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É SEMPRE IGUAL!

Um senhor já maduro, com ares de quem não gosta de ser contrariado,


dizia ao padre da comunidade: "Não gosto de missa, seu padre; é
sempre a mesma coisa". E sentou-se desafiador!

Dizer que não gosta de missa porque é sempre a mesma coisa tornou-se
refrão conhecido e tão velho quanto quê. Pode ser que você já tenha
pensado a mesma coisa. Se ficarmos somente na ritualidade da missa,
de fato, sua estrutura ritual é sempre igual: ritos iniciais, liturgia da
palavra, liturgia sacramental e ritos finais. Mas, o que muda na missa é a
vida que lá se leva para ser celebrada no Mistério da Salvação de Jesus
Cristo. Por isso, cada rito, cada leitura, cada comunhão terão sentido
diferentes; serão diferentes em cada missa.

Se você parar na ritualidade, concordo: “as missas são iguais”. O que dá


sentido para a missa não é a ritualidade, mas a vida sintonizada com o
projeto de Deus. Isso nem sempre é compreendido e, infelizmente,
muitas equipes de celebrações querem fazer bonito, usam muita
criatividade, mas esquecem de afinar missa com vida e projeto divino.
Quando falta essa ligação, todas as missas ficam iguais.

O segredo está em celebrar

Tenho certeza de que você é daqueles que vê sentido na missa e já


percebeu que uma é diferente da outra. É assim mesmo! Quando a gente
vai à missa para assistir, então é sempre a mesma coisa. O padre que
reza lá na frente e o povo que senta e levanta, ajoelha e canta até
terminar a celebração. É uma sucessão de ritos e canções, rezas,
homilia e comentários. Mas, quando a gente deixa de assistir e passa a
celebrar, a coisa muda. E muda para melhor. O segredo está em celebrar
a missa e, não, em assisti-la.

Muda porque, na assistência da missa, você só vai à igreja para ver a


missa, como se vê televisão ou se assiste a um teatro. De fato, quem
não celebra a missa pára na ritualidade. Quando uma equipe de
celebração só se preocupa em executar ritos, a missa transforma-se em
ritualismo. Quando a gente celebra, a coisa fica diferente. Cada missa
torna-se uma “celebre-ação” nova, diferente da anterior.
Cada vez, encontra-se um sentido novo, uma razão diferente para
celebrar. As equipes de celebrações têm uma função importantíssima
nesse sentido: ajudar os celebrantes a colocar a vida pessoal e a vida da
comunidade na salvação de Deus, que se celebra na missa.

Quando assim acontece, haverá um domingo que a celebração motiva a


suplicar a presença e a luz divina para resolver algum problema. Noutro,
celebra-se para agradecer. Se está triste ou magoado com alguém, ela
ajuda a celebrar com os irmãos a paz na provação e incentiva a perdoar.
Noutro domingo, tudo é alegria e se quer abraçar o mundo e, então,
celebramos com Deus e com os irmãos a alegria de viver. A cada
domingo, celebra-se a própria vida na vida de Deus. Assim, o projeto de
Deus, pelo Evangelho, passa a dar sentido ao viver. É Deus passando na
vida de cada um; Deus passando na vida da comunidade. Como é
possível dizer que é sempre a mesma coisa?

Na missa, Deus se manifesta

Mas, é bom lembrar que Deus não é alguém passivo que só recebe
louvores e pedidos na missa. Ele também se manifesta. A gente ouve
Deus falando pela Bíblia, pela mensagem do padre, pela poesia das
canções, das orações... Ele se manifesta pelos símbolos e pelo silêncio.
Isso complica, quando o padre fala sempre a mesma coisa ou se os
músicos cantam qualquer canção, sem se preocuparem com o contexto
celebrativo da missa. Também quando os símbolos não têm relação com
a celebração. Mas, quando a equipe de celebração sabe comunicar-se
liturgicamente, então os celebrantes falam menos e ouvem mais Deus,
comunicando-se nos símbolos, sinais, gestos, pela Palavra e pela
canção, pelos ritos, pela alegria da paz interior e pelo silêncio.

E, por falar em símbolo e sacramento, o mais importante de todos é o


pão e o vinho que se tornam Corpo e Sangue do Senhor. Também esses
ganham sentidos novos em cada missa. Cada vez que você se alimentar
na missa é Cristo que você comunga; é a vida divina enriquecendo e
santificando sua vida humana. Mas, como uma missa nunca é igual a
outra, o efeito do alimento divino na vida do cristão sempre será
diferente, sempre provocará um compromisso novo com o projeto do
Reino de Deus.

Depois de mudar o olhar e a mentalidade no modo de perceber a missa,


será possível dizer que missa é sempre igual? Não sei se aquele homem
entendeu toda a explicação do padre, mas entender a missa como
celebração pela qual Deus e a gente se misturam na troca de vidas, é
descobrir-lhe a beleza sempre nova e cativante.

Perguntas para a Pastoral Litúrgica

1 – Conversando com pessoas de sua comunidade, você encontra


alguns que dizem que missa é sempre a mesma coisa? Se sim, o que
você e sua equipe litúrgica pensam em fazer para ajudar essas pessoas
a conhecer melhor a missa?

2 – Um grande número de cristãos quase nunca vai à missa, porque


ainda não é capaz de levar a própria vida para ser celebrada lá. Sua
equipe litúrgica já pensou algum modo de ajudar essas pessoas?

3 – Quando alguém diz que não entende porque você vai à missa todos
os domingos, já que ela é sempre igual, o que você responde?
De São José do Rio Preto (SP), Serginho Valle
Liturgista e coordenador do Serviço de Animação Litúrgica
www.liturgia.pro.br

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