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ALICE TELES
Resumo
2020
ALICE TELES
Filosofia da religião
A fé religiosa pura é decerto a única que pode fundar uma Igreja universal;
pois é uma simples fé racional que se deixa comunicar a cada qual em vista da
convicção, ao passo que uma fé histórica, fundada unicamente em factos, só pode
alargar a sua influência até onde conseguem chegar, segundo circunstâncias de
tempo e lugar, os relatos relacionados com a capacidade de julgar a sua
credibilidade.
Só podem para si pensar a sua obrigação como obrigação de um serviço
que devem prestar a Deus, onde não interessa tanto o valor moral interior das
acções quanto, pelo contrário, o facto de serem prestadas a Deus para, por
moralmente indiferentes que tais acções possam ser em si mesmas, lhe agradar,
pelo menos mediante a obediência passiva.
Não lhes entra na cabeça que, ao cumprirem os seus deveres para com
homens (eles próprios e outros), executam também justamente por isso
mandamentos divinos, portanto, em todo o seu fazer e deixar, na medida em que
tem relação com a moralidade, estão constantemente no serviço de Deus, e que é
também absolutamente impossível servir de mais perto a Deus de outro modo
(pois os homens não podem ter qualquer acção e influência sobre outros seres
excepto os do mundo, mas não sobre Deus) tópico.
Quanto à última, cada um pode conhecer por si mesmo, graças à sua
própria razão, a vontade de Deus que está na base da sua religião; de facto, o
conceito da divindade promana, em rigor, apenas da consciência destas leis e da
necessidade racional de aceitar um poder que lhes pode proporcionar todo o efeito
possível num mundo, efeito consonante com o fim último moral. .
Quanto à última, cada um pode conhecedor de si mesmo, graças à sua
própria razão, a vontade de Deus que está na base da sua religião; de facto, o
conceito da divindade promana, em rigor, apenas da consciência destas leis e da
necessidade racional de aceitar um poder que lhes pode proporcionar todo o efeito
possível num mundo, efeito consonante com o fim último moral.
Mas nem por isso a determinação desta forma se deve logo considerar
como um afazer do legislador divino; pelo contrário, pode com fundamento supor-
se que a vontade divina é que nós próprios realizemos a ideia racional de
semelhante comunidade e, embora os homens tenham decerto intentado com
sequelas infelizes várias formas de Igreja, contudo, não devem cessar de
perseguir este fim, se necessário for, por meio de novas tentativas que evitem o
melhor possível os erros das anteriores; tal afazer, que é simultaneamente um
dever seu, foi de todo alguma vez aparecer.
Ora bem, no carácter duvidoso do problema de se é Deus ou os homens
quem deve fundar uma Igreja revela-se a propensão dos últimos para uma religião
do serviço de Deus (cultus) e, porque esta se baseia em prescrições arbitrárias,
para a fé em leis divinas estatutárias, sob o pressuposto de que à melhor conduta
(que o homem pode sempre seguir de acordo com a prescrição da religião moral
pura) deverá acrescentar-se ainda uma legislação divina não cognoscível pela
razão, mas necessitada de revelação; tem-se assim de imediato em vista a
veneração do ser supremo (não pela observância dos seus mandamentos, já a
nós prescrita pela razão).
Por isso, acontece que os homens nunca terão a união numa Igreja e o
acordo quanto à forma que se lhe há de dar, e igualmente as instituições públicas
para o fomento do moral na religião, por algo de em si necessário, mas só com o
fim de, como eles dizem, servir o seu Deus mediante cerimónias, profissões de fé
em leis reveladas e observância das prescrições que pertencem à forma da Igreja
(a qual, no entanto, é somente um meio); embora todas estas observâncias sejam,
no fundo, acções moralmente indiferentes, tornam-se, justamente por isso, tanto
mais agradáveis a Deus, porque só por mor d'Ele devem ter lugar.
Por consequência, no esforço do homem em vista de uma comunidade
ética, a fé eclesial precede naturalmente a fé religiosa pura; templos (edifícios
consagrados ao serviço público de Deus) existiram antes das Igrejas (lugares de
reunião para a instrução e a estimulação nas disposições de ânimo morais),
sacerdotes (administradores consagrados dos usos piedosos) antes dos
espirituais (mestres da religião moral pura), e encontram-se ainda, na maior parte
dos casos, na posição e no valor que a grande multidão lhes concede Escritura, a
qual, por seu turno, como revelação, deve ela própria ser para os contemporâneos
e a descendência um objecto de grande reverência; pois tal exige a necessidade
dos homens de estarem certos no tocante ao seu dever no culto divino.
A fé eclesial tem por seu intérprete supremo a fé religiosa pura
A última expressão não deveria sequer utilizar-se, quando se fala ao grande
público (em catecismos e sermões); pois é para este demasiado erudita e
incompreensível; de igual modo, as línguas modernas não subministram para ela
nenhuma palavra com o mesmo significado.
O homem comum entende sempre por religião a sua fé eclesial que se lhe
apresenta aos sentidos, ao passo que a religião é interiormente oculta e depende
de disposições de ânimo morais. Ora bem, quando uma Igreja, como
habitualmente acontece, se faz passar pela única universal (embora se encontre
fundada numa particular fé revelada, que, enquanto histórica, jamais pode a todos
ser exigida), então quem não reconhece a sua fé eclesial (particular) é por ela
denominado infiel e odiado de todo o coração; quem só em parte (no não
essencial) dela se desvia é apelidado de heterodoxo e, pelo menos, evitado como
contagioso.
Por fim, se ele se reconhece membro da mesma Igreja mas, no entanto, se
afasta dela no essencial da fé (a saber, naquilo de que se faz o essencial), chama-
se então - sobretudo quando ele difunde a sua crença errónea - herege, e como
um agitador é considerado a mais punível do que um inimigo externo, expulso da
Igreja por uma anátema (semelhante aos que os Romanos pronunciaram sobre
quem atravessou o Rubicão contra a aquiescência do Senado), e entregue a todos
os deuses infernais.