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Introdução
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Material didático. Disciplina EAD Estudos Afro-brasileiros e Indígenas. Canoas, Ulbra, 2016.
Jornalista, Doutor em Ciências da Comunicação. Coordenador do curso de Jornalismo da
Ulbra.
Cardoso, do Grupo Interministerial de Valorização da População Negra. O
processo de institucionalização, no entanto, ganhará materialidade com a
criação da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial
em março de 2003 durante o governo de Luís Inácio Lula da Silva. Essas
conquistas, no entanto, não podem ser pensadas fora da agenda construída
pelo chamado movimento negro moderno, iniciado nos anos 70, que manteve
a tradição de resistência ao contexto de opressão.
3 Mobilizações e avanços
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Marcus Mosiah Garvey nasceu em 1887 na Jamaica. Fundou a Associação para o Progresso
Negro Universal, que contava com mais de um milhão de afiliados em 40 países em 1927.
Defendia a criação de uma nação autônoma e independente na África, chegando a investir no
desenvolvimento e colonização da Libéria. Lançou a Declaração dos Direitos dos Povos Negros
do Mundo, enaltecedor da etnia negra, encorajando a autoconfiança e o patriotismo africano.
As ideias de Garvey encontraram eco entre os líderes religiosos da Jamaica. A ele foi
atribuída uma profecia que previa a coroação de um rei negro na África, que conduziria os
negros do mundo inteiro a redenção. Os seguidores de Garvey na Jamaica reconheceram o
libertador em Ras Tafari Tafari Makonnen, proclamado rei da Etiópia em 1930, adotando o
nome de Haile Selassie I, dizendo-se legítimo herdeiro da antiga linhagem do Rei Salomão.
Numa leitura livre da bíblia, seria o messias que libertaria os negros do mundo inteiro e os
levaria de volta à terra de seus pais. (BEIER, 2005; GILROY, 2001).
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Sobre a imprensa negra ver MOURA, 1983 e 1994; FERNANDES, 1978.
A repercussão do 20 vai desencadear uma série de iniciativas para
marcar a data a partir de 74, ano seguinte a entrevista do Grupo Palmares no
Jornal do Brasil. Ocorrem semanas do negro no Rio de Janeiro, no Centro de
Estudos Afro-Asiáticos, e em Salvado, na Sociedade de Estudos da Cultura
Negra do Brasil. Também neste ano, surge o Ilê Aiê, o primeiro bloco ligado à
negritude no carnaval baiano. No ano seguinte, serão realizadas atividades
também em Campinas e surge o Grêmio de Arte Negra e Escola de Samba
Quilombo. Ainda nesse período, Lélia Gonzales oferece o primeiro curso
universitário de Cultura Negra no Brasil na Escola de Artes Visuais da UERJ.
O artigo 5º, que trata dos direitos fundamentais, reafirma que “Todos
são iguais perante a lei”, mas o texto avança e prevê punição às diferentes
formas de discriminação, define o racismo como crime inafiançável e
estabelece a igualdade de direitos no mercado de trabalho. Também no artigo
215, na seção Da Cultura, garante no parágrafo 1º que o “Estado protegerá as
manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de
outros grupos participantes do processo civilizatório nacional”, além do
reconhecimento das áreas quilombolas (artigo 216 e artigo 68 das disposições
transitórias).
A década de 90, que inicia com a campanha “Não deixe sua cor passar
em branco”, visando o senso populacional, será marcada pelas manifestações
em torno dos 300 anos da morte de Zumbi dos Palmares. A principal atividade
ocorreu em 1995 com a Macha Contra o Racismo pela Cidadania e a Vida.
Superada a agenda de caráter punitivo, o movimento social volta-se para as
pautas reparatórias, considerando essas fundamentais para o enfrentamento
das barreiras simbólicas e concretas institucionalizadas na sociedade
brasileira.
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“Valeu Zumbi / o grito forte dos Palmares / que correu terras, céus e mares / influenciando
a Abolição”
Também foram instituídos pelo governo grupos de trabalho nos ministérios da
Justiça e do Trabalho para apontar formas de promoção de igualdade.
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Ver estudos do Instituo de Pesquisa Economica Aplicada (ipea.gov.br/igualdaderacial);
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (ibge.gov.br ou
http://brasil500anos.ibge.gov.br/territorio-brasileiro-e-povoamento/negros.html); revista
Exame (http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/8-dados-que-mostram-o-abismo-social-
entre-negros-e-brancos)
discriminação por preconceito involuntário, ignorância, negligência e
estereotipação racista, que causa desvantagens a pessoas de minoria
étnica (SAMPAIO, 2003).
5 Considerações finais
Recapitulando
O movimento negro moderno, iniciado em meio à ditadura, redirecionou o
processo de integração do negro na sociedade brasileira, buscada desde a
abolição, mantendo a tradição de resistência. Rompendo com o projeto de
assimilação [branqueamento social], propõe um viés negro para negociar sua
inclusão, socialização e o acesso à cidadania através da construção de uma
identidade étnica afro-referenciada e de uma agenda política construída a
partir dos princípios de resistência e negritude e da busca por reparação. As
políticas afirmativas são iniciativas de enfrentamento das desigualdades
produzidas durante o período escravista e mantidas pela exclusiva valorização
da branquitude que originou diferentes formas de discriminação e o racismo
institucional.
GILROY, Paul. O Atlântico negro. São Paulo: Editora 34; Rio de Janeiro:
Universidade Cândido Mendes, 2001.
GONZALES, Lélia. Lugar de negro. Rio de Janeiro: Editora marco Zero, 1982.
MNU. 1978-1988, 10 anos de luta contra o racismo. São Paulo: (s.n.), 1988.
MOURA, Clóvis. Dialética racial do Brasil negro. São Paulo: Editora Anita
Ltda, 1994.
__________. Brasil: raízes do protesto negro. São Paulo: Global, 1983.
Gabarito
1B