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FILOSOFIA NA ESCOLA: A

HISTÓRIA DE UM PROJETO
Álvaro Sebastião Teixeira Ribeiro*

O FIO DA HISTÓRIA: UM PROJETO NO TEMPO

O Projeto Filosofia na Escola alcança seu segundo ano de vida e, como toda a criança
de 2 anos já consegue dar passos seguros e fala por si mesma. Iniciativa conjunta dos
Departamentos de Filosofia e Teoria e Fundamentos da UnB, este é um projeto de
extensão permanente (DEX/UnB) que vem sendo desenvolvido na Faculdade de
Educação/UnB, tendo por objetivo principal criar espaços para promover a prática
filosófica com crianças, adolescentes e jovens, na Educação Infantil, no Ensino
Fundamental e no Ensino Médio em escolas da rede pública do Distrito Federal.

O embrião desta iniciativa começa a ser gerado ainda em 1996 onde, por iniciativa de
profissionais da UnB, é organizado um minicurso de extensão (16 horas), com objetivo
de fomentar a discussão em torno do tema na capital federal. Com a participação dos
professores Ann M. Sharp (co-autora do programa Filosofia para Crianças,
pesquisadora e professora do IAPC, Montclair State University, New Jersey), Walter O.
Kohan (Departamento de Filosofia, Universidade de Buenos Aires), Nelson Gomes,
Julio Cabrera e Agnaldo Couco Portugal (Departamento de Filosofia, Universidade de
Brasília), a atividade obteve um grande respaldo da comunidade. Com a participação de
mais de 100 (cem) alunos e ex-alunos da UnB, bem como professores das escolas
públicas e privadas do DF, o mini-curso desenvolveu-se com a apresentação de
trabalhos práticos e teóricos na área.

Visando criar condições para a implementação da Filosofia para Crianças em escolas


públicas do Distrito Federal, durante 1997 os professores Walter Kohan e Ana Míriam
Wuensch desenvolvem uma série de atividades, com destaque para aquelas
desenvolvidas durante a Semana Universitária da UnB no mês de junho. Realizam-se
oficinas, palestras e projeção de vídeos, com Carlos Loddo e Louise Brandes
(Departamento de Filosofia), além dos professores citados. Em conjunto, participam
mais de 200 pessoas. Em julho, realiza-se a Jornada "A filosofia na educação das
crianças", palestra e oficinas com a professora Ann M. Sharp, na Pós-Graduação em
Educação da Faculdade de Educação (UnB). Mais de 120 participantes, entre alunos da
UnB e professores das redes pública e privada de ensino. Em setembro, acontece o
Encontro "A formação dos professores numa educação para o pensar", palestra e debate
com o professor Peter Büttner, da Universidade Federal de Mato Grosso, MT.
Participam mais de 70 pessoas.

O grande interesse demonstrado pela comunidade em relação ao tema motiva os


Departamentos de Teoria e Fundamentos e de Filosofia da UnB a desenvolver esforços
conjuntos no sentido de gerar condições para que nas escolas públicas do Distrito
Federal se implante uma proposta que possa, como afirma Kohan, desenvolver a
"especificidade da dimensão filosófica da experiência educativa" .

No final do ano de 1997, em 11 de Dezembro, com o propósito de formar professores


da rede pública do Distrito Federal e acompanhar sua prática filosófica com crianças, o
Projeto tem sua aprovação pela Câmara de Extensão da UnB, após encaminhamento
pelo Departamento de Teorias e Fundamentos, da Faculdade de Educação. Esta
aprovação é precedida de uma série de reuniões com professores e coordenadores
pedagógicos da Fundação Educacional do Distrito Federal, organismo responsável pela
operacionalização da educação estatal no DF, para discussão do anteprojeto.

Neste mesmo período, também, são organizadas, para os professores da rede pública,
oficinas demonstrativas de Filosofia. São realizadas um total de 10 (dez) oficinas que
contam com a participação de mais de 200 (duzentos) professores e despertaram um
grande interesse pelo Projeto nascente.

OCUPANDO ESPAÇO NO TEMPO: O PRIMEIRO ANO DE VIDA.

O Projeto Filosofia na Escola teve sua implantação concomitantemente ao


desenvolvimento, na rede pública de um projeto político pedagógico de cunho popular,
implementado pelo governo do Distrito Federal a época. Escola Candanga, nome que
reverencia os primeiros trabalhadores da construção de Brasília, nas escolas públicas do
Distrito Federal, parecia ser uma base sólida inicial ao Projeto por ser uma proposta que
incentivava a reflexão, a apropriação crítica da realidade, a construção coletiva dos
saberes, e a autonomia, tanto dos alunos como dos profissionais da educação. A
organização curricular em fases de aprendizagem, e não mais em séries, oferecia a
perspectiva de um maior respeito ao desenvolvimento do educando, o que lhe permitiria
participar com maior proveito de seu grupo escolar. O tempo destinado a coordenação
pedagógica, 15 (quinze) horas/aulas semanais, mostrava-se como espaço propício para
um trabalho de planejamento e conseqüente implantação da filosofia nas escolas, pois
sua proposta de organização facilitava a permanente busca de aprimorar a prática
pedagógica, tanto no nível individual, como coletivo, e ainda, permitia ao professor
dedicar-se a apenas uma turma, com as mesmas 40 (quarenta) horas de trabalho
semanal. A Gestão Democrática implementada na Escola Candanga, inclusive com
eleições de seus dirigentes pela comunidade educativa, deveria contribuir de forma
efetiva para o desenvolvimento de uma educação para a cidadania, objetivo este,
plenamente coadunado com o Projeto Filosofia na Escola.

Após as oficinas de divulgação, foram muitos os professores a interessarem-se pela


participação no Projeto Filosofia na Escola. Mais de 30 (trinta) escolas e cerca de 140
(cento e quarenta) professores candidataram-se ao Projeto. No entanto, em vista das
condições e objetivos do mesmo determinou-se uma experiência piloto inicial em 4
(quatro) escolas no primeiro ano, com a incorporação de outras escolas no segundo ano,
ao fim do qual seria procedida uma avaliação em vista da continuidade do trabalho. Os
critérios fundamentais para a escolha das escolas, foram: a) o número dos professores
interessados em cada escola; b) as justificativas oferecidas pelos professores para
participar do projeto; c) a disponibilidade da escola para liberar os professores para
atividades do projeto; d) o local geográfico (buscando escolas de locais geograficamente
diferenciados dentro do DF); e) o nível sócio-econômico de referência (procurando
atingir crianças de diversos níveis econômicos e sociais) .

As escolas que participam desde o início do Projeto são:

 CAIC Anísio Teixeira (Ceilândia)


 Centro de Ensino AgroUrbano, (Núcleo Bandeirante)
 Escola Classe 03 (Gama)
 Escola Classe 304 Norte (Asa Norte, Plano Piloto)

O Projeto estruturou-se a partir de uma equipe coordenadora e uma equipe de


mediadores. O grupo coordenador foi formado inicialmente por: Adriana Mabel
Fresquet, Bernardina Maria de Sousa Leal, Ana Míriam Wuensch, Marcos de Camargo
von Zuben e Walter Omar Kohan. A equipe de mediadores foi formada pelos
professores da FEDF: Antônio Rezende, Erasmo Baltazar Valadão, Mariliz Tranquilini
Nery e Vicente de Paula Lima de Sousa, e os estudantes da UnB: Aparecida Ivonery
Rodrigues, Leonardo Loiola, Luciana de Faria Leite M. Vieira e Marília Oliveira.

Das escolas selecionadas foram indicados, de cada uma delas, até 5 (cinco)
profissionais, dentre eles 3 (três) ou 4 (quatro) regentes. Os participantes das escolas
totalizaram 18 (dezoito) profissionais, entre professores regentes, orientadores
educacionais, coordenadores pedagógicos e diretores de escolas.

Desta forma estava pronta a estrutura para o começo efetivo do Projeto. De 16 a 20 de


fevereiro de 1998 foi realizado um curso, promovido pela Escola de Extensão (EXE) da
UnB, de iniciação ao Projeto Filosofia na Escola. Participaram dele cerca de 30 (trinta)
pessoas.

O trabalho nas escolas começou a ser organizado após o curso inicial. As equipes de
trabalho foram compostas pelos profissionais do quadro permanente das escolas
participantes do Projeto, 4 (quatro) a 5 (cinco) profissionais e 2 (dois) mediadores (1
(um) professor da FEDF e 1 (um) estudante da UnB). Com o acompanhamento
constante da equipe de coordenação, deu-se início ao trabalho. A previsão inicial era a
de realização de uma aula de Filosofia por semana, com seu precedente planejamento e
posterior avaliação, bem como uma reunião mensal com todos os componentes, para
avaliação, planejamento e aprofundamento teórico. O planejamento e execução das
aulas aconteceram na própria escola e a reunião mensal, na UnB.

Apesar dos resultados alcançados pelo Projeto Filosofia na Escola, durante o ano de
1998, a avaliação final indicava a existência de alguns problemas. Percebe-se
claramente a deficiência da formação filosófica do cidadão brasileiro, o que leva os
professores a, também, não terem desenvolvidas habilidades básicas necessárias à sua
cotidianidade. O caráter da experiência desenvolvida, que traz uma inovação na prática
de ensino e os limites de recursos humanos empregados no Projeto, como era de se
esperar, também oferecem demandas difíceis de serem atendidas pela coordenação. O
caráter voluntário dos participantes, sendo que apenas alguns alunos da UnB receberam
modestas bolsas, também influenciava sobremaneira nas condições de trabalho.
Outras situações relevantes que tiveram influência no desenrolar do trabalho foram: as
dificuldades encontradas com a maioria das instâncias de coordenação da FEDF, local
(Escola), intermediária (Divisões Regionais de Ensino) e central (Departamento de
Pedagogia), para envolver-se ativamente do Projeto e a paralisação ocorrida em função
da greve decretada tanto na UnB, quanto na FEDF na primeira parte do ano. Em
decorrência desta greve, houve a paralisação, por opção do próprio grupo, quase que
total do projeto. A paralisação das atividades dificultou a implementação do Projeto,
minando o nível de compromisso de alguns professores que acabaram desistindo da
empreitada.

O processo decisório sobre essa paralisação dos trabalhos permitiu uma ampla discussão
no grupo. Foram organizados encontros para discutir-se aquele momento político vivido
nas escolas, algumas aulas foram desenvolvidas com crianças sobre temas relacionadas
com a greve. Apesar da riqueza filosófica proporcionada pelo momento, não se
conseguiu manter o grupo com a mesma unidade e, consequentemente, o Projeto saiu
debilitado no que concerne ao relacionamento e a motivação do pessoal envolvido. O
forte impulso que o curso inicial forneceu, com a paralisação das atividades, sofreu um
impasse desmotivador.

A retomada das atividades ocorre com a necessidade de se resgatar os princípios


organizacionais do Projeto. O impasse inicial de resistência a reativação total dos
trabalhos logo deu lugar ao cumprimento da organização prevista. Embora tenha
ocorrido uma redução de pessoal envolvido, isto não foi suficiente para a paralisação do
Projeto. Ao contrário, este transformou-se num elemento motivador para a continuidade
do mesmo. A partir de setembro de 1998 o Projeto passou a ter maior presença nas
atividades das escolas e os resultados do primeiro ano foram extremamente satisfatórios,
tendo avaliação positiva por parte de alunos, pais e professores, bem como da própria
FEDF.

Neste processo de retomada das atividades tivemos a presença na UnB do Profº Dr.
Jorge Larrosa, da Universidade de Barcelona, que ministrou o curso "Liberdade e
Amizade na Experiência da Leitura". O curso teve a duração de 30 horas/aulas, tendo
participado do mesmo 20 (vinte) pessoas. Esta atividade contribuiu para pensar a
relação da literatura com a filosofia no Projeto.
Neste primeiro ano o Projeto procurou ser fiel aos objetivos de buscar inovação no
campo da área de Filosofia para Crianças, visando, não implementar um programa já
pronto (como o programa Lipman, com novelas para crianças e manuais para
professores), mas pesquisar a própria textualidade da pratica filosófica com crianças,
bem como criar métodos próprios de trabalho e elaborar instrumentos de registro e
avaliação da experiência.

APRENDER E CONSOLIDAR: O SEGUNDO ANO DE VIDA

O segundo ano de vida começou com uma mudança substantiva no Governo do Distrito
Federal. As eleições de 1998 mudaram o mapa político do Distrito Federal e
consequentemente a política educacional. Neste clima de mudança, a insegurança em
relação a continuidade do Projeto Filosofia na Escola foi geral, no entanto, o novo
governo garantiu a continuidade do Projeto que passaria por uma fase de avaliação, uma
vez completados os dois anos de duração, a final de 1999.

Em janeiro de 1999, o Projeto se fez presente no Encontro de Educação para o Pensar,


organizado pelo Centro Brasileiro de Filosofia para Crianças, em São Paulo, no Instituto
Makcenzie, com 15 (quinze) participantes que apresentaram um painel representativo
do primeiro ano de existência. A participação no Encontro contribui para o
aprimoramento teórico dos participantes, embora as diferenças conceituais na
compreensão do trabalho filosófico com crianças se fizessem presentes.

Em fevereiro de 1999, as escolas que participaram do Projeto no ano de 1998 são


visitadas pela coordenação e são convidadas a avaliar a continuidade no Projeto. As
reuniões ocorreram com todos os professores e direção das escolas, para que a decisão
de continuar a participar ou não pudesse ser coletiva. Buscava-se a superação de
situações negativas vivenciadas no ano anterior, quando o engajamento de algumas
escolas, enquanto coletividade, não aconteceu, gerando dificuldades para os professores
envolvidos. Neste momento foi apresentado às escolas um vídeo produzido pelo próprio
projeto, que apresentava o trabalho desenvolvido, tanto nos seus aspectos teóricos como
práticos.
Questões de relacionamento entre o corpo docente das escolas, suas direções eleitas
anteriormente pela comunidade e as direções do sistema de ensino, recentemente
nomeadas pelo Governador eleito, criaram algumas dificuldades para a decisão das
escolas em permanecer no Projeto. Diferenças de posicionamentos referentes à gestão
democrática e ao provável fim da Escola Candanga, demandaram uma negociação
demorada no sentido de garantir as condições para que as escolas pudessem continuar
com uma participação qualitativa no Projeto. Todos os esforços foram empreendidos
pela coordenação do Projeto para que houvesse garantias de participação efetiva dos
professores envolvidos, havendo uma resposta positiva por parte da direção da FEDF e
da Secretária de Educação, embora, não sem tensões, principalmente durante o primeiro
semestre de 99.

O Projeto previa, desde sua conceição, a incorporação gradativa de novos profissionais


de ensino. Assim sendo, 3 (três) escolas de Sobradinho integraram-se aos trabalhos em
curso a partir do começo de 1999: o Centro de Ensino 06, a Escola Classe 03 e o Centro
Educacional 02. Desta forma o Projeto passou a reunir 7 (sete) escolas e a contar com
50 (cinqüenta) professores.

Ocorreram mudanças na forma de organização da mediação, com a desvinculação dos


mediadores que pertenciam ao quadro de professores da FEDF e o aumento no número
de mediadores da UnB. Uma professora e 3 (três) alunos do Instituto de Psicologia da
UnB integram-se ao Projeto. A equipe de coordenação incorporou novos elementos,
passando a contar em definitivo com os professores Álvaro Sebastião Teixeira Ribeiro
(TEF/UnB e FEDF), que já estava atuando como colaborador desde setembro de 1998 e
Lucia Helena Zabotto Pulino (IP/UnB). O Professor Erasmo Baltazar Valadão (FEDF)
passou a colaborar, também, com a coordenação dos trabalhos.

Além dos 3 (três) mediadores da área de Psicologia, Mariana Tavares Rabelo, Beatriz C.
dos Santos e Maria Alice Gomes de Oliveira, incorporaram-se, inicialmente ao trabalho
os seguintes mediadores: Francisco Gilson Rebouças Pôrto Jr, Herbert Luiz do
Nascimento, Simone Venâncio Fernandes e Tâmara Marisi Fernandes Vicentine,
estudantes do curso de Pedagogia da UnB. Do curso de Filosofia incorporam-se ao
Projeto os estudantes: Eronildo Silva Santiago, Rudhra Gallina, Valeska Maria Zanello
de Loyola e Wanderson F. Nascimento, bem como, Gabriela Lafetá Borges (mestranda
em História). Com a diversificação do grupo de mediadores o projeto encontra maiores
possibilidades interdisciplinares.

Com a equipe de trabalho definida, no período de 20 a 25 de março de 1999, realizou-se


o 2º Curso "Filosofia na escola". O número de participantes passou dos 70 (setenta),
exigindo um esforço extra na coordenação dos trabalhos. O 2º Curso "Filosofia na
Escola", em um total de 40 (quarenta) horas/aulas, mais uma vez foi estruturado de
forma a oportunizar um conhecimento teórico-prático aos seus participantes.

Após o curso, os trabalhos nas escolas se reiniciaram. As equipes de trabalho foram


constituídas com a presença de mediadores das 3 (três) áreas envolvidas na mediação
(Pedagogia, Filosofia e Psicologia). A prática filosófica ocorreu com maior
conformidade e melhores condições de trabalho nas escolas, o que permite o
desenvolvimento regular do Projeto. Organizadas as equipes, os trabalhos se
desenvolveram mantendo a forma inicial: reuniões semanais para planejamento e
avaliação e atividades em sala de aula com a regência do professor responsável pela
turma e participação dos mediadores. As reuniões mensais aconteceram segundo
calendário previsto, não havendo interrupções.

O Congresso Internacional de Filosofia com Crianças e Jovens, realizado em Brasília


entre os dias 4 e 9 de julho de 1999, mobilizou os participantes do Projeto no período de
sua realização. A participação dos professores e mediadores do Projeto deu-se de forma
atuante. Quase a totalidade dos professores e todos os mediadores participaram do
Congresso, demonstrando o interesse e a motivação que marcaram o papel das escolas.
O apoio da FEDF, na liberação dos professores e oferecimento de 50 (cinqüenta) bolsas
de participação, foi importante para o envolvimento maior de outras instâncias da
própria FEDF. Crianças representando as escolas tiveram participação na abertura do
Congresso e na tele-conferência realizada com o Profº Mathew Lipman.

Logo após o congresso foi oferecido um mini-curso com a presença do Profº Dr. David
Kennedy, da Montclair State University, que aborda questões de filosofia da infância.
Houve participação de mediadores e professores do Projeto, bem como professores que
haviam participado do Congresso e buscavam aprofundar seus conhecimentos.
No mês de julho, de 26 a 30, ocorreu o 3º curso de formação "Filosofia na Escola",
desta feita, com a participação de estudantes e professores que não estavam vinculados
ao Projeto. O curso contou com a participação de 20 pessoas, que buscavam
conhecimento sobre a temática. Sua estruturação seguiu basicamente o padrão dos
cursos anteriores , tendo sido desenvolvido, desta vez, em 60 horas, com início em julho
e término em novembro 99, com a participação do Profº David Kennedy.

Na transição do primeiro semestre letivo para o segundo, houve alguns atropelos. O


período não coincidente das férias escolares dificultou a retomada dos trabalhos. Em
função da greve ocorrida no ano de 1998, o calendário de 99 teve que se adequar a
diferentes realidades, obrigando as escolas e a própria UnB a definir momentos
diferenciados para o recesso escolar. Desta forma a retomada do Projeto não ocorreu em
todos as escolas ao mesmo tempo. Ainda assim, na reunião mensal do final do mês de
agosto, a situação já se normalizara.

Durante este período a equipe passou por modificações com a saída dos trabalhos, dos
mediadores de Psicologia: Mariana, Alice e Isabel, por estarem iniciando um outro
projeto no Instituto de Psicologia, bem como, de outros mediadores, Simone e Tâmara
da Pedagogia e Eronildo, da Filosofia, por motivos pessoais. No entanto, no mesmo
período contamos com a adesão dos estudantes de Pedagogia, Ana Paula de Matos
Oliveira, Paula Fernandes e Maurício, da Psicologia (licenciatura) Juliana Merçon
Lestani e da Comunicação, Cristiano Torres, vindo a suprir as ausências relatadas
anteriormente. Os novos mediadores foram convidados após participação no 3º curso de
formação. Na reunião de agosto por demanda dos professores foi decidida a criação de
um grupo de estudos para o fortalecimento da formação filosófica dos professores,
coordenados pelo Profº Walter O. Kohan. Com a participação de cerca de 20 pessoas,
do Projeto, os encontros se realizaram quinzenalmente, de setembro a dezembro.

Os meses de setembro e outubro poderiam ser descritos como o período em que o


Projeto consolidou-se nas escolas. As avaliações das atividades desenvolvidos
demonstraram o crescimento qualitativo da prática filosófica. Um fato significativo foi o
convite recebido pelo Projeto para levar a proposta à cidade mineira de Paracatu,
próxima a Brasília. Nesta cidade foi realizado um curso intensivo de formação, com
duração de 16 horas/aulas, que teve a presença de 150 (cento e cinqüenta) professoresda
rede municipal de ensino.
Em novembro, entre os dias 25 e 30, mais uma vez tivemos a presença do Profº David
Kennedy. O Profº David visitou escolas, reuniu-se com mediadores e professores,
ministrou palestras com os temas: Filosofia e Infância e Comunidade de Investigação
Filosófica, e participou do último encontro do 3º curso de formação.

UM PROJETO CONTÍNUO...

Neste curto espaço de tempo, dois anos, o Projeto Filosofia na Escola consolidou-se
como um espaço experimental de crescente importância para o ensino da Filosofia na
Educação Infantil e no Ensino Fundamental. Foram buscadas alternativas ao Programa
de Filosofia para Crianças, de Matthew Lipman, alternativas estas, que têm dado ao
professor condições de textualizar a realidade vivida no espaço escolar e,
consequentemente, a utilização de textos que criam condições para uma reflexão com
base na realidade do aluno.

As condições oferecidas pela Fundação Educacional do Distrito Federal, órgão


executivo da Secretaria de Educação, para a implantação e implementação do Projeto
não foram as ideais. Embora houvesse muita disposição para o trabalho de parte da
maioria das direções das escolas, muitos problemas ocorreram durante estes dois anos.
Em vários momentos os professores careceram de apoio em seus trabalhos,
evidenciando a dificuldade das escolas em desenvolver uma ação mais coletiva. A
dificuldade encontrada no interior das escolas para realização dos planejamentos e as
ausências de professores nas reuniões mensais, ocasionados pela dificuldade de
liberação nas escolas, dificultou em muito o crescimento teórico/prático e a partilha de
experiências. Uma outra situação que trouxe prejuízos à caminhada do projeto foi a
remoção, ao final do ano, de professores para outras escolas.

A filosofia nas escolas da rede pública de ensino encontraria espaço mais adequado para
sua implementação com a manutenção do tempo de coordenação pedagógica dos
professores e a autonomia da escola, condições estas fundamentais para a continuidade
e aprofundamento do Projeto. Um apoio efetivo por parte da administração pública seria
fundamental.

No Distrito Federal o apoio oferecido pelas administrações que se sucederam não


correspondeu ao empenho dos corpos docentes das escolas e da UnB. Embora a
expectativa, durante a implantação da Escola Candanga, de receber contribuições mais
concretas para um projeto desta natureza, a realidade mostrou certa apatia dos dirigentes
durante quase todo o período que abrangeu os anos de 1997 e 1998. A situação não
mudou posteriormente com a nova administração. Deve se ressaltar o envolvimento
crescente das direções das escolas nas ações do Projeto.

O impacto do Projeto tem sido percebido pelo interesse demonstrado por outras escolas
de Ensino Básico da Rede Pública do Distrito Federal e Estados circunvizinhos. O
interesse manifestado em outras escolas públicas do Distrito Federal originou a
realização de palestras e oficinas, assim como visitas de pessoas destas escolas a UnB.
A região circunvizinha do DF, o chamado entorno do Distrito Federal, já recebe
influência do Projeto, haja vista o curso ministrado em Paracatu e as perspectivas de
implantação do mesmo, naquela cidade.

Nas universidades brasileiras o Projeto também está sendo conhecido e já são muitas as
Instituições de Ensino Superior que demonstram interesse em conveniar-se com a UnB,
para desenvolvimento do mesmo. Podemos citar as Universidades de: Taubaté (SP),
Federal de Pelotas (RS), Estadual de Santa Cruz, Ilhéus (BA), Dom Bosco de Campo
Grande (MT), entre outras. Estão em andamento dois convênios internacionais com as
Universidades de Laval (Quebec-Canadá) e Estadual de Montclair (EUA).

A Faculdade de Educação também sente reflexos do Projeto Filosofia na Escola.


Consolida-se no âmbito do Departamento de Teoria e Fundamentos a Área de Filosofia
na Escola. A demanda dos estudantes criou condições para que novas disciplinas fossem
ofertadas. Filosofia para Crianças e Comunidade de Investigação Filosófica são novas
disciplinas optativas do currículo de Pedagogia. O Estágio Supervisionado para Início
de Escolarização, abre turmas para atendimento de estagiários na área de Filosofia na
Escola.

O Projeto Filosofia na Escola, inicialmente previsto para durar 2 (dois) anos, encontra-
se frente à demanda para sua continuidade. Os resultados obtidos reafirmam a
necessidade dos currículos de contemplar a Filosofia, não só como disciplina, mas como
dimensão inesquecível da educação das crianças, adolescentes e jovens. O trabalho
desenvolvido ao longo destes anos com os professores regentes de classe, na Educação
Infantil e Ensino Fundamental - fases iniciais, demonstraram a possibilidade concreta
destes profissionais engajarem-se em investigações filosóficas coletivas. O Projeto tem
gerado uma atitude reflexiva nos professores, em que a discussão interdisciplinar surge
de forma enfática. A prática da sala de aula e a postura requisitada na prática de
filosofia, têm orientado a expansão dos princípios exigidos na ação filosófica.

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