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*** o estruturalismo e a “miséria da Razão” ***

- capítulo um –

o problema da razão na filosofia burguesa

Nesse capítulo o autor vai explanar e analisar o movimento da história da filosofia burguesa.

Tal apreensão é necessária para que não façamos apreensões subjetivistas nem a-históricas,

que são características justamente da filosofia burguesa em sua fase de decadência filosófica.

O autor começa colocando que a história da filosofia burguesa pode ser dividida nitidamente

em dois momentos: um de ascensão progressista e outro de decadência e esvaziamento de

algumas categorias próprias do humanismo e do pensamento dialético.

Apesar de o autor usar referências dos principais pensadores da filosofia burguesa, ele não

demonstra tais transformações a partir de uma análise psicológica desses pensadores

individualmente. Mas demonstra o próprio desenvolvimento concreto e objetivo da burguesia,

desde sua gênese revolucionária, até o momento em que a burguesia ao tomar os meios de

produção e revolucioná-los, efetiva assim sua dominação diante das outras classes.

A partir desse momento, a burguesia tem uma mudança radical em sua essência

revolucionária. Agora todas estas categorias progressistas que justificaram a revolução da

burguesia se tornam conflitantes com seu caráter, agora, reacionário, colocando seus

interesses de classe que quer se manter no poder.

“Enquanto numa primeira etapa a burguesia representava objetivamente os interesses da

totalidade do povo, no combate à reação absolutista-feudal, agora o proletariado surge na

história como classe autônoma, em-si e para-si, capaz de resolver em sentido progressista as

novas contradições geradas pelo próprio capitalismo triunfante.” (p. 8)

A burguesia passa então de um caráter revolucionário, com uma práxis progressista, para uma

condição de tomar como prioridade não o desenvolvimento da Razão, mas de tecer “teorias”

(ou “epistemes”) que justifiquem a realidade social. Isso desloca a importância da Razão e

suas apreensões objetivas da realidade, para a criação de um sistema de regras e

procedimentos formais com justificativa “científica”.


--- o rompimento com a tradição progressista

O autor já inicia falando do desenvolvimento histórico e contraditório da filosofia burguesa, que

abre mão de suas das categorias da Razão, do humanismo e historicismo no momento em que

tais categorias se voltam para sua própria dominação enquanto classe sobre as demais.

O autor localiza em Hegel o ponto que é tanto o auge do progresso da filosofia burguesa

quanto o ponto em que se faz necessária essa guinada à decadência, ao agnosticismo e ao

próprio irracionalismo. O que se põe é um rompimento com o progresso de categorias

científicas e a reconfiguração de tais categorias de maneira fetichizada, ignorando seu sentido

histórico e objetivo.

Esse ponto é interessante para que a gente entenda que nem Marx nem Engels leram autores

marxistas para forjar sua teoria e método. Eles partiram do que havia de mais avançado na

filosofia burguesa, até porque Marx queria apreender a sociedade burguesa. Portanto, o

marxismo é uma práxis que está inserida e se forja dentro da sociedade burguesa.

É a partir destes autores que o marxismo retoma os avanços feitos pela burguesia no momento

histórico em que a mesma era uma classe revolucionária. Porém, ao retomar tais avanços, o

marxismo inaugura uma nova perspectiva ao colocar como central o proletariado.

Então, é a partir da ideologia de Hegel que Marx e Engels conseguem avançar para o sentido

materialista e revolucionário a dialética idealista hegeliana. Assim como é nos autores clássicos

da economia liberal (Ricardo, Smith) que Marx avança para a economia política.

Mas o desenvolvimento da filosofia burguesa não era algo homogêneo, portanto, já haviam

autores que tinha esse caráter mais reacionário e que são atualizados intensificando seu

rebaixamento teórico e compreensão da realidade concreta.

O autor relembra que o capitalismo em seu momento histórico revolucionário representava a

revolução social em sua totalidade, não somente no plano econômico. A dominação cultural

burguesa também foi um ponto fundamental para seu caráter revolucionário. O que acontece

no momento de decadência é que a burguesia, ao trair sua própria revolução para se manter

no poder, ela utiliza essa dominação econômica, cultural e social para estabelecer-se como

identidade genérica do ser social. “A ideologia dominante pertence à classe dominante.”.

O autor reforça que a filosofia burguesa progressista já havia percebido “o papel ativo da ação

humana na formação da objetividade social”. Contudo, foi a partir da economia clássica inglesa
que essa ação humana passou de uma categoria abstrata, individualista e idealista para uma

compreensão que parte de suas bases concretas e objetivas: o trabalho econômico.

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