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ISSN 1413-389X Trends in Psychology / Temas em Psicologia – 2014, Vol.

22, nº 1, 25-38
DOI: 10.9788/TP2014.1-03

Depoimento Especial: Para Além do Embate


e pela Proteção das Crianças e Adolescentes
Vítimas de Violência Sexual

Cátula Pelisoli1
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil
Faculdade Cenecista de Osório, Osório, Rio Grande do Sul, Brasil
Veleda Dobke
Ministério Público do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil
Débora Dalbosco Dell’Aglio
Departamento de Psicologia do Desenvolvimento e da Personalidade da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil

Resumo
A nova metodologia de inquirição de crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual pelo Poder Ju-
diciário denominada Depoimento Especial tem sido discutida por profissionais de diferentes áreas do
conhecimento. Dessas discussões, resultaram opiniões divergentes sobre o assunto. Esse artigo visa
apresentar historicamente a metodologia do Depoimento Especial, primeiramente denominado Depoi-
mento Sem Dano, e discutir as necessidades de a Justiça dialogar com outros saberes para um melhor
direcionamento da realização deste ato processual – a ouvida da criança. Conclui-se, a partir da revisão
de literatura e da interlocução entre Psicologia e Direito, que as discordâncias e debates legais não têm
contribuído para a proteção das vítimas. O Poder Judiciário e outras áreas do conhecimento precisam
fortalecer suas habilidades para trabalhar em conjunto numa interlocução respeitosa e equânime troca de
conhecimentos. A realização da nova metodologia é possível e necessária, entretanto, mudanças podem
trazer benefícios e maior proteção a crianças e adolescentes brasileiros.
Palavras-chave: Depoimento especial, depoimento sem dano, inquirição, abuso sexual, Psicologia
Jurídica.

Special Testimony: Beyond Legal Conflicts and in Favor


of the Protection of Children and Adolescents
Victims of Sexual Violence

Abstract
The Judiciary Inquiry method of testimony for children and adolescents who suffered sexual abuse, cal-
led special testimony, has been discussed by professionals and there are divergent opinions about it. This
article aims to present historically the Special Inquiry method that has been used in Brazil, firstly named
Testimony without Damage, and discuss the needs of the area for a better direction of this activity. The

1
Endereço para correspondência: Departamento de Psicologia do Desenvolvimento e da Personalidade, Instituto
de Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Rua Ramiro Barcelos, 2600, sala 115, Porto Alegre,
RS, Brasil, 90035-003. E-mail: catulapelisoli@yahoo.com.br, veledadobke@uol.com.br e dalbosco@cpovo.net
Apoio financeiro: Trabalho realizado com apoio do Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento
Científico e Tecnológico – CNPq Brasil.
26 Pelisoli, C., Dobke, V., Dell’Aglio, D. D.

conclusions from the literature review and interlocution between Psychology and Law show that these
legal and technical disagreements seem not to be working in children’s favor. The area needs to rein-
force the abilities to work together in a respectful dialogue with an equitable knowledge exchange. The
practice of the special testimony is possible and necessary, however some changes can bring benefits
and greater protection for Brazilian children and adolescents.
Keywords: Special testimony, testimony without damage, inquiry, sexual abuse, Forensic Psychology.

Tomada de Testimonio Especial: Para Allá de la Oposición


y por la Protección de Niños y Adolescentes
Víctimas de Violencia Sexual

Resumen
La nueva tecnología de escucha de niños y adolescentes víctimas de abuso sexual por el Poder Judicial
denominada Tomada de Testimonio Especial es tema de discusión de profesionales de distintas áreas
del conocimiento. De esas discusiones resultaron opiniones divergentes acerca del asunto. Este artículo
busca presentar históricamente la metodología de la Tomada de Testimonio Especial, primeramente de-
nominada Testimonio Sin Daño, y discutir las necesidades de que la Justicia dialogue con otros saberes
para una mejor dirección en la realización de este acto procesual – la escucha de niños. Se concluye,
partiendo de la revisión de literatura y de la interlocución entre Psicología y Derecho, que las discordan-
cias y debates legales no contribuyen para la protección de las víctimas. El Poder Judicial y otras áreas
del conocimiento necesitan fortalecer sus habilidades para trabajar en conjunto en una interlocución
respetuosa y ecuánime cambio de conocimientos. La realización de la nueva tecnología es posible y
necesaria, sin embargo, cambios pueden traer beneficios y mayor protección a los niños y adolescentes
brasileños.
Palabras clave: Tomada de testimonio especial, testimonio sin daño, escucha, abuso sexual, Psicolo-
gía Jurídica.

O abuso sexual, entendido como “o envol- dez anos quando é maior de 12 anos caracteriza
vimento de uma criança em uma atividade que uma relação assimétrica. Outra forma é quando
ela não compreende totalmente, para a qual não existe diferença de poder, como quando o agres-
tem habilidade de dar consentimento ou não está sor tem controle ou autoridade sobre a vítima, ou
fisicamente preparada ou ainda que viole leis e ainda quando há conhecimento ou habilidades
tabus da sociedade” (World Health Organiza- sociais diferenciadas, que se exemplifica quando
tion [WHO], 2006, p. 10), é um problema social o agressor usa suas habilidades para manipular a
que atinge milhões de crianças e adolescentes no vítima (Sanchez-Meca, Rosa-Alcázar, & López-
mundo (Trickett, Negriff, Ji, & Peckins, 2011). -Soler, 2011).
Essa forma de maus tratos contra crianças e ado- O abuso sexual contra crianças e adolescen-
lescentes é definida também como uma atividade tes ou abuso sexual infantil – ASI tem sido pre-
que objetiva prover prazer, estimulação ou gra- valente em todas as partes do mundo e tem sido
tificação sexual a um adulto, que usa uma crian- considerado como uma das mais graves infrações
ça para este propósito, tirando vantagem de sua aos direitos humanos (El-Sayed Aboul-Hagag &
posição dominante. É considerado abuso sexual Hamed, 2012). Recente estudo investigando a
quando existe uma relação assimétrica entre a prevalência internacional deste problema atra-
vítima e o agressor, que pode se apresentar de di- vés de uma meta-análise envolvendo 65 artigos
ferentes formas. Uma forma de assimetria é a di- de 22 países encontrou médias de 7,9% para ho-
ferença de idade: uma diferença de cinco anos de mens e de 19,7% para mulheres (Pereda, Guile-
idade quando a criança é menor de 12 anos e de ra, Forns, & Gomez-Benito, 2009). Uma estima-
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tiva global de 11,8% foi determinada por outra (e) demais atos do processo penal, que visa à res-
importante análise que considerou 217 estudos, ponsabilização do agressor, como por exemplo,
incluindo 9.911.748 participantes (Stoltenbor- a defesa do acusado, a instrução do processo,
gh, Van Ijzerdoorn, Euser, & Bakermans-Kra- as alegações escritas e a sentença (Dobke et al.,
nenburg, 2011). Segundo a WHO (2010), em 2010; Lima & Deslandes, 2011; Saliba, Garbin,
torno de 20% das mulheres e entre 5-10% dos Garbin, & Dossi, 2007). Neste caminho, a vítima
homens relatam ter sido sexualmente abusados deve, em diferentes ocasiões, expor a violência
em sua infância. No Brasil, as estatísticas apon- sofrida. A palavra da vítima é especialmente im-
tam crescimento das denúncias de abuso sexual portante em casos com elementos contraditórios
(Secretaria de Direitos Humanos da Presidência (Finnila-Tuohimaa, Santilla, Sainio, Niemi, &
da República, 2010), demonstrando que esse é Sandnabba, 2009), como ocorre na maioria das
um fenômeno que atinge milhares de pessoas situações de ASI.
também em nosso país e que requer estudos para Nesse sentido, tem sido realizado um esfor-
melhor conhecer o problema e medidas para dar ço, em diversos países, para que a vítima seja
conta das consequências nefastas que ele pode menos prejudicada possível com as intervenções
produzir. Essas consequências incluem desde que ocorrem ao longo do processo legal. Uma
sentimentos de medo, ansiedade, pesadelos, pre- das estratégias que buscam minimizar o sofri-
juízos no desempenho acadêmico, até o desen- mento e diminuir a quantidade de momentos que
volvimento de psicopatologias como transtorno a vítima precisa falar sobre o evento traumático
de estresse pós-traumático, depressão, transtor- é a tomada de Depoimento Especial. Durante a
nos por uso de substância, entre outros (Myers, instrução do processo, a coleta de dados com
2006; Paolucci, Genius, & Violato, 2001). a vítima deve ser realizada sob a vigência dos
Há consenso, na literatura, sobre a diferença princípios constitucionais do contraditório e da
entre a quantidade de casos de abusos sexuais ampla defesa. Trata-se do depoimento da vítima
que realmente ocorrem e a quantidade que che- no contexto processual, o que difere do contexto
ga ao conhecimento das autoridades judiciárias pré-processual, onde não há ainda a garantia do
(Miller-Perrin & Perrin, 2013). Muitos casos devido processo legal por não estarem vigentes
parecem permanecer presos nos muros de si- os princípios antes referidos. Esse artigo visa
lêncio dos lares abusivos, caracterizando então apresentar a metodologia de inquirição de crian-
o que se chama de um crime subnotificado: ou ças e adolescentes vítimas no contexto do Poder
seja, ele ocorre mais do que é formalmente co- Judiciário atualmente denominada “Depoimento
nhecido (Miller-Perrin & Perrin, 2013). Além de Especial”, esclarecendo as especificidades obser-
pouco notificado, aqueles casos que o são, pou- vadas por ambas as áreas - Psicologia e Direito –
cas vezes chegam à punição do agressor. Esse para a condução dessa intervenção judicial. Para
caminho a ser percorrido inicia com a revelação isso, uma revisão integrativa de metodologias
da vítima e judicialmente se encerra com a sen- similares ao Depoimento Especial e resultados
tença (Dobke, Santos, & Dell’Aglio, 2010). Mas conquistados em outros países será apresentada,
várias etapas entre essas duas extremidades são bem como o histórico, descrição do procedimen-
necessárias, a saber: (a) revelação por parte da to do Depoimento Especial no Brasil e sugestões
vítima e comunicação da família, cuidadores ou para sua qualificação serão abordadas.
da própria vitima a órgão ou profissional; (b)
notificação compulsória, que é o comunicado Tomada de Depoimentos
formal ao Conselho Tutelar ou outra autoridade com Crianças e Adolescentes
da suspeita ou ocorrência do abuso pelo profis- em Outros Países
sional responsável, com preenchimento de uma
ficha padronizada de notificação (Ministério da Em 1992, Goodman e colaboradores iden-
Saúde, 2001); (c) investigação; (d) denúncia, tificaram como pode ser assustador para uma
que é a peça que inicia o processo penal, ofere- criança relatar a violência sofrida na frente de
cida pelo Promotor de Justiça ao Juiz de Direito; seu perpetrador. Medo, raiva, revivência e outros
28 Pelisoli, C., Dobke, V., Dell’Aglio, D. D.

sentimentos negativos foram relatados por víti- alguma intervenção (B. R. Santos & Gonçalves,
mas que testemunharam em frente a réus e seus 2009).
advogados. Olhares, expressões e perguntas des- A tomada de depoimentos tem utilizado
tas duas figuras da sala de audiências tornavam duas abordagens: Closed Circuit Television
o momento mais tenso e estressante e cuidadores (CCTV) e Câmara de Gesell. A maior parte dos
não abusivos solicitavam mudanças no sistema países (64%) utiliza o sistema CCTV, que cole-
de coleta de dados com crianças e adolescentes ta depoimentos por meio de um circuito fecha-
vítimas. As próprias crianças, neste estudo, indi- do de televisão e de videogravação. Os outros
caram que algumas das mudanças poderiam ser 34% dos países utilizam a Câmara de Gesell,
a retirada do réu da sala de audiências, o uso de que utiliza duas salas divididas por um espelho
vídeos e maior limite para as perguntas direcio- unidirecional (B. R. Santos & Gonçalves, 2009).
nadas a elas (Goodman et al., 1992). No Brasil, tem sido utilizado o primeiro siste-
Para minimizar esse sofrimento e o prejuízo ma. Com relação aos locais de coleta dos depoi-
decorrente dele, experiências alternativas de to- mentos, na maioria dos países (48%), as salas
mada de depoimentos de crianças e adolescentes estão localizadas na estrutura da polícia (para a
têm sido realizadas em diversos países. Em um produção antecipada de provas) e também nos
mapeamento realizado por B. R. Santos e Gon- tribunais (para os casos que vão a julgamento).
çalves (2009), foram identificadas experiências Entretanto, essas salas podem estar também no
nos cinco continentes, em 25 países. A maior Ministério Público, no Poder Executivo (como
parte encontra-se na América do Sul (28%), Eu- no caso da França que possui salas em hospitais)
ropa (28%) e Ásia (16%). Os países da América e até em Organizações Não-Governamentais
do Sul que têm realizado o Depoimento Especial (como na Lituânia). Os responsáveis pela tarefa
são Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Equa- de tomar o depoimento podem ser psicólogos,
dor, Paraguai e Peru. Especialmente, a Argen- policiais, médicos, assistentes sociais, psicope-
tina tem sido considerada um país referência. A dagogos, promotores de justiça, juízes de direito,
adoção de práticas investigativas, através da Câ- entre outros (B. R. Santos & Gonçalves, 2009).
mara de Gesell, ocorre nas instalações do Tribu- Nos Estados Unidos, serviços que coorde-
nal ou do Ministério Público, onde o psicólogo nam ações na investigação do abuso sexual têm
forense facilita o diálogo entre a vítima, o juiz, obtido resultados interessantes (Cross, Jones,
o defensor do acusado e o promotor de justiça. Walsh, Simone, & Kolko, 2007). Estes serviços
O depoimento é colhido apenas por psicólogos reúnem diferentes órgãos, representados pelos
treinados e conhecedores dos temas relativos à respectivos profissionais, em um espaço único
Psicologia Jurídica e técnicas cognitivas/inves- e, através de um profissional especializado, re-
tigativas. Outro país de referência é a Inglaterra, alizam entrevistas com as crianças e adolescen-
onde os depoimentos são geralmente tomados, tes vítimas, bem como com suas famílias. Este
na fase investigativa, por policiais capacitados. profissional, geralmente um policial treinado, é
Entretanto, apesar de ser realizado por policiais, acompanhado na entrevista, através do sistema
o depoimento não é tomado em delegacia co- CCTV, por outros agentes com pleno conheci-
mum. Esse procedimento ocorre em outras uni- mento do caso. A ênfase no compartilhamento
dades policiais, em salas especiais, com diversos de informações entre todos os profissionais con-
cuidados para com a criança e para com a pro- tribui para que o caso seja conhecido por todos
dução da prova: um ambiente mais confortável e para que uma tomada de decisão conjunta pos-
e amigável para a criança e um local fechado, sa ser realizada mais adequadamente (Children
sem a presença de ruídos, com câmeras em dife- Justice Center [CJC], 2009). Além disso, o com-
rentes ângulos e microfones perto do sofá onde partilhamento de informações contribui para a
senta a vítima. A sala também é equipada com redução do número de entrevistas, tendo como
um interfone, que servirá para a comunicação do consequência a minimização do trauma, uma
policial que está ouvindo a vítima com o policial vez que, aqueles que devem decidir sobre o caso,
que opera os equipamentos e que pode realizar previamente assistem à entrevista, têm acesso à
Depoimento Especial: Para Além do Embate e pela Proteção das Crianças e Adolescentes... 29

gravação e discutem o caso de forma multidisci- McAulif e Kovera (2012). Os autores basearam-
plinar. O CJC, por exemplo, procura utilizar as -se na opinião de jurados sobre as formas dife-
melhores práticas existentes para a investigação, rentes de depoimento com supostas vítimas de
manejo do caso, tratamento e para as questões de diferentes idades e histórias de violência. Os
ordem legal, num sistema coordenado e multi- resultados indicaram que os jurados esperam
disciplinar para responder aos casos de abuso se- que uma criança, num depoimento tradicional,
xual, abuso físico grave e crianças testemunhas sinta-se mais nervosa, chorosa, inquieta, menos
de crimes violentos (CJC, 2009). confiante, cooperativa, fluente, que mantenha
Neste mesmo sentido, o Children’s Advo- menos contato ocular e dê respostas mais curtas.
cacy Center (CAC) tem como objetivo a quali- Na Nova Zelândia, um dos países pioneiros na
ficação de entrevistas forenses com crianças que utilização de formas alternativas de tomada de
estão envolvidas em situações de abuso sexual depoimentos, foram observados benefícios em
(Cross et al., 2007). Ambos os serviços (CJC relação à obtenção de uma melhor qualidade da
e CAC) fazem parte da National Children’s evidência e eficiência nos processos jurídicos
Alliance, que é uma organização profissional (Hanna, Davies, Crothers, & Henderson, 2012).
destinada a ajudar comunidades a lidar com ale- Estudos anteriores também apontaram resulta-
gações de abuso de uma forma eficiente, a partir dos positivos do uso do CCTV como o fato de
de treinamentos, suporte, liderança e assistência as crianças estarem mais relaxadas e proverem
técnica nos casos de abuso contra crianças e ado- depoimentos mais detalhados e completos (Goo-
lescentes (National Children’s Alliance, 2012). dman et al., 1998). É provável que o fato de não
A proposta do serviço é a utilização de apenas encontrar o perpetrador atue como um importan-
um entrevistador que provê as informações para te aspecto, uma vez que este é o maior medo de
todos os outros investigadores envolvidos no crianças vitimas (Goodman et al., 1992). Portan-
caso, num serviço coordenado de agências rela- to, não é somente em estudos atuais que é pos-
cionadas à justiça, à proteção e outros serviços. sível encontrar bons motivos para o uso de cir-
O lugar onde a entrevista é realizada é diferen- cuitos televisivos para a tomada do testemunho
te de um estabelecimento policial, escolar ou de crianças e adolescentes, mas também em tra-
de proteção. O espaço é neutro, amigável, com balhos mais remotos, que já consideravam esses
privacidade e livre de distrações (Cross et al., métodos como mais protetivos para as vítimas
2007). Para investigar possíveis diferenças entre (Scott, 1994).
serviços utilizando essa proposta de coordena-
ção multidisciplinar e serviços que não a utili- A Necessidade da Tomada de Depoi-
zam, Cross et al. (2007) investigaram 1.069 ca- mento da Criança e do Adolescente
sos de abuso sexual e abuso físico (84% ASI). O na Justiça Brasileira
estudo comparativo demonstrou que os serviços
que seguem as propostas da National Children’s O abuso sexual é uma das formas mais gra-
Alliance apresentam menor número de entre- ves de maltrato infanto-juvenil e viola um dos
vistas com a vítima (uma ou no máximo duas), princípios fundamentais da Constituição Fede-
maior número de reuniões para discutir os ca- ral, qual seja o da dignidade da pessoa humana
sos, maior número de reuniões de equipe, maior (Constituição da República Federativa do Brasil
coordenação/participação de diferentes agências de 1988 [CF]). Atenta, então, contra os direi-
no caso, eram mais prováveis de ter apenas um tos humanos das crianças e adolescentes, pois,
entrevistador conduzindo todas as entrevistas como sujeitos de direito que são, lhes é garantido
e também de essa entrevista acontecer em um o desenvolvimento sem violência, competindo à
ambiente amigável. Os resultados, encontrados família, à comunidade, à sociedade em geral e
nestes serviços, apontam para experiências mais ao poder público assegurar a efetivação desses
positivas para as crianças e famílias. direitos (Estatuto da Criança e do Adolescente
Formas tradicionais e alternativas de depoi- [ECA], 1990). A violação da dignidade da crian-
mento também foram comparadas no estudo de ça e do adolescente, principalmente, no caso do
30 Pelisoli, C., Dobke, V., Dell’Aglio, D. D.

abuso sexual, exige a intervenção destes atores tos tanto do suposto abusador quanto da vítima.
para atender/proteger a vítima e também punir A criança/adolescente tem o direito de ser ouvi-
o agressor. da em todos os processos nos quais forem dis-
No caso da intervenção judicial, é sempre cutidos seus interesses (Decreto 99.710, 1990;
necessária a propositura de uma ação, de nature- ECA, 1990; Lei 12.010, 2009), assim como
za cível ou penal, dependendo do objetivo que se ocorre com todas as vítimas de crimes graves.
busca (Código de Processo Civil, 1973; Código Este, portanto, é o motivo mais importante para
de Processo Penal, 1941). Para a suspensão do justificar o depoimento judicial da criança vítima
poder familiar, por exemplo, a ação é de natu- de abuso sexual. Tanto o ECA (1990) quanto a
reza cível, podendo ser proposta pelo Promotor Convenção sobre os Direitos da Criança (Decre-
de Justiça ou por representante legal da vítima. to 99.710, 1990) enfatizam o direto de a crian-
Para a responsabilização penal do agressor, a ça e/ou adolescente serem ouvidos. Em todo o
ação é penal e quem a propõe é o Promotor de processo judicial ou administrativo em que hou-
Justiça. Somente com a comprovação da prática ver interesses desses sujeitos de direito deve ser
abusiva, é que as medidas de proteção à vítima e oportunizada a sua oitiva. A ouvida da criança
de sanção ao réu serão impostas. O suposto abu- é um direito que ela tem e sua opinião deve ser
sador, no exemplo dado, comprovado o fato e a devidamente considerada pela autoridade judici-
sua autoria, terá suspenso o poder familiar e será ária (Decreto 99.710, 1990; ECA, 1990). Con-
responsabilizado penalmente. tudo, direito não se confunde com obrigação. A
Com relação ao processo que visa à respon- obrigação de depor se impõe, como regra, so-
sabilização penal do suposto agressor, este tem mente aos adultos plenamente capazes (Código
assegurado, constitucionalmente, o devido pro- de Processo Penal, 1941). As crianças, portanto,
cesso legal, ou seja, não poderá ser acusado sem podem exercer, ou não, este direito. Logo, não
que lhe seja garantido o contraditório e a ampla estão obrigadas a depor.
defesa (CF, 1988). Isso significa que o agressor/ O testemunho da criança tanto pode com-
denunciado tem o direito de rebater, contradizer, provar a ocorrência do abuso sexual, como pode
sempre, todas as imputações que o Promotor de ser prova de que o fato não ocorreu. O próprio
Justiça lhe fizer e que ele poderá se valer de to- denunciado pela prática do fato abusivo pode
das as provas lícitas, amplamente, para provar a requerer, como prova da sua inocência, o depoi-
sua inocência. Então, na ação judicial proposta, mento da vítima – nos casos de falsa imputação
quando da produção da prova – momento da ins- do abuso sexual, e tal prova não lhe poderá ser
trução do processo, no qual se busca a verdade negada face ao princípio da ampla defesa (CF,
fática, a comprovação da prática do abuso sexual 1988). O que se quer dizer é que, neste caso, o
se faz necessária para que as intervenções judi- juiz não poderá indeferir o pedido de produção
ciais, de natureza cível ou penal, sejam possí- dessa prova, sob pena de cerceamento de defesa
veis. A convicção do juiz vai se basear na prova do acusado, o que torna nulo o processo (Código
que foi apresentada no processo, buscando a ver- de Processo Penal, 1941). Mas, a fala da criança/
dade real dos fatos. A necessidade de verificar adolescente só ocorrerá se ela quiser. Isso signi-
se o alegado objetivamente ocorreu é condição fica que o juiz não pode negar o direito do réu,
para que uma medida judicial seja aplicada (Có- mas a vítima pode se negar a depor. Em resumo,
digo de Processo Civil, 1973; Código de Proces- sem ser oportunizada a oitiva da vítima, pode
so Penal, 1941). Se o fato abusivo alegado não não haver garantia aos direitos do acusado, tam-
for comprovado, nenhuma medida será aplicada pouco aos direitos da vítima de ser ouvida.
que implique em violação de um direito do su- O fato subjacente à intrigante questão da
posto abusador, como por exemplo, a suspensão dificuldade de articulação entre Direito e Psi-
do poder familiar, podendo ele conviver normal- cologia reside em que tais disciplinas abordam
mente com a vítima. diferentes aspectos do “real”. Enquanto o Di-
Dessa forma, a necessidade de comprovação reito Penal, nos casos de condenação, precisa
da prática abusiva garantirá o respeito aos direi- de certezas para formar a convicção do juiz so-
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bre o fato e sua autoria em processos criminais, mesmo tendo as crianças condições peculiares
para a Psicologia é suficiente uma verdade dita de desenvolvimento. Entretanto, segundo Dobke
subjetiva. O princípio da verdade real (Guedes, (2001), ouvir crianças vítimas de abuso sexual
2012) ou da verdade material/histórica (Oliveira, é uma tarefa de maior complexidade, tendo em
2009), característico do processo penal, busca a vista, especialmente, a falta de conhecimento da
verdade que mais se aproxima com a realidade, dinâmica da violência e o despreparo emocional
com o que realmente aconteceu. Já para a Psi- dos inquiridores. Na obra da referida autora, ca-
cologia, é possível falar muito mais em proba- sos de inquirição de vítimas de abuso sexual in-
bilidades do que em certezas absolutas, consi- fantil foram descritos e analisados, apresentando
derando a complexidade biopsicossocial do ser inúmeras dificuldades e inadequações acerca do
humano. Aí residem as dificuldades de diálogo modo como este procedimento vinha sendo rea-
entre estes saberes, onde um (Direito) demanda lizado. Relata Dobke (2001), que na ouvida da
respostas para um outro (Psicologia) que não en- vítima, muitas vezes o réu era/é retirado da sala
contra subsídios para responder da forma como de audiências para não causar constrangimentos,
o primeiro gostaria, pois são frequentes a ausên- mas isso não era/é uma regra. A coleta do tes-
cia da materialidade (Rios, 2009) e a presença temunho se dá, nesse procedimento tradicional,
da incerteza (Finnila-Tuohimaa et al., 2009) na sala de audiências, tradicionalmente em for-
nestes crimes. Entretanto, mesmo enfrentando a ma de U, entre cujos lados se senta a criança.
dificuldade da complexidade humana, da com- A vítima, portanto, está em frente ao Juiz, numa
plexidade do crime do abuso sexual e da ava- posição mais baixa e na presença do Promotor de
liação destes casos, a Psicologia apresenta, sem Justiça e do Defensor. Os casos analisados pela
dúvida, muitos recursos avaliativos e é uma das autora mostraram dificuldades dos inquiridores
mais importantes e requisitadas profissões para em estabelecer um vínculo de confiança com a
avaliar estas situações. O Depoimento Espe- criança, dificuldades na elaboração das questões
cial, portanto, constitui-se como espaço também sobre o abuso, bem como no uso de linguagem
complexo, de interação e interlocução entre es- adequada e de técnicas especiais para a ouvida,
sas áreas, mas onde a Psicologia pode contribuir como a desdramatização e a expressão de licença
com seu saber para a formação da convicção do e permissão para o relato que deve ser concedida
juiz a respeito do caso sob julgamento e este, à criança. Essas inadequações acabam por difi-
por sua vez, vai tomar decisões que afetam a to- cultar o cumprimento do objetivo do depoimen-
dos os envolvidos: vítima, agressor, familiares, to que seria a coleta do relato do fato (Dobke,
sempre na busca do melhor interesse da criança 2001). Além disso, essa prática convencional de
(ECA, 1990) e da garantia dos direitos humanos tomada de depoimentos pode levar à revitimiza-
(CF, 1988). Em não havendo a oitiva da crian- ção das crianças e adolescentes, por fazer com
ça sob a forma do Depoimento Especial, haverá que eles tenham que rememorar seu sofrimento
em audiência tradicional (Dobke, 2001), sendo, (B. R. Santos & Gonçalves, 2009).
portanto, um retrocesso no processo de busca de É recente, portanto, a preocupação com a
melhores condições de ouvida. oitiva especial da criança, considerando sua con-
dição de desenvolvimento. Tomar declarações
Depoimento Sem Dano, Depoimento de forma inadequada pode causar danos àqueles
Especial: História e Embate no Brasil que já foram prejudicados pela violência (Do-
bke, 2001). Nesta obra, a referida autora propõe
No Brasil, historicamente, o depoimento de o uso do que ela chama de “intérprete”, um pro-
crianças, em juízo, sempre se realizou da mesma fissional habilitado que tenha mais condições
forma como ocorre com os adultos, sem quais- do que os operadores do Direito de fazerem os
quer normas ou procedimentos específicos (Do- questionamentos adequados à criança vítima.
bke, 2001). As normas processuais que discipli- Além da proposta de um profissional “intérpre-
nam a oitiva de crianças são, até os dias de hoje, te”, a autora menciona a utilização da Câmara
as mesmas que regem a inquirição de adultos, de Gesell ou sala com espelho unidirecional, o
32 Pelisoli, C., Dobke, V., Dell’Aglio, D. D.

que permite aos operadores acompanhar o de- dos em situações de violência (CFP, 2010). Nes-
poimento da criança e até mesmo intervir atra- te documento, o Conselho entende que a escuta
vés de intercomunicadores. Foi a partir deste psicológica consiste em oferecer lugar e tempo
trabalho que surgiu, então, o projeto pioneiro do para a expressão das demandas e desejos da
“Depoimento Sem Dano”, que propõe retirar as criança ou adolescente. Para realizar essa escuta,
crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual o profissional deverá considerar o contexto so-
do ambiente formal da sala de audiências e trans- cial, histórico e cultural, respeitar a diversidade,
feri-las para uma sala especialmente projetada, preservar o sigilo e trabalhar em rede. O Conse-
com recursos audiovisuais (Daltoé Cezar, 2007; lho também enfatiza que o psicólogo não deve
Senado Federal, 2007). A dificuldade dos ope- se subordinar a outras categorias profissionais e
radores do Direito de conduzir entrevistas com que deve ter autonomia em seu trabalho. Por fim,
essa população foi um propulsor dessa ideia e, o documento proíbe ao psicólogo o papel de in-
portanto, a presença de técnicos preparados para quiridor de crianças e adolescentes em situações
essa tarefa seria fundamental para colocá-la em de violência.
prática. Esses técnicos poderiam assim evitar Revisando as conflitivas sobre o tema, Brito
perguntas inapropriadas e, por vezes, até agres- (2008) aponta que na situação do depoimento, o
sivas. Os três principais objetivos do projeto são: psicólogo não teria como objetivo realizar ava-
(a) a redução do dano à criança e ao adolescen- liação psicológica, encaminhar ou atender, mas
te vítima; (b) a garantia dos direitos, proteção e apenas inquirir, sendo, portanto, tarefa que está
prevenção; e (c) melhoria da produção da prova distante daquelas tradicionalmente exercidas por
produzida (Daltoé Cezar, 2007). A experiência psicólogos. Neste trabalho, a autora refere que
do “Depoimento Sem Dano”, portanto, iniciou não há tempo para entrevistar familiares, abusa-
no Brasil na Vara da Infância e Juventude de dor ou realizar estudo psicológico sobre o caso
Porto Alegre – Rio Grande do Sul, em 2003, e e que a dinâmica familiar seria desconsiderada.
atualmente é uma recomendação do Conselho Outras razões citadas por Brito incluem a dife-
Nacional de Justiça (2010). rença entre o que se define por uma verdade sub-
No Brasil, o tema tem gerado uma série de jetiva/psicológica e uma verdade objetiva, que
calorosas discussões. Parecem existir dois diver- seria o objeto de interesse jurídico. Além disso,
gentes pontos de vista sobre o assunto: aqueles a autora relata que o direito da criança de teste-
que estão a favor e defendem vigorosamente o munhar tem se tornado um dever, na medida em
Depoimento Especial e, de outro lado, aqueles que o Depoimento Especial se torna uma obriga-
que são desfavoráveis e parecem não concordar toriedade e a criança deve responder ao solicita-
com nenhum aspecto dessa metodologia. Por do (Brito & Pereira, 2012), o que seria, portanto,
ter envolvido diretamente assistentes sociais diferente de poder responder.
e psicólogos nesta tarefa, o Depoimento Espe- Entretanto, apesar das opiniões diferentes,
cial foi e continua sendo alvo de duras críticas em agosto de 2010, foi impetrado, pelo Estado
originadas dos conselhos das duas categorias do Rio Grande do Sul, o mandado de segurança
profissionais. Em 2009, o Conselho Federal de 5017910-94.2010.404.7100/RS contra o Conse-
Serviço Social (CFESS) lançou uma resolução lho Regional de Psicologia da 7ª região – CRP/
mostrando-se contrário à metodologia do então RS e contra o CFP, objetivando a suspensão da
chamado Depoimento Sem Dano. A Resolução resolução número 10/2010. Da mesma forma, ha-
554/2009 não reconhece a metodologia como via sido impetrado outro mandado de segurança,
atribuição ou competência do assistente social e em novembro de 2009, com relação à resolução
responsabiliza, disciplinar e eticamente, àqueles do Conselho Federal de Serviço Social (número
profissionais que vincularem o título de assisten- 2009.71.00.031114-1/RS). Ambos os mandados
te social a essa prática. Neste mesmo direciona- de segurança garantiram aos profissionais da
mento, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) Psicologia e do Serviço Social a atuação na me-
lançou em 2010 a Resolução 010, regulamentan- todologia do Depoimento Especial, assegurando
do a escuta de crianças e adolescentes envolvi- o exercício de suas profissões, conforme precei-
Depoimento Especial: Para Além do Embate e pela Proteção das Crianças e Adolescentes... 33

to constitucional (CF, 1988). Assim, os referidos duas posições contrárias que atacam e defendem
conselhos ficaram impedidos de aplicar quais- seus argumentos, desconsiderando as críticas e
quer penalidades a estes profissionais no Estado os apontamentos daqueles que estão do outro
do Rio Grande do Sul. lado. Fato é que a escuta especial das crianças em
Antes da decisão final no mandado de se- juízo já está recomendada e vem sendo utilizada
gurança contra o Conselho Federal de Psicolo- em vários estados do Brasil. Embora a nulidade
gia, o Presidente do Conselho Nacional de Jus- da resolução 10/2010 não tenha, ainda, abran-
tiça (CNJ), em novembro de 2010, com base no gência nacional definitiva, pois apenas concedi-
artigo 227 da CF; na Convenção Sobre os Di- da liminarmente, a validade dessa liminar para
reitos da Criança, em seu artigo 12; e no ECA, todo o território nacional poderá ocorrer, com o
recomendou aos tribunais a criação de serviços julgamento definitivo da ação civil pública, ten-
especializados para a escuta de crianças e ado- do em vista a questão já ter sido decidida mesmo
lescentes vítimas ou testemunhas de violência, que regionalmente (Rio Grande do Sul, Acre,
nos moldes do projeto Depoimento Sem Dano. Sergipe, Pernambuco e Mato Grosso) e o Con-
No entanto, no texto da recomendação é utiliza- selho Nacional de Justiça ter recomendado aos
da a nomenclatura Depoimento Especial. Após tribunais a adoção de uma escuta especial (CNJ,
essa recomendação, a Resolução CFP 10/2010 2010). Reforçando essa perspectiva, a tendência
foi suspensa em outros estados, como Acre, Ser- dos tribunais superiores é no sentido de decidir
gipe, Pernambuco e Mato Grosso, mas novas au- a sua obrigatoriedade, onde existir, à disposição,
diências e reuniões ainda são demandadas pelo a sala e os equipamentos, não sendo apenas uma
Conselho Federal de Psicologia (CFP, 2012). faculdade dos operadores do direito (Superior
Nessa direção, o Ministério Público Fede- Tribunal de Justiça, 2012). Em razão da obriga-
ral e o Ministério Público do Estado do Rio de toriedade da nova metodologia, advém a obri-
Janeiro ingressaram com a ação civil pública gatoriedade da interdisciplinaridade, do diálogo
0008692-96.2012.4.02.5101, com pedido de li- entre os saberes, que possibilita a construção de
minar, em face do Conselho Federal de Psicolo- estratégias para se garantir o direito das crianças
gia e do Conselho Regional de Psicologia do Rio e adolescentes.
de Janeiro, objetivando a suspensão da aplicação Em uma revisão sobre o Depoimento Sem
e dos efeitos da Resolução CFP 10/2010 em todo Dano, Brito e Parente (2012) encontraram pon-
o território nacional. A liminar foi deferida, ga- tos favoráveis e desfavoráveis à prática. Dentre
rantindo aos psicólogos a atuação na inquirição os primeiros, as autoras citam: (a) facilitação da
e impedindo que o Conselho aplique penalida- produção de provas e combate à impunidade;
des a estes profissionais. A ação antes referida (b) garantia da criança de ser ouvida e obstar a
encontra-se em tramitação. Com o julgamento repetição do relato e da vitimização; (c) propi-
definitivo desta ação civil pública, ficará indis- ciar o depoimento em um ambiente acolhedor,
cutível se os profissionais podem, ou não, atuar tornando o relato mais eficiente e de maneira
na escuta de crianças e adolescentes junto ao Po- pouco onerosa; (d) entrevista feita por profissio-
der Judiciário. nais qualificados; (e) é um método empregado
em diversos países. Por outro lado, dentre os
Para Além do Embate e pela Prote- aspectos desfavoráveis, foram encontrados: (a)
ção das Crianças e Adolescentes: igualdade entre inquirição e escuta psicossocial,
Considerações Finais o que seria um desrespeito à ética do psicólogo
e do assistente social; (b) privilégio da busca de
Ultrapassar a dicotomia (Brito & Parente, provas para a punição do agressor, transforman-
2012) existente na discussão sobre a inquirição do o direito da criança em depor em obrigação;
judicial de crianças e adolescentes é essencial e (c) evidenciaria o discurso da criança e ignora-
não tem sido tarefa fácil, tampouco buscada pe- ria a possibilidade de falsas denúncias; (d) des-
los diferentes teóricos ou profissionais que atu- consideraria outros danos e colocaria a criança
am na área. O que parece ter se estabelecido são como corresponsável pela sanção do acusado; e,
34 Pelisoli, C., Dobke, V., Dell’Aglio, D. D.

por último, (e) a ocorrência em outros países não apropriada certamente é mais provável de ser
significa sucesso (Brito & Parente, 2012). Estu- realizada. Sob este ponto de vista, deve-se con-
dos que consideram os dois lados da questão e siderar ainda que o Direito necessita de outras
que, portanto, buscam uma solução unificada, disciplinas para bem administrar fenômenos que
sem estar vinculados a um ou outro partidaris- extrapolam o conhecimento jurídico, tais como
mo são fundamentais para o avanço do uso dessa o abuso sexual. Este é um evento que engloba
metodologia. É necessário partir-se deste ponto, diferentes áreas e saberes e a Justiça, sozinha,
considerando que a experiência existe, está sen- não pode dar conta adequadamente do problema.
do implantada e fortalecida e que precisa ser es- Por outro lado, a Psicologia detém conhecimen-
tudada em todos os seus aspectos, corrigindo-se tos significativos nesse sentido, especialmente
o que não estiver satisfatório e aperfeiçoando-se relacionados à perspectiva do desenvolvimento
ainda mais o que estiver adequado. humano, acolhimento, dinâmicas da violência
Testemunhar em situações de abuso sexual, e amplas abordagens de avaliação psicológica,
por certo, é uma tarefa estressante, especialmen- incluindo as entrevistas como um dos principais
te se a criança tiver que repetir inúmeras vezes métodos.
seu testemunho ou não tiver a presença de uma Como referido anteriormente, em diversos
pessoa de sua confiança (Goodman et al., 1992). países, não é o psicólogo que atua na tarefa de
Entretanto, depor num tribunal pode ser uma ex- entrevistar crianças. Outros profissionais podem
periência positiva, se alguns fatores estiverem também executar essa tarefa, como nos Estados
favoráveis, como por exemplo: (a) se a criança Unidos, África do Sul, Austrália, Canadá, Cuba,
estiver emocionalmente preparada; (b) se ela tiver Escócia, Franca, Índia, Inglaterra, Israel, Jordâ-
um tratamento respeitoso e adequado à sua idade; nia, Malásia, Noruega, Nova Zelândia, Suécia
(c) obtiver apoio; (d) receber serviços e proteção (B. R. Santos & Gonçalves, 2009). Entretanto,
que se façam necessários após o julgamento; (e) mesmo nestes lugares, a recomendação mais
for incentivada a depor; (f) se a família e os profis- comum é o uso da entrevista cognitiva, matéria
sionais que lidam com a vítima o façam adequa- estudada por psicólogos em todo o mundo. Con-
damente e de forma a lidar com suas necessidades siderando isso e a habilidade do psicólogo nesta
emocionais (Goodman, Ogle, Troxel, Lawler, & área, Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa
Cordon, 2009). Estando estas condições assegu- Rica, Equador, Espanha – Catalunha, Lituânia,
radas, o estresse característico de um depoimento Paraguai e Peru têm priorizado ou dado um lugar
pode ser atenuado, tornando-se menos traumático de destaque a este profissional para a condução
e revitimizador, e até mesmo, obtendo mais vera- da entrevista (B. R. Santos & Gonçalves, 2009).
cidade (Goodman et al., 2009). Cabe enfatizar que no Brasil, os policiais nem
O projeto do Depoimento Especial objetiva sempre apresentam condutas adequadas ao lidar
assegurar maior proteção às crianças e adolescen- com situações de violência doméstica. Em de-
tes que supostamente foram vítimas de violência legacias especializadas, o atendimento e a aten-
sexual. Tendo o objetivo de proteção, pode se ção a vítimas e familiares é diferenciado, sendo
inferir que há, portanto, uma preocupação com a percebido como positivo no estudo realizado por
questão da infância como uma fase específica de S. S. Santos (2011). Entretanto, nas delegacias
desenvolvimento, que merece cuidados e aten- comuns, que são mais frequentemente encontra-
ção diferenciada. A participação da criança nas das no país, o atendimento e acolhimento podem
instâncias jurídicas deve ser pensada e para ela ser precários, sem cuidado com a privacidade
devem ser criadas alternativas que considerem da vítima ou condições de trabalho adequadas
essas especificidades desenvolvimentais. Além para lidar com o problema. Além disso, há im-
disso, considerar as características da própria portantes diferenças entre policiais brasileiros
violência e das dinâmicas familiares envolvidas e americanos ou europeus em se tratando tanto
no problema também constituem preocupações de demanda como de renda: no Brasil, a taxa de
relevantes para o profissional entrevistador. Com criminalidade é mais alta e o salário mais baixo,
esses conhecimentos de base, uma entrevista o que implica na condição de trabalhar mais por
Depoimento Especial: Para Além do Embate e pela Proteção das Crianças e Adolescentes... 35

uma menor remuneração. Dessa forma, não se sárias. Quando se pensa que buscar a verdade
espera deste profissional que ele possa ter tem- objetiva não é tarefa do psicólogo, podemos
po para se dedicar a qualificar-se em uma área pensar que pode ser sim sua tarefa, na medida
específica como o abuso sexual, uma vez que ele em que muitas abordagens teóricas são orien-
deve atuar em tantas outras áreas e problemas. tadas para adequar percepções distorcidas da
Esse aspecto fortalece o envolvimento de profis- realidade. Ou seja, uma verdade dita subjetiva
sionais graduados, como psicólogos e assistentes pode não ser uma verdade real/material/histó-
sociais, na condução de entrevistas em situações rica. Abordagens cognitivas, que têm ganhado
de ASI, uma vez que esses geralmente apresen- espaço e resultados significativos buscam a ver-
tam uma área de atuação mais limitada e, portan- dade real/material/histórica no próprio contexto
to, mais específica e qualificada. clínico, através de técnicas que fazem com que o
Outro aspecto primordial que demonstra o sujeito busque informações com terceiros sobre
quanto o psicólogo pode e deve contribuir para a aquilo que seria o objeto de sua percepção ou,
área é abordado na legislação de regulamentação por exemplo, técnicas que busquem que o indi-
da profissão, que esclarece em seu artigo 13, in- víduo realize experimentos para confrontar suas
ciso 2 “É da competência do Psicólogo a colabo- percepções com a realidade (Beck, 1997). Psi-
ração em assuntos psicológicos ligados a outras cologia cognitiva e Psicologia forense, portanto,
ciências” (Lei 4119, de 27 de agosto de 1962). são áreas orientadas à busca da verdade dos fatos
Em seu Código de Ética, artigo 1, inciso j, está e se aproximam da verdade buscada pelo siste-
também presente a ideia de trabalhar com res- ma de justiça. Dessa forma, os psicólogos que
peito, consideração e solidariedade com colegas se identificam com essas áreas podem atuar eti-
e outros profissionais, quando este for solicitado, camente nessa questão sem interferir em valores
bem como sugerir (inciso k) serviços de outros pessoais ou identificações teóricas divergentes.
psicólogos (CFP, 2005), se for o caso, como por Outra crítica que pode ser objeto de mu-
exemplo, se o psicólogo não se sentir qualificado dança é a consideração de que na tarefa técnica
para tal tarefa. O psicólogo, neste sentido, não do Depoimento Especial não há cuidados que
apenas pode colaborar com seu conhecimento e seriam tradicionais da Psicologia, como enca-
habilidade, mas a participação é um dever que minhar ou realizar ampla avaliação. Seria pos-
cabe a este profissional. Além disso, o psicólogo, sível então, olhando para este aspecto, que o
atuando no Depoimento Especial, pode impedir psicólogo, atuante no sistema de justiça, esteja
a revitimização da criança e trabalhar para pro- associado a uma rede de cuidados, com contatos
mover a eliminação de violências, conforme pre- próximos com profissionais da rede de saúde e
visto nos princípios fundamentais de seu Código proteção. Com esses contatos, o psicólogo judi-
de Ética (CFP, 2005), devendo, para isso, buscar ciário poderia fazer os encaminhamentos com
aprimoramento profissional contínuo para atuar facilidade e abertura, realizando também um
nesta nova metodologia com responsabilidade acompanhamento breve antes e após o momen-
(CFP, 2005). A afirmação de que a atuação no to do depoimento. Além do encaminhamento,
Depoimento Especial não é um papel do psicó- sugere-se maior tempo com a criança e com ou-
logo (Brito, 2008; CFP, 2010) não parece incluir tros familiares ou pessoas próximas, no sentido
ou considerar que a Psicologia possui uma di- de tornar o processo mais ampliado do que está
versidade de objetivos, instrumentos e papéis. sendo realizado no momento.
Dessa forma, faz sentido pensar que essa nunca Do estudo de Brito e Pereira (2012), pode-
foi uma tarefa do psicólogo, mas que pode ser mos observar a crítica de que o Depoimento Es-
e pode ser qualificada. Entretanto, ela somente pecial tem correspondido muito mais às expecta-
o será quando os profissionais se apropriarem tivas do sistema jurídico do que da Psicologia. As
dela, sugerirem mudanças e avançarem em dire- autoras demonstram, através de estudo empírico,
ção ao progresso da técnica. que a valorização do depoimento infantil tem se
Das críticas que crucificam a metodologia dado a partir da inexistência de outras provas, do
podemos inferir mudanças que se fazem neces- baixo número de condenações e da consideração
36 Pelisoli, C., Dobke, V., Dell’Aglio, D. D.

de que os depoimentos são consistentes e sóli- Referências


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teriais ficou em segundo plano, mesmo em situa- Brito, L. M. T. (2008). Diga-me agora... o depoi-
ções em que houve comprovação do abuso a par- mento sem dano em análise. Psicologia Clínica,
tir do exame de corpo delito. Com isso, pode-se 20(2), 113-125.
sugerir que exista maior cuidado por parte dos Brito, L. M. T., & Parente, D. C. (2012). Inquirição
trabalhadores do sistema de justiça, que se con- judicial de crianças: Pontos e contrapontos. Psi-
sidere com maior imparcialidade o depoimento, cologia & Sociedade, 24(1), 178-186.
no sentido de questionar também a veracidade e Brito, L. M. T., & Pereira, J. B. (2012). Depoimento
qualidade destes e também que não transfiram o de crianças: Um divisor de águas nos processos
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decisão é da figura jurídica e não da vítima.
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