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UMA REFLEXÃO A CRÍTICA DA MORAL E UMA ABORDAGEM AO CONCEITO DE

TRANSVALORAÇÃO NA FILOSOFIA NIETZSCHIANA

Alice Teles*
(Graduanda em filosofia-UEPA-)

RESUMO

Este trabalho pretende trazer uma pequena reflexão sobre a crítica que Nietsche faz à moral cristã e para tanto

interessa-se analisar de ante mão alguns conceitos como bem e mal, juízos que fundamenta todos os processos

avaliativos dos valores morais, e que em determinando momento sofreu uma inversão de sentidos de valorativos,

busca entender o que é o ressentimento e como caracteriza na má consciência e, e tentar compreender o termo

transvaloração dos valores, no qual quer inferir numa nova forma de conceber novos . Pois para Nietzsche a moral

Cristã a partir do contexto histórico de seus ancestrais os judeus inverteram os valores que era exaltados pela moral

aristocrática, e que essa nova forma de conceber valor trouxe uma grande degeneração na consciência humana,

desfazendo de sua natureza e de seus instintos, como meio de superação desse caráter reativo, princípio do

ressentimento. Transvaloração os valores seria um modo de trazer novos estímulos a vida, juízos que os afirmes, tal

qual a moral dos senhores que avalia o mundo conforme o seu julgamento, diferentemente da moral escrava que se

abnega desse mundo e busca ser mais fora deste. Esse trabalho busca entender como o cristianismo se proliferou e

como é visto seu modo de valorar moral.

Palavras chaves: moral cristã, ressentimento e transvaloração

ABSTRAT

This work aims to bring a small reflection on the criticism that Nietsche makes to Christian morals and for this it is interested to analyze beforehand some

concepts as good and evil, judgments that underlies all the evaluative processes of moral values, and which in determining moment suffered an inversion of

meanings of valortives, seeks to understand what resentment is and how it characterizes in bad consciousness and , and try to understand the term

transstocking of values, which you want to infer in a new way of conceiving new ones. For Nietzsche christian morality from the historical context of his

ancestors the Jews reversed the values that were exalted by aristocratic morality, and that this new way of conceiving value brought a great degeneration in

the human consciousness, undoing its nature and instincts, as a means of overcoming this reactive character, principle of resentment. Transvalorization of

values would be a way to bring new stimuli to life, judgments that afirmize them, such as the moral of the lords who evaluate the world according to their

judgment, unlike the moral slave who selfless of this world and seeks to be more out of it. This work seeks to understand how Christianity has progressed

and how its way of moral valorization is seen.

Key words: Christian morality, resentment and transvalorization

O filosofo da suspeita
Friedrich Wilhelm Nietzsche nasceu em um vilarejo de Rocken, na Prússia, no dia
15 de outubro de 1844.O pai, Karl Ludwig, era pastor protestante sua mãe, Franziska
Oehler, também vem de uma família de pastores. Ele tem dois irmãos: Elizabeth e Josep,
porém o segundo morreu ainda quando pequeno. Seu pai em 1849 sofreu um acidente,
decorrente uma queda ficou paralitico e sego. Sua mãe, viúva, teve que mudar com os
filhos para Naumburgo, neste lugar Nietzsche começa seus estudos não se adaptando a
convivência social, passa, aos quatorze anos, a ingressar no Colégio Real de Pfort onde
dedica-se à leitura, dedica grande parte de seu tempo ao estudo de teologia, pois
pretendia tornar-se pastor. Funda uma associação literária chamada "Germânia" junto
com os amigos Carl Von Gersdoff (1844-1904) e Paul Deussen (1845-1919) em 1863.

Em 1864, Nietzsche, termina seus estudos apresentando um trabalho sobre


-Theógnis de Megara- o poeta grego do século Vi a. C, inscreve-se em seguida na
Universidade de Bonn para estudar teologia, mas transfere-se em seguida para
Universidade de Leipzig, a fim de acompanhar os cursos do prof. Ritschl (1806-1876),
abandona seus estudos teológicos e se especializa em filologia. Convocado para o
serviço militar, em 1868, sofre uma fratura quando cavalgava, sendo logo dispensado,
recolhendo-se a Naumburgo onde se recupera junto a sua família. De volta a Leipzig
escreve a uma série de artigos de filologia para a "Revista Literária do Centro", com muita
disciplina termina seu curso na universidade, agora livre das exigências acadêmicas
Nietzsche pretende flanar e dedicar-se às mais diversas leituras. Foi convidado a lecionar
na Suíça, hesita em ir, mas acaba aceitando o convite. Conta seus 24 anos quando se
tornou professor de filologia Clássica na Universidade da Basiléia. Nietzsche, encarrega-
se de cursos regulares, profere conferências e consagra-se à escrita, faz uma palestra um
grande público com os temas: "sobre a personalidade de Homero", "Sócrates e a
Tragédia" e "O drama musical grego". Em dezembro de 1871, Nietzsche termina de
redigir " O nascimento da Tragédia no espirito da música, publicado no ano seguinte,
neste texto teve influência de "Arthur Schopenhauer (1788-1860) e Richard Wagner
(1813-1883).

Em 1879 é um dos piores anos de sua vida, com fortes dores de cabeça e na vista
impedindo com frequência de ler e escrever, impossibilidade que lhe sobrevinha já fazia
seis anos. Com a saúde debilitada as obrigações profissionais começam a ter um grande
peso, interrompida em 1889 por uma crise de loucura que durou até sua morte em 25 de
agosto de 1900. Em maio entrega a carta de demissão a Universidade de Basiléia, e com
a ajuda de Overbeck, passa a receber uma pensão de quatro mil francos por ano,
servindo de ajuda até seus últimos dias. Nietzsche abraça uma vida errante: percorre
vilarejos da suíça, passa alguns tempos em Naumburgo. Publica dois apêndices- humano
demasiado humano, Miscelânea de opiniões e sentenças, O andarilho e sua Sombra- Até
setembro de 1888, Nietzsche era parcialmente desconhecido, suas obras eram quase
despercebidas, mas com o livro " Assim Falava Zaratustra" começou a sair um pouco do
Anonimato. É, portanto, na obra genealogia da moral (1886), que Nietzsche vem tratar
com mais precisão sobre a origem da moralidade, além disso, como essa moral se aplica
em todos os atos do ser humano, e é neste contexto que surge o binômio bem e mal- bom
e mau, que se ergue de alguma maneira como forma de manipulação e interesse.

Ele questiona se a falta, o pecado, o erro, enfim, seriam decorrência de uma má


ação ou de um conceito que procurou inserir no pensamento um sentido do que é bom
em si, em decorrência, de algo que, em contra posição, é mau? Será que esses termos
não buscam inserir uma existente consequência de consciência boa e de uma
consciência má, ou simplesmente figuras inventa pelos espíritos que se consideram
superiores para poder escravizar os espíritos inferiores? A moral como classificação de
tudo aquilo que representa o bom e o mal não parece significar senão um poder que
pretende se impor em detrimento dos mais fracos, inábeis, daqueles que precisam ser
guiados no percorrer se sua vida, que dependem sempre de ser conduzido a um “bem-
estar", a uma alegria sofrível de viver, ou uma felicidade plena. O ideal que ascende, de
proibição das paixões, dos sentimentos menos nobres, seria uma manipulação dos mais
fortes para exercer seu domínio sobre os mais fortes, inventando uma religião e um estilo
de vida capaz de reprimir o erro, a falta, o pecado, em nome de uma felicidade futura,
situado no além inatingível neste mundo, mas fixando como prêmio no outro. Mas como
eles fazem isso? Eles tentam inculcar no homem esses princípios fabricados a partir da
vontade de potência e utilizam da moral que faz a distinção de não-valores de valores, ou
a inexistência de valores diante daquilo que deve ser realmente considerado e tido como
valor. A genealogia da moral procura responder todos esses questionamentos de uma
forma direta, viva, perfurante, segundo o estilo nietzschiano.

Origem do bem e do mal


“Onde estiver o vosso tesouro, aí está vosso coração”, o homem é o único animal
que conseguiu no processo histórico produzir cultura, religião, linguagem, ferramentas,
política, além do mais, aprendeu a fazer ciência, nomear e entender os significados das
coisas e, não obstante, criar juízos (cheio de suas razões e verdades) e também, dirige-se
a eles com tal adoração e devoção, tomando essas coisas como sua maior glória, sua
conquista suprema, absoluta e universal. Todos esses feitos carregam em si um valor, tal
valor produz demais valores carregados de mais normas, tradições, regras e leis e que
conduz cada comportamento, atitude e ação que um indivíduo possa ter em particular,
mas do mesmo modo, em coletividade.

A partir da obra: Humano, demasiado Humano, Nietzsche, começou a dá seus


primeiros passos sobre a origem dos preconceitos morais, e acabou por reforçar que o
valor desses valores não nasceu do acaso, mas brotaram de uma mesma raiz, esta que
governa e dirige as forças interiores e que usam uma linguagem clara com conceitos bem
específicos. A moral é sustentada por dois juízos: bem e mal, o valor que gera os demais
valores, é a partir deles que o homem e suas ações são avaliados. Desde os trezes anos
de idade, Nietzsche já cogitava a ideia sobre -qual é a origem de nossa ideia de bem e
mal-, e nesta mesma época já sabia distinguir esses juízos preconcebido teologicamente
da moral, não mais buscando sua fundamentação da origem do bem para além do
mundo.

Ao estudar a história e a filosofia e um pouco de suas observações para questões


psicológicas fez surgir questionamentos acerca do problema que tanto lhe intrigava:
Como o homem inventou o bem e o mal? Tem outros valores na sua gênese, ou já vieram
com essa noção de em si mesmo? Eles são ou não favoráveis para o desenvolvimento
humano? Ou será que eles empobrecem, degenera a vida? Mais quem sabe eles não são
a plenitude, a força e vontade de viver, um valor, uma confiança, um futuro?

E, então, através de analisar povos, distinguir tempos, classes de indivíduos, que o


fez questionar mais, conseguiu pousar e fazer sua caminhada com mais firmeza,
florescendo ainda mais as suas ideias; teve impulsos para publicar algumas hipóteses.
Com a ajuda de uma a leitura feita em um livro pertencente ao doutor Paulo Ree, 1877,
com o título “Origem dos sentimentos morais”, no qual foi tão sagaz em sua leitura, desde
as frases a tese, lendo bem minuciosamente, levou-o a compreender seu objetivo; seu
acerto e sua busca foram semelhante um jogo de dardo, no alvo de dardo, cada argola
leva a um centro principal e assim fez o filosofo alemão, atirando sua investigação até
acerta o centro. Nietzsche queria tratar do valor moral, e não certas atitudes que fazia
uma pessoa moral, ou imoral, ou seja, o valor tomado por avaliação, o valor que a moral
carrega para responder algo. Diz também que valor do altruísmo, a compaixão, a
abnegação de si (tão embelezado por Schopenhauer), são os valores passaram pelo
processo de criação, mas que se auto afirmavam no percorrer da história, pessoas
invocam e faz divinação desses conceitos; encobrem o interesse por trás deles, ele diz:

Mais precisamente contra esses instintos surgiam em uma


desconfiança cada vez mais clara um ceticismo cada vez
mais profundo. Neles via exatamente o grande obstáculo da
humanidade, a mais sublime tentação, a sedução que
conduziria para onde? Para o nada? Neles via o princípio do
fim, imobilização, o cansaço que olha para atrás, a vontade
que se rebela contra a vida, a última doença anunciada por
sintomas de ternura e de melancolias: compreendia sempre
mais que essa moral da compaixão, que não cessava de
ganhar terreno [...] (NIETZSCHE,2020, p.15)

Os filósofos como Platão, Spinoza, La Rochefoucald, Kant, Agostinhos entre outros


divinizaram esses princípios, baseados na negação da vida e de si mesmo. É nisso que
vem defender a necessidade de uma crítica dos valores, e para tanto, deve-se discutir
esses valores e conhecer as condições e os espaços onde nasceram, desenvolveram e
formaram-se. Nietzsche diz que no início, na pré-história, as ações não-egoístas foram
honradas e nomeadas boas por aqueles que eram bem favorecidos- fortes, úteis,
guerreiros, belos de saúdes- com o passar do tempo esqueceu-se essa origem e
chamaram-se boas as ações não-egoísta, em conformidade com a tradição, a cultura, os
rituais, são ditas e elogiadas como boas em si, afirma:

Para mim é evidente em primeiro lugar que essa teoria


procura e fixa a origem de emergência do conceito “bom” num
lugar em que não está: o juízo “bom” não emana daqueles a
quem se prodigalizou a “bondade”. Foram os próprios bons,
os homens nobres, os poderosos, aqueles que ocupam uma
posição de destaque e têm a alma enlevada que julgaram e
fixaram a si e a seu agir como “bom”, ou seja, “de primeira
ordem, em oposição a tudo o que é baixo, mesquinho, comum
e plebeu. (NIETZSCHE, 2020, p. 22-23)
Es que começa a surgir o ponto importante na construção da crítica sobre a origem
do bom, diz que o primeiro que se afirmar é o bom dos aristocratas, no primeiro estágio, o
conceito “bom” surgiu do juízo do mais forte, do homem guerreiro, nobre e não de uma
bondade. Pensar no conceito de bondade é inferir um carácter dos fracos, coisa que os
guerreiros não conheciam, pois a supremacia de seus valores estava respaldada no
sentimento de explodir para fora seus extintos, esse sentimento que determinava a
hierarquia deles. Para Nietzsche foi a consciência da superioridade e da diferença, um
sentimento de disputa prevalecente de uma espécie superior e dominadora em resistência
a uma espécie mais fraca e baixa que determinou a origem da oposição entre “bom” e
“mau”. O tipo forte, este que tem o direito de explodir seus instintos, de nomear, de
estabelecer sua origem linguística, o direito de apoderar-se das coisas que ditava a forma
de valorar a vida, e não estava ligada a ações não-egoísta.

Esse agir não-egoísta se institui de forma gradativa na consciência humana, ou no


dizeres de Nietzsche no instinto gregário, e só foi possível pela inversão dos primeiros
valores. “Herbert Spencer, o qual considera os conceitos “bom” e “útil” como essência
semelhante, “adaptados a um objetivo”, de modo que a humanidade, pelos juízos “bom e
mau”, resumiu e sancionou precisamente suas inolvidáveis sobre o bom como útil
adaptado, o mal como inútil inadaptado”. (apoud:NIETZSCHE,2020, p.24). Spencer diz
que o “bom”, desde de muito distante, ou seja, numa contagem cronológica, se revelou
sempre útil, o que lhe garante o papel de universalidade, como possível de ser
considerado em si. Nietzsche não vai de acordo, mas também não anula a ideia de que o
“bom” tenha um parecer útil, mas afirmar que a sua origem carrega essa informação de
autocriação, não é sustentada e nem fundamentada e que deveria conter uma genealogia
bem precisa do próprio conceito. Segundo Ferrarezi (2019), para assim construir sua
investigação acerca do conceito de Bem e Mal, Nietzsche, utiliza-se de um instrumento, a
filologia, pois afirma ter encontrado nela o melhor caminho, do ponto de vista etimológico,
as referências de “bom” marcado pelos diversos dialetos. De acordo com Nietzsche:

[...] Descobri que, em toda a parte “nobre”, “aristocrático”, no


sentido de ordem social, é o conceito fundamental, a partir do
qual se desenvolve necessariamente “bom” no sentido de
“que possui uma alma de natureza elevada”, de que “possui
uma alma privilegiada” Esse desenvolvimento se efetua
sempre paralelamente a outro que acaba por evoluir de
“comum”, “plebeu”, “baixo” para o conceito de “mau”.
(NIEZSTCHE,2020, p 24)

Ao examinar, etimologicamente o sentindo da palavra “bom” percebeu que ele


passou por muitas transformações no processo histórico da humanidade, observou na
linguagem alemã que havia distinção dos termos, alguns conceitos encontrava-se uma
propriedade aristocrática e plebeia; sclecht (mau) que tem semelhança com schlicht
(simples); assim, ao comparar schlechtweg (simplesmente) e schlechterdings
(absolutamente), essa palavra que tem formas idênticas, e que pode ter sido
transformado da palavra sclcht que quer dizer mau. Ainda procedendo na raiz do
conceito “bom” serem pertencentes aos nobres é ver que simplesmente o conceito em
alguns povos pertencia a classe superior, então além do “Bom” ter um caráter hierárquico,
ele também era para designação dos ricos, os possuidores. Outro traço característico no
qual Nietzsche vem abordar é o dos “os verazes” que significas “raízes de alguém que é",
que é verdadeiro, que tem realidade.

Creio poder interpretar o termo latino Bonus (Bom) como “o


guerreiro”: uma vez que possa fazer remontar Bonus a sua
forma antiga de duonus (compara-se Bellum= duellum=duen-
lum, que me parece conter também esse duonus). Bonus
seria o homem da discórdia (duo- dois), o guerreiro: nota-se o
que, na Roma antiga, constituía a “bondade” de um homem.
Nossa palavra alemã gut (bom) não significaria gottlich
(divino), o homem de origem divina? E não seria sinônimo de
goth designativo de um povo (mais originalmente da
nobreza)? As razões em favor dessa hipótese surgem do
tema presente. (NIETZSCHE, 2020, p.27)
Nietzsche investigou de maneira bem abrangente a forma etimológica da palavra,
juntando um monte de característica que a história e suas definições lhe ofereceram. Viu
que a termo “bom” carrega consigo uma designação dos nobres, fortes, guerreiros, belo, o
homem da disputa; na antiga Roma isso era considerado uma bondade do homem grego,
mas no contexto em que viviam os alemães constituía-se numa figura divina, como o
conceito político de alma é tomada por uma concepção psicológica aconteceu que a casta
mais elevada formou ao mesmo tempo a casta sacerdotal e esta preferiria um título que
designe as suas funções. Dessa maneira a oposição “puro” e “impuro” serviu
primeiramente para distinguir as castas e progrediu mais tarde uma diferença entre “bom”
e “mau” de modo que se aplica a uma escala social. Essa capacidade de uma aristocracia
sacerdotal indicar uma razão com posições axiológicas, suplanta um valor que pude
interiorizar esses valores e que para Nietzsche acentua o perigoso, pois os seus
princípios trazem no interior do homem algo mórbido quanto aos seus costumes e
hábitos, tornam-se hostis as ações, um paradoxo, pois estes querem que o homem seja
grande, mas pede que sua força seja pequena, ora pede que exploda suas emoções e ao
mesmo tempo iniba sua vontade. E usam de tais procedimentos que agridem o corpo
como: jejum, abstenção sexual, a fuga para o deserto, as mutilações, o castigo; Nietzsche
vem dizer que foram os sacerdotes os grandes homens do ódio, visto que eles são os
mais desprovidos, de cólera, de inveja; em concordância afirma :

Tudo o que foi dito feito na terra contra os “nobres”, os


“poderosos”, os “senhores”, os “detentores” do poder”, não se
pode comparar com que fizeram os judeus. Os judeus, esse
povo de sacerdotes, que não souberam por fim tomar
satisfação de seus inimigos e dominadores senão por meio de
uma radical inversão dos valores morais, isto é, por meio de
uma vingança supremamente espiritual. (NIETZSTCHE, 2020,
p. 29)

É na inversão dos valores que o povo sacerdotal começa a ter sua sede de
vingança a ser realizada, para Nietzsche, os judeus que souberam inverter os valores
com uma coerência terrificante, o bom= nobre=poderoso=belo=feliz, torna-se os maus,
enquanto os miseráveis são bons, os pobres, os impotentes, os pequenos, aqueles que
sofrem, os necessitados, enfermos, feios, esses sim são os seres piedosos, os únicos
abençoados por Deus, somente neles existe a boa aventurança- os outros, os poderosos,
guerreiros são por todo a eternidade os maus, os cruéis, os concupiscentes, os
insaciáveis, ímpios, por toda eternidade os malditos e condenado. Ocorre que os judeus
foram a árvore que gerou frutos, e o fruto dessa herança, adivinha, foi o cristianismo, diz
Nietzsche:

[...] -do tronco dessa arvore da vingança e do ódio, do ódio


judeu- do ódio mais profundo e mais profundo e mais sublime,
aquele que cria ideias, que inverte os valores, que nunca teve
semelhante na terra- do tronco desse ódio surgiu uma coisa
de todo incomparável, um novo amor, a mais profunda e mais
sublime forma de amor [...] Esse jesus de Nazaré, evangelho
do amor encarnado, esse “redentor” que traz a bem
aventurança e a vitória aos pobres, enfermos, aos pecadores.
(NIEZSTCHE, 2020, p.30)
O que Nietzsche identificou no seu estudo sobre a origem do “bom e do mau” foi
que existiu uma moral dos escravos e uma moral dos aristocráticas. A rebelião escrava
começou com a união dos sacerdotes com o povo, os sacerdotes vivam em conflitos com
os reis, estes não cediam espaço para os sacerdotes manifestar o seu poder resolveram
levar a mensagem do divino ao povo, como o povo era escravo, a mensagem sacerdotal
se “vestiu de outras roupas”. Os sacerdotes e os escravos formam essa casta de
ressentidos; o ressentimento é aquele que não reage diante de uma ação, ou nega a
ação, essa castra aposta em uma vingança imaginaria; enquanto toda a moral
aristocrática nasce de uma afirmação de si mesma, a moral dos escravos põe um “não” a
tudo que não é seu, a um outro jeito, que não é ele mesmo; esse não é seu ato criador.
Uma grande questão da moral escrava foi precisamente o ressentimento, a moral escrava
necessitou emergir de um mundo oposto e exterior, em uma expressão fisiológica de
estimulantes externos para agir, ou melhor dizer sua ação é alicerçada em uma reação, o
contrário, o modo de avaliar aristocrático é respaldado no agir, em dizer sim a si mesmo,
e para ele o mau é um ser pouco, ser comum, servil. Enquanto a moral escrava o mau é
quem pode imprimir nele alguma força, quem o faz ficar ferido, e foi, portanto, a moral dos
escravos que prevaleceu.

Não traz oculta em si vingança que vê longe,


subterrânea, que progride lentamente e que calcula com
antecipação, o fato que Israel teve de negar de fronte do
mundo e pôr na cruz o verdadeiro instrumento da
vingança, como esse instrumento fosse seu inimigo
mortal, a fim de que o mundo todo, isto é, os inimigos de
Israel, tivessem menos crepúsculo em morder a isca
mais funesta e perigosa. (NIETZSCHE, 2020, p.30)
Segundo Nietzsche, o Deus crucificado seria uma confirmação da vingança Judéia
e uma inversão de todos os valores, que triunfa sobre as ideias, exclusive sobre todos os
ideais mais nobres, isso quer dizer que o povo venceu, ou seja, os escravos, graças aos
judeus. Foram abolidos os amos, triunfou a moral do povo e tudo se judaíza, se
cristianiza, e se plebeiza a olhos vistos. Mas para o filosofo, o homem do ressentimento
não é tão correto, nem se quer honesto e leal consigo mesma. Sua consciência é turva e
procura-os seus recantos em vias tortas, saídas fugitivas, encanta-se em esconderijo de
seu próprio mundo, aí se sente seguro. O erro da moral nobre foi deixa-se levar, ou
melhor, torna-se ressentido. A moral escava cria homens cheios de sentimento de
vingança, este sentimento apoderar nele e faz ainda mais marcar suas mágoas e
cicatrizes que não se esvaziou, o que gera um veneno fatal no âmago dessa pessoa,
grupo etc... O problema, portanto, do bom concebido pelo homem do ressentimento pode
ser melhor apreendido numa fabula que o próprio Nietzsche conta:

Que os cordeirinhos tenham horror às aves de rapina e


compreende-se; mas não é razão para querer mal às rapinas
que arrebatam os cordeirinhos. Se os cordeirinhos dizem:
“Essas aves de rapina são más, e aquele que não é de modo
alguma ave de rapina, mais precisamente, seu oposto, um
cordeirinho, não seria bom? Nada teríamos que responder a
essa maneira de erigir um ideal, a não ser que as aves de
rapina responderão com ar um tanto sarcástico, dizendo
talvez: “De nossa parte, não temos nenhum rancor contra
esses cordeirinhos, e até os amamos; nada há de mais
suculento que um tenro cordeiro”. (NIETZSCHE, 2020, p.39)
O que ocorre nesta fabula é simplesmente uma avaliação entre duas possíveis
posições morais. A moral do rebanho, escrava ou sacerdotal (ovelhinhas) observa a ave
de rapina e diz que eles são maus, e, portanto, ele é bom, uma premissa que é
sustentada sempre numa negação do outro para assim se afirmarem. Exige que a força
daquele caçador de tal modo se anula, pois assim, não será diferente, será como eles; as
aves de rapina são vistas como maus às ovelhinhas por serem carnívoras, violentas e
perseguidoras.

Isso não quer dizer e as ovelhas são boas, pelos contrários, são acumuladores de
medo, inveja e sentimentos que não podem serem capazes de ser lançados para fora,
ocorre é que as ovelhas sabem sua fraqueza, e quer se salvar, logo o único método
possível de poder garantir isso, é persuadir. Então o bom é todo aquele que não brutaliza
e que espera sua vingança em Deus, que se resguarda, que exige pouco da vida, os
pacientes, humildes, os justos, esse é o modo dos cordeirinhos viver, e esse é o modo
também que os valores estão sendo pregado, a partir dessa nova moral que venceu. A
moral que prega a bondade está escondida numa impotência da represália, no a qual
eles chamam de humildade; ficam submisso a alguém que dizem que ordena essa
submissão (Que chamam de Deus).

Os juízos aristocráticos de avaliar eram ditos como “bom e ruim “, enquanto que os
escravos e sacerdotes concebiam como “bom e mau” que travou durante anos milhares
de combate terríveis e que por mais que o segundo valor seja o mais preponderante, não
faltam até os dias atuais áreas de combate. Nietzsche põe até em questão os romanos e
os judeus, os romanos fortes e nobres viveram intensamente seus valores, e os judeus?
Estes Nietzsche os chamam de ressentidos que dotam de uma genialidade ímpar em
matéria de moralidade e que lutou com bastante astucia e silêncio até conceber seu,
enfim, canto de vitória, invertendo os valores do valor “bom e mau”.

FUNDAMENTOS DO RESSENTIMENTO

Nietzsche considera que a relação do homem com o mundo é assinalada por uma
competição. Essa competição é marcada por uma vontade de poder, ou seja, o homem
quer sempre impor mais dele no mundo. Ele concebe o corpo como um campo de forças,
no qual há um combate de poderes e estímulos que se confrontam e se dilatam a todo
momento, e esses impactos produzem, eventualmente, ilustrações na nossa consciência,
decorrente dos nossos aparelhos sensoriais. O processo saudável de uma boa apreensão
psíquica, segundo Nietzsche, é quando a consciência recebe as ilustrações, estes dados
emitidos por essas forças e que depois passa por um estado de digestão no inconsciente.
O responsável por essa digestão é o esquecimento, uma força ativa, que trabalha em prol
de manter a consciência sempre limpa não permitindo que os afetos fiquem alojados nela.
Cabe evidenciar que para o filosofo o esquecimento não apaga uma
memória, mas converte em uma condição de fonte alimentícia, no qual, o sujeito possa
está apto para receber novos estímulos. Pois essa força ativa, funciona como protetora da
nossa ordem psíquica, sem ela não haveria felicidade, jovialidade, esperança, orgulho e
“presente”. Todavia, aquele no qual prevalece as forças reativas, nos ressentidos, este
tem o mal funcionamento do esquecimento e é caracterizado como aquele que não
consegue dá conta de nada, simplesmente, pois não conseguir fazer a digestão dos
afetos, bem como aquilo que sentiu, ou que lhe foi causado em sua máxima potência,
Nietzsche diz:

O homem em quem não funciona esse aparelho amortecedor


está deteriorado e fora de uso, comparável a um dispéptico (e
não somente comparável) nunca chega “ao fim “de nada... É
justamente esse animal inclinado necessariamente ao
esquecimento, para quem o esquecimento representa força,
uma forma de saúde robusta, quem criou para si uma
faculdade contrária, a memória, por meio da qual
contrabalança, em certos casos, o esquecimento- a saber,
nos casos em que subsiste a obrigação de prometer.
(NIETZSCHE, 2020,p.52)
A experiência de ressentir, quer significar uma ação que faz sentir de novo uma
determinada impressão motivada por um sentimento pessoal. Quando alguém sofre dos
transtornos psicológicos do ressentimento, isto quer dizer que tal individuo está
relembrando as vivências de maneira tão profunda e particular. O processo
psicofisiológico do ressentimento ocorre de determinada forma: a pessoa ao sofrer
determinada impressão do mundo, melhor dizer, uma vontade externa, esse estimulo
sentindo gera uma mudança de intensa sensação psíquica. Todos os homens têm esse
processo ativo e reativo, todavia, em circunstância especifica esse dado exterior pode
gerar um efeito reativo-negativo; o que pode diminuir ou afetar as capacidades criativas,
uma espécie de envenenamento psicológico nas suas condições existências e valorativas
de avaliação sobre a realidade do sujeito. Esse “espirito do ressentimento” vem causar na
sociedade, no ser humano, uma degeneração, mesquinhamente e até adoecimento do
mesmo, observe o que diz Bittencout:

A partir do advento da moralidade teológica da religião cristã,


esses valores imanentes são transformados em
manifestações do apego ao corpo, ao mundo sensível, sendo,
por isso, vilipendiadas como pecaminosas. No lugar das
virtudes corporais que enaltecem a saúde e a imanência da
realidade, são inseridas, pelos adeptos da nova perspectiva
moral, as virtudes da consciência, da interioridade, alçadas
como as instâncias maiores da vida humana. O homem
“virtuoso” se torna aquele que desenvolve plenamente as
suas faculdades do espírito em detrimento da imanência da
corporeidade. (BITTENCOUT, 2011, p. 5)
Para Nietzsche esse modo de corrupção dos valores que enaltece o corpo e o
sentindo em prol dos valores da alma e do autêntico inteligível vem iniciar na filosofia
socrático-platônico. Civita (1907-1990), com Sócrates, as questões morais deixam de ser
tratadas como convenções baseadas nos costumes, as quais se modificam conforme as
circunstancias e os interesses, para se tornar problemas que exigem do pensamento uma
elucidação racional. Na perspectiva socrática o homem é diferente em natureza, pois ele
é dividido em corpo e alma, mas esses dois é conflitante, porque o corpo é desejante e
fluido, por exemplo, o corpo sente fome, e se agita por não ser alimentada, que só vai
cessar se for correspondido, mas isso não ocorre apenas uma vez, e também não só de
uma maneira, o corpo pede comida: água, sexo, energia, descanso, o corpo é uma
desarmonia, um caos que só rompe de sua vontade após a morte.
Diferentemente, a alma, é eterna, perfeita, harmoniosa e que sofre por estar num
corpo que atrapalha sua ação, que a impede de ser perfeita e universal. É assim que a
razão Socrática-platônica surge. De acordo com a noção Nietzschiana, a abominação
socrática pela existência, no qual o homem é dotado de uma razão já existente dentro
dele; o planejamento metafisico de dividir o sensível do inteligível em Platão é início de
resultado de uma desvaloração da vida, onde diversos princípios morais, em principal a
moral cristã mais se apoia para fundamentar suas crenças existências, Bittencout
esclarece

Essa guinada do valor da vida e dos instintos na cultura grega


operada pelo socratismo decorre do afloramento de uma
concepção moral de que há um antagonismo metafísico entre
o Bem, associado ao âmbito do imperecível, tal como a alma
humana e a racionalidade, e o Mal, associado àquilo que se
transforma, ou em palavras mais depreciativas, se corrompe,
assim como o próprio corpo e as ilusões motivadas pela
sensibilidade e pelo poder dos instintos. (BITTENCOUT,
2011, p. 7)
O ressentimento corresponde no núcleo da filosofia Nietzschiana, um problema fisiológico
e social; de um organismo sem forças para reagir frente as adversidades da vida e que não
consegue digerir os sentimentos ruim, um veneno produzido por sua não reação, começando a
apresentar uma bagunça psíquica que o impede de viver verdadeiramente o agora, nesse
organismo o entendimento de sua fraqueza e seu sentimento de decepção faz com que segue o
bloqueio da ação e, consequentemente, o concedimento da cólera, uma vontade de se ferir e
produzir sofrimento naquele que pode ter acionado tais sentimentos. (PASCHOAL,2018, p.4)

A partir do advento da moralidade teológica da religião cristã,


esses valores imanentes são transformados em
manifestações do apego ao corpo, ao mundo sensível, sendo,
por isso, vilipendiadas como pecaminosas. No lugar das
virtudes corporais que enaltecem a saúde e a imanência da
realidade, são inseridas, pelos adeptos da nova perspectiva
moral, as virtudes da consciência, da interioridade, alçadas
como as instâncias maiores da vida humana. O homem
“virtuoso” se torna aquele que desenvolve plenamente as
suas faculdades do espírito em detrimento da imanência da
corporeidade. (BITTENCOURT ,2011, p. 05)
O ressentimento provém da insuficiência de comunicação com os signos da diferença, de
modo que ao ser atingidos por esses transtornos tendem a culpabilizar uma determinada causa
como responsável por essa fraqueza vital e por sua intranquilidade. Nesta circunstância o
ressentimento é um dilema existencial que, materializado no domínio cultural é subdividido em
conexões sociais, políticos e religiosos. É, portanto, na obra genealogia da moral, que se tem a
ênfase desse problema, em que diz que o ressentimento como distúrbio orgânico impede a
concepção de vivencias e que, desta forma manifesta relutância por experiencias indesejáveis do
passado, essas experiencias continua simbolicamente no âmbito psicofisiológico do sujeito que
relembra tais lembranças odiada.

O que gostaria de sublinhar é a circunstância de que essa


nova nuance de equidade científica (em favor do ódio, do
despeito, da inveja, da suspeita, do rancor, da vingança)
nasce do próprio espirito do ressentimento. Pois essa
“equidade científica” de pronto se detém e dá lugar a inflexões
de parcialidade e inimizade mortal, quando se trata de um
outro grupo de afetos que são, me parece, de valor biológico
bem mais elevado que os reativos, e, portanto, merecem ser
cientificamente avaliados e muito estimados: os afetos ativos,
como ânsia de domínio, a sede de posse e outros assim.
(NIETZSCHE, GM. II, p. 35)
Observa-se a confirmação de Nietzsche, no qual enuncia que a ascendência da
ciência é oriunda do próprio espirito de ressentimento; e toda a filosofia desde de
Sócrates exaltam a “consciência do valor dos valores” vinculada a acontecimentos do
passado, respaldado em uma essência, eterna e imutável, que faz o seu percurso nas
trilhas da justiça, do bem-mal e verdade; visto que, esses valores, segundo o autor, é um
sentimento justificado e usado pelo homem do ressentimento. Para Nietzsche, o que mais
vale é a afirmação de um agora, pertencente em uma sede de posse, e ânsia de domínio,
característica de um sentimento ativo, pois é nesta via que o homem mais se potencializa,
um professor que se destaca em suas palestras, o artista que se realiza com sua arte, os
que intensificam sua existência, e não apenas remoem uma falta de sentido e de
realização.

No pensamento nietzscheano encontra-se dois conceitos (ativo e reativo) muito


importante que não pode ser separado do entendimento da noção de ressentimento;
forças as ativas são aquelas que existe por si e, singularmente; enquanto as reativas
existem para se opor a uma força ativa já presente. Todo o mundo é movimentado por
essas forças, mas em um dado momento umas delas prevalecem. Dizemos então que
ativo é o superior (Aristocrata), e o reativo inferior (Escravos, sacerdotes).

A força reativa é receptiva, reguladora, distributiva,


conservadora. A força ativa é expansiva, agressiva e
criativa. Para Nietzsche, há uma hierarquia entre as
qualidades das forças: a força ativa é primária. Mas
uma força ativa somente triunfa quando há uma
vontade de potência afirmativa dominante. Surge um
devir ativo das forças, caracterizado pelo domínio da
força ativa sobre a força reativa. (FERREIRA, 2006,
p.11)
Deleuze (1976), diz que as forças inferiores obedecem, mas não é distinta das que
comandam, ou seja, não deixa de ser força. Ela não abdica da sua própria aptidão, pois
apesar de ser acionada, não deixa de contribuir para que a ação seja assimilada e
dissolvida. A força reativa que ajuda na assimilação da ação só se faz presente por causa
da vontade de potência da afirmação dominante, que é a força ativa. Cabe destacar que a
força ativa é criativa, está em constante movimento, o que quer dizer que ela não se
adapta.

Essa relação entre as forças é invertida quando a


adaptação se torna primária. Isso se dá com o triunfo
da vontade de negação e das forças reativas; surge,
então, um devir reativo das forças. Constitui-se um
casamento bizarro entre a negação e a reação: os
filhos desse casamento são produzidos por aqueles
que apenas conhecem o aspecto utilitário da vida.
(FERREIRA, 2006, p.11)
Sucede então, que num determinado tempo as forças ativas, ditas como primárias,
perderam espaço para as secundárias - as reativas, uma inversão, aonde a adaptação
torna-se primária. E isso influência na nova forma de viver, que vem desde o ocidente até
a modernidade, e que traz consigo aspectos utilitários e gregários, apoiados em valores
essenciais e imutáveis, que por sinal, são estabelecidos como verdades e distintos dos
homens, ou seja, não criados. A partir disso, a preocupação com a conservação da vida é
constante

Má consciência

A má consciência nasceu nesse combate de força que está sempre em expansão e


contração; uma vez que a existência é uma vontade de poder que almeja mais poder.
Essa influência de relações de forças gerou um processo de responsabilidade humana no
qual Nietzsche vem chamar de moralidade dos costumes. A moralidade do costume é o
acatamento aos hábitos, qualquer que seja. A natureza impôs ao homem uma tarefa
absurda que é o de fazer promessas, o que para o filosofo torna-se um problema, pois o
homem também é dotado de uma faculdade ativa chamado esquecimento, tal força que
garante sempre o novo, a vitalidade foi também o responsável de criar uma faculdade
oposta, a memória da vontade, onde o esquecimento é suspenso em determinado
momento, precisamente quando deve-se prometer.

Para incluir essa responsabilidade, o homem inibi a exclusividade dos afetos, e


agora, a responsabilidade é a glória do homem sobre si, e seus afetos. Isso é a origem da
responsabilidade, tornar o homem, através da inibição igual, previsível, calculável e
confiável. E isso não foi acontecendo do nada, a moralidade dos costumes, desde a pré-
história encontrou seu sentido, justificativa, tirania, dureza e estupidez nos seus sentidos,
afetos e sentimentos, mas depois, com o processo da moralidade e da cultura o homem
vestiu essa camisa de força e tornou-se realmente confiável e controlável. A
responsabilidade corresponde na área moral uma prática e obediência, uma fiel
obediência. Como resultado dessa responsabilidade tem-se o homem forte, supra moral,
homem de vontade própria, que possui sua consciência poderosa e libertadora. Este
homem consciente que é dotado de superioridade sobre os que não podem prometer,
assumir-se, goza de sua “medida de valor”, o que quer dizer que, os responsáveis, os que
prometiam eram os fortes e poderiam indicar o que é soberano ou não, nas palavras de
Nietzsche:

Responder por si mesmo e responder com orgulho, e


portanto, ter o direito de dizer sim a si mesmo- aí está, como
já foi dito o fruto maduro, mas também um fruto tardio: quanto
tempo deve esse não teve de ficar suspenso na arvore, azedo
e verde! E durante muito mais fazer dele um objeto de
promessa, por mais que na arvore tudo estivesse preparado
que se desenvolve precisamente em vista disso.
(NIETZSCHE, 2020, p.54)
Mas, esse instinto dominante que até então era voltado ao momento teve que
ceder espaço a memória, só que seu progresso não foi pacifico, o homem criou sua
moralidade dos costumes contendo seus instintos e adestrando-os, usando como artificio
a dor, um caminho de terríveis aflições para forma até então a consciência, está que tem
sua autoridade sobre os afetos, observe o que diz o filosofo:

Poderíamos mesmo dizer que, sempre que na vida dos


homens e dos povos, há solenidade, gravidade, mistério
e cores sombrias, é que fica um vestígio de terror que os
outros tempos, em todo o mundo, presidia as
transações, os contratos, as promessas: o passado, o
longínquo, os obscuros e cruéis passado, ferve quando
ficamos “sérios”. Quando o homem julgava necessário
criar uma memória, isso era acompanhando sempre de
sangue, de mártires, de sacrifícios; os espantosos
holocaustos e compromissos horríveis [...] tudo isso tem
sua origem naqueles instintos que soube descobrir na
dor o auxílio mais poderoso da memória. (NIETZSCHE,
2020, p.55)
Essa carência de fazer no homem uma memória da vontade para torna-lo apito de
fazer promessas usa as vias contratuais que compara o dano e a dor como
compensação. A dor compensa o dano, é por isso, que o castigo é introduzido. Esse
castigo era imposto devido a cólera que causou o dano experimentado, esse castigo nos
primeiros estágios da humanidade não decorria de uma responsabilidade do ato, mas sim
de um sentimento de fúria, raiva em função do dano sofrido. Tal noção de compensação
que sempre é carregada com um pouco de crueldade tem um suporte interno promovido
pelo poder de subjugar o outro, o que se efetua nas relações contratuais entre devedor e
credor, então, dor e castigos foram colocados como proporcionais a reparação da dívida.
“Na verdade, fazer sofre fazia bem em supremo grau, uma vez que a vítima do dano se
satisfazia-o dano causado, ao qual se acrescenta o desprazer ligado ao prejuízo
compensado por outro prazer extraordinário: fazer sofrer [...]” (NIETZSCHE, 2020, p.59)
Para Deleuze (1976) diz que o sentido ativo da dor aparece como um sentido externo,
mas para poder julgar a dor como ponto de vista ativo, é preciso mantê-la no elemento de
sua exterioridade, e quem consegue ter prazer nesta dor é a dos senhores. Isso quer
dizer que a dor não é interiorizada, mas sim vivenciada apenas no campo exterior.

Existe hoje a tendência a invocar a dor como argumento


contra a existência; essa argumentação atesta uma maneira
de pensar que nos é cara, uma maneira reativa. Não nos
colocamos apenas do ponto de vista de quem sofre, mas
também do ponto de vista do homem do ressentimento que
não aciona mais suas reações. Compreendamos que os
sentidos ativo da dor aparece em outras perspectivas: a dor
não é um argumento contra a vida, mas, ao contrário, um
excitante da vida, “uma isca para a vida”, um argumento em
seu favor. Ver sofre ou mesmo infligir o sofrimento é uma
estrutura como vida ativa, uma manifestação ativa da vida.
(DELEUZE, 1976, p. 61)

Entender e esclarecer os fatores que pode ter ajudado a dor e o sofrimento a


serem visto como algo horripilante é o auto aumento de não querer sentir mais dor, mas
também a própria a moralidade da dor. Portanto, a crueldade e o prazer não foram
excluídos, só sofreram mudanças em seu estado, como a remissão e categorias. Quanto
a origem de culpa e de obrigação, Nietzsche da mesma forma lança no âmbito das
relações matérias de comprador e devedor, como credor e devedor, pois foi quando o
homem começou a valorar e determinar que se instituiu os direitos, deveres e justiça.
Pode ter havido muitos dados que informe a importância do castigo, mas o que
prevaleceu foi a ideia do castigo como instrumento de despertar no homem o sentimento
de culpa, logo, em vez de compensar a dor, de afirmar uma atividade que compensa a
vida, gerou no indivíduo uma “má consciência”. “O castigo deve ser essa propriedade de
despertar no culpado o sentimento de culpabilidade, revelando nele o verdadeiro
instrumento dessa reação psíquica que se denomina “má consciência”, “remorsos”.
Fazendo isso é atentar contra a realidade e contra a psicologia[...]” (NIETZSCHE, 2020, p.
72)

Ao conceber a ideia de que a comunidade subsiste apenas por benefícios dos


sacríficos e de seus antepassados, esses feitos de seus ancestrais vão como passar do
tempo sendo divinizados, e não se extinguem nunca, ficam sendo ditos como universais e
permanentes a ponto de se transfigurar em um Deus. O castigou se potencializou, perdeu
o sentindo de compensação e intensificou o sentimento de culpa, houve até novas forma
de tentar remediar esse desenvolvimento, mas se interiorizou-se devedor, e agora este
homem é consequência de um fruto, a má consciência que se enraizou e tomou
proporção totalitária de seu ser. Sem possibilidade de pagar sua dívida, gera também a
impossibilidade de punição que nada mais é o castigo eterno, onde Nietzsche diz que o
cristianismo é o curso dessa inversão de castigo eterno.

Dispomos então da má consciência, esse surgimento da interiorização do homem


onde faz dele um inibidor de sua vontade, no parecer nietzschiano:

Todo um mundo interior, originalmente pequeno, como que encerrado entre duas peles, cresceu e
eclodiu, ganhou em profundidade, em largura, em altura, na medida em que a exteriorização do
homem foi inibida. As formidáveis barreiras que a organização social construía para defender
contra os antigos instintos de liberdade- os castigos fazem parte da primeira linha dessas
barreiras- conseguiam que todos os instintos do homem selvagem, livre e vagabundo, se
voltassem contra o próprio homem. A hostilidade, a crueldade, o prazer em perseguir, na
agressão, na mudança, na destruição, tudo isso se dirigia contra o detentor desses instintos, essa
é a origem da “má consciência” (NIETZSCHE, 2020, p.75)
Isso foi um grande envenenamento do homem para o próprio homem,
demonstração bem evidente da privação dos instintos, e isso toma mais potencialização a
partir dos ressentidos, os escravos, essa espécie de animal do rebanho, as ovelhas
vingativas que configura a má consciência, para conseguir ser como o homem
responsável, um que promete, ou melhor dizer, o bom, castra os instintos, reduzindo suas
vontades na esfera da racionalidade e assim participar das formações civilizatórias. Esse
homem da moral escrava é impossibilitado de realizar sua força, de ser mais neste
mundo, realiza um papel de fazer com que o homem se sinta culpado e mesquinho,
acredita no castigo, onde esse castigo não possa gerar a culpa, para tanto cria-se ideais
como (Divino Deus), consequente, fazer-se santo a partir disso. “Com o advento do deus
cristão, que é a expressão mais alta do divino até hoje tem essa razão suscitado também
a aparição do máximo sentimento de culpabilidade no mundo [...]” (NIETZSCHE, 2020, p
81). A má consciência é a consciência que multiplica a dor, segundo Correia:

O processo de civilização ao homem, castrando seus instintos, o enfraquecimento de si mesmo, a


consequente culpabilização, ou seja, a interiorização da culpa, tudo isso neste universo moral,
teve como consequência um homem cujas forças o condenam, o enfraquecem. (CORREA, 2009,
p.47)

Segundo Deleuze a má consciência desenvolve-se em duas partes: “uma como


força interiorizada e outra como a interiorização da dor” o que constitui os dois aspectos
do ressentimento como processo tipológico e topológico. O que quer dizer que o homem
primeiramente na relação de credor e devedor muda a projeção, uma vez que a crueldade
no primeiro estamento era caracterizada como responsabilidade-vida, projeta-se como
responsabilidade-culpa no plano imaginativo, dando surgimento ao mal-estar na
humanidade, o peso na consciência.

CRITICIA DE NIETZSCHE À MORAL CRISTÃ

Na crítica ao cristianismo, Nietzsche buscou analisar a formação e as


consequências dos valores definidos pelo ideário cristão, e viu que nele tudo quanto
tomou por vantagem pertencia a uma categoria de uma moral de ressentidos, fracos,
baixos, malogrados e que se modificou em um ideal que contraria os instintos de
conservação dos fortes. O cristianismo é a expressão de uma disposição fisiológica
debilitada e cansada, incapaz de se afirmar no mundo por si próprio, sustentando-se num
mundo ideal, no reino dos céus. Para os cristãos é o lugar que reina os valores que são
contrários à vontade desse mundo corruptível, desta vida sofrida, desse corpo
inconstante.

Neste mundo ideal cristã não há transitoriedade, necessidades, moléstias, doenças


e conflitos bélicos, e essa possível ordem é mantida por uma entidade transcendental
(Deus), o único de uma verdadeira realidade, mas que exige de seus seguidores uma fiel
obediência, caso contrário, poderá ser punido. O referente possui servos que possibilita o
contato dele com seu povo, esses servos seriam os homens santos: os profetas, os
sacerdotes, os pastores e padres. A religião cristã recebe os fracos e necessitados, os
ditos misericordiosos, cansados da peleja da vida e do fardo que é existir neste mundo
orgânico de constante expansão e contração. Ao fazer um estudo genealógico da origem
desta religião diz que o seu surgimento está na cultura ancestral do povo judeu e da
decadência do império Romano, e que é fundamentado no mecanismo de promoção que
é a compaixão.

O surgimento do cristianismo veio do combate aos grandes homens aristocrática.


Abandona-se o mundo natural por um antinatural, este mundo na perspectiva dos
ressentidos ganha um ápice ontológico da realidade, sua estratégia de sobrevivência é
através da negação do outro e do mundo, dos impulsos, a própria vida; negando esse
mundo planejam alcançar o “mundo divino”, prometido pelo sacerdote. Todos os juízos
valorativos e normativas, manifestam-se na dor desse processo de decadence.“A
divindade da décadence, castrada nas suas virtudes e nos seus impulsos viris, converte-
se forçosamente no Deus dos fisiologicamente regredidos, dos fracos”.
(ANTICRISTO,1967, p.20). Nietzsche vem dizer que Deus, alma e pecado não passam de
ficções criados por pessoa, e que o pecado é descente do povo judeu e tem por objetivo
levar a seus devotos o sentimento de culpa, os gregos desconheciam o sentido dessa
palavra, e se caso ouvisse poderiam, até, exclamar que tal sentido só poderia advim de
uma pessoa fraca, dos sentimentos escravos.

[...] o pecado é um sentimento judeus e uma invenção judia;


é o pano de fundo de toda a moralidade cristã, e desse ponto
de vista cristianismo procurou “judaizar” o mundo inteiro. Até
que ponto o conseguiu na Europa, é o que se sente sobretudo
pelo grau de estranheza que a antiguidade grega- mundo
isento do sentimento do pecado- conserva sempre para nossa
sensibilidade, apesar de toda a boa vontade que um grande
número de gerações e de indivíduos notáveis empregaram
para se aproximar dele e assimilar. “Deus só perdoa se
realmente tu e arrepender” - semelhantes palavras
provocariam no grego o riso e a cólera, ele exclamaria:
“Esses são os sentimentos dos escravos” (NIETZSCHE GC.
§135, p.135)

O filosofo alemão vem dizer que o pecado é um prejuízo que sufoca o


homem, pois separa o homem de sua própria natureza e do prazer de se
alegrar com a tragédia. A imagem de Deus vendida pelos sacerdotes é uma
ilusão, uma cilada, pois faz desse Deus um produto de sedução, que induz seus
seguidores a comprarem um produto da redenção; vedem um pedaço de terra
próximo ao deus cristão e o remédio da cura. Esses seguidores uma vez
fascinado pela promessa de “outro mundo”, torna-se mais fácil de ser
manipulado, portanto, um conjunto de ressentidos que cada vez se tornam mais
miseráveis enquanto seres deste mundo. Como todo processo de instituição de
querer manter sua vontade neste mundo é marcado por violência, o cristianismo
também marca a sua represália, diz Nietzsche:
[...] - estes nos induziram a pensar que as inclinações e os
instintos dos homens são maus; eles são a causa de nossa
grande injustiça para nossa natureza, para com toda a
natureza! Não faltam homens que poderiam se entregar a
suas inclinações com a graça e inconsciência; mas não o
fazem, com receio desse “mau espírito” imaginário da
natureza! (NIETZSCHE, GC, § 294, p.178)

O contexto do processo de cristianismo pode ser entendido em duas


etapas: o seu processo histórico e sua autentica afirmação, Silva (2015) diz que
o autêntico surge a parti do primeiro, ou seja, do histórico, que neste foi fruto do
instinto judeu, e o segundo promovido pela doutrinação do apostolo Paulo de
Tarso.
Afloro aqui apenas o problema da origem do Cristianismo. A
primeira proposição para a sua solução reza assim: o
Cristianismo tem de se compreender unicamente a partir do
solo em que cresceu – não é um movimento de reação contra
o instinto judaico, é a sua própria consistência lógica, uma
conclusão mais ampla na sua lógica temível. Na fórmula do
Redentor: «A salvação vem dos Judeus». A segunda
proposição soa assim: o tipo psicológico do Galileu é ainda
cognoscível, mas só na sua plena degeneração (que é ao
mesmo tempo mutilação e sobrecarga com rasgos estranhos)
é que pôde servir para o uso que dele se fez, para o tipo de
um Salvador da Humanidade. (ANTICRISTO, § 24,1962,
p.22)

Segundo o pensador alemão, em determinado momento da história, Israel


tinha seus valores não nocivo à vida, porém se perderam, assim como a
perspectiva de Deus. O Deus judeus, refletia a vitalidade orgânica do povo israelita
enquanto pessoas concebidas de uma hierarquia corpórea. Esse Deus fazia-se
junto aos seus escolhidos e não havia distanciamento dele com o povo, as
homenagens a este Deus eram cheias de alegrias e júbilos, porem em um dado
período da história, Israel sofreu uma desnaturação decorrente uma mudança de
comportamento valorativo dos judeus com relação ao mundo. Assim o Deus judeus
tomou outras feições, afastando-se de sua disposição e confiança que era sua
característica na época imperial. Então, declina o povo judeu, tornando-se cansado
e reduzido em vitalidade. Se o povo não possui vitalidade, o Deus deste grupo
social poderá espelhar fraqueza, propiciado pela falta de ânimo do povo.
Tais acontecimento que promoveu a inversão dos valores foi primeiramente
por um problema político interno e externo, e as grandes dificuldades em manter
sua liberdade devido os constantes ataques que sofriam e também a crise a
instituição e dos costumes; quem colaborou para sarnir estes problemas,
modificando a forma de conceber o mundo foram os sacerdotes.

Os Judeus são o contrário de todos os décadents: tiveram de


os representar até à ilusão, tiveram de se pôr
conscientemente, com um non plus ultra do génio teatral, à
frente de todos os movimentos de décadence (como o
Cristianismo de Paulo), para deles fazer algo que é mais forte
do que qualquer partido que diz sim à vida. A décadence,
para o tipo de homem que no Judaísmo e no Cristianismo
aspira ao poder, é uma linhagem sacerdotal, unicamente um
meio: este tipo de homem tem um interesse vital, a saber,
tornar a Humanidade doente e perverter os conceitos de
«bem» e «mal», de «verdadeiro» e «falso», num sentido
perigoso para a vida e infamante para o mundo.
(ANTICRISTO, § 24,1962, p.23)

Agora o mundo é regido pelo querer do divino, o dia-a-dia começa a ser


entendido e articulado as clarezas das revelações obtidas nas sagradas escrituras
e em toda a avaliação da vida do surgimento do aparecimento existia o seu
mensageiro “sacerdotes” responsável de realizar os rituais para proteção daqueles
que buscavam guardar as palavras “divinas", o sacerdote consegue fazer a
desvalorização ao torna-se presente e necessário. O que faz também legitimar que
qualquer ameaça aos sacerdotes é encaminhada a uma tradução psicológica
sacerdotal que trataria essa ameaça vinda de um inimigo, se contrário, alguém
promover sua autoridade esses estão em consonância a vontade de Deus. Isso
teve bastante entonação no período em que os reis governavam.
Os sacerdotes usaram de sua artimanha para promover um novo olha de
valores já existente, oposto à dos aristocratas. Tudo que era sadio, forte e pleno
em vigor sofreram desvaloração, Israel foi sendo disseminada pelos sacerdotes,
porque com a união do povo eles poderiam alcançar o poder, assim a sociedade e
a cultura foi se perdendo, o Deus que manifestava alegria-justiça- autoafirmação,
tornou-se um Deus que puni aqueles que se alegram nesse mundo, o que buscam
justiça e se faz grande e forte neste mesmo idem.

Foi o instinto de quer punir e julgar o impulso essencial-


instinto que age na estratégia sacerdotal- que os levou
sacerdotes a atingirem o controle do povo Iavé, a dominação
de Israel. Este impulso é o responsável, segundo o autor de
Zaratustra, pelo estabelecimento de ficções teológicas e
metafisicas mais precisamente, apercepção da existência de
indivíduos autônomos. Esta crença brota da massa dos
ressentidos e através da astúcia dos sacerdotes. O querer
punir e julgar desnatura o mundo, retira dele a sua inocência,
o seu devir incessante que não é estabelecido por nenhuma
ordem moral supramundana. (SILVA, 2015, p. 46)

A característica de decadence, o instinto negador da natureza é dos sacerdotes


usado para guardar a existência de Israel, esse instinto de conservação foi operado de
forma diversificada, eles negaram aquilo que é diferente deles, assim os judeus o povo
santo pôde estabelecer e se auto engrandecer em relação aos demais povos, os gentios
os profanos aqueles que não são judeus. Foi neste contexto que o cristianismo começou
a fecundar, surgir e amadurecer, o cristianismo herdou do judaísmo esse valor do
ressentimento, negar tudo o que for diferente dele.
Nos foi ensinado pela cultura e religião que o mal é o ódio, o que gostar de trazer
prejuízo, sede de domínio, mas isso nada mais é o extinto que se afirmar no mundo e
nos faz continuar existindo, segundo Miranda (2010), o cristianismo operou uma inversão
de valores de tal modo que chega a considerar o “bom” aquele que é contra os instintos e
“mal” aquele que é natural, e isso toma tal degeneração, que data como imundo o sexo,
esse procedimento que traz vitalidade e prazer no ser humano, como também concebe
outra vida.
Nietzsche diz que Jesus Cristo não tem culpa por essa nova ficção naturalista,
mas sim os apóstolos e ascetas que carregam esse sentimento de ressentimento,
principalmente, após a morte de seu "mestre". Na interpretação de Nietzsche a figura de
jesus cristo e carregada de carisma que cativou os anseios da sociedade judaica na sua
época que sofria uma grande opressão dos romanos, porém Jesus não tinha uma
intenção política e nem uma vontade de criar uma religião, sua característica é de um
homem pacífico e bem determinado; Jesus cristo não deixou nada escrito e seus
ensinamentos eram pronunciados de forma verbal, ele criticou os velhos costumes e os
valores ortodoxo judaico da sua época, e trouxe uma mensagem de paz e esperança,
tinha um espirito forte e uma consciência muito à frente de seu tempo. Sua particularidade
foi tão esplêndida, mas não por ter uma natureza divina, e sim por ter uma consciência
livre de culpa e pecado. Esse judeu não negava a vida, ao contrário, afirmava, mesmo
sabendo o que lhe esperava na cruz, ele amou a dor, o sofrimento, a humilhação e seus
assassinos.
A mensagem que buscou trazer para seu povo foi: livrar-se da culpa, do pecado,
pois esses termos atrapalhavam o bem-viver, a vida plena e abundante, ele observou no
pecado uma má consciência que é o declínio da vitalidade que seus compatriotas haviam
criado e enraizado na mente do povo. Sua falta de ambição política e seus ensinamentos
o levaram ao matadouro, foi crucificado por legalistas e os sacerdotes -ressentidos que
pregava a má consciência pelo pecado- na sua época. A única correspondência de Jesus
cristos para essa proliferação foi exaltar os fracos e doentes que por seleção natural
poderiam ser extintos, pois sua mensagem de amor adulou esses malogrados a
descarregar sua falta uma vingança aos gênios fortes.
Quando Jesus morreu seus seguidores ficaram dispersos, ficando mais vulneráveis
aos seus "inimigos", ajuntaram-se e elegeram líderes que conviviam com seus Cristo,
bem conhecidos como discípulos ou apóstolos, justamente os homens do ressentimento
que não viviam satisfeitos com a vida realizável neste mundo. Esse movimento dos
ressentimentos se proliferou mais ainda a parti de Saulo de Tarso, um judeu da seita dos
Fariseus que nutria um ódio contra os cristãos e os perseguia. Mas em determinado
momento destas perseguições, narra que Jesus apareceu a ele e que por sinal o havia
deixado cego, o que para Nietzsche isso nada mais é que um instante de perturbação
mental que ele teve. Isso fez com que ele se confronta sua antiga religião que lhe garantia
uma felicidade com o divino, afilia-se ao movimento cristão, toma liderança e torna-se um
dos principais apostolo cristão, fundamentado na revelação de Jesus fez a ele em
Damasco.
Nisso eleva o cristianismo a um status universal, muda seu nome que era Saulo de
categoria judia, para Paulo, pois assim seria um gentil, o grande enviado de Cristo.
Segundo o filosofo alemão, Paulo doutrina, exorta, admoesta e dogmatiza os devotos, e
tais valores morais que prega são opostos aos instintos e à natureza, no qual Nietzsche
vem dizer que é a própria manifestação da vontade de potência. Paulo começa a querer
formar seu rebanho, prega a todas as classes possíveis. O cristianismo essa moral de
adestramento é bem diferente da mensagem do homem que nada escreveu e que
enfrentou os martírios em prol de ensinar a libertação da má consciência, e não levar o
povo a aprisionar-se a princípios e valores de ninguém.
Transvaloração dos valores
Quando Nietzsche se dispõe a investigar onde os valores morais se fundamenta,
observa que há mais de dois mil anos está enraizado no solo metafisico e religioso, e que
deveríamos entender que esses valores são produtos do homem, pois para o filosofo não
há possibilidade de ser um fruto de uma divindade e nem de um poder superior, ele toma
a vida como vontade de potência e como critério de avaliação, rejeita a metafisica, o
mundo suprassensível, a religião cristã e o reino de Deus. A vida, para o filosofo alemão
não são fundamentados em valores e princípios transcendentes: a vida não se acha além
dos fenômenos e nem fora das forças. A filosofia de Nietzsche é caracterizada como uma
reflexão experimental, então ele acredita que o niilismo- já existente na sua época-
consistiria na tomada ausência de sentido provocado pelo amesquinhamento dos valores
transcendentais, e que por isso deveria ter uma crítica do fundamento desses valores.
O caráter reativo, expressão de uma mentalidade do já é um sinal para o niilismo
pressente na sua época e que seria uma prévia para os séculos posteriores. Pensar sobre
a transvaloração dos valores é trazer uma possibilidade de criar condições para uma nova
moral afirmativa, como a moral aristocrática e agnóstica.
Nietzsche se interessa a criticar o niilismo europeu, ressentida, vingativa e marcada
pela compaixão, quando ele se refere a moral dos nobres lança-o para um novo modelo
político aonde a cultura e a religião devem criar novos valores de autodomínio e
afirmação, visto que esses têm um papel central no âmbito de valores da vida.
Nietzsche propunha uma ética eminente, que busca superara essa filosofia
socrática -platônica, que põe o homem no centro desse processo de valoração, assim
como a filosofia transcendental transfigura os valores aristocrático, o filosofo intenciona o
homem a valorizar sua vida, seus desejos, e trata estabelecer o valor da vida enquanto
realidade que se forma nesta realidade
Considerações Finais
Toda a filosofia nietzscheana é de suma importância para nós homem do século
XXI, pois todo o pensamento deste autor nos mostra que nem tudo que aprendemos e
ouvimos e bem verdade como se mostra. O bem não é universal, que já havia outra forma
de se pensar na história e entre outros povos. Que nossa vontade de querer vencer no
mundo enfrenta-se com outras posições e que ao se deparar com a fraqueza de um
sentimento psicológico e social, busca responder isso com uma vontade de vingança, e
uma má consciência. A sociedade está em constante transformação, os juízos estão
constantemente se transformando, ainda mais com essa grande população, carente de
cuidados, de crescimento. Nietzsche vem ser bem preciso na sua filosofia nos mostrando
que devemos ser como Cristo, nos livrar da culpa, do erro e do pecado. Entendermos
que todo processo seleção da vida é feito de grandes rupturas, e que coisas nascem,
morrem, vivem seus ciclos. São múltiplos de nós fazermos de várias formas, amar em
várias quantidades, conseguimos imaginar tantas formas de se viver nesse mundo, nosso
corpo requer essa necessidade. Nietzsche vem trazer a volta do homem real, a nossos
instintos, a nossa natureza.
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