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Utilização da técnica de linhas de balanço em projetos de construção

civil

Autor: Giulliano Polito – www.polito.eng.br / polito@polito.eng.br

Resumo

Os desafios, peculiaridades e especificidades dos projetos de construção civil predial tornam os


modelos de gestão atuais insuficientes para garantir o atingimento dos objetivos propostos. As técnicas
tradicionais de planejamento, monitoramento e controle do tempo utilizadas atualmente, não são
totalmente aderentes aos projetos de construção civil. A técnica chamada de “linhas de balanço” ou
“diagrama de tempo-caminho” permite a análise a nível estratégico do cronograma, permitindo definir
e acompanhar, sem detalhamento, o plano de ataque, identificar os conflitos e gargalos de produção e
acompanhar o progresso das atividades. Qualidades como clareza na visualização, simplicidade,
velocidade para planejamento e replanejamento, foco no ritmo de produção fazem desta ferramenta
um diferencial competitivo de gestão e permitem a melhoria dos resultados destes projetos.

Palavras chave: Construção; Gerenciamento de projetos; Lean; Linhas de balanço; Gestão


do tempo

1 Introdução

Os desafios, peculiaridades e especificidades dos projetos de construção civil predial tornam


os modelos de gestão atuais insuficientes para garantir o atingimento dos objetivos propostos.
Características como a dificuldade na definição e controle do escopo, o grande número de
interdependências entre as atividades, a necessidade de grande velocidade de resposta, as
interfaces entre várias especialidades, o grande número de intervenientes, fazem com que o
ambiente seja desafiador para qualquer metodologia de gestão. O desafio a ser vencido é
garantir o atingimento das metas, convivendo com essas incertezas, sendo o maior deles o
gerenciamento do tempo.

Embora o tempo, o custo, a qualidade e o escopo possuam uma relação fundamental, a gestão
do tempo assume um dos principais aspectos da gestão. Problemas com a gestão do tempo são
as principais causas de distorção nos custos, e consequente comprometimento da qualidade e
escopo de um projeto. De todos os recursos administrados por um engenheiro de obra o tempo
é o único que é irrecuperável, por isto sua gestão não deve nunca ser negligenciada.
A gestão do tempo não é só elaborar e gerenciar um cronograma. Fazer o uso eficiente do
tempo em um projeto é a chave do seu sucesso. Quanto mais rápido um projeto for finalizado,
mais rápido os recursos retornarão e estarão disponíveis para outros investimentos. O Tempo
é o recurso mais precioso em um projeto.

Como principal desafio à gestão do tempo podemos citar a indisposição dos engenheiros de
obra em investir tempo no planejamento do projeto. Isto deve-se à crença de que se está
gastando tempo produtivo precioso no planejamento, uma vez que o mesmo mudará no
decorrer da obra.

As técnicas tradicionais de planejamento, monitoramento e controle do tempo utilizadas


atualmente, não são totalmente aderentes aos projetos de construção civil. Apesar serem
precisas e confiáveis possuem algumas deficiências. Uma das deficiências diz respeito ao
entendimento do todo e da estratégia adotada. Cronogramas de construção civil normalmente
comportam milhares de atividades e linhas, o que torna seu entendimento e comunicação com
a equipe, principalmente as de produção, uma tarefa difícil, exigindo que seja analisado por
parte, prejudicando a visão do todo. Por serem muito extensos também torna-se muito
trabalhoso a simulação de várias estratégia e planos de ataque para o projeto de forma a
permitir a adoção da melhor.

Outra deficiência diz respeito ao tempo necessário para se efetuar um replanejamento ou


simular impactos de possíveis atrasos ou simular impactos para a tomada de decisão. Devido
a instabilidade do ambiente e dos constantes impactos sofridos, é imperioso que o
replanejamento e as ações sejam muito rápidas de forma a evitar ou minimizar os impactos no
objetivo do projeto.

2 Metodologia de Pesquisa

Sob a ótica de seus objetivos, o presente trabalho pode ser considerado do tipo exploratório,
buscando proporcionar maior familiaridade com a técnica apresentada. Este trabalho envolveu
revisão bibliográfica, desenvolvimento empírico, levantamento de boas práticas e aplicação
da técnica. O desenvolvimento empírico ocorreu por meio de um estudo exploratório em
empresa construtora através de experiências práticas de planejamento e controle, com
simultâneo desenvolvimento e aplicação. Por se tratar de um artigo, com limitações de
tamanho, o presente trabalho se limitará à apresentação dos principais conceitos, não
objetivando o esgotamento do assunto.

3 A técnica de linhas de balanço

Diante do contexto apresentado para a construção civil, uma técnica apresenta-se


particularmente aderente e com grande potencial para melhorar a qualidade do planejamento.
Trata-se da técnica chamada de “linhas de balanço” ou “diagrama de tempo-caminho”. Esta
técnica permite a análise a nível estratégico do cronograma, permitindo definir e acompanhar,
sem detalhamento, o plano de ataque, identificar os conflitos e gargalos de produção e
acompanhar o progresso das atividades. Também permite identificar o impacto da quebra de
precedências, falta de recurso e permite simular o impacto no cronograma de atrasos ou baixa
produtividade em qualquer um dos pacotes de trabalho. Esta técnica se mostra ideal para
planejamento e acompanhamento por sua praticidade, facilidade de interpretação e
comunicação das informações. É uma ferramenta complementar de planejamento.

A técnica é especialmente eficaz em função do caráter linear e repetitivo dos projetos de


construção civil. Nela o cronograma é representado por retas em um diagrama cartesiano,
onde a abscissa representa o tempo e a ordenada as unidades produzidas, normalmente
pavimentos. A inclinação da reta define o ritmo de avanço da atividade (Figura 1). Cada linha
representa um grupo de atividades. Para tornar sua representação clara e limpa, normalmente,
representamos apenas as atividades da corrente crítica, considerando as demais atividades
como atividades secundárias. O planejamento passa a ser configurado em relação a pacotes de
trabalho x tempo, permitindo uma melhor visualização do fluxo de trabalho, transferindo o
foco da gestão para o ritmo de produção e não mais para o controle individual de atividades.

A técnica de linhas de balanço por ser realizadas com planilhas eletrônicas, presentes em
qualquer computador. A técnica permite representar todo o cronograma em apenas uma folha
e permite realizar simulações e impactos simplesmente traçando-se retas sobre o gráfico.
Entretanto, como toda ferramenta simplificada, a técnica de linhas de balanço possui
limitações, como por exemplo a de se limitar a relação de dependência término-início.
Ao contrário do cronograma de barra que fixa a duração da atividade, a linha de balanço
representa a produtividade ou ritmo de cada pacote de trabalho. Seu formato resumido e
simples é ideal para utilização em reuniões ou para comunicação à equipe de status atual de
metas do projeto.

Figura 1 – Técnica de linhas de balanço

Esta técnica permite inferir graficamente o impacto de múltiplas estratégias para redução de
prazo, impacto de atrasos etc. Existem serviços que podem ser realizados de forma
ascendentes (de baixo para cima) ou descendentes (de cima para baixo). A linha de balanço
ajuda a cadenciar a obra e ajudam a visualizar e antecipar as interferências, realizar ajustes e
otimizar recursos. Permite o balanceamento dos pacotes de trabalho de forma contínua e
eficiente, garantindo que o ritmo seja constante, ou seja, que o mesmo número de pacotes de
trabalho sejam executados em um determinado tempo, conforme proposto pelo sistema
Toyota de produção. O fluxo deve ser prioridade na obra.
Figura 2 – Exemplos de estratégias para redução de prazo simuladas em linhas de balanço.

Como estratégias de redução de prazo podemos reduzir o ciclo por pavimentos (Figura 2b),
ou seja executar cada pavimento em menos tempo. Além do uso da técnica de compressão
através do aumento de recursos, podemos também eliminar precedências ou agrupar tarefas
em um mesmo ciclo de produção.

Também podemos reduzir o prazo reduzindo o intervalo entre cada pacote de trabalho (Figura
2 c). Esta estratégia demanda maior coordenação e previsibilidade do fluxo. Quanto maior a
maturidade e a previsibilidade, menores podem ser os pacotes de trabalho e menor o
espaçamento entre eles. Podemos chegar a fracionar até o pavimento de forma a trabalhar com
mais de um ciclo por pavimento, desde de que respeitadas as precedências.

Outra forma de reduzir prazo é eliminando pacotes de trabalho do cronograma (Figura 2d).
Esta ação é baseada fundamentalmente nas tecnologia e métodos construtivos adotados.
Tecnologias como fachadas pré-moldas em concreto, esquadrias unitizadas, banheiro pronto,
piso elevado, entre outras, permite a redução do número de pacotes de trabalho a ser realizado
dentro do canteiro e consequentemente o prazo da obra.
O planejamento através do uso de linhas de balanço permite cadenciar a produção num ritmo
constante, nem demasiado rápido, nem demasiado lento. Sempre constante e previsível, ou
seja, cada unidade de produção possui o mesmo tempo básico de duração de forma
proporcionar sincronismo. A este ritmo constante dá-se o nome de “takt”. Busca-se com isto
garantir as precedências obrigatórias e evitar conflitos ou improdutividade entre as atividades.
Se a atividade for executada em ritmo mais rápido que a sua sucessora, haverá conflito.
(Figura 3a). Esta técnica também permite identificar práticas de planejamento danosas ao
projeto. Por exemplo, a inversão do fluxo de ascendente para descendente, cria uma folga no
cronograma e um estoque de serviços acabados, que por definição é desperdício de prazo e de
custo (Figura 3 c,d). Cada pacote de trabalho cria um estoque de produto semiacabado para o
próximo pacote de trabalho. Quando os ciclos são diferentes este estoque pode ser maior ou
menor.

Figura 3 – Exemplo de análises possíveis em linhas de balanço.

O uso da linha de balanço deixa evidente que ganhos pontuais de produtividade não
representam necessariamente ganhos de prazo para o projeto (Figura 4). Ao atingir maior
produtividade, o serviço de alvenaria não só não representa ganho para a obra, como pode
gerar problemas de interferência com sua atividade predecessora, estrutura, como gerar
conflitos por recurso uma vez que demandará elevador cremalheira para abastecimento de
material.

Figura 4 – Exemplo de melhoria de produtividade sem impacto no prazo total do projeto.

A linha de balanço também permite o acompanhamento do previsto x realizado com relativa


facilidade permitindo identificar conflitos e impactos de atrasos ou adiantamento de
atividades com facilidade (Figura 5), inclusive inferir o prazo final extrapolando o ritmo das
últimas semanas. É possível perceber pela técnica o impacto que estratégias de
aproveitamento de recursos pode causar ao projeto (Figura 6). Também permite analisar o
impacto de estratégias de recuperação com o simples traçado de retas sobre o gráfico.

Figura 5 – exemplos de atrasos representados em linhas de balanço.


Figura 6 – reaproveitamento de recursos representado em linha de balanço (relação término-início).

O balanceamento dos ritmos nem sempre é fácil. Serviços muito rápidos devem ser agrupados
de forma a criar uma “família” e se aproximar do ciclo ideal. Serviços muito longos devem ter
suas equipes reforçadas e utilizar de métodos que aumentem sua produtividade. Deve-se
respeitar a declividade ideal de cada atividade, buscando o ritmo que permita a realização no
melhor custo e qualidade adequada. Um cronograma balanceado, com retas paralelas, produz
normalmente um prazo menor, entretanto deve-se ter atenção ao dimensionamento das
equipes ótimas.

Uma “família” de produção é um conjunto de atividades que podem ser executadas no mesmo
ciclo, respeitando-se as precedências obrigatórias, sem que haja interferência ou interrupção
de umas nas outras. Para isto, cria-se uma célula de produção, composta basicamente por uma
equipe multifuncional, e por equipamentos e materiais necessários, de forma a executar os
serviços em um fluxo contínuo. Esta célula de produção pode executar mais de uma tarefa,
possuindo maior flexibilidade e reduzindo o tempo de transferência. Equipes multifuncionais
e polivalentes, onde cada membro possui várias habilidades, aumenta a flexibilidade, a
versatilidade e a capacidade reorganização, sendo menos vulnerável a ausência de membros
da equipe. Ao se alocar mais de uma tarefa por ciclo é importante estar atento à logística de
abastecimento e ao conflito por espaço que pode ocorrer, além a dificuldade de coordenação.
Gerenciar por famílias e por pacotes de trabalho simplifica a gestão e o acompanhamento do
projeto.

Uma boa prática é estabelecer ciclos curtos de realização e teste, de forma a possibilitar a
identificação e correção de desvios o mais rapidamente possível. Também deve-se buscar
manter poucos pacotes de trabalho simultâneos, facilitando, desta forma, a gestão em campo e
reduzindo o tamanho das equipes de apoio, gerencial, e o custo da logística. Também há uma
diminuição de atividades que não agregam valor e uma melhoria no controle da qualidade e
da segurança do trabalho.

Apesar de a reta presumir que haverá um ritmo constante durante a obra, não podemos negar a
existência, na prática, de uma curva de aprendizagem, onde ocorre uma melhoria de
produtividade com o passar do tempo. Esta característica pode ser inserida no cronograma,
conforme exemplificado na Figura 7.

Figura 7 – Curva de aprendizagem representado em linhas de balanço.

4 Conclusões e Considerações Finais

A técnica de linhas de balanço demonstra ser uma excelente ferramenta complementar para o
apoio na definição da estratégia e plano de ataque de um projeto de construção civil.
Qualidades como clareza na visualização, simplicidade, velocidade para planejamento e
replanejamento, foco no ritmo de produção fazem desta ferramenta um diferencial
competitivo de gestão e permitem a melhoria dos resultados destes projetos. Esta ferramenta
associada a um planejamento e o controle em ondas sucessivas, com vários horizontes (longo,
médio e curto prazo), permite encontrar o equilíbrio necessário entre ao planejamento
antecipado e capacidade de adaptação necessária à programação das atividades no canteiro.
5 Referências bibliográficas

BALLARD, G. H. The Last Planner System of Production Control. Ph.D. Thesis.


Faculty of Engineering. School of Civil Engineering. The University of Birmingham, 2000.

KOSKELA, L., Application of de new production philosophy in the construction


industry, no proceedings of PMI Research Conference, 2002.

NORIE, Lean Construction: Diretrizes e Ferramentas para o Controle de Perdas na


Construção Civil, 2° Edição, 175p. Sebrae, 2000.

PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE, A GUIDE Project Management Body of


Knowledge. 4th.ed. Newton Square, 2009.

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