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Marcação de Documento 8
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Alice Teles*
(Graduanda em filosofia-UEPA-)
RESUMO
Este trabalho pretende-se trazer uma pequena reflexão sobre a crítica que Nietsche faz à moral cristã e
para tanto interessa-se analisar de ante mão alguns conceitos como bem e mal, juízos que fundamenta
todos os processos avaliativos dos valores morais, e que em determinando momento sofreu uma
inversão de sentidos de valorativos, busca entender o que é o ressentimento e como caracteriza na má
consciência e, e tentar compreender o termo transvaloração dos valores, no qual quer inferir numa nova
forma de conceber novos . Pois para Nietzsche a moral Cristã a partir do contexto histórico de seus
ancestrais os judeus inverteram os valores que era exaltados pela moral aristocrática, e que essa nova
forma de conceber valor trouxe uma grande degeneração na consciência humana, desfazendo de sua
natureza e de seus instintos, como meio de superação desse caráter reativo, princípio do ressentimento.
Transvaloração os valores seria um modo de trazer novos estímulos a vida, juízos que os afirmes, tal
qual a moral dos senhores que avalia o mundo conforme o seu julgamento, diferentemente da moral
escrava que se abnega desse mundo e busca ser mais fora deste. Esse trabalho busca entender como
o cristianismo se proliferou e como é visto seu modo de valorar moral.
ABSTRAT
This work aims to bring a small reflection on the criticism that Nietsche makes to Christian morals and for this it is interested to analyze
beforehand some concepts as good and evil, judgments that underlies all the evaluative processes of moral values, and which in
determining moment suffered an inversion of meanings of valortives, seeks to understand what resentment is and how it characterizes in
bad consciousness and , and try to understand the term transstocking of values, which you want to infer in a new way of conceiving new
ones. For Nietzsche christian morality from the historical context of his ancestors the Jews reversed the values that were exalted by
aristocratic morality, and that this new way of conceiving value brought a great degeneration in the human consciousness, undoing its
nature and instincts, as a means of overcoming this reactive character, principle of resentment. Transvalorization of values would be a
way to bring new stimuli to life, judgments that afirmize them, such as the moral of the lords who evaluate the world according to their
judgment, unlike the moral slave who selfless of this world and seeks to be more out of it. This work seeks to understand how Christianity
has progressed and how its way of moral valorization is seen.
Friedrich Wilhelm Nietzsche nasceu em um vilarejo de Rocken, na Prússia, no dia 15 de outubro de 1844.O pai,
Karl Ludwig, era pastor protestante sua mãe, Franziska Oehler, também vem de uma família de pastores. Ele tem dois
irmãos: Elizabeth e Josep, porém o segundo morreu ainda quando pequeno. Seu pai em 1849 sofreu um acidente,
decorrente uma queda ficou paralitico e sego. Sua mãe, viúva, teve que mudar com os filhos para Naumburgo, neste lugar
Nietzsche começa seus estudos não se adaptando a convivência social, passa, aos quatorze anos, a ingressar no Colégio
Real de Pfort onde dedica-se à leitura, dedica grande parte de seu tempo ao estudo de teologia, pois pretendia tornar-se
pastor. Funda uma associação literária chamada "Germânia" junto com os amigos Carl Von Gersdoff (1844-1904) e Paul
Em 1864, Nietzsche, termina seus estudos apresentando um trabalho sobre -Theógnis de Megara- o poeta grego
do século Vi a. C, inscreve-se em seguida na Universidade de Bonn para estudar teologia, mas transfere-se em seguida
para Universidade de Leipzig, a fim de acompanhar os cursos do prof. Ritschl (1806-1876), abandona seus estudos
teológicos e se especializa em filologia. Convocado para o serviço militar, em 1868, sofre uma fratura quando cavalgava,
sendo logo dispensado, recolhendo-se a Naumburgo onde se recupera junto a sua família. De volta a Leipzig escreve a
uma série de artigos de filologia para a "Revista Literária do Centro", com muita disciplina termina seu curso na
universidade, agora livre das exigências acadêmicas Nietzsche pretende flanar e dedicar-se às mais diversas leituras. Foi
convidado a lecionar na Suíça, hesita em ir, mas acaba aceitando o convite. Conta seus 24 anos quando se tornou
professor de filologia Clássica na Universidade da Basiléia. Nietzsche, encarrega-se de cursos regulares, profere
conferências e consagra-se à escrita, faz uma palestra um grande público com os temas: "sobre a personalidade de
Homero", "Sócrates e a Tragédia" e "O drama musical grego". Em dezembro de 1871, Nietzsche termina de redigir " O
nascimento da Tragédia no espirito da música, publicado no ano seguinte, neste texto teve influência de "Arthur
Em 1879 é um dos piores anos de sua vida, com fortes dores de cabeça e na vista impedindo com frequência de
ler e escrever, impossibilidade que lhe sobrevinha já fazia seis anos. Com a saúde debilitada as obrigações profissionais
começam a ter um grande peso, interrompida em 1889 por uma crise de loucura que durou até sua morte em 25 de agosto de
1900. Em maio entrega a carta de demissão a Universidade de Basiléia, e com a ajuda de Overbeck, passa a receber uma
pensão de quatro mil francos por ano, servindo de ajuda até seus últimos dias. Nietzsche abraça uma vida errante:
percorre vilarejos da suíça, passa alguns tempos em Naumburgo. Publica dois apêndices- humano demasiado humano,
Miscelânea de opiniões e sentenças, O andarilho e sua Sombra- Até setembro de 1888, Nietzsche era parcialmente
desconhecido, suas obras eram quase despercebidas, mas com o livro " Assim Falava Zaratustra" começou a sair um
pouco do Anonimato. É, portanto, na obra genealogia da moral (1886), que Nietzsche vem tratar com mais precisão sobre
a origem da moralidade, além disso, como essa moral se aplica em todos os atos do ser humano, e é neste contexto que
surge o binômio bem e mal- bom e mau, que se ergue de alguma maneira como forma de manipulação e interesse.
Ele nos faz questionar se a falta, o pecado, o erro, enfim, seriam decorrência de uma má ação ou de um conceito
que procurou inserir no pensamento um sentido do que é bom em si, em decorrência, de algo que, em contra posição, é
mau? Será que esses termos não buscam inserir uma existente consequência de consciência boa e de uma consciência
má, ou simplesmente figuras inventa pelos espíritos que se consideram superiores para poder escravizar os espíritos
inferiores? A moral como classificação de tudo aquilo que representa o bom e o mal não parece significar senão um poder
que pretende se impor em detrimento dos mais fracos, inábeis, daqueles que precisam ser guiados no percorrer se sua
vida, que dependem sempre de ser conduzido a um “bem-estar", a uma alegria sofrível de viver, ou uma felicidade plena.
O ideal que ascende, de proibição das paixões, dos sentimentos menos nobres, seria uma manipulação dos mais fortes
para exercer seu domínio sobre os mais fortes, inventando uma religião e um estilo de vida capaz de reprimir o erro, a
falta, o pecado, em nome de uma felicidade futura, situado no além inatingível neste mundo, mas fixando como prêmio
no outro. Mas como eles fazem isso? Eles tentam inculcar no homem esses princípios fabricados a partir da vontade de
potência e utilizam da moral que faz a distinção de não-valores de valores, ou a inexistência de valores diante daquilo que
deve ser realmente considerado e tido como valor. A genealogia da moral procura responder todos esses
“Onde estiver o vosso tesouro, aí está vosso coração”, o homem é o único animal que conseguiu no processo
histórico produzir cultura, religião, linguagem, ferramentas, política, além do mais, aprendeu a fazer ciência, nomear e
entender os significados das coisas e, não obstante, criar juízos (cheio de suas razões e verdades) e também, dirige-se
a eles com tal adoração e devoção, tomando essas coisas como sua maior glória, sua conquista suprema, absoluta e
universal. Todos esses feitos carregam em si um valor, tal valor produz demais valores carregados de mais normas,
tradições, regras e leis e que conduz cada comportamento, atitude e ação que um indivíduo possa ter em particular, mas
A partir da obra: Humano, demasiado Humano, Nietzsche, começou a dá seus primeiros passos sobre a origem
dos preconceitos morais, e acabou por reforçar que o valor desses valores não nasceu do acaso, mas brotaram de uma
mesma raiz, esta que governa e dirige as forças interiores e que usam uma linguagem clara com conceitos bem
específicos. A moral é sustentada por dois juízos: bem e mal, o valor que gera os demais valores, é a partir deles que o
homem e suas ações são avaliados. Desde os trezes anos de idade, Nietzsche já cogitava a ideia sobre -qual é a origem
de nossa ideia de bem e mal-, e nesta mesma época já sabia distinguir esses juízos preconcebido teologicamente da moral,
não mais buscando sua fundamentação da origem do bem para além do mundo.
Ao estudar a história e a filosofia e um pouco de suas observações para questões psicológicas fez surgir questionamentos
acerca do problema que tanto lhe intrigava: Como o homem inventou o bem e o mal? Tem outros valores na sua gênese, ou já vieram
com essa noção de em si mesmo? Eles são ou não favoráveis para o desenvolvimento humano? Ou será que eles empobrecem,
degenera a vida? Mais quem sabe eles não são a plenitude, a força e vontade de viver, um valor, uma confiança, um futuro?
E, então, através de analisar povos, distinguir tempos, classes de indivíduos, que o fez questionar mais, conseguiu pousar e
fazer sua caminhada com mais firmeza, florescendo ainda mais as suas ideias; teve impulsos para publicar algumas hipóteses. Com a
ajuda de uma a leitura feita em um livro pertencente ao doutor Paulo Ree, 1877, com o título “Origem dos sentimentos morais”, no qual
foi tão sagaz em sua leitura, desde as frases a tese, lendo bem minuciosamente, levou-o a compreender seu objetivo; seu acerto e sua
busca foram semelhante um jogo de dardo, no alvo de dardo, cada argola leva a um centro principal e assim fez o filosofo alemão,
atirando sua investigação até acerta o centro. Nietzsche queria tratar do valor moral, e não certas atitudes que fazia uma pessoa moral,
ou imoral, ou seja, o valor tomado por avaliação, o valor que a moral carrega para responder algo. Diz também que valor do altruísmo, a
compaixão, a abnegação de si (tão embelezado por Schopenhauer), são os valores passaram pelo processo de criação, mas que se
auto afirmavam no percorrer da história, pessoas invocam e faz divinação desses conceitos; encobrem o interesse por trás deles, ele
diz:
Mais precisamente contra esses instintos surgiam em uma desconfiança cada vez mais clara um
ceticismo cada vez mais profundo. Neles via exatamente o grande obstáculo da humanidade, a
mais sublime tentação, a sedução que conduziria para onde? Para o nada? Neles via o princípio
do fim, imobilização, o cansaço que olha para atrás, a vontade que se rebela contra a vida, a última
doença anunciada por sintomas de ternura e de melancolias: compreendia sempre mais que essa
moral da compaixão, que não cessava de ganhar terreno [...] (NIETZSCHE,2020, p.15)
Os filósofos como Platão, Spinoza, La Rochefoucald, Kant, Agostinhos entre outros divinizaram esses princípios, baseados na
negação da vida e de si mesmo. É nisso que vem defender a necessidade de uma crítica dos valores, e para tanto, deve-se discutir
esses valores e conhecer as condições e os espaços onde nasceram, desenvolveram e formaram-se. Nietzsche diz que no início, na
pré-história, as ações não-egoístas foram honradas e nomeadas boas por aqueles que eram bem favorecidos- fortes, úteis, guerreiros,
belos de saúdes- com o passar do tempo esqueceu-se essa origem e chamaram-se boas as ações não-egoísta, em conformidade com
a tradição, a cultura, os rituais, são ditas e elogiadas como boas em si, afirma:
Para mim é evidente em primeiro lugar que essa teoria procura e fixa a origem de emergência do
conceito “bom” num lugar em que não está: o juízo “bom” não emana daqueles a quem se
prodigalizou a “bondade”. Foram os próprios bons, os homens nobres, os poderosos, aqueles que
ocupam uma posição de destaque e têm a alma enlevada que julgaram e fixaram a si e a seu agir
como “bom”, ou seja, “de primeira ordem, em oposição a tudo o que é baixo, mesquinho, comum e
plebeu. (NIETZSCHE, 2020, p. 22-23)
Es que começa a surgir o ponto importante na construção da crítica sobre a origem do bom, diz que o primeiro que se afirmar
é o bom dos aristocratas, no primeiro estágio, o conceito “bom” surgiu do juízo do mais forte, do homem guerreiro, nobre e não de uma
bondade. Pensar no conceito de bondade é inferir um carácter dos fracos, coisa que os guerreiros não conheciam, pois a supremacia de
seus valores estava respaldada no sentimento de explodir para fora seus extintos, esse sentimento que determinava a hierarquia deles.
Para Nietzsche foi a consciência da superioridade e da diferença, um sentimento de disputa prevalecente de uma espécie superior e
dominadora em resistência a uma espécie mais fraca e baixa que determinou a origem da oposição entre “bom” e “mau”. O tipo forte,
este que tem o direito de explodir seus instintos, de nomear, de estabelecer sua origem linguística, o direito de apoderar-se das coisas
que ditava a forma de valorar a vida, e não estava ligada a ações não-egoísta.
Esse agir não-egoísta se institui de forma gradativa na consciência humana, ou no dizeres de Nietzsche no instinto gregário,
e só foi possível pela inversão dos primeiros valores. “Herbert Spencer, o qual considera os conceitos “bom” e “útil” como essência
semelhante, “adaptados a um objetivo”, de modo que a humanidade, pelos juízos “bom e mau”, resumiu e sancionou precisamente suas
inolvidáveis sobre o bom como útil adaptado, o mal como inútil inadaptado”. (apoud:NIETZSCHE,2020, p.24). Spencer diz que o “bom”,
desde de muito distante, ou seja, numa contagem cronológica, se revelou sempre útil, o que lhe garante o papel de universalidade, como
possível de ser considerado em si. Nietzsche não vai de acordo, mas também não anula a ideia de que o “bom” tenha um parecer útil,
mas afirmar que a sua origem carrega essa informação de autocriação, não é sustentada e nem fundamentada e que deveria conter uma
genealogia bem precisa do próprio conceito. Segundo Ferrarezi (2019), para assim construir sua investigação acerca do conceito de
Bem e Mal, Nietzsche, utiliza-se de um instrumento, a filologia, pois afirma ter encontrado nela o melhor caminho, do ponto de vista
etimológico, as referências de “bom” marcado pelos diversos dialetos. De acordo com Nietzsche:
[...] Descobri que, em toda a parte “nobre”, “aristocrático”, no sentido de ordem social,
é o conceito fundamental, a partir do qual se desenvolve necessariamente “bom” no
sentido de “que possui uma alma de natureza elevada”, de que “possui uma alma
privilegiada” Esse desenvolvimento se efetua sempre paralelamente a outro que acaba
por evoluir de “comum”, “plebeu”, “baixo” para o conceito de “mau”. (NIEZSTCHE,2020,
p 24)
Ao examinar, etimologicamente o sentindo da palavra “bom” percebeu que ele passou por muitas transformações no processo
histórico da humanidade, observou na linguagem alemã que havia distinção dos termos, alguns conceitos encontrava-se uma
propriedade aristocrática e plebeia; sclecht (mau) que tem semelhança com schlicht (simples); assim, ao comparar schlechtweg
(simplesmente) e schlechterdings (absolutamente), essa palavra que tem formas idênticas, e que pode ter sido transformado da palavra
sclcht que quer dizer mau. Ainda procedendo na raiz do conceito “bom” serem pertencentes aos nobres é ver que simplesmente o
conceito em alguns povos pertencia a classe superior, então além do “Bom” ter um caráter hierárquico, ele também era para designação
dos ricos, os possuidores. Outro traço característico no qual Nietzsche vem abordar é o dos “os verazes” que significas “raízes de alguém
Creio poder interpretar o termo latino Bonus (Bom) como “o guerreiro”: uma vez que
possa fazer remontar Bonus a sua forma antiga de duonus (compara-se Bellum=
duellum=duen-lum, que me parece conter também esse duonus). Bonus seria o
homem da discórdia (duo- dois), o guerreiro: nota-se o que, na Roma antiga, constituía
a “bondade” de um homem. Nossa palavra alemã gut (bom) não significaria gottlich
(divino), o homem de origem divina? E não seria sinônimo de goth designativo de um
povo (mais originalmente da nobreza)? As razões em favor dessa hipótese surgem do
tema presente. (NIETZSCHE, 2020, p.27)
Nietzsche investigou de maneira bem abrangente a forma etimológica da palavra, juntando um monte de característica que a
história e suas definições lhe ofereceram. Viu que a termo “bom” carrega consigo uma designação dos nobres, fortes, guerreiros, belo,
o homem da disputa; na antiga Roma isso era considerado uma bondade do homem grego, mas no contexto em que viviam os alemães
constituía-se numa figura divina, como o conceito político de alma é tomada por uma concepção psicológica aconteceu que a casta mais
elevada formou ao mesmo tempo a casta sacerdotal e esta preferiria um título que designe as suas funções. Dessa maneira a oposição
“puro” e “impuro” serviu primeiramente para distinguir as castas e progrediu mais tarde uma diferença entre “bom” e “mau” de modo que
se aplica a uma escala social. Essa capacidade de uma aristocracia sacerdotal indicar uma razão com posições axiológicas, suplanta
um valor que pude interiorizar esses valores e que para Nietzsche acentua o perigoso, pois os seus princípios trazem no interior do
homem algo mórbido quanto aos seus costumes e hábitos, tornam-se hostis as ações, um paradoxo, pois estes querem que o homem
seja grande, mas pede que sua força seja pequena, ora pede que exploda suas emoções e ao mesmo tempo iniba sua vontade. E usam
de tais procedimentos que agridem o corpo como: jejum, abstenção sexual, a fuga para o deserto, as mutilações, o castigo; Nietzsche
vem dizer que foram os sacerdotes os grandes homens do ódio, visto que eles são os mais desprovidos, de cólera, de inveja; em
concordância afirma:
Tudo o que foi dito feito na terra contra os “nobres”, os “poderosos”, os “senhores”, os
“detentores” do poder”, não se pode comparar com que fizeram os judeus. Os judeus,
esse povo de sacerdotes, que não souberam por fim tomar satisfação de seus inimigos
e dominadores senão por meio de uma radical inversão dos valores morais, isto é, por
meio de uma vingança supremamente espiritual. (NIETZSTCHE, 2020, p. 29)
É na inversão dos valores que o povo sacerdotal começa a ter sua sede de vingança a ser realizada, para Nietzsche, os judeus
que souberam inverter os valores com uma coerência terrificante, o bom= nobre=poderoso=belo=feliz, torna-se os maus, enquanto os
miseráveis são bons, os pobres, os impotentes, os pequenos, aqueles que sofrem, os necessitados, enfermos, feios, esses sim são os
seres piedosos, os únicos abençoados por Deus, somente neles existe a boa aventurança- os outros, os poderosos, guerreiros são por
todo a eternidade os maus, os cruéis, os concupiscentes, os insaciáveis, ímpios, por toda eternidade os malditos e condenado. Ocorre
que os judeus foram a árvore que gerou frutos, e o fruto dessa herança, adivinha, foi o cristianismo, diz Nietzsche:
[...] -do tronco dessa arvore da vingança e do ódio, do ódio judeu- do ódio mais
profundo e mais profundo e mais sublime, aquele que cria ideias, que inverte os
valores, que nunca teve semelhante na terra- do tronco desse ódio surgiu uma coisa
de todo incomparável, um novo amor, a mais profunda e mais sublime forma de amor
[...] Esse jesus de Nazaré, evangelho do amor encarnado, esse “redentor” que traz a
bem aventurança e a vitória aos pobres, enfermos, aos pecadores. (NIEZSTCHE,
2020, p.30)
O que Nietzsche identificou no seu estudo sobre a origem do “bom e do mau” foi que existiu uma moral dos escravos e uma
moral dos aristocráticas. A rebelião escrava começou com a união dos sacerdotes com o povo, os sacerdotes vivam em conflitos com
os reis, estes não cediam espaço para os sacerdotes manifestar o seu poder resolveram levar a mensagem do divino ao povo, como o
povo era escravo, a mensagem sacerdotal se “vestiu de outras roupas”. Os sacerdotes e os escravos formam essa casta de ressentidos;
o ressentimento é aquele que não reage diante de uma ação, ou nega a ação, essa castra aposta em uma vingança imaginaria; enquanto
toda a moral aristocrática nasce de uma afirmação de si mesma, a moral dos escravos põe um “não” a tudo que não é seu, a um outro
jeito, que não é ele mesmo; esse não é seu ato criador. Uma grande questão da moral escrava foi precisamente o ressentimento, a moral
escrava necessitou emergir de um mundo oposto e exterior, em uma expressão fisiológica de estimulantes externos para agir, ou melhor
dizer sua ação é alicerçada em uma reação, o contrário, o modo de avaliar aristocrático é respaldado no agir, em dizer sim a si mesmo,
e para ele o mau é um ser pouco, ser comum, servil. Enquanto a moral escrava o mau é quem pode imprimir nele alguma força, quem o
faz ficar ferido, e foi, portanto, a moral dos escravos que prevaleceu.
Não traz oculta em si vingança que vê longe, subterrânea, que progride lentamente e que calcula
com antecipação, o fato que Israel teve de negar de fronte do mundo e pôr na cruz o verdadeiro
instrumento da vingança, como esse instrumento fosse seu inimigo mortal, a fim de que o mundo
todo, isto é, os inimigos de Israel, tivessem menos crepúsculo em morder a isca mais funesta e
perigosa. (NIETZSCHE, 2020, p.30)
Segundo Nietzsche, o Deus crucificado seria uma confirmação da vingança Judéia e uma inversão de todos os valores, que
triunfa sobre as ideias, exclusive sobre todos os ideais mais nobres, isso quer dizer que o povo venceu, ou seja, os escravos, graças aos
judeus. Foram abolidos os amos, triunfou a moral do povo e tudo se judaíza, se cristianiza, e se plebeiza a olhos vistos. Mas para o
filosofo, o homem do ressentimento não é tão correto, nem se quer honesto e leal consigo mesma. Sua consciência é turva e procura-
os seus recantos em vias tortas, saídas fugitivas, encanta-se em esconderijo de seu próprio mundo, aí se sente seguro. O erro da moral
nobre foi deixa-se levar, ou melhor, torna-se ressentido. A moral escava cria homens cheios de sentimento de vingança, este sentimento
apoderar nele e faz ainda mais marcar suas mágoas e cicatrizes que não se esvaziou, o que gera um veneno fatal no âmago dessa
pessoa, grupo etc... O problema, portanto, do bom concebido pelo homem do ressentimento pode ser melhor apreendido numa fabula
Que os cordeirinhos tenham horror às aves de rapina e compreende-se; mas não é razão para
querer mal às rapinas que arrebatam os cordeirinhos. Se os cordeirinhos dizem: “Essas aves de
rapina são más, e aquele que não é de modo alguma ave de rapina, mais precisamente, seu oposto,
um cordeirinho, não seria bom? Nada teríamos que responder a essa maneira de erigir um ideal, a
não ser que as aves de rapina responderão com ar um tanto sarcástico, dizendo talvez: “De nossa
parte, não temos nenhum rancor contra esses cordeirinhos, e até os amamos; nada há de mais
suculento que um tenro cordeiro”. (NIETZSCHE, 2020, p.39 )
O que ocorre nesta fabula é simplesmente uma avaliação entre duas possíveis posições morais. A moral do rebanho, escrava
ou sacerdotal (ovelhinhas) observa a ave de rapina e diz que eles são maus, e, portanto, ele é bom, uma premissa que é sustentada
sempre numa negação do outro para assim se afirmarem. Exige que a força daquele caçador de tal modo se anula, pois assim, não será
diferente, será como eles; as aves de rapina são vistas como maus às ovelhinhas por serem carnívoras, violentas e perseguidoras.
Isso não quer dizer e as ovelhas são boas, pelos contrários, são acumuladores de medo, inveja e sentimentos que não podem
serem capazes de ser lançados para fora, ocorre é que as ovelhas sabem sua fraqueza, e quer se salvar, logo o único método possível
de poder garantir isso, é persuadir. Então o bom é todo aquele que não brutaliza e que espera sua vingança em Deus, que se resguarda,
que exige pouco da vida, os pacientes, humildes, os justos, esse é o modo dos cordeirinhos viver, e esse é o modo também que os
valores estão sendo pregado, a partir dessa nova moral que venceu. A moral que prega a bondade está escondida numa impotência
da represália, no a qual eles chamam de humildade; ficam submisso a alguém que dizem que ordena essa submissão (Que chamam de
Deus).
Os juízos aristocráticos de avaliar eram ditos como “bom e ruim “, enquanto que os escravos e sacerdotes concebiam como
“bom e mau” que travou durante anos milhares de combate terríveis e que por mais que o segundo valor seja o mais preponderante, não
faltam até os dias atuais áreas de combate. Nietzsche põe até em questão os romanos e os judeus, os romanos fortes e nobres viveram
intensamente seus valores, e os judeus? Estes Nietzsche os chamam de ressentidos que dotam de uma genialidade ímpar em matéria
de moralidade e que lutou com bastante astucia e silêncio até conceber seu, enfim, canto de vitória, invertendo os valores do valor “bom
e mau”.
FUNDAMENTOS DO RESSENTIMENTO
Nietzsche considera que a relação do homem com o mundo é assinalada por uma
competição. Essa competição é marcada por uma vontade de poder, ou seja, o homem
quer sempre impor mais dele no mundo. Ele concebe o corpo como um campo de forças,
no qual há um combate de poderes e estímulos que se confrontam e se dilatam a todo
momento, e esses impactos produzem, eventualmente, ilustrações na nossa consciência,
decorrente dos nossos aparelhos sensoriais. O processo saudável de uma boa apreensão
psíquica, segundo Nietzsche, é quando a consciência recebe as ilustrações, estes dados
emitidos por essas forças e que depois passa por um estado de digestão no inconsciente.
O responsável por essa digestão é o esquecimento, uma força ativa, que trabalha em prol
de manter a consciência sempre limpa não permitindo que os afetos fiquem alojados nela.
Cabe evidenciar que para o filosofo o esquecimento não apaga uma memória,
mas converte em uma condição de fonte alimentícia, no qual, o sujeito possa está apto para
receber novos estímulos. Pois essa força ativa, funciona como protetora da nossa ordem
psíquica, sem ela não haveria felicidade, jovialidade, esperança, orgulho e “presente”.
Todavia, aquele no qual prevalece as forças reativas, nos ressentidos, este tem o mal
funcionamento do esquecimento e é caracterizado como aquele que não consegue dá
conta de nada, simplesmente, pois não conseguir fazer a digestão dos afetos, bem como
aquilo que sentiu, ou que lhe foi causado em sua máxima potência, Nietzsche diz:
Diferentemente, a alma, é eterna, perfeita, harmoniosa e que sofre por estar num
corpo que atrapalha sua ação, que a impede de ser perfeita e universal. É assim que a
razão Socrática-platônica surge. De acordo com a noção Nietzschiana, a abominação
socrática pela existência, no qual o homem é dotado de uma razão já existente dentro dele;
o planejamento metafisico de dividir o sensível do inteligível em Platão é início de resultado
de uma desvaloração da vida, onde diversos princípios morais, em principal a moral cristã
mais se apoia para fundamentar suas crenças existências, Bittencout esclarece
Entender e esclarecer os fatores que pode ter ajudado a dor e o sofrimento a serem visto como algo horripilante é o auto
aumento de não querer sentir mais dor, mas também a própria a moralidade da dor. Portanto, a crueldade e o prazer não foram excluídos,
só sofreram mudanças em seu estado, como a remissão e categorias. Quanto a origem de culpa e de obrigação, Nietzsche da mesma
forma lança no âmbito das relações matérias de comprador e devedor, como credor e devedor, pois foi quando o homem começou a
valorar e determinar que se instituiu os direitos, deveres e justiça. Pode ter havido muitos dados que informe a importância do castigo,
mas o que prevaleceu foi a ideia do castigo como instrumento de despertar no homem o sentimento de culpa, logo, em vez de compensar
a dor, de afirmar uma atividade que compensa a vida, gerou no indivíduo uma “má consciência”. “O castigo deve ser essa propriedade
de despertar no culpado o sentimento de culpabilidade, revelando nele o verdadeiro instrumento dessa reação psíquica que se denomina
“má consciência”, “remorsos”. Fazendo isso é atentar contra a realidade e contra a psicologia[...]” (NIETZSCHE, 2020, p. 72)
Ao conceber a ideia de que a comunidade subsiste apenas por benefícios dos sacríficos e de seus antepassados, esses feitos
de seus ancestrais vão como passar do tempo sendo divinizados, e não se extinguem nunca, ficam sendo ditos como universais e
permanentes a ponto de se transfigurar em um Deus. O castigou se potencializou, perdeu o sentindo de compensação e intensificou o
sentimento de culpa, houve até novas forma de tentar remediar esse desenvolvimento, mas se interiorizou-se devedor, e agora este
homem é consequência de um fruto, a má consciência que se enraizou e tomou proporção totalitária de seu ser. Sem possibilidade de
pagar sua dívida, gera também a impossibilidade de punição que nada mais é o castigo eterno, onde Nietzsche diz que o cristianismo é
Dispomos então da má consciência, esse surgimento da interiorização do homem onde faz dele um inibidor de sua vontade,
no parecer nietzschiano:
Todo um mundo interior, originalmente pequeno, como que encerrado entre duas
peles, cresceu e eclodiu, ganhou em profundidade, em largura, em altura, na medida
em que a exteriorização do homem foi inibida. As formidáveis barreiras que a
organização social construía para defender contra os antigos instintos de liberdade- os
castigos fazem parte da primeira linha dessas barreiras- conseguiam que todos os
instintos do homem selvagem, livre e vagabundo, se voltassem contra o próprio
homem. A hostilidade, a crueldade, o prazer em perseguir, na agressão, na mudança,
na destruição, tudo isso se dirigia contra o detentor desses instintos, essa é a origem
da “má consciência” (NIETZSCHE, 2020, p.75)
Isso foi um grande envenenamento do homem para o próprio homem, demonstração bem evidente da privação dos instintos,
e isso toma mais potencialização a partir dos ressentidos, os escravos, essa espécie de animal do rebanho, as ovelhas vingativas que
configura a má consciência, para conseguir ser como o homem responsável, um que promete, ou melhor dizer, o bom, castra os instintos,
reduzindo suas vontades na esfera da racionalidade e assim participar das formações civilizatórias. Esse homem da moral escrava é
impossibilitado de realizar sua força, de ser mais neste mundo, realiza um papel de fazer com que o homem se sinta culpado e mesquinho,
acredita no castigo, onde esse castigo não possa gerar a culpa, para tanto cria-se ideais como (Divino Deus), consequente, fazer-se
santo a partir disso. “Com o advento do deus cristão, que é a expressão mais alta do divino até hoje tem essa razão suscitado também
a aparição do máximo sentimento de culpabilidade no mundo [...]” (NIETZSCHE, 2020, p 81). A má consciência é a consciência que
multiplica a dor, segundo Correia:
O processo de civilização ao homem, castrando seus instintos, o enfraquecimento de
si mesmo, a consequente culpabilização, ou seja, a interiorização da culpa, tudo isso
neste universo moral, teve como consequência um homem cujas forças o condenam,
o enfraquecem. (CORREA, 2009, p.47)
Segundo Deleuze a má consciência desenvolve-se em duas partes: “uma como força interiorizada e outra como a interiorização
da dor” o que constitui os dois aspectos do ressentimento como processo tipológico e topológico. O que quer dizer que o homem
primeiramente na relação de credor e devedor muda a projeção, uma vez que a crueldade no primeiro estamento era caracterizada como
responsabilidade-vida, projeta-se como responsabilidade-culpa no plano imaginativo, dando surgimento ao mal-estar na humanidade, o
peso na consciência.
CRITICIA DE NIETZSCHE À MORAL CRISTÃ
Na crítica ao cristianismo, Nietzsche buscou analisar a formação e as consequências dos valores definidos pelo ideário cristão,
e viu que nele tudo quanto tomou por vantagem pertencia a uma categoria de uma moral de ressentidos, fracos, baixos, malogrados e
que se modificou em um ideal que contraria os instintos de conservação dos fortes. O cristianismo é a expressão de uma disposição
fisiológica debilitada e cansada, incapaz de se afirmar no mundo por si próprio, sustentando-se num mundo ideal, no reino dos céus.
Para os cristãos é o lugar que reina os valores que são contrários à vontade desse mundo corruptível, desta vida sofrida, desse corpo
inconstante.
Neste mundo ideal cristã não há transitoriedade, necessidades, moléstias, doenças e conflitos bélicos, e essa possível ordem
é mantida por uma entidade transcendental (Deus), o único de uma verdadeira realidade, mas que exige de seus seguidores uma fiel
obediência, caso contrário, poderá ser punido. O referente possui servos que possibilita o contato dele com seu povo, esses servos
seriam os homens santos: os profetas, os sacerdotes, os pastores e padres. A religião cristã recebe os fracos e necessitados, os ditos
misericordiosos, cansados da peleja da vida e do fardo que é existir neste mundo orgânico de constante expansão e contração. Ao fazer
um estudo genealógico da origem desta religião diz que o seu surgimento está na cultura ancestral do povo judeu e da decadência do
império Romano, e que é fundamentado no mecanismo de promoção que é a compaixão.
O surgimento do cristianismo veio do combate aos grandes homens aristocrática. Abandona-se o mundo natural por um
antinatural, este mundo na perspectiva dos ressentidos ganha um ápice ontológico da realidade, sua estratégia de sobrevivência é
através da negação do outro e do mundo, dos impulsos, a própria vida; negando esse mundo planejam alcançar o “mundo divino”,
prometido pelo sacerdote. Todos os juízos valorativos e normativas, manifestam-se na dor desse processo de decadence.“
A
divindade da décadence, castrada nas suas virtudes e nos seus impulsos viris, converte-se
forçosamente no Deus dos fisiologicamente regredidos, dos fracos”. (ANTICRISTO,1967,
p.20). Nietzsche vem dizer que Deus, alma e pecado não passam de ficções criados por
pessoa, e que o pecado é descente do povo judeu e tem por objetivo levar a seus devotos
o sentimento de culpa, os gregos desconheciam o sentido dessa palavra, e se caso ouvisse
poderiam, até, exclamar que tal sentido só poderia advim de uma pessoa fraca, dos
sentimentos escravos.