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ENGENHARIA DE TRÁFEGO NA ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE A

QUANTIDADE DE MOTOCICLETAS COM O NÚMERO DE ACIDENTES NA


CIDADE DO RECIFE/PE1

Anderson Gadelha de Lima 2

RESUMO

Em maio de 2011 foi lançada a Década de Ação pela Segurança no


Trânsito 2011-2020, onde governos de todo o mundo se
comprometeram a tomar medidas de prevenção de acidentes no
trânsito. Buscando a mitigação desses acidentes, a Engenharia de
Tráfego realiza um excelente papel na resolução de problemas de
planejamento, operação e controle de tráfego. Com base nisso, o
presente estudo tem como objetivo analisar a relação entre a
quantidade de acidentes envolvendo motocicletas e número desses
veículos na cidade do Recife/PE, na última década. Para tal, foi
utilizado o método descritivo baseado na revisão literária de dados
obtidos através da Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano de
Recife (CTTU) e o Departamento Nacional de Trânsito
(DENATRAN). Segundo o DENATRAN, Recife registrou em 2019
um aumento de 3,20% no número de motocicletas comparado a 2018.
Paralelamente, de acordo com dados mais recentes, o número de
ocorrências no trânsito incluindo motocicletas registradas pela CTTU,
comparando os primeiros seis meses de cada ano, cresceu em 5,83%.
Assim, conclui-se que fatores como a facilidade para a obtenção da
habilitação e compra desse meio de transporte, favorecem o acréscimo
no número de acidentes de trânsito. Ações como Projeto Moto Amiga
e Lei Seca, contribuem para o controle dessa taxa, porém projetos
como Ruas Completas poderiam ser mais efetivos uma vez que
utilizam técnicas da engenharia para solucionar problemas urbanos.

PALAVRAS-CHAVE

Acidentes de motocicletas; Planejamento viário; Mobilidade urbana.

1
Este artigo apresenta alguns dos elementos estudados no Curso “Engenharia Civil” e foi apresentado ao final do
curso de Engenharia Civil sob a orientação do Prof. Dr. Iury Sousa e Silva e Prof. Roberto Luiz Frota de
Menezes Vasconcelos.
2
Técnico em Edificação, graduando em Engenharia Civil, com experiência em obras viárias, de infraestruturas e
prediais. E-mail: anderson.gadelha@hotmail.com.
2

1 INTRODUÇÃO

De acordo com o DENATRAN, a cidade do Recife registrou, em dezembro de


2019, um total de 150.782 motocicletas, um aumento de 3,20% em comparação com o mesmo
período do ano anterior (BRASIL, 2019). O crescente índice na utilização desses veículos
como meio de transporte trouxe consigo algumas consequências negativas, como o número de
acidentes causando incapacitação física ou morte, onde diversos fatores são apontados como
as causas desses acidentes, como atitudes arriscadas dos próprios condutores, consumo de
álcool, a não utilização de capacete e andar no chamado corredor das vias são os principais
deles.
Dados mais recentes levantados pela CTTU, mostra que, em 2018, Recife
apresentou uma diminuição de 5,54% no número de ocorrências com motocicletas em
comparação ao ano anterior (CTTU, 2020). No entanto, o vice-diretor do Comitê Estadual de
Prevenção de Acidentes de Motos (CEPAM), Hélio Calábria, em entrevista com a Rádio
Jornal (2018), afirma que essa taxa é de 22%, e que projetos como Lei Seca, Moto Amiga e
demais fiscalizações e iniciativas de educação no trânsito para os condutores dessa categoria
contribuíram para essa diminuição dessa taxa.
Com base nessa perspectiva, objetivou-se fazer uma comparação entre a legislação
de motocicletas no Brasil e no mundo, e uma análise da correlação entre a quantidade de
motocicletas com o número de acidentes na cidade do Recife durante o período da Década de
Ação pela Segurança no Trânsito 2011-2020.
Portanto, indaga-se: Quais os principais fatores que contribuem com a taxa de
acidentes com motocicletas na cidade do Recife? O crescimento do número de acidentes de
trânsito envolvendo motocicletas na cidade do Recife está relacionado ao número de veículos
dessa categoria? Quais medidas, com base na Engenharia de Tráfego, têm sido aplicadas para
mitigar os problemas relacionados aos acidentes com motociclistas na cidade do Recife?
Para responder estas questões partiu-se da hipótese de que a quantidade de
acidentes com motocicletas está mais relacionada ao crescimento da quantidade de veículos
dessa categoria – diante dos atrativos que a mesma possui – do que a falta de projetos e
medidas educativas no trânsito da cidade do Recife.
Assim, para viabilizar o teste da hipótese, foi realizada uma pesquisa com a
finalidade descritiva, de acordo com o método hipotético-dedutivo, e abordagem quantitativa,
realizada com procedimentos bibliográficos, documentais e notícias, ora analisando os dados
levantados referente aos acidentes com motocicletas na cidade do Recife, bem como
relacionando o número da frota desse veículo no período da Década de Ação pela Segurança
no Trânsito 2011-2020. Como também, descrevendo o conjunto de ações e projetos
3

implantados até o presente momento para a mitigação desse problema baseado na Engenharia
de Tráfego.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e a Organização Mundial de


Saúde (OMS) afirmam que “mais da metade de todas as mortes no trânsito ocorre entre
usuários vulneráveis das vias: pedestres, ciclistas e motociclistas”. E na hipótese de as cidades
não adotarem medidas preventivas, efetivas e eficazes elas poderão contribuir de forma
relevante para que esta previsão se concretize (OMS, 2018).
Diante disso, a Engenharia de Tráfego, prevista no Capítulo VIII do Código de
Trânsito Brasileiro (CTB), é considerada a parte da Engenharia de Transportes voltada para
uma mobilidade mais sustentável, resolvendo problemas de planejamento, definindo meios
que favoreçam a circulação de veículos e pessoas, como também a segurança destes no
trânsito (FONSECA, 2018).
De acordo com Czerwonka (2015), há quem critique as leis de trânsito brasileiras,
alegando ser uma das causas do alto número de danos aos seus usuários. Pensando nisso, viu-
se a necessidade de listar uma comparação da legislação do Brasil com outros países do
mundo, pois o que muitos não sabem é que a lei brasileira é bastante consistente, faltando
rigidez, apenas, na fiscalização.

2.1 UTILIZAÇÃO DE CAPACETES.

O uso de capacetes certificado pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e


Tecnologia (INMETRO) é item obrigatório de segurança para os usuários de motocicletas no
Recife e em todo território brasileiro. Ele deve estar sempre afivelado ao usuário e a viseira,
por sua vez, do tipo transparente deve ser usada em todos os momentos, podendo optar pela
escura, apenas, para transitar de dia. Para Liberatti et al. (2003) o seu uso é eficaz tanto para
prevenir lesões encefálicas e redução de sequelas, quanto nos custos de hospitais e mortes
provenientes desses acidentes.
Em comparação com os EUA, apenas 19 dos 50 estados, além da capital federal,
tem seu uso obrigatório. Na terra da Harley-Davidson, em Wisconsin, por exemplo, o
capacete é obrigatório apenas para quem possui até 17 anos, e outros estados não há a
exigência desse equipamento de segurança ao pilotar motocicletas abaixo de 50 cilindradas
(MIOTTO, 2014).
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2.2 TRAFEGAR NOS CORREDORES.

Países como Alemanha, Itália e França proíbem trafegar nos chamados


corredores, já na Áustria, Bélgica e Holanda é permitido apenas quando o trânsito está parado,
desde que em baixa velocidade. Já no Brasil não existe sequer proibição (MARTINS, 2019).
Há quem defenda a proibição do tráfego de motocicletas no corredor entre
veículos, inclusive há projetos de lei que tratam sobre o assunto. No entanto, o especialista
Julyver Modesto de Araújo, afirma que essa proibição trairia mais efeitos negativos do que
positivos, pois, segundo ele:
“[...]exigir que a motocicleta seja conduzida atrás de um automóvel, reduz-se a
capacidade de visão do motociclista, frente aos obstáculos da via (buracos, dejetos,
manchas de óleo etc), impedindo a tomada de decisões frente às condições adversas
e repentinas.” (CZERWONKA, 2018)

Já nos corredores de ônibus, a legislação brasileira proíbe o tráfego de motos


nessas vias, no entanto, segundo Cruz (2019), cidades como Londres, na Inglaterra, essa ação
é permitida desde que a faixa seja superior a 4,0m.

2.3 TRANSPORTE DE CRIANÇAS.

De acordo com o Artigo 244 do Código de Trânsito Brasileiro, o transporte de


crianças na garupa das motocicletas só é permitido a partir de sete anos, e mesmo assim, se a
ela não tiver altura para firmar os pés nos pedais do veículo ou não consiga se manter segura
na moto, não deve ser transportada na motocicleta (SILVA, 2018).
Já nos EUA, por exemplo, apenas dois estados possuem essa restrição de idade,
Washington e Havaí. Na Espanha, crianças maiores de doze anos podem ser levadas por
pilotos conhecidos, mas se o condutor for pai, mãe ou um tutor legal, a idade reduz para sete
anos completos (VINI, 2016).

2.4 FORMAÇÃO DE CONDUTORES.

No Brasil, esse é um ponto em que a legislação deixa a desejar, pois além de


haver algumas facilidades com relação aos preços das habilitações, os motociclistas apenas
realizam uma prova prática em circuito fechado, sem mesmo precisar de experiência nas ruas
(CATALDI, 2017).
Já na Europa, a habilitação para moto é mais caro do que para carros, pois além do
sistema de habilitação ser dividido de acordo com a idade, a experiência do motociclista e o
tipo de moto; o candidato deve realizar provas práticas em recintos fechados, e se
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aprovado, percorre ruas monitorado por um agente do Departamento de Gestão de Trânsito


(CZERWONKA, 2015).

3 METODOLOGIA

Para encontrar os resultados e respostas acerca da problematização apresentada


neste estudo, foi realizada uma pesquisa, de acordo com o método hipotético-dedutivo e
abordagem quantitativa, realizada com procedimentos bibliográficos, documentais e notícias,
onde o objeto do estudo é composta pelos pilotos de motocicletas que sofreram acidentes
enquanto trafegavam nas principais vias da capital Pernambucana, localizada conforme
mostra a figura 1.

Figura 1 - Localização do Recife na RMR.

Fonte: SILVA FILHO, N.; RAIA JUNIOR, A., 2016. e Prefeitura da


Cidade do Recife, 2017.

A coleta de informações teve como parâmetros a quantidade total de acidentes,


bem como o seu tipo e idade das vítimas. O levantamento primário das informações foi
realizado por meio de dados da CTTU referente ao ano de 2017.
Os dados coletados foram compilados e transcritos utilizando o aplicativo
Microsoft Office Excel 2019 através de planilhas e gráficos. Os dados quantitativos foram
analisados e realizados gráficos de linha, já os dados qualitativos (local, idade, sexo) foram
avaliados por ocorrência e comparados por quantidade de ocorrência.
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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Levando-se em consideração a primeira pergunta realizada no início desta


pesquisa, pode-se dizer que, a melhor explicação para a crescente taxa de acidentes com
motocicletas na cidade do Recife está relacionada a alguns atrativos que esse tipo de veículo
possui tanto em relação ao valor final que o consumidor precisa desembolsar no momento da
sua aquisição e em sua manutenção diária.
Essas facilidades de aquisição e manutenção, associada a agilidade que esse meio
de transporte possibilita e a falta de integração entre os modais na cidade do Recife, são
outros fatores que respondem a essa pergunta, uma vez que o sistema apresenta algumas
falhas especialmente devido à carência de emprego, precariedade na oferta do serviço de
transporte público, preço praticado e/ou lotação acima da capacidade máxima, validando o
que diz De Souza, Lima Neto e Brasileiro (2015) em trabalho que trata das integrações
modais.
Diante desse aumento na quantidade de veículos dessa categoria, uma
preocupação foi despertada por várias cidades ao redor do mundo com relação ao número de
vítimas de acidentes de trânsito. E em maio de 2011, lançou-se a Década de Ação pela
Segurança no Trânsito 2011-2020, cujo objetivo é a tomada de novas medidas para prevenir
os acidentes no trânsito.

4.1 NÚMEROS DE MOTOCICLETAS E ACIDENTES

Segundo o relatório divulgado pela Federação Nacional da Distribuição de


Veículos Automotores (FENABRAVE), 2018 registrou um aumento na venda de motocicletas
de 10,47% comparada com o ano anterior (CALDEIRA, 2019). Já de acordo com a
Associação Brasileira dos Fabricantes desse segmento (ABRACICLO) esse aumento é de
17,58% (ABRACICLO, 2018). No Recife, de acordo com dados do Departamento Nacional
de Trânsito, esse acréscimo foi de 3,67% (DENATRAN, 2018).
Em contrapartida a esses números temos a evolução na quantidade de acidentes de
trânsito onde, de acordo com dados de 2018 da Organização Pan-Americana de Saúde
(OPAS) e da Organização Mundial de Saúde (OMS) cerca de 1,35 milhão de pessoas morrem
a cada ano em decorrência de acidentes de trânsito, sendo essa a principal causa de morte
entre crianças e jovens de 5 a 29 anos (OMS, 2018).
Segundo dados mais recentes do Observatório Nacional de Segurança Viária
(ONSV), publicados em 2015, o estado de Pernambuco registrou um total de 855 mortes de
motociclistas, ficando atrás, apenas, de estados superpopulosos como o de São Paulo (1.479) e
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Minas Gerais (889). Esse percentual mostra que o estado de Pernambuco apareceu muito
acima da média brasileira que foi de 449 casos (ONSV, 2015).
O baixo nível educacional e a falta de informação, são um dos principais fatores
que agravam a violência no trânsito, sendo vista, até, como um problema de saúde pública,
social e econômico, gerando uma sobrecarga de responsabilidade aos órgãos públicos
executivos, uma vez que existe a necessidade de atuar em prol de melhorias na fiscalização,
engenharia, educação, e também na implementação de políticas públicas específicas para o
tratamento de problemas relacionados à temática (KOIZUMI, 1985).
O desmedido número de acidentes ligados à motocicleta por vezes é associado à
sua grande exposição frente aos demais veículos, proporcionando uma ampla possibilidade de
resultar na ocorrência de acidentes com alta gravidade. Todavia, existem outros fatores –
consumo de bebidas/álcool, distração, desatenção, fadiga – que acentuam o risco e reduzem a
habilidade dos motoristas (DA SILVA et al., 2017).
Dados estatísticos do IPEA (2015) apontam que entre 61% a 82% dos acidentes
envolvendo motociclistas geram vítimas, para automóveis esse valor gira em torno de 7%,
evidenciando a problemática dos acidentes com motocicleta. A previsão que a OMS deu para
2020 é de que o número de óbitos atinja 2,3 milhões, sendo considerada a sexta causa de
morte em todo o mundo (MORAIS NETO et al. 2012, p. 2224).
De acordo com o especialista em transportes e segurança do trânsito, Horácio
Augusto Figueira, “no mundo todo, independentemente de quem seja o condutor, o risco de
acidente grave com motocicleta é cinco a dez vezes maior do que com um veículo de quatro
rodas” (PEREIRA, 2018).
Miziara et al. (2014) afirma que a grande frota de motocicletas, está relacionado
aos altos índices de mortalidade (50% de todos os acidentes fatais entre os acidentes de
trânsito) tanto de pilotos como de passageiros, mostrando a grande vulnerabilidade deste meio
de transporte e de trabalho.
Diante disso, em 11 de maio de 2011, a ONU deliberou a Década de Ação para
Segurança no Trânsito, cujo objetivo do movimento internacional é estimular a participação
da população, empresas, governos e entidades para colocar em pauta, a atenção que todos
devem ter com o trânsito.
No Recife, em 2014, ano em que foi criado o Movimento Maio Amarelo, houve
uma preocupação devido ao crescimento anual na quantidade de motocicletas. Segundo
informações mais recentes do Departamento Nacional de Trânsito, dos mais de 687 mil
veículos registrados em 2019 na cidade do Recife, a frota de motocicletas era de 150.782, um
aumento de 17,97% desde a criação da campanha (figura 2).
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Figura 2 - Quantidade de motocicletas por ano na cidade do Recife.

Fonte: Autor, 2019.

Já o ano de 2018, o número total de ocorrências registradas no Recife pela CTTU


foram de 11.282, dos quais 2.815 incluíam motocicletas, dos quais 1.684 tiveram vítimas e
outras 15 chegaram a óbito (CTTU, 2020), ano marcado com um acrescimento de 3,67% na
frota em relação ao ano passado, conforme mostra a figura 3, com base nos dados do
DENATRAN (BRASIL, 2018).
Ainda de acordo com dados mais recentes levantados pela CTTU, o primeiro
semestre de 2019 foi marcado com um aumento de 5,99% de ocorrências comparados ao
mesmo período de 2018, em contrapartida o percentual na frota sofreu uma queda 0,53% a
menos (CTTU, 2020).

Figura 3 - Taxa de variação no crescimento da frota de motocicletas na


cidade do Recife.

Fonte: Autor, 2019.

Diante disso, com base nos dados apresentados, a relação entre o número de
motocicletas e os acidentes envolvendo veículos dessa categoria questionada no início deste
estudo, cabe ressaltar que um dos maiores desafios ainda é a segurança dos usuários
historicamente mais vulneráveis – pedestres e ciclistas – acompanhados dos usuários de
motocicletas, que estão diretamente ligado ao crescimento da frota de motocicletas.
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4.2 PRINCIPAIS AÇÕES APLICADAS NA DIMINUIÇÃO DOS ACIDENTES


MOTOCICLÍSTICOS.

De acordo com a CTTU, em 2018, 71,43% dos acidentes com vítimas fatais
tinham motocicletas envolvidas, um aumento de 43,22% em comparação a 2017. Pensando
nisso, o Departamento de Trânsito de Pernambuco (DETRAN/PE) tem investido no
monitoramento do tráfego da cidade, observando desde a falta do uso do capacete, ao uso de
calçados inadequados, além de promover constantemente blitz educativas nas principais vias
da cidade do Recife, conduzidas pela turma do Fom-Fom e pelos agentes do Programa de
Educação de Trânsito e apoiadas pelo Batalhão de Polícia de Trânsito do estado (BPTrans),
Operação Lei Seca, DPVAT, Honda e Universidade de Pernambuco (UPE).
A Lei Seca é outra medida aplicada na diminuição de acidentes de trânsito.
Segundo dados do governo federal, no primeiro ano de vigência, o número de mortes caiu em
10% em todo o país.
Seguindo esse foco, em 2015, a prefeitura da cidade de São Paulo, por exemplo,
realizou algumas mudanças no trânsito como a diminuição da velocidade máxima permitida
em rodovias como as marginais Pinheiro e Tietê. Pensando nisso, o site da UOL consultou o,
então, pesquisador de mobilidade urbana e professor de Engenharia Automotiva da
Universidade Mackenzie de São Paulo, Luiz Vicente Mello, e a Companhia de Engenharia de
Tráfego de São Paulo (CET-SP), para apontar algumas verdades e mitos sobre essas medidas.
Segundo Mello, a diminuição do número de veículos nas vias é uma consequência
na diminuição da velocidade máxima permitida nelas. O professor afirma, ainda, que o
impacto não é muito relevante nos horários de pico, pois a grande quantidade de veículos
naturalmente manterá um fluxo mais lento, no entanto, fora desses horários, “a velocidade
menor aumenta o tempo de reação dos motoristas e, assim, tende a melhorar mais a segurança
do que a fluidez". De acordo com o CET-SP, "algumas experiências mostram que também há
impacto positivo no fluxo de veículos, pois a redução da velocidade máxima pode aumentar a
velocidade média dos carros" (PADRÃO, 2015).
Ainda assim, o especialista multidisciplinar em trânsito, Celso Mariano, afirma
que mesmo neste ano de 2020, quando se encerra a Década de Ação pela Segurança no
Trânsito, não terá como saber exatamente os resultados brasileiros:
“Como não dispomos de agilidade na disponibilização de dados estatísticos,
acabamos sempre por olhar para um cenário do passado, o que complica para termos
análises esclarecedoras. No momento, por exemplo, o dado mais atual do Datasus,
nossa fonte oficial, é de 2017. Neste ritmo, vamos ficar sabendo se cumprimos ou
não a meta lá pelo fim de 2022 ou meados de 2023. Mas acho pouco provável que,
quando estivermos vivendo os dias do ano 2023, estejamos comemorando ‘meta
cumprida’, junto à OMS” (BATISTA, 2020)
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Mariano cita, ainda, que cidades como Rio Branco, Belo Horizonte, Aracaju,
Curitiba, Porto Alegre e Salvador devem alcançar a meta de redução em até 50% da meta
estipulada pela campanha.

4.3 ENGENHARIA DE TRÁFEGO: MEDIDAS APLICADAS PARA MITIGAR OS


ACIDENTES MOTOCICLISTICOS.

Com o propósito de dar uma maior segurança e conforto a todas as pessoas de


quaisquer idades e usuários de todos os tipos de transportes, 11 cidades brasileiras uniram-se
num projeto em 2017 com a finalidade de “devolver as ruas às pessoas” através das chamadas
Ruas Completas (figura 4), cujos principais objetivos são a priorização de deslocamento por
transporte coletivo, a pé e bicicleta, como também tornar a rua um lugar de permanência das
pessoas e não somente de passagem (WRI BRASIL, 2019).

Figura 4 - Projeto de “Ruas Completas” nas cidades brasileiras.

Fonte: WRI Brasil, 2019.

Ações como a eficácia de motofaixas ou a fluidez no trânsito baseado no aumento


dos limites de velocidade nas vias chegaram a ser debatidas no Senado Federal como sugestão
para aumentar a segurança no trânsito, no entanto, essas práticas carecem de estatísticas no
número de acidentes ocorridos exclusivamente nessas vias que corrobore com tais
informações. Diversos profissionais de vários setores questionaram essa percepção,
defendendo, ainda, que a melhor saída seria estimular a boa convivência entre todos no
trânsito, em vez de segregar alguns.
Com base nisso, dados mais recentes da Frente Nacional de Prefeitos (FNP) e
WRI Brasil afirmam que, em 2019, 20 cidades já formam a Rede Nacional Para a Mobilidade
de Baixo Carbono, buscando proporcionar a troca de experiências e estimulando a
implementação desses projetos, destacando a cidade de Fortaleza como uma das cidades mais
integrantes onde, segundo a prefeitura da cidade a redução da taxa de mortalidade no trânsito
de 2010 a 2017 foi de 35%, recebendo o prêmio mundial de mobilidade urbana em
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Washington (Sustainable Transportation Award) graças ao projeto “Cidade da Gente”


(ARCHDAILY, 2019).
Ademais, trazendo a resposta do último questionamento apresentado neste artigo,
a Prefeitura do Recife, através da CTTU, entidade responsável pela parte de mobilidade na
cidade do Recife, vem trabalhando com diversas intervenções (figura 5); a exemplo das
ciclofaixas, faixas exclusivas para bicicletas; mudança de circulação no trânsito em principais
vias, além de faixas reversíveis contribuindo para o aumento no fluxo do trânsito da cidade;
implantação de binário, ressaltando a importância desse tipo de sistema nas vias da cidade de
Natal/RN, trazidos no estudo de Osório (2017); além do urbanismo tático, prática que
promove a readequação de áreas urbanas através de transformações rápidas e baratas.

Figura 5 - Exemplos de intervenções realizadas na cidade do Recife.

Fonte: CTTU, 2020

5 CONCLUSÃO

Levando-se em consideração que 2020 marca o encerramento da Década Mundial


de Ação pela Segurança Viária 2011-2020, este trabalho trouxe informações que contribuíram
para o entendimento da relação entre a quantidade de motocicletas e o número de acidentes na
cidade do Recife.
Tomando como dados da última década, a presente pesquisa mostra que a grande
quantidade de motocicletas nas ruas da cidade do Recife contribuiu com 1/5 do total de
veículos e 1/4 dos óbitos. Ressaltando que o número de acidentes com motocicletas está
diretamente relacionado ao fato das facilidades de aquisição, manutenção diária e rapidez de
locomoção que o veículo possui em comparação aos outros tipos.
Apesar de dados recentes da OMS (Global status report on road safety 2018),
mostrarem que nos últimos 15 anos, a taxa de mortalidade no trânsito se manteve estável em
relação ao tamanho da população mundial, isso não é notado nos países de baixa renda que
apresentaram uma taxa de mortalidade três vezes mais alta. Por outro lado, no Brasil, Recife e
outras capitais apresentaram uma redução no número de óbitos em comparação com cidades
do interior dos estados.
Outrossim, é importante frisar que diversas ações têm contribuído para a redução
na alta taxa de mortalidade; no número alarmante de acidentes envolvendo motociclistas; e no
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aumento percentual da frota, que vão desde a criação do Comitê Estadual de Prevenção aos
Acidentes de Moto (CEPAM) cujo objetivo é combater o crescente índice de acidentes com
esse tipo de veículo que causam sequelas psicológicas, incapacidades e até vítimas fatais,
impactando economicamente o sistema de saúde pública, como também ações de intervenções
urbanas através da CTTU.
Assim, faz-se necessário um estudo para apontar melhor as soluções para os
problemas de mobilidade urbana, como também a carência na prática de engenharia do
tráfego, observando cidades como Fortaleza, onde demostrou ser uma excelente saída para os
problemas urbanísticos. Afinal, nada se deriva de um único fator, quando as características
dos acidentes motociclísticos são decorrentes de múltiplas circunstâncias.

INGENIERÍA DE TRÁFICO EN EL ANÁLISIS DE LA RELACIÓN ENTRE LA


CANTIDAD DE MOTOCICLETAS Y EL NÚMERO DE ACCIDENTES EN LA
CIUDAD DE RECIFE

RESUMEN.

En mayo de 2011 surgió el Decenio de Acción para la Seguridad Vial


2011-2020, donde los gobiernos de todo el mundo se comprometieron
a tomar medidas para prevenir accidentes de tráfico. Buscando mitigar
estos accidentes, la Ingeniería de Tráfico tiene un excelente papel en
la resolución de problemas de planeamiento, operación y control de
tráfico. En base a esto, el presente estudio tiene como objetivo
analizar la relación entre la cantidad de accidentes con motocicletas y
el número de esos vehículos en la ciudad de Recife/PE, en la última
década. Para eso, se utilizó el método descriptivo basado en una
revisión literaria de los datos obtenidos a través del Departamento
Nacional de Tráfico (DENATRAN) y la Autarquía de Tráfico y
Transporte Urbano de Recife (CTTU). Según DENATRAN, Recife
registró en 2019 un aumento de un 3,20% el número de motocicletas
en comparación con 2018. En paralelo, de acuerdo con los últimos
datos, el número de ocurrencias en el tráfico que incluye motocicletas,
registradas por CTTU, en comparación a los primeros seis meses de
cada año, creció un 5,83%. Así, se concluye que factores como la
facilidad para obtener la licencia, y la compra de este medio de
transporte, favorecen el aumento en el número de accidentes de
tráfico. Acciones como Proyecto Moto Amiga y Ley Seca,
contribuyen para el control de esta tasa, sin embargo, proyectos como
Calles Completas podrían ser más efectivos ya que utilizan técnicas de
ingeniería para resolver problemas urbanos.
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PALABRAS-CLAVE.

Accidentes de motocicleta; Planeamiento viario; Movilidad urbana.

REFERÊNCIAS

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<http://www.abraciclo.com.br/images/pdfs/Motocicleta/Balanco/2018-
12_Resumo_MOTOCICLETAS_2.pdf>. Acesso em: 05 mai. 2020

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ajudar. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/912041/as-mortes-no-transito-nao-
estao-diminuindo-ruas-completas-podem-ajudar>. Acesso em: 06 set. 2019.

BATISTA, P. Década de Ação pela Segurança no Trânsito se encerra no final de 2020.


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<https://portaldotransito.com.br/noticias/decada-de-acao-pela-seguranca-no-transito-se-
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BRASIL. Ministério da Infraestrutura. DENATRAN. Frota de Veículos - 2019. Disponível


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