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Peirce foi sobretudo um dos fundadores da semiótica, tal como a entendemos hoje.
Defendeu que o pensamento é um processo indissociável dos signos e, portanto, apenas
reconhecível e cognoscível através de mecanismos de ordem semiótica.
O pragmatismo
Peirce foi um dos fundadores do pragmatismo. Pra esta corrente, o mundo é o
resultado da relação entre fenómenos e, portanto, todas as explicações se devem
encontrar no uso da experiencia, na duvida e jamais em qualquer anterior e metafísico que
explicasse os factos sem conexão directa com estes.
De nada vale uma verdade proclamar-se verdade, se não for aceite por todos.
As categorias
Influenciado pela categorização de Kant, que levaram Peirce a criar uma tríade onde
desvendou 3 aspectos: o aspecto daquilo que é potencial e qualitativo (firstness), o aspecto
daquilo que é actual e sensível (secondness) e, por fim, o aspecto daquilo que é matricial e
indutor de previsão (thirdness).
Toda esta ligação entre actual e previsão (secondness e thirdness) seria impraticável,
se não se tivesse em conta os níveis das qualidades puras da firstness.
Um signo ou representamen, é qualquer coisa que está para além em vez de outra
coisa, sob um aspecto ou a um título qualquer. Dirige-se a alguém, ou seja, cria na mente
dessa pessoa um signo equivalente ou talvez mesmo um signo mais desenvolvido. A este
signo dou o nome de interpretante do primeiro signo. E este signo esta no lugar de
qualquer coisa, isto é, do seu objecto. (mas) esta em vez do seu objecto, não sob todos os
aspectos. O representamen enquanto veículo do signo, traz-nos tal como um scanner
sempre em acção, o objecto (físico ou não) á consciência para logo aparecer sob forma
interpretante.
Tipos de signos
A divisão dos signos de Peirce mostra-se complexa mas útil. Para Peirce um signo é
sempre uma correspondência. Para este, tudo funciona em relação de três categorias. Diz-
nos que um signo depende de uma relação estabelecida no plano lógico, esta relação é uma
relação tríadica. Por um lado, é a relação entre signo, objecto e interpretante e, por outro
lado, a relação entre firstness, secondness e thirdness.
Sinsigno é uma coisa ou evento existencial ou real que é um signo. Toda e qualquer
ocorrência actual, tal como vimos na categoria secondness, é, em cada caso concreto, um
Sinsigno. Este corresponde ao acto particular do nosso agir. Exemplo: a personagem B anda
neste momento de bicicleta, ou C lê agora e aqui a pagina deste livro. O sinsigno necessita
de lesisignos para existir, mas é um signo direccionado directamente com a secondness.
Lesisigno é uma lei que é um signo. Todos os lesisignos significam as réplicas, cujas
leis elas mesmo antecipam. Cada réplica, quando acontece, é já um sinsigno, mas aquilo
que possibilita realizá-las, geri-las e qualificá-las é a lei matriz, ou seja, o próprio lesisigno.
Exemplo: D lê este livro da esquerda para a direita (sabe como lê-lo é a lei, ou o lesisigno
que ensina). O lesisigno é, deste modo, para o representamen, ou para a forma concreta
que é ou terá sido representada (texto…) um signo da thirdness.
Índice é um signo que se refere ao objecto que denota em virtude de ser realmente
afectado por esse objecto, ou seja existe uma ligação directa entre o signo e o seu objecto:
os dois estão realmente ligados, de modo presencial, por implicação física e sempre no
cerne do acontecimento e da actualidade. Exemplo: é a posição Y numa entrada N que
torna um sinal de trânsito ai colocado num índice (pousado na minha secretaria em casa já
não o é). Pertence á secondness.
Símbolo é um signo que se refere ao objecto que denota em virtude de uma lei,
normalmente uma associação de ideias gerais que opera no sentido de fazer com que o
símbolo seja interpretado como se referindo aquele objecto. Exemplo: aliança - casamento,
balança – justiça. Pertence á thirdness.
Argumento é um signo que, para o seu interpretante, é signo de lei, ou seja, trata-se
de um signo cujo interpretante representa o seu objecto, através de premissas de que se
extraíram conclusões que tendem a ser verdadeiras. Pertence á thirdness.
Semiose
A semiose é a acção sígnica. Ou seja, traduz-se pela reprodução permanente de
interpretantes. Para Peirce a vida mental corresponde (como afirmou Eco) ”a uma imensa
cadeia sígnica que vai dos primeiros interpretantes lógicos, aos interpretantes lógicos
finais”.
Peirce definia os ícones como aqueles signos que têm certa semelhança nativa com o
objecto a que se referem. É fácil intuir em que sentido ele entendia a “semelhança nativa”
entre um retrato e a pessoa retratada. No que se refere aos diagramas, por exemplo, Peirce
afirmava que estes são signos icónicos porque reproduzem a forma das relações reais a que
se refere.
O eixo vertical é os termos lógicos criados por Peirce. Referem-se a três situações da
significação: 1- firstness (significação potencial, potencialidade para entender), 2-
secondness (significação presente, actual, perante nós constituída), 3- thirdness
(significação que pode ser desenvolvida). O eixo horizontal refere-se à dimensão do signo
ao qual estamos a dar mais atenção: 1- representamen (signo interior, que está dentro de
nós), 2- objecto (signo materializado, signo físico), 3- interpretante (representante do
interpretante).
“Signo ou representamen é aquilo que, sobre certo aspecto ou modo, representa
algo para alguém. Dirige-se a alguém, isto é, cria na mente dessa pessoa um signo
equivalente ou talvez um signo mais desenvolvido. Ao signo assim criado denomino
interpretante do primeiro signo. O signo representada alguma coisa que é seu objecto.
Representa esse objecto não em todos os seus aspectos mas com referência a um tipo de
ideia que eu designei como fundamento do representamen.”
Os eixos são lidos do mais imediato para o mais elaborado. O mesmo acontece
dentro do quadrado: do mais elaborado (argumento) para o mais intuitivo, ou do menos
elaborado (qualisigno) para o mais intuitivo. Esta tabela pode ser lido na vertical, na
horizontal e na diagonal. A significação é um processo, é o acontecer ao qual Peirce chamou
de dinamismo semiose.
O símbolo funciona por convenção, signo que funciona por associação a leis.
O argumento é como uma significação argumentativa, que não está completa, mas
sim em desenvolvimento.
O legisigno é a relação entre uma regra (matemática) e uma situação, como por
exemplo, um gráfico.
Relação sígnica: para Peirce, tudo funciona em função de três categorias do ponto de
vista lógico. Diz-nos que um signo depende de uma relação que é estabelecida num plano
lógico. Esta relação é uma relação tríadica. É por um lado relação entre
signo/objecto/interpretante e por outro lado entre firstness/secondness/thirdness. A
firstness é um dos modos de ser daquilo que pode constituir-se como significação, ou seja,
enquanto modo de ser nós estamos a falar de um tipo de relação em que pode existir entre
representamen/objecto/interpretante e esse tipo de relação é uma relação daquilo que
ainda está apenas na potencialidade da relação, ou seja, a firstness é a relação potencial
entre representamen/objecto/interpretante que ainda não está a decorrer.
Semiótica de Peirce:
Peirce referiu, um argumento é entendido pelo seu interpretante como fazendo parte de
uma classe geral de argumentos análogos que tende para a verdade(ex: a força da
gravidade).
Peirce define a dedução como um argumente cujo interpretante o representa como
pertencendo a uma classe geral de argumentos possíveis exactamente análogos.
Define a indução como um argumento ridículo, mais não faz do que determinar um valor.
Pierce defende que: 1-o pensamento é o processo indissociável dos signos; 2-apenas
reconhecível e cognoscível através de mecanismos de ordem semiótica.
A filosofia é inseparável da interpretação de signos.
Quando falamos de capacidade anterior, falamos de tudo o que nos provoca sensação, que
no momento esteja activo ou seja actual (estamos habilitados por isso, mas não estamos a
pensar neles). Por outras palavras referimo-nos a uma capacidade anterior, referimo-nos a
tudo o que potencial em nós seres humanos, a isso Peirce designa de “firstness”.
Do mesmo modo que tudo o que é actual e está agora a acontecer corresponde ao que
Peirce chama de secondeness”
Aquilo que é 1º é qualidade pura que ainda não está em relação. Ex: chuva, belo.
Cenas á parte
Ou seja, os seus três elementos estão ligados por razões lógicas sendo que na realidade
um signo é já um raciocínio, aquilo que Peirce designa de inferência. Porque é que o signo é
uma inferência? Tenho um Representamen (que é um signo enquanto Primeiro, isto
significa que é um signo tomado como início do meu raciocínio. É o signo que estou a tentar
interpretar. Imaginemos, então, por exemplo, a palavra escrita “Fenster”.
“Fenster”… “Fenster” … pensa você na sua cabeça ou seja, está já a produzir um segundo
signo interpretante. Mas como não sabe a língua, não consegue perceber que relação terá
esta palavra com que objeto. Ou seja: o que representa esta palavra. Imagina é claro que
este signo (neste caso esta palavra) deve significar alguma coisa, que deve estar em relação
com um qualquer objeto, mediante um código qualquer, que desconhece. Se desconhece o
código, será incapaz de saber o que é e o seu interpretante final será : “isto deve ser um
signo numa língua desconhecida”). Mas não conseguiu ir além dos aspetos perceptivos
(interpretante imediato), nem dos efeitos, eventualmente de estranheza, que esta palavra
produziu na sua mente (este efeito é um interpretante dinâmico) que o levou a concluir :
"“isto deve ser um signo numa língua desconhecida”. Neste caso, o interpretante está
apenas em relação com a dimensão sintática do signo, já que não sabe qual a relação deste
signo com o seu objeto. Mas é uma interpretação válida. Só que incompleta (para o Peirce
todas as interpretações são sempre -mais ou menos - incompletas).
Mas, vamos agora imaginar que conhece o código que rege esta palavra : a língua alemã
(ou que pelo menos foi ao Google tradutor!)
Temos um R, cujos aspectos sensitivos você já conhecia; mas agora já consegue produzir
um I mais adequado, ou seja, que decifra qual a relação que este R tem com um O, uma
classe geral de objectos existentes no mundo exterior ao signo, a que chamamos de
“janela”. O seu I já permitiu que estivesse na mesma relação com o O, do que aquela que
surge entre o R e o O.
Todo o signo é sempre um encadear de inferências lógicas: partindo das características do
R, da relação que o R tem com o O, geram-se I’s possíveis (concretizados mediante os
contextos). Isto significa que a própria noção de Signo é uma relação lógica entre os seus 3
elementos, e dinâmica porque evolutiva, não estática. Um mesmo R pode gerar um número
indeterminado de I’s.
Estamos por isso a falar de Lógica. E é uma lógica pragmática pois os Signos produzem
efeitos nas mentes interpretadoras os quais se relacionam com os contextos em que se
encontram e que limitam, de entre todos os sentidos possíveis, qual o que aqui e agora,
está a ser usado.