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Fundamentos de Mecânica

dos Solos

Profa. Narayana Saniele Massocco

2019
1 Edição
a
Copyright © UNIASSELVI 2019

Elaboração:
Profa. Narayana Saniele Massocco

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

M419f

Massocco, Narayana Saniele

Fundamentos de mecânica dos solos. / Narayana Saniele Massocco. –


Indaial: UNIASSELVI, 2019.

205 p.; il.

ISBN 978-85-515-0286-0

1. Mecânica do solo. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.

CDD 624.151

Impresso por:
Apresentação
Olá, caro aluno de Engenharia da UNIASSELVI.

Bem-vindo a mais um módulo! Este livro refere-se ao curso de


Fundamentos da Mecânica dos Solos.

Você, aluno de Engenharia, que está acostumado a analisar os esforços


de materiais como aço e concreto, cujas propriedades são relativamente bem
ajustadas, terá que lidar com um material denominado solo e a rocha.

Na construção civil, a Engenharia é bem definida quando escolhemos


a estrutura que queremos construir, porém qual fundação utilizar? Isso
dependerá do solo no qual aquela estrutura deverá ser apoiada. O tipo de
solo determina a condição básica para as fundações. Em obras de terras, por
exemplo, dependendo do tipo de constituição do perfil de solo, a mudança
no projeto é bastante evidente, pois afeta diretamente a economia do
empreendimento.

O estudo do comportamento do solo vem desde Coulomb (1773),


Rankine (1856), Darcy (1856) e Terzaghi (1936). Estes verificaram a
necessidade de estudar o comportamento dos solos quando as tensões são
aplicadas, por exemplo, em fundações, e quando as tensões são aliviadas, no
caso de escavações. Além disso, a Mecânica dos Solos estuda o escoamento
da água no solo pelos seus vazios e isto constitui a Engenharia Geotécnica ou
Engenharia de Solos.

A análise técnica do solo, ou seja, a Geotecnia, é fundamental para a


nossa formação como engenheiros, pois não adianta sabermos construir um
prédio se não temos noções do substrato geológico em que essa estrutura será
apoiada. A partir disso, a proposta deste livro é mostrar os conceitos básicos
de Mecânica dos Solos, explorar a origem e estruturas do solo, conhecer as
relações entre as fases do solo, classificá-lo a partir de ensaios de granulometria
e limites de consistência, estudar a influência da água no solo e, por fim, ter
noções básicas de investigação do solo.

Para um melhor aprendizado, este curso divide-se em três unidades.

A Unidade 1 contempla os conteúdos de origem e formação dos solos


e sobre as estruturas dos solos e seus índices físicos.

A Unidade 2 define a representatividade do solo em termos de


granulometria, plasticidade e consistência e, por fim, a classificação do solo.

III
A Unidade 3 foca na condição de água nos solos, características básicas
de percolação, finalizando com os passos de uma investigação do subsolo.

Bons estudos.

Profa. Narayana Saniele Massocco

NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto


para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

IV
V
VI
Sumário
UNIDADE 1 – FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS.............................................................. 1

TÓPICO 1 – ORIGEM E FORMAÇÃO DOS SOLOS....................................................................... 3


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 3
2 TIPOS DE ROCHA................................................................................................................................ 4
3 COMPOSIÇÃO QUÍMICA E MINERALÓGICA DOS SOLOS.................................................. 10
3.1 TAMANHO DAS PARTÍCULAS.................................................................................................... 10
3.2 CONSTITUIÇÃO MINERALÓGICA............................................................................................. 13
3.3 ESTRUTURA SOLO-ÁGUA-AR..................................................................................................... 16
4 TIPOS DE SOLOS................................................................................................................................. 17
4.1 SOLOS RESIDUAIS.......................................................................................................................... 18
4.2 SOLOS ORGÂNICOS . .................................................................................................................... 19
4.3 SOLOS PEDOGÊNICOS.................................................................................................................. 20
4.4 SOLOS SEDIMENTARES (TRANSPORTADOS)......................................................................... 21
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 22
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 23

TÓPICO 2 – ESTRUTURAS DOS SOLOS E ÍNDICES FÍSICOS................................................... 27


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 27
2 NATUREZA DAS PARTÍCULAS ...................................................................................................... 27
2.1 ESTRUTURAS EM SOLOS NÃO COESIVOS.............................................................................. 28
2.2 ESTRUTURAS EM SOLOS COESIVOS......................................................................................... 32
3 SUPERFÍCIE ESPECÍFICA .................................................................................................................. 36
4 FORMA DAS PARTÍCULAS .............................................................................................................. 38
5 RELAÇÕES ENTRE AS FASES DOS SOLOS ................................................................................. 39
5.1 RELAÇÕES FÍSICAS ENTRE AS FASES DO SOLO.................................................................... 41
5.2 RELAÇÃO DAS FASES ENTRE VOLUMES ............................................................................... 42
5.3 RELAÇÕES DAS FASES ENTRE MASSAS E PESOS.................................................................. 43
6 ÍNDICES FÍSICOS: TEOR DE UMIDADE, MASSA ESPECÍFICA APARENTE E REAL, .
ÍNDICE DE VAZIOS, POROSIDADE, GRAU DE SATURAÇÃO.............................................. 44
6.1 UMIDADE ........................................................................................................................................ 44
6.2 ÍNDICE DE VAZIOS......................................................................................................................... 45
6.3 POROSIDADE................................................................................................................................... 45
6.4 GRAU DE SATURAÇÃO................................................................................................................. 45
6.5 PESO ESPECÍFICO DO SÓLIDO.................................................................................................... 46
6.5.1 Peso específico da água........................................................................................................... 46
6.5.2 Peso específico natural............................................................................................................ 47
6.5.3 Peso específico aparente seco................................................................................................. 47
6.5.4 Peso específico aparente saturado......................................................................................... 47
6.5.5 Peso específico submerso........................................................................................................ 47
6.5.6 Densidade relativa dos grãos (Gs)........................................................................................ 47
6.6 RELAÇÕES ENTRE ÍNDICES FÍSICOS........................................................................................ 48
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 50
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 52
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 53

VII
UNIDADE 2 – O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS...............................................59

TÓPICO 1 – GRANULOMETRIA......................................................................................................61
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................61
2 PREPARAÇÃO DA AMOSTRA......................................................................................................61
2.1 PENEIRAMENTO GROSSO........................................................................................................65
2.2 PENEIRAMENTO FINO .............................................................................................................65
2.3 SEDIMENTAÇÃO.........................................................................................................................66
2.4 DISTRIBUIÇÃO GRANULOMÉTRICA.....................................................................................68
2.5 ANÁLISE GRÁFICA DE UMA CURVA GRANULOMÉTRICA............................................70
RESUMO DO TÓPICO 1.....................................................................................................................73
AUTOATIVIDADE...............................................................................................................................74

TÓPICO 2 – PLASTICIDADE E CONSISTÊNCIA ........................................................................79


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................79
2 ESTADOS DE CONSISTÊNCIA.....................................................................................................80
3 LIMITE DE LIQUIDEZ......................................................................................................................82
4 LIMITE DE PLASTICIDADE...........................................................................................................87
5 LIMITE DE CONTRAÇÃO...............................................................................................................89
RESUMO DO TÓPICO 2.....................................................................................................................95
AUTOATIVIDADE...............................................................................................................................96

TÓPICO 3 – CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS.................................................................................99


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................99
2 SISTEMA TRILINEAR: USDA........................................................................................................100
3 SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO (AASHTO)..............................................................................101
LEITURA COMPLEMENTAR.............................................................................................................114
RESUMO DO TÓPICO 3.....................................................................................................................118
AUTOATIVIDADE...............................................................................................................................119

UNIDADE 3 – INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS.....................................................121

TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO ÀS TENSÕES NO SOLO................................................................123


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................123
2 CONCEITO DE TENSÕES...............................................................................................................124
3 TENSÕES DEVIDO AO PESO PRÓPRIO: CONDIÇÃO SECA OU NATURAL..................126
4 TENSÕES DEVIDO AO PESO PRÓPRIO: CONDIÇÃO GEOSTÁTICA COM ÁGUA.....129
4.1 PRESSÃO NEUTRA .....................................................................................................................129
4.2 TENSÕES EFETIVAS: DEFINIÇÕES DE TERZAGHI..............................................................130
5 CAPILARIDADE NO SOLO............................................................................................................133
RESUMO DO TÓPICO 1.....................................................................................................................139
AUTOATIVIDADE...............................................................................................................................140

TÓPICO 2 – PERMEABILIDADE E PERCOLAÇÃO DE ÁGUA NO SOLO.............................143


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................143
2 ÁGUA NO SOLO SEM FLUXO ......................................................................................................143
3 ÁGUA NO SOLO COM FLUXO: LEI DE DARCY.......................................................................145
3.1 CARGAS HIDRÁULICAS............................................................................................................147
3.2 VELOCIDADE DE DESCARGA E VELOCIDADE REAL.......................................................151
3.3 COEFICIENTE DE PERMEABILIDADE (k)..............................................................................153
3.4 FORÇA DE PERCOLAÇÃO . ......................................................................................................159
3.5 TENSÕES NO SOLO DEVIDO À PERCOLAÇÃO . ................................................................160

VIII
3.6 GRADIENTE CRÍTICO . ..............................................................................................................162
RESUMO DO TÓPICO 2.....................................................................................................................163
AUTOATIVIDADE...............................................................................................................................164

TÓPICO 3 – INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO...............................................................................167


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................167
2 RETIRADA DE AMOSTRAS ..........................................................................................................168
3 ENSAIOS DE CAMPO......................................................................................................................170
3.1 STANDARD PENETRATION TEST (SPT)..................................................................................170
3.2 ENSAIO DE CONE (CPT) E PIEZOCONE (CPTU)..................................................................175
3.3 ENSAIO DE PALHETA (VANE TEST)........................................................................................177
3.4 SONDAGEM ROTATIVA ............................................................................................................180
3.5 ENSAIO PRESSIOMÉTRICO ......................................................................................................181
4 ENSAIOS DE LABORATÓRIO.......................................................................................................181
5 PROGRAMA DE INVESTIGAÇÃO...............................................................................................184
LEITURA COMPLEMENTAR.............................................................................................................186
RESUMO DO TÓPICO 3.....................................................................................................................199
AUTOATIVIDADE...............................................................................................................................200

REFERÊNCIAS.......................................................................................................................................203

IX
X
UNIDADE 1

FORMAÇÃO E NATUREZA DOS


SOLOS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• identificar a composição do solo e a influência no comportamento;

• diferenciar as diversas formações dos solos residuais, transportados,


orgânicos e lateríticos;

• conhecer as relações entre as fases do solo;

• saber calcular os índices físicos do solo.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em dois tópicos. No decorrer da unidade
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – ORIGEM E FORMAÇÃO DOS SOLOS

TÓPICO 2 – ESTRUTURAS DOS SOLOS E ÍNDICES FÍSICOS

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

ORIGEM E FORMAÇÃO DOS SOLOS

1 INTRODUÇÃO
Os solos são, na maior parte, produtos da desintegração e da decomposição
das rochas constituintes da crosta terrestre. Estas rochas, por sua vez, podem
resultar da cristalização de magma ejetado do interior da Terra para a crosta
terrestre ou podem ter se desenvolvido a partir da alteração de outras rochas em
resultado de variações de pressão e temperatura.

As rochas originais com o tempo podem vir a se desintegrar e decompor-


se em solos, os quais, por sua vez, no momento em que são sujeitos a superiores
pressões e temperaturas, se modificam novamente em matéria rochosa constituindo
as chamadas rochas sedimentares. Se as temperaturas forem suficientemente
altas, as partículas individuais do solo podem perder a sua identidade numa
massa em fusão que, recristalizando, forma as rochas metamórficas.

Nesses processos de formação dos solos e das rochas na crosta terrestre,


as rochas e os solos podem se formar alternadamente muitas vezes, sendo
ocasionalmente desintegrados e reagregados os materiais da crosta.

Com a exposição à superfície da Terra, o maciço rochoso fraturado estará


submetido à ação física da água, do vento e da gravidade, fazendo blocos da massa
rochosa original se desligarem e se moverem para novas posições de equilíbrio.
“O movimento será geralmente acompanhado por novo fraturamento e fissuração
de cada bloco, quando este entra em contato com outras rochas ou fragmentos,
à medida que é movido e cai em resultado do vento, da água ou da ação do gelo
nas fissuras” (FERNANDES, 2016, p. 99). Assim, qualquer massa rochosa tende
a ser gradualmente desintegrada em fragmentos cada vez menores, formando os
solos. Esse processo é designado intemperismo. Quanto mais aqueles fragmentos
entram em contato com outros em resultado do escorregamento pelas encostas,
do transporte pelos cursos de água ao longo dos respectivos leitos ou pelo vento
sobre desertos, tanto mais arredondados tornam.

3
UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS

À medida que os grãos do solo se tornam cada vez menores, a sua


massa diminui de tal forma que, para minerais com determinada
resistência, atinge-se o limite a partir do qual as tensões resultantes
do choque dos grãos com qualquer outra massa deixam de ser
suficientes para ocasionar fraturas e subdivisões nos mesmos grãos
(FERNANDES, 2016, p. 100).

Desse modo, os processos físicos de formação dos solos têm um limite


inferior no que diz respeito às dimensões médias das partículas dos solos
que originam (com exceção já referida dos solos de origem glaciar). Se outros
processos de tipo diferente não existissem, entre os grãos mais finos dos solos não
haveria, em média, dimensões inferiores a algumas dezenas de mícrons (0,001
mm). Contudo, existem de fato processos de outro tipo – processos químicos –,
que intervêm também na formação dos solos.

As reações químicas entre os ácidos dissolvidos na água e as partículas do


solo dão lugar à solução de minerais presentes nos grãos; esses minerais em solução
recombinarão e recristalizarão sob diferentes condições de pressão e temperatura
em outros pontos nos quais a água os conduzir, dando lugar a novos minerais.

Esse processo tende a criar partículas minerais muito pequenas, de forma


laminar, com diâmetro ou comprimento dezenas ou centenas de vezes superiores
à respectiva espessura, em contraste com as partículas aproximadamente
equidimensionais formadas pela alteração física das rochas. “Os novos minerais
formados pela ação química são conhecidos como minerais de argila e as
partículas que os constituem tem diâmetros que vão de algumas dezenas de
mícrons a alguns centésimos do mícron” (FERNANDES, 2016, p. 101).

Muitos processos estão envolvidos na transformação das rochas em


solos. Com a alta diversidade de processos naturais disponíveis, nota-se que a
diversidade de solos daqueles que podem resultar é grandiosa. Desse modo, este
tópico visa definir os diferentes tipos de rochas com o tipo de processo ao qual
elas se submetem.

2 TIPOS DE ROCHA
Quando falamos de solos, lembramos de rocha e basicamente sabemos
que esta, por sua vez, tem características provenientes da crosta terrestre, ou seja,
onde habitamos. As rochas, conhecidas como agregados naturais de um ou mais
minerais, são divididas em três tipos: sedimentares, metamórficas e magmáticas
(ígneas). Segundo Chiossi (2013, p. 22):

a) Rochas magmáticas: São aquelas formadas a partir do resfriamento e da consolidação


do magma, um material em estado de fusão no interior da Terra. Por esse motivo, as
rochas magmáticas são também chamadas de endógenas (Figura 1).

4
TÓPICO 1 | ORIGEM E FORMAÇÃO DOS SOLOS

FIGURA 1 – EXEMPLO DE ROCHAS MAGMÁTICAS TÍPICAS DO RESFRIAMENTO E


CONSOLIDAÇÃO DO MAGMA

FONTE: Instituto de Educación Secundaria Xoán Montes, 2016

b) Rochas sedimentares: São aquelas formadas por materiais derivados da


decomposição e desintegração de qualquer rocha. Esses materiais são
transportados, depositados e acumulados nas regiões de topografia baixa, como
bacias, vales e depressões. Posteriormente, pelo peso das camadas superiores
ou pela ação cimentante da água subterrânea, consolidam-se, formando uma
rocha sedimentar. As rochas sedimentares são também chamadas de exógenas,
por se formarem na superfície da Terra; e estratificadas, por normalmente
apresentarem camadas (Figura 2).

5
UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS

FIGURA 2 – EXEMPLO DE ROCHA SEDIMENTAR: O ARENITO É BASTANTE UTILIZADO NA


CONSTRUÇÃO CIVIL

(a) Arenito (b) Argilito


FONTE: Native Garden Design (2018)

c) Rochas metamórficas: São aquelas originadas pela ação da pressão da


temperatura e de soluções químicas em outra rocha qualquer. Por meio desses
fatores, as rochas podem sofrer dois tipos de alterações básicas: a) Na sua
estrutura, principalmente pela ação da pressão, que irá orientar os minerais,
ou pela ação da temperatura, que irá recristalizá-los; b) Na sua composição
mineralógica, pela ação conjunta dos dois fatores citados, bem como de
soluções químicas (Figura 3).

FIGURA 3 – EXEMPLOS DE ROCHAS METAMÓRFICAS COMUNS

(a) Quartzito (b) Mármore


FONTE: Núcleo de Geotecnia UFJF (2018, p. 30)

O interessante é que os processos de formação das rochas estão


interligados entre si. A Figura 4 mostra isso de forma mais clara. Percebe-se que,
através da solidificação do magma, formam-se as rochas magmáticas, a partir
disso, com a variação de calor e pressão com o metamorfismo, as rochas se tornam

6
TÓPICO 1 | ORIGEM E FORMAÇÃO DOS SOLOS

metamórficas, a ação do intemperismo e transporte e deposição dão surgimento


ao solo (sedimentos) e, por fim, através da compressão e cimentação (litificação),
surgem as rochas sedimentares.

NOTA

Você sabia que a crosta terrestre é constituída em volume por 95% de


rochas magmáticas e 5% de rochas sedimentares? Porém, quando falamos em área de
rocha, as rochas sedimentares avançam com 75% da área da crosta, ganhando de 25%
das rochas magmáticas.

FIGURA 4 –CICLO E FORMAÇÕES DOS DIFERENTES TIPOS DE ROCHA

FONTE: Ferreira (2012, p. 30)

Por que estamos falando de rocha e não de solo? Os solos provêm da


decomposição das rochas que compunham inicialmente a crosta terrestre. Por
isso devemos retomar o assunto rocha. Segundo Chiossi (2013), o intemperismo,
ou meteorização, é primordial para a formação do solo, pois é o conjunto
de processos que ocasiona a desintegração e a decomposição de rochas e dos
minerais, por ação de agentes atmosféricos e biológicos.

7
UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS

Não existe processo algum que seja tão geral que se desenvolva em formas
variadas como o intemperismo, e, em toda a superfície terrestre, não existe rocha
alguma que possa escapar da sua ação. Até mesmo uma rocha tão resistente
quanto o granito, quando sujeita por muito tempo ao intemperismo, chega a
desfazer-se entre os dedos. A maior importância geológica do intemperismo está
na destruição das rochas, com a consequente produção de outros materiais, que
irão constituir os solos, os sedimentos e as rochas sedimentares (CHIOSSI, 2013).

A decomposição ocorre devido aos agentes físicos e químicos.


Alterações de temperaturas (físico) ocasionam trincas, nas quais
penetra água, atacando quimicamente os materiais. O congelamento
da água nas trincas, entre outros fatores, exerce elevadas tensões, do
que decorre maior fragmentação dos blocos. A presença da fauna e
flora promove o ataque químico, através de hidratação, hidrólise,
oxidação, lixiviação, troca de cátions, carbonatação, etc. O conjunto
desses processos, que são muito mais atuantes em climas quentes do
que em climas frios, leva à formação dos solos que, em consequência,
são misturas de partículas pequenas que se diferenciam pelo tamanho
e composição química (PINTO, 2006, p. 19).

ATENCAO

A maior ou menor concentração de cada tipo de partícula num solo depende


da composição química da rocha que lhe deu origem.

Em geral, no intemperismo físico não ocorre alteração mineralógica da


rocha, somente fragmentação, e os principais agentes são:

a) Temperatura.
b) Água corrente e ondas.
c) Vento (com e sem partículas em suspensão).
d) Gelo (água que preenche fissuras e, ao dilatar-se, ocasiona fissuras).

O intemperismo químico é responsável pelos processos de decomposição


por ataque químico. Um dos exemplos é a água ácida das chuvas, que forma
argilominerais e sílica:

H2O + CO2 → H2CO3 (Ácido carbônico)


H2CO3 + KAlS3O8 → S1O2 + Al2S2O5 (OH)4 (sílica + argilominerais caulinita)

8
TÓPICO 1 | ORIGEM E FORMAÇÃO DOS SOLOS

NOTA

O intemperismo físico tende a gerar solos mais grossos, solos arenosos, por
exemplo. No entanto, o intemperismo químico tende a gerar solos mais finos, como
argilas e siltes.

Por fim, o conceito de solos para engenheiros difere um pouco dos


conceitos geológicos, uma vez que, para eles, o termo inclui todo tipo de material
orgânico ou inorgânico inconsolidado ou parcialmente cimentado encontrado
na superfície da Terra, materiais estes classificados em Geologia como rochas
sedimentares ou sedimentos (CHIOSSI, 2013).

Como foi visto, todo solo é proveniente de uma rocha preexistente, e


desse modo, na natureza, o solo continua se modificando, ao ponto de poder
voltar a ser rocha. Assim, o solo é formado por partículas minerais que resultam
da desintegração física e da decomposição química das rochas, podendo também
conter matéria orgânica. Os espaços não ocupados pelas partículas são designados
como poros ou vazios, os quais podem conter água e ar, de forma isolada ou
conjunta. Quando os poros estão integralmente preenchidos por água, diz-se que
o solo está saturado, quando estão parcialmente com água, chamamos de solos
não saturados, e totalmente sem água, chamamos de solos secos (Figura 5).

FIGURA 5 – AS CONDIÇÕES DO SOLO COM ÁGUA E SEM ÁGUA


Solo não saturado Solo Seco

Solo saturado
FONTE: A autora

Desse modo, observamos que com os processos de intemperismo,


decomposição, erosão há o surgimento dos sedimentos, e assim, denominados
na engenharia geotécnica como solos. Os solos estão em todo globo terrestre,
e principalmente nas regiões urbanas mais habitadas estão assentadas as
infraestruturas, como: fundações, contenções, aterros etc. Existem vários tipos,
formatos, tamanhos, composição de solos, e isto é essencial para entender a
resistência desse solo e os parâmetros de cálculo para o dimensionamento de
infraestruturas. Então, vamos entender um pouco mais?

9
UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS

3 COMPOSIÇÃO QUÍMICA E MINERALÓGICA DOS


SOLOS
Quando analisamos um solo muitas das vezes a composição química e
mineralógica ajudam a definir o comportamento em diferentes aspectos, entre
eles o de compressibilidade, permeabilidade e resistência. O primeiro passo é
definir o tamanho das partículas e após entender isto, analisaremos os aspectos
mineralógicos dos quais o solo faz parte. Desse modo poderemos ter noções mais
precisas sobre o solo com que estaremos lidando na pesquisa ou no cotidiano do
projeto. Vamos começar?

3.1 TAMANHO DAS PARTÍCULAS


Segundo Pinto (2006), o tamanho das partículas é uma das primordiais
componentes que diferencia os solos de um depósito. Solos como grãos de
pedregulho ou a própria areia do mar, podemos identificar a olho nu, identificando,
portanto, solos mais grossos com diâmetros perceptíveis. Com respeito aos grãos
finos estes quando molhados, se transformam numa pasta (barro), e não se pode
visualizar as partículas individualmente.

FIGURA 6 – SOLO ARENOSO: POSSIBILIDADE DE OBSERVAR OS GRÃOS A OLHO NU

FONTE: Meio Ambiente cultura mix (2010)

10
TÓPICO 1 | ORIGEM E FORMAÇÃO DOS SOLOS

FIGURA 7 – SOLO ARGILOSO: FORMAÇÃO DE PASTA. DIFICULDADE DE ENXERGAR


OS GRÃOS A OLHO NU

FONTE: Meio Ambiente cultura mix (2010)

A diversidade do tamanho dos grãos é enorme. Não se percebe isto em


um primeiro contato com o material, simplesmente porque todos parecem muito
pequenos perante os materiais com os quais se está acostumado a lidar. Mas
alguns são consideravelmente menores do que outros. Existem grãos de areia com
dimensões de 1 a 2 mm e existem partículas de argila com espessura da ordem de
10 Angstrons (0,000001 mm). “Isto significa que, se uma partícula de argila fosse
ampliada de forma a ficar com o tamanho de uma folha de papel, o grão de areia
citado ficaria com diâmetro da ordem de 100 a 200m” (PINTO, 2006, p. 30).

FIGURA 8 – RELAÇÃO ENTRE O GRÃO DE AREIA E O GRÃO DE ARGILA


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de
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gr
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ar
de
ão
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FONTE: A autora

11
UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS

Sabemos, portanto, que no solo, devido à diversidade de tamanho de


partículas, existem diferentes tipos de solos com porções e quantidades infinitas de
dimensão de grãos. Porém, solos areno-argilosos são um exemplo de dificuldade
de identificar o tamanho da partícula apenas a olho nu. Desse modo, sabemos
que há dificuldade de identificar o tamanho das partículas, pois os solos podem
estar envoltos por uma grande quantidade de partículas argilosas, finíssimas,
ficando com o mesmo aspecto de uma aglomeração formada exclusivamente por
uma grande quantidade dessas partículas.

A ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) determina uma faixa


de valores que denominam e caracterizam o grão. Os valores adotados pela ABNT
são indicados na Figura 9, lembrando que a figura é meramente ilustrativa.

FIGURA 9 – DEFINIÇÃO DOS TAMANHOS DOS GRÃOS A PARTIR DA ABNT

FONTE: A autora, adaptado de Núcleo de Geotecnia UFJF (2018)

Diferentemente da terminologia adotada pela ABNT, a separação entre


as frações silte e areia é frequentemente tomada como 0,075 mm, correspondente
à abertura de peneira n° 200, que é a mais fina peneira correntemente usada nos
laboratórios. O conjunto de silte e argila é denominado como a fração de finos
do solo, enquanto o conjunto areia e pedregulho é denominado fração grossa ou
grosseira do solo. “Por outro lado, a fração argila é considerada, com frequência,
como fração abaixo do diâmetro de 0,002 mm, que corresponde ao tamanho
mais próximo das partículas de constituição mineralógica dos minerais-argila”
(PINTO, 2006, p. 20).

Para um melhor entendimento, a classificação das partículas mais


detalhada segundo a NBR6502 é apresentada na Tabela 1.

12
TÓPICO 1 | ORIGEM E FORMAÇÃO DOS SOLOS

TABELA 1 – CLASSIFICAÇÃO DAS PARTÍCULAS SEGUNDO A NBR6502

Solo Dimensão [mm]


Matacões Φ>250
Pedra de mão 60<Φ<250
Pedregulho grosso 20<Φ<60
Pedregulho médio 6<Φ<20
Pedregulho fino 2<Φ<6
Areia grossa 0,6<Φ<2
Areia média 0,2<Φ<0,6
Areia fina 0,06<Φ<0,2
Siltes 0,002<Φ<0,06
Argilas Φ<0,002

FONTE: A autora, adaptado de NBR6502 (1995)

NOTA

Os grãos de argila são os menores constituintes em tamanho, ganhando até


dos grãos de siltes, que vêm logo em seguida.

3.2 CONSTITUIÇÃO MINERALÓGICA


As partículas resultantes da desagregação da rocha dependem da
composição da rocha matriz. Nos itens anteriores verificamos que o intemperismo
é um fator-chave para a formação do solo, pois ajuda na desagregação por meio
de ações físicas, químicas e biológicas. Verifica-se também que, dependendo do
tipo de rocha fragmentada, forma-se um tipo de solo. Desse modo, os diferentes
tipos de solo possuem minerais distintos, ou seja, essa é outra forma de identificar
o solo: a partir da constituição mineralógica.

As partículas maiores, como pedregulhos e matacões, na grande maioria


são constituídas frequentemente de agregações de minerais que são bastante
resistentes ao intemperismo, por exemplo, rochas que possuem o quartzo como
um mineral presente na sua constituição. O quartzo é altamente resistente, e,
portanto, quando há a desagregação, torna-se evidente em uma porção de solo.
Nós observamos este fato em solos que vêm de rochas graníticas, fica evidente
que o solo é decomposto, mas os grãos de quartzo permanecem inalterados.
Segundo Pinto (2006), sua composição química é simples, SiO2, as partículas
são equidimensionais, como cubos ou esferas, e apresentam baixa atividade
superficial. Outros minerais, como feldspato, gipsita, calcita e mica, também
podem ser encontrados nesse tamanho.

13
UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS

Quando falamos de feldspatos, verificamos que estes são minerais mais


atacados pela natureza e dão origem aos argilominerais, que constituem a
fração mais fina dos solos, geralmente com dimensão inferior a 2 mm. “Não só
o reduzido tamanho, mas, principalmente, a constituição mineralógica faz com
que essas partículas tenham um comportamento extremamente diferenciado em
relação ao dos grãos de silte e areia” (PINTO, 2006, p. 20).

FIGURA 10 – DIFERENÇA MINERALÓGICA DOS PRINCIPAIS MINERAIS CONSTITUÍDOS NA


ROCHA PARA FORMAÇÃO DO SOLO
Quartzo Feldspato

Resistente a São minerais


desagregação mais atacados
pela natureza

Forma grãos
de silte e areia Forma os
argilominerais

SiO2
SiO2+AL(OH)3
FONTE: A autora

Os argilominerais apresentam uma estrutura complexa. Os mais comuns


são a caulinita, ilita e a montmorilonita, que apresentam comportamentos bem
distintos, principalmente na presença de água. São elas que conferem coesão
e plasticidade aos solos. Suas estruturas são distintas entre si, o que ocasiona
comportamentos diferentes, geralmente as caulinitas são os menos plásticos e a
montmorilonitas os mais plásticos.

Na composição química das argilas, existem dois tipos de estrutura:


uma estrutura de tetraedros justapostos num plano, com átomos de
silício ligados a quatro átomos de oxigênio (SiO2) e outra de octaedros,
em que átomos de alumínios são circundados por oxigênio ou
hidroxilas [Al(OH)3] conhecidos como gipsita. Essas estruturas ligam-
se por meio de átomos de oxigênio que permanecem simultaneamente
a ambas (PINTO, 2006, p. 17).

A Figura 11 representa as estruturas dos principais argilominerais. O item


(a) corresponde as caulinitas, estas são formadas por uma camada tetraédrica
e uma octaédrica (estrutura de 1:1), as camadas têm aproximadamente 7 Ȧ (1
Angstron = 10-¹° m) e são unidas por pontes de hidrogênio que impedem
sua separação e a introdução de moléculas de água entre elas. As ligações de
hidrogênios são fracas, mas suficientemente fortes para evitar a penetração de
água entre as unidades estruturais. Por esta razão, as caulinitas apresentam
pequena expansão, difícil dispersão na água e baixa plasticidade.
14
TÓPICO 1 | ORIGEM E FORMAÇÃO DOS SOLOS

As ilitas consistem em lâminas de gipsita ligadas a duas folhas de sílica – uma


na parte superior e outra na parte inferior, pode ser chamada de mica de argila. As
camadas de ilita são ligadas por íons de potássio. O arranjo tetraédrico é encontrado
entre duas estruturas (estrutura de camada 2:1), com uma espessura de cerca de 10
Ȧ. Apenas nas ilitas, os átomos de silício das camadas de sílica são substituídos
parcialmente por alumínio. Quando a substituição do silício das camadas de
tetraedros por alumínio for pequena, as ligações entre as unidades estruturais
proporcionadas pelos cátions K podem ser deficientes e permitirão a entrada de
água; quando este processo ocorre, as ilitas chegam próximo das propriedades das
montmorilonitas. No geral as ilitas possuem plasticidade, expansão e dispersão de
água maior que as caulinitas e menor que as montmorilonitas.

FIGURA 11 – DIAGRAMA DAS ESTRUTURAS DOS PRINCIPAIS ARGILOMINERAIS


Lâmina de sílica Lâmina de sílica
Folha de gibsita Folha de gibsita
Lâmina de sílica Lâmina de sílica
Folha de gibsita

espaçamento
Lâmina de sílica Potássio nH20 e cátions intercambiáveis

Variável de
Lâmina de sílica Lâmina de sílica
10 Ȧ

basal
7,2 Ȧ Folha de gibsita Folha de gibsita Folha de gibsita
Lâmina de sílica Lâmina de sílica Lâmina de sílica
(a) Caulinita (b) llita (c) Montmorilonita
FONTE: Das e Khaled (2017, p. 200)

As partículas montmorilonitas caracterizam-se por apresentarem, sempre,


o alumínio das camadas de octaedros substituído parcialmente ou totalmente
por magnésio e ferro. Esta substituição gera um aumento de valências negativas
na camada interna. A estrutura das montmorilonitas apresenta moléculas
de água entre as unidades estruturais. Desse modo, a água penetra com mais
facilidade, assim mostrando ser de fácil dispersão de água, grande expansão e
alta plasticidade.

Para neutralizar as cargas negativas existem cátions livres nos solos,


por exemplo, cálcio, Ca++, ou sódio, Na+, aderidos às partículas.
Esses cátions atraem camadas contíguas, mas com força relativamente
pequena, o que não impede a entrada de água entre as camadas. A
liberdade de movimento das placas explica a elevada capacidade de
absorção de água de certas argilas, sua expansão quando em contato
com a água e sua contração considerável ao secar (PINTO, 2006, p. 17).

Outro fato que condiciona infinidade de comportamentos dada aos


argilominerais é que as mudanças químicas nessas estruturas (os cátions e íons)
são facilmente trocáveis por percolação de soluções químicas. Desse modo, o tipo
de cátion presente numa argila condiciona o seu comportamento. Uma argila
montmorilonita com sódio adsorvido, por exemplo, é muito mais sensível à água
do que com cálcio adsorvido. Daí a diversidade de comportamentos apresentados
pelas argilas e a dificuldade de correlacioná-los por meio de índices empíricos.

15
UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS

UNI

O tipo de cátion presente na argila determina a sua estabilidade, o que


condiciona seu comportamento.

3.3 ESTRUTURA SOLO-ÁGUA-AR


Quando falamos de sistema ou estrutura solo-água, recaímos no fato de
a água entrar em contato com as partículas de solo e assim estar submersa nesse
meio. As moléculas se orientam em relação a elas e aos íons que circundam as
partículas. Quando duas partículas de argila, na água, estão muito próximas,
ocorrem forças de atração e de repulsão entre elas. As forças de repulsão são
devidas às cargas líquidas negativas que elas possuem e que ocorrem desde que
as camadas duplas (por exemplo, na Figura 11) estejam em contato. As forças
de atração decorrem de forças de Van der Waals e de ligações secundárias que
atraem materiais adjacentes.

Da combinação das forças de atração e de repulsão entre as partículas


resultam a estrutura dos solos e as forças entre elas. Considera-se a existência de
dois tipos básicos de estrutura:

a) Floculada, quando os contatos se fazem por faces e arestas.


b) Dispersa, quando as partículas se posicionam paralelamente.

Estas estruturas (floculada e dispersa) são consideradas simplificadas,


pois para solos residuais e compactados, a posição da partícula é mais elaborada.
Existem aglomerações de partículas argilosas que constituem em vazios de
maiores dimensões e existem microporos nos vazios entre as partículas argilosas
que constituem as aglomerações. Segundo Pinto (2006), esses tipos de estrutura
comprovam certos comportamentos do solo, como a elevada permeabilidade de
certos solos residuais argilosos em seu estado natural.

UNI

O conhecimento das estruturas permite o entendimento de diversos


fenômenos notados no comportamento dos solos, um deles é a sensibilidade da argila.

16
TÓPICO 1 | ORIGEM E FORMAÇÃO DOS SOLOS

Na engenharia geotécnica, o solo pode ser visualizado como um esqueleto


de partículas sólidas compressível. Este esqueleto, na condição saturada, tem
seus vazios preenchidos por água, e na condição não saturada tem, em seus
vazios, ar e água. A Mecânica dos Solos clássica foi desenvolvida baseando-
se no comportamento do solo na condição saturada; por isso, a previsão do
comportamento mecânico e suas propriedades hidráulicas são atualmente bem
estabelecidas na teoria e na prática para o solo saturado. Porém, o solo nem sempre
se apresenta na condição saturada. Em regiões de clima árido e semiárido, onde a
evaporação excede as precipitações, é comprovado que existe um comportamento
diferenciado ao solo saturado.

Quando existe ar na composição solo-água, há a formação de uma


película contrátil, também conhecida como membrana contrátil, que é definida
por canais que são formados devido às tensões capilares e a água adsorvida nos
grãos (Figura 12). Estes canais geram tensões, o que pode conferir uma maior
resistência ao solo. Este fato chamamos de sucção.

FIGURA 12 – A SUCÇÃO MATRICIAL EM SOLO NÃO SATURADO

Água adsorvida

Água
capilar

Partículas

FONTE: Massocco, 2017 apud Hillel (1971, p. 40)

Existem estudos, como o de Massocco (2017), que mostram o


comportamento de solos não saturados e o efeito da sucção na resistência do solo.
Estudar solos não saturados e todos os possíveis estados do solo é essencial para
conhecer o seu comportamento em termos mecânicos e hidráulicos.

4 TIPOS DE SOLOS
Existem estudos como de Massocco (2017) que mostram o comportamento
de solos não saturados e o efeito da sucção na resistência do solo. Estudar solo
não saturados, e todos as possíveis estados do solo, é essencial para conhecer o
seu comportamento em termos mecânicos e hidráulicos.
17
UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS

4.1 SOLOS RESIDUAIS


São solos provenientes da decomposição das rochas e não foram
submetidos a ações de transporte, se conservam no local da rocha-mãe. Para que
haja a ocorrência destes solos, é necessário que o processo de decomposição da
rocha seja mais rápido que o processo de remoção das partículas de solo por meio
do agente de transporte atuante.

A estrutura do solo residual depende da velocidade de alteração da rocha


e, a partir do grau de decomposição, este tipo de solo pode ser dividido em várias
camadas, com classificações particulares, as quais são (Figura 13):

a) Rocha sã: Rocha inalterada.


b) Alteração de rocha: Preserva parte da estrutura e seus minerais, porém com
dureza inferior à da rocha matriz (muito fraturada).
c) Saprólito: Guarda características da rocha sã e tem basicamente os mesmos
minerais, porém sua resistência é bem reduzida.
d) Solo residual jovem: Grande quantidade de pedregulho e bastante heterogênea
(coloração, resistência, compressibilidade e permeabilidade).
e) Solo residual maduro: É mais homogêneo e não apresenta nenhuma relação
com a rocha-mãe.

FIGURA 13 – PERFIL TÍPICO DE SOLO RESIDUAL

Solo maduro

Solo jovem
Deformabilidade

Resistência

Saprólito

Rocha alterada

Rocha sã

FONTE: Machado e Machado (2007, p. 60)

18
TÓPICO 1 | ORIGEM E FORMAÇÃO DOS SOLOS

Podemos perceber na Figura 13 que o perfil de rocha sã é o que determina


o solo preexistente, desse modo, a composição química do solo vem dos minerais
da rocha que dará existência ao solo. Percebe-se o aumento de resistência, da
textura e da heterogeneidade com o aumento de profundidade. Desse modo, a
coleta e análise de amostras de solo torna-se exigente de detalhes nas camadas
superiores (saprólito e residual jovem).

Com o tempo há o surgimento de fraturas que determinam o perfil


de alteração da rocha. Esta rocha alterada é o perfil em que a rocha inicia o
fraturamento, logo, quando há a existência de fraturas iniciais, o perfil é chamado
de alteração de rocha.

O surgimento dos primeiros sedimentos ocorre no solo saprolítico,


chamamos esse nome pois é onde se inicia a formação do solo e a diminuição da
dimensão das rochas, além disso, ocorre a diminuição da resistência em relação à
rocha sã. É neste perfil que podemos encontrar resquícios de rocha, por exemplo,
os matacões.

Após o surgimento do solo saprolítico, temos a formação do solo


residual jovem, este solo possui alterações na resistência mecânica, uma vez que
a transformação de rocha em solo não é uniforme em cada etapa, o que pode
resultar em pedaços de rocha.

O solo residual maduro corresponde ao mais distante da rocha sã e


o mais próximo da superfície, isto colabora com que haja solos transportados,
contribuindo para sua alteração em um solo com influência da ação de outros
componentes, como: homem, vento, animais etc. Este fato corrobora para que o
solo não tenha a mesma composição da rocha sã.

NOTA

Para não esquecer o significado de solos residuais, lembramos que equivale a


resíduos da rocha matriz e que nascem, crescem e se estabelecem no local.

4.2 SOLOS ORGÂNICOS


Os solos orgânicos são constituídos por sedimentos, possuem alto teor de
matéria orgânica em decomposição e apresentam coloração escura. Estes solos são
encontrados em regiões ribeirinhas, locais onde o nível do lençol freático é alto.

Devido ao nível de água elevado, há a facilidade no desenvolvimento


de plantas aquáticas, e estas, por sua vez, ao decompor-se, formam os solos
orgânicos. Os solos turfosos são exemplos.
19
UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS

De acordo com Das e Khaled (2017, p. 80), estes solos possuem as seguintes
características:

a) Teores de umidade altos (entre 200 e 300%).


b) São altamente compressíveis.
c) Os testes laboratoriais indicam que, sob carga, a grande parcela de
recalque dá-se por recalque secundário.

FIGURA 14 – PERFIL DE SOLO TIPICAMENTE TURFOSO

FONTE: Granfield University (2018)

4.3 SOLOS PEDOGÊNICOS


São solos que após o processo de formação, são alterados por processos
físico-químicos, como lixiviação, laterização, cimentação etc.

O solo laterítico é um exemplo de solo pedogênico, este, por sua vez, é


formado pelo processo de laterização do solo, que é comumente encontrado em
regiões com grande variação entre os períodos secos e os de chuvas. O processo
caracteriza-se pela lavagem de sílica coloidal presente nas camadas superiores do
solo, seguida de deposição desta sílica lavada nas camadas mais profundas, o que
faz com que este solo, na camada superficial, possua uma grande quantidade de
óxidos de ferro e alumínio.
20
TÓPICO 1 | ORIGEM E FORMAÇÃO DOS SOLOS

4.4 SOLOS SEDIMENTARES (TRANSPORTADOS)


São solos que, após o processo de alteração, foram transportados para
outros locais por algum agente transportador, tais como:

a) Solos coluviais: O transporte ocorre pela ação da gravidade e são muito


heterogêneos. A ocorrência é localizada, em pé de encostas ou provenientes de
escorregamentos. Apresentam boa resistência, porém elevada permeabilidade.
São divididos em colúvio (material predominantemente fino, Serra do Mar e
planalto brasileiro), tálus (material predominantemente grosseiro, Sul da Bahia
e Salvador);
b) Solos aluvionares: Origem pluvial ou fluvial, fonte de materiais de construção,
mas péssimos como fundação;
c) Solos eólicos: O vento é o agente de transporte, os grãos tendem a ser
arredondados e uniformes (Areias finas e siltes);
d) Solos glaciais: Localizam-se em regiões temperadas e altitudes elevadas. São os
solos formados pelas geleiras ao se deslocarem pela ação da gravidade.

21
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• O solo provém da rocha e a formação desta se dá por alterações físicas, químicas,


fusões e variação de pressão.

• As alterações na formação resultam em três tipos de rocha: metamórfica,


sedimentar e magmática.

• O tipo de solo depende da composição química e mineralógica e isto é


diferenciado pelo tamanho das partículas, constituição mineralógica e estrutura
solo-água-ar.

• Os tipos de solo se dividem em residuais, sedimentares, orgânicos e


pedogênicos.

• Para melhor entendimento, temos a Figura 15, que corresponde ao fluxograma


resumido deste capítulo.

FIGURA 15 – RESUMO DO CAPÍTULO ESTUDADO


Origem e Formação das
Rochas

Tipos de Rocha

Ciclo das Rochas

Composição química e
mineralógica

Tamanho das partículas Constituição mineralógica Estrutura solo-água-ar

Tipos de solo

Tipos de solo Tipos de solo Tipos de solo Tipos de solo

FONTE: A autora

22
AUTOATIVIDADE

1 Em relação à origem e formação dos solos, analise as informações:

I- Os solos são materiais que resultam do intemperismo das rochas, por


desintegração mecânica ou decomposição química.
II- Por desintegração mecânica, através de agentes como a água, temperatura
e ação do gelo, formam-se os pedregulhos e areia.
III- Decomposição química consiste no processo em que há modificações
químicas ou mineralógicas das rochas de origem, por meio de reações de
óxido-redução.
IV- A formação de um solo “s” é função da rocha de origem (r), da ação de
organismos vivos (o), do clima (cl), da fisiologia (p) e do tempo (t).

Estão CORRETAS apenas as afirmativas:

a) ( ) I, II e III.
b) ( ) I e IV.
c) ( ) I, II e IV.
d) ( ) II, III e IV.
e) ( ) II e III.

2 As pesquisas das argilas revelam, apesar da aparência amorfa do conjunto, que


elas são constituídas de pequeníssimos minerais cristalinos, chamados minerais
argílicos, dentre os quais se distinguem três grupos principais, são eles:

a) ( ) Caulinitas, Montmorilonitas e Lixitas.


b) ( ) Calcitas, Montmorilonitas e Ilitas.
c) ( ) Calcitas, Montmorilonitas e Lixitas.
d) ( ) Caulinitas, Montmorilonitas e Ilitas.
e) ( ) Caulinitas, Amórficos e Ilitas.

3 Sobre como pode se dar o processo de intemperismo por meio físico, analise
os itens a seguir e assinale (V) para o que for Verdadeiro ou (F) para o que
for Falso:

( ) Pela variação da temperatura.


( ) Pelo congelamento da água.
( ) Pelo alívio de pressões.
( ) Pela carbonatação.

A sequência correta é:

a) ( ) F, V, V, V.
b) ( ) V, F, V, V.

23
c) ( ) V, V, F, F.
d) ( ) V, V, V, F.
e) ( ) F, F, V, F.

4 Acerca da origem e formação do solo, preencha as lacunas do texto a seguir:

Os solos ____________são os que permanecem no local da rocha de origem,


observando-se uma gradual transição do solo até a rocha. Já os solos ____________
são os que sofrem a ação de agentes transportadores, podendo ser ____________
quando transportados pela água, _____________quando pelo vento, ____________
quando pela ação da gravidade e _______________pelas geleiras.

Assinale a alternativa que apresenta as palavras que preenchem CORRETA e


respectivamente as lacunas:

a) ( ) orgânicos, sedimentares, residuais, eólicos, aluvionares e coluvionares.


b) ( ) sedimentares, residuais, coluvionares, aluvionares, eólicos e glaciares.
c) ( ) residuais, sedimentares, aluvionares, eólicos, coluvionares e orgânicos.
d) ( ) sedimentares, residuais, aluvionares, eólicos, coluvionares e glaciares.
e) ( ) residuais, sedimentares, aluvionares, eólicos, coluvionares e glaciares.

5 Um proprietário de uma fazenda por onde passa um rio resolveu contratar


um estudo de viabilidade técnica para exploração da areia nesse rio. Como
você classificaria esse tipo de solo pela classificação genética e qual tipo de
intemperismo predominou na formação dele?

a) ( ) Solo residual com predominância de intemperismo físico.


b) ( ) Solo transportado com predominância de intemperismo químico.
c) ( ) Solo transportado com predominância de intemperismo físico.
d) ( ) Solo residual com predominância de intemperismo químico.
e) ( ) Solo pedogênico.

6 Defina intemperismo físico e químico citando as principais características dos


solos formados pela predominância de um ou outro tipo de intemperismo.
Qual a principal diferença entre eles?

7 Quanto à origem, os solos podem ser classificados em residuais, transportados,


orgânicos e pedogênicos. Descreva como é formado cada um deles. Desenhe
um perfil esquemático de solo residual destacando cada horizonte. Com
relação aos solos transportados, quais os principais agentes de transporte e a
que tipo de solo eles dão origem?

8 As propriedades físicas do solo dependem:

a) ( ) Do tamanho dos grãos.


b) ( ) Do formato dos grãos de solo.
c) ( ) Da composição química dos grãos do solo.
d) ( ) Todas as alternativas.

24
9 Os argilominerais são um produto de intemperismo químico de:

a) ( ) Feldspato.
b) ( ) Ferromagnesianos.
c) ( ) Micas.
d) ( ) Todas as alternativas.

10 Os solos transportados e depositados pelo vento são chamados de:

a) ( ) Solos aluviais.
b) ( ) Solos eólicos.
c) ( ) Solos lacustres.
d) ( ) Solos glaciais.
e) ( ) Solos fluviais.

11 Os solos formados pelos produtos intemperizados no local de origem são


chamados de:

a) ( ) Solos transportados.
b) ( ) Preenchimentos.
c) ( ) Solos aluviais.
d) ( ) Solos residuais.
e) ( ) Solos coluvionares.

12 No local de construção, a investigação de subsuperfície indica a presença de


depósito de solo residual. O tamanho dos grãos neste local, geralmente:

a) ( ) Não variará com a profundidade.


b) ( ) Diminuirá com a profundidade.
c) ( ) Aumentará com a profundidade.
d) ( ) Inicialmente aumentará com a profundidade e depois diminuirá.
e) ( ) Não ocorrerá variação.

13 As partículas menores que 0,075 mm são referidas como:

a) ( ) Argila
b) ( ) Silte
c) ( ) Areia
d) ( ) Grãos finos
e) ( ) Grãos grossos

14 A caulinita consiste em camadas repetidas de folhas elementares de sílica-


gipsita em:

a) ( ) Arranjo 1:1
b) ( ) Arranjo 1:2
c) ( ) Arranjo 2:1
d) ( ) Arranjo 2:2
e) ( ) Arranjo 3:1
25
15 Selecione a declaração incorreta:

a) ( ) Os solos orgânicos geralmente são encontrados em áreas de baixa


altitude onde o lençol freático está próximo ou acima da superfície do
solo.
b) ( ) Os solos orgânicos são altamente compressíveis.
c) ( ) O teor de umidade dos solos orgânicos pode variar de 200% a 300%.
d) ( ) Os depósitos de solo orgânico geralmente são encontrados em áreas
desertas.
e) ( ) Um exemplo de solo orgânico é a turfa.

26
UNIDADE 1
TÓPICO 2

ESTRUTURAS DOS SOLOS E ÍNDICES FÍSICOS

1 INTRODUÇÃO
Dependendo do tipo de solo e da sua condição no meio, a resposta
com relação à resistência, compressibilidade e permeabilidade ocorre de forma
diferenciada. A identificação da estrutura do solo, bem como o índice físico dele,
é bastante importante para modelagem de estruturas na prática geotécnica,
pois o melhor conhecimento das condições do solo possibilita melhores
dimensionamento.

Este tópico trata das relações entre as propriedades físicas dos solos.
A princípio, estabelece-se a natureza das partículas em solos coesivos e não
coesivos. Após teremos uma introdução a respeito da forma das partículas e a
relação entre fases.

Em seguida, apresentam-se os índices propriamente ditos, como a


umidade, as relações de massas, de pesos específicos e de massas específicas
(seca, úmida, de água, de ar) e relações de vazios (água e ar).

Vamos começar?

2 NATUREZA DAS PARTÍCULAS


Sabemos que o solo são grãos minerais e pode apresentar em sua constituição
matéria orgânica. Há solos, como no caso dos arenosos, a areia, por exemplo, em
que as partículas geralmente são facilmente visualizadas, de encontro aos solos
argilosos, que precisam de um auxílio de microscópios para distingui-las.

Estas partículas estão parcialmente livres para se deslocarem uma em


relação a outra não tão facilmente, como os elementos de um fluido, como
também não são fortemente ligadas, como num cristal de metal. O sistema de
partículas do solo é o que o diferencia do mecanismo sólido e do fluido. As
frações grossas do solo são maioritariamente de grãos silicosos e os minerais que
ocorrem nas frações argilosas são de tamanhos pequenos, como as caulinitas, as
montmorilonitas e as ilitas.

27
UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS

Quando falamos de aspectos estruturais do solo, definimos a estrutura


solo como o arranjo ou a disposição geométrica das partículas de um solo entre
si e verificamos que, entre os inúmeros fatores que afetam a estrutura, estão o
formato, o tamanho, a composição mineralógica das partículas do solo e a natureza
e composição da água do solo. Geralmente, os solos podem ser divididos em dois
grupos: não coesivos e coesivos.

Vamos entender melhor esses dois grupos? As estruturas encontradas em


cada solo estão descritas a seguir:

2.1 ESTRUTURAS EM SOLOS NÃO COESIVOS


Solos não coesivos são aqueles com baixa predominância de finos, a
estrutura geralmente encontrada em solos não coesivos pode ser dividida em
duas categorias principais: granular simples (ou de grãos isolados) e em favos
(ou alveolares).

Nas estruturas granulares simples, as partículas do solo estão em posição


estável e em contato com as outras partículas no entorno. A forma e a distribuição
do tamanho das partículas de solo e as posições relativas influenciam na densidade
de pacote, assim é possível uma ampla gama de índices de vazios.

FIGURA 16 – ESTRUTURA GRANULAR SIMPLES

(a) Representatividade de um solo fofo

(b) Representatividade de um solo compacto/denso


FONTE: A autora

28
TÓPICO 2 | ESTRUTURAS DOS SOLOS E ÍNDICES FÍSICOS

Para se ter uma ideia da variação do índice de vazios causada pelas


posições relativas das partículas, vamos considerar o modo de empacotamento
com esferas iguais (Figura 17).

FIGURA 17 – EXEMPLO DE EMPACOTAMENTO COM ESFERAS IGUAIS (VISTAS PLANAS)

(a) Empacotamento muito fofo

d 2

(b) Empacotamento mais denso


FONTE: A autora, adaptado de Das e Khaled (2017, p. 88)

29
UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS

Podemos perceber na Figura 17 um exemplo de estado de empacotamento


do solo muito fofo, ou seja, com um índice de vazios grande. Das e Khaled (2017)
verificaram que se isolarmos um cubo no qual cada lado meça d, que é igual ao
diâmetro de cada esfera, como mostra a ilustração, é possível calcular o índice de
vazios, como:

Vv V − Vs
e
= =
Vs Vs

Onde: V= volume do cubo = d³; Vs= volume da esfera (isto é, o sólido)


dentro do cubo.

Ao observar que V=d³ e Vs=πd³/6, teremos:

 ∏ d³ 
d³- 
 6 
e= =0,91
∏ d³
6

Podem existir outras formas de empacotamento de esferas iguais entre os


estados fofos e densos, e estes são indicados na Figura 18a e 18b. A Figura 18a mostra
um empacotamento de escalonamento simples. Observa-se que cada esfera encosta
em seis esferas próximas na própria camada e as esferas em distintas camadas são
empilhadas diretamente na parte superior de cada uma. O índice de vazios para o
padrão de escalonamento simples é 0,65. A Figura 18b mostra um empacotamento
de escalonamento duplo. Isso é parecido ao padrão de escalonamento simples,
exceto que cada esfera em uma camada desliza para cima e para baixo para entrar
em contato com duas esferas na segunda camada. O índice de vazios para disposição
do escalonamento duplo é 0,43.

FIGURA 18 – EXEMPLO DE EMPACOTAMENTO COM ESFERAS IGUAIS

(a) Escalonamento simples

30
TÓPICO 2 | ESTRUTURAS DOS SOLOS E ÍNDICES FÍSICOS

(b) Escalonamento duplo


FONTE: A autora, adaptado de Das e Khaled (2017)

NOTA

Segundo Das et al. (2017), existem pesquisas em que, para analisar o


comportamento dos solos não coesivos, utilizaram-se alguns ensaios colocando esferas
de aço de tamanhos iguais em um recipiente para determinar o índice de vazios mínimos,
que era 0,6. Em tais ensaios, aproximadamente 20% das esferas formaram-se em arranjo
de escalonamento duplo (e=0,43) e aproximadamente 80% das esferas formaram em
arranjo de escalonamento simples (e=0,65).

Sabemos que o solo verdadeiro se diferencia do modelo com esferas


idênticas, pois nesse caso as partículas são heterogêneas, não apresentam o
mesmo tamanho e não são esféricas. As partículas menores podem ocupar os
espaços vazios entre as partículas maiores e, portanto, o índice de vazios do
solo é reduzido em comparação ao modelo com esferas idênticas. No entanto,
a irregularidade nos formatos das partículas geralmente produz um aumento
no índice de vazios dos solos. Como resultado desses dois fatores, os índices de
vazios deparados em solos reais têm aproximadamente a mesma faixa obtida em
esferas iguais (DAS; KHALED, 2017).

Na estrutura alveolar (Figura 19), o silte e a areia relativamente finos


formam pequenos arcos com correntes de partículas. Os solos que apresentam
estrutura alveolar possuem índices de vazios maiores e podem suportar uma
carga estática moderada. Porém, sob condições de carga mais pesada ou quando
submetidos a cargas de impacto, a estrutura colapsa, o que resulta em um grande
recalque de solo (DAS; KHALED, 2017).

31
UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS

FIGURA 19 – ESTRUTURA ALVEOLAR

FONTE: A autora

2.2 ESTRUTURAS EM SOLOS COESIVOS


Os solos coesivos, aqueles chamados popularmente como solos que
contêm uma cola entre as partículas de solo, as famosas argilas, fazem parte deste
grupo. No entanto, o entendimento da estrutura básica é complexo, pois para
compreender a estrutura, precisamos conhecer os tipos de forças que atuam entre
as partículas de argila suspensas na água.

Quando duas partículas de argila em suspensão se aproximam uma


da outra, a tendência para interpenetração das camadas duplas difusas gera
repulsão entre as partículas. Ao mesmo tempo, existe uma força de atração entre
as partículas de argila, causada pelas forças de Van der Waals e é independente
das características da água. Tanto a força de repulsão quanto a força de atração
aumentam com a diminuição da distância entre as partículas, mas em taxas
diferentes. Quando o espaçamento entre as partículas é muito pequeno, a força
de atração é maior que a força de repulsão. Essas são as forças estudadas pelas
teorias coloidais (DAS; KHALED, 2017).

Ao analisar o comportamento da argila na forma de uma suspensão


diluída, quando a argila é inicialmente dispersa na água, as partículas se repelem
entre si. Essa repulsão ocorre porque, com o maior espaçamento interpartículas,
as forças de repulsão entre elas são maiores que as forças de atração (forças de
Van der Waals).

A força da gravidade sobre cada partícula é desprezível. Assim, cada


partícula individual pode se sedimentar muito lentamente ou permanecer em
suspensão, submetida a um movimento browniano (um movimento aleatório em
zigue-zague de partículas coloidais em suspensão). O sedimento formado pela
decantação de partículas individuais apresenta uma estrutura dispersa (Figura
20) e uma orientação aproximadamente paralela entre si.

32
TÓPICO 2 | ESTRUTURAS DOS SOLOS E ÍNDICES FÍSICOS

FIGURA 20 – ESTRUTURA SEDIMENTAR DE UM SOLO COESIVO DISPERSO

FONTE: A autora

Se as partículas de argila dispersas inicialmente na água se aproximarem


umas das outras durante o movimento aleatório em suspensão, elas podem se
agregar formando flocos visíveis com contato entre as bordas. Nesse caso, as
partículas são mantidas unidas pela atração eletrostática das bordas carregadas
positivamente com faces com cargas negativas. Essa agregação é chamada de
floculação (Figura 21). Quando ficam maiores, os flocos decantam pela ação da
gravidade. O sedimento formado dessa maneira possui uma estrutura floculada.

FIGURA 21 – ESTRUTURA SEDIMENTAR DE UM SOLO COESIVO FLOCULADO

FONTE: A autora

Quando se adiciona sal a uma suspensão de argila-água que tenha sido


inicialmente dispersa, os íons tendem a enfraquecer a camada dupla ao redor das
partículas. Essa depressão reduz a repulsão interpartículas. As partículas de argila
são atraídas para formar flocos e sedimentação. A estrutura floculada formada
de sedimentos é exibida na Figura 22. Nas estruturas floculadas sedimentares
salinas, a orientação da partícula se aproxima de um alto grau de paralelismo em
razão das forças de Van der Waals.

33
UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS

FIGURA 22 – ESTRUTURA SEDIMENTAR DE UM SOLO COESIVO FLOCULADO COM SAL

FONTE: A autora

As argilas que apresentam estruturas floculares são leves e possuem um


alto índice de vazios. Os depósitos de argila formados no mar são altamente
floculados. A maioria dos depósitos de sedimentos formados em água doce
possui estrutura intermediária entre dispersa e floculada.

Um depósito puro de argilominerais é raro na natureza. Quando um


solo tem pelo menos 50% de partículas com tamanhos de 0,002 mm, geralmente,
é denominado de argila. Estudos realizados com microscópio eletrônico de
varredura mostraram que as partículas individuais de argila tendem a se agregar
ou flocular em unidades submicroscópicas. Essas unidades são chamadas
domínios. Em seguida, os domínios se agrupam e esses grupos são chamados
de aglomerados. Os aglomerados podem ser observados em um microscópio
óptico. Esse agrupamento para formar aglomerados é causado principalmente
pelas forças entre partículas. Os grupos, por sua vez, se agrupam para formar
agregados. Os agregados podem ser observados sem microscópio. Os agregados
são unidades macroestruturais com juntas e fissuras.

A Figura 23 (item a) mostra o arranjo de agregados e os espaços dos


macroporos. O arranjo de domínios e aglomerados com partículas do tamanho
de silte é exibido na Figura 23 b.

34
TÓPICO 2 | ESTRUTURAS DOS SOLOS E ÍNDICES FÍSICOS

FIGURA 23 – ESTRUTURA DO SOLO


Macroporos

Agregados

(a) Arranjo de agregados

Domínio
Silte

Agrupado

Silte

(b) Arranjo dos domínios e aglomerados com partículas de silte


FONTE: A autora, adaptado de Das e Khaled (2017, p. 91)

Com base na discussão anterior, podemos ver que a estrutura dos solos
coesivos é altamente complexa. As macroestruturas têm importante influência no
comportamento dos solos, do ponto de vista da engenharia. A microestrutura é
mais importante do ponto de vista fundamental. A Tabela 2 apresenta um resumo
das macroestruturas de solos de argila.

35
UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS

TABELA 2 – ESTRUTURAS DE SOLOS ARGILOSOS


Formadas pela sedimentação de partículas
Estruturas dispersas isoladas de argila; orientação mais ou menos
paralela.
Formadas pela sedimentação de flocos de
Estruturas floculadas
partículas de argila.
Unidades submicroscópicas agrupadas ou
Domínios
floculadas de partículas de argila.
Os aglomerados se agrupam para formar os
Agregados
agregados; podem ser vistos sem microscópio.
Os domínios se agrupam para formar os
Aglomerados aglomerados; podem ser observados em
microscópio óptico.

FONTE: Das e Khaled (2017, p. 91)

A gravidade é o principal fator de arrumação das partículas. Por isso, a


estrutura dos solos grossos se difere apenas quanto ao grau de compacidade. Já
os solos finos, preferencialmente as argilas, possuem maiores possibilidades de
estruturação, por causa da ação de forças elétricas, mais atuantes que a gravidade.

3 SUPERFÍCIE ESPECÍFICA
Define-se superfície específica como a relação entre a área da superfície
de um material e seu volume. Normalmente, é expressa em m²/m³ ou m²/g ou
qualquer variação das grandezas. Quanto maior o tamanho de um material,
menor sua superfície específica.

Em relação aos argilominerais, quanto maior a superfície específica


(menor o material), maior a atuação das forças elétricas, o que influencia nas
demais propriedades.

Em ordem decrescente de tamanho, temos as seguintes superfícies


específicas médias por tipo de argilomineral: Caulinita = 10m²/g; Ilitas = 80m²/g e
Montmorilonita = 800 m²/g.

Para compreender melhor, Ribeiro (2016) desenvolveu o cálculo de


superfície específica, tomando como base os cubos a seguir, de lado = 10 cm e
lado = 5 cm, respectivamente.

36
TÓPICO 2 | ESTRUTURAS DOS SOLOS E ÍNDICES FÍSICOS

FIGURA 24 – ANÁLISE DA SUPERFÍCIE ESPECÍFICA


Cubo 1

Cubo 2

FONTE: A autora, adaptado de Ribeiro (2016)

Calcula-se a área superficial, que é a soma da área de todas as faces da


figura e, posteriormente, divide-se o valor encontrado pelo volume da figura. No
caso do cubo, serão seis faces de mesmas dimensões.

Área sup erficial


Se =
Volume
6 × l²
Se1 = (corresponde ao cubo 1)

6 × 10²
Se1 =
10³
Se1 = 0, 6cm² / cm³
6 × l²
Se 2 = (corresponde ao cubo 2)

6 × 5²
Se1 =

Se1 = 1, 2cm² / cm³

Desse modo, percebemos que os cubos acima demonstram claramente


que quanto maior for o tamanho do objeto em questão, menor sua superfície
específica, pois são grandezas inversamente proporcionais.

37
UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS

4 FORMA DAS PARTÍCULAS


O formato das partículas presentes em uma massa de solo tem a mesma
importância da distribuição granulométrica, porque tem influência significativa
sobre as propriedades físicas de determinado solo. No entanto, não é dada muita
atenção ao formato da partícula porque é mais difícil de determinar. O formato
da partícula geralmente é dividido em três principais categorias:

a) Volumosa.
b) Lamelar.
c) Fibrilar.

As partículas volumosas são formadas principalmente pelo intemperismo


físico de rochas e minerais. Os geólogos utilizam termos como angular,
subangular, subarredondado e arredondado para descrever os formatos das
partículas volumosas. Estes formatos são indicados qualitativamente na Figura 26.
Pequenas partículas de areia localizadas próximo de sua origem são geralmente
muito angulares.

As partículas de areia carregadas pelo vento e pela água, por longas


distâncias, podem apresentar formatos que vão desde o subangular ao arredondado.
O formato de partículas granulares em uma massa de solo exerce grande influência
sobre as propriedades físicas, como índice de vazios máximo e mínimo, parâmetros
de resistência ao cisalhamento, compressibilidade etc.

A angularidade é definida pela equação:

Raio _ médio _ dos _ cantosebordas


A=
Raio _ da _ esferamáxima _ inscrita

A esfericidade das partículas volumosas é definida como:

De
S=
Lp
6V 3

Onde: = diâmetro equivalente da partícula = ∏ ; V= volume da partícula;


D e
Lp= comprimento da partícula.

38
TÓPICO 2 | ESTRUTURAS DOS SOLOS E ÍNDICES FÍSICOS

FIGURA 25 – FORMATO DAS PARTÍCULAS

FONTE: Das e Khaled (2017, p. 44)

As partículas lamelares têm esfericidade muito baixa – geralmente 0,01 ou


menos. Estas partículas são predominantemente argilominerais.

As partículas fibrilares são muito menos comuns que os outros dois tipos
de partícula. Alguns depósitos de corais e argilas atapulgitas são exemplos de
solo contendo partículas fibrilares.

5 RELAÇÕES ENTRE AS FASES DOS SOLOS


Determinado volume de solo em ocorrência natural consiste em partículas
sólidas e em espaços vazios entre as partículas. O espaço vazio pode ser preenchido
com ar e/ou água, desse modo constitui-se um sistema trifásico. Se não houver
água no espaço vazio, é um solo seco. Se todo o espaço vazio for preenchido com
água, é referido como solo saturado. No entanto, se o espaço for parcialmente
preenchido com água, é um solo úmido. Portanto, é importante que, em todos os
trabalhos de engenharia geotécnica, estabeleçam-se relações entre peso e volume
em determinada massa de solo.

Uma amostra de solo natural não é composta apenas dos grãos (fase
sólida - pedregulhos, areias, siltes e argilas), mas também de espaços vazios.
Esses espaços vazios são, comumente, preenchidos com água (fase líquida) e ar
(fase gasosa), conforme Figura 26, a seguir.

39
UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS

FIGURA 26 – CONSTITUIÇÃO COMUM DO SOLO


Partícula sólida

Ar

Água

FONTE: A autora

A fase gasosa, de acordo com Caputo (1996), é composta por ar, vapor
d’água e carbono combinado. Também pode ser encontrada na forma de bolhas
de ar dentro da fase líquida. É a fase mais compressível do solo.

A fase líquida compreende a água e esta, por sua vez, é essencial em seu
estudo para a Mecânica dos Solos, uma vez que a presença de água é responsável
pela maioria dos problemas da construção civil. A Figura 28 corresponde aos
diversos tipos de água que compõem a fase líquida de uma amostra de solo.

FIGURA 27 – CONSTITUIÇÃO COMUM DO SOLO

ÁGUA ADESIVA PARTÍCULA DE


ARGILA

ÁGUA
HIGROSCÓPICA

ÁGUA
CAPILAR
ÁGUA
ABSORVIDA

ÁGUA CAPILAR
ÁGUA LIVRE
FONTE: Caputo (1996, p. 25)

Os diversos tipos de água que formam a fase líquida são:

a) A água de constituição: esta faz parte da estrutura molecular dos grãos do solo.
b) A água adesiva ou adsorvida: é a que adere e envolve todo o grão.
c) A água livre: está presente no meio e preenche os vazios.
d) A água higroscópica: é a que está presente no solo quando esse se encontra na
mesma temperatura que o ambiente ao seu redor.
e) A água capilar: é a água que sobe pelos interstícios capilares deixados pelas
partículas sólidas, além da superfície livre da água.

40
TÓPICO 2 | ESTRUTURAS DOS SOLOS E ÍNDICES FÍSICOS

NOTA

O efeito do calor pode evaporar as águas livre, higroscópica e capilar, a partir


de uma temperatura de 100 °C.

O que diferencia a mesma condição do solo é a variação dos vazios. Os


vazios são constituídos pelo volume de ar mais o volume de água. No entanto, o
volume do sólido permanece constante (Figura 28).

FIGURA 28 – VARIAÇÃO DE VOLUME DE AR E ÁGUA, PORÉM O SÓLIDO É INCOMPRESSÍVEL

AR

AR

AR

ÁGUA

ÁGUA

ÁGUA

SÓLIDO SÓLIDO SÓLIDO

FONTE: A autora

5.1 RELAÇÕES FÍSICAS ENTRE AS FASES DO SOLO


As propriedades dos solos exigem o estudo dos índices físicos. Já vimos
que um solo, no ambiente natural, é composto por grãos sólidos e vazios. Esses
vazios, por sua vez, podem ser compostos de água e ar.

De início, já se pode estabelecer algumas relações entre pesos e volumes e


entre massas e volumes. A Figura 29, a seguir, demonstra as fases do solo e suas
possíveis relações.

41
UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS

FIGURA 29 – AS FASES DO SOLO COM RELAÇÃO A VOLUME, MASSA E PESO

AR Va

Vv

ÁGUA Vw Vt

SÓLIDO Vs

(a) Fases com relação a volumes

AR Wa, ma=0

ÁGUA Ww, mw wt

SÓLIDO Ws, ms

(b) Fases com relação ao peso e massa


FONTE: A autora

5.2 RELAÇÃO DAS FASES ENTRE VOLUMES


Verificando a Figura 30, percebemos que o volume total corresponde
ao somatório do volume sólido, volume de água e volume de ar, conforme a
equação a seguir:

Vt = Vs + Vw + Var

42
TÓPICO 2 | ESTRUTURAS DOS SOLOS E ÍNDICES FÍSICOS

As partículas de solo também são preenchidas de vazios, estes, por sua


vez, são o somatório do volume de água e volume de ar dos constituintes do solo.

V=
v Vw + Va

Então, o volume total também pode ser escrito como a soma do volume de
sólidos com o volume de vazios:

V=
t Vs + Vv

5.3 RELAÇÕES DAS FASES ENTRE MASSAS E PESOS


No meio estudantil sempre existiu a dúvida entre massa e peso específico. A
massa é a quantidade de matéria que um corpo apresenta e é expressa em gramas,
quilos ou quaisquer múltiplos e submúltiplos dessa grandeza. No entanto, o peso
é relativo, varia de acordo com a variação da gravidade, o que significa que, para
calcular o peso de um corpo, deve-se obter o produto entre sua massa e a gravidade
do ambiente onde esse corpo se encontra no momento, assim:

P=m×g

A equação acima é baseada nos estudos de Newton, que afirma que a


força é o produto da massa (kg) de um corpo e de sua aceleração (m/s²). Isso
significa que a força resultante (F) é dada na grandeza kg.m/s², ou, simplificando,
a força é dada em Newton (N).

DICAS

Dependendo do local, o peso de um material varia, porém a massa permanece


constante. Um exemplo simples é notar a diferença entre as gravidades do Sol (274m/s²),
da Terra (9,8m/s²) e da Lua (1,7m/s²).

Sabemos que a massa total (Mt) é a soma das massas de água (Mw) e de
sólidos (Ms). Com isso, temos que o peso total (Pt) é a soma do peso da água (Pw)
com o peso dos sólidos (Ps), de acordo com as equações, a seguir.

M
=t Ms + Mw

P=
t Ps + Pw

43
UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS

“O peso do ar e a massa do ar não são considerados, pois são ambos


desprezíveis. Assim, mesmo que a massa e o peso do ar não sejam considerados,
o seu volume deve ser calculado, uma vez que o volume de ar é parte componente
do volume total e que pode ser compressível quando sujeito a uma força ou
substituído por água quando submerso” (RIBEIRO, 2016, p. 20).

6 ÍNDICES FÍSICOS: TEOR DE UMIDADE, MASSA


ESPECÍFICA APARENTE E REAL, ÍNDICE DE VAZIOS,
POROSIDADE, GRAU DE SATURAÇÃO
Os índices físicos são de fundamental conhecimento, pois o comportamento
de um solo depende da quantidade relativa de cada uma das três fases: partículas
sólidas, água e ar. Quando falamos de índices físicos, comparamos às propriedades
constituintes do solo, que têm relação com as três fases básicas.

A importância dos índices físicos é que saberemos a quantidade em


relação à estrutura total do solo, bem como poderemos calcular as tensões que
serão aplicadas a ele.

Existe um determinado número de grandezas necessárias para descrever


o estado físico que não é usado no estudo de outros materiais. Todas as grandezas
definidas encontram-se inter-relacionadas. Por exemplo, quanto maiores forem
essas duas grandezas, menores serão os pesos específicos, o peso seco, o peso
específico submerso etc.

6.1 UMIDADE
Quando queremos saber a umidade de um solo, verificamos a relação de
água com a quantidade de sólidos de uma certa quantidade de solo. A equação a
seguir representa a fórmula da umidade:

Ww
h
= × 100
Ws

Onde: Wa é o peso da água, Ws é o peso do sólido.

Atualmente também é utilizada a umidade volumétrica do solo, em que


se relaciona o volume de água com o volume total da amostra.

Vw
è=
Vt

44
TÓPICO 2 | ESTRUTURAS DOS SOLOS E ÍNDICES FÍSICOS

6.2 ÍNDICE DE VAZIOS


O índice de vazios corresponde a um resultado adimensional e também à
relação dos vazios com respeito à quantidade de sólidos em um sistema de solo.

Vv Y
e= = s -1
Vs Yd

Onde: Vv é o volume de vazios, Vs é o volume de sólidos.

6.3 POROSIDADE
A porosidade, diferente do índice de vazios, relaciona a quantidade de
vazios com o volume total da amostra. O resultado é em percentual ou entre
valores de 0 a 1 (caso não haja multiplicação por 100).

Vv
n
= × 100
Vt

Onde: o Vv é o volume de vazios, e Vt é o volume total.

Quando falamos de porosidade, lembramos dos conceitos de


microporosidade e macroporosidade, em que a porosidade total é o somatório
desses dois conceitos. Nas partículas maiores, como nos solos não coesivos, por
exemplo a areia, há a predominância de poros grandes (macroporos), no entanto,
entre partículas pequenas, como no caso de solos coesivos (argila), predominam
poros pequenos, ou chamados de microporos. Os microporos são responsáveis
pela retenção de água e os macroporos, pela aeração.

6.4 GRAU DE SATURAÇÃO


O grau de saturação está relacionado com o quanto de água os vazios
estão preenchidos, desse modo:

Vw
S
= × 100
Vv

Onde: Vv corresponde ao volume de vazios, Vw corresponde ao volume


de água.

45
UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS

FIGURA 30 – ESTRUTURA DO SOLO COM A VARIAÇÃO DE ÁGUA NOS VAZIOS


Completamente
Seco Não saturado

Vw
S=
Vv

S = 0%

0% <S<100%
Completamente
Saturado

S = 100%
FONTE: GEOFAST (2015, s.p.)

O grau de saturação age no surgimento de poropressões, e, desta forma,


altera as tensões efetivas atuantes, desse modo atua diretamente na resistência ao
cisalhamento do solo. Quando verificamos que o solo está não saturado, podemos
perceber o efeito da sucção, essencial para o conhecimento em estabilidades de
taludes, pois quanto menor a sucção, menor a resistência do solo.

6.5 PESO ESPECÍFICO DO SÓLIDO


Os pesos específicos são relacionados à força peso. O peso específico
do solo é relacionado à quantidade de grãos do solo pelo volume de sólidos,
desconsiderando o peso de água, assim:

Ws
Ys = (kN/m³)
Vs

6.5.1 Peso específico da água


Embora varie com a temperatura, adota-se sempre:

Yw = 10kN / m³

46
TÓPICO 2 | ESTRUTURAS DOS SOLOS E ÍNDICES FÍSICOS

6.5.2 Peso específico natural


Relação entre o peso total no seu estado natural pelo volume total. A
expressão pode ser substituída por peso específico do solo.
Wn
Yn = (kN/m³)
Vt

6.5.3 Peso específico aparente seco


É a relação entre o peso dos sólidos pelo volume total de uma amostra.
Corresponde ao peso específico do solo caso estiver na condição seca, ou seja, os
vazios preenchidos somente de ar.
Ws
Yd = (kN/m³)
Vt

6.5.4 Peso específico aparente saturado


Peso específico do solo se estivesse saturado sem variação de volume.
Neste caso, os vazios são totalmente preenchidos por água. Desse modo, deve-se
estabelecer a relação entre o peso total com o volume total da amostra.
Wt Ww + Ws Ww + Vv × Yw
Y=
sat = = (kN/m³)
Vt Vt Vt

6.5.5 Peso específico submerso


É o peso específico efetivo do solo, quando lidamos com deformação do solo.
É utilizado nos cálculos de tensões efetivas. O solo submerso está completamente
sob a água, portanto, para calcular deve-se considerar o peso específico.

Y=
sub Ysat − Yw

6.5.6 Densidade relativa dos grãos (Gs)


Podendo chamar de G ou Gs, isto corresponde ao peso relativo ou
gravidade específica e representa a razão entre o peso específico dos grãos do
solo pelo peso específico da água.

Ys
Gs = (adimensional)
Yw

47
UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS

O Gs pode ser obtido diretamente pelo ensaio de massa específica dos


sólidos (NBR 6508).

A Tabela 3 corresponde ao Gs de alguns minerais que encontramos na


Engenharia.

TABELA 3 – VALORES DE GS DE ALGUNS MINERAIS

Quartzo 2,65
Caulinita 2,61
Ilita 2,84
Montmorilonita 2,65-2,80
Biotita 2,8-3,2
Muscovita 2,76-3,1
Limonita 3,6-4,0
Clorita 2,6-2,9
Olivina 3,27-3,7
Hornblenda 3-3,47

FONTE: Das e Khaled (2017, p. 90)

6.6 RELAÇÕES ENTRE ÍNDICES FÍSICOS


Dessa imensidão de fórmulas, ou seja, para encontrar os índices, apenas
três são determinados diretamente em laboratório: a umidade, o peso específico
do sólido e o peso específico natural. Sabendo que o peso específico da água é
adotado como 10 kN/m³.

Uma maneira de fazermos as correlações com os índices físicos entre si é


através dos seguintes passos:

a) Fixar o Volume de sólidos igual a 1 m³

Desse modo, podemos relacionar com o índice de vazios, peso específico


dos sólidos, assim, conforme Figura 31, teremos relações com o índice de vazios
(e=Vv), Ys = w s e W=
w Ys × h .

48
TÓPICO 2 | ESTRUTURAS DOS SOLOS E ÍNDICES FÍSICOS

FIGURA 31 – CORRELAÇÕES ENTRE ÍNDICES FÍSICOS


Vs = 1 e = Vv

Ws
=Ys = Ys Ws
Vs

Ws Wa
Ys × h= × Ys × h= Ww
Vs Ws
FONTE: A autora

Desse modo, algumas correlações determinadas são:

Vv Vv e
n
= = =
Vt Vv + Vs e + 1

Wt Ws + Ww Ys + Ys × h
Yn
= = =
Vt Vv + Vs e +1

ws Ws Ys
Yd
= = =
Vt Vv + Vs e + 1

Wt Ww + Ws Ys + Vv × Yw
Ysat
= = =
Vv + Vs Vv + Vs e +1

Outras deduções:

Yn
Yd =
1+ w

Vw Y ×w
S= × 100 = s
Vv e × Yw

ATENCAO

Relações entre pesos e volumes são denominadas pesos específicos, como


definidos, e expressos geralmente em kN/m³. No entanto, relações entre quantidade de
matéria (massa) e volume são denominadas massas específicas, e expressas geralmente
em ton/m³, kg/dm³ ou g/cm³.

49
LEITURA COMPLEMENTAR

POR QUE ESTUDAR ÍNDICES FÍSICOS? EM QUAL PARTE DA


ENGENHARIA NÓS UTILIZAMOS?

Os índices físicos estão na maioria dos conteúdos de engenharia civil,


quando queremos construir uma fundação, em estabilidade de taludes, construção
de contenções, projetos de muros de arrimo, em pavimentação, em corte e
construção de aterro, misturas de materiais, dimensionamento de drenagem etc.

Ter noção das fases constituintes do solo é essencial para indicar o tipo
de solo que deve ser utilizado para cumprir melhor um objetivo na engenharia.
É indispensável na classificação prever o comportamento do solo em algumas
situações, avaliar a utilização ou descarte de jazidas, pois auxilia na obtenção de
parâmetros de permeabilidade, resistência etc.

Compactação

Em pavimentação, faz-se o uso da compactação, que basicamente requer


análises de variação do índice de vazios.

A compactação é a densificação do solo por meio de equipamento mecânico


ou manual. Um solo, quando transportado e depositado para a construção de um
aterro, fica em um estado relativamente fofo e heterogêneo e, portanto, pouco
resistente e muito deformável.

Por isso, realiza-se a compactação, para melhorar duas características:


aumentar o contato entre os grãos e para tornar o aterro mais homogêneo. Ocorre
assim um aumento da densidade do solo e a redução do índice de vazios, o que
melhora muitas propriedades do solo.

A compactação é empregada para:

a) Aterros;
b) Nas camadas construtivas dos pavimentos;
c) Na construção de barragens de terra;
d) No preenchimento de terra atrás dos muros de arrimo;
e) Preenchimento de valas abertas diariamente nas ruas, etc.

O início da técnica de compactação do solo é creditada ao engenheiro


norte-americano Proctor, que em 1933 publicou seus estudos sobre compactação.
Ele demonstrou que aplicando-se certa energia de compactação (um certo número
de passadas de um determinado equipamento no campo ou um certo número de
golpes de um soquete sobre o solo contido em um molde), a massa específica
resultante é em função da umidade em que o solo estiver. Quando se comporta
com umidade baixa, o atrito entre as partículas é muito alto e não consegue
significativa redução de vazios.
50
Quando a compactação está com umidades elevadas, a água provoca um
certo efeito de lubrificação entre as partículas que deslizam entre si, acomodando-
se num arranjo mais compactado.

Na compactação as quantidades de partículas e de água permanecem


constantes, o aumento da massa específica ocorre pela eliminação de ar.

A partir de um certo teor de umidade, entretanto, a compactação não


consegue expulsar o ar dos vazios, pois o grau de saturação já é elevado e o ar
que ainda está no solo pode estar ocluso (envolto por água).

Há, portanto, para uma determinada energia aplicada, um certo teor


de umidade denominado umidade ótima que conduz a uma massa específica
máxima ou a uma densidade máxima. Dos estudos de Proctor surgiu o ensaio de
compactação, mais conhecido como ensaio de Proctor.

Percolação em geotecnia

Quando analisamos percolação de água em um meio, por exemplo,


verificamos o quanto importante é analisar a porosidade. Quando o solo está
saturado, o volume de água iguala-se ao volume de vazios. Quanto mais poroso
for o solo, maior será a infiltração e menor sua capacidade de retenção.

FONTE: LAMBE, T. William; WHITMAN; Robert V. Resumo do capítulo 1. In: Soil Mechanics.
Massachusetts Institute of Technology. New York: John wiley & Scans. 1969.

51
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Conforme a natureza das partículas, podemos dividir os solos em coesivos e


não coesivos.

• Quanto maior o tamanho de um material, menor sua superfície específica.

• A forma das partículas podem ser: volumosa, lamelar e fibrilar.

• A relação do solo depende dos constituintes água, ar e solo.

• Com a variação dos índices físicos é possível obter relações, como: umidade,
peso específico, saturação, índice de vazios etc.

• Para melhor entendimento temos a Figura 32, que corresponde ao fluxograma


resumido deste capítulo.

FIGURA 32 – FLUXOGRAMA RESUMO

Estrutura dos solos


e índices

Natureza das
partículas

Superfície
específica

Forma das
partículas

Relação entre fases


dos solos

Índices Físicos

FONTE: A autora

52
AUTOATIVIDADE

1 Diante do que foi explicado sobre a natureza dos solos, os solos não coesivos
se fazem presentes no meio da engenharia. Sobre os solos não coesivos,
assinale a alternativa INCORRETA:

a) ( ) A estrutura do solo não coesivo pode ser dividida em solos com grãos
isolados ou em favos.
b) ( ) Possuem alta predominância de finos.
c) ( ) As partículas do solo estão em posição estável e em contato com as
outras partículas no entorno.
d) ( ) Na estrutura alveolar, o silte e a areia relativamente finos formam
pequenos arcos com correntes de partículas.
e) ( ) A forma e a distribuição do tamanho das partículas de solo e as posições
relativas influenciam na densidade de pacote.

2 Os solos coesivos são aqueles chamados popularmente de solos que contêm


uma “cola”, por aderirem firmemente entre as partículas devido ao seu
tamanho que não é identificado a olho nu, como exemplo, temos as famosas
argilas. Podemos dividir a estrutura do solo coesivo como:

a) ( ) Dispersa, alveolar e floculado.


b) ( ) Alveolar, floculado e angulado.
c) ( ) Alveolar, dispersa e tramitado.
d) ( ) Floculado, dispersa e angulado.
e) ( ) Floculado com sal, floculado e dispersa.

3 O que é floculação?

a) ( ) Ocorre em solos não coesivos e é formada por sedimentos em suspensão,


submetida a um movimento browniano.
b) ( ) Ocorre em solos coesivos e é formada por sedimentos em suspensão
que caracterizam a floculação.
c) ( ) Ocorre em solos coesivos. Se as partículas de argila dispersas
inicialmente na água se aproximarem umas das outras durante o
movimento aleatório em suspensão, as partículas podem se agregar
formando flocos visíveis com contato entre as bordas.
d) ( ) Ocorre em solos do tipo silte e areia, e estes, por sua vez, formam arcos
com correntes de partículas.
e) ( ) Ocorre em solos coesivos e é um processo de empacotamento das
partículas formando uma estrutura flocular.

53
4 Sobre a estrutura em solos coesivos, relacione o tipo de estrutura a seguir:

I- Estruturas dispersas.
II- Estruturas floculadas.
III- Domínios.
IV- Agregados.
V- Aglomerados.

a) ( ) Agrupam-se para formar os agregados; podem ser vistos sem


microscópio.
b) ( ) Formados(as) pela sedimentação de flocos de partículas de argila.
c) ( ) Unidades submicroscópicas agrupadas ou floculadas de partículas de
argila.
d) ( ) Formados(as) pela sedimentação de partículas isoladas de argila;
orientação mais ou menos paralela.
e) ( ) Agrupam-se para formar os aglomerados; podem ser observados em
microscópio óptico.

5 Qual o principal fator de ordenação das partículas em solos arenosos?

a) ( ) A gravidade.
b) ( ) A troca de cátions e íons da solução.
c) ( ) A floculação.
d) ( ) A mudança de temperatura.
e) ( ) A força elétrica.

6 Qual o principal fator de ordenação das partículas em solos argilosos?

a) ( ) Ação das forças elétricas.


b) ( ) A gravidade.
c) ( ) A sedimentação das partículas.
d) ( ) O ordenamento estrutural.
e) ( ) A força potencial gravitacional.

7 Sobre superfície específica, marque o item INCORRETO:

a) ( ) Define-se superfície específica como a relação entre a área da superfície


de um material e seu volume.
b) ( ) Em relação aos argilominerais, quanto maior a superfície específica
(menor o material), maior a atuação das forças elétricas, o que influencia
nas demais propriedades.
c) ( ) Em ordem decrescente de tamanho, temos as seguintes superfícies
específicas médias por tipo de argilomineral: Montmorilonita = 800m²/g;
Ilitas = 80m²/g e Caulinita = 10 m²/g.
d) ( ) O cálculo da superfície específica é a área superficial pelo volume total.

54
8 Considerando o cálculo de uma superfície específica, calcule a área
superficial de um grão com lados de 5 cm.

a) ( ) 1,2 cm²/cm³.
b) ( ) 2,0 cm²/cm³.
c) ( ) 1,0 cm²/cm³.
d) ( ) 0,5 cm²/cm³.
e) ( ) 1,5 cm²/cm³.

9 O formato das partículas presentes em uma massa de solo tem a mesma


importância da distribuição granulométrica, porque tem influência
significativa sobre as propriedades físicas de determinado solo. Quais as
três principais categorias?

a) ( ) Volumosa, lamelar e fibrilar.


b) ( ) Lamelar, angular, retangular.
c) ( ) Volumosa, lamelar e angular.
d) ( ) Lamelar, fibrilar e hexagonal.
e) ( ) Fibrilar, angulosa e lamelar.

10 Como as partículas volumosas são formadas?

a) ( ) São muito menos comuns que os outros dois tipos de partícula. Alguns
depósitos de corais e argilas atapulgitas são exemplos de solo contendo
partículas fibrilares.
b) ( ) Têm esfericidade muito baixa – geralmente 0,01 ou menos. Estas
partículas são predominantemente argilominerais.
c) ( ) São as partículas de areia carregadas pelo vento e pela água.
d) ( ) As partículas volumosas são formadas principalmente pelo
intemperismo físico de rochas e minerais. Os geólogos utilizam termos
como angular, subangular, subarredondado e arredondado para
descrever os formatos das partículas volumosas.
e) ( ) Têm esfericidade alta – geralmente 0,01 ou menos. Estas partículas são
predominantemente argilominerais.

11 Uma amostra de solo natural mais o peso da cápsula foi colocada na estufa
a 101°, obtendo uma massa de solo de 90 g. Considerando que a massa da
cápsula possui 10g e que a massa de solo natural mais a cápsula corresponde
a 110g, qual a umidade da amostra?

a) ( ) 13%.
b) ( ) 12%.
c) ( ) 15%.
d) ( ) 11%.
e) ( ) 20%.

55
12 Uma amostra de solo com índice de vazios 1,3 e um volume de 1 m³. Qual
a porosidade desta amostra?

a) ( ) 56,5%.
b) ( ) 60,7%.
c) ( ) 13%.
d) ( ) 15%.
e) ( ) 45,7%.

13 Uma amostra indeformada de solo com 1 m³ de volume possui o peso


específico dos grãos de 28,8 kN/m³, umidade de 14%, índice de vazios com
0,71. Qual o Grau de Saturação dessa amostra?

a) ( ) 56,7%.
b) ( ) 70,5%.
c) ( ) 45,5%.
d) ( ) 60,5%.
e) ( ) 35,7%.

14 (PINTO, 2006, p. 30) Para uma amostra indeformada tomou-se uma amostra
com 72,54g no seu estado natural. Depois de imersa n’água de um dia para
o outro e agitada em um dispersor mecânico por 20 min, para eliminar as
bolhas de ar. A seguir, o picnômetro foi enchido com água deaerada até
a linha demarcatória. Esse conjunto apresentou uma massa de 749,43g. A
temperatura da água foi medida, acusando 21° C, e para esta temperatura
uma calibração prévia indicava que o picnômetro cheio de água até a linha
demarcatória pesava 708,7g. Determinar a massa específica dos grãos.

a) ( ) 2,88 g/cm³.
b) ( ) 2,77 g/cm³.
c) ( ) 2,55 g/cm³.
d) ( ) 2,44 g/cm³.
e) ( ) 2,36 g/cm³.

15 Um grupo de estudantes, querendo analisar a estabilidade de um talude,


verificou a necessidade de calcular o peso específico natural de amostras
indeformadas. Moldaram um corpo cilíndrico com 3,57 cm de diâmetro e
9 cm de altura. No momento da pesagem verificou uma massa de 173,74g.
Determine a massa específica natural deste solo.

a) ( ) 1,93 g/cm³.
b) ( ) 1,75 g/cm³.
c) ( ) 1,67 g/cm³.
d) ( ) 1,88 g/cm³.
e) ( ) 1,55 g/cm³

56
16 No estado natural, um solo úmido tem um volume de 9,34 x 10-3 m³ e pesa
177,6 x 10-3 kN. O peso do solo seco em estufa é 153,6 x 10-3 kN. Se Gs =
2,67, calcule:

a) Teor de umidade.
b) Peso específico úmido.
c) Peso específico seco.
d) Índice de vazios.
e) Porosidade.
f) Grau de Saturação.

57
58
UNIDADE 2

O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS


SOLOS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• definir o tipo de solo, frações e proporções;

• analisar a plasticidade e o índice de consistência;

• classificar o solo segundo a norma.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – GRANULOMETRIA

TÓPICO 2 – PLASTICIDADE E CONSISTÊNCIA

TÓPICO 3 – CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS

59
60
UNIDADE 2
TÓPICO 1

GRANULOMETRIA

1 INTRODUÇÃO
Aprendemos que existem diferentes tipos de solos, estes solos são
diferenciados pelos processos químicos, físicos e mineralógicos. No entanto,
ao analisá-los, observa-se que na condição sólida, estes possuem partículas de
diferentes tamanhos em proporções variadas em uma ampla faixa. Desse modo,
notou-se que determinar o tamanho das partículas é um método que também
identifica o tipo de solo com o qual estamos lidando, e este, por sua vez, é
normatizado pela NBR:6502 (ABNT, 1980). Chamamos este procedimento de
análise granulométrica.

A análise granulométrica da distribuição das dimensões dos grãos objetiva


determinar as dimensões dos diâmetros equivalentes das partículas sólidas em
conjunto com a proporção de cada fração constituinte do solo em relação ao peso
seco naturalmente. A representação gráfica das medidas realizadas é denominada
de curva granulométrica, que relaciona a quantidade fracionada de grãos e é
definida pela curva semilogarítmica (no eixo x) dos diâmetros equivalentes em
relação à porcentagem passante de solo (eixo y).

A análise granulométrica possui importância significativa, pois pode


indicar características de permeabilidade, por exemplo, além de identificar o
possível comportamento do solo frente à variação de diâmetros efetivos.

2 PREPARAÇÃO DA AMOSTRA
O primeiro passo para caracterizar granulometricamente um solo é
através da preparação da amostra. Deve-se retirar uma quantidade de amostra
representativa do solo. Para isso, utiliza-se a NBR6457 (ABNT, 1986).

61
UNIDADE 2 | O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS

A amostra de solo como recebida do campo deverá ser seca ao ar. Todo
o material é reduzido e preparado com o auxílio de um repartidor de amostras
ou pelo quarteamento. No quarteamento divide-se o solo coletado em várias
partes com a intenção de obter uma amostra representativa. São utilizados cerca
de 1500 g para solos argilosos e 2000 g para solos arenosos ou pedregulhosos.
Em seguida essa quantidade de amostra é pesada e, por fim, anotada como
amostra seca ao ar. A Tabela 1 corresponde ao passo a passo para a preparação
do solo com secagem prévia.

TABELA 1 – OPERAÇÕES PRELIMINARES DE AMOSTRAGEM DO SOLO

1° Passo: Secar a amostra ao ar, até próximo da umidade higroscópica


2° Passo: Desmanchar os torrões, evitando-se quebra de grãos, e homogeneizar a amostra
3° Passo: Com o auxílio do repartidor da amostra, ou pelo quarteamento, reduzir a quantidade
de material até se obter uma amostra representativa em quantidade suficiente para a realização
dos ensaios requeridos.

FONTE: ABNT (1986)

A Figura 1 corresponde ao equipamento utilizado para quartear o solo, ou


seja, dividi-lo em partes representativas.

FIGURA 1 – QUARTEAMENTO DE UMA QUANTIDADE SIGNIFICATIVA DE SOLO

FONTE: Gonçalves e Monteiro (2018, p. 20)

Segundo a NBR6457:1986, podem ser utilizados dois processos para


a preparação de amostras para ensaios de caracterização: um com secagem
prévia e outro sem secagem prévia da amostra. Porém, para o ensaio de análise
granulométrica deve ser utilizada a metodologia com secagem prévia.

62
TÓPICO 1 | GRANULOMETRIA

A NBR6457 especifica a quantidade necessária após a utilização do


repartidor. Após a escolha do material (retirada uma porção fracionada do
quarteamento), deve-se passar esta quantidade de solo em uma peneira de 76 mm,
tomar uma quantidade em função da Tabela 2, que corresponde à quantidade
mínima de solo que deve ser utilizada para o ensaio de peneiramento fino, grosso
com e sem sedimentação.

TABELA 2 – QUANTIDADE DE AMOSTRA PARA ANÁLISE GRANULOMÉTRICA

Dimensões dos grãos maiores contidos na amostra, Quantidade mínima a utilizar (kg)
determinada por observação visual (mm)
<5 1
5 a 25 4
>25 8

FONTE: ABNT (1986)

Esta quantidade de material obtida conforme a Tabela 2 deve ser a amostra


a ser ensaiada para a obtenção da curva granulométrica. Esse material deve ser
destorroado com a utilização de almofariz, para que os grãos fiquem com seu
tamanho natural de partícula (Figura 2).

FIGURA 2 – DESTORROAMENTO DO SOLO COM USO DE ALMOFARIZ

FONTE: Gonçalves e Monteiro (2018, p. 20)

Após este processo, define-se a porção que será ensaiada, em amostras


com grãos com diâmetro maior que 25 mm, utiliza-se balança com resolução
de 1g, valores entre 5 a 25 mm usa-se com resolução de 0,5g e para grãos com
diâmetro menor que 5 mm, utiliza-se balança com resolução de 0,1g. Deve-se
pesar a amostra seca ao ar e anotar como Mt.

63
UNIDADE 2 | O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS

O segundo passo é levar a amostra à peneira de 2 mm, os grãos retidos


devem ser utilizados para o peneiramento grosso, no entanto, o solo que passa por
essa peneira é utilizado para peneiramento fino, além de ensaios de massa específica,
limite de liquidez, limite de plasticidade, umidade, sedimentação etc. Para um melhor
entendimento, a Figura 3 representa um fluxograma simples do processo.

FIGURA 3 – FLUXOGRAMA DE DESTINAÇÃO DAS AMOSTRAS PARA ANÁLISE

Amostra de solo

Passa o solo na
peneira de 2mm

Amostra retida na Amostra passante


2mm 2 mm

Peneiramento Peneiramento Fino


grosso Sedimentação

FONTE: A autora

Ao analisar a Figura 3, percebe-se que existem dois processos de


peneiramento fino: o com sedimentação, em que é feita a análise para as partículas
menores que 0,075mm, e o sem sedimentação, ou seja, apenas o peneiramento,
em que são apenas observados os grãos com diâmetros entre 0,075mm e 2mm.

As amostras de solo devem ser padronizadas com o objetivo de


conseguir resultados com o menor erro percentual e para que não haja diferenças
significativas entre as amostras estudadas. Em resumo, o procedimento é feito
em cinco etapas: secagem ao ar, quarteamento da amostra, destorroamento do
material, pesagem e peneiramento.

64
TÓPICO 1 | GRANULOMETRIA

2.1 PENEIRAMENTO GROSSO


O processo de peneiramento grosso é realizado a partir das amostras
retidas na peneira de 2mm. Deve-se lavar o material retido nesta peneira com
o objetivo de eliminar o material fino aderente, e após a lavagem, coloca-se o
material em cápsula de porcelana e deixa-se secar em estufa a 105 °/110 °C.

Após a secagem em estufa, deve-se pesar o material retido na peneira de


2 mm e anotar como Mg. Este material é levado para as peneiras de 50, 38, 25, 19,
9,5 e 4,8 mm, e utiliza-se o agitador mecânico para o solo passar pelas peneiras.
Por último, anota-se as massas retidas acumuladas em cada peneira.

A massa total seca da amostra é determinada utilizando a equação (1):

Mt − M g
Ms
= ×100 + M g (1)
(100 + h)

Onde: Ms= massa total da amostra seca


Mt= massa da amostra seca ao ar
Mg= massa do material seco retido na peneira de 2 mm
h= umidade higroscópica do material passado na peneira de 2 mm

Para calcular as porcentagens do solo que passam nas peneiras 50, 38, 25,
19, 9,5, 4,8 e 2 mm faz-se uso da equação (2):

M s − Mi
=Qg ×100
Ms (2)

Onde: Qg = porcentagem de material passado em cada peneira;


Ms= massa total da amostra seca;
Mi= massa do material retido acumulado em cada peneira.

2.2 PENEIRAMENTO FINO


Sabemos que o peneiramento fino é dividido em duas etapas: sem
sedimentação e com sedimentação. Para o processo sem sedimentação e,
portanto, a determinação da distribuição granulométrica do material apenas por
peneiramento, seguem os passos:

1° Passo: A partir do material passante em 2 mm, utilizar aproximadamente


120 g. Pesar esse material com resolução de 0,01 g e anotar a Mh. Retirar ainda 100
gramas para a determinação da umidade higroscópica (h), conforme NBR 6457;

2° Passo: Lavar na peneira de 0,075 mm o material assim obtido, vertendo-


se água à baixa pressão.

65
UNIDADE 2 | O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS

3° Passo: Secar o material em estufa, à temperatura de 105 ° a 110 °C,


até constância de massa, e utilizando o agitador mecânico, deve-se passar nas
peneiras: 1, 2, 0,6, 0,42, 0,25, 0,15, 0,075 mm.

4° Passo: Anotar os valores das massas retidas em cada peneira.

O cálculo para encontrar as porcentagens de materiais que passam nas


peneiras: 1,2, 0,6, 0,42, 0,25, 0,15, 0,075 mm é fornecido na equação (3):

M h ×100 − M i × (100 + h)
=Qf × N (3)
M h ×100

Qf= Porcentagem de material passado em cada peneira;


Mh= massa do material úmido submetido ao peneiramento fino à sedimentação,
conforme o ensaio tenha sido realizado apenas por peneiramento ou por
combinação de sedimentação e peneiramento, respectivamente;
h= umidade higroscópica do material passado na peneira de 2mm;
Mi= massa do material retido e acumulado em cada peneira;
N= porcentagem de material que passa na peneira de 2 mm conforme equação (2).

2.3 SEDIMENTAÇÃO
A sedimentação é o processo que determina a porcentagem de solos na
curva granulométrica menores que 0,075mm. Utiliza-se a análise da deposição
das partículas mais finas do solo em suspensão e estabelece-se a sua dimensão
de forma indireta pela Lei de Stokes. Os passos do ensaio conforme a NBR7181
(ABNT, 1982b) são:

1° Passo: Do material passado na peneira de 2mm, tomar cerca de 120g, para


solos arenosos, e 70g, para solos argilosos e siltosos, para sedimentação e
peneiramento fino.
2° Passo: Pesar esse material (anotar como Mh), tomar 100 g para umidade do solo;
3° Passo: Transferir o material de 70g e colocar em um béquer de 250 cm³ e juntar
com auxílio de proveta, com defloculante (solução de hexametafosfato de
sódio). Agitar o béquer e deixar agindo por, no mínimo, 12h;
4° Passo: Após 12 h, mexer o material que está no béquer por 15 min para
homogeneizar a mistura (pode utilizar um copo de dispersão ou uma bisnaga
de vidro e mexer no próprio béquer);
5° Passo: Após a agitação, transferir para uma proveta e remover com água
destilada, com auxílio de bisnaga, todo material aderido no copo. Juntar água
destilada até atingir o traço correspondente a 1000 cm³; em seguida, colocar a
proveta no tanque ou em local com pouca variação térmica;
6° Passo: Logo que a dispersão atinja a temperatura de equilíbrio, tomar a proveta,
e tapando a abertura da proveta com a mão, mexer de baixo para cima por 1
min.

66
TÓPICO 1 | GRANULOMETRIA

7° Passo: Imediatamente após terminada a agitação, colocar a proveta sobre


uma mesa, anotar a hora exata do início da sedimentação e mergulhar
cuidadosamente o densímetro na dispersão (Fazer um teste para ver aonde o
densímetro ficará.);
8° Passo: Efetuar as leituras do densímetro correspondentes aos tempos de 0,5, 1, 2
min. Retirar lenta e cuidadosamente o densímetro da dispersão. Caso o ensaio
esteja sendo realizado em local de temperatura constante, colocar a proveta no
banho, onde permanecerá até a última leitura. Fazer leituras subsequentes 4, 8,
15 e 30 minutos, 1, 2, 3, 4, 8 e 24 horas, a contar do início da sedimentação;
9° Passo: Cerca de 15 a 20 segundos da leitura, mergulhar lenta e cuidadosamente
o densímetro na dispersão. Todas as leituras devem ser feitas na parte
superior do menisco com interpolação de 0,0002, após o densímetro ter ficado
em equilíbrio. Assim que uma leitura for feita, retirar o densímetro e colocar
em uma proveta de água limpa à mesma temperatura da dispersão;
10° Passo: Após cada leitura, observar a temperatura da dispersão.

Realizada a última leitura, verter o material da proveta na peneira de


0,075mm, proceder à remoção com água de todo o material que tenha aderido às
suas paredes e efetuar a lavagem do material na peneira mencionada, empregando-
se água potável a baixa pressão, ou seja: utilizar o material da sedimentação para
o peneiramento fino.

Secar o material retido na 0,075mm em estufa à 105 ° a 110 °C, até


constância de massa, e, utilizando-se o agitador mecânico, passar nas peneiras de
1,2, 0,6, 0,42, 0,25, 0,15, 0,075mm.

As porcentagens correspondentes a cada leitura do densímetro, referidas


à massa total da amostra, são definidas utilizando-se a expressão (4).

δ V δ c ( L − Ld )
Qs =
N× × (4)
(δ − δ d ) Mh
×100
100 + h

Onde: Qs= porcentagem de solo em suspensão no instante da leitura do densímetro;


N= porcentagem de material que passa na peneira de 2 mm, calculado conforme
equação (2);
δ= Massa específica dos grãos do solo, em g/cm³;
δd= Massa específica do meio dispersor, à temperatura de ensaio, em g/cm³,
considerar 1 g/cm³;
V= volume da suspensão, em cm³, considerar 1000 cm³;
δc= Massa específica da água, à temperatura de calibração do densímetro (20
°C), em g/cm³, considerar 1 g/cm³;
L= leitura do densímetro na suspensão;
Ld= leitura do densímetro no meio dispersor, na mesma temperatura da suspensão;
Mh= massa do material úmido submetido à sedimentação, em g;
H= umidade higroscópica do material passado na peneira de 2 mm.

67
UNIDADE 2 | O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS

Para o cálculo do diâmetro máximo das partículas em suspensão, no momento


de cada leitura do densímetro, utilizando-se a Lei de Stokes chega-se à equação (5):

1800 µ a
=d × (5)
δ − δd t

Onde: d= diâmetro máximo das partículas, em mm;


μ= coeficiente de viscosidade do meio dispersor, à temperatura de ensaio,
em gxs/cm²;
a= altura de queda das partículas, com resolução de 0,1 cm, correspondente
à leitura do densímetro, em cm (em anexo na NBR7181).

O diâmetro máximo das partículas em suspensão, no momento de cada


leitura do densímetro, pode também ser determinado pelo método gráfico de
Casagrande (em anexo na NBR7181).

Após este processo, determina-se a quantidade de porcentagem passante


através da equação (3).

2.4 DISTRIBUIÇÃO GRANULOMÉTRICA


A partir desse processo de determinação das porcentagens, esses dados são
colocados em um gráfico, dispondo-se em abcissas os diâmetros das partículas,
em escala logarítmica, e em ordenadas as porcentagens das partículas menores
do que os diâmetros considerados, em escala aritmética (Figura 4).

68
TÓPICO 1 | GRANULOMETRIA

FIGURA 4 – CURVA GRANULOMÉTRICA POR PENEIRAMENTO GROSSO E FINO COM


SEDIMENTAÇÃO
100%
Porcentagem Passante (%)

90%

80%

70%

60%

50%

40%

30%

20%

10%
Pedregulho
Argila

Areia M.

Areia G.
Areia F.
Silte

0%
0,001 0,01 0,1 1 10 100
Diâmetro dos Grãos (mm)
FONTE: Massocco (2017)

Os solos recebem designações segundo as dimensões das partículas


compreendidas entre determinados limites convencionais, conforme a Figura 5,
em que estão representadas as classificações adotadas pela American Society for
Testing Materials (ASTM), American Association for State Highway and Transportation
Officials (AASHTO), Massachusetts Institute of Technology (MIT) e Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) (GONÇALVES; MONTEIRO, 2018).

69
UNIDADE 2 | O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS

FIGURA 5 – CURVA GRANULOMÉTRICA POR PENEIRAMENTO GROSSO E FINO COM


SEDIMENTAÇÃO
ASTM
AREIA
PEDREGULHO SILTE ARGILA COLOIDE
G M F

60 4,75 2,00 0,425 0,075 0,005 0,001 0

AASHTO
AREIA
PEDREGULHO SILTE ARGILA COLOIDE
G F

60 2,0 0,425 0,075 0,005 0,001 0

M.I.T
PEDREGULHO AREIA SILTE
COLOIDE
G M F G M F G M F

60 20 6 2,0 0,6 0,2 0,06 0,002 0


ABNT
PEDREGULHO AREIA
SILTE COLOIDE
G M F G M F

60 20 6 2,0 0,6 0,2 0,06 0,002 0


FONTE: Gonçalves e Monteiro (2018)

2.5 ANÁLISE GRÁFICA DE UMA CURVA GRANULOMÉTRICA


A partir dos dados de peneiramento realizados com ou sem sedimentação
deve-se formar um gráfico que relaciona o material passante ou retido nas
peneiras. A Figura 6 corresponde a um exemplo de curva granulométrica, em
que é possível perceber os dados em relação ao peneiramento e em relação ao
processo de sedimentação. Verifica-se, portanto, a quantidade de solo com respeito
ao diâmetro efetivo de cada partícula, na figura apresentada percebe-se que o
solo possui: 10% de argila, 30% de silte, 10% de areia fina, 28% de areia média,
12% de areia grossa e 10% de pedregulho. A maior porcentagem do constituinte
determina o tipo de solo, neste caso o solo é siltoso.

70
TÓPICO 1 | GRANULOMETRIA

FIGURA 6 – CURVA GRANULOMÉTRICA POR PENEIRAMENTO GROSSO E FINO


COM SEDIMENTAÇÃO
100%
Porcentagem Passante (%)

90%

80%

70%
28% de areia média

60%
Sedimentação
50%
Peneiramento

40% 10% areia fina

30%
30% de site
20%

10%
10% argila Pedregulho
Argila

Areia M.

Areia G.
Areia F.
Silte

0%
0,001 0,01 0,1 1 10 100
Diâmetro dos Grãos (mm)
FONTE: A autora, adaptado de Massocco (2017)

A colocação de pontos representativos dos pares de valores diâmetro


equivalente – porcentagem de ocorrência, em papel semilogaritmo, permite
traçar a curva de distribuição granulométrica, em que no eixo das abscissas estão
representados os diâmetros equivalentes, e, no eixo das ordenadas encontram-se
as porcentagens passantes (SOARES et al., 2006, p. 26).

Para entendermos a utilização da granulometria, iniciamos com o estudo


em solos granulares, esses podem ser divididos em mal graduados ou bem
graduados a partir da análise da curva granulométrica.

71
UNIDADE 2 | O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS

A expressão “bem graduado” expressa o fato de que a existência de


grãos com diversos diâmetros confere ao solo, em geral, melhor comportamento
sob o ponto de vista de engenharia. As partículas menores ocupam os vazios
correspondentes às maiores, criando um entrosamento, do qual resulta menor
compressibilidade e resistência (PINTO, 2006, p. 65).

O grau de entrosamento entre as partículas, ou seja, solos bem graduados


são expressos pelo coeficiente de uniformidade Cu. Dado pela equação (6):

D60
Cu = (6)
D10

Onde: D60 é o diâmetro abaixo do qual corresponde a 60% em peso das


partículas, e D10 é o diâmetro abaixo do qual corresponde a 10% em peso das partículas.

UNI

Quanto maior o coeficiente de uniformidade, mais bem graduada é a areia.


Cu maior que 4 é considerado pedregulho bem graduado. Cu maior que 6 é considerada
areia bem graduada. Areias com Cu menor que 2, pode-se dizer que são uniformes.

O Cu identifica a amplitude do tamanho dos grãos, no entanto, para


identificarmos o melhor formato da curva granulométrica, e assim para encontrar
descontinuidades ou concentração muito elevada de grãos mais grossos no
conjunto, denominamos o coeficiente de curvatura, o qual chamamos de Cc
(equação 7). Valores de Cc entre 1 e 3 são considerados bem graduados.

D30 2
Cc = (7)
( D10 × D60 )
Onde: D30 é o diâmetro abaixo do qual corresponde a 30% em peso das
partículas.

Para a análise de solos finos lidamos com o efeito da plasticidade dos


solos e, assim, a atividade da argila, a qual discutiremos mais a fundo no próximo
tópico, sobre plasticidade e consistência.

72
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• Na preparação de uma amostra utiliza-se cerca de 1kg a 1,5 kg.

• As diferenças e os procedimentos realizados segundo a norma para obter a


curva granulométrica de um solo são divididos em dois tipos: peneiramento
grosso (NBR) e peneiramento fino com sedimentação e sem sedimentação.

• O processo de sedimentação e a importância da utilização do defloculante em


solos finos são primordiais para definir a estrutura do solo, pois o defloculante
ajuda a separar os grãos e a definir a curva granulométrica realisticamente.

• A análise gráfica depende das dimensões de solo que passaram ou ficaram


retidas nas peneiras.

A Figura 7 corresponde ao resumo do tópico estudado.

Granulometria

Preparação de
amostra

Peneiramento
Peneiramento fino grosso

Com Sedimentação Sem Sedimentação

Distribuição
Granulométrica

Análise Gráfica

FONTE: A autora

73
AUTOATIVIDADE

1 (PINTO, 2006) Para fazer a análise granulométrica de um solo, tomou-se


uma amostra de 53,25 g, cuja umidade era de 12,6%. A massa específica dos
grãos do solo era de 2,67 g/cm³. A amostra foi colocada em uma proveta
com capacidade de um litro (V=1000 cm³), preenchida com água. Admita-se
neste exercício que a água é pura, não tendo sido adicionado defloculante,
e que a densidade da água é de 1,0 g/cm³: Ao uniformizar a suspensão
(instante inicial da sedimentação), qual deve ser a massa específica da
suspensão? E qual a leitura do densímetro nele colocado?

2 (PINTO, 2006) No caso do ensaio descrito no exercício anterior, 15 minutos


depois da suspensão ser colocada em repouso, o densímetro indicou uma
leitura de L=13,2. Em relação à situação inicial, quando a suspensão era
homogênea, qual a porcentagem (em massa) de partículas que ainda
se encontrava presente na profundidade correspondente à leitura do
densímetro?

3 (PINTO, 2006) Conforme o ensaio anterior, a leitura do densímetro acusava


a densidade a uma profundidade de 18,5 cm. Qual o maior tamanho de
partícula que ainda ocorria nessa profundidade? Considerar que o ensaio
foi feito a uma temperatura de 20 °C, na qual a viscosidade da água é de
10,29 x 10-6 g.s/cm².

4 (PINTO, 2006, p. 32) Quando se deseja conhecer a distribuição granulométrica


só da parte grosseira do solo (as frações areia e pedregulho), não havendo,
portanto, a fase de sedimentação, pode-se peneirar diretamente o solo no
conjunto peneiras?

5 (Adaptado de PINTO, 2006) Na Figura 8 são apresentados os resultados


de dois ensaios de granulometria por peneiramento e sedimentação de
uma amostra de solo: um com a utilização de defloculante e outro sem a
utilização de defloculante. Como interpretar a diferença de resultado? Esse
tipo de comportamento é comum a todos os solos?

74
FIGURA 8 – CURVA GRANULOMÉTRICA POR PENEIRAMENTO GROSSO E FINO
COM SEDIMENTAÇÃO
100
90
Porcentagem que passa (%)

80
70
60
50
40
30
20
Com defloculante
10
Sem defloculante
0
0,001 0,01 0,1 1 10
Diâmetro das partículas (mm)
FONTE: Borges (2014, p. 49)

6 O ensaio de Granulometria de uma amostra de solo é composto por duas


etapas: o peneiramento e a sedimentação. O peneiramento é realizado com
a amostra de solo em dimensões grandes, conhecido como solos grossos, e a
sedimentação é realizada para definir a granulometria da amostra de solos
finos. A seguir temos uma curva granulométrica de um solo. Responda:

a) Quais são as porcentagens/frações dos constituintes de grãos neste solo


estudado?
b) Ao analisar o gráfico, qual tipo de solo é este? Como podemos chamá-lo?

75
FIGURA 9 – CURVA GRANULOMÉTRICA POR PENEIRAMENTO GROSSO E FINO
COM SEDIMENTAÇÃO
100%
Porcentagem Passante (%)

90%

80%

70%

60%

50%

40%

30%

20%

10% Pedregulho
Argila

Areia M.

Areia G.
Areia F.
Silte

0%
0,001 0,01 0,1 1 10 100
Diâmetro dos Grãos (mm)
FONTE: A autora, adaptado de Massocco (2017)

7 A curva de granulometria é utilizada apenas para classificar os solos. Essa


afirmação é verdadeira ou falsa? Justifique.

76
8 Os itens a seguir referem-se ao ensaio de caracterização física dos solos,
denominado de análise granulométrica. Analise os itens quanto à sua
veracidade, assinalando V para verdadeiro e F para falso:

a) ( ) No ensaio de granulometria são determinados os tamanhos das


partículas que compõem o solo e as suas porcentagens de ocorrência,
possibilitando a elaboração da curva granulométrica.
b) ( ) Na curva granulométrica, o eixo das ordenadas representa os
diâmetros dos grãos.
c) ( ) Na realização do ensaio de granulometria, a secagem ao ar livre do
solo faz-se necessária para a etapa de destorroamento.
d) ( ) Apesar da secagem ao ar livre, o solo apresenta ainda um certo teor de
umidade, denominado de umidade de constituição.
e) ( ) No ensaio de granulometria, dependendo do diâmetro do solo, faz-se
necessário realizar o peneiramento grosso, o peneiramento fino e a
sedimentação.

77
78
UNIDADE 2 TÓPICO 2

PLASTICIDADE E CONSISTÊNCIA

1 INTRODUÇÃO
A distribuição granulométrica é uma forma que caracteriza o solo e seus
constituintes em frações equivalentes. Muitas vezes, a granulometria não caracteriza
bem solos finos, como argila e silte, necessitando, portanto, de outras formas de
análise. Existem outras maneiras de analisar o comportamento dos solos sob o
ponto de vista de engenharia, principalmente quando lidamos com os solos finos.

Segundo Pinto (2006, p. 24), quanto menores as partículas, maior é a


superfície específica (superfície das partículas divididas por seu peso ou por seu
volume). Dessa forma, faz com que o comportamento de partículas com superfícies
específicas tão distintas perante a água seja bastante diferenciado. As partículas
de minerais de argila diferem acentuadamente pela estrutura mineralógica, bem
como pelos cátions adsorvidos, dessa maneira, para a mesma porcentagem de
fração de argila, o solo pode ter comportamento muito diferente, dependendo
das características dos minerais.

Em solos finos, como siltes e argilas, é necessária a análise de outros


parâmetros, como: forma da partícula, composição mineralógica e química e as
propriedades plásticas, que estão relacionadas com o teor de umidade. Todos esses
fatores mostram a complexidade no estudo do comportamento do solo em argilas.

Sempre houve a necessidade de encontrar parâmetros do solo a partir


da adição de água. Como uma forma de analisar o comportamento das argilas
e siltes, o engenheiro Atterberg adaptou ensaios junto com Arthur Casagrande
para determinar índices e padronizar uma forma de analisar a plasticidade e
liquidez dos solos. Esses limites basearam-se nas variações no comportamento
do solo argiloso devido à quantidade de água presente em seus poros.

Este tópico explica os conceitos básicos para a caracterização do comportamento


plástico e da consistência dos solos com grande presença de argila. Estes, por serem
os mais complicados, requerem cuidado especial tanto na caracterização quando
na classificação, portanto, este tópico fornece informações sobre limite de liquidez,
limite de plasticidade, bem como os métodos de cálculo para fornecer tais limites.

79
UNIDADE 2 | O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS

2 ESTADOS DE CONSISTÊNCIA
Sabemos que há uma complexidade dos minerais-argilas, em termos
estruturais, químicos e físicos. Atterberg realizou pesquisas sobre as propriedades
dos solos finos (consistência). As pesquisas mostraram que o solo argiloso possui
aspectos distintos conforme seu teor de umidade, ou seja, quando há bastante
água, ele se comporta como líquido, quando diminui a umidade, torna-se plástico
e, por fim, quanto mais seco, faz-se quebradiço.

Esses fatores de comportamento do solo fino com a adição ou a retirada


de certa quantidade de água formam o conceito denominado por Atterberg:
consistência. Este termo se relaciona com o grau de resistência e plasticidade do
solo, que depende das ligações internas entre suas partículas. Estes solos finos,
chamados coesivos, mostram consistência plástica entre certos teores limites de
umidade, os quais denominamos: Limites de Atterberg ou limites de consistência.

Os limites confirmam que teores de água antes dessa fronteira estipulada


apresentam uma consistência sólida (chamamos de limite de contração) e após
essa linha uma consistência semissólida, também se percebem as mudanças de
estado entre as linhas LP (limite de plasticidade) e LL (limite de liquidez). A
Figura 10 corresponde a um gráfico que mostra os teores de umidade em relação
à variação de volume, estes, por sua vez, permitem caracterizar e diferenciar
diversos estados de uma massa amolgada de solo.

FIGURA 10 – ESTADOS E LIMITES DE CONSISTÊNCIA


Variação de volume (ΔV)

Vf

Sr < 100% Sr = 100%

Vi
Estado
líquido

Estado plástico
Vo
Estado
Estado sólido semi-sólido

0 LC LP LL

Teor de umidade (w%)


FONTE: Soares et al. (2006, p. 42)

80
TÓPICO 2 | PLASTICIDADE E CONSISTÊNCIA

Uma massa de solo argiloso no estado líquido (por exemplo, lama) não
possui forma própria e tem resistência ao cisalhamento nula. Retirando-se água
aos poucos, por secamento da amostra, a partir de um teor de umidade, esta
massa de solo torna-se plástica, quando passa a ter um teor de umidade constante
poderá ter sua forma alterada, sem apresentar uma variação sensível do volume,
ruptura ou fissuramento. Continuando o secamento da amostra, atinge-se um
teor de umidade no qual o solo deixa de ser plástico e adquire a aparência
de sólido, mas ainda apresentando uma variação de volume para teores de
umidade decrescentes, porém mantendo-se saturado, se encontrando no estado
semissólido. Finalmente, a partir de um teor de umidade, a amostra começará
a secar, mas a volume constante, até o secamento total, tendo atingido o estado
sólido (SOARES et al., 2006, p. 42).

ATENCAO

Os limites de plasticidade, liquidez e contração são os chamados limites de


consistência ou Limites de Atterberg.

Para Terzaghi, as propriedades de engenharia (isto é, a permeabilidade, a


compressibilidade e a resistência ao cisalhamento) dependem de fatores físicos,
tais como a forma das partículas, o seu diâmetro efetivo e o grau de uniformidade
do solo. Como os Limites de Atterberg também dependem desses fatores, com
base no seu conhecimento é possível fazer inferências sobre as propriedades
de engenharia de solos de mesma origem geológica. Foi de Terzaghi a ideia
de agrupar os solos com propriedades de engenharia análogas utilizando uma
classificação baseada nos Limites de Atterberg (MASSAD, 2016, p. 106).

Atualmente existem ensaios padronizados para determinar os aspectos


de limite de liquidez e plasticidade do solo, o qual será explicado nos próximos
itens. Porém, mesmo que estes limites possam ser encontrados a partir de ensaios
simples, ainda assim a interpretação física e o relacionamento quantitativo
dos seus valores, com os fatores de composição do solo, tipo e quantidade dos
minerais, tipo de cátion adsorvido, forma e tamanho das partículas e composição
da água, são difíceis e complexos (SOARES et al., 2006, p. 42).

81
UNIDADE 2 | O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS

3 LIMITE DE LIQUIDEZ
Percebemos que o limite de liquidez (LL) corresponde à faixa com que o
solo está em comportamento plástico limite, a partir desse momento, ao adicionar
água e assim, maiores valores de umidade para o solo remoldado começam a se
apresentar em estado líquido. A NBR 6459:2016 diz que o LL é o teor que separa o
estado de consistência líquido do plástico, no qual o solo apresenta uma pequena
resistência ao cisalhamento.

Para a determinação do limite de liquidez utiliza-se o equipamento de


Casagrande, e este tem esse nome pois refere-se ao desenvolvedor do equipamento.
Estudos deste pesquisador (1932) mostraram que, com a visualização do limite de
liquidez, é possível correlacionar com dados de resistência ao cisalhamento do solo.
A Figura 11 corresponde ao aparelho de Casagrande em que é possível verificar a
superfície de deslizamento. Seus estudos mostraram que resultados de limite de
liquidez correspondem à resistência entre de 2kPa a 3 kPa. Esses valores, considerados
baixos, resultam de resistência devida às forças atrativas entre partículas que, por sua
vez, estão relacionadas à atividade superficial dos argilominerais.

FIGURA 11 – EXEMPLO DO EQUIPAMENTO DE MEDIÇÃO DO LL E AS SUPERFÍCIES DE


DESLIZAMENTO COMO FORMA DE VERIFICAR A RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO

ANTES DO ENSAIO

DEPOIS DO ENSAIO
FONTE: A autora, adaptado de Soares et al. (2006)

82
TÓPICO 2 | PLASTICIDADE E CONSISTÊNCIA

A NBR 6459 (ABNT, 2016) define o procedimento de determinação do


limite de liquidez. A norma foi originalmente publicada em 1984 e formatada em
2016, com nenhuma mudança técnica, apenas de formatação.

Conforme a Figura 12, o aparelho consiste na formação de uma base dura,


uma concha de latão, um sistema de fixação da concha à base e um parafuso
excêntrico ligado a uma manivela, que, movimentada a uma velocidade constante,
de duas rotações por segundo, eleva a concha a uma altura padronizada, para,
a seguir, deixá-la cair sobre a base. Um cinzel (gabarito), com as dimensões
mostradas na mesma figura, completa o aparelho (SOARES et al., 2006, p. 47).

FIGURA 12 – APARELHO DE CASAGRANDE E SEUS ACESSÓRIOS

FONTE: Soares et al. (2006, p. 43)

ATENCAO

A escolha do cinzel dependerá do tipo de solo a ser trabalhado. Em solos argilosos


utiliza-se o cinzel cônico; no entanto, em solos arenosos, faz-se uso do cinzel achatado.

O solo utilizado no ensaio corresponde à fração que passa na peneira


de 0,42mm (#40) de abertura e uma pasta homogênea deverá ser preparada e
colocada na concha; utilizando o cinzel, deverá ser aberta uma ranhura, conforme
mostrado na Figura 13. No momento em que a concha vai batendo na base,
os taludes tendem a escorregar e a abertura na base da ranhura começa a se
fechar. O ensaio continua até que os dois lados se juntem, longitudinalmente,
por um comprimento igual a 10 mm, interrompendo-se o ensaio nesse instante
e anotando-se o número de golpes necessários para o fechamento da ranhura
(SOARES et al., 2006, p. 43).

83
UNIDADE 2 | O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS

FIGURA 13 – ENSAIO PARA OBTENÇÃO DO LIMITE DE LIQUIDEZ DE UM SOLO

FONTE: Pires (2011, p. 47)

ATENCAO

O limite de liquidez corresponde à umidade do solo para 25 golpes


encontrados no ensaio de Casagrande. A ideia é obter vários valores de golpes entre 35
e 15, obter umidades e, por fim, encontrar um gráfico/função umidade versus golpes, ao
substituir na função encontrada o valor de 25 golpes encontraremos o LL.

Processo executivo

O processo executivo segue a NBR6459:2016. Após a preparação da


amostra pela NBR6457, seguem-se os procedimentos:

1° Passo: Colocar a amostra na cápsula de porcelana e adicionar água destilada


em pequenos incrementos, amassando e revolvendo, vigorosa e continuamente
com o auxílio da espátula, de forma a obter uma pasta homogênea, com cerca
de 15 min (areias) e 30 min (argilas);

2° Passo: Transferir parte da mistura para a concha, moldando-a de forma que na


parte central a espessura seja na ordem de 10mm;

3° Passo: Realizar essa operação de maneira que não fiquem bolhas de ar no


interior da mistura;

4° Passo: Retornar o excesso de solo para a cápsula;

84
TÓPICO 2 | PLASTICIDADE E CONSISTÊNCIA

5° Passo: Dividir a massa de solo em duas partes, passando o cinzel através da


massa, de maneira a abrir uma ranhura em sua parte central, normalmente
à articulação da concha. O cinzel deve ser deslocado perpendicularmente à
superfície da concha;

NOTA

As operações do 4° e 5° passo devem ser realizadas com a concha na mão


do operador, e, quando houver dificuldades na abertura da ranhura, deve-se tentar obtê-la
por passagens sucessivas e cuidadosas com o cinzel.

6° Passo: Recolocar, cuidadosamente, a concha no aparelho e golpeá-la contra


a base, deixando-a cair em queda livre, girando a manivela à razão de duas
voltas por segundo. Anotar o número de golpes necessário para que as
bordas inferiores da ranhura se unam ao longo de 13mm de comprimento,
aproximadamente.

NOTA

Para começar o ensaio, a consistência tem que estar no ponto em que sejam
necessários cerca de 35 golpes para fechar a ranhura.

9° Passo: Com o resultado de aproximadamente 35 golpes. Transferir


imediatamente uma pequena quantidade do material de junto das bordas que
se uniram para um recipiente adequado para a determinação da umidade.

10° Passo: Transferir o restante da massa para a cápsula de porcelana. Lavar e


enxugar a concha e o cinzel.

11° Passo: Adicionar água destilada à amostra e homogeneizar durante pelo


menos três minutos, amassando e revolvendo vigorosa e continuamente com
auxílio da espátula.

12° Passo: Repetir as operações do 2° até o 6° passo, de modo a obter pelo menos
mais três pontos entre o intervalo de 35 a 15 golpes.

85
UNIDADE 2 | O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS

NOTA

Se a amostra apresentar umidade inferior à correspondente ao primeiro


ponto, proceder para o item 1.

Com esses dados, deve-se formar um gráfico no qual o eixo das abscissas
(em escala aritmética) sejam os teores de umidade; e o eixo das ordenadas (em
escala logarítmica) corresponda ao número de golpes; por fim, construir a reta
respeitando os pontos obtidos. O limite de liquidez corresponde à umidade
referente a 25 golpes e esse dado é expresso em porcentagem.

A Figura 14 corresponde a dados de limite de liquidez determinados pelo


ensaio de Casagrande. A Tabela 3 corresponde aos dados de golpes e a umidade
encontrada, esses dados correspondem a uma função com R² 0,79, e ao substituir
na função para 25 golpes, encontra-se o Limite de liquidez de 31%.

TABELA 3 – DADOS DE ENSAIO DE LIMITE DE LIQUIDEZ

Tentativa 1 Tentativa 2 Tentativa 3 Tentativa 4 Tentativa 5


Número de
40 37 18 26 16
golpes
Umidade (%) 30,49 29,75 31,76 30,95 31,45

FONTE: A autoram

FIGURA 14 – GRÁFICO PARA OBTENÇÃO DO LIMITE DE LIQUIDEZ DO SOLO


32
TEOR DE UMIDADE (%)

y= -1,716ln(x) + 36,447
32 R2= 0,7906
LL=31%
31

31

30

30
10 100
NÚMERO DE GOLPES (Esc Log)
FONTE: A autora

86
TÓPICO 2 | PLASTICIDADE E CONSISTÊNCIA

A NBR 6459 utiliza o padrão de cinco pontos para cinco umidades, com
esses dados é possível obter uma função (Figura 14), e assim, correlacionando o
valor de 25 golpes, encontra-se o limite de liquidez.

Olmstead e Johnston (1954) e WES (1949) também demonstram a


possibilidade de determinar o limite de liquidez a partir de um único ponto, e
assim, fazendo o procedimento do ensaio apenas uma vez, assim, faz-se uso das
equações (6) e (7) .

h
LL = (6)
1, 419 − 0,3log n

Onde: h é a umidade encontrada; n o número de golpes.

0,121
 n 
LL = h   (7)
 25 

Onde: h é a umidade encontrada no ensaio; n é o número de golpes.

4 LIMITE DE PLASTICIDADE
O Limite de plasticidade (LP) corresponde à umidade em que a água no
seu estado livre começa a existir em excesso, ou seja, numa quantidade maior que
aquela necessária para satisfazer a adsorção forte. Quando atinge o LP, a água
começa a formar a camada dupla. Pode ser também interpretado como o teor de
umidade limite, abaixo do qual o solo perde plasticidade, isto é, deforma-se, com
mudança de volume e trincamento (MASSAD, 2016, pág. 110).

Ao observar o gráfico de estado de consistência do solo, pode-se dizer que o LP


é o valor de umidade que corresponde à divisão entre o estágio semissólido e plástico.
A NBR7180 define o procedimento de determinação do limite de plasticidade.

O equipamento necessário à realização do ensaio é muito simples: tendo-se


apenas uma placa de vidro com uma face esmerilhada e um cilindro padrão com
3mm de diâmetro, conforme Figura 13. O ensaio inicia-se rolando, sobre a face
esmerilhada da placa, uma amostra de solo com um teor de umidade inicial próximo
do limite de liquidez, até que duas condições sejam, simultaneamente, alcançadas: o
rolinho tenha um diâmetro igual ao do cilindro padrão e o aparecimento de fissura
(início da fragmentação). O teor de umidade do rolinho, nesta condição, representa
o limite de plasticidade do solo (SOARES et al., 2006, p. 45).

87
UNIDADE 2 | O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS

FIGURA 15 – ENSAIO PARA OBTENÇÃO DO LIMITE DE PLASTICIDADE

FONTE: Ribeiro (2016, p. 19)

UNI

O limite de plasticidade é determinado pela repetição do ensaio em cinco


vezes. Por fim, a determinação do limite de liquidez é dada pela média das umidades
encontradas, devendo o erro não passar de 5% para mais ou para menos.

Processo executivo

O processo executivo segue a NBR7180: 2016. Após a preparação da


amostra pela NBR6457, seguem-se os procedimentos:

1° Passo: Colocar a amostra na cápsula de porcelana, adicionar água destilada em


pequenos incrementos, amassando e revolvendo, vigorosa e continuamente,
com o auxílio de espátula, de forma a obter uma pasta homogênea, de
consistência plástica.
2° Passo: Começa-se colocando a amostra na cápsula de porcelana e umedecendo-a
de forma contínua e devagar, revolvendo-a e tentando torná-la uma pasta
homogênea, com o auxílio da espátula.
3° Passo: Tomar cerca de 10 g da amostra assim preparada, formar uma pequena
esfera e manualmente rolá-la sobre a placa de vidro até que se forme um
cilindro com espessuras semelhantes ao gabarito.

88
TÓPICO 2 | PLASTICIDADE E CONSISTÊNCIA

4° Passo: A condição para que uma amostra de solo esteja no estado plástico
é a possibilidade de com ela ser possível moldar um cilindro de 10 cm de
comprimento por 3 mm de diâmetro, por rolagem, sobre uma placa de vidro.
5° Passo: Ao se fragmentar o cilindro, com diâmetro de 3mm e comprimento de 10
mm (o que se verifica com o gabarito de comparação), transferir imediatamente
as partes dele para um recipiente adequado, para determinação da umidade
conforme a NBR6457.
6° Passo: Repetir as operações de 3 a 5, e assim obter no mínimo três valores de
umidade.

ATENCAO

O Limite de plasticidade satisfatório de pelo menos três valores, e, nenhum


deles diferir da respectiva média em 5%.

5 LIMITE DE CONTRAÇÃO
Conforme a Figura 8, o limite de contração (LC) é a linha que separa os
estados semissólido e sólido, sendo, portanto, o valor de teor de umidade que o
solo deixa de contrair embora continue perdendo o peso.

Uma argila, inicialmente saturada e com um teor de umidade próximo ao


limite de liquidez, ao perder água, sofrerá uma diminuição do seu volume igual
ao volume de água evaporada, até atingir um teor de umidade igual ao limite de
contração. A partir deste valor, a amostra secará a volume constante (SOARES et
al., 2006, p. 45).

Percebe-se na Figura 16 o limite de contração, este por sua vez corresponde


aos aspectos básicos da teoria limite de contração. Este exemplo mostra o solo
com um volume inicial no item (a), logo após a perda de umidade o volume
diminui (b) e, por fim, há a diminuição de umidade sem a variação de volume,
caracterizando o limite de contração do sistema (c).

89
UNIDADE 2 | O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS

FIGURA 16 – ASPECTOS BÁSICOS DA TEORIA DO LIMITE DE CONTRAÇÃO

Água
VW Água WW Ar
V0 W0
Vf
Sólidos VS Sólidos WS Sólidos WS

(a) (b) (c)


FONTE: Soares et al. (2006, p. 45)

Ao analisar a Figura 16, percebe-se que o limite de contração é igual a (8):

Ww
LC = (8)
Ws

Com relação ao peso específico dos sólidos, o peso de água é calculado por (9):

Ww = V − Ws  × γ (9)
 f γ s  w

Por fim, resulta em (10):

W 1
LC =γw × s − 
 γs γs 

Caso o peso específico dos sólidos não seja conhecido, o limite de contração
é determinado por (10):

(V0 − V f )
LC = w0 − γ w × (10)
Ws

Onde: w0 é o teor de umidade de moldagem do corpo de prova.

Utiliza-se a NBR 7183:1982 para calcular o LC. No entanto, essa norma foi
cancelada devido ao desuso do setor. A norma previa as seguintes aparelhagens:
cápsula de porcelana, espátula, cápsula de contração para secagem da amostra.
Também se faz necessária a utilização de: régua de aço e cuba de vidro, placa
de vidro com pinos de metal, balança sensível a 0,1g, mercúrio suficiente para
encher a cuba de vidro e estufa.

90
TÓPICO 2 | PLASTICIDADE E CONSISTÊNCIA

FIGURA 17 – ENSAIO PARA OBTENÇÃO DO LIMITE DE CONTRAÇÃO


10

9
ANTES DO ENSAIO

DEPOIS DO ENSAIO

PLACA MERCÚRIO

FONTE: Soares et al. (2006, p. 46)

O ensaio em laboratório para determinar o limite de contração é realizado


inicialmente com a preparação da pasta, com teor de umidade aproximado ao limite
de liquidez e, após a preparação, é colocado em recipiente próprio e extraído o ar
contido na amostra. Após este processo leva-se a amostra para secar, no início ao ar
e, por fim, em estufa. O volume da pastilha seca é obtido imergindo-a em mercúrio
e determinando o peso do mercúrio extravasado (SOARES et al., 2006, p. 45).

a) ÍNDICE DE PLASTICIDADE

A diferença entre os limites de liquidez e plasticidade é considerado como


índice de plasticidade. Representa, portanto, a quantidade de água que é necessário
adicionar a um solo, para que ele passe do estado plástico para o estado líquido. A
equação (11) representa a diferença entre o LL e o LP caracterizando-se a sigla IP.

IP
= LL − LP (11)

O valor de IP tem como principal função caracterizar o quão plástico é


o solo, maiores índices (IP) correspondem a solos mais plásticos. Adicionado a
este fato, sabe-se que este item afeta o grau de compressibilidade dos solos, ou
seja, quanto maior o IP, mais características compressíveis tem o solo. A Tabela 4
corresponde à classificação do solo com relação à porcentagem de IP.

91
UNIDADE 2 | O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS

TABELA 4 – CONDIÇÕES DE PLASTICIDADE COM RELAÇÃO AO ÍNDICE DE PLASTICIDADE

Não plástico IP=0


Fracamente plástico 1 ≤ IP ≤ 7
Mediamente plástico 7 ≤ IP ≤ 15
Altamente plástico IP > 15

FONTE: Ribeiro (2016, p. 23)

Um material livre de argilas tem índice de plasticidade nulo, uma vez que
a plasticidade é uma propriedade específica das argilas. Quanto maior o índice de
plasticidade, mais compressível é a argila (RIBEIRO, 2016, p. 23).

b) ÍNDICE DE CONSISTÊNCIA

Quando deseja-se obter o estado do solo fino em campo, ou seja, natural,


opta-se pela descoberta do índice de consistência do solo. A NBR6502:1980 divide
essa condição em: mole, muito mole, médias, rijas e duras. O índice de consistência
é determinado pela equação (12):

LL − w
IC = (12)
IP

Onde: w é a umidade em campo, LL é o limite de liquidez e IP é o índice


de plasticidade.

O índice de consistência busca situar o teor de umidade do solo no


intervalo de interesse para a utilização na prática, ou seja, entre o limite de
liquidez e o de plasticidade. As argilas moles, médias e rijas situam-se no estado
plástico; as muito moles no estado líquido e as duras no estado semissólido.
Assim, quantitativamente cada um dos tipos pode ser identificado quando se
tratar de argilas saturadas, pelo índice de consistência através da Tabela 5.

TABELA 5 – CORRELAÇÕES COM DADOS DE ÍNDICE DE CONSISTÊNCIA E RESISTÊNCIA DO SOLO


Resistência
Classificação Identificação Gradação Nspt Estado
Kg/cm²
Escorrem entre os
Muito mole IC<0 R<0,25 ≤2 Líquido
dedos
Facilmente
Mole 0 ≤ IC<0,5 0,25 ≤ R<0,5 3a5 Plástico
moldável
Média Moldável 0,5 ≤ IC<0,75 0,5 ≤ R<1,0 6 a 10 Plástico

Dificilmente 0,75 ≤
Rija 1,0 ≤ R<4,0 11 a 19 Plástico
moldável IC<1,00
Não são
Dura IC ≥ 1,00 R ≥ 4,00 >19 Semissólido
moldáveis
FONTE: Ribeiro (2016, p. 23)

92
TÓPICO 2 | PLASTICIDADE E CONSISTÊNCIA

c) ÍNDICE DE LIQUIDEZ

O índice de liquidez (IL) corresponde às tensões que o solo sofreu em sua


história geológica. À medida que a umidade de um solo coesivo se aproxima do limite
inferior do estado plástico, maior será a resistência e sua compacidade (TERZAGHI;
PECK, 1976). Desse modo corresponde à fórmula para encontrar o IP (13):

w − LP
IL = (13)
LL − LP

Onde: w é a umidade do solo, LP é o limite de plasticidade e LL é o limite


de liquidez.

A Tabela 6 corresponde à classificação dos índices de liquidez com relação


às tensões no solo. Argilas normalmente adensadas têm índices de liquidez
próximos da unidade, ao passo que argilas pré-adensadas têm índices próximos
de zero. Valores intermediários para o índice de liquidez são frequentemente
encontrados. Excepcionalmente pode exceder a unidade, como no caso das argilas
extrassensíveis, ou pode ser negativo, como no caso das argilas excessivamente
pré-adensadas (SOARES et al., 2006, p. 48).

TABELA 6 – CLASSIFICAÇÃO DO ÍNDICE DE LIQUIDEZ

Argilas excessivamente pré-adensadas (h


IL< 0
natural menor que LP)
Argilas pré-adensadas (h natural próximo ou
IL ≈ 0 ou =0 igual ao LP)
Argilas normalmente adensadas (h natural
IL ≈ 1 ou =1 próximo ou igual ao LL)
Argilas extrassensíveis (h natural maior que
IL > 1
LL)

FONTE: Ribeiro (2016, p. 22)

d) ATIVIDADE DA ARGILA

A atividade da argila é um conceito empregado por estudos de Skempton


(1953). O autor percebeu que solos de mesma origem geológica, e assim com
os mesmos argilominerais, possuíam índices de plasticidade (IP) linearmente
crescentes de acordo com o aumento do teor da fração de argila (C). Dessa
maneira, a atividade de argila torna-se a relação entre o índice de plasticidade e a
porcentagem da fração argilosa menor que 2 microns (0,002 mm). A equação (14)
corresponde à atividade da argila:

IP
A= (14)
C
93
UNIDADE 2 | O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS

Onde: IP é o índice de plasticidade, e C é o teor da fração de argila no solo


para teores superiores a 40%.

Quanto maior a atividade de um solo, mais importante é a influência da


fração argila em suas propriedades e mais suscetível ele é aos tipos de íons trocáveis
e à composição dos fluidos dos poros. Uma atividade elevada indica um solo que
pode causar problemas em virtude de sua alta capacidade de retenção de água e de
troca catiônica e sua alta sensibilidade e tixotropia (MASSAD, 2016, p. 107).

DICAS

Tixotropia é o ganho de resistência de um solo após amolgamento ou


compactação, resulta de uma restauração (parcial) de um equilíbrio rompido, envolvendo
a água e os íons.

Com relação à faixa de atividade e tipo de argila, a Tabela 7 resume o valor


com o tipo de argilomineral.

TABELA 7 – ATIVIDADE DA ARGILA PARA CADA ARGILOMINERAL

Tipo de argilomineral Atividade da argila


Montmorilonita 5a7
Caulinita 0,3
Ilita 0,9

FONTE: Massad (2016, p. 107)

Trabalhos de Seed, Woodward e Lundgren (1964a, b) mostraram que


existe uma relação entre o limite de liquidez, o teor de argila e a atividade
do solo independentemente da sua composição mineralógica. Assim, solos
com a mesma origem geológica alinham-se aos gráficos de Casagrande e a
atividade é definida pela equação 14, no entanto, para solos com porcentagem
de argilominerais entre 10% e 40% houve melhor congruência dos valores com
a equação 15 (MASSAD, 2016, p. 107).

IP
A= (15)
C − 10

Onde: IP é o índice de plasticidade e C é o teor da fração de argila no solo


para teores entre 10% e 40%.

94
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Os estados de consistência são divididos em: líquido, plástico e de contração.


Os limites confirmam que teores de água antes dessa fronteira estipulada
apresentam uma consistência sólida (chamamos de limite de contração) e, após
essa linha, uma consistência semissólida, também se percebem as mudanças de
estado entre as linhas LP (limite de plasticidade) e LL (limite de liquidez).

• Para a determinação do limite de liquidez, utiliza-se o equipamento de


Casagrande, e este tem esse nome pois refere-se ao desenvolvedor do
equipamento. Estudos deste pesquisador (1932) mostraram que, com a
visualização do limite de liquidez, é possível correlacionar dados de resistência
ao cisalhamento do solo.

• O Limite de liquidez corresponde à umidade do solo para 25 golpes encontrados


no ensaio de Casagrande. A ideia é obter vários valores de golpes entre 35 e 15,
obter umidades e, por fim, encontrar um gráfico/função umidade versus golpes,
ao substituir na função encontrada o valor de 25 golpes encontraremos o LL.

A Figura 18 corresponde ao resumo do tópico estudado.

FIGURA 18 – RESUMO DO TÓPICO ESTUDADO

Plasticidade e Consistência

Estados de consistência

Limite de liquidez Limite de plasticidade Limite de contração

NBR6459:2016 BR7180:2016 NBR7183:1982

Índice de plasticidade/Índice de consistência/Índice de


liquidez/ atividades da argila

FONTE: A autora

95
AUTOATIVIDADE

1 A resistência e a compressibilidade de um solo variam de forma considerável


em função da consistência em que ele se encontra. A consistência de um
solo pode ser determinada a partir de um índice, denominado “Índice
de Consistência (IC)”. Dessa forma, analisando uma argila que apresenta
no campo um teor de umidade natural (hnat) de 23% e seus LL e LP são,
respectivamente, 28% e 15%, responda:

a) Em que estado de consistência (IC) se encontra essa argila?


b) Este solo é mais ou menos resistente que uma argila cujo índice de consistência
(IC) é igual a 0,2?

2 Os itens a seguir referem-se aos índices de consistência dos solos ou Limites


de Atterberg: limite de liquidez e limite de plasticidade. Analise os itens
quanto à sua veracidade, assinalando V para verdadeiro e F para falso:

a) ( ) O limite de liquidez (LL) e o limite de plasticidade (LP) não são teores


de umidade.
b) ( ) O LL e o LP são constantes de um solo e podem ser determinados
através de ensaios em laboratório.
c) ( ) O LP é o teor de umidade em percentual, no qual a transição do estado
semissólido para o plástico ocorre.
d) ( ) O LL é o teor de umidade em percentual, no qual a transição do estado
plástico para o líquido ocorre.
e) ( ) A plasticidade é uma propriedade que os solos finos apresentam, logo,
em um solo, quanto maior o percentual de argila, menor será a sua
plasticidade.

3 Os itens a seguir referem-se aos ensaios de caracterização física dos solos:


limite de liquidez (NBR 6459) e limite de plasticidade (NBR 7180). Analise
os itens a seguir e identifique F para Falso e V para Verdadeiro.

a) ( ) Para a realização do ensaio do Limite de Plasticidade e do Limite de


Liquidez, utilizar solo passante na peneira de 0,42mm.
b) ( ) O Limite de Plasticidade corresponde à umidade que o solo apresenta
ao se fragmentar formando um cilindro com diâmetro de 3 mm e
comprimento da ordem de 100 mm.
c) ( ) Na determinação do Limite de Plasticidade, para que o ensaio seja
satisfatório, pelo menos três umidades não podem diferir da respectiva
média de mais de 5% dessa média.
d) ( ) Na determinação do Limite de Liquidez, inicialmente, adiciona-se água
destilada na amostra em pequenos incrementos, de forma a obter uma
pasta homogênea, com consistência tal que sejam necessários cerca de
15 golpes para fechar a ranhura.

96
e) ( ) Na determinação do Limite de Liquidez, após obter a umidade
necessária para fechar a ranhura com cerca de 35 golpes, adicionar
mais água, de forma a obter, no mínimo, mais dois pontos de ensaio,
cobrindo o intervalo de 35 a 15 golpes.

4 Com a execução dos ensaios para a determinação do limite de liquidez e


limite de plasticidade foram obtidos os seguintes resultados:

Ensaio de Limite de Plasticidade


Cápsula N o
1 2 3 4 5
Cápsula + Solo Úmido (g) 9,66 8,24 9,94 13,03 8,96
Cápsula + Solo Seco (g) 9,31 7,82 9,49 12,63 8,44
Peso da Capsula (g)  8,59 6,95 8,59 11,75 7,44
Peso da Água (g)  0,35 0,42 0,45 0,40 0,52
Peso Solo Seco (g)  0,72 0,87 0,90 0,88 1,00
Teor de Umidade (%)  48,61 48,28 50,00 45,45 52,00

Ensaio Limite de Liquidez


Cápsula N0 6 7 8 9 10
Cápsula + Solo Úmido (g) 9,66 10,16 10,90 14,20 9,37
Cápsula + Solo Seco (g) 8,80 9,38 9,96 13,49 8,60
Peso da Cápsula (g) 7,63 8,23 8,55 12,49 7,52
Peso da Água (g) 0,86 0,78 0,94 0,71 0,77
Peso Solo Seco (g) 1,17 1,15 1,41 1,00 1,08
N . de Golpes
o
15 34 31 15 18
Teor de Umidade (%) 73,50 67,83 66,67 71,00 71,30

Determine:

a) Limite de Liquidez e o Limite de Plasticidade do solo.


b) O Índice de Plasticidade do solo. Classifique-o.

97
98
UNIDADE 2 TÓPICO 3

CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS

1 INTRODUÇÃO
Percebe-se que os diferentes tipos de solos mostram comportamentos
distintos, devido à sua diversidade e situação em que se encontra. Estas situações
determinadas pela engenharia enfatizam o agrupamento em conjuntos distintos
como forma de classificação das propriedades dos solos. Essa necessidade de
formar conjuntos e classificar o solo surgiu de maneira natural, consolidando os
vários tipos de classificação dos solos.

Em termos de engenharia, o principal objetivo da classificação dos solos,


segundo Pinto (2006, p. 64), é a possibilidade de estimar o provável comportamento
do solo ou, pelo menos, orientar o programa de investigação necessário para
proporcionar apropriada análise de uma problemática.

Até hoje a validez da classificação dos solos é colocada em dúvida, este


fato deve-se à variabilidade que os solos possuem; um exemplo prático é um solo
A e C, que possuem índices próximos aos limites e, por sua vez, apresentam-se em
grupos distintos (um é silte e outro argila, por exemplo), porém há possibilidade
de ter comportamento mais parecidos do que um solo B que apresenta a mesma
classificação do solo A. Este fato conclui que a utilização dos parâmetros de solos
em termos de resistência é mais aceitável do que propriamente sua condição
física. No entanto, Pinto (2006, p. 64) diz que a classificação é necessária para a
transmissão do conhecimento, pois quando um tipo de solo é citado, é primordial
que a designação seja entendida por todos, ou seja, é importante que exista um
sistema de classificação para categorizar.

A divisão do solo serve como primeiro passo para a previsão do seu


comportamento, pois ajuda a organizar as ideias e a orientar os estudos e o
planejamento das investigações para obtenção dos parâmetros mais importantes
para cada projeto. Na Engenharia há diversas formas de classificar os solos, tais
como: pela origem, pela evolução, estrutura, pelos preenchimentos de vazios, e
até mesmo pela quantidade de matéria orgânica presente.

Este tópico mostrará os principais sistemas de classificação, tais como:


Trilinear, Sistema Unificado, Sistema rodoviário de classificação, classificações
regionais e, por fim, algumas classificações com respeito à origem do solo.

Vamos começar?

99
UNIDADE 2 | O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS

2 SISTEMA TRILINEAR: USDA


Também conhecido como triângulo de Feret, este é utilizado para
identificar o tipo de solo a partir das porcentagens/frações de solos determinados
nos ensaios de granulometria (curva granulométrica), ou seja: a análise textural
que se refere à aparência da superfície.

Este método foi desenvolvido pelo Departamento de Agricultura dos


Estados Unidos (USDA) e parte do pressuposto de que no solo natural há misturas
de partículas de diversos tamanhos. Nesse sistema os solos são nomeados após os
principais componentes, como exemplo: solo areno-argiloso, que mostra que a maior
quantidade vem do percentual de areia presente no solo; além disso, a USDA possui
o tamanho padronizado dos grãos que corresponde ao tipo de solo (Tabela 8).

TABELA 8 – CLASSIFICAÇÃO GRANULOMÉTRICA PELO DEPARTAMENTO DE AGRICULTURA


DOS ESTADOS UNIDOS

Tamanho do grão [mm]


Pedregulho Areia Silte Argila
>2 2 a 0,05 0,05 a 0,002 <0,002

FONTE: Das e Khaled (2017, p. 25)

A análise baseia-se em um formato triangular em que o lado esquerdo


corresponde à porcentagem de argila e o lado direito, à porcentagem de silte
e, por fim, sobra a base do triângulo, que corresponde à quantidade de areia
determinada pelo ensaio de granulometria (Figura 19). Ao analisar o triângulo,
percebe-se a palavra “lemo” que, por Caputo (1988, p. 33), foi utilizada para
substituir as misturas de proporções variadas de argila, silte e areia.

A Figura 19 mostra um exemplo ao lado, ou seja, um solo com proporções:


40% de areia, 32% de argila e 28% de silte. Ao colocar estes dados no triângulo,
encontra-se um solo do tipo argila lemosa.

ATENCAO

Perceba que o triângulo de Feret só possui informações para solos finos, ou


seja, passantes na peneira de n° 10 (<2mm), porém, o que se deve fazer ao encontrar um
solo com pedregulhos? Obriga-se corrigir a porcentagem dos solos para a análise USDA,
ou seja, um solo com 20% de pedregulhos, 10% de areia, 30% de silte e 40% de argila tem,
na análise de Feret, de acordo com os 80% de finos (100%-20% de pedregulhos): 12,5% de
areia (10/80), 37,5% de silte (30/80) e 50% de argila (40/80).

100
TÓPICO 3 | CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS

FIGURA 19 – CLASSIFICAÇÃO USDA: TRIÂNGULO DE FERET

FONTE: A autora, adaptado de Christ (2016)

Embora a classificação textural do solo seja relativamente simples,


ela é baseada totalmente na distribuição de partículas. Para os engenheiros
geotécnicos faz-se necessária a análise de quantidade e o tipo de argilominerais
presentes em solos granulares finos, pois estes ditam uma grande extensão das
propriedades físicas. Existem outros métodos, como: AASHTO e SUCS, que
adicionam a análise da plasticidade do solo, ou seja, é possível interpretar os
argilominerais presentes no solo.

3 SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO (AASHTO)


Este sistema foi desenvolvido por volta de 1929, considerado um sistema de
classificação de Administração de Rodovia Pública, atualmente é utilizado pelos
engenheiros para qualificar solos para bases de estradas (rodovias e ferrovias)
e para construção de aterros. A norma que explica este método de classificação
é a ASTM D-3282 e é conhecida como American Association of State Highway and
Transportation Official (AASHTO).

101
UNIDADE 2 | O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS

Esta classificação divide o solo em sete grupos principais mais os solos


orgânicos: A-1 a A-7. Os solos que são classificados entre A-1 e A-3 são os
granulares, em que 35% do solo no máximo é passante na peneira n° 200. No
entanto, os solos com mais de 35% passante na peneira n° 200, os quais são
definidos por argila e siltes, são classificados: A-4, A-5, A-6, A-7. Os critérios
iniciais utilizados são os demonstrados na Tabela 9.

TABELA 9 – CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO AASHTO

1. Tamanho dos grãos 2. Plasticidade 3. Observações


a. Pedregulhos: Passa na O termo siltoso é aplicado quando
Se as pedras de calçada
peneira 75mm e fica retida na as frações de grãos finos do solo
e pedregulhos (tamanho
peneira de 10. têm índice de plasticidade de, no
maior que 75 mm) forem
b. Areia: Passa na peneira 10 e máximo, 10. encontradas, elas serão
fica retida na 200. O termo argiloso é aplicado quando excluídas da parte da
as frações de grãos finos têm um amostra de solo, porém
c. Silte e Argila: Passa na
índice de plasticidade de, pelo a porcentagem de tal
peneira 200. material é registrada.
menos, 11.

FONTE: A autora, adaptado de Das e Khaled (2017)

O primeiro passo para classificar o solo é pelas tabelas (Tabela 10, 11 e


Figura 20) desenvolvidas pela ASTM D-3282, em que se aplicam os dados de
ensaio da esquerda para a direita. Pelo processo de eliminação, o primeiro grupo
que se ajusta aos dados de ensaio é a classificação correta.

TABELA 10 – CLASSIFICAÇÃO DOS GRANULARES SUBGRADUADOS DE ESTRADA

Classificação Materiais granulares (35% ou menos da amostra total passam pela peneira
geral de n° 200)
Classificação de A-1 A-2
A-3
grupo A-1-a A-1-b A-2-4 A-2-5 A-2-6 A-2-7
Ensaio de
peneiramento
(porcentagem
passante)
50 no
N° 10 (2 mm)
máximo
30 no 50 no 51 no
N° 40 (0,42 mm)
máximo máximo máximo
15 no 25 no 10 no 35 no 35 no 35 no 35 no
N° 200 (0,075mm)
máximo máximo máximo máximo máximo máximo máximo
Características de
fração passante
n° 40

102
TÓPICO 3 | CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS

Limite de 40 no 41 no 40 no 41 no
Liquidez máximo mínimo máximo mínimo
Índice de 10 no 10 no 11 no 11 no
6 no máximo NP
Plasticidade máximo máximo mínimo mínimo
Tipos comuns
Fragmentos de
de materiais Areia
pedra, pedregulho Silte ou pedregulho argiloso e areia
constituintes fina
e areia
significantes
Avaliação Excelente para bom

FONTE: A autora, adaptado de Das e Khaled (2017, p. 98)

TABELA 11 – CLASSIFICAÇÃO DOS SILTES E ARGILAS SUBGRADUADOS DE ESTRADA

Materiais silte e argila (mais de 35% da amostra total passam pela


Classificação geral
peneira de n° 200)
A-7
Classificação de
A-4 A-5 A-6 A-7-5ª (IP≤LL-30)
grupo
A-7-6º(IP>LL-30)
Ensaio de
peneiramento
(porcentagem
passante)
N° 10 (2 mm)
N° 40 (0,42 mm)
N° 200 (0,075mm)
Características de
36 no
fração passante 36 no mínimo 36 no mínimo 36 no mínimo
mínimo
n° 40
41 no
Limite de Liquidez 40 no máximo 40 no máximo 41 no mínimo
mínimo
Índice de 10 no
10 no máximo 11 no mínimo 11 no mínimo
Plasticidade máximo
Tipos comuns
de materiais
Solos com silte Solos argilosos
constituintes
significantes
Avaliação Fraco para ruim

FONTE: A autora, adaptado de Das e Khaled (2017, p. 98)

103
UNIDADE 2 | O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS

FIGURA 20 – FAIXA DE LIMITE DE LIQUIDEZ E ÍNDICE DE PLASTICIDADE PARA SOLOS EM


GRUPOS DE A-2, A-4, A-5, A-6, A-7
100 IP [%]
90
80
70 A-7-6
60
50 A-2-6
40 A-6 A-2-7
30 A-7-5
20
10
A-2-4 A-4 A-2-5 A-5 L-[%]
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
FONTE: A autora, adaptado de Das e Khaled (2017, p. 99)

A Figura 20 corresponde a um gráfico que avalia a faixa de limite de liquidez


e índice de plasticidade para solos que estão no grupo A-2, A-4, A-5, A-6, A-7.

O próximo passo é determinar o índice de grupo (IG), este é responsável


pela análise da qualidade de um solo como subgraduado de estrada, e assim
verificar se este possui capacidade suporte suficiente como terreno de fundação
do pavimento. É determinado pela equação 16.

IG= 0, 2 × a + 0, 005 × a × c + 0, 01× b × d (16)

Onde:

a= Corresponde à porcentagem que passa na peneira n° 200 - 35 (%#200 - 35), caso


a porcentagem que passa for maior que 75% adota-se a=40%, se for menor que
35% adota-se a=0;
b= Corresponde à porcentagem que passa na peneira n° 200 – 15; se a % que passa
for maior que 55% adota-se 40%, se for menor que 15% adota-se b=0;
c= Valor de LL – 40; caso LL≥60% adota-se c=20, caso o LL < 40% adota-se c=0;
d= Valor do IP – 10; se IP > 30% adota-se d=20, se IP <10% adota-se d=0.

104
TÓPICO 3 | CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS

DICAS

Se a equação 16 fornece valores negativos de IG, deve-se considerar igual


a zero. O índice de grupo de solos que pertence a A-1, A-2-4, A-2-5, A-3 é sempre 0.
Geralmente o grau de desempenho de um solo com material subgraduado é inversamente
proporcional ao índice de grupo.

a) SISTEMA UNIFICADO DE CLASSIFICAÇÃO DO SOLO (SUCS)

O Sistema Unificado de Classificação do Solo teve origem com estudos


de Casagrande e atualmente é normatizado pela ASTM D-2487 e amplamente
utilizado como classificação para os diferentes tipos de solo na engenharia
geotécnica.

A classificação consiste a partir de análises obtidas pela Curva


Granulométrica e pelos Limites de Atterberg, defendidos por Casagrande (Limite
de liquidez e plasticidade), ou seja, para termos ideia do comportamento real do
solo, necessitamos da análise para solos grossos (granulometria) e a atividade
de solos finos (como o índice de plasticidade para a determinação da atividade
da argila). Com esses ensaios é possível determinar as seguintes informações
necessárias neste sistema:

a) Porcentagem de Pedregulhos (passante na peneira 76,2 mm e retido na de 4,75 mm);


b) Porcentagem de areia (passante na de 4,75 mm e retido na 0,075mm);
c) Porcentagem de silte e argila (passante na peneira de 0,075mm);
d) Coeficiente de uniformidade (Cu) e coeficiente de curvatura (Cc);
e) Limite de Liquidez e Plasticidade da fração do solo passante na peneira n° 40.

O sistema divide-se em duas categorias, a principal e a complementar.


A principal divide-se em solos arenosos ou pedregulho e argilosos a partir de
símbolos, e a complementar define as condições dos grãos (bem graduado,
mal graduado, plástico, não plástico e orgânico). A Tabela 12 corresponde aos
símbolos utilizados neste sistema unificado.

105
UNIDADE 2 | O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS

TABELA 12 – TERMINOLOGIA DO SISTEMA UNIFICADO

Grupo Principal
G Pedregulho
S Areia
M Silte
C Argila
O Solo orgânico
Grupo complementar
W Bem graduado
P Mal graduado
H Alta plasticidade
L Baixa plasticidade
Pt Turfas

FONTE: A autora

Após os ensaios e com a curva granulométrica, limite de liquidez e limite


de plasticidade realizados, chega-se à segunda etapa, em que se pode classificar
o solo em duas categorias:

a) Solos grossos: São solos que possuem a natureza de pedregulhos ou areias e


o passante pela peneira de 0,075mm seja menor que 50% do solo. Classifica-se
como G ou S.
b) Solos finos: São solos que possuem mais que 50% passante na peneira de
0,075mm. Classifica-se como C, M, O ou Tf.

A terceira etapa consiste em analisar a classificação empregada


dependendo do grupo em que está o solo estudado. A Tabela 13 resume as
nomenclaturas e análises deste método e a Figura 21 corresponde ao gráfico
proposto por Casagrande para análise em solos finos com a nomenclatura SUCS.
Neste gráfico, para a classificação do solo, basta plotar o par de valores IP e LL na
carta de plasticidade.

106
TÓPICO 3 | CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS

FIGURA 21 – CARTA DE PLASTICIDADE SUCS


70 IP [%]

60
- 8)
(LL CH
ou
50 =0,9 OH
IP
aU -20
)
40 nh L
Li 3 (L
=0,7
30 IP
A
n ha
Li
20 CL
ou MH
CL-ML OL ou
10 OH
ML
ou
OL
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 LL [%]
FONTE: Das e Khaled (2017, p. 101)

A norma D-2487 da ASTM criou um sistema mais detalhado para


determinar os nomes de grupos aos solos. Este sistema está resumido a partir das
Tabelas 14, 15 e 16.

TABELA 13 – SISTEMA UNIFICADO DE CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS (SUCS) – SIMPLIFICAÇÃO


Critérios para atribuir símbolos aos grupos Símbolo
Pedregulhos
Cu ≥ 4 e 1 ≤ Cc ≤ 3 GW
puros
Pedregulhos Menos de 5%
Mais de 50% da Cu < 4 e/ou 1> Cc > 3 GP
de finosa
fração grossa
Solos retida na Pedregulhos IP < 4 ou representado abaixo da
GM
grossos peneira n° 4 com finos linha A
Mais de Mais de 12% de IP > 7 e representado acima ou na
50% de GC
finosa,c linha A
material
retido na Areias Puras Cu ≥ 6 e 1 ≤ Cc ≤ 3 SW
peneira n° Areias Menos de 5%
200 Cu < 6 e/ou 1> Cc > 3 SP
50% ou mais da de finosb
fração grossa Areias com IP < 4 ou representado abaixo da
passa pela SM
finos linha A
peneira n° 4
Mais de 12% de IP > 7 e representado acima ou na
SC
finosb,c linha A

107
UNIDADE 2 | O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS

IP > 7 e representado acima ou na


CL
linha Ad
Siltes e Argilas Inorgânicos
IP < 4 ou representado abaixo da
Limite de ML
linha Ad
Solos Finos liquidez menor
50% ou que 50 Limite de liquidez - seco em estufa
< 0, 75
mais do Orgânicos limite de liquidez - não foi seco ; OL
material zona OL
passa pela IP representado acima ou na linha
peneira n° CH
Inorgânicos A
200 Siltes e Argilas
Limite de IP representado abaixo da linha A MH
liquidez de 50 Limite de liquidez - seco em estufa
ou mais < 0, 75
Orgânicos limite de liquidez - não foi seco ; OH
zona OH
Solos
altamente Matéria essencialmente orgânica, de cor escura e odor orgânico Pt
orgânicos

W – bem graduado; P – mal graduado; L – baixa plasticidade; H – alta


plasticidade; S – areia; G – pedregulho; M – silte; C – argila
a
Pedregulhos com 5 a 12% de finos exigem classificação com dois símbolos: GW-GM, GW-GC, GP-GM, GP-GC.
b
Areias com 5 a 12% de finos exigem classificação com dois símbolos: SW-SM, SW-SC, SP-SM, SP-SC.
c
Se 4 ≤ IP ≤ 7 e é representado na área hachurada da carta de plasticidade, use classificação com dois símbolos
GC-GM ou SC-SM.
d
Se 4 ≤ IP ≤ 7 e é representado na área hachurada da carta de plasticidade, use classificação com dois símbolos CL-ML.
FONTE: A autora, adaptado de Das e Khaled (2017)

TABELA 14 – CLASSIFICAÇÃO (SUCS) PARA SOLO COM PEDREGULHO E AREIA

Símbolo do
Nome do grupo
Grupo
<15% de areia Pedregulho bem graduado
GW
≥15% de areia Pedregulho bem graduado com areia
<15% de areia Pedregulho mal graduado
GP
≥15% de areia Pedregulho mal graduado com areia
<15% de areia Areia bem graduada com silte
GW-GM
≥15% de areia Pedregulho bem graduado com silte e areia
<15% de areia Pedregulho bem graduado com argila (ou argila siltosa)
GW-GC Pedregulho bem graduado com argila e areia (ou areia
≥15% de areia
e argila siltosa)
<15% de areia Pedregulho mal graduado com silte
GP-GM
≥15% de areia Pedregulho mal graduado com silte e areia
<15% de areia Pedregulho mal graduado com argila (ou argila siltosa)
GP-GC Pedregulho mal graduado com argila e areia (ou argila
≥15% de areia
siltosa e areia)

108
TÓPICO 3 | CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS

<15% de areia Pedregulho siltoso


GM
≥15% de areia Pedregulho siltoso com areia
<15% de areia Pedregulho argiloso
GC
≥15% de areia Pedregulho argiloso com areia
<15% de areia Pedregulho argilo-siltoso
GC-GM
≥15% de areia Pedregulho argilo-siltoso com areia
<15% de
Areia bem graduada
pedregulho
SW
≥15% de
Areia bem graduada com pedregulho
pedregulho
<15% de
Areia mal graduada
pedregulho
SP
≥15% de
Areia mal graduada com pedregulho
pedregulho
<15% de
Areia bem graduada com siltes
pedregulho
SW-SM
≥15% de
Areia bem graduada com silte e pedregulho
pedregulho
<15% de
Areia bem graduada com argila (ou argila siltosa)
pedregulho
SW-SC
≥15% de Areia bem graduada com argila e pedregulho (ou argila
pedregulho siltosa e pedregulho)
<15% de
Areia mal graduada com silte
pedregulho
SP-SM
≥15% de
Areia mal graduada com silte e pedregulho
pedregulho
<15% de
Areia mal graduada com argila (ou argila siltosa)
pedregulho
SP-SC
≥15% de Areia mal graduada com argila e pedregulho (ou argila
pedregulho siltosa e pedregulho)
<15% de
Areia siltosa
pedregulho
SM
≥15% de
Areia siltosa com pedregulho
pedregulho
<15% de
Areia argilosa
pedregulho
SC
≥15% de
Areia argilosa com pedregulho
pedregulho
<15% de
Areia argilo-siltosa
pedregulho
SC-SM
≥15% de
Areia argilo-siltosa com pedregulho
pedregulho

FONTE: A autora, adaptado de Das e Khaled (2017)

109
TABELA 15 – NOMES DE GRUPOS PARA SOLOS COM SILTE E/OU ARGILOSOS INORGÂNICOS
<15% retido na n° 200   Argila de baixa plasticidade
<30% retido na n° %areia≥%pedregulho Argila de baixa plasticidade com areia
200 15%-29% retido na
n° 200 Argila de baixa plasticidade com
%areia<%pedregulho
IP>7 e pedregulho
representado <15% pedregulho Argila de baixa plasticidade arenosa
CL
acima ou na linha %areia≥%pedregulho Argila de baixa plasticidade com
A ≥15% pedregulho
≥30% retido na pedregulho
n° 200 <15% de areia Argila pedregulhosa de baixa plasticidade
%areia<%pedregulho Argila pedregulhosa de baixa plasticidade
≥15% de areia
com areia
<15% retido na n° 200   Argila siltosa
<30% retido na n°
15%-29% retido na %areia≥%pedregulho Argila siltosa com areia
200
UNIDADE 2 | O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS

Inorgânicos 4≤IP≤7 e n° 200 %areia<%pedregulho Argila siltosa com pedregulho


LL<50 representado
CL-ML <15% pedregulho Argila silto-arenosa
acima ou na linha %areia≥%pedregulho

110
A ≥30% retido na n° ≥15% pedregulho Argila silto-arenosa com pedregulho
200 <15% de areia Argila silto-pedregulhosa
%areia<%pedregulho
≥15% de areia Argila silto-pedregulhosa com areia
<15% retido na n° 200   Silte
<30% retido na n°
15%-29% retido na %areia≥%pedregulho Silte com areia
200
n° 200 %areia<%pedregulho Silte com pedregulho
IP<4 ou
representado ML <15% pedregulho Silte arenoso
abaixo da linha A %areia≥%pedregulho
≥30% retido na ≥15% pedregulho Silte arenoso com pedregulho
n° 200 <15% de areia Silte pedregulhoso
%areia<%pedregulho
≥15% de areia Silte pedregulhoso com areia
OL (ir para Tabela
Orgânicos OL Ir na tabela x      
x)
<15% retido na n° 200   Argila de alta plasticidade
<30% retido na n°
15%-29% retido na %areia≥%pedregulho Argila de alta plasticidade com areia
200
n° 200 %areia<%pedregulho Argila de alta plasticidade com pedregulho
IP representado <15% pedregulho Argila arenosa de alta plasticidade
acima ou na linha   %areia≥%pedregulho Argila arenosa de alta plasticidade com
A ≥15% pedregulho
≥30% retido na pedregulho
n° 200 <15% de areia Argila pedregulhosa de alta plasticidade
%areia<%pedregulho Argila pedregulhosa de alta plasticidade
Inorgânicos ≥15% de areia
com areia
 
<15% retido na n° 200   Silte elástico
<30% retido na n°
15%-29% retido na %areia≥%pedregulho Silte elástico com areia
200
n° 200 %areia<%pedregulho Silte elástico com pedregulho
IP representado
MH <15% pedregulho Silte elástico arenoso
abaixo da linha A %areia≥%pedregulho

111
≥30% retido na ≥15% pedregulho Silte elástico arenoso com pedregulho
n° 200 <15% de areia Silte elástico pedregulhoso
%areia<%pedregulho
≥15% de areia Silte elástico pedregulhoso com areia
OH (ir para Tabela
Orgânicos OH Ir na tabela x      
x)

FONTE: A autora, adaptado de Das e Khaled (2017)


TÓPICO 3 | CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS
TABELA 16 – NOMES DE GRUPOS PARA SOLOS COM SILTE ORGÂNICO E SOLOS ARGILOSOS

<15% retido na n° 200   Argila orgânica


<30% retido na n° 200 %areia≥%pedregulho Argila orgânica com areia
IP≥4 e 15-29% retido na n° 200
representado %areia<%pedregulho Argila orgânica com pedregulho
acima ou na linha <15% de pedregulho Argila orgânica arenosa
%areia≥%pedregulho
A ≥15% de pedregulho Argila orgânica arenosa com pedregulho
≥30% retido na n° 200
<15% de areia Argila orgânica pedregulhosa
%areia<%pedregulho
≥15% de areia Argila orgânica pedregulhosa com areia
OL
<15% retido na n° 200   Silte orgânico
<30% retido na n° 200 %areia≥%pedregulho Silte orgânico com areia
15-29% retido na n° 200
IP<4 ou %areia<%pedregulho Silte orgânico com pedregulho
representado <15% de pedregulho Silte orgânico arenoso
abaixo da linha A %areia≥%pedregulho
≥15% de pedregulho Silte orgânico arenoso com pedregulho
≥30% retido na n° 200
UNIDADE 2 | O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS

<15% de areia Silte orgânico pedregulhoso


%areia<%pedregulho
≥15% de areia Silte orgânico pedregulhoso com areia

112
<15% retido na n° 200   Argila orgânica
<30% retido na n° 200 %areia≥%pedregulho Argila orgânica com areias
15-29% retido na n° 200
Representado %areia<%pedregulho Argila orgânica com pedregulho
na ou acima da <15% de pedregulho Argila orgânica arenosa
linha A %areia≥%pedregulho
≥15% de pedregulho Argila orgânica arenosa com pedregulho
≥30% retido na n° 200
<15% de areia Argila orgânica pedregulhosa
%areia<%pedregulho
CH ≥15% de areia Argila orgânica pedregulhosa com areia
<15% retido na n° 200   Silte orgânico
<30% retido na n° 200 %areia≥%pedregulho Silte orgânico com areia
15-29% retido na n° 200
%areia<%pedregulho Silte orgânico com pedregulho
Registro abaixo
<15% de pedregulho Silte orgânico arenoso
da linha A %areia≥%pedregulho
≥15% de pedregulho Silte orgânico arenoso com pedregulho
≥30% retido na n° 200
<15% de areia Silte orgânico pedregulhoso
%areia<%pedregulho
≥15% de areia Silte orgânico pedregulhoso com areia
FONTE: A autora, adaptado de Das e Khaled (2017)
TÓPICO 3 | CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS

b) CLASSIFICAÇÕES REGIONAIS

Os sistemas mencionados de classificação são bastante utilizados,


porém seu uso e estudo adequou-se a regiões temperizadas (utilização em solos
transportados), e faz com que haja a necessidade de outras classificações para
outras regiões.

Em regiões tropicais, a maior parte dos solos, em função das suas


características físico-químicas originárias do processo de formação, apresenta alta
porosidade e grande sensibilidade das ligações cimentícias em presença de água,
sobretudo quando estas correspondem a solos argilosos. A atuação diferenciada
do intemperismo aliada aos aspectos geológicos, entre outros fatores, faz com
que as propriedades desses solos apresentem uma grande variabilidade, por isso
necessitam de estudos regionalizados.

Os solos comuns nessas regiões são comumente conhecidos como


saprolíticos (residuais) e lateríticos, o que foi explicado na Unidade 1 deste livro.

Uma proposta de sistema de classificação dos solos tropicais é a defendida por


Nogami e Villibor (1995) e (2009). Nesse sistema, os solos são classificados primeiramente
em areias, siltes e argilas e secundariamente em lateríticos e saprolíticos.

No Brasil também existe o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos


(SIBCS). Este sistema é bastante detalhado e teve como objetivo definir um
sistema hierárquico, multicategórico, que busca a adição de novas classes e que
torne possível a classificação de todos os solos existentes no território nacional.

113
UNIDADE 2 | O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS

LEITURA COMPLEMENTAR

PERFIS TÍPICOS DE SOLOS TROPICAIS NO BRASIL

Paulo Burgos

O Brasil é um país imenso, e por ser um País localizado em uma região


tropical, apresentam-se perfis típicos de solos que permanecem na grande parte
do tempo em um estado não saturado.

Na parte costeira da região Nordeste (Figura 1), por exemplo,


caracterizam-se por solos transportados, e o indicativo de cor avermelhada
significa a composição de íons ferro-aluminosos, no entanto na parte inferior,
o solo está na coloração esbranquiçada indicando material silicoso. A umidade
para essa evolução vem, principalmente, da brisa soprada do mar. Além disso,
observa-se que mesmo sendo um perfil de areia do mar, a região mais elevada
topograficamente sofre menos erosão, e isto se deve à cimentação produzida
pelos materiais ferro-aluminosos.

FIGURA 1 – PERFIL COSTEIRO EM CANOA QUEBRADA, CEARÁ

FONTE: W. Conciani apud Burgos (2015, p. 31)

A Figura 2 corresponde a um perfil de solo típico da região centro oeste,


este solo também denominado saprolítico de encosta. O material exposto é parte
saprolítico e parte rocha alterada.
114
TÓPICO 3 | CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS

FIGURA 2 – PERFIL DE SOLO RESIDUAL DE ROCHA SEDIMENTAR, SALVADOR – BA

FONTE: Moacyr Schwad apud Burgos (2015, p. 33)

Na região Sudeste é comum perfis de solos residuais, a Figura 3 mostra


um perfil de solo no Rio de Janeiro, às margens da BR 116. Este perfil representa
um corte que mostra a estratificação do solo, em que no topo do perfil, o solo
mais marrom, da camada superficial é considerado o mais maduro, e, em seguida
com uma camada de transição, de cor mais clara, separada por uma linha roxa. O
trecho mais baixo possui cor cinza claro, quase branco, e indica um acúmulo de
material silicoso.

FIGURA 3 – PERFIL DE SOLO SAPROLÍTICO EM PARATINGA MATO GROSSO

FONTE: W. Conciani apud Burgos (2015, p. 33)

115
UNIDADE 2 | O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS

Devido às limitações dos procedimentos tradicionais de classificação no


que se refere aos solos tropicais, os ensaios tradicionais explicados nesta apostila
muitas vezes não caracterizam o solo tropical de forma correta, por exemplo, não
se consegue analisar se o solo possui características lateríticas e expansibilidade.
Assim uma metodologia recomendada para solos tropicais foi apresentada por
Nogami e Villibor (1995) e (2009) conhecida como a Classificação Geotécnica
M.C.T (Miniatura, Compactado, Tropical), esses autores analisaram que alguns
solos com mesmas características de limite de liquidez e limite de plasticidade,
possuíam grau de expansibilidade diferenciados entre eles.

A classificação MCT pelo método das pastilhas por Nogami e Villibor


(1995) constitui-se que a partir de dados de penetração (mm) e contração diametral
(mm) obtém-se o grupo ao qual o solo pertence. A Figura 4 mostra uma das cartas
para identificação do solo.

FIGURA 4 – CARTA DE CLASSIFICAÇÃO DO MÉTODO DAS PASTILHAS


Coeficiente c'
0,2 0,5 0,9 1,3 1,7
5
NA-NS' NS'-NA' NS'/NA' NS'-NG'
4
NA
Penetração (mm)

2
LA
1
LA-LA' LA' LA'-LG' LG'
0
0,15 0,22 0,55 0,9 1,4
Contração diametral (mm)
FONTE: Nogami e Villibor (1995)

A Figura 4 indica três grupos correspondentes aos solos de comportamento


lateríticos – L (LA, LA’ e LG’) e os quatro grupos de solos de comportamento
saprolítico – N (NA, NA’NS’ e NG’). Os solos lateríticos subdivididos com a letra
L são classificados em areia lateríticas quartzosa (LA), solo arenoso lateríticos
(LA’), solo argiloso lateríticos (LG’). Os solos de comportamento não lateríticos
(saprolítico), designados pela letra N, são subdivididos em: areias, siltes e misturas
de siltes com predominância de grão de quartzo e/ou mica, não laterítico (NA);
misturas de areias quartzosas com finos de comportamento não lateríticos, solo
arenoso (NA’); solo siltoso não lateríticos (NS’) e solo argiloso não lateríticos (NG’).

116
TÓPICO 3 | CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS

Nogami e Villibor (2009) aperfeiçoou o método e com a adição de duas


técnicas: ensaio de perda de massa por imersão em água e ensaio de compactação
mini-M.C.V, pode-se utilizar a carta de classificação disposta na Figura 5.

FIGURA 5 – CLASSIFICAÇÃO MCT A PARTIR DE ENSAIOS DE IMERSÃO E M.C.V


0,27 0,45 0,70 1,70
Índice e'

2,0
L = LATERÍTICO
NA N = NÃO LATERÍTICO
1,75 NS' A = AREIA
A' = ARENOSO
G' = ARGILOSO
S' = SILTOSO
1,5
1,40
NA' NG'
1,15
1,0
LA LX' LG'

0,5
0,7
00 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0
Coeficiente e'
FONTE: Nogami e Villibor (2009)

A nova classificação MCT foi elaborada a partir dos coeficientes c’ ( eixo


das abscissas) e e’ (eixo das ordenadas), esses valores são retirados das técnicas
do ensaio mini MCV e da perda de massa por imersão.

FONTE: <https://www.abms.com.br/links/bibliotecavirtual/livros/Solos_nao_saturados_no_
contexto_geotecnico_2015.pdf>. Acesso em: 4 jan. 2019.

117
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• É possível classificar o tipo de solo pelo sistema Trilinear: esta classificação


necessita apenas da curva granulométrica.

• A classificação do tipo de solo pelo sistema rodoviário, que é bastante utilizado


na engenharia rodoviária, necessita da curva granulométrica e os índices de
Atterberg.

• O sistema Unificado é amplamente utilizado e necessita de dados da curva


granulométrica e índices de Atterberg.

• Essas classificações são insuficientes quando lidamos com solos de regiões não
intemperada, como é o caso dos solos tropicais, para isso temos ensaios como
MCT e SIBCS.

A Figura 22 corresponde ao resumo do tópico estudado.

FIGURA 22 – RESUMO DO TÓPICO ESTUDADO

Classificação dos solos

Sistema Trilinear Sistema de Sistema Unificado Classificação


(USDA) Classificação de Classificação Regional
(AASHTO) do solo (SUCS)

Departamento de
Agricultura dos ASTM D-3282 ASTM D-2487 MCT; SIBCS
USA
FONTE: A autora

118
AUTOATIVIDADE

1) Na figura a seguir estão as curvas granulométricas de diversos solos, cujos


índices de consistência estão indicados no quadro a seguir. Determine a
classificação de oito desses solos pelos métodos SUCS e AASHTO. Para os
solos argilosos, determine os índices de atividade da argila e para os solos
arenosos, os índices de consistência (adaptado de PINTO, 2006, p. 75).

QUADRO 1 – CURVAS GRANULOMÉTRICAS


Solo Descrição do solo LL IP
A Argila orgânica de Santos 120 75
B Argila porosa laterítica 80 35
C Solo residual de basalto 70 42
D Solo residual de granito 55 25
E Areia variegada de São Paulo 38 20
F Solo residual de arenito 32 12
G Solo residual de migmatito 44 18
H Solo estabilizado para pavimentação 24 3
I Areia fluvial fina NP NP
J Areia fluvial média 1 NP NP
K Areia fluvial média 2 NP NP

Peneira
#200
100

90

80 (a)
70 (b)
Porcentagem passada

60

50 (c)

40
(d)
30 (e)
(f)
20
(g)
10
(h)
0 (i) (i) (k)
0,001 0,01 0,1 1 10
Diâmetro dos grãos (mm)

119
120
UNIDADE 3

INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS


SOLOS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• definir os conceitos de tensões no solo;

• entender a influência da permeabilidade e percolação da água no solo;

• entender e diferenciar os ensaios geotécnicos para cada condição do solo.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO ÀS TENSÕES NO SOLO

TÓPICO 2 – PERMEABILIDADE E PERCOLAÇÃO DE ÁGUA NO SOLO

TÓPICO 3 – INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO

121
122
UNIDADE 3
TÓPICO 1

INTRODUÇÃO ÀS TENSÕES NO SOLO

1 INTRODUÇÃO
Na Engenharia Civil lidamos com infraestrutura, seja ela para construir
fundações, aterros ou propor melhorias nas condições do solo. Assim, tudo o que
está acima do solo e o próprio depósito geram tensões sobre a partícula, pois o
solo funcionará como suporte para distribuir e dissipar as tensões até a uma certa
profundidade.

Para a assimilação do comportamento do solo em frente às cargas em


que este é solicitado, o entendimento das tensões dissipadas na estrutura do
solo se faz necessário para iniciarmos os estudos e para termos a capacidade de
compreender como a estrutura reage em diferentes composições e solicitações.
Além disso, é conveniente entendermos as tensões que são causadas pelo peso
próprio e pela água.

Para os alunos de graduação, os conceitos mais utilizados são os princípios


de Terzaghi (1963). Estes definem que a estrutura do solo – e a consequente saída
de água – é a responsável pela deformação, na interpartícula. Assim, determinada
como tensão efetiva, esta é a tensão total aplicada ao solo menos a poropressão,
embasado em um fenômeno teste.

A estrutura solo-água-ar é capaz de se deformar quando existe exposição


de diversas solicitações, desse modo, para compreendermos o comportamento
dessa estrutura é importante conhecermos as tensões que atuam no solo.

Vamos começar?

123
UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS

2 CONCEITO DE TENSÕES
O conceito de tensão no solo, segundo Pinto (2006), inicia-se no momento
em que tratamos o meio solo constituído de partícula (solo), água e ar, desse
modo, as forças fornecidas a eles são transmitidas de grão em grão, além das que
são suportadas pela água dos vazios.

O princípio de tensão parte da fórmula básica (1), em que a tensão é força


aplicada sobre uma área qualquer.

F
σ= (1)
A

Ao aplicar essa força ela exerce uma transmissão, podendo comprimir o


material, e este material pode conseguir suportar essa carga ou não. No caso do
solo, pode haver compressão e, assim, reduzir os vazios e mobilizar os grãos.
A Figura 1 serve para exemplificar o comportamento de um sistema antes da
aplicação de uma carga e após aplicação da carga (com variação de volume).

FIGURA 1 – COMPORTAMENTO DE UM SISTEMA ANTES DA APLICAÇÃO E DEPOIS COM


APLICAÇÃO DE CARGA E VARIAÇÃO VOLUMÉTRICA

FONTE: A autora

Quando se começa a analisar a aplicação de força sobre o solo, verifica-


se que as forças são transmitidas de partícula a partícula, e esta transmissão é
bastante complexa, porque depende do tipo de mineral de que aquele solo é
composto. Para solos arenosos (areia e siltes), em que o diâmetro do grão na
grande maioria é considerado grande (maiores que 0,072 mm), a transferência se
faz pelo contato direto do grão. Para solos tidos como argila (grãos menores que
0,072 mm), as forças de cada contato são muito pequenas e a transmissão pode
ocorrer por água adsorvida. Segundo Pinto (2006, p. 96), a transmissão ocorre nos
contatos, e, portanto, em áreas muito reduzidas em relação à área total cercada.

124
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO ÀS TENSÕES NO SOLO

A Figura 2 corresponde à exemplificação de que a transmissão de carga


depende do tipo de mineral. Percebe-se a magnitude entre solos arenosos (não
coesivos) e solos argilosos (coesivos).

FIGURA 2 – COMPORTAMENTO DAS TENSÕES EM RELAÇÃO AO TIPO DE SOLO

σ = F/A
Depende do material

Solos não coesivos - Solos coesivos -


arenosos solos argilosos

FONTE: A autora

Para exemplificar, e entender o comportamento, Pinto (2006, p. 95) utilizou


um corte de um solo e ampliou em escala (Figura 3) com uma placa; com isto, foi
possível analisar as tensões envolvidas de grão em grão.

FIGURA 3 – CONCEITO DE TENSÕES APLICADO NO SOLO

FONTE: Adaptado de Pinto (2006)

125
UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS

Ao analisar a Figura 3, percebe-se que os grãos transmitem forças à placa,


estas forças podem ser decompostas em tangenciais e normais à placa. Como
é difícil desenvolver modelos matemáticos com base nas inúmeras forças, a
sua ação é substituída pelo conceito de tensões. Desse modo, a somatória das
componentes normais ao plano, dividida pela área total que abrange as partículas
em que os contatos ocorrem, é definida por tensão normal, dada pela equação 2.

σ= ∑N (2)
área

No entanto, a somatória das forças tangenciais, dividida pela área, refere-


se como tensão cisalhante, que é demonstrada pela equação (3).

∑N
τ= (3)
área

Ao analisar as tensões cisalhantes no solo, estas são anuladas pelo conjunto


de tensão em vários sentidos. Desse modo, o conceito de tensão apresentado conduz
ao conceito de tensão do meio contínuo, assim não está cogitando se um ponto no
sistema está ocupado por vazio ou solo. Assim, o que será mostrado são as tensões
atuantes em planos horizontais no interior do subsolo (PINTO, 2006, p. 96).

3 TENSÕES DEVIDO AO PESO PRÓPRIO: CONDIÇÃO SECA


OU NATURAL
As tensões no solo são causadas por dois fatores: peso próprio do solo e
cargas externas. No entanto, a principal tensão no solo é o próprio peso do solo,
por isso merece ser estudado e entendido para posterior análise com carga externa.

Para entendermos o conceito das tensões normais no solo, utilizamos um


perfil de solo. A Figura 4 corresponde a um perfil qualquer, e, ao seu lado, as
componentes x (largura), y (comprimento) e h (altura da camada de solo), para
iniciarmos nossas análises.

126
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO ÀS TENSÕES NO SOLO

FIGURA 4 – PERFIL DE SOLO

y
FONTE: A autora, adaptado de <https://binged.it/2E6jLS1>.

Sabemos que a definição de tensões normais é dada pela equação (2).


Como, para este caso, o solo encontra-se na condição seca, e sabe-se que a principal
causadora de tensão é o próprio peso do solo, desse modo substituiremos na equação
(2), na força normal, o peso próprio do solo, e assim se define a nova fórmula (3):

σ= ∑N (3)
área

Onde: W é o peso próprio da coluna analisada, Área é a área da base da


Figura 4.

O peso próprio do solo é definido pela equação (4), que corresponde ao


peso específico do solo pelo volume analisado:

W = γ × x × y × h (4)

Substituindo a equação (3) na (4), temos:

ã
×
γ x×y×h
σ = (5)
x×y

127
UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS

Desse modo surge a definição de tensão normal do solo, finalizada pela


equação (6).

σ = γnatural×h (6)
Onde: γ é o peso específico do solo natural ou seco.

Desse modo, o peso de um prisma de terra corresponde às tensões verticais


em dado ponto. Quando o solo é constituído de camadas aproximadamente
horizontais, a tensão vertical resulta no somatório do efeito das diversas camadas
(PINTO, 2006, p. 97).

Vamos fazer um exemplo? A Figura 5 corresponde a um solo sem nível


de água, na condição seca, este solo é estratificado com dois tipos diferentes,
mostrados abaixo:

FIGURA 5 – TENSÕES TOTAIS VERTICAIS: SOLO SEM NÍVEL DE ÁGUA

Solo a γ = 20 kN/m3 z=2m

Solo b γ = 15 kN/m3 z=2m

FONTE: A autora

Para resolução, a tensão é o próprio peso do solo, assim, ao utilizar a


equação 6, temos o comportamento do solo, e suas respectivas tensões aumentando
com a profundidade (Figura 6).

FIGURA 6 – DISTRIBUIÇÃO DAS TENSÕES CONFORME PROFUNDIDADE


σ 0 = 0 kN/m2

σ 2 = 40 kN/m2

σ 4 = 40 + 30 = 70 kN/m2
FONTE: A autora

128
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO ÀS TENSÕES NO SOLO

4 TENSÕES DEVIDO AO PESO PRÓPRIO: CONDIÇÃO


GEOSTÁTICA COM ÁGUA
Até aqui analisou-se o comportamento do solo em seu estado seco
ou natural. No entanto, quando adicionamos a água no solo (em seu estado
geostático), automaticamente mobilizará a formação da pressão neutra e a efetiva.

4.1 PRESSÃO NEUTRA


Para entendermos o significado de pressão neutra, iremos analisar
inicialmente um perfil de solo, porém com identificação do nível de água. A
Figura 7 corresponde a um perfil de solo, e nele indica-se uma região de surgência
de água, mostrando, portanto, o possível nível do lençol freático, ao lado, temos
a representação tridimensional da camada de água.

Ao analisar a Figura 7 percebe-se que a tensão causada pela coluna de


água (Na) é resultante do peso específico da água em relação ao volume total,
desse modo, chega-se à equação (7):

µ = γágua× h (7)

Onde: h corresponde à altura de coluna de água.

FIGURA 7 – PERFIL DE SOLO COM CONSIDERAÇÃO DO NÍVEL DE ÁGUA

Água no
solo

Poropressão
Pressão neutra

Na

z
x
y
FONTE: A autora

129
UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS

Assim, com a consideração da água da poropressão, ou pressão neutra,


é adicionada às tensões totais a tensão neutra. Pode-se, portanto, considerar
no local em que o nível de água é admitido, o peso específico saturado do solo,
conforme equação (8). Por fim, a tensão total do solo pode ser determinada pela
coluna de solo seco mais a coluna de água existente neste perfil (9).

σ = γ saturado × z (8)

σ = γseco× h + γágua × z (9)

A água no interior dos vazios, abaixo do nível d’água, estará sob uma pressão
que independe da porosidade do solo; depende só de sua profundidade em relação
ao nível do lençol freático. Assim, a tensão total do solo é aquela que corresponde a
todas as pressões solicitantes em relação a um ponto (PINTO, 2006, p. 98).

4.2 TENSÕES EFETIVAS: DEFINIÇÕES DE TERZAGHI


Diante da existência das forças atuantes, Terzaghi constatou as tensões
efetivas no solo que são as responsáveis pela efetividade da deformação do solo.
Este fato deve-se aos efeitos mensuráveis resultantes de variações no solo, como
compressão, distorção e resistência ao cisalhamento (PINTO, 2006, p. 98).

Nos solos, as deformações correspondem a variações de forma ou de volume


do conjunto, resultantes do deslocamento relativo de partículas. A compressão
das partículas, individualmente, é totalmente desprezível perante as deformações
decorrentes dos deslocamentos das partículas, umas em relação às outras. Por esta
razão, entende-se que as deformações nos solos sejam devidas somente a variações
das tensões efetivas, que correspondem à parcela das tensões referente às forças
transmitidas pelas partículas (grão a grão) (PINTO, 2006, p. 99).

As tensões efetivas são aquelas que efetivamente deformam o solo. Pode-


se perceber como exemplo a Figura 8, neste perfil de solo há a existência de água.
O princípio das tensões efetivas defendidas por Terzaghi mostra que mesmo com
os vazios preenchidos por água, a coluna de água aumenta as tensões totais no
solo, porém as forças transmitidas nos contatos entre grãos não se alteram, desse
modo, não deformam o solo, dando sentido ao nome de pressão neutra, ou seja,
a pressão neutra reflete o sentido de inexistência de qualquer efeito mecânico.

130
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO ÀS TENSÕES NO SOLO

FIGURA 8 – CONTATO ENTRE GRÃOS COM ÁGUA

FONTE: Adaptado de Pinto (2006)

Ao analisar a Figura 8, o acréscimo de água só aumenta as tensões totais


no solo, porém as tensões transmitidas nos grãos não se alteram em relação à
condição seca ou úmida. Assim, a tensão efetiva é dada pela diferença entre
tensão total e pressão neutra (10):

σ' = σt - µ (10)

Na Figura 8, só haverá aumento das tensões efetivas caso haja aumento


das tensões totais (acréscimo de uma camada de solo ou uma carga distribuída),
para assim possibilitar o movimento relativo dos grãos.

Para melhor entendimento do conceito de tensões efetivas, temos o


exemplo do livro de Pinto (2006, p. 99). A Figura 9 corresponde a três etapas
a serem analisadas sobre o comportamento de uma esponja. A etapa (a)
corresponde a uma esponja em repouso com o nível de água elevado, percebe-se
que esta permanece intacta, porém a partir do momento em que se aplica uma
carga, haverá uma deformação (etapa b). Assim, para entendermos o conceito
de tensão efetiva, adiciona-se água em uma quantidade que equivale ao peso de
carga aplicado; percebe-se, portanto, que na etapa (c), com elevação de água, não
há deformação da esponja, ou seja, de forma análoga ao solo, a pressão neutra
não participa da deformação das partículas.

131
UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS

FIGURA 9 – SIMULAÇÃO DO CONCEITO DE TENSÃO EFETIVA

FONTE: Adaptado de Pinto (2006)

Para um melhor entendimento, vamos fazer um exemplo? Determinaremos


as tensões totais, neutras e efetivas do perfil da Figura 10.

FIGURA 10 – PERFIL DE SOLO ESTRATIFICADO COM NÍVEL DE ÁGUA

Solo a γsat = 20 kN/m3 z=2m

Na

Solo b γsat = 15 kN/m3 z=2m

FONTE: A autora

As tensões totais são encontradas pela equação (8), desse modo, a Figura
11 corresponde às tensões totais nas profundidades.

FIGURA 11 – TENSÕES TOTAIS POR PROFUNDIDADE


σ 0 = 0 kN/m2

σ 2 = 40 kN/m2

σ 4 = 40 + 30 = 70 kN/m2
FONTE: A autora

132
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO ÀS TENSÕES NO SOLO

Sabemos que a tensão efetiva corresponde à tensão total menos a


poropressão, assim, a Figura 12 representa o comportamento do solo em termos
de tensões totais (8), efetivas (9) e neutras (7).

FIGURA 12 – DIAGRAMA DE TENSÕES TOTAIS, EFETIVAS E NEUTRAS


σ 0 = 0 kN/m2

σ 2 = 40 kN/m2

σ 4 = 40 + 30 = 70 kN/m2
u = 20 kN/m2 50 kN/m2
FONTE: A autora

Outra forma de encontrar a tensão efetiva é através do peso específico


submerso, que relaciona com o empuxo que as partículas sofrem, dessa forma, a
tensão efetiva pode ser determinada pela equação (10).

σ' = (γsat - γW) × Z (10)

5 CAPILARIDADE NO SOLO
A água tem uma característica diferenciada quando está na superfície em
contato com o ar, diferentemente do que ocorre no interior do fluido, onde as
moléculas estão envoltas por outras moléculas de água em todas as direções. A
Figura 13 ilustra este fato: na superfície, as distribuições de tensões acontecem de
forma desigual com relação à molécula no interior da água.

133
UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS

FIGURA 13 – COMPORTAMENTO DA ÁGUA NO INTERIOR E DENTRO DO FLUIDO

FONTE: A autora

Na superfície, a água gera uma tensão superficial que pode corresponder a


um efeito de membrana. Quando a água fica em contato com um corpo sólido, tende
a formar uma curvatura, e esta curvatura depende do tipo de material. Quanto maior
a curvatura, maior a diferença entre as pressões internas e externas (Figura 14).

FIGURA 14 – EQUILÍBRIO DE TENSÕES

T T

σi

σe

FONTE: Pinto (2006, p. 102)

As tensões que são geradas (tensões internas e externas) acabam por ser
equilibradas pela resultante da tensão superficial (T). Esse exemplo, na realidade,
faz com que em solos a água tenda a se elevar até uma certa altura acima do nível
de água, ou seja, uma altura capilar.

134
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO ÀS TENSÕES NO SOLO

Na Figura 15 pode-se perceber esse fenômeno de capilaridade, os pontos


A e D correspondem a pressões iguais à atmosférica; no ponto B as tensões
são definidas pelo valor da pressão atmosférica mais o peso específico da água
vezes a altura em relação à superfície; no entanto, o ponto D corresponde a
uma elevação da água, ou seja, a pressão atuante nesse ponto corresponde à
pressão atmosférica menos a coluna de água vezes o peso específico; já o ponto
F corresponde à pressão atmosférica. Os pontos E e F correspondem às tensões
internas e externas, respectivamente, assim:

ATENCAO

Percebe-se, portanto, que as tensões no ponto E são negativas, e a diferença


de pressão entre os pontos E e F é suportada pela tensão superficial da água.

FIGURA 15 – EFEITO DA CAPILARIDADE

F hc.γw h

hc

D A u
C B

FONTE: Pinto (2006, p. 103)

Nos solos, essas tensões negativas ocorrem, pois, os vazios funcionam


como canais que auxiliam como tubos, fazendo a água se elevar. Desse modo,
para uma análise mais verídica, a capilaridade deve ser considerada nas análises
de engenharia. Esses esforços negativos acontecem sempre acima do lençol
freático, ou seja, nesse caso a pressão neutra é negativa.

Com a pressão neutra negativa, a tensão efetiva aumentará, assim,


possivelmente aumentando a resistência do solo. A equação 11 corresponde à
tensão efetiva considerando a poropressão negativa.

σ' = σt - (-u) (11)

135
UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS

Segundo Pinto (2006), a altura de elevação da água depende do tipo de solo,


solos pedregulhosos tendem a elevar-se em poucos centímetros; solos arenosos, de
1 a 2 metros; de 3 a 4 metros para siltes, e maiores que 5 metros para argilas.

Em termos de mecânica dos solos, quando analisamos um perfil de solo, a


situação da água acima do lençol freático dependerá da evolução anterior do nível
do lençol freático. De qualquer forma, existirá uma faixa de solo, correspondente
a uma certa altura, em que a água dos vazios estará em contato com o lençol
freático e sua pressão negativa será determinada pela cota em relação ao nível
d’água livre. Eventualmente, acima dela, ocorrerá água nos vazios, alojada nos
contatos entre partículas, mas isolada do lençol, para isso chamamos de meniscos
capilares (PINTO, 2006, p. 106).

Para ilustrar, a Figura 16 corresponde às condições definidas em um perfil


de solo. O solo não saturado (com efeitos dos meniscos capilares e da franja capilar)
e o solo saturado, quando os vazios estão totalmente preenchidos por água.

FIGURA 16 – VISUALIZAÇÃO DA MECÂNICA DOS SOLOS MOSTRANDO O PAPEL DA


CONDIÇÃO DE FLUXO DE ÁGUA

Evaporação Evapotranspiração

Fluxo
descendente
Fluxo
ascendente Solo não
Efeito dos
Poropressão
d'água negativa Poropressão
Saturado meniscos
de ar Tensão total capilares

Franja capilar Efeito da capilaridade


N.A
Hidrostático
Solo
Saturado Solo condição saturada

Poropressão
d'água positiva

FONTE: Adaptado de Fredlund (1996).

136
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO ÀS TENSÕES NO SOLO

Os meniscos capilares evidenciam a poropressão negativa entre as


partículas, ou seja: a água encontra-se em uma pressão abaixo da atmosférica.
O aumento da tensão superficial da água (T) faz surgir uma força P que tem
a capacidade de aproximar grãos de solo. Desse modo, como sabemos, há o
aumento da tensão efetiva que confere uma coesão aparente, pois não permanece
se o solo saturar ou secar (PINTO, 2006, p. 106).

E como ficaria a análise de tensões da Figura 10 com a consideração do


efeito da capilaridade? A Figura 17 corresponde ao diagrama das tensões no solo
considerando o efeito da capilaridade de forma simplificada. Percebe-se que
acima do nível da água a poropressão é negativa até a superfície, com isso há um
aumento da tensão efetiva do solo, esse promove uma coesão aparente do solo,
também conhecida como sucção.

FIGURA 17 – CONSIDERAÇÃO DA POROPRESSÃO NEGATIVA DEVIDO À CAPILARIDADE


u = -20 kN/m2 σ 0 = 0 kN/m2 σ' = 20 kN/m2 z=0m

σ 2 = 40 kN/m2 z=2m

σ3 = 70 kN/m2 z=7m

u = 20 kN/m2 σ' = 50 kN/m2

FONTE: A autora

Para um melhor aprendizado, a Figura 18 corresponde a um perfil de


solo. Neste solo foram determinadas características básicas como umidade,
saturação e pesos específicos. Foi comprovado que existe uma franja capilar
de aproximadamente 1 metro com relação ao nível de água. Desse modo,
verificaremos as tensões em cada ponto do perfil (A, B, C e D).

137
UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS

FIGURA 18 – PERFIL DE SOLO PARA ANÁLISE CONSIDERANDO A CAPILARIDADE


A

Silte W = 33%
2m

B
Na
1m

u=?
S = 40%
C Yn = ?

S = 100%
2m

γd = 12 kN/m3
γsat = 17 kN/m3
D

Argila
2m

γd = 11 kN/m3
E γsat = 15 kN/m3

FONTE: A autora

Primeiramente define-se o peso específico natural entre os pontos A e B:

γnA-B = γd × (1 + w) = 12 × (1 + 0,33) = 15,96 kN/m3 (12)

A poropressão e o peso específico natural entre os pontos B e C são


definidos a partir da equação (13).

u = -S × h × γ w = -0,4 × 1× 10 = -4kN / m³ (13)

O Peso específico natural entre os pontos B e C é definido com uma simples


regra de 3, conforme equação 14.

γnB-C = (γsat - γd) × S + γd = (17 - 12) × 0,4 +12 = 14kN/m3 (14)

A Tabela 1 corresponde aos valores de poropressões, tensões efetivas e


totais em cada ponto.

TABELA 1 – DISTRIBUIÇÃO DAS TENSÕES AO LONGO DA PROFUNDIDADE

Poropressão Tensão efetiva (kN/


Pontos Tensão total (kN/m³)
(kN/m³) m³)

A 0 0 0
B sem capilaridade 31,92 0 31,92
B com capilaridade 31,92 -4 35,92
C 45,92 0 45,92
D 79,92 20 59,92
E 109,92 40 69,92

FONTE: O autor

138
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você aprendeu que:

• As principais tensões que atuam no solo são o próprio peso do solo e qualquer
carregamento externo aplicado.

• As tensões totais são definidas a partir do peso específico saturado do solo


vezes a profundidade em relação a um ponto.

• As tensões efetivas são as pressões que efetivamente deformam o solo, ou seja,


as que correspondem unicamente ao contato de grãos, desse modo corresponde
à tensão total menos a poropressão (pois água não deforma solo).

• A poropressão corresponde à coluna de água abaixo do nível de água, assim, é


o peso específico da água vezes a profundidade de análise.

• O efeito da capilaridade mostra que a água tem capacidade de elevar-se


pelos vazios, devido às tensões superficiais, esse efeito forma-se poropressões
negativas e causa uma coesão aparente.

A Figura 19 corresponde ao resumo do tópico estudado.

FIGURA 19 – RESUMO DOS TÓPICOS ESTUDADOS

Introdução às tensões no solo

Tensão total Tensão efetiva Poropressão

Efeito da
capilaridade
FONTE: A autora

139
AUTOATIVIDADE

1 (Adaptado de DAS e KHALED, 2017) A tensão total provocada pela água


nos vazios, chamada de poropressão, em qualquer ponto dentro da massa de
solo saturada, age:

a) ( ) Na direção vertical.
b) ( ) Na direção horizontal.
c) ( ) Com intensidade desigual em todas as direções.
d) ( ) Com intensidade igual em todas as direções.
e) ( ) Apenas em uma direção e sentido.

2 A poropressão nos vazios de uma massa de solo é chamada de:

a) ( ) Tensão neutra.
b) ( ) Tensão efetiva.
c) ( ) Tensão vertical.
d) ( ) Tensão total.
e) ( ) Capilaridade.

3 (Adaptado de DAS; KHALED, 2017) A soma das componentes verticais das


forças desenvolvidas em pontos de contato das partículas sólidas por área
transversal seccional da massa de solo é chamada de:

a) ( ) Tensão vertical.
b) ( ) Tensão total.
c) ( ) Tensão efetiva.
d) ( ) Tensão neutra.
e) ( ) Força de percolação.

4 (Adaptado de DAS; KHALED, 2017) O princípio de tensão efetiva para


solos saturados fornece uma expressão que envolve a tensão total (σt), a
tensão efetiva (σ') e a poropressão (µ), que é determinada pela equação:

a) ( ) σt = σ' + µ.
b) ( ) σ'= σt + µ.
c) ( ) µ = σt - σ'.
d) ( ) σt = σ' × µ.
e) ( ) nenhuma das alternativas acima.

5 Qual das seguintes tensões não pode ser determinada experimentalmente


em laboratório e em campo?

a) ( ) Tensão total.
b) ( ) Poropressão.
c) ( ) Tensão efetiva.
140
d) ( ) Poropressão negativa.
e) ( ) Todas as alternativas acima.

6 (Adaptado de DAS; KHALED, 2017) Qual dos seguintes itens depende


muito da tensão efetiva?

a) ( ) Compressibilidade do solo.
b) ( ) Resistência do solo.
c) ( ) Propriedades índice do solo.
d) ( ) (a) e (b).
e) ( ) (a), (b) e (c).

7 (Adaptado de DAS; KHALED, 2017) O aumento do nível de água quando


ocorre acima do nível do terreno causa:

a) ( ) Nenhuma mudança na tensão total e poropressão em qualquer ponto


abaixo do nível do terreno.
b) ( ) Nenhuma mudança na tensão efetiva em qualquer ponto abaixo do
nível do terreno.
c) ( ) Aumento ou diminuição por igual na tensão total e poropressão em
qualquer ponto abaixo do nível do terreno.
d) ( ) (b) e (c).
e) ( ) (a), (b) e (c).

8 Se o lençol freático coincidir com o nível do terreno e o peso específico


3
saturado do solo for de 19 kN/m , a tensão efetiva a uma profundidade de 4
m abaixo do nível do terreno será de aproximadamente:
2.
a) ( ) 19 kN/m
2.
b) ( ) 36 kN/m
c) ( ) 76 kN/m².
d) ( ) 30 kN/m².
e) ( ) Nenhuma das alternativas.

9 Na Questão 8, a poropressão a uma profundidade de 3 m abaixo do nível de


superfície será de aproximadamente:
2.
a) ( ) 10 kN/m
2.
b) ( ) 19 kN/m
2.
c) ( ) 30 kN/m
2.
d) ( ) 57 kN/m
e) ( ) 60 kN/m².

141
10 (Adaptado de DAS; KHALED, 2017) Se o lençol freático permanecer abaixo
do nível do terreno, a tensão efetiva em qualquer ponto abaixo do lençol
freático:

a) ( ) Aumenta com o aumento do lençol freático.


b) ( ) Diminui com o aumento do lençol freático.
c) ( ) Tende a ser zero com o aumento do lençol freático.
d) ( ) Permanece constante com o aumento ou a queda do lençol freático.
e) ( ) Nenhuma das alternativas.

142
UNIDADE 3
TÓPICO 2

PERMEABILIDADE E PERCOLAÇÃO DE ÁGUA NO SOLO

1 INTRODUÇÃO
No tópico 1 estudamos sobre as tensões existentes em um perfil de solo,
em que a condição definida é a geostática, ou seja, não há fluxo de água. Na
engenharia de barragens, rebaixamento e drenagens existe o fluxo de água e,
quando há fluxo, as tensões efetivas e neutras são modificadas. Este fato mostra
a necessidade de também estudarmos questões em relação à permeabilidade do
solo e migração da água e as tensões por ela provocadas.

Segundo Pinto (2006), estudar e entender o comportamento da percolação


é essencial, pois esta intervém em um grande número de problemas práticos na
engenharia, que são: verificação da vazão de infiltração em escavações, análise de
recalques, estudos de estabilidade etc.

Devido a toda essa importância, este tópico abordará sobre a


permeabilidade do solo, utilizando para efeitos didáticos um permeâmetro, e a
partir disso, uma explicação sobre os coeficientes de permeabilidade para cada
tipo de solo, analisaremos a velocidade de descarga e real da água, conceitos de
cargas hidráulicas, forças de percolação, gradiente crítico e as tensões no solo
submetido à percolação.

Vamos começar?

2 ÁGUA NO SOLO SEM FLUXO


Para entendermos o comportamento da água no solo com fluxo e sem fluxo,
utilizaremos como exemplo um permeâmetro. O permeâmetro serve de introdução
ao entendimento do comportamento da água ao passar pelos vazios do solo e se
adéqua como um modelo do fluxo d’água em problemas reais de engenharia.

Inicialmente, vamos observar um permeâmetro sem fluxo e as tensões


que nele ocorrem. A Figura 20 corresponde a um permeâmetro onde não há
deslocamento de água, pois a bureta que o alimenta está no mesmo nível de saída
da água, ou seja, na mesma cota.

143
UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS

FIGURA 20 – PERMEÂMETRO SEM FLUXO DE ÁGUA

z Coluna d'água

L Comprimento de solo

Bureta

FONTE: A autora

Ao analisar a Figura 20, verifica-se as mesmas condições de tensões


no solo no estado geostático. Dessa forma, a Figura 21 representa o gráfico do
comportamento das tensões no solo com o aumento da profundidade.

FIGURA 21 – TENSÕES ATUANTES NO SOLO NA CONDIÇÃO GEOSTÁTICA


σ, u
•a
z
•b

L
σtotal
Referencial •c
Peneira σef u
z

σef σtotal
σef = ( z × γw + L × γ sat) - ( z + L) × γw

σef = z × γw + L × γ sat - zγW - LγW

σef = L × (γ sat - γW)


FONTE: A autora

144
TÓPICO 2 | PERMEABILIDADE E PERCOLAÇÃO DE ÁGUA NO SOLO

As tensões efetivas, na condição sem fluxo, são, portanto, a diferença


entre a tensão total pela poropressão, a pressão neutra é a coluna de água no
ponto analisado vezes o peso específico da água, e, por fim, a tensão total do solo
é o somatório da pressão neutra atuante mais a efetiva do solo.

E quando há fluxo? Quais os valores de tensão total, tensão efetiva e


poropressão?

3 ÁGUA NO SOLO COM FLUXO: LEI DE DARCY


Quando analisamos um solo em que há contínua alimentação, e assim, em
termos de permeâmetro, uma adição de uma coluna de água acima do nível de
saída da água, existirá um fluxo. Desse modo, as tensões efetivas e neutras do solo
apresentam um comportamento diferenciado em relação ao estado geostático.

A Figura 22 representa um permeâmetro onde há fluxo de água, neste


exemplo existe uma coluna de água acima do nível de saída (h), que corresponde
que há deslocamento de fluido.

FIGURA 22 – PERMEÂMETRO COM FLUXO


Entrada de Saída de
água água
•a
z
h •b

Referencial •c
Peneira

Permeâmetro COM fluxo

FONTE: A autora

145
UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS

A dinâmica da análise do comportamento do solo com deslocamento


de água vem dos princípios básicos de Darcy (1850). Os princípios de Darcy
mostram que a vazão que entra é igual à vazão que sai e o que varia é a velocidade
de entrada e saída da água no solo. Além disso, ele concluiu que os fatores
geométricos influenciam a vazão da água e a velocidade. Assim, Darcy (1850)
determinou a equação 15.

h
Q =k × ×A (15)
L

Onde: k é o coeficiente de permeabilidade; A é a área do permeâmetro; Q


a vazão do solo; h é a carga que dissipa; L é o comprimento do solo.

FIGURA 23 – DEFINIÇÃO DA EQUAÇÃO PROPOSTA POR DARCY (1850)

h
Q =k × × A
L
Vazão

Uma constante para cada solo,


conhecida como coeficiente de
permeabilidade
Área do permeâmetro
FONTE: A autora

A relação entre h sobre L é essencial para o entendimento da perda de


carga ao longo de um perfil de solo. A relação entre h/L também é chamada de
gradiente hidráulico, que corresponde ao quanto de coluna de água é dissipada
(h) por unidade de comprimento (L) ao longo de uma faixa de solo (Figura 24).

146
TÓPICO 2 | PERMEABILIDADE E PERCOLAÇÃO DE ÁGUA NO SOLO

FIGURA 24 – FATORES QUE INFLUENCIAM NO SOLO COM FLUXO DE ÁGUA

Contínua alimentação

h A carga que se dissipa na percolação

•a
z
•b

Distância ao
L longo da qual
a carga se
•c dissipa
Peneira

∆h Gradiente
i= hidráulico
L
Influencia no
Q = k ×i× A movimento do solo
FONTE: A autora

3.1 CARGAS HIDRÁULICAS


No estudo de fluxos de água, é conveniente expressar as componentes
de energia pelas correspondentes cargas em termos de altura de coluna
d’água. As leis de Bernoulli dizem que a carga total ao longo de uma linha de
fluxo incompressível é igual à soma de três parcelas: carga piezométrica, carga
altimétrica e carga cinética (equação 16).
ht = hp + ha + hc (16)

Onde: hp altura piezométrica, ha altura altimétrica, hc altura que


corresponde à carga cinética.

Quando lidamos com solo despreza-se a carga cinética, pois a velocidade é


considerada muito pequena em relação à carga piezométrica e altimétrica. Desse
modo, a carga total é definida pela equação 17.

ht = hp + ha (17)

147
UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS

A carga piezométrica corresponde à altura em que a água se eleva e a carga


altimétrica corresponde à altura do ponto analisado em relação ao referencial,
e isto depende de como o fluxo ocorre, ou seja, se o fluxo é descendente ou
ascendente. A Figura 25 corresponde a um resumo para podermos fixar melhor
estes conceitos e podermos aplicá-los na análise no permeâmetro para, por fim,
utilizar em casos gerais de engenharia.

FIGURA 25 – RESUMO DOS CONCEITOS DE CARGA HIDRÁULICA APLICADA EM SOLOS

Ht (carga total) = Carga


Piezométrica + Carga
Altimétrica + Carga
Cinética

Altura do Muito
Pressão de água ponto V em baixa
ou pressão relação ao V=0
neutra no ponto, referencial
expressa em
coluna de água

Carga com que a água se Cuidado com fluxo


eleva no tubo piezométrico ascendente e descendente
FONTE: A autora

O fluxo ascendente é aquele que indica que a água está no sentido de


ascendência ou elevação, em termos técnicos pode-se dizer que a água vai do
ponto de maior carga hidráulica para o de menor carga hidráulica e, muitas vezes,
o sentido do fluxo mostra-se para cima, ou seja, ascendente.

Para entendermos melhor, a Figura 26 corresponde a um permeâmetro


de fluxo ascendente. A Tabela 2 corresponde à análise de cargas altimétricas,
piezométricas e totais. Percebe-se que a carga total do ponto D é maior que a do
ponto B, isso mostra que o líquido tende a subir, ou seja, é ascendente. A diferença
de cargas totais entre os pontos D e B corresponde a h, que é basicamente a carga
hidráulica que será dissipada pelo comprimento L.

148
TÓPICO 2 | PERMEABILIDADE E PERCOLAÇÃO DE ÁGUA NO SOLO

FIGURA 26 – PERMEÂMETRO DE FLUXO ASCENDENTE

h
•a
z
•b

•c L
•d

Referência

Haverá fluxo quando a carga total for


diferente a qualquer ponto
FONTE: A autora

TABELA 2 - ANÁLISE DOS PONTOS DO PERMEÂMETRO ASCENDENTE

Pontos ha hp ht
D y L+z+h y+L+z+h
B L+y z L+y+z
A z+L+y 0 z+L+y

FONTE: A autora

A Figura 27 corresponde a um permeâmetro de fluxo descendente. Este


fato é percebido pois o sentido é do maior valor de carga hidráulica que se
encontra no ponto B e segue em direção a C, e assim, mostra-se o sentido de B a
C. A diferença entre as cargas hidráulicas B e C resulta em y+L+z que corresponde
à carga a ser dissipada durante o trajeto da água.

149
UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS

FIGURA 27 – FLUXO DESCENDENTE

Entrada
de água
•a
y
•b

L
•c

x
Saída de
água

Referência
FONTE: Modificado de Pinto (2006)

A Tabela 3 corresponde às cargas altimétricas, piezométricas e totais em


cada ponto analisado.

TABELA 3 – CARGAS HIDRÁULICAS COM RELAÇÃO AO FLUXO DESCENDENTE

Pontos ha hp ht
A y+L+x+z 0 y+L+z+h
B L+x+z y L+y+z+x
C x+z -x z

FONTE: A autora

DICAS

Carga piezométrica corresponde à altura em que a água varia em relação ao


ponto. A carga altimétrica corresponde à distância do ponto ao referencial adotado.

De modo geral, não haverá fluxo quando a carga total for igual a qualquer
ponto e haverá fluxo quando a carga total for diferente a qualquer ponto. Por
fim, a diferença entre cargas totais é a carga usada para o cálculo do gradiente
hidráulico (Figura 28).

150
TÓPICO 2 | PERMEABILIDADE E PERCOLAÇÃO DE ÁGUA NO SOLO

FIGURA 28 – RESUMO DOS CONCEITOS BÁSICOS

Não haverá fluxo quando a carga total for


igual a qualquer ponto

Haverá fluxo quando a carga total for


diferente a qualquer ponto

A diferença entre cargas totais é a carga usada


para o cálculo do gradiente hidráulico

∆h
i=
L
FONTE: A autora

3.2 VELOCIDADE DE DESCARGA E VELOCIDADE REAL


A partir dos conceitos definidos de gradiente hidráulico e com a equação
definida por Darcy (1850), chega-se à definição de velocidade de descarga ou à
velocidade com que a água sai do solo (equação 18).

FIGURA 29 – DEDUÇÃO DA VELOCIDADE DE DESCARGA DE DARCY

h Gradiente hidráulico
i= Influencia na
L movimentação do solo
Q=k×i×A

m3 m2
×m
s s
m2
× m = k × i × m2
s
v=k × i

A velocidade com que


a água sai do solo
FONTE: A autora

151
UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS

v = k × i (18)

Onde: k é o coeficiente de permeabilidade do solo e depende do tipo de


solo; i é o gradiente hidráulico.

No entanto, existe a velocidade real, que corresponde à velocidade que


passa entre os vazios do solo e a velocidade de descarga o qual corresponde a
velocidade antes de passar entre os poros do solo. A Figura 30 ilustra as duas
velocidades: Vd (velocidade de descarga) definida pelas leis de Darcy e a Vr
(velocidade real ou de fluxo).

A velocidade real é deduzida pelo princípio de Darcy, em que a vazão


de descarga é igual à vazão que passa pelos vazios das partículas, igualando as
proposições chega-se à relação de áreas, que se pode relacionar com a porosidade
do solo. Dessa forma, a velocidade real é igual à velocidade de descarga dividido
pela porosidade do solo.

FIGURA 30 – VELOCIDADE REAL E VELOCIDADE DE DESCARGA

•a

•b

•c

•d

Vreal > Vdescarga


•V Qreal = Qdescarga

Af Vreal × Areal = Vdescarga × A descarga

A Areal Vdescarga
=
A descarga Vreal
Vd Vdescarga
n=
Vreal Vdescarga
Vreal =
n
FONTE: O autor

152
TÓPICO 2 | PERMEABILIDADE E PERCOLAÇÃO DE ÁGUA NO SOLO

3.3 COEFICIENTE DE PERMEABILIDADE (k)


Da expressão proposta por Darcy temos o coeficiente de permeabilidade
(k), este por sua vez indica a velocidade de percolação da água quando o gradiente
é igual a 1, e este coeficiente encontra-se em unidade m/s.

Os valores de permeabilidade dependem do tipo de solo, do tamanho


das partículas, das disposições em que se encontram as partículas, pois quanto
menores os vazios no solo, maior será a dificuldade de a água escapar, e assim,
menores os valores de permeabilidade desse solo. Além disso, o estado do solo
(fofo ou compacto, por exemplo), o grau de saturação do solo, temperatura,
estrutura e anisotropia também influenciam o grau de permeabilidade de uma
porção de solo.

Devido a isto, existem métodos diretos e indiretos de obtenção do


coeficiente de permeabilidade. Os métodos diretos são aqueles obtidos por
ensaios laboratoriais e de campo. Os métodos indiretos são aqueles definidos
por fórmulas e correlações e, indiretamente, por ensaios utilizados para outras
análises (ensaio de adensamento).

A Figura 31 representa as formas de obtenção do k, nesta figura são


mostrados os ensaios de laboratório: o permeâmetro, a carga constante e a
variável. Os ensaios de campo mais utilizados são SPT, Slug test.

FIGURA 31 – POSSIBILIDADES DE OBTENÇÃO DO COEFICIENTE K

Permeâmetro de carga constante

Permeâmetro de carga variável

Formas de obter o coeficiente


de permeabilidade

Ensaios de Campo

Métodos indiretos

FONTE: A autora

153
UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS

O permeâmetro à carga constante é uma experiência de Darcy (Figura


32). Mantida a carga h, durante um certo tempo, a água percolada é colhida e
seu volume é medido. Conhecidas a vazão e as características geométricas, o
coeficiente de permeabilidade é diretamente calculado pela Lei de Darcy (equação
15) (PINTO, 2006, p. 115).

O permeâmetro geralmente se apresenta com a configuração conforme


Figura 33.

FIGURA 32 – PERMEÂMETRO A CARGA CONSTANTE

Entrada
de água
•a

A mesma quantidade de •b
água que entra é a mesma
quantidade de água que sai L
h •c

Q= v × A
Saída
Q de água
k=
i× A
Repetição da experiência de Darcy (1980)
FONTE: A autora

154
TÓPICO 2 | PERMEABILIDADE E PERCOLAÇÃO DE ÁGUA NO SOLO

FIGURA 33 – ESQUEMA DO PERMEÂMETRO A CARGA CONSTANTE

FONTE: Higashi (2013, p. 8)

155
UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS

Quando o coeficiente de permeabilidade é muito baixo, a determinação pelo


permeâmetro de carga constante é pouco precisa, e demorado. Preferencialmente
deve-se empregar o permeâmetro à carga variável quando lidamos com solos
coesivos (argilosos). A Figura 34 corresponde a um modelo esquemático do
equipamento à carga variável. Utiliza-se o permeâmetro à carga variável e
verifica-se o tempo que a água leva para baixar a altura inicial para a altura final.

A fórmula utilizada é a demonstrada pela equação (19):

a ×L h
k = 2, 3 log i (18)
A ×t hf

Onde: a é área da bureta; L comprimento do solo; A área da amostra de


solo; t tempo para obter a altura final (hf); hi é a altura inicial.

FIGURA 34 – ESQUEMA DE DETERMINAÇÃO DA PERMEABILIDADE À CARGA VARIÁVEL


Entrada
Permeâmetro de de água
carga variável

h dh
Q = k. .A A vazão de água que
L passa pelo solo
•a
−a.dh A vazão de água que •b
Q=
dt passa pela bureta
hi
L
A vazão de água que passa h hf •c
pelo solo é a mesma que
passa pela bureta:
dh h
−a k. .A
= Saída
dt L
Resulta: de água
dh A
= −k . dt
h a.L
Área da bureta
Integrando:
hf A a.L h Solo
In = −k .t K = 2,3 .log 0 argiloso
hi a.L A.∆t h1
FONTE: A autora

Os ensaios de campo utilizados para a determinação da permeabilidade


comumente conhecidos são o SPT (Standard Penetration test) e o Slug Test. O SPT
será explicado na próxima unidade e é o ensaio mais utilizado para obtenção

156
TÓPICO 2 | PERMEABILIDADE E PERCOLAÇÃO DE ÁGUA NO SOLO

de parâmetros geotécnicos, no entanto, pode-se obter a permeabilidade com este


ensaio no decorrer da sondagem de simples reconhecimento.

O SPT é realizado através da cravação de um amostrador padrão de 65 kg


a uma altura de 75 cm. Se no decorrer da sondagem de simples reconhecimento, a
perfuração for interrompida e se encher de água o tubo de revestimento, mantendo-
se o seu nível e medindo a vazão para isso, pode-se calcular o coeficiente de
permeabilidade do solo. Para isto, é preciso conhecer diversos parâmetros, como:
altura livre da perfuração (não envolta pelo tubo de revestimento), posição do
nível da água, espessura das camadas, etc. Também é necessário o conhecimento
de teorias sobre escoamento da água através de perfurações (PINTO, 2006, p. 117).

O Slug test é uma técnica de ensaio normatizada pela norma americana


ASTM D4044 e usualmente executada em poços de pequenos diâmetros,
piezômetros ou trechos de sondagens isolados por obturadores. Este ensaio é
realizado pela aplicação do tarugo no poço e assim mede a variação instantânea
do nível d’água no interior do poço, ou seja, através da inserção, ou retirada,
de um cilindro rígido. As variações do nível de água são medidas através de
um transdutor localizado no interior do furo. A Figura 35 mostra os detalhes do
equipamento e processo de ensaio.

FIGURA 35 – DETALHES DO ENSAIO SLUG TEST

FONTE: A autora

157
UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS

Os ensaios de campo são métodos que possuem pouca acurácia ao


comparar com os ensaios realizados em laboratório, no entanto, por serem
realizados no campo, indicam a situação real que muitas vezes as amostras que
são levadas ao laboratório podem não apresentar.

Existem outras formas de encontrar o coeficiente de permeabilidade, estas


são em função de itens, como: viscosidade, estado do solo, grau de saturação,
estrutura e anisotropia do solo e influência da temperatura.

A Figura 36 ilustra os fatores definidos por Taylor (1948). Com o


conhecimento dos itens de dependência, o estudo definiu o coeficiente pela
equação (19).

γw e3
k =D2 × × C (19)
μ 1+e

Onde: D é o diâmetro de uma esfera equivalente ao tamanho dos grãos do solo;


e é o índice de vazios do solo; μ é a viscosidade do líquido e C é o coeficiente de forma.

FIGURA 36 – OUTROS FATORES QUE INFLUENCIAM NO COEFICIENTE DE PERMEABILIDADE


Variação do coeficiente de cada solo
Influência de
Viscosidade temperatura

Influência do Estrutura e
estado do solo anisotropia

Grau de Saturação
FONTE: A autora

A Tabela 4 representa valores de coeficientes de permeabilidade em solos


sedimentares.

TABELA 4 – DEFINIÇÃO DE VALORES DE K PARA SOLOS SEDIMENTARES


SOLO K (m/s)
ARGILAS <10E-9
SILTES 10E-6 a 10E-9
AREIAS ARGILOSAS 10E-7
AREIAS FINAS 10E-5
AREIAS MÉDIAS 10E-4
AREIAS GROSSAS 10E-3
FONTE: Pinto (2006, p. 117)

158
TÓPICO 2 | PERMEABILIDADE E PERCOLAÇÃO DE ÁGUA NO SOLO

Segundo Pinto (2006), os pedregulhos e algumas areias grossas, por terem


alto índice de vazios, a velocidade do fluido passante acaba sendo muito alta
e assim o fluxo torna-se turbulento, desse modo não é aconselhável utilizar as
propostas de Darcy (1850) para estes tipos de solo.

3.4 FORÇA DE PERCOLAÇÃO


As forças de percolação indicam a ação da água que passa entre os vazios
do solo quando há fluxo. Essa força ocorre devido à carga que irá se dissipar (h),
resultando em uma pressão d’água em relação à área de solo, que corresponde a
uma força dissipada conforme a equação (20).

F = γw× h × A (20)

Onde: h é a carga d’água, A corresponde à área ao quando a pressão


d’água está atuando perpendicular à direção horizontal, conforme Figura 37.

FIGURA 37 – DEFINIÇÃO DE PERCOLAÇÃO

F = γ wA × h × A
FONTE: A autora

Em um fluxo uniforme, essa força se dissipa uniformemente em todo o


volume de solo, AxL, de forma que a força por unidade de volume é igual a uma força
de percolação, e esta é igual ao produto do gradiente hidráulico pelo peso específico.

h×γ × A h
j= w = × γ w =×
i γ w (21)
A× L L

159
UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS

A força de percolação é uma grandeza semelhante ao peso específico e atua


da mesma forma que a força gravitacional. As duas se somam quando atuam no
mesmo sentido (fluxo d’água de cima para baixo) e se subtraem quando em sentido
contrário (fluxo d’água de baixo para cima), esse aspecto fica mais claro quando se
analisam as tensões no solo submetido à percolação (PINTO, 2006, p. 122).

3.5 TENSÕES NO SOLO DEVIDO À PERCOLAÇÃO


Diferentemente da condição geostática, quando há fluxo existe alteração das
tensões que deformam o solo (as efetivas), quando lidamos com o fluxo descendente
há um aumento dessas tensões de deformação e, quando é o oposto, fluxo ascendente,
há uma diminuição. Consequentemente, as pressões neutras também são modificadas
e estas sofrem influência da altura piezométrica do solo com fluxo.

Para entendermos melhor o comportamento, analisaremos um


permeâmetro com fluxo ascendente conforme Figura 38.

FIGURA 38 – DEFINIÇÕES DE TENSÃO TOTAL, EFETIVA E NEUTRA COM FLUXO ASCENDENTE

Entrada
de água Saída
de água
h
σ, u
•a
z
•b

L σtotal
Referencial
•c
Peneira σef u
z

σef σtotal

σef = ( z γw + L γ n) - ( z + L + h) × γw
U

Tensões ao u = (z + L + h) ×γW
qual o solo
transmite a σt= (zγ w + Lγn)
peneira!
FONTE: A autora

160
TÓPICO 2 | PERMEABILIDADE E PERCOLAÇÃO DE ÁGUA NO SOLO

A Figura 38 apresenta três pontos (a, b e c), ao analisar o ponto c, obteremos


os seguintes valores de tensão total (22):

σt
= ( zγ w + Lγ sat ) (22)

Ou seja, a tensão total do solo será a mesma do que na condição geostática,


porém a poropressão (23) define-se diferentemente da condição da água sem
fluxo, e representa a coluna piezométrica do ponto em análise.

u = ( z + L + h) × γ w
(23)

Assim, a tensão efetiva do ponto c, considerando o fluxo ascendente, é


formada a partir da equação (24).

σ ef= ( zγ w + Lγ n ) − ( z + L + h ) × γ w (24)

Quando há fluxo ascendente pode-se relacionar a tensão efetiva com a


força de percolação, a Figura 39 mostra a dedução para chegar em valores de
tensão efetiva que correlaciona com a força de percolação (25).

L × ( γ sub − j )
σ ef =
(24)

FIGURA 39 – DEDUÇÃO DA TENSÃO EFETIVA EM FLUXO ASCENDENTE

σ ef= ( zγ w + Lγ n ) − ( z + L + h ) × γ n
σ=ef L (γ n − γ w ) − h × γ w
L
σ=
ef L (γ n − γ w ) − h × γ w ×
L
σ=
ef L (γ n − γ w ) − i × γ w × L
σ=
ef L (γ n − γ w ) − j × L
σ ef L ( γ sub ) − j × L
= Quando há percolação
deve descontar a força
σ ef L ( γ sub − j )
= de percolação!!

FONTE: A autora

161
UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS

Por outro lado, a tensão efetiva em fluxo descendente será aumentada


com a força de percolação, chegando-se à equação (25).

σef = L × (γsub + j) (25)

DICAS

Quando há fluxo ascendente existirá diminuição das tensões efetivas com


o efeito da força de percolação, no entanto, para fluxo descendente há o aumento das
tensões efetivas.

3.6 GRADIENTE CRÍTICO


Ao analisar o fluxo ascendente, percebe-se que com o aumento da força
de percolação, menor será a tensão efetiva do solo. O gradiente crítico equivale
ao fato de quando a força de percolação é tão alta que anula a tensão efetiva,
chegando a zero.

σef = L × (γsub - j) (26)

σef = L × (γsub -i × γw) (27)

0 = L × (γsub -i×γw) (28)


γ sub (29)
i crit =
γw
O gradiente crítico é correspondido na engenharia com resistência das
areias, e por ser proporcional à tensão efetiva, quando esta se anula, a areia perde
completamente sua resistência e fica num estado definido como areia movediça.

162
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• Ao analisar um permeâmetro em que há contínua alimentação, e assim, com


adição de uma coluna de água acima do nível de saída da água, existirá um
fluxo. Desse modo, as tensões efetivas e neutras do solo apresentam um
comportamento diferenciado em relação ao estado geostático.

• Haverá fluxo quando a carga total for diferente entre dois pontos da água que
passa pelo solo.

• Os fluxos são definidos entre ascendentes e descendentes, estes, por sua


vez, indicam o sentido com que a água move. Para saber o tipo de fluxo é só
verificar o movimento da água que é definido pelo valor da carga total, que se
movimenta entre o maior valor de carga para o menor.

• A permeabilidade do solo é definida pela velocidade de percolação (m/s)


em que o gradiente hidráulico é igual a 1, ela pode ser definida por fatores
como: viscosidade, estado do solo, grau de saturação, estrutura e anisotropia,
influência da temperatura. Podem ser encontrados valores de permeabilidade
em laboratórios e em campo.

• Quando há fluxo a poropressão é definida pela altura piezométrica.

• O gradiente crítico equivale ao fato de quando a força de percolação é tão alta


que anula a tensão efetiva, chegando a zero.

163
AUTOATIVIDADE

1 Em um fluxo de água passando pelo solo, a carga total em qualquer ponto


é adequadamente representada por:

a) ( ) carga piezométrica somada à carga altimétrica.


b) ( ) carga de velocidade somada à carga hidráulica.
c) ( ) permeabilidade vezes o gradiente hidráulico.
d) ( ) carga piezométrica vezes a carga altimétrica.
e) ( ) carga de pressão somada à carga de velocidade.

2 Os solos são permeáveis em razão da existência de:

a) ( ) Grãos finos.
b) ( ) Vazios.
c) ( ) Vazios interconectados.
d) ( ) Carga piezométrica.
e) ( ) Partículas maiores.

3 A velocidade de descarga de água:

a) ( ) É a quantidade de água que flui em um tempo específico por uma área


transversal seccional bruta do solo em ângulos retos na direção do fluxo.
b) ( ) Tem unidade SI como m/s.
c) ( ) É a quantidade de água que flui em um tempo específico por uma área
transversal seccional bruta específica do solo.
d) ( ) a e b.
e) ( ) É a velocidade calculada devido à passagem da água entre os vazios
do solo.

4 Com relação à permeabilidade do solo e ao fluxo de água, selecione a


declaração INCORRETA:

a) ( ) A velocidade de descarga é a quantidade de água que flui em um


tempo específico por uma área transversal seccional bruta do solo em
ângulos retos na direção do fluxo.
b) ( ) A carga de pressão em um determinado ponto é a pressão de água
neste ponto dividida pelo peso específico de água.
c) ( ) A carga altimétrica ou de elevação em um determinado ponto é a
distância vertical acima ou abaixo do plano de referência.
d) ( ) A unidade SI de carga é cm.
e) ( ) A velocidade real é a velocidade calculada devido à passagem da água
entre os vazios do solo.

164
5 Sobre gradiente hidráulico do solo, assinale o item CORRETO:

a) ( ) É determinado a partir da perda entre dois pontos, e é considerado


adimensional.
b) ( ) É utilizado para definir características do solo tais como permeabilidade,
velocidade de percolação e porosidade do solo.
c) ( ) É semelhante ao gradiente de velocidade.
d) ( ) O gradiente hidráulico corresponde à quantidade de carga dissipada
por uma faixa de solo, este valor é definido em cm.
e) ( ) Quando analisamos o gradiente crítico do solo, sabemos que o fluxo é
descendente e este fato corresponde ao estado de areia movediça.

6 A Lei de Darcy explica que a velocidade de descarga é definida por:

a) ( ) É determinada a partir da perda entre dois pontos, e é considerada


adimensional.
b) ( ) Corresponde ao coeficiente de permeabilidade vezes o gradiente
hidráulico.
c) ( ) Corresponde à relação entre o coeficiente de permeabilidade dividido
pelo gradiente hidráulico.
d) ( ) O gradiente hidráulico dividido pelo coeficiente de permeabilidade.
e) ( ) O gradiente hidráulico vezes o coeficiente de permeabilidade vezes a
velocidade de descarga.

7 A velocidade real da água é chamada de:

a) ( ) Fluxo operacional.
b) ( ) Velocidade de percolação.
c) ( ) Pressão de percolação.
d) ( ) Velocidade entre vazios.
e) ( ) Velocidade exponencial.

8 A velocidade de descarga de água pelo solo é de 24 cm/h, sabendo que a


porosidade é de 30%, a velocidade de percolação será:

a) ( ) 24 cm/h
b) ( ) 72 cm/h.
c) ( ) 80 cm/h.
d) ( ) 30 cm/h
e) ( ) 40 cm/h.

9 A condutividade hidráulica do solo não depende de:

a) ( ) Peso específico de sólidos de solo.


b) ( ) Peso específico de água fluindo pelos vazios do solo.
c) ( ) Viscosidade de água fluindo pelos espaços vazios do solo.
d) ( ) Índice de vazios.
e) ( ) Porosidade.
165
10 O ensaio de laboratório utilizado para determinar a permeabilidade em
solos granulares finos é:

a) ( ) Ensaio de permeabilidade de carga variável.


b) ( ) Ensaio de permeabilidade de carga constante.
c) ( ) Teste de bombeamento.
d) ( ) Slug test.
e) ( ) SPT.

166
UNIDADE 3
TÓPICO 3

INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO

1 INTRODUÇÃO
A necessidade de um conhecimento do ambiente físico, descrito a partir
das condições do subsolo, compõe em pré-requisito para projetos geotécnicos
seguros e econômicos. No Brasil, atualmente, a despesa envolvida na execução
de sondagens de reconhecimento geralmente varia entre 0,2% e 0,5% do custo
total de obras convencionais, podendo ser mais elevada em obras especiais ou
em condições adversas de subsolo (SCHNAID; ODEBRECHT, 2014). Os dados
geotécnicos encontrados são indispensáveis à previsão dos custos fixos associados
ao projeto e sua solução.

As causas mais frequentes de problemas de fundações e obras de


infraestrutura ocorrem devido à má execução da obra e à falta de sondagem
ou sondagens incorretas. Este fato, sondagem – ou seja, a descrição do solo –
é imprescindível, pois avalia a representatividade do solo e o tipo de solo em
que a estrutura será apoiada. Desse modo, os primeiros passos para construção
de uma obra são os ensaios geotécnicos e, para isso, o engenheiro civil deve ter
noção da amostragem e dos equipamentos que são utilizados para cada situação.
Segundo Schnaid e Odebrecht (2014), a experiência internacional faz referência
frequente ao fato de que o conhecimento geotécnico e o controle de execução são
mais importantes para satisfazer aos requisitos fundamentais de um projeto do
que a precisão dos modelos de cálculo e os coeficientes de segurança adotados.

Devido à decorrência da grande gama de equipamentos e procedimentos


disponíveis no mercado brasileiro, o estabelecimento de um plano racional de
investigação constitui-se na etapa crítica de projeto. Conhecimento, experiência,
normas e práticas regionais devem ser considerados durante o processo de
“julgamento geotécnico” de seleção de critérios necessários à solução do problema
(SCHNAID; ODEBRECHT, 2014).

Reconhecida a relevância de caracterizar o subsolo e estabelecer


suas características geológicas, geotécnicas e geomorfológicas, é importante
estabelecer a amostragem do solo, a abrangência do programa de investigação,
contextualizando-se a aplicabilidade de cada técnica e os parâmetros de projeto
passíveis de obtenção.

167
UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS

Este tópico mostrará os principais tipos de ensaios para a obtenção de


parâmetros geotécnicos, além disso, aprenderemos sobre os diferentes tipos de
coleta de amostras. Por fim, entenderemos sobre o programa de investigação e a
utilização de cada ensaio para os diferenciados tipos de solos existentes.

Vamos começar?

2 RETIRADA DE AMOSTRAS
A coleta de amostras pode ser de forma que é retirada do solo na condição
de campo (natural); esta, por sua vez, é chamada de amostra indeformada. A
amostra indeformada tem como função preservar as condições do solo do local,
e são utilizadas para ensaios de laboratório que necessitem da preservação da
estrutura do solo, tais como cisalhamento direto e adensamento.

As amostras deformadas correspondem a uma porção de solo amolgado


e representam a profundidade do solo amostrado. Essas amostras são utilizadas
para caracterização do solo, ensaios de compactação e na preparação de corpos-
de-prova para ensaios.

As amostras deformadas possuem a facilidade de coletar, pois não


necessitam da estrutura intacta do campo. No entanto, a retirada da amostra deve
ser feita de forma minuciosa e delicada, deve verificar se não há contaminação da
amostra, pois este fato pode levar a erros na classificação do material.

A Figura 40 corresponde à retirada de uma amostra de solo natural


(indeformada). A confecção do bloco é realizada de forma cautelosa e é essencial
que sejam retirados blocos com dimensões entre 20 cm a 30 cm, pois valores
menores podem não apresentar representatividade e valores maiores podem
causar problemas em termos de desplacamento do solo, podendo a amostra vir
a perder as características físicas. Essas amostras podem ser retiradas na parte
lateral de taludes, ou a partir da construção de trincheiras e poços. Em amostras
naturais, que o solo apresenta baixa resistência, pode-se utilizar os tubos shelbs
(tubos cilíndricos em formato cônico).

O processo de confecção de amostra indeformada deve ser criterioso, esta,


por sua vez, deve ser impermeabilizada através do uso de parafina e tecido com o
objetivo de evitar a perda de umidade. Lembrando que o transporte até o laboratório
deve ser feito de forma rápida e indicar com etiqueta o topo do bloco, para quando se
iniciar os ensaios sabermos o posicionamento correto da amostra no campo.

168
TÓPICO 3 | INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO

FIGURA 40 – EXEMPLO DE COLETA DE AMOSTRAS DEFORMADAS E INDEFORMADAS

FONTE: Massoco (2017, p. 98)

A retirada de amostras indeformadas é mais sensível a possíveis erros.


A escolha do equipamento a ser utilizado depende da natureza do solo a ser
amostrado, da profundidade da amostra e do nível d’água (MACHADO;
MACHADO, 2007).

169
UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS

Seja a amostra deformada ou indeformada, no processo de amostragem


deve ser elaborado um mapa que indique a localização da amostra em que foi
feita a retirada. Além disso, em todas as amostras deve-se indicar a data, o nome
da pessoa que executou a amostragem, fazer uma descrição do clima no dia e
também qualquer característica que for relevante que possa alterar as análises
sobre esses materiais. Apesar de todos esses cuidados, pode acontecer uma
distorção estrutural e uma variação no estado de tensão da amostra, já que ela sai
do estado de confinamento em que estava. As argilas moles são mais sensíveis a
essa perturbação (MACHADO; MACHADO, 2007).

3 ENSAIOS DE CAMPO
No meio da engenharia civil, na fase da construção da infraestrutura, ou
seja, quando engloba aspectos geotécnicos, a caracterização do solo é importante
para entender e garantir a segurança da estrutura ao longo dos anos. Por este
motivo faz-se necessário caracterizar o solo física, mecânica e hidraulicamente.

Essa caracterização e compreensão total do material utilizado ocorre


por meio de ensaios, sejam eles de campo ou de laboratório. Estes, por sua vez,
muitas vezes são negligenciados devido ao custo e à cultura de achar que não
há necessidade, porém deve-se ter em mente que a realização de uma campanha
eficiente de ensaios traz economia com o emprego correto do material e das
técnicas construtivas de acordo com o solo em que aquela estrutura estará.

Com relação aos ensaios de campo, os comumente utilizados, dependendo


do tipo de solo, são: SPT (standard penetration test), Ensaios de cone (CPT) e
piezocone (CPTu), ensaios de palheta, ensaio pressiométrico, ensaio dilatométrico,
rotativa e etc.

3.1 STANDARD PENETRATION TEST (SPT)


O primeiro ensaio a ser feito em qualquer obra é o ensaio SPT (Standard
Penetration test). Este é o equipamento mais utilizado no mundo e é o que indica
se se deve analisar mais precisamente com outros ensaios ou se só os valores
obtidos por ele são suficientes.

O ensaio serve como indicativo da densidade de solos granulares e é


aplicado também na identificação da consistência de solos coesivos, e mesmo de
rochas brandas. Métodos rotineiros de projeto de fundações diretas e profundas
usam sistematicamente os resultados de SPT, especialmente no Brasil (SCHNAID;
ODEBRECHT, 2014, p. 21).
 
O ensaio é definido conforme a NBR:6484 e consiste em uma medida de
resistência dinâmica conjugada a uma sondagem de simples reconhecimento. A
perfuração é obtida por tradagem e circulação de água, utilizando-se um trépano
de lavagem como ferramenta de escavação.

170
TÓPICO 3 | INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO

O SPT constitui-se em uma medida de resistência dinâmica conjugada


a uma sondagem de simples reconhecimento. Amostras representativas do solo
são coletadas a cada metro de profundidade por meio de amostrador padrão com
diâmetro externo de 50 mm. O procedimento de ensaio consiste na cravação do
amostrador no fundo de uma escavação (revestida ou não), usando-se a queda de
peso de 65 kg de uma altura de 750 mm. O valor do Nspt é o número de golpes
necessários para fazer o amostrador penetrar 300 mm, após uma cravação inicial
de 150 mm (SCHNAID; ODEBRECHT, 2014, p. 21).

O ensaio basicamente consiste em cravação nos primeiros 15 cm, e este


valor é anotado, logo em seguida existe a cravação nos próximos 15 cm e este
valor também é anotado; por fim, a última cravação que corresponde ao número
de golpes nos últimos 15 cm, que também é computado, assim o valor de Nspt
corresponde ao número de golpes dos últimos 30 cm de cravações. Após esses 45
cm, é realizada nos 55 cm retirada de amostra para ensaios e reconhecimento do
tipo de solo, ou seja, a análise táctil visual. A Figura 41 corresponde ao processo
de análise das cravações e retirada de solo.

FIGURA 41 – PROCEDIMENTO DE ANÁLISE DO ENSAIO SPT

Lavagem, análise táctil-visual,


55cm

w, granulometria, diferenciar
as camadas

Cravação inicial
15

Cravação para o somatório do Nspt


15
45cm

Cravação para o somatório do Nspt


15

FONTE: A autora

As vantagens desse ensaio com relação aos demais são: simplicidade do


equipamento, baixo custo e obtenção de um valor numérico de ensaio que pode
ser relacionado por meio de propostas não sofisticadas, mas diretas, com regras
empíricas de projeto. Apesar das críticas pertinentes que são continuamente feitas
à diversidade de procedimentos utilizados para execução do ensaio e à pouca
racionalidade de alguns dos métodos de uso e interpretação, esse é o processo
dominante ainda utilizado na prática de Engenharia de Fundações (SCHNAID;
ODEBRECHT, 2014, p. 22).
171
UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS

A Figura 42 corresponde a um desenho esquemático do equipamento de


SPT e a Figura 42 corresponde a um relatório de ensaio de SPT.

FIGURA 42 – DESENHO ESQUEMÁTICO DO ENSAIO SPT

FONTE: Pinto (2006, p. 47)

A Figura 43 mostra um laudo de SPT com uma escala de Nspt considerada


a cada metro. A terceira coluna corresponde aos valores de golpes por 15 cm
ou a depender do quanto o amostrador penetrou, por exemplo, na camada um
verifica-se o valor de 1/45 cm, ou seja, um golpe penetrou 45 cm, neste caso o
valor do Nspt é 1/45 ou 1. Na camada 3 existem três valores, neste caso o valor de
Nspt corresponde ao somatório dos últimos 30 cm, ou seja, 18 + 34 que corresponde
a 52. Quando não ocorre penetração de todo amostrador, registra-se o SPT em
forma de fração (por exemplo, 20/14, indicando 20 golpes, houve uma penetração
em 14 cm).

172
TÓPICO 3 | INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO

FIGURA 43 – LAUDO DE ENSAIO SPT

FONTE: A autora

173
UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS

A Tabela 5 e a Tabela 6 correspondem à classificação do solo quanto à


compacidade e consistência definidos pela NBR 6484:2001 da ABNT.

TABELA 5 – COMPACIDADE DAS AREIAS EM FUNÇÃO DE VALORES DE NSPT

Resistência à penetração (número N do SPT) Compacidade da areia


0a4 Muito fofa
5a8 Fofa
9 a 18 Compacidade média
18 a 40 Compacta
Acima de 40 Muito compacta

FONTE: NBR 6484: 2001

TABELA 6 – CONSISTÊNCIAS DAS ARGILAS EM FUNÇÃO DE DADOS DE NSPT

Resistência à penetração (número N do SPT) Consistência da argila


<2 Muito mole
3a5 Mole
6 a 10 Consistência média
11 a 19 Rija
> 19 Dura

FONTE: NBR 6484: 2001

O Nspt é utilizado intensamente em projetos de fundação. Em projetos


multifamiliares, unifamiliares e de infraestrutura, a definição do tipo de fundação
e análises de projeto, como comprimento de estaca, tipo de estaca etc., são
usualmente baseadas nos resultados de sondagens (identificação visual e SPT),
estas são analisadas de acordo com a experiência regional e o conhecimento
geológico do local.

ATENCAO

O primeiro ensaio a ser utilizado em qualquer região é o ensaio SPT, pois


permite verificar a estratigrafia do solo e as condições básicas de resistência. No entanto,
quando o solo apresenta resistência baixíssima (0 a 5), os dados que correspondem ao
Nspt são insuficientes, pois o equipamento em si não mensura pequenas resistências (as
medições não são satisfatórias em solos moles, por exemplo). Além disso, o ensaio não
ultrapassa matacões e o impenetrável, fazendo com que haja a necessidade de ensaios
específicos para determinado solo.

174
TÓPICO 3 | INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO

A cravação irá parar quando estiver definido no boletim ou quando:

• Em qualquer dos três segmentos de 15 cm de um total de 45cm, o número de


golpes ultrapassar a 30;
• Um total de 50 golpes tiver sido aplicado durante toda a cravação;
• Não se observar avanço do amostrador padrão durante a aplicação de cinco
golpes sucessivos do martelo.

3.2 ENSAIO DE CONE (CPT) E PIEZOCONE (CPTU)


Os ensaios CPT (Cone Penetration Test) e CPTu (Piezocone Penetration
Test) são utilizados principalmente em solos moles e caracterizam-se como um
equipamento importante de prospecção geotécnica. Os resultados do ensaio
podem ser utilizados para determinação de capacidade suporte do solo/fundação,
análise de resistência, determinação estratigráfica de perfis de solos etc.

O ensaio tem formato de uma estaca em dimensões reduzidas e é


acompanhado de uma ponteira, o princípio de funcionamento (SCHNAID;
ODEBRECHT, 2014, p. 68) do ensaio de cone é determinado a partir da cravação,
no terreno, desta ponteira cônica (60° de ápice) a uma velocidade constante de
20 mm/s a 5 mm/s. A seção transversal do cone é, em geral, de 5 cm² a 15 cm²
dependendo das condições.

Os equipamentos podem ser classificados em três categorias: (a) cone


mecânico, que caracteriza-se pela medida na superfície, dos esforços necessários
para cravar a ponta cônica ( qc ) e do atrito lateral ( qc ) (Figura 44); (b) cone elétrico,
em que a adaptação de células de carga instrumentadas eletricamente permite a
medida de qc e qc diretamente na ponteira; e (c) piezocone, que, além das medidas
de qc e f s , mede as dissipações das poropressões, ou seja, a contínua monitoração
das pressões neutras geradas durante o processo de cravação (SCHNAID;
ODEBRECHT, 2014, p. 68).

FIGURA 44 – DISTINÇÃO DA RESISTÊNCIA DE PONTA E ATRITO LATERAL DO APARELHO CPT


Atrito lateral, fs

Sem análise das


Resistência de dissipações de
ponta, qc poropressões

FONTE: A autora

A grande vantagem do ensaio é o fornecimento dos parâmetros até a


profundidade desejada, ou seja, em perfis (registro contínuo) e não pontualmente,
como o ensaio SPT e outros. Este fato faz com que haja uma descrição detalhada
do perfil do subsolo e a eliminação da influência de um operador.

175
UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS

O procedimento do CPT mecânico se dá pela cravação apenas do cone,


inicialmente ao longo de 4 cm, registrando-se apenas a resistência de ponta.
Em seguida, as hastes internas são avançadas mais 4 cm, fazendo com que seja
cravado o conjunto cone e luva de atrito e, assim, medida a resistência de ponta
acrescida da resistência de atrito lateral, sendo esta última obtida pela diferença.
Procede-se a descida das hastes externas ao longo de 20 cm, as quais trazem
consigo as luvas de atrito por 16 cm e o cone por 12 cm, a partir daí, repete-se o
procedimento. A Figura 46 exemplifica este processo de inserção da haste ao solo.

Sabe-se que o grande diferencial do ensaio CPTu ou piezocone, além das


informações de qc e f s , é o registro da poropressão do solo (u). A penetração é
obtida através da cravação contínua de hastes de comprimento de 1 m, seguida
da retração do pistão hidráulico para posicionamento de nova haste. O registro
das leituras é contínuo e automático por meio de cabos elétricos que atravessam
o interior das hastes conectando a ponteira a um computador. O registro da
poropressão é realizado através de anéis que são posicionados no equipamento,
conforme Figura 45, e são definidos por u1, u2 e u3.

FIGURA 45 – DETALHES DO EQUIPAMENTO DE CPTU


Atrito lateral, fs

Com análise das


Resistência de dissipações de
ponta, qc poropressões

Poro-pressão, u1 Poro-pressão, u2 Poro-pressão, u3


FONTE: A autora

FIGURA 46 – PROCEDIMENTO DE INSERÇÃO DO APARELHO CPT

FONTE: Higashi et al. (2013, p. 18)

176
TÓPICO 3 | INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO

Existem vários métodos de identificação do tipo de solo ao longo do perfil


determinado pelos gráficos e por fórmulas específicas, porém uma maneira mais
fácil e rápida é através da identificação visual dos perfis obtidos, com esse método
é possível analisar e supor se naquela profundidade o solo tem comportamento
arenoso ou argiloso.

Solos arenosos são constituídos normalmente por partículas maiores e


isto possibilita que os vazios entre os grãos permitam a passagem da água mais
facilmente; por outro lado, com relação aos solos argilosos, as partículas são muito
pequenas e há uma dificuldade na passagem da água entre os espaços vazios do
solo. Este fato faz com que, ao aplicar qualquer carga sobre o solo saturado (cheio
de água), a água tenderá a sair por todos os lados; ela, portanto, dissipa-se mais
rapidamente se for um solo com características arenosas ou mais lentamente se
for um solo fino (argilas e siltes).

Ao analisar a Figura 47 percebe-se três perfis: resistência de ponta ( qc ),


resistência lateral ( f s ) e poropressão (u). Solos arenosos apresentam resistência
de ponta bem maior (representa picos) do que um solo argiloso a mole, porém
quando analisamos o gráfico de poropressão, os solos finos (argilosos) apresentam-
se maiores do que os solos arenosos, isto devido à facilidade que a água tem de
escapar dependendo do tipo de solo.

FIGURA 47 – PERFIS DE RESISTÊNCIA OBTIDOS PELOS ENSAIOS CPTU

FONTE: A autora

3.3 ENSAIO DE PALHETA (VANE TEST)


O ensaio de Palheta, também conhecido como Vane test, é tipicamente utilizado
em solos moles e de baixa resistência (argilas moles), seus resultados correspondem a
valores de resistência não drenada (Su) que são determinados em campo.

A palheta é um equipamento de seção cruciforme que e é cravado em argilas


saturadas de consistência mole a rija, é submetido a um torque fundamental para
cisalhar o solo por rotação em condições não drenadas. É necessário, portanto,

177
UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS

o conhecimento prévio da natureza do solo onde será realizado o ensaio, não


só para avaliar sua aplicabilidade, como para, posteriormente, interpretar
adequadamente os resultados (SCHNAID; ODEBRECHT, 2014). Embora o
ensaio possa ser executado em argilas com resistências de até 200 kPa, a palheta
especificada na Norma Brasileira apresenta desempenho satisfatório em argilas
com resistências inferiores a 50 kPa. Algumas das recomendações, segundo
Schnaid e Odebrecht (2014, p. 128), para usabilidade do ensaio são:

a) Nspt menor ou igual a 2, correspondendo à resistência de penetração (qc)


menor ou igual a 1000 kPa;
b) Matriz predominante argilosa (>50% passando na peneira #200, LL>25, IP>4);
c) Ausência de lentes de areia (a ser definida previamente por ensaios de
penetração).

A palheta normalmente possui dimensões:

a) Diâmetro de 65 mm e altura de 130 mm, porém admite-se placa menor de diâmetro


de 50 mm e altura de 100 mm quando ensaiadas argilas rijas de Su>50 kPa;
b) Altura igual ao dobro do diâmetro;
c) O torque é aplicado em uma rotação com velocidade de 6 +-0,6°/min, e as leituras
são feitas a cada 2 graus, permitindo determinar a curva torque x ângulo.

A Figura 48 corresponde a detalhes do equipamento de Vane test.

FIGURA 48 – DETALHES DO EQUIPAMENTO DE VANE TEST

FONTE: Adaptado de Schnaid e Odebrecht (2014)

178
TÓPICO 3 | INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO

O torque e a rotação são definidos em gráficos e o ponto máximo corresponde


ao torque máximo que é o utilizado pela equação 30 para encontrar a resistência
não drenada (Su). Após o ensaio ser realizado há o rotacionamento da palheta em
sentido contrário para encontrar a resistência não drenada amolgada. A Figura 49
corresponde a um resultado de ensaio de palheta, em que há a rotação em sentido
horário (amostra indeformada) e em sentido anti-horário (amostra deformada).

FIGURA 49 – ENSAIO DE PALHETA


50

40
Torque (N.m)

30

20

10
Atrito

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Graus

indeformado amolgado

FONTE: A autora

0,86T (30)
Su =
ΠD3

Onde: T o torque máximo; D o diâmetro da palheta.

Os valores de Su amolgado e Su indeformado são utilizados para


encontrar a sensibilidade da argila, ou seja, o quanto a argila resiste em relação
ao estado amolgado. A equação 31 corresponde à relação para encontrar a
sensibilidade da argila.

Su
St= (30)
S ua

Onde: Sua corresponde à condição amolgada.

179
UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS

Valores de sensibilidade entre 2 e 4 correspondem a argilas não sensíveis,


ou seja, têm capacidade de recuperar e o amolgamento não influi tanto na
resistência, valores próximos a 100 são argilas extremamente sensíveis com baixa
recuperação e perda de resistência.

3.4 SONDAGEM ROTATIVA


A sondagem rotativa é bastante utilizada quando a região possui bastantes
matacões ou quando se quer analisar a qualidade do maciço rochoso. Pode-se
utilizar a sondagem rotativa intercalada com o ensaio SPT.

A rotativa tem como função perfurar rochas e medir a qualidade delas,


a perfuração faz com que haja a obtenção de testemunhos de rochas e, através
destes, é possível verificar a qualidade.

Os testemunhos são armazenados em caixa e coletados normalmente com


tamanhos que variam de 1 a 1,5 metro, dependendo do comprimento do barrilete
utilizado. Isto permite determinar a qualidade do maciço rochoso através do
índice RQD (Rock Quality Designation), conforme a seguir:

Fragmentos com mais de 10 cm


Comprimento de fragmentos recuperados
RQD (ROCK QUALITY DESIGNATION) = x 100
Comprimento total do barrilete

Porcentagem de recuperação

A escala de qualidade é definida por rocha de má qualidade a rocha de


boa qualidade, esta é mostrada na Tabela 7.

TABELA 7 – QUALIDADE DA ROCHA

RQD (%) Qualidade do Maciço Rochoso


0 – 25 Muito fraco – rocha de má qualidade
25 – 50 Fraco – rocha de má qualidade
50 – 75 Regular – Rocha de qualidade regular
75 – 90 Bom – Rocha de boa qualidade
90 – 100 Excelente – Rocha de excelente qualidade

FONTE: Adaptado de Schnaid e Odebrecht (2014)

180
TÓPICO 3 | INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO

3.5 ENSAIO PRESSIOMÉTRICO


O ensaio pressiométrico é realizado tendo maior aplicação nos solos e
rochas brandas ou solos duros, e consiste na introdução de uma sonda cilíndrica
dentro de um furo aberto no solo e na aplicação de uma pressão que levará à
expansão da sonda. Tem como consequência uma compressão horizontal do solo
na zona envolvente e determinação de comportamento tensão versus deformação.

FIGURA 50 – MODELO DE EQUIPAMENTO E FUNCIONAMENTO DO ENSAIO PRESSIOMÉTRICO

FONTE: Adaptado de Schnaid e Odebrecht (2014)

4 ENSAIOS DE LABORATÓRIO
Os ensaios de laboratório utilizados para analisar os estados de consistência
e plasticidade foram explicados na Unidade 2. Assim, neste item será dada ênfase
a ensaios de determinação de resistência (cisalhamento direto) e de deformação
(ensaio de adensamento).

181
UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS

a) Cisalhamento direto

Para entendermos e começarmos a projetar fundações e obras


infraestruturais (aterros, barragens etc.), temos que ter noções de resistência que
o solo irá suportar, devido a toda essa estrutura sobre o solo aplicada não vir a
ocasionar ruptura. Ao denominar ruptura, percebemos que este é um fenômeno
característico de cisalhamento direto, ou seja:

A resistência ao cisalhamento se caracteriza como a máxima tensão que


o solo pode suportar sem sofrer ruptura, ou a tensão de cisalhamento
do solo no plano em que a ruptura ocorrer (PINTO, 2006, p. 260).

A resistência de um solo está ligada a dois fatores principais: coesão e


ângulo de atrito do solo. O ângulo de atrito vem dos conceitos básicos de atrito dos
solos, este por sua vez, corresponde à intensidade a qual o grupo de partículas tem
dificuldade de deslizar uma as outras, e a inclinação do deslizamento corresponde
ao ângulo de atrito, quanto maior o ângulo de atrito, mais atrito entre as partículas
existem. Assim, o atrito corresponde aos efeitos mecânicos das partículas entre si,
diferentemente da coesão, em que devido às atrações químicas entre partículas
forma-se uma resistência independente da tensão normal, fazendo um papel de
cola, ou seja, uma coesão real.

Os ensaios mais utilizados para definição das condições cisalhantes


devidas a tensões aplicadas são: cisalhamento direto e triaxial.

O ensaio de cisalhamento direto pode ser realizado com amostras


compactadas e indeformadas de campo. Este ensaio é um dos mais antigos
equipamentos utilizados para encontrar a resistência ao cisalhamento e se baseia
no critério de Mohr Coulomb. O processo consiste em aplicar uma tensão normal
em um plano e verificar a tensão cisalhante que provoca a ruptura.

O ensaio triaxial é realizado através de uma compressão triaxial


convencional, e esta consiste na aplicação de um estado hidrostático de tensões e
de um carregamento axial sobre um corpo de prova cilíndrico do solo. Para isto,
o corpo-de-prova é colocado dentro de uma câmara de ensaio, conforme Figura
51, e envolto por uma membrana de borracha. A câmara é enchida com água e há
a aplicação de uma pressão confinante, esta pressão confinante atua em todas as
direções, e o corpo fica em um estado hidrostático de tensões (PINTO, 2006, p. 266).

182
TÓPICO 3 | INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO

FIGURA 51 – ESQUEMA DA CÂMARA DO ENSAIO TRIAXIAL

FONTE: A autora

b) Ensaio de adensamento

O efeito da formação de um solo sedimentar, num elemento, é bem


representado pelo ensaio de compressão edométrica. Nos dois casos, carregamentos
verticais são feitos sem que haja possibilidade de deformação lateral.

O ensaio de adensamento é bastante utilizado para o cálculo de recalques


de um aterro, de uma fundação sobre o solo. Este ensaio é essencial para analisar
o comportamento do solo em termos de deformações que o solo já tenha sofrido
e para estimar o que vai sofrer.

Procedimentos do ensaio:

• Moldagem do corpo-de-prova.
• Transferir a amostra para a célula de adensamento e posicioná-la na prensa.
• Preencher a célula de adensamento com água até que toda a amostra seja submersa.
• Aguardar em torno de 24 horas para que ocorra a acomodação das partículas e
que a água preencha todos os vazios.
• Iniciar as etapas de carregamento (no mínimo, cinco estágios de carregamento
seguindo uma PG de ordem 2. O primeiro carregamento a ser imposto na
amostra são 5 kPa). Portanto os estágios iniciais do ensaio são: 5kPa, 10kPa,
20kPa, 40kPa, 80kPa.

183
UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS

• Os estágios de carregamento deverão continuar até que a máxima tensão


vertical que atuará em campo seja ultrapassada.
• Para cada estágio de carregamento são medidas as variações de altura do cp por
meio de um extensômetro instalado no topo da amostra. As leituras deverão ser
realizadas nos seguintes intervalos de tempo: 8, 15 e 30 segundos, 1, 2, 4, 8, 15, 30
minutos, 1, 2, 4, 8, 16 e 24 horas, ou até que ocorra a estabilização das mesmas.
• Após o término no último estágio de carregamento, costuma-se fazer estágios
de descarregamentos para avaliar o aumento do volume do cp. As medidas
da variação de altura da amostra devem ser feitas da mesma forma que nos
estágios de carregamento.

São obtidas duas curvas: variação da altura do corpo-de-prova versus


raiz quadrada do tempo; e a curva de compressibilidade (variação do índice
de vazios versus tensão vertical efetiva em escala log (Figura 52), na qual
são determinados os coeficientes necessários para o cálculo do recalque por
adensamento primário e secundário.

FIGURA 52 – UM DOS GRÁFICOS RESULTANTES DO ENSAIO DE ADENSAMENTO


CURVA DE COMPRESSIBILIDADE
2,30
2,20
Índice de Vazios Final

2,10
2,00

1,90
1,80

1,70

1,60
1,50

1,40
0,01 0,10 1,00 10,00 100,00
Pressão (kg/cm2)
FONTE: A autora

5 PROGRAMA DE INVESTIGAÇÃO
A investigação geotécnica pode ser dividida em três métodos (Figura 53)
e depende do porte da obra a ser construída. Para estruturas de pequeno porte,
deve-se utilizar uma investigação limitada, porém é adotada uma abordagem
mais conservadora, com valores de segurança altos. Para estruturas convencionais
sem risco e em que as cargas estão dentro dos padrões conhecidos, é possível
projetar com recomendações baseadas na prática regional, porém quando o solo
se apresenta com baixa resistência, deve-se fazer uma investigação detalhada.

184
TÓPICO 3 | INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO

FIGURA 53 – MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO DE UMA LOCALIDADE

FONTE: A autora

De forma geral, o julgamento geotécnico deve ser feito em três etapas:

a) Projeto conceitual: Analisar o entorno da região e fazer um projeto com dados


regionais;
b) Projeto básico: A partir de estudos técnicos preliminares
c) Projeto executivo: conforme NBR12722:1992 e NBR8036:1983

FIGURA 54 – RESUMO DAS ETAPAS DE JULGAMENTO GEOTÉCNICO


Projeto conceitual Ver as alternativas na região
Projeto básico A partir de estudos técnicos
Julgamento geotécnico preliminares

Projeto executivo NBR 12722/1992


NBR 8036/1983
FONTE: A autora

A NBR 8036:1983 é utilizada para saber o quanto de sondagens, localização


e profundidade da sondagem de simples reconhecimento, já a NBR12722:1992
são orientações para análise de projeto.

É fundamental ter conhecimento das normas e ensaios para cada situação


e tipo de perfil estratigráfico encontrado no local da obra, além deste fato, verifica-
se a importância dos equipamentos utilizados, pois quanto melhor houver um
conhecimento sobre equipamentos, mais acertado será o instrumento para o uso,
e assim, consequentemente os parâmetros geotécnicos definidos no local de obra
serão os mais próximos da realidade.

185
UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS

LEITURA COMPLEMENTAR

É imprescindível aplicar os conhecimentos de mecânica dos solos em


análises de infraestrutura. Esta leitura complementar mostra um artigo apresentado
em 2018 no Congresso Brasileiro de mecânica dos solos e engenharia geotécnica
pelos Autores: Narayana Saniele Massocco, Ângela Grando e Marciano Maccarini.

1 INTRODUÇÃO

O adequado conhecimento das características e parâmetros geotécnicos


dos solos, principalmente daqueles relacionados com a resistência, conduz a
uma maior probabilidade de otimização dos projetos de natureza geotécnica
(fundações de edifícios, estrutura de contenção de terras, aterro entre outros). Do
ponto de vista geotécnico, o traçado da rodovia que liga BR-101 à São Martinho,
em Tubarão (Santa Catarina-Brazil), foi projetado em uma área de rizicultura, onde
o lençol freático encontra-se próximo da superfície e há a predominância de solo
mole. Também chamados de solos compressíveis, os solos moles são geralmente
constituídos por uma alta porcentagem de materia orgânica e altos teores de
umidade. São solos finos (argilas e siltes), e possuem baixa resistência a esforços
de cisalhamento. Ao considerar que o local da pesquisa pertence a uma faixa
litorânea, e que são nessas áreas que atualmente a demanda de infraestrutura é
maior, fazem-se necessárias soluções geotécnicas na execução de obras sobre este
tipo de solo. Para isso, deve-se ter acurácia na determinação dos parâmetros de
resistência não drenada que condizem com as condições reais do subsolo. Além
disso, a execução de sondagens específicas nos solos moles, gera suporte a análise
da resistência à ruptura e recalques.

Para solos argilosos, especialmente os solos moles, os parâmetros da


resistência não drenada são mais precisos quando obtidos com ensaios específicos
e, atualmente os ensaios de piezocone (CPTu) em conjunto com os resultados dos
ensaios com palhetas são os mais utilizados em perfis de solos compressíveis. Os
resultados dos ensaios definem que a resistência de cone (qt) é alta em areias e
baixa em argilas, e a razão de atrito (Rf) é elevada em argilas e baixa em areias.
Este fato destaca o uso do fator de cone Nkt para as análises e, com isso, pode-
se utilizar o número dos golpes do ensaio SPT (NSPT) apenas para uma análise
prévia. O Fator de Cone Nkt é utilizado para depósitos argilosos e estima o fator
da capacidade de carga que pode ser obtida por meio da aplicação da teoria de
equilíbrio limite ou do método da trajetória das deformações.

A correlação entre ensaios de Piezocone e resistência não drenada (obtidos


pelo ensaio de Vane Test) para encontrar o fator de cone (Nkt) e determinar o
comportamento da resistência não drenada (Su) ao longo da profundidade são
efetivos. Magnani (2006) realizou estudos de solo mole localizado no interior
da Baía Sul da Ilha de Santa Catarina, no município de Florianópolis, estado de
Santa Catarina-Brasil, através de ensaios triaxial, CPTu e Vane Test encontrou
valores de Nkt igual a 12 com perfil de Su variando com a profundidade. Também

186
TÓPICO 3 | INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO

é possível verificar estudos de Rocha Filho e Alencar (1985) obtiveram Nkt de 10-
15 e Danziger (1990) com Nkt de 8-12 na região de Sarapuí/RJ; no Nordeste do
Brasil estudos de Coutinho et al. (1993) e (2014) com Nkt 10-15, e estudos no sul
do Brasil de Soares et al. (1997) com Nkt de 8-16.

Os parâmetros de resistência não drenada (Su) advindos dos ensaios de


palheta podem ser correlacionados com os ensaios de piezocone, e desse modo
ser possível estimar a resistência não drenada com o aumento de profundidade.
Esta análise é uma das soluções para analisar os problemas de estabilidade
relativos aos solos saturados. Segundo Schnaid (2010) a determinação de valores
representativos da resistência ao cisalhamento não drenada (Su) da argila,
constitui-se em fator determinante de projetos porque estes valores permitem:
a avaliação da estabilidade dos taludes do aterro e o dimensionamento de
fundações e pavimentos.

Assim, o objetivo dessa pesquisa, a qual fez parte do desenvolvimento de


uma monografia, refere-se a uma análise e obtenção dos valores dos fatores de cone
dos solos compressíveis a partir dos ensaios CPTu e Palhetas e, posterior análise do
fator de segurança de um aterro sobre este solo para a construção da rodovia.

2 ÁREA DE ESTUDO

A área em estudo localiza-se próximo ao município de Tubarão-SC. A


implantação da rodovia está localizada nos municípios de Tubarão que liga a rodovia
BR-101 ao bairro São Martinho, como mostrado na Figura 1. O comprimento total
da rodovia é de aproximadamente 4 km de extensão e será o objeto de investigações
do comportamento do solo quanto à implantação desta obra.

FIGURA 1 – Localização da rodovia

Fonte: (MASSOCCO, 2013)

187
UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS

Os dados pedológicos do Município descreveram predominância dos


solos classificados como Argissolos. Também chamados de Argissolos Vermelho-
Amarelos (PVA) os quais são desenvolvidos de rochas cristalinas ou sob
influência destas. Apresenta horizonte de acumulação de argila, B textural (Bt),
onde há textura franco arenosa com incremento de argila, com cores vermelho-
amareladas devido à presença da mistura dos óxidos de ferro hematita e goethita
(EMBRAPA, 2012).

Segundo Higashi (2001), as características geológicas mais presentes no


município são: Suíte Intrusiva Tabuleiro, Sedimentos síltico-arenosos e sedimentos
argilo-arenosos contendo matéria orgânica de origem fluvio-lagunar.

3 METODOLOGIA

A metodologia utilizada neste trabalho refere-se a uma análise de dados


obtidos em um banco de dados geotécnicos que foram utilizados por Massocco
(2013) e fazem parte da pesquisa de Grando (2016). Foram utilizados dados de
ensaios standard penetration test (SPT), Piezocone (CPTu) e ensaio de palheta (Vane
test), bem como dados de ensaios laboratoriais de adensamento.

3.1 Determinação do Perfil estratigráfico

A partir dos dados de sondagem SPT, o perfil estratigráfico do solo pode


ser constituído e subdividido em 8 pontos para a definição dos locais de realização
dos ensaios de Piezocone e Palheta.

TABELA 1 – Subdivisão dos trechos da rodovia

Trechos Nomenclatura
1 CPTu-01
2 CPTu-02
3 CPTu-04
4 CPTu-05
5 CPTu-06
6 CPTu-07
7 CPTu-08
8 CPTu-09

3.2 Identificação dos fatores de resistência do solo

Nesta pesquisa, o peso específico do solo utilizado foi o peso do solo


saturado, pois foi considerado que o nível do lençol freático está próximo a
superfície. Desse modo, a partir dos ensaios de adensamento, realizados em
laboratório em amostras coletadas por meio de tubo Shelby, foram obtidos os
valores do peso específico para o solo úmido (γsat).

188
TÓPICO 3 | INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO

A nomenclatura adotada para cada ponto foi denominada segundo os pontos


do ensaio de Piezocone (CPTu). Então, com o valor do peso específico dos pontos
de ensaio foi possível encontrar os valores das demais camadas da estratigrafia, a
partir de aproximações dos valores calculados pelo ensaio de adensamento. Ainda,
para cada ponto, nas camadas subjacentes foi definido valores de pesos específicos
conforme o aumento da profundidade e subdivisão das camadas.

A tensão vertical total do solo (σv0) foi utilizada para os cálculos, pois é
considerada a parcela de poropressão atuante, uma vez que, o solo é considerado
saturado. Assim, esta tensão foi identificada para cada divisão de camada e
profundidade nos oito pontos de realização dos ensaios de Palheta e Piezocone,
por meio da equação (1) e da equação (2):

σv0= γsat × h (1)

σv0= γsat × z (2)

Onde: σv0 é a tensão vertical total do solo [kPa]; qt é a resistência de ponta


corrigida [kPa], determinada pelo ensaio de Piezocone; h são as profundidades
[m] medidas pelo ensaio de Piezocone; z é profundidade [m] no ponto de medida
do ensaio de Palheta.

3.3 Fator de cone (Nkt) e da resistência não drenada (Su)

O ensaio de palheta fornece a resistência não drenada do solo (Su) [kPa].


A partir dos dados medidos neste ensaio foi possível calcular os valores do fator
de cone (Nkt) para 19 dados de ensaio de Palheta pela equação (3):

qt-σ v
Nkt= 0 (3)
Su

Com os valores de Nkt encontrados pela equação (3) foi possível obter
uma média desses valores para cada local de ensaio de Piezocone, por meio da
equação (4):

Nkt1 +...+Nktn
Nktmédio= (4)
n

Onde: Nkt1 é o valor inicial; Nktn é o valor final; n é o número de valores


de Nkt.

Adotando o valor médio de Nkt para cada ponto do ensaio de Piezocone


foi possível encontrar o Su nas demais profundidades deste ensaio, equação (5):

qt - σ v
Su = 0 (5)
Nkt
189
UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS

Os ensaios de Piezocone (CPTu) foram realizados em 8 locais. Como a


obtenção dos valores de Nkt depende dos dados do ensaio de Palheta, foi possível
encontrar os valores de Nkt para os 19 pontos do ensaio de Palheta. Em cada local
foram realizadas medidas de Su em diferentes profundidades e a partir disso, a
média dos valores de Nkt foi encontrada para cada um desses pontos.

Plotando os valores de Nkt com a profundidade foi encontrada a faixa


de valores que este se encontra e assim, definido um valor único deste fator
para representação em projeto. No entanto, neste trabalho, para uma análise
aprofundada o Nkt utilizado para fins de cálculo foi o médio para cada CPTu
analisado. Com os valores de Nkt médios encontrados foi realizada uma
correlação com resultados determinados por outras pesquisas.

A partir dos valores de Su foram obtidos para cada ponto de ensaio de


Piezocone e Palheta, um gráfico Su versus profundidade. Assim, foi possível
construir gráficos para pontos de ensaio e escolhido um valor de Su médio para
cada gráfico, ou seja para cada trecho.

3.4 Análise de estabilidade

Para a análise de estabilidade foi escolhido, apenas um perfil: o trecho 5.


A partir dos valores obtidos de resistência não drenada neste perfil de solo, foi
admitido uma altura crítica de 3m de aterro. O perfil de resistência não drenada,
para uma melhor análise, foi dividido em valores médios de Su por camadas.

Definidos os perfis de resistência não drenada, com as dimensões e


parâmetros do aterro foi possível utilizar o software Slide para a verificação do
fator de segurança.

4 RESULTADOS

4.1 Fatores de resistência do solo

A partir dos valores de resistência não drenada (Su) obtidos pelo ensaio
de palheta, foram determinados os fatores de cone (Nkt) para os pontos deste
ensaio. A tabela 2 corresponde aos valores dos parâmetros de γsat, Su (medidos
pelo ensaio de palheta), qt, Nkt e Nktmédio (estimados).

TABELA 2 – Valores de parâmetros do Solo compressível.


Prof γsat Su σv0 qt Nkt
Nkt
(m) (kN/m³) (kPa) médio
10 13,8 34,61 138 684 16
14
14 15,5 46,63 205 804 13
6 13,8 28,47 83 424 12
15
14 13,8 33,33 216 818 18
5 12,9 12,61 64 219 12 12

190
TÓPICO 3 | INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO

4 14,6 12,44 58 205 16


10 14,6 14,51 146 447 21 18
16 14,9 17,69 237 638 23
4 8,03 8,03 52 205 19
10 21,8 21,80 129 439 14 17
16 31,65 31,65 210 - -
4 10,49 10,49 54 230 17
10 14,77 14,77 135 439 18 18
16 22,57 22,57 215 629 18
2 10,52 10,52 24 151 12
4 8,42 8,42 48 250 24 19
6 8,60 8,60 72 250 21
4 10,17 10,17 54 208 15
8 13,22 13,22 108 282 13 13
12 19,62 19,62 162 396 12

A partir dos dados fornecidos na tabela 2, pode-se perceber a distribuição


dos valores da profundidade versus Nkt (Figura 2), em que foi possível definir a
faixa de valores deste parâmetro e adotar um valor único de projeto.

O valor de Nkt médio considerado (16) está coerente ao comparar com as


pesquisas da literatura para este solo com argila mole, Schnaid (2008) ao estudar
um depósito em Porto Alegre/RS obteve Nkt na faixa de 8 à 16 e Magnani na
região de Florianópolis (SC) com Nkt de 12.

Para analisar a distribuição dos dados a Figura 3 corresponde aos valores


de resistência não drenada versus (qt-σv0) a inclinação de 0,0629 corresponde a
um Nkt de 15,89 (aproximadamente 16) com R² de 0,8308.

Para obter uma análise geral a Figura 4 corresponde aos valores de Nkt
encontrados nesta pesquisa com valores obtidos na literatura de diferentes
regiões do Brasil.

FIGURA 2 – Valores de Fator de cone (Nkt) dos perfis de solo


Fator de cone - Nkt
0 10 20 30
0
Profundidade (m)

10

Nkt adotado no
projeto: 16
15

20

191
UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS

Desse modo, confirma-se que o valor de Nkt adotado (16), para o projeto
está de acordo com a faixa de valores encontrada pelos autores descritos, e neste
caso, é considerado conservacionista, ou seja, está a favor da segurança do aterro,
uma vez que, um valor maior de fator de cone (Nkt) indica que o solo possui
menor resistência.

FIGURA 3 – Relação de Su versus qt-σv0


30
Su = 0,0629 (qt - σv0)
R2 = 0,8308
25

20
Su [kPa]

15

10
Nkt adotado 14
5

0
0 100 200 300 400 500 600
qt - σv0 [kPa]

FIGURA 4 – Correlação entre Nkt com regiões do Brasil


30

25

20
Tendência
Almeida (2002)
Su [kPa]

15 Magnani (2006)
Baroni (2010)
10 Schnaid et al (2001)
Dados
5 Almeida (2002)

0
0 100 200 300 400 500 600
qt - σv0 [kPa]

192
TÓPICO 3 | INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO

4.2 Variação da resistência não drenada

Com os valores da média de Nkt para cada trecho do ensaio de piezocone, foi
possível determinar para as demais profundidades deste ensaio os valores médios
de resistência não drenada (Su), bem como a variação da resistência não drenada ao
longo da profundidade que são mostradas nas figuras 5, 6 (de a até e) e 7.

FIGURA 5 – Perfil de Su do Trecho 1

Foi possível verificar nos perfis de resistência não drenada que nas
camadas iniciais há um pico de resistência para todos os trechos analisados. Este
fato foi justificado pela presença de turfa na camada superficial do solo, o que
originou valores de Su aparentemente incoerentes, pois a composição orgânica
(fibras e raízes) geram valores de resistência imprecisos.

Os valores altos de resistência não drenada foram desconsiderados por se


tratar de solos com alta capacidade suporte, característico de solos não coesivos.
Assim, os valores de resistência não drenada variaram de 8 a 30 kPa.

193
UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS

a) Perfil de Su do Trecho 2 b) Perfil de Su do Trecho 3

c) Perfil de Su do Trecho 4 d) Perfil de Su do Trecho 5

194
TÓPICO 3 | INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO

FIGURA 6 – Perfis de Su dos Trechos 2 a 7

e) Perfil de Su do Trecho 6 f) Perfil de Su do Trecho 7

FIGURA 7– Perfil de Su do Trecho 8

g) Perfil de Su do Trecho 8
195
UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS

3.4 Análise de estabilidade

A análise da estabilidade foi realizada para o trecho 5, com os parâmetros


que constam na tabela 3, calculados e definidos para cada profundidade.

O fator de segurança foi obtido por meio dos parâmetros da tabela 3, com
o auxílio do software slide. A figura 8 corresponde ao desenho do aterro, bem como
as dimensões das camadas e o fator de segurança. Verificou-se que neste perfil o
fator de segurança foi 0,705, considerado baixo, mostrando que o aterro necessita
de melhorias na estabilidade para obter um ganho de resistência. Além disso,
verificou-se que os recalques proeminentes do adensamento do solo devem ser
calculados, pois os perfis são na sua maioria compostos por solos compressíveis.

TABELA 3 – Parâmetros de cálculo do fator de segurança

γnat γsat φ Su
Camadas
[kN·m ]
-3
[°] [kPa]
Pavimento 20 - 45 -
Aterro 20 - 35 5
Colchão drenante 18 - 30 -
Turfa - 12.9 - 10
Argila muito mole, cinza
- 12.9 - 15
escuro (A)
Argila muito mole, cinza
- 13.1 - 20
escuro (B)
Argila mole a média, cinza
- 13.1 - 30
escuro (C)

FIGURA 8 – Análise da estabilidade

196
TÓPICO 3 | INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO

4 CONCLUSÕES

Foram observados, com esta pesquisa, que os parâmetros geotécnicos de


um depósito de solo que contém camadas drenantes e/ou turfosas apresentou
dispersão quando relacionados ao fator Nkt, por exemplo.

A partir da grande variabilidade (Nkt: 12 a 24) notou-se que a melhor
forma de abordagem para o dimensionamento é a definição dos parâmetros
inicialmente por perfis individuais. Ao relacionar o valor médio de Nkt com os
encontrados na literatura notou-se que este depósito apresentou resistências
baixas e originou o valor de Nkt igual a 16.

Adicionalmente, quando analisados, os perfis de resistência não drenada
foi verificado que os picos de Su condizem a camadas de areia, e os valores
médios de Su apresentaram-se de forma conservadora em relação aos solos
compressíveis. Por conseguinte, no momento da verificação da estabilidade do
aterro houve a ruptura com um fator de segurança de 0,705, indicando que para
este depósito o solo precisa de soluções de melhoria de capacidade suporte.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, M. S. S; MARQUES, M. E. S. (2010). Aterros sobre solos Moles: Projeto e


desempenho. São Paulo: Editora Oficina de texto.

ALMEIDA, M. S. S.; MARQUES, M. E. S.; FONSECA, O. A. (2002).


Características do solo de fundação da terceira pista do aeroporto de Guarulhos.
In: XII Congresso brasileiro de mecânica dos solos e engenharia geotécnica, São
Paulo: vol. II p 1027-1037.

BARONI, M. (2010). Investigação geotécnica em solos moles da Barra da Tijuca com


ênfase em ensaios in situ. Dissertação (Mestrado), COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro.

COUTINHO, R. Q., OLIVEIRA, J. T. R; DANZIGER, F. A. B. (1993). Geotechnical


characterization of a Recife soft clay. Soils and Rocks, v. 16:4, p. 255-266.

COUTINHO, R. Q, M. I. M. C. V. Bello. (2014). Geotechnical Characterization of


Suape Soft Clays, Brazil. Soil and Rocks, v. 37:3, p.257-276.

DANZIGER, F. A. B. Desenvolvimento de equipamento para realização de ensaios de


piezocone: aplicação a argilas moles. (1990). Tese (Doutorado), COPPE/UFRJ, Rio
de Janeiro.

EMBRAPA (2012). Manual de Métodos de Análise de Solo. 2ª ed. Rio de Janeiro:


Centro Nacional de Pesquisas de Solos.

197
UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS

GRANDO, Â. (2016). Propriedades e Parâmetros Geotécnicos de Depósitos com


Argilas Moles de Santa Catarina. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação
em Engenharia Civil/UFSC, Florianópolis.

HIGASHI, R. A. R. Metodologia de Uso e Ocupação dos Solos de Cidades Costeiras


Brasileiras Através de SIG com Base no Comportamento Geotécnico e Ambiental.
(2006). Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia
Civil/UFSC, Florianópolis.

MAGNANI, H.O. (2006). Comportamento de aterros reforçados sobre solos moles


levados à ruptura. 2006. Dissertação (Mestrado) – COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro.

ROCHA FILHO, P; ALENCAR, J. A. (1985). Piezocone tests in the Rio de Janeiro


soft clay deposit. In: ICSMFE, 11., San Francisco.

SCHNAID, F. (2010). Ensaios de Campo e suas Aplicações à Engenharia de Fundações.


1st ed. Oficina de Textos, São Paulo, 189 p.

SCHNAID, F.; MILITITTSKY, J.; NACCI, D. (2001). Aeroporto Salgado Filho –


Infraestrutura civil e geotécnica. 1 ed. Porto Alegre: Sagras, v.1.

SCHNAID, F. (2008). Investigação geotécnica em maciços naturais não


convencionais, In: CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO DE GEOTECNIA, 4,
Coimbra, Portugal.

SOARES, J. M. D.; SCHNAID, F.; BICA, A. V. D. (1997). Determination of


the characteristic of a soft clay deposit in southern Brazil. In: International
symposium on recent developments in soil and pavement mechanics, Rio de
Janeiro. P. 297-302.

198
RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• Os ensaios são realizados dependendo dos parâmetros que são necessários em


projeto.

• O primeiro ensaio a ser realizado é o SPT, caso os valores de Nspt forem baixos
ou o ensaio não conseguir ir até a profundidade buscada, deve-se partir para
outros ensaios.

• Os parâmetros utilizados em projeto são coesão e ângulo de atrito do solo.

• O ensaio de cisalhamento direto pode ser realizado com amostras compactadas


e indeformadas de campo. Este ensaio é um dos mais antigos equipamentos
utilizados para encontrar a resistência ao cisalhamento.

• Existe um programa de investigação baseado em porte de obra e definido em


projetos conceitual, básico e executivo.

199
AUTOATIVIDADE

1 O engenheiro Florêncio está analisando um projeto de fundações e quer


escolher o ensaio mais adequado. Inicialmente ele estudou sobre os tipos
de solo. Relacione o tipo de solo com os ensaios geotécnicos de campo e
com as suas respectivas características de operacionalidade, aplicabilidade
e informações obtidas:

a) O engenheiro percebeu que as casas ao redor possuem solos com bastantes


pedregulhos e matacões e após o ensaio retiraram um testemunho (L=2 m).
Que ensaio é este? Explique o funcionamento e resolva a questão.

L - 38 cm

L = 17 cm

L=0

L = - 20 cm

L = - 35 cm

L=0 38 + 17 + 20 + 35
RQD
= = 0,55 → Rocha de qualidade regular
200

b) Geralmente esse é o primeiro ensaio que o engenheiro pensa em realizar. O


ensaio popularmente chamado de SPT. Preencha os dados do laudo de SPT
nas colunas de número de golpes e desenhe o gráfico. Por fim, assinale o
que for verdadeiro; se for falso, justifique sua resposta.

200
ENSAIO DE PENETRAÇÃO
Golpes/ cm GRÁFICO
Amostra
Nº 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
.... ―― 0

1º + 2º 2º + 3º
1
2
1 8 8 3
2 5 6 4
3 2 2 5
4 5 4 6
5 7 6 7
6 2 2 8
7 1 1
9
8 2 2
10
9 3 2
11
10 2 2
12
11 4 3
12 2 2
13
13 1 1 14
14 3 2 15
15 2 2 16
16 2 2 17
17 2 2 18
18 3 4 19
19 3 3
20
20 19 24

I- ( ) É possível determinar na sondagem SPT a extensão, a profundidade,


a espessura e a resistência das camadas do subsolo.
II- ( ) É possível identificar a granulometria, a cor, a resistência (Nspt), a
consistência e a compacidade dos solos de cada camada do subsolo.
III- ( ) É possível coletar amostras indeformadas de solo.
IV- ( ) É possível determinar a profundidade do nível do lençol freático.
V- ( ) É possível obter informações sobre a profundidade da superfície
rochosa, e, a partir de amostras coletadas, verificar o estado de
alteração e variação da rocha encontrada.

201
c) Em relação aos procedimentos de execução desse ensaio (SPT), analise-os
quanto à sua veracidade; se forem falsos, justifique sua resposta.

VI- ( ) Inicialmente limpa-se o local, para na sequência avançar com o trado


até 3 m de profundidade.
VII- ( ) Posicionar e cravar o amostrador padrão no solo. Trata-se de uma
cravação com martelo de 65 kg caindo a uma altura de 75cm.
VIII- ( ) Anotar a resistência do solo a cada dois metros de profundidade.
IX- ( ) Descrever a textura e a cor do solo através da coleta de amostras.
X- ( ) Realizar a leitura do nível do lençol freático após a realização do
ensaio e após 24h.

202
REFERÊNCIAS
ABNT NBR 6459: 2016. Solo – Determinação do limite de liquidez e
plasticidade. Rio de Janeiro, 2016.

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