um verdadeiro motor de


economia de mercado
 Implica restrições aos auxílios concedidos pelos Estados que falseiam ou ameaçam
falsear a concorrência
30-10-2012

Do mercado comum á União Europeia


 A CEE pretendeu, desde as origens, ser algo mais do que uma união aduaneira e um
mercado comum
 Já apontava para uma união económica e monetária
 A CEE reservava para si as políticas comuns como:
o Política aduaneira
o Política agrícola
o Politica transportes
o Política comercial externa

 A partir do Ato único Europeu foram previstas intervenções comunitárias em novos


domínios:
o Ambiente
o Cooperação no domínio económico e monetário
o Coesão económica e social
o Política social
o Desenvolvimento tecnológico

 A partir de Maastricht dá-se uma nova fase de construção europeia


o Consolidação do mercado interno
o Emergências de políticas de integração europeia
o Coordenação de políticas orçamentais económicas dos EM

 Com o tratado da EU vem um alargamento e aprofundamento das competências


comunitárias
o Construção da União Europeia monetária

 Com os sucessivos Tratados de Amsterdão, Nice e finalmente o Tratado de Lisboa,


visto como um tratado reformador promove-se:
o Reforça da cidadania europeia
o Clarificação das competências da UE
o Papel das instituições

Instituições da União Europeia


 Parlamento Europeu
o Art.14º TUE e 223º e ss TFUE
o Órgão de controlo político também com funções legislativas, consultivas e
orçamentais
 Conselho

XL Página 22
Direito Económico

o Art.16º TUE e 237º a 243º TFUE


o Processo de codecisão com o PE: art.294º e 289º TFUE
 Conselho Europeu
o Art.15º TUE e 235º e 236º TFUE
o Órgão puramente de direção política
 Comissão
o Art.17º TUE e 244º e ss TFUE
o É a guardiã dos tratados
 Banco Central Europeu e o SEBC
o SEBC é o sistema europeu de bancos centrais
o Art.127º e 282º e ss TFUE
 Tribunal de justiça da União Europeia
o Função jurisdicional
o Art.19º TUE e 251º a 281º TFUE
 Tribunal de contas
o Responsável pelo controlo orçamental
o Art.285º e ss TFUE
 Órgãos auxiliares
o COROPER – art.16º,nº7 TUE
o Comité económico e social – art.301º TFUE
o Comité das regiões – art.305º TFUE
o Provedor de justiça – art.228º TFUE
o Banco Europeu de investimento – art.308º TFUE
o Banco Europeu de reconstrução e desenvolvimento

Articulação entre a Constituição económica da União e a Constituição


económica portuguesa
 A CEC Europeia da UE opõe-se a um sistema de economia planificada, autoritária, mas
afasta-se igualmente de um sistema liberal clássico, tanto assim que o art.345º TFUE
estipula que os Tratados em nada prejudicam o regime da propriedade nos EM.
 Os Tratados aceitam a existência da iniciativa pública e de empresas públicas
sujeitando-as às regras das empresas privadas
 Os tratados preveem também regimes específicos para os monopólios públicos –
art.37º TFUE - e para os serviços públicos – art.14º e 106º TFUE
 A integração económica é inspirada por uma filosofia neoliberal em que através de
fórmulas compromissórias defende-se a construção de um mercado regulado.
 Esta visão neo liberal afasta-se do liberalismo clássico pois se adota pressupostos
clássicos como:
o Alargamento do mercado
o A eliminação de barreiras pautais e não pautais
o A livre circulação dos fatores de produção
 Também adota mecanismos com forte pendor dirigista e protecionista:
o Apelo para a instituição de uma governação económica
o Realização de políticas comuns
o Instituição de autoridades supraestaduais

XL Página 23
Direito Económico

 O modelo económico oscila então entre:


o Economia aberta de livre concorrência
o Economia social de mercado

 Para evitar desconformidades entre a CEC europeia e a portuguesa, procedeu-se à


terceira revisão constitucional, reduzindo substancialmente a possibilidade de
existirem incompatibilidades
 Observamos na CRP, um reflexo da prioridade ou preferência aplicativa das normas da
UE dotadas de aplicabilidade direta na ordem interna portuguesa, havendo o respeito
pelos princípios fundamentais do Estado democrático de direito – art.7º,nº6 e 8º CRP

06-11-2012

A administração económica
A administração económica portuguesa
Administração em sentido orgânico
 Para levar a cabo a atividade de satisfação das necessidades públicas o Estado precisa
de se organizar em diversas instituições e órgãos
 Os mesmos são indispensáveis para a tomada de decisões e gestão de recursos

Administração em sentido material


 Atividade do Estado dirigida à satisfação das necessidades coletivas
 Quando nos referimos a esta atividade circunscrita à esfera económica, falamos de
Administração económica do Estado (AEE)

A administração estadual, regional e local

Administração estadual direta


 Dirigida pelo Governo e admite órgãos e serviços desconcentrados ou periféricos
 Ex: as direções regionais

Administração estadual indireta


 É a administração confiada a organismos dotados de personalidade jurídica com grau
variável de autonomia administrativa

A complexidade orgânica da Administração económica


 Devido às transformações e alargamento da atividade económica que o Estado leva a
cabo, tem vindo a crescer a complexidade da Administração económica (AE)
 Inicialmente foi a Administração central que se ampliou e modificou através de
alterações ao nível dos Ministérios
 Mais recentemente o Estado recorre para a realização das suas tarefas a entidades de
direito público situadas fora da Administração direta
 Refira-se também que existe uma tendência no sentido de reduzir o peso do Estado na
economia adotando novas formas de desintervenção na AE

XL Página 24
Direito Económico

Caraterísticas gerais da Administração económica


 A AE partilha as caraterísticas da AP
o Princípio da legalidade da Administração
o Autonomia e discricionariedade
 O princípio da legalidade é um princípio integrante de qualquer Estado de direito
fundado numa Constituição, na separação de poderes e no respeito pelos Direitos e
garantias dos cidadãos~

 A AE carateriza-se por uma importante margem de autonomia e discricionariedade,


(uma margem de liberdade autorizada dentro dos limites da lei, ou seja, vinculada) na
decisão justificada por motivos de eficiência

Administração indireta
 Constituída por um conjunto de entidades públicas que desenvolvem, com
personalidade jurídica própria e autonomia administrativa e financeira, uma atividade
administrativa destinada à realização de fins do Estado
 A doutrina divide em :
o Serviços personalizados
 Institutos públicos
 Entidades administrativas independentes
o Estabelecimentos públicos
 Complexos organizados de elementos pessoais e patrimoniais
fornecedores de prestações individualizadas ao público
o Fundos personalizados
 As fundações: acervos patrimoniais especificamente afetados a
determinada atividade
o Entidades públicas empresariais

As entidades administrativas independentes


 São as chamadas autoridades reguladoras independentes que resultam do processo de
liberalização e privatização e que dão lugar a um novo Estado regulador
 As EAI encontram-se previstas no art.267º,nº3 CRP
 Trata-se de organismos com funções administrativas, especializados e com
independência orgânica
 Os seus órgãos não podem ser destituídos por via administrativa e não estão
submetidos ao controlo hierárquico nem á superintendência
 São sobretudo de dois tipos:
o Entidades que são incumbidas de proteção de direitos fundamentais
o Entidades que exercem funções de autoridade reguladora dos mercados e das
atividades económicas
 Trata-se de entidades distintas dos órgãos judiciais por terem uma natureza
administrativa
 São independentes o que as distingue da AP em geral

XL Página 25
Direito Económico

Tipos de poder das EAI


 Poder normativo
o Emissão de regulamentos
 Poder executivo
o Supervisão, investigação, inspeção, emissão de ordens dirigidas aos
operadores económicos
 Poder para judicial
o Aplicação de sanções

Principais caraterísticas das Entidades administrativas independentes


 Composição variável
o Onde não devem estar representantes de organismos profissionais
interessados, pois devem garantir a sua independência perante influências
políticas e interesses regulados
 Independência funcional
o Assegurada através da ausência de dependência hierárquica, da existência de
autonomia financeira e de um regulamento próprio de organização e
funcionamento
 Instituídas em áreas sensíveis da AP
o Onde existe uma elevada complexidade técnica ou financeira e /ou
complexidade dos interesses envolvidos

 Nota: a privatização da exploração de diversos setores públicos através de concessões


está na base da criação deste tipo de entidades uma vez que o interesse público do
serviço em causa, se mantém (telecomunicações, gás, etc.)
Por outro lado o Estado também tem interesses próprios nos setores privatizados, o
que faz com que a regulação deva ser feita com independência perante os interesses
envolvidos, nomeadamente do próprio Estado
08-11-2012

Os órgãos consultivos
 Os órgãos consultivos da AP, são os chamados Conselhos ou Comissões
 Estes variam em função das suas competências, dos seus poderes e da sua composição

Caraterísticas
 Tem uma composição mista
o Inclui representantes da administração e especialistas ou peritos escolhidos
pela reconhecida competência e idoneidade
 Exercem funções de aconselhamento
 Cada órgão consultivo tem uma importância e influência variável

Funcionamento
 O funcionamento destes órgãos depende diretamente dos objetivos da sua criação,
logo tanto podem funcionar por um período limitado no tempo como terem carater
permanente

XL Página 26
Direito Económico

 Os órgãos consultivos atuam junto da Administração Central, regional, local, serviços


desconcentrados e Institutos públicos
o CES; CNADS,CNC (art.22º da Lei de defesa do consumidor);CRCCR

Associações públicas com funções económicas

Base legal
 Art.267º,nº4 CRP e Lei 6/2008
 Por desempenharem funções de regulação profissional e económica são
frequentemente designadas por administração corporativa

Caraterísticas
 São associações de pessoas singulares ou coletivos dotados de um estatuto de direito
público
 O Estado confere-lhes poderes de autoridade para exercer funções de administração
económica circunscrita à categoria profissional ou atividade que representam
o Tem poderes para editar regulamentos, fixar taxas, exercer poderes
disciplinares sobre os seus membros
 Estas Associações definem as condições para o exercício da profissão e fiscalizam o seu
cumprimento
 Através destas associações, o acesso á profissão é realizado por inscrição obrigatória
o Ordem dos advogados, câmara dos solicitadores, etc.

Administração pública por entidades privadas


 Entidades com estatuto privado (associativo ou empresarial) que desempenham
funções de AP por delegação
o Empresas privadas concessionárias de serviços públicos (Ex: Brisa)
o Associações privadas: entidades privadas que distribuem subsídios e fiscalizam
a sua utilização, bem como certificam a qualidade dos produtos
 IPAC: Instituto português da acreditação
 Base legal: art.267º,nº6 CRP

Administração Económica da União Europeia


Funções
 Função de regulação em matéria de concorrência
 Função de vigilância e controlo dos preços (Ex. o mercado agrícola)
 Função de crescimento e desenvolvimento (Ex: Fundos estruturais)

Órgãos
 O órgão da AEUE é por excelência a Comissão

Comissão
 A nível de estrutura interna é constituída por:
o Direções gerais e setoriais
 Ex: direção geral da agricultura e desenvolvimento
o Serviços

XL Página 27
Direito Económico

 Ex: organismo europeu da luta anti fraude


 O funcionamento da comissão obedece a princípios de Administração
consultiva e concertada procedendo a consultas alargadas na preparação das suas
decisões
 A moderna AP económica é caraterizada por esta administração consultiva e
concertada

 Estas consultas são feitas junto da Comissão (Comités) e grupos de trabalho


constituídos por:
o Representantes dos EM
o Representantes dos interesses económicos e sociais
o Peritos e especialistas
 As consultas podem ser formais, informais ou alargadas
 A comissão é assistida por dois órgãos consultivos de competência alargada
o Comité económico e social
o Comité das regiões

Outras estruturas autónomas relevantes no âmbito da AEUE


 Os fundos estruturais são as estruturas autónomas mais importantes e que visam
promover a coesão económica, social e territorial da UE
 Reduzindo disparidades entre os níveis de desenvolvimento das diversas regiões
 Art.174º e 175º TFUE
o FEDER – art.176º TFUE
o FSE – art.162º TFUE
o FEOGA – art.175º e 178º TFUE
o Fundo de coesão – art.177º TFUE
o BEI – art.175º;209º,nº3 e 308º,nº2 TFUE
13-11-2012

O Estado empresário
Nota histórica sobre a atividade empresarial do Estado
Na época liberal
 Nesta época na Europa, constataram-se intervenções diretas do Estado, na produção
de bens e serviços restringindo-se essas intervenções:
o Infraestruturas de interesse geral
o Correios e comunicações
o Transportes ferroviários
o Imprensas nacionais
o Tabaco e fósforos
 Houve outros serviços que foram assumidos pela Administração Municipal
o Serviços de interesse público como a água, o gás e a eletricidade
 Assim podemos dizer à luz da doutrina liberal que a atividade económica do estado era
entendida como excecional e a sua intervenção justificada pela existência de falhas de
mercado:

XL Página 28
Direito Económico

o Incapacidade do mercado produzir bens e serviços de interesse geral em


quantidade ou condições adequadas
o Monopólios naturais: os caminhos-de-ferro, telefones, etc.
o Atividades de prolongamento natural da ação de um serviço público
 A imprensa nacional, produção de armamento
 Nesta época liberal, a organização e gestão das atividades do Estado como produtor
de bens e serviços eram principalmente de dois tipos:
o A Administração direta por departamentos da AP
o Concessão de atividades a sociedades de estrutura privada
 Desenvolveram-se nesta época as chamadas de economia mista, com sujeição às
regras de direito de direito privado e sujeito ao Direito público em determinadas áreas

Após a crise de 29/31


 A crise de 29/31 reforçou a intervenção estatal na economia e no final da 2ª Grande
guerra houve processos de nacionalização de empresas privadas em especial nos
países afetados pelo esforço bélico da guerra
 Surgimento de uma nova figura: A empresa pública (EP)
 Em Portugal, no final dos anos 60 alguns serviços públicos foram transformados em
empresas públicas, mas a verdadeira expansão do SEE, ocorreu com o 25 de Abril de
1974 por via das nacionalizações
 A partir de 89 com a possibilidade do Estado proceder a privatizações alteraram-se as
formas institucionais da atividade económica do Estado

Evolução das formas jurídicas do Estado empresário


Os serviços públicos económicos
 Tem as seguintes caraterísticas
o São serviços administrativos
o São geridos diretamente pela AP
o São organizados em estruturas sem personalidade jurídica
o O Estado é responsável pela direção, orientação estratégica, pela prestação
operacional do serviço
o Gozam de gestão e orçamentos autónomos, por isso podiam escapar mais
facilmente à rigidez das regras orçamentais e da contabilidade pública
 Atualmente assemelham-se a estes serviços, os serviços municipalizados pois estes
dependem da Camara Municipal
o Não têm personalidade jurídica e tem orçamentos autónomos

Empresa pública
 A EP foi entendida pela doutrina portuguesa até meados dos anos 70 como uma
categoria de serviço público personalizado
 A EP era uma espécie de género IP
 Só após as nacionalizações na sequência de revolução de 74 é que foi instituído em
Portugal o SEE

XL Página 29
Direito Económico

Nacionalizações e privatizações
Nacionalizações
 Juridicamente é uma espécie de expropriação
 É a transferência forçada por um ato de autoridade de uma unidade económica
privada para a propriedade pública
 A expropriação:
o A expropriação consiste na desapropriação de qualquer bem imóvel privado
em benefício de uma entidade pública ou privada, motivada por razões de
interesse público
o A expropriação afeta o direito de propriedade privada e pode ser feita a favor
do Estado, de entidades públicas territoriais ou não (municípios ou
Universidades), ou até de entidades privadas (empresas privadas
concessionárias de serviços públicos)
o A expropriação implica sempre o pagamento de uma justa indemnização
o É uma restrição da propriedade em geral – art.62º CRP
o A justa indemnização está prevista no art.62º CRP
 A nacionalização:
o Afeta simultaneamente o direito de propriedade privada e o direito de
iniciativa privada
o A nacionalização até á revisão de 82 não obrigava a pagamento de
indemnização
o Atualmente não obriga a indemnização correspondente ao valor integral dos
bens
o É um ato político sob a forma legislativa
o É uma faculdade constitucional sujeita a alguns limites:

Limites materiais
 Não pode ser arbitrária, tem é que ser justificada por interesse coletivo – art.80º d)
CRP
 Não pode atingir tal extensão que ponha em causa a existência de outros setores de
propriedade e de iniciativa constitucionalmente previstos – art.80º c) e 82ºCRP

Limites especiais
 O redimensionamento do minifúndio far-se-á sem prejuízo do direito de propriedade
privada, o que parece excluir o recurso a medidas de nacionalização – art.95º CRP
 É vedada a nacionalização daquelas empresas que sejam suporte e requisito essencial
de liberdades fundamentais
o Ex. Setores de comunicação social
14-11-2012

Lei 62 A /2008
 Art.1º: finalidade das nacionalizações
o A nacionalização só pode ser feita com motivos excecionais e sempre na
salvaguarda de interesse público

XL Página 30
Direito Económico

 Art.2º: os atos de nacionalização revestem sempre a forma de DL e tem de obedecer a


dois princípios:
o Princípio da proporcionalidade
o Princípio da igualdade
o E deve obedecer também às leis da concorrência

 Só pode nacionalizar o Estado


 Não podem nacionalizar nem as regiões autónomas, nem os municípios

 Art.4º: referência à indemnização que ocorre aquando da nacionalização


 Art.6º: transmissão das participações sociais para o Estado
 Art.7º: A empresa nacionalizada mantém a personalidade jurídica
 Art.12º: sempre que à luz do regime jurídico do SEE, a pessoa coletiva nacionalizada
seja considerada empresa pública, a mesma será transformada em S.A. de capitais
públicos

 Esta lei também é aplicável “ mutatis mutandis”, aos setor cooperativo e social
 A nacionalização das sociedades pode abranger a totalidade do capital da sociedade
ou apenas parte dele, o que quer dizer que a situação da empresa nacionalizada, no
contexto dos setores de propriedade dos meios de produção, depende da extensão do
capital nacionalizado

Privatizações
 A privatização em sentido lato é a técnica pela qual o Estado reduz ou modifica a sua
intervenção na economia em favor do setor privado
 Os processos de privatização tendem a comprimir o Estado empresário
 Este objetivo pode ser alcançado de várias formas:
o Alienação da propriedade dos meios de produção
o Cedência da gestão
o Abertura de setores anteriormente vedados à iniciativa privada

A privatização tem sido utilizada em vários sentidos:


 Sentido estrito
o Transferência total ou parcial da propriedade de empresas e/ou bens públicos
para entidades privadas
o Se a entidade tivesse sido anteriormente nacionalizada fala-se de
reprivatização
 Concessão a entidades privadas da gestão de empresas ou serviços públicos mediante
contrato
 Contratação de serviços privados por entidades públicas para descongestionamento
da atividade do Estado (serviços)
 Abertura à iniciativa privada de setores explorados em monopólio pelo Estado
 Autoridades públicas deixam de regular ou aligeiram a regulação do modo de
produção ou distribuição de um bem/serviço de um setor ou atividade
 Processo de submissão dos serviços ou das EP a regras de gestão de natureza privada

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Privatização em sentido formal


 Mero recurso pelo Estado, a formas organizatórias ou regimes jurídicos de direito
privado

Privatização em sentido material


 Transferência para o setor privado da propriedade ou da gestão dos meios de
produção públicos

Razões da explicitação dos conceitos de privatização


 Clarifica que a privatização transcende o SEE atingindo também organismos públicos
 Deixa perceber que nem todas as formas de privatização implicam que o Estado
abandone o financiamento e o planeamento dos respetivos serviços
 Torna claro a ampliação da atividade privada, ao lado do público em concorrência ou
conjugação com ela

Fundamentos das privatizações


 A privatização é um fenómeno relativamente recente, do final dos anos 70 e década
de 80, inserido num movimento de redução do papel do Estado na vida económica e
social
 A privatização das EP ocorreu em praticamente todos os países ocidentais onde elas
existiam porque:
o Ineficiência das EPs, onde prevaleciam objetivos políticos e sociais sobre os
económicos e financeiros
o Défice de algumas EPs, pelo que houve necessidade de reduzir o desequilíbrio
dos orçamentos públicos acrescentando receitas provenientes da venda de
capital e património
o Redução do peso dos sindicatos (Reino Unido) e clientelas políticas partidárias
(Itália)
o Distribuição popular do capital incluindo a participação destes nas empresas a
privatizar

 Numa ótica microeconómica, a política das privatizações tem em vista melhorar o


funcionamento das empresas
 Numa ótica macroeconómica, tem em vista restaurar os mecanismos de mercado e de
concorrência e reduzir o peso do Estado na economia
 O processo de privatizações justifica-se por razões de ordem financeira, económica,
política e ideológica

As privatizações em Portugal
 Lei-quadro das privatizações: Lei 11/90 de 5 de Abril republicada pela Lei 50/2011 de
13 de Setembro
 A privatização total das empresas públicas em Portugal só foi possível a partir desta Lei
e na sequência da Revisão Constitucional de 89 que instituiu o princípio da
admissibilidade das reprivatizações: art.1º da Lei 11/90

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Direito Económico

 Esta lei não se aplica à reprivatização das terras expropriadas no âmbito da reforma
agrária. Fazemos notar que existe um limite constitucional às privatizações decorrente
do princípio da coexistência dos setores públicos, privado e cooperativo e social

 Não é possível privatizar a totalidade do setor público produtivo.


 Os objetivos das privatizações eram no âmbito da anterior redação da Lei os
seguintes:
o Económico:
 Modernização e competitividade económicas
 Reforço da capacidade empresarial nacional
 Desenvolvimento do mercado de capitais
o Financeiros
 Diminuição dos encargos com o setor público
 Utilização das receitas das privatizações para amortizar a
divida pública e a divida do SEE
o Sociais
 Promover a participação dos cidadãos, em especial os
trabalhadores das próprias empresas e pequenos
subescritores no capital das empresas
o Políticos
 Redução do peso do Estado na economia
 Atualmente a LQ das privatizações refere-se somente aos objetivos
o Económicos – art.3ºA
o Financeiros – art.3º G e art.293 b) da CRP
o Políticos – art.3º C

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