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Matheus M. Silva
Macapá, 2020
A Linguagem dos Quadrinhos
ISBN:
1ª edição: 2020
Organizadores:
Ivan Carlo A. Oliveira | Matheus M. Silva | Rafael Senra Coelho
Editores:
Ivan Carlo A. Oliveira | Matheus M. Silva | Rafael Senra Coelho
Revisão:
Ivan Carlo A. Oliveira | Rafael Senra Coelho
Diagramação:
Marília Tiritan | Vinicius Posteraro
Capa:
Rafael Senra Coelho
Conselho Editorial:
Dr. Ivan Carlo Andrade de Oliveira (UNIFAP)
Dr. Henrique Magalhães (UFPB)
Dr. Matheus Moura Silva (UFG)
Dr. Rafael Senra Coelho (UNIFAP)
Ma. Dânia Soldera (PPGACV/UFG)
Me. Gustavo Henrique Ferreira (INHIS/UFU)
Contatos e pedidos:
profivancarlo@gmail.com
Proibida a reprodução sem prévio aviso, salvo para divulgação. Direitos re-
servados ao autor. As opiniões aqui expressas são de total responsabilidade
de quem as emite.
O 48
____________
Oliveira, Ivan Carlo Andrade de
A linguagem dos quadrinhos / organização de Ivan Carlo Andrade de Oliveira,
Matheus Moura Silva, Rafael Senna Coelho. – Porto Alegre: Avec, 2020. / Macapá:
Cipó, 2020.
Vários autores
ISBN: 978-65-86099-60-7
CDD 741.5
____________
Ciberpajé
10
Desde 2013 a ASPAS realiza encontros anuais
agregando seus associados e outros interessados que
apresentam artigos inéditos em grupos de trabalho diver-
sos, inclusive em 2016 fui o organizador do III Fórum de
Pesquisadores em Arte Sequencial, em Goiânia, realizado
pela ASPAS em parceria com o Grupo de pesquisa que
coordeno, o Criação e Ciberarte (CRIA_CIBER FAV/UFG),
contando com o apoio do Programa de Pós Graduação
em Arte e Cultura Visual da Faculdade de Artes Visuais
da Universidade Federal de Goiás. o III FNPAS teve como
tema “A Arte dos Quadrinhos”, e contou com a participação
de mais de 50 pesquisadores. Na ocasião, integrava a
comissão organizadora do evento, Gian Danton, à época
meu orientando de doutorado no PPGACV/UFG, o idea-
lizador das duas edições do congresso ASPAS NORTE
que resultaram nesse livro que tenho a honra de prefaciar.
11
o apoio irrestrito da ASPAS e de outro colega também
notório quadrinhista e pesquisador, o Prof. Adjunto Dr.
Rafael Senra Coelho, da UNIFAP. O I ASPAS NORTE
foi realizado pelo projeto de pesquisa em história em
quadrinhos em outubro de 2018 sendo exitoso em seus
propósitos, ajudando a fortalecer a regional Aspas Norte
que surgiu com o objetivo de congregar pesquisadores
da Nona Arte da região amazônica, abrindo mais um es-
paço de divulgação de pesquisas e compartilhamento de
experiências e publicações. Com o sucesso do I ASPAS
NORTE, em 2019 foi realizado em Macapá o II ASPAS
NORTE, também sendo exitoso em seus propósitos.
12
notório caso de simulacro e hiper-realidade no livro Os
Caçadores de Sonhos, escrito por Neil Gaiman e ilustrado
por Yoshitaka Amano, tendo como fundamentação básica
o filósofo Jean Baudrillard; Rayanne Rodrigues dos Santos
e Marcos Paulo Torres Pereira, que abordam questões
de hipersexualização do corpo feminino, representado
através da figura da personagem Majestosa, utilizando
Bourdieu (2012) e Foucault (1979, 1988, 1996) como re-
ferências estruturais; Amorim Sidarta Araújo, que aborda
com propriedade a obra Fullmetal Alchemist a partir das
reflexões de Nietzsche sobre a vontade de potência; Ivan
Carlo Andrade de Oliveira, que trata com muita tenacidade
a questão vanguardista das elipses narrativas na obra
notória das HQs, Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller;
e Fernanda Rabelo de Souza, que aborda aspectos da
jornada da heroína no mangá Saintia Shô tendo como
base Joseph Campbell.
13
de Ferro), que teve sua primeira aparição em 2016 em
O Invencível Homem de Ferro (n.7) e utilizando como
arcabouço teórico de investigação autores como Claudio
Marcio do Carmo (2017) e Carla Akotirene (2018).
Ciberpajé
14
15
O USO DA ELIPSE EM CAVALEIRO DAS
TREVAS, DE FRANK MILLER
1) Introdução
16
O artigo se debruça sobre a obra Cavaleiro das
Trevas, analisando como Frank Miller usou o recurso
da elipse de forma inovadora para construir sua obra
revolucionária.
2) A elipse
17
Entretanto, embora seja possível representar alguns
movimentos com uma única imagem, na grande maioria
das vezes são necessárias várias imagens para a repre-
sentação de movimento. No cinema, isso é feito auto-
maticamente, através da captação de diversos registros
fotográficos que, passados em sequência, dão ao cérebro
a impressão de movimento. No cinema de animação, a
equipe de desenhistas produz uma sequência de imagens
que, passadas rapidamente, parecem fazer parte de um
único movimento. Os quadrinhos não têm esse recurso:
Na História em Quadrinhos, o autor decompõe uma cena
em um determinado número de imagens estáticas coloca-
das em sequência, mas não há um recurso tecnológico que
produza a ilusão de movimento. No entanto, o espectador,
sabendo desta limitação, aceita-a e tenta reconstituir men-
talmente o movimento sugerido pelas imagens disponíveis.
A codificação usada para este encadeamento de imagens é
a apresentação das imagens inequivocamente separadas,
normalmente dentro de quadros (GUIMARÃES, 2018).
18
tantes de ação. Há “pulos narrativos”, cortes, que são
completados pelo leitor.
19
O filme transcorre sem qualquer preocupação quanto à
capacidade ou habilidade de leitura de sua audiência, en-
quanto os quadrinhos precisam lidar com ambas. A menos
que os leitores de quadrinhos sejam capazes de reconhe-
cer as imagens e fornecer os eventos necessários que a
disposição das imagens propõe, nenhuma comunicação é
estabelecida. Por causa disso, o quadrinho é obrigado a
inventar imagens que se conectem à imaginação do leitor.
(EISNER, 2013, p. 76)
20
Por exemplo, quando é necessário comprimir o tempo,
usa-se uma quantidade maior de quadrinhos. A ação en-
tão torna-se fragmentada, ao contrário da ação que ocorre
nos quadrinhos maiores, mais convencionais. Ao colocar os
quadrinhos mais próximos uns dos outros, lidamos com a
“marcha” do tempo no seu sentido mais estrito. Os forma-
tos dos quadrinhos também têm uma função. Numa página
onde é preciso transmitir uma regularidade de ação, dá-se
aos quadrinhos o formato de quadrados perfeitos. Onde
o toque do telefone requer tempo (e espaço) para evocar
suspense e ameaça, toda uma tira é ocupada pela ação
do toque, precedida por uma compreensão dos quadrinhos
menores (mais estreitos). (EISNER, 1999, p. 30)
21
Nobu Chinen (2011, p. 40) destaca que a elipse
contrapõe uma das principais críticas aos quadrinhos, a
de que o leitor não participa da leitura:
Há algumas décadas costumava-se dizer que os quadrinhos
eram leitura de gente preguiçosa, pois, diferentemente da li-
teratura, não exigiam que se imaginasse como seria o rosto
e o porte de um personagem ou o relevo de uma paisagem,
uma vez que tudo era mostrado nos desenhos. Esse tipo de
crítica, além de antiquada, era equivocada, pois uma das
riquezas dos gibis é justamente permitir que, entre um qua-
drinho e outro, a imaginação voe. Se numa vinheta vemos o
mocinho sair a galope e, na sequência, um outro quadrinho
o mostra prestes a desmontar o cavalo, todo o percurso, a
paisagem ensolarada, o ruído dos cascos do animal baten-
do no solo é criado pela mente do leitor (...) Se arte de con-
tar uma boa história em quadrinhos depende da habilidade
em selecionar as cenas certas, saber o que não mostrar
também é fundamental.
22
A publicação era resultado de um processo da editora
DC para roubar grandes estrelas da Marvel. A presidente
da editora, Jenette Kahn, queria a todo custo roubar Frank
Miller da concorrência. Para isso, ofereceu-lhe uma pro-
posta irrecusável: “Diga-me o que você realmente gostaria
de fazer. Não me importo se for algo fora do comum ou se
nunca foi feito antes. Seja lá o que for, tentaremos fazer
com que aconteça” (apud TUCKER, 2018, p. 156-157).
23
A abordagem de Miller era inovadora não só pela
violência, mas também por mostrar o personagem velho,
cinquentão. Depois de anos sem atuar como herói, Bruce
Wayne volta às ruas motivado pela violência extrema que
tomou conta de Gotham.
24
Enquanto Watchmen de Alan Moore fala do lado humano de
cada um de nós e como a humanidade age em certas cir-
cunstâncias, o Cavaleiro das Trevas mostra o lado negro de
um herói que sempre foi o mais humano de todos. Ao mes-
mo tempo que adentramos a psiquê perturbada de Bruce
Wayne, percebemos a que ponto seus anos de treinamento
levaram seu corpo e mente, e como toda uma cidade pra-
ticamente se ajoelha perante esta quase lenda urbana que
patrulha as noites de Gotham.
25
do primeiro capítulo da história: aquela que mostra Bruce
Wayne sucumbindo ao seu lado negro e deixando Batman
emergir. Para isso iremos usar a primeira edição da série,
publicada pela editora Abril em 1987.
26
A cena da morte dos pais. Fonte: MILLER, 1987, p. 16.
27
O quadro com o flash back é mudo, fazendo com
que a expressão “lembra daquela noite” se encaixe no
quadro em que Bruce do presente parece assustado.
Assim, texto e desenho se complementam na impressão
que provocam no leitor. Os quadros seguintes mostram a
família andando pela rua: as imagens vão se aproximando
do garoto até o quadro em que ele olha para cima e vê
um morcego voando contra a luz da lua.
28
A morte dos pais de Bruce Wayne não é mostrada. Fonte: MILLER, 1987,
p. 17.
29
o leitor decodifica isso ao visualizar sua mão, que inicial-
mente tenta se agarrar ao peito do filho e depois desaba.
30
Ao entremear a tragédia de Bruce Wayne com as
notícias sobre a violência em Gotham, Miller faz da tra-
gédia pessoal um reflexo da tragédia social.
31
quadro, o morcego atravessa a janela, como se fosse o
próprio Homem-morcego vindo à luz.
32
Essa sequência exige uma participação ativa do
leitor para ser compreendida. Miller não mostra o Batman
ou suas ações, apenas o resultado delas. O autor utiliza
ainda as onomatopeias como forma de sugerir o que
aconteceu, sem mostrar.
33
A cena do taxi. Fonte: MILLER, 1987, p. 23.
34
Na página 23 são observados 14 quadros pequenos,
mostrando pequenos momentos, como numa edição rápida.
35
página inicia com uma onomatopeia de trovão rasgada
por um relâmpago, que ocupa um terço da página. Ela
serve não só para dar o clima da situação de suspense
e perigo, mas como metáfora: o trovão, anunciando a
tempestade é como Batman, emergindo da escuridão.
36
hã”. Segue-se um ângulo fechado, de mãos quebrando
o braço do mutante.
37
Quando Batman finalmente é revelado, ele aparece em uma splash page.
Fonte: MILLER, 1987, p. 28.
38
trevas agindo. É o contraste entre a sequência anterior de
quadros pequenos elípticos, que pouco revelavam que
torna essa splash page tão marcante.
5) Conclusão
39
Referências bibliográficas
40
narrativas. Dissertação (Mestrado) apresentada no
programa de Artes Visuais da Universidade Federal
de Goiás. Disponível em: https://repositorio.bc.ufg.br/
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TUCKER, Reed. Pancadaria: por dentro do épico con-
flito Marvel vs Dc. Rio de Janeiro: Fábrica 231, 2018.
41
SIMULACRO E HIPER-REALIDADE EM “OS
CAÇADORES DE SONHOS”, DE NEIL GAIMAN
Resumo
42
Sandman, idealizada por Gaiman, alcançava a marca de
dez anos de existência, Berger sugeriu a possibilidade
de uma publicação comemorativa. O aceite do autor foi
interpretado pelo próprio como “um presente para Karen
Berger” (WAGNER, GOLDEN, BISSETTE, 2011, p. 205).
43
Mas SANDMAN estava encerrada, e eu tinha outras histó-
rias para contar, e na época não pensei mais naquilo.
44
Para os fãs que acompanhavam muito de perto a
carreira de Neil Gaiman, certamente chamava a atenção
que aquela obra comemorativa fosse publicada em prosa
(na verdade, um conto longo que recebeu um tratamento
de romance). Antes de Os Caçadores de Sonhos, a única
obra de Gaiman em prosa tinha sido Neverwhere (no Bra-
sil, Lugar Nenhum) (GAIMAN 1997). É preciso considerar,
porém, que o próprio autor rejeita essa publicação como
uma obra sua, pelo fato de que a obra em livro envolve
uma adaptação da série televisiva homônima, roteirizada
também por Gaiman. Ou seja, Lugar Nenhum é encarada
por ele como uma espécie de adaptação. E foi apenas
em 2001 – quatro anos após Os Caçadores de Sonhos,
portanto – que o britânico publicaria American Gods (no
Brasil, Deuses Americanos) (GAIMAN, 2001), veiculada
por ele como seu primeiro romance de fato.
45
Foi depois de Deuses Americanos que Neil Gaiman
sedimentou seu nome como um autor marcante no campo
da literatura. Ou seja, Os Caçadores de Sonhos não se
beneficiou do prestígio posteriormente conquistado. E,
diferente de Lugar Nenhum, Os Caçadores de Sonhos
é uma obra vinculada a uma editora de quadrinhos (DC
Comics) e a uma franquia como The Sandman, que,
mesmo sendo bem sucedida, está, para o bem e para o
mal, inserida em um nicho de consumo de quadrinhos.
46
Assim como aconteceu dentro do campo literário,
em que diversos autores e gêneros viram seus status se
modificar ao longo de décadas, o gênero dos quadrinhos
já passou por períodos de demérito e de revalorização
por parte da crítica e da academia. Nesse sentido, Neil
Gaiman foi um dos autores fundamentais para o reco-
nhecimento do potencial artístico dos quadrinhos. Ele
adaptou Shakespeare dentro de sua série The Sand-
man, mais especificamente na edição de número 19,
com uma versão de A Midsummer Night’s Dream. Essa
específica história recebeu o World Fantasy Award em
1991, sendo a primeira e (até agora) única vez em que
uma história em quadrinhos venceu o referido prêmio
(DUNCAN, SMITH, 2013, p. 298).
47
afirma Tomás T. da Silva, “o pós-modernismo privilegia
o pastiche, a colagem, a paródia, a ironia (...), a mistura,
o hibridismo e a mestiçagem - de culturas, de estilos
e de modos de vida” (SILVA, 1999, p. 114). Importante
mencionar que Neil Gaiman é situado como um dos dez
maiores escritores pós-modernos vivos pelo Dictionary of
Literary Biography (uma publicação que já contabiliza mais
de 300 volumes, publicada e constantemente atualizada
pela editora americana Gale) (2016).
48
conhecido como um dos pilares da literatura britânica e
até mesmo ocidental, já a inspiração para Os Caçadores
de Sonhos teria vindo de um obscuro conto oriental.
49
caminho da morada do Rei só podiam ser ninguém menos
que Cain e Abel; mas os folclorista terão que me perdoar
quando, com um meneio de minha caneta e do meu cora-
ção, transformei o pássaro Hototogisu de Ashton em corvo
(GAIMAN. In: GAIMAN, AMANO, 2014, p.130).
50
por descrições relativamente minuciosas de detalhes da
leitura (como quando ele afirma: “Tenho grande dívida
com esta obra principalmente em relação ao Capítulo
Três e partes do capítulo final” (GAIMAN. In: GAIMAN,
AMANO, 2014, p.130).
51
Através da teoria dos arquétipos proposta pelo psi-
canalista suíço Carl Gustav Jung, podemos compreender
como é que diferentes culturas podem apresentar perso-
nagens tão semelhantes entre si em termos de forma ou
função narrativa. Para ele, os arquétipos seriam manifes-
tações de imagens simbólicas, que refletiriam instintos
e impulsos fisiológicos comuns aos seres humanos. As
diferenças mais superficiais entre estes personagens
se deveriam a detalhes das culturas nas quais eles se
manifestam, mas, por derivarem de instintos universais
da espécie humana, eles teriam funções e papéis seme-
lhantes em suas diferentes “encarnações”:
É preciso que eu esclareça, aqui, a relação entre instinto
e arquétipo. Chamamos instinto aos impulsos fisiológicos
percebidos pelos sentidos. Mas, ao mesmo tempo, estes
instintos podem também manifestar-se como fantasias
e revelar, muitas vezes, a sua presença apenas através
de imagens simbólicas. São a estas manifestações que
chamo arquétipos. A sua origem não é conhecida; e eles se
repetem em qualquer época e em qualquer lugar do mundo
— mesmo onde não é possível explicar a sua transmissão
por descendência direta ou por «fecundações cruzadas»
resultantes da migração (JUNG, 1983, p. 69).
52
Quanto ao restante, minha dívida está com o divino reve-
rendo. Escrevo neste momento com meu Contos de Fada
do Japão Antigo na mesa à frente. A encadernação em
couro está lascada e descolorida, as páginas têm rasgos,
manchas de água e outras. Senti uma estranha honra ao
perceber que, apesar das condições do livro, ainda assim
fui a primeira pessoa a lê-lo: muitas das páginas ainda esta-
vam sem o devido corte. De início eu as cortei com um abri-
dor de cartas, mas depois percebi que se separavam mais
facilmente se eu puxasse apenas com os dedos (GAIMAN.
In: GAIMAN, AMANO, 2014, p.130).
53
sioso. O livro Os Caçadores de Sonhos passou a ser
encarado pelos leitores e críticos como uma adaptação
de uma obra literária perdida. O procedimento prometia
ser similar ao que Gaiman realizou quando apresentou
sua releitura de Shakespeare, apesar de algumas dife-
renças significativas: em primeiro lugar, Gaiman agora
se valia do formato do conto, adaptando literariamente
uma peça originalmente apresentada também no campo
literário. Outro fator importante era o fato de que o autor
provavelmente teria feito pesquisas profundas sobre nar-
rativas ancestrais do oriente, uma vez que nem mesmo
especialistas na literatura japonesa antiga conheciam o
referido conto que inspirara Gaiman.
54
Percebendo o imbróglio que se formara em torno
de sua obra, Gaiman acabou por desmentir a existência
do suposto conto japonês. Ele fez isso no prefácio de
uma versão em quadrinhos de Os Caçadores de Sonhos,
feita por seu antigo colaborador P. Craig Russell. Fazen-
do um mea culpa de sua atitude, Gaiman se retratou e
confessou a invenção por trás da história de uma “lenda
japonesa” que o teria inspirado:
Embora eu quisesse muitas coisas de Os Caçadores de So-
nhos, não era minha intenção deixar acadêmicos e amantes
da literatura aborrecidos, desconcertados nem confusos.
55
representado por sua própria simulação, e até mesmo
por uma espécie de recriação deste mesmo mundo. Para
André Lemos, as novas tecnologias seriam um dos supor-
tes que permitiram até impulsionar esse tipo de recurso:
As novas formas de criação de imagens são, de agora em
diante, um meio mais eficaz de tomar o mundo e de fazê-lo
funcionar sobre a forma de um modelo (o simulacro) con-
cebido sob a forma numérica. O mundo torna-se, com as
imagens de síntese, um simulacro fabricado a partir de in-
formações binárias, transformadas e traduzidas por compu-
tadores. Com as imagens digitais, o referencial desaparece
por simulação matemática (...) As novas imagens (digitais)
não mais representam o mundo; elas digitalizam o real. (...)
56
Podemos considerar que esse apelo do simulacro é
algo também presente na própria ficção de Neil Gaiman,
sendo um dos elementos que ele explora constantemen-
te para criar o aspecto fantástico de suas obras. Não é
incomum que o escritor apresente protagonistas que se
veem inseridos em um contexto aparentemente real (ou
seja, representado com elementos e símbolos muito fa-
miliares para o que a maioria dos leitores entende como
sendo “reais”), e que subitamente se encontram diante de
um outro mundo. Ou, melhor dizendo, de uma “realidade
expandida”, uma vez que elementos mágicos acabam
sendo apresentados como sendo também reais.
Louis Vax disse em um texto que o que marca o sobrenatu-
ral contemporâneo é a experiência de homens “como nós”,
que lidam com situações inexplicáveis. Mas já sabemos que
os seres de Gaiman são “como nós” apenas no início de
sua trajetória, logo descobrindo algo que os diferenciam,
seja por intermédio das próprias personagens (Shadow, Tim
Hunter), seja pela revelação de sua natureza desconheci-
da (Fat Charlie, Adam Young). Sendo assim, a “vacilação”
todoroviana já não é mais tão importante, pois o estranho/
maravilhoso aqui não exclui o real, sendo antes o centro
irradiador dele (SANTOS, 2016, p.16-17).
57
a essa linhagem de deuses. O mesmo acontece com Tim
Hunter em Os Livros da Magia, ou com Tristran Thorn
em Stardust, com Fat Charlie em Os Filhos de Anansi,
dentre outras obras do autor britânico.
Conclusão
Referências bibliográficas
58
Morrow & Company, 2001.
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60
61
REALIDADE E FICÇÃO EM RONIN DE FRANK
MILLER
Débora Aymoré
62
simbolicamente. Desse modo, Billy desenvolve sua subje-
tividade e sua interação com os outros por intermédio da
máquina, processo este que culmina, no entanto, em sua
autodeterminação.
Introdução
63
Porém, não só as meditações de Descartes nos
colocam dúvidas sobre a capacidade de distinção entre
momentos em que sonhamos e momentos em que esta-
mos despertos. Em nossa sociedade moderna ocidental
podemos nos questionar sobre a própria função do sonhar.
Supondo que a razão é considerada hierarquicamente
acima ou, ao menos, mais valorizada que a imaginação,
nossas sensações, nossas emoções e nossos sentimen-
tos estão encerrados nos estritos limites da subjetividade.
As reflexões de Descartes também contribuem para que
a razão seja destacada das demais funções da mente,
uma vez que, para ele:
Resulta que, após ter pensado bem sobre isso e ter exami-
nado cuidadosamente todas as coisas, é necessário, enfim,
concluir e sustentar, invariavelmente, que essa proposição,
nomeadamente: eu sou, eu existo, é necessariamente ver-
dadeira sempre que a pronuncio, ou que a concebo em meu
espírito (DESCARTES, 2016 [1641], p. 41).
64
radia), que nossos pais ou familiares procuram suprir
ao longo dos estágios iniciais de crescimento. Assim,
as potencialidades que advêm do sonho, ou seja, da
nossa imaginação (individual ou coletiva), talvez sejam
reduzidas à necessidade de sobrevivência em contex-
tos históricos e sociais que podem se mostrar mais ou
menos hostis à autopreservação.
65
Michel Foucault (1926 - 1984), filósofo francês do século
XX, a modernidade deu surgimento ao biopoder como par-
te das estratégias de poder disciplinar. Enquanto o poder
disciplinar se dirigia aos corpos individuais, disciplinados
para a formação de trabalhadores produtivos, a etapa
seguinte expressa a ampliação da estratégia, cujo foco
é dirigido às populações. Nesta etapa, a estatística, com
suas taxas de natalidade, de mortalidade, de longevidade,
permitiram o movimento de higienização e de salubrida-
de das cidades, originando a medicina social. Note-se,
assim, que a união entre o saber e o poder conduziu a
esta forma moderna de “biopolítica”, ou o governo sobre
a vida (cf. AYMORÉ & COELHO, 2019).
66
Nossa própria condição moderna, assim, nos re-
mete ao fato de que as relações sociais são conduzidas
segundo relações de poder. É claro que isso não significa
que o poder seja a única forma de estabelecer relações
com outros seres (humanos, animais, plantas etc.) e com
a natureza. Poderíamos pensar que Foucault realiza em
sua analítica do poder uma explicitação sobre um modo
específico de conduzir estas relações. O que nos leva à
primeira questão: e a nossa subjetividade, como ela se
expressa a partir das relações de poder?
67
1) A subjetividade e a analítica do poder
2. Outra definição, talvez mais lógica, seja comparar corpo e mente. Segundo
Descartes, “tudo o que experimentamos existir em nós, e que vemos existir tam-
bém nos corpos inteiramente inanimados, só deve ser atribuído a nosso corpo.
E, ao contrário, que tudo o que existe em nós e que não concebemos de alguma
maneira possa pertencer a um corpo, deve ser atribuído à alma” (DESCARTES,
2012 [1649], p. 32).
68
Os primeiros são alimentar-me e caminhar, mas se é verda-
de que não disponho de corpo, também é verdade que não
sou capaz de caminhar nem de me alimentar. Outro é sentir,
mas também não se pode sentir sem o corpo, a somar-se a
isso que pensei sentir outrora várias coisas durante o sono
que, ao despertar, reconheci não haver, efetivamente, sen-
tido. Outro é pensar, e descubro aqui que o pensamento é
um atributo que me pertence: unicamente ele não pode ser
destacado de mim (DESCARTES, 2016 [1641], p. 43 - 44).
69
partes constitutivas. Enquanto o corpo é regido pelas
mesmas leis dos outros objetos extensos (levando em
conta basicamente espaço, tempo e movimento), a men-
te não apresenta a mesma dinâmica3. Apesar disso, é
possível explicitar três características próprias da nossa
subjetividade: a mente sente (sensação), pensa (razão)
e lembra (memória).4
70
e de lembrar, e é por isso que o sonho seria uma forma
reelaborada de memória em relação às experiências no
corpo, experiências estas realizadas no mundo objetivo.
Deste modo, as sensações, os raciocínios e as memó-
rias que desenvolvemos ao longo de nossas vidas e que
conformam a psique, mantêm algum grau de conexão
com a realidade. Não sendo, portanto, mero fruto de
devaneios ou da fantasia.
71
ou ao futuro (via imaginação). Neste sentido, o que cha-
mamos de subjetividade, quando pensada em termos
individuais, é um ponto deste fluxo de reelaboração das
experiências no mundo. Então, o que aconteceu com a
subjetividade na modernidade?
72
tuição como indivíduos autônomos, independentes das
tradições religiosas, políticas etc., passa a operar também
como limite da capacidade criativa que se volta para a
constituição de subjetividades. Assim, é possível refletir
sobre a inter-relação entre o desenvolvimento histórico da
modernidade e o modo como formamos subjetividades.
73
criticar esta mentalidade, mas de explicitar o modo de
produção incentivado na modernidade, e seu possível
impacto na subjetividade. Deste modo, cabe a elaboração
da segunda questão: como o sonho é representado nas
sociedades modernas?
74
que são estimuladas. Gerando, assim, o ciclo de reforço
mútuo entre economia e produção, própras do capitalismo.
75
3) Billy na realidade e na ficção
76
plexo este administrado e criado por Virgo. Casey define
a habilidade de Billy como telecinese (cf. MILLER, 2016,
Livro 3, p. 40 - 43), ou seja, como uma capacidade de
mover objetos à distância, sem necessidade de tocá-los
ou manipulá-los diretamente.
77
como uma espécie de ciborgue, definido como um híbrido
de máquina e corpo biológico. Nas palavras de Donna
Haraway um ciborgue é “[...] um organismo cibernético, um
híbrido de máquina e organismo, uma criatura de realida-
de social e também uma criatura da ficção” (HARAWAY,
2016, p. 36). Além disso, Billy está midiatizado, pois, por
intermédio da tecnologia de informação, mantêm-se co-
nectado, possibilitando assim “simplificar atividades que
seriam trabalhosas, [de] fazer parte de contextos sociais e
culturais com os quais se identifica e, nesse sentido, [de]
estruturar meios de construir sua identidade, subjetivida-
de e cidadania” (LIMA, 2016, p. 95). Realidade e sonho,
assim, se fundem no imaginário ciborgue.
78
sante notar que, no quadrinho Ronin, a subjetividade de
Billy passará por um processo de transformação que o
aproxima de um forte sentido de lealdade em relação
ao lorde Ozaki, pois seria este o sentimento expresso
na seguinte fala: “Vivo pelo dia em que poderei morrer
servindo ao senhor” (MILLER, 2016, Livro 1, p. 1). Ou
ainda, quando falha ao proteger a vida de seu senhor:
Falhei, lorde Ozaki, e o senhor morreu. Minha vergonha
é profunda, minha escolha, simples. Vagar por essa terra,
sem honra, sem mestre... um RONIN... ou rogar a todos os
seus por perdão... oferecendo minha vida como pagamento
(MILLER, 2016, Livro 1, p. 11).
79
Billy tem acesso enquanto sonha, culminam com o nosso
primeiro encontro com os olhos de Billy arregalados.
80
Então, nas experiências cotidianas conhecemos
primeiramente certos dados corporais (por exemplo, rosto,
altura, modo de vestir), que nos chegam por meio dos
sentidos, e depois procuramos de algum modo reconstruir
a subjetividade dos outros a partir do que percebemos.
Podemos supor que, pelo rosto sorridente, aquela pessoa
é alegre e potencialmente uma boa companhia. Ou se a
pessoa se demonstra acanhada e silenciosa, podemos
supor que ela é tímida ou introspectiva. Em poucas pala-
vras: a interação social objetiva é uma forma de conhecer
indiretamente outras subjetividades.
81
giado da própria subjetividade é a seguinte: por que há
variação em nossas autorrepresentações?
82
Neste momento observamos também o sonho
de Billy, que corresponde ao momento da infância em
que o bloqueio psicológico de parte de seus poderes
telecinéticos foi construído. Na página 31 vemos Billy
indefeso diante das provocações de Bart, que culmina
com a sua mãe retornando do supermercado e vendo
Bart ensanguentado após ter sido lançado contra a pa-
rede do quarto de Billy. Diante desta visão, a mãe chama
o próprio filho de monstro (cf. MILLER, 2016, Livro 5, p.
35). A culpa é, então, projetada na subjetividade de Billy
e, neste ponto, as acusações partem da pessoa que o
protegia, que cuidava dele, que supostamente o amava,
mas que também o rejeita.
83
a sua sobrevivência, Billy libera parte de seus poderes
bloqueados pelo trauma, conseguindo, a partir dos cir-
cuitos de Virgo, produzir braços e pernas biocibernéticos.
A marca da fusão entre o sonho de Billy de se tornar
samurai e a liberação deste potencial de autorrepre-
sentação simbólica marca o seu corpo, pois, além dos
braços e pernas, surge em seu rosto a mesma cicatriz
produzida por Agat que corta o olho direito do Ronin (cf.
MILLER, 2016, Livro 1, p. 35).
84
acontecimentos iniciais sonhados no Japão, onde passa
a vivenciar uma série de desventuras, até reencontrar
a espada de Agat por acaso, em uma loja de penhores
(cf. MILLER, 2016, Livro 2, p. 39).
85
Conclusão
86
pela sociedade da qual fazemos parte. Ao contrário,
parece-nos que a subjetividade mantém relações de
reforço com o mundo que nos cerca e com as pessoas
com as quais convivemos, de tal modo que uma distinção
rigorosa entre autorrepresentação e representação da
subjetividade a partir do olhar ou da avaliação do outro
se torna, no mínimo, ponto de debate.
87
ações e seu propósito, independentemente de sua filiação
biológica e de sua fusão tecnológica.
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Débora Aymoré
89
FEMINISMO NEGRO E ARTE SEQUENCIAL: A
RESSIGNIFICAÇÃO DO PAPEL DA MULHER
NEGRA NAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS
Resumo
90
a personagem Riri Williams (Coração de Ferro), que teve
sua primeira aparição em 2016 em O Invencível Homem de
Ferro (n.7). A importância da temática está situada na pos-
sibilidade exercida pelas histórias em quadrinhos na ressig-
nificação do papel da mulher negra dentro e fora das HQs,
em prol da relevância do discurso da interseccionalidade,
tal como proposto por Carla Akotirene, no movimento femi-
nista discutindo privilégios, estereótipos e representações.
Introdução
91
questões mais particulares a grupos específicos dentro
do movimento feminista.
92
A mulher no corpo social
93
homens e mulheres e essa igualdade deveria abrir cami-
nhos para que iguais também fossem as oportunidades.
94
e pobre? tornou-se vital entender como esses fatores
interferem nas suas experiências.
95
Um dos estudiosos mais conhecidos dessa área é
o italiano Cesare Lombroso que, a partir de sua influência
Darwinista, chegou à conclusão acerca de uma conexão
entre os aspectos físicos e delinquência, excluindo todas
as possibilidades de influências externas em torno do
indivíduo, ele afirmava que a resposta estava na he-
reditariedade, assim “o autor determinou seis tipos de
criminosos: o nato, o louco moral, o epiléptico, o louco,
o ocasional e o passional. No entanto, as características
encontradas por Lombroso eram basicamente do negro,
imigrante na Itália.” (NAZARETH; RODRIGUES. 2014).
Sua teoria influenciou outros estudiosos, no Brasil um de
seus adeptos foi Raimundo Nina Rodrigues.
Raimundo Nina Rodrigues, médico baiano renomado es-
tudioso do negro e da criminalidade e grande adepto das
ideias do antropólogo criminal italiano Cesare Lombroso,
foi representante importante das teorias raciais no Brasil.
Lutou pela implantação da Medicina Legal nos currículos
das Faculdades de Medicina e defendeu a criação de dois
códigos penais brasileiros: um para brancos e outro para
negros, pois pressupunha que as diferenças raciais leva-
vam a diferenças comportamentais e morais tão grandes
que não se podia fazer as mesmas exigências para am-
bas as raças. Para ele, como para outros cientistas de sua
época, a igualdade de direitos e deveres era uma ilusão
(NUNES, 2006, p. 92).
96
social. Sem as bases teóricas investe-se no ideal de
democracia racial, permeada de um preconceito velado
em uma tentativa de normatização de inferioridade e
silenciamento, afinal, somos todos iguais.
97
reconhecemos as diferentes opressões que seguem a
existência de cada mulher e torna possível problematizar
a homogeneização do que é ser mulher.
98
A impávida Lois Lane conseguiu ser várias super-
-heroínas como Elastic Lass, Rainha dos Insetos, uma
versão do Tornado Vermelho, e até mesmo a Superwo-
man, mas tornou-se apenas o suporte do Superman por
um longo período. No caso da Mulher-Gavião e a Bulle-
tgirl, elas foram representadas como versões femininas
de seus cônjuges, ainda que super-heroínas não tinham
voz própria e sempre precisavam de sua versão idêntica
masculina para serem salvas, entende-se também que
a própria Mulher Maravilha fora criada para ser a versão
feminina do Super-homem.
99
O grupo de heróis denominado Vingadores foi idea-
lizado, fundado e comandado por Janet van Dyne, ainda
assim parte de sua história fora dedicada ao seu con-
turbado relacionamento com Hank Pym, em um desses
momentos a personagem engana Hank em meio a uma
crise mental para que assim pudesse se casar com ele.
O mesmo se dá com Susan Storm, a mulher invisível, que
por muito tempo tem seu arco de história preso ao seu
relacionamento com Reed Richards, ainda que integrante
do quarteto fantástico sua posição por muito tempo foi
desfavorável durante as missões do grupo.
100
ção, acaba por não satisfazer mulheres que querem ser
verdadeiramente representadas longe dos estereótipos
vinculados ao olhar masculino sobre os corpos femininos,
essa idealização segue o padrão de corpos extremamente
sensuais em roupas mínimas ou em trajes bem colados
ao corpo para evidenciar as curvas, características que
em nada agregam à capacidade de cada personagem, no
entanto, várias passaram pela mesma descaracterização
e o movimento feminista é um grande agente na luta por
uma representatividade mais digna do feminino.
101
Essa força interpretativa sobre o outro garante ares
de superioridade e inferioridade que culmina por estabe-
lecer mais um âmbito de opressão a ser experienciada.
A mulher negra não escapa de ter sua beleza estereoti-
pada quando representadas, o papel de silenciamento e
subalternização é ainda mais evidente. Como exemplo,
temos a personagem cômico-infantil Lamparina
que muitos pensam ser do sexo masculino, é na realida-
de uma menina impúbere com cerca de dez anos, que vin-
da de uma ilha distante integra-se oficialmente ao elenco
de personagens d’ O Tico-Tico em 25 de abril de 1928. O
fato de ser confundida com um menino deve-se a reduzida
tanga amarela estampada com bolas pretas que lhe deixa
nu o busto ainda sem características femininas. O cabelo
curto encarapinhado, o corpinho magro e desengonçado
e seu temperamento irriquieto dão-lhe, no mínimo, um
aspecto andrógino. (CARDOSO, 2005, p. 10).
102
conseguir alcançar a ideia e os desejos de sua patroa, sua
veia cômica, portanto, era conectada ao âmbito intelectual.
Conclui-se que “ambas, como podemos ver, mantinham
a representação pejorativa, seja no âmbito intelectual, de
subalternidade ou nos traços exagerados.”(BARBOSA,
2017, p. 7). Toda feminilidade proposta para as perso-
nagens femininas são, majoritariamente, retiradas da
mulher negra, a docilidade e fragilidade não fazem parte
de seu repertório, mantendo uma pirâmide de opressão
que nesse presente trabalho é classificada tão somente
como racial, entendendo como prioridade que as relei-
turas das opressões que existem no corpo social sejam
primeiramente tratadas em torno de questões raciais.
103
negra que possui um apetite sexual insaciável, e tem seu
corpo animalizado e hipersexualizado.
104
se encontra, criação de fenômenos atmosféricos elétricos,
mas sua imagem recai nos trajes supercolados e uma
mostra objetiva da idealização do corpo feminino.
105
Jr.) apontamos isso como passos que são inerentes às
mudanças que ocorrem em todos os âmbitos no que
tange a representatividade e do quanto é importante
para um povo de se reconhecer em traços dignos, não
só no que tange à imagem, bem como, em competências
comportamentais dentro de suas narrativas.
106
tro momento no universo da nona arte, a representação
pejorativa se encontrava, também, no âmbito intelectual.
107
Em outubro de 2016 é lançada a capa da história
em quadrinho da personagem, na primeira capa já havia
uma exposição do corpo da personagem e nesse segundo
momento, a arte se aproxima ainda mais de uma hiperse-
xualização da personagem, se distanciando da imagem da
menina de 15 anos, Riri aparece com um corpo curvilíneo
e com uma blusa ainda menor do que anteriormente.
O ilustrador responsável pela nova capa, J. Scott Campbell,
argumentou no Twitter que a proposta era de que a perso-
nagem apresentasse uma imagem de adolescente atrevida,
que está amadurecendo [...] O público não compreendeu
da mesma forma que o ilustrador e lançou a campanha
no Twitter e Tumblr acompanhada pela hashtag #Teens-
ThatLookLikeTeens (“adolescentes que se parecem adoles-
centes”) (CARMO; FARIA. 2017. p. 381).
108
personagens negros, como é o caso da capa variante
feita por Skottie Youn em que o cabelo da personagem
aparece extremamente espetado, seus olhos e sorriso são
representados também de forma exagerada, evocando
uma possível insensatez ou um velho dispositivo para
provocar o riso a partir da imagem estereotipada.
109
Essa ferramenta teórica-metodológica propõe a
demonstração da bagagem impostas às mulheres negras
quando se pensa e vive em um sistema racista-sexis-
ta-capitalista e a arte dentro desse sistema, antes que
possa ser ponte de transformação é espelho do ambiente
no qual é produzido, explicando assim a animalização e
subalternidade a que foram expostas as mulheres negras
na arte em geral e especificamente na nona arte. Essa
ferramenta não só demonstra, mas instrumentaliza para
a produção de uma nova realidade, não esquecendo da
importância de artistas negros em todos os processos
do acontecer da arte.
Considerações finais
110
Tal percurso foi pensado para analisar a mudança
de tratamento em torno da imagem das mulheres negras
no universo da nona arte, acredita-se em uma mudança
positiva dessa representação através de pessoas negras
dentro do processo artístico, que possam assumir seu
lugar de fala e contribuir com a valorização da cultura ne-
gra, o uso da ideia da interseccionalidade é colocado para
melhor compreender o que é ser mulher negra dentro do
sistema que compõe o corpo social e como isso implica na
representação da mesma, adensando sempre o parecer
de que o ser mulher não é homogêneo, somos muitas,
somos diversas e a arte também deve garantir que cada
uma de nós seja representada de maneira respeitável.
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113
A HIPERSEXUALIZAÇÃO DE PERSONAGENS
FEMININAS ATRAVÉS DA CONSTRUÇÃO DA
HEROÍNA MAJESTOSA
Resumo
114
Abstract
Introdução
115
te através dos canais no YouTube, tanto em português
quanto em inglês. O estilo desenvolvido na Sociedade da
Virtude emula os padrões das HQs e desenhos animados
de herói norte-americanos.
116
personagens femininas na indústria dos quadrinhos nas dé-
cadas passadas, e que a molecada que estiver procurando
por “peitos”, “bunda” e “gostosas” no YouTube, vai ter algo
mais interessante e mais educacional pra ver durante a sua
masturbação vespertina do que a Malhação. Se fosse na
época da Joana Balaguer... Eu nem falava nada. (SOCIE-
DADE DA VIRTUDE, 2017)
117
e quanto uma manifestação representativa do profano,
porquanto culpabilizadas, diminuídas e silenciadas.
118
Por ser uma arte de domínio visual, os quadrinhos
possuem um modo influenciador de construção de ideais
em que os símbolos representativos colaboram para tal,
e o corpo é um desses símbolos. E então o leitor passa
se identificar com o que está sendo representado, como
afirma Bourdieu em A Dominação Masculina (2012,
p.46), que toda instrução e disciplina pode colaborar
com a formação e reafirmação de hábitos e costumes
incorporados e que, por aprendizado ao longo das gera-
ções, se apresentam como “naturais”. Esses hábitos e/ou
comportamentos trazem a visão de mundo do autor e,
por conseguinte, da cultura na qual se instruiu e formou
sua história de vida, no caso, as personagens femininas
sempre foram desenhadas e moldadas por um homem,
que traz consigo toda a sua cultura e reflete na constru-
ção de tais personagens.
119
possibilitar compreender a construção do discurso sobre
o corpo e as forças atuantes sobre ele” (MELO; RIBEIRO,
2015, p. 109-110). Através da cultura de massa, o corpo
feminino passa a ser um componente fundamental na
construção de uma cultura de objetificação em que os
indivíduos procuram disciplinar seus corpos.
120
partir da visão do outro, passa a ser discurso e se constitui
por experiências sociais e culturais, e participa também
do discurso da sociedade através de si mesma e do que
compõe a cultura de massa. O início a uma definição
social do que é masculino e feminino através do discurso
de poder sobre o corpo pode ser vista em representa-
ções e imagens de gênero que “constroem e esculpem
os corpos biológicos não só enquanto sexo genital, mas
igualmente moldando-os e as sujeitando-os a práticas
normativas que hoje se encontram disseminadas no Oci-
dente” (SWAIN, 2001, p. 13). o corpo feminino passa a ser
alvo de concentração de atributos sexuais e a ele podem
ser agregados outros elementos, como cabelo e os tipos
de roupas que vestem, que vem a ser moldado de acordo
com o modelo de beleza que a sociedade institui como
ideal. Assim, nas histórias em quadrinhos, a personagem
feminina tem seu corpo construído e reconstruído como
uma espécie de padrão para deleite masculino, já que
passam a unificar e fixar as representações identitárias
da mulher que são vigiadas e controladas em torno de
sua sexualidade sob o olhar dos homens.
121
seu próprio corpo. Através da propagação de um ideal de
mulher curvilínea e perfeita sendo mostrada através das
mídias – assim como nos quadrinhos –, podem colaborar
para que se forme hábitos e costumes que oprimem, mas
que sejam consideradas normais. A mulher dos quadri-
nhos, mesmo quando não é retratada como uma donzela
em perigo, tem sobre elas o olhar e a mente masculina,
já que a maior parte dos autores são homens.
[...] as personagens de quadrinhos foram, em sua maioria,
idealizadas por homens e para homens, segundo o que eles
vêm e entendem do sexo feminino, e provavelmente atua-
ram como veículos da expressão sexual de seus autores
e do desejo de exibir o considerado imoral e proibido. (SI-
QUEIRA; VIEIRA, 2008, p. 189)
122
quais representações simbólicas determinariam o feminino,
quais os traços ou características que, além de o identifi-
carem, gerariam um artefato, um repositório, do que seria
para o homem a mulher, numa afirmação de si e exclusão
do outro. (PEREIRA, 2017, p.311)
A hipersexualização de Majestosa
123
em quadrinhos pode ser vista como uma construção
sociocultural, permeada em relações histórico-culturais.”
(MELO; RIBEIRO, 2015, p.107-108)
124
O corpo erotizado é dotado de muitos atributos
sexuais, como a curva dos seios, da cintura, das ná-
degas combinadas no formato de ampulheta, que pas-
sam a representar o próprio sexo, a feminilidade em
seu mais puro aspecto para a satisfação masculina.
A partir dessa representação, o menino passa a ver
essas personagens com “olhares que vão aprender e
apreender, num mesmo movimento, formas e valores
socialmente construídos” (OLIVEIRA, 2002, p.33), ou
seja, passarão a idealizar e padronizar o ideal de ser
mulher e constituir uma visão machista que oprime as
mulheres reais. Bourdieu ainda diz que
Dado o fato de que é o princípio de visão social que constrói
a diferença anatômica e que é esta diferença socialmente
construída que se torna o fundamento e a caução aparen-
temente natural da visão social que a alicerça, caímos em
uma relação circular que encerra o pensamento na evidên-
cia de relações de dominação inscritas ao mesmo tempo na
objetividade, sob forma de divisões objetivas, e na subjetivi-
dade, sob forma de esquemas cognitivos que, organizados
segundo essas divisões, organizam a percepção das divi-
sões objetivas. (BOURDIEU, 2012, p.20)
125
através da coação sobre o que veste, sobre o penteado
e sua postura, como naturalização de uma ética.
Assim como a moral da honra masculina pode ser resumi-
da em uma palavra, cem vezes repetida pelos informantes,
qabel, enfrentar, olhar de frente e com a postura ereta (que
corresponde à de um militar perfilado entre nós), prova da
retidão que ela faz ver,43 do mesmo modo a submissão
feminina parece encontrar sua tradução natural no fato de
se inclinar, abaixar-se, curvar-se, de se submeter (o con-
trário de “pôrse acima de”), nas posturas curvas, flexíveis,
e na docilidade correlativa que se julga convir à mulher.
(BOURDIEU, 2012, p.38)
126
detém o poder e a liberdade de fazer, sendo por vezes
coniventes com assédios e com a opressão de mulheres
por estas estarem, de alguma forma, ameaçando tomar
o lugar de privilegiados que eles têm na sociedade. Por
isso, Majestosa estava sendo diminuída e ao mesmo
tempo sexualizada, para que ela fosse dominada pelos
homens, como afirma Bourdieu (2012, p.30), “o assédio
sexual nem sempre tem por fim exclusivamente a posse
sexual que ele parece perseguir: o que acontece é que ele
visa, com a posse, a nada mais que a simples afirmação
da dominação em estado puro”.
127
mas atividades, enquanto os homens utilizam o espaço
maior com seu corpo, principalmente em lugares públicos.
Assim, tentam confinar Majestosa através de suas vestes
por ela estar indo contra os padrões estabelecidos de
feminilidade, assim como tentam subjugar uma mulher
por esta usar uma saia curta, pois demonstra que o poder
não está mais sobre as decisões do homem, já que as
mulheres estão indo contra o que é imposto.
Essas maneiras de usar o corpo, profundamente associa-
das à atitude moral e à contenção que convêm às mulhe-
res, continuam a lhes ser impostas, como que à sua revelia,
mesmo quando deixaram de lhes ser impostas pela roupa
(como o andar com passinhos rápidos de algumas jovens
de calças compridas e sapatos baixos). E as poses ou as
posturas mais relaxadas, como o fato de se balançarem na
cadeira, ou de porem os pés sobre a mesa, que são por
vezes vistas nos homens — do mais alto escalão — como
forma de demonstração de poder, ou, o que dá no mesmo,
de afirmação são, para sermos exatos, impensáveis para
uma mulher. (BOURDIEU, 2012, p.39-40)
128
a forma feminina, representada por atributos erotizados,
sofre ação do dispositivo.
Através deste termo tento demarcar, em primeiro lugar, um
conjunto decididamente heterogêneo que engloba discursos,
instituições, organizações arquitetônicas, decisões regula-
mentares, leis, medidas administrativas, enunciados científi-
cos, proposições filosóficas, morais, filantrópicas. Em suma,
o dito e o não dito são os elementos do dispositivo. O disposi-
tivo é a rede que se pode estabelecer entre estes elementos.
129
do corpo o limite da experiência universal do corpo-para-
-o-outro, incessantemente exposto à objetivação operada
pelo olhar e pelo discurso dos outros, fixam identidades
femininas e reafirmam valores masculinos”, ou seja, a
mulher continua sendo retratada como submissa, como
núcleo da imoralidade, enquanto os homens continuam a
perpetuar os valores de dominância que eles constituem
na sociedade como privilégios.
130
que o corpo feminino é visto como um lugar de tentações
e desejos. A mulher passa a ser a vítima duas vezes, do
abusador e da sociedade.
[...] realizações acabadas da visão ultraconservadora que
faz da família patriarcal o princípio e modelo da ordem so-
cial como ordem moral, fundamentada na preeminência ab-
soluta dos homens em relação às mulheres, dos adultos
sobre as crianças e na identificação da moralidade com a
força, da coragem com o domínio do corpo, lugar de tenta-
ções e de desejos (BOURDIEU, 2012, p.118)
131
A forma de lutar de Majestosa também é questio-
nada, e pedem pra ela não usar as artes marciais na luta
contra o crime, e sim utilizar arco e flecha, arremesso
de dardos e até uma vassoura, tudo para ela não ter
contato corporal com os vilões. Isso está diretamente
relacionado as formas da mulher se comportar e tra-
balhar, que é exigido dentro dos padrões estabeleci-
dos sobre a moralidade. A diminuição de seus atributos
heroicos de lutadora à utilização de objetos que são
simbolicamente considerados femininos e sutis (como
a vassoura, por exemplo) são sinais de que o homem
está sendo destituído de poder, e agora necessita tentar
diminuir a figura feminina para que não perca sua posição
de privilegiado na sociedade.
O mundo social funciona (em graus diferentes, segundo
as áreas) como um mercado de bens simbólicos domina-
do pela visão masculina: ser, quando se trata de mulhe-
res, é, como vimos, ser-percebido, e percebido pelo olhar
masculino, ou por um olhar marcado pelas categorias mas-
culinas — as que entram em ação, mesmo sem se con-
seguir enuncia-las explicitamente, quando se elogia uma
obra de mulher por ser “feminina”, ou, ao contrário, “não
ser em absoluto feminina”. Ser “feminina” é essencial-
mente evitar todas as propriedades e práticas que podem
funcionar como sinais de virilidade; e dizer de uma mulher
de poder que ela é “muito feminina” não é mais que um
modo particularmente sutil de negar-lhe qualquer direito a
este atributo caracteristicamente masculino que é o poder.
(BOURDIEU, 2012, p.118)
132
do que é feminino, sensual e imoral, criando “paradigmas
físicos, morais, mentais cujas associações tendem a homo-
geneizar o ‘ser mulher’, desenhando em múltiplos registros
o perfil da ‘verdadeira mulher’”. (SWAIN, 2001, p. 12-13)
133
sociais, e que estas são responsáveis em definir o que é
masculino e feminino através do discurso e da matéria:
Assim, a sexualidade torna-se o eixo principal da identidade
e do ser no mundo, fundamentando-se em termos de valo-
res institucionais tais como procriação, casamento, família;
a hegemonia da heterossexualidade, prática sexual entre
outras, como atesta a multiplicidade de culturas, torna-se
naturalizada. (SWAIN, 2001, p. 18)
134
sexo não se julga apenas, administra-se. Sobreleva-se ao
poder público; exige procedimentos de gestão; deve ser as-
sumido por discursos analíticos. (FOUCAULT, 1988, p.27)
Considerações finais
135
apenas como objeto sexual faz com que aumente a pro-
cura por mulheres e meninas que se encaixem no ideal
estipulado pela sociedade para a satisfação masculina.
136
Portanto, sabe-se que o mundo da comunicação
atual é um espaço em que circulam diversas represen-
tações sociais, e nelas ainda contém imagens estereo-
tipadas do feminino, trazendo a mulher como o ideal de
mãe, esposa, e como um instrumento de sedução. E com
as mulheres conquistando seus espaços aos poucos
em locais onde apenas os homens dominavam, essas
imagens passem a ser reformuladas para que se chegue
a igualdade de gênero.
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137
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so em: 20/05/18
139
VONTADE DE PODER NA JORNADA DO HERÓI:
UMA LEITURA NIETZSCHIANA DE FULLMETAL
ALCHEMIST
Resumo
140
Introdução
141
Fullmetal Alchemist de Hiromu Arakawa traz abor-
dagens dentro das temáticas da ciência e religião, e me-
diante a obra artística-literária abre um leque de conceitos
em consonância com as circunstâncias, associadas às
teses Nietzschianas contra a moral dos fracos. Durante
a narrativa é possível estabelecer comparações entre
literatura mangá e teoria filosófica. Mostrando o herói
trágico na luta para exercer suas potencialidades através
do conhecimento, que é justamente a personificação da
ciência aplicada à modernidade, provocando um gradual
afastamento com os valores dominantes religiosos. Enten-
dendo a limitações e os paradigmas durante a jornada para
encarar a realidade mundana, os heróis Edward Elric e
Alphonse Elric enfrentam e ultrapassam o natural em busca
de soluções para problemas existências, desenvolvendo
o pensamento livre pela verdade altruísta na busca de um
sentido para a atividade humana e a origem dos valores.
142
realidade dos processos na construção do mundo, es-
clarecendo a responsabilidade lógica da ação no campo
terreno, neste caso, pela ciência, mas também otimizado
pelas artes. Partindo dessa abordagem que considera a
importância da tramsvalorização, compreendida como a
possibilidade de recriação dos valores humanos. A obra
Fullmetal Alchemist, torna-se rica para fundamentação
de questões vinculada à heroicidade. Assim sendo, o
mangá de Hiromu, lançado no Japão em 2001, realiza
vínculos com a perspectiva nietzschiana sobre o mundo,
fazendo com que esta obra literária exemplifique a saga
do herói. Partindo desta perspectiva, a vida humana
busca o desenvolvimento do pensamento livre, através
das possibilidades vitais relacionadas à verdade altruísta
para confrontar os valores tradicionais religiosos e dar
viabilidade a uma nova visão de mundo.
143
dos valores religiosos ao confrontar a moral cristã e seus
pressupostos de universalidade. Entendendo a huma-
nidade presa as impressões metafísicas com validade
transcendental, enquanto considerava a necessidade
de ação no mundo enquanto imanente, considerando
o desenvolvimento das responsabilidades humanistas,
porque não dizer existenciais de forma individual.
144
E, ao propor a questão das forças, ao considerar os valores
morais como vitais, se a genealogia é também uma inter-
pretação é uma interpretação que se reconhece “imoral”,
que afirma uma incompatibilidade entre moral e a vida e
proclama que é preciso destruir a moral para liberta a vida.
(MACHADO, 2017. p 86.)
145
da vida. A medida que a visão cientifica é esclarecida como
proposta e complemento vital, a sustentabilidade de mundo
desta tarefa acaba por se torna responsabilidade social.
146
do cristianismo após a morte de Deus. até que tenhamos
entendido que a questão da morte Deus erode as funda-
mentações de nosso mundo científico, não teremos com-
preendido nada. Nietzsche quer, então tratar a ciência sob
a rubrica de “sombra de Deus”, que temos que subjugar
também. (ULLRICH, 2011. p 97.)
147
O herói nietzschiano surge nesse contexto de luta,
para afirmar seus valores humanos sobre os valores natu-
rais utópicos, tornando-se os “gênios da verdade” e estes
são os mais loucos e degradáveis possível, pois colocam
sua tarefa, sua voluntária rudeza afim de grandes feitos,
muitas vezes tornando-se má consciência do seu tempo
por conta dessa ambição de proclamar a cada pessoa
a verdadeira liberdade ao transvalorizar a sabedoria em
força motriz da existência, onde o tempo das tragédias
é coincidentemente o das morais religiosas, pois já não
imperam os “mestres da finalidade” e nem os “mestres
da existência” como tutores da razão ética-ordinária.
Desta forma, toda vez que o herói entra em cena, algo
novo é alcançado, compensando viver o novo, o agora,
bem como Sísifo vivencia com um sorriso no rosto o seu
destino trágico, pois, “a breve tragédia sempre passou a
retroceder afinal à eterna comédia do existir” (Nietzsche,
2001, p 52.). Isso o teórico Nietzsche denomina como
“inatual”, quer dizer está sempre em discordância com
o tempo presente, exigindo um modo de pensamento
aristocrático, no sentido de considerar os tipos de de-
pendências, um requisito de culturas elevadas, com o
pensamento sem escrúpulos.
148
dando retorno a época clássica, onde a arte na tragédia
em especial Apolo e Dionísio dão alicerces para as con-
cepções nietzschianas de devir como criação artística.
A época clássica dos gregos, berço da cultura europeia,
recorria a religião para transformar as divindades em
potência artísticas, pois segundo Nietzsche, os gregos
viam a vida como arte, na medida que se olha como
possível, e olhar para o mundo dos gregos também é
olhar como início da ciência. Esse movimento histórico
passa para nossa época como uma ciência distante do
reflexivo interno emanado a princípio como essência
artística, não produzindo algo de novo no que se refere
a posicionamento reflexivo. Somente no interior de seu
domínio é que seus objetos se relacionam. Esses fatos
relacionais aos objetos, ele vai denominar de morte, pois
já não correspondem à realidade presente, e a vida é um
fenômeno constante. Deste modo, deve-se olhar a ciência
de forma artística no sentido vital, pois “a ciência é uma
arte que esqueceu de ser arte”.
olhar para a ciência a partir da perspectiva de vida significa
vê-la como uma expressão de vontade, quer dizer, de seu
esforço. Vimos no ensaio da juventude Nietzsche que ele
tenta compreender a origem das ciências a partir da vonta-
de de verdade. (ULRICHE, 2011. p 100)
149
postulados contra a lógica dos valores ideais dando um
caráter mais social e histórico ao demostrar esses valo-
res superiores, desconstruindo fundamentos da noção
de verdade, bem como, beleza e entre outros, dotados
de privilégios de aplicabilidade por ter uma identidade
já determinada. Ao mostrar uma nova concepção de
verdade que não corresponde a lógica, Nietzsche revela
uma nova particularidade de potência oposta, notando o
grande problema da correspondência silogística.
A característica fundamental do projeto de transvaloriza-
ção é opor aos valores superiores, e mesmo à negação
desses valores, a vida como condição de valor, propondo
a criação de novos valores, que sejam os valores da vida,
ou melhor, propondo a criação de novas possibilidade de
vida. (MACHADO, 2017. pp 123)
150
prescritos. Com a ajuda da antropologia para refutar a
teologia, Nietzsche busca na filologia entender esses
léxicos morais, compreendendo que a correspondência
pode ser inclusive uma limitação. Ao vislumbrar as pos-
sibilidades e a plenitude da aplicação, entende que a
razão provém de um único órgão de utilidade ao passo
que os outros são deixados de lado, enquanto que os
sentidos emanam de todo o corpo, por isso devem ser
explorados na plenitude bem como o conhecimento que
chega a ele não deve se limitar apenas a fala.
Nossas emissões sonoras não aguardam que novas per-
cepções e experiências nos deem um conhecimento res-
peitável das coisas. Ao contrário, nossas emissões sonoras
ocorrem assim que sentimos estímulos. Assim, a sensação
não incorpora as coisas, mas apenas um traço delas e, se
é assim, a língua é retórica, porque ela transmite apenas
dóxa, não uma episteme.” (RIBEIRO, 2005 p 47.)
151
Contexto mangá e Filosofia Nietzschiana
152
enredo do mangá, a Filosofia ocupa-se de entender a
questão humana, desse modo, examinado as vias de
significado que atribui à existência na perspectiva de
ressignificação de valores, o que está diretamente retra-
tado pela jornada do protagonista Edward Elric, na busca
desse sentido enquanto vontade de poder.
153
do homem, entre valores religiosos e científicos, entre
alienação e a vontade de poder.
154
acaba derretendo suas asas de cera e, por conta disso,
cai. É o que podemos notar no primeiro volume da história
do quadrinho japonês, quando os irmãos Elric realizam
uma transmutação alquímica malsucedida, que resulta
na perda do corpo de Alpholse e da perna e do braço de
Elric. A transmutação, assim, desrespeita a ética, o que
faz com que os irmãos sejam punidos.
155
Podemos notar essa semelhança quando os alqui-
mistas prodígios na cidade de Letos depararam com os
ensinamentos de Letos, o deus sol, dando uma promes-
sa de falsa vida eterna, bem como a crítica a ideia de
transcendência, visível sobre a ótica Nietzschiana que
repudia esse tipo de moral escrava onde a personagem
Rose está alienada pelo “Letoismo”. A ciência defendida
pelos irmãos Elric e pela alquimia são a alternativa viável
para enfrentar essa força religiosa adeptas da cidade em
destaque, para isso enfrenta-se os perigos dos subordi-
nados até chegar ao representante maior, acabando por
desmascarar a face gananciosa do “pai Cornelo” que
usa uma falsa pedra para transmutar pequenos milagre.
156
Outro elemento significante na obra Fullmetal é
aplicação dessa ciência, veja que existe duas questões
fundamentais colocadas em jogo, a primeira é questão da
aplicação da ciência de forma não reflexiva, pelo poder
bélico ao usá-lo para tirar vantagem dos concidadãos,
nos rementindo ao que Nietzsche chama de “posse da
verdade”, essa verdade é apenas aplicada por ordens
superiores. Ullrich explica que ciência e reflexão devem
andar juntas, para conciliar os fundamentos da vida hu-
mana no nosso mundo.
Uma decisão é, para Nietzsche totalmente absurda, uma
decisão entre lealdade inquestionada e ignorância. Em ou-
tras palavras, o problema da ciência é inevitável para nós
hoje em dia, e qualquer pensamento filosófico que o evita é,
por essa razão, desde o princípio, um pensamento fracas-
sado. A questão da ciência é então, dada não como afirma-
ção ou negação da ciência,mas como o horizonte inescapá-
vel do pensamento contemporâneo. (HAASE, pp 98.)
157
mas para demonstrar essas operações falhas dos sujei-
tos, quando isso geral um mal desumano ao semelhante.
Considerações finais
158
torne trágico a transvalorizar os conceitos primitivos dan-
do um novo significado para vida. Ao ser liberto dessas
amarras sociopsicológicas o herói trágico singularizado
nos personagens dos irmãos Elrc proclamam um novo
caminho para seguir de forma reflexiva, pois entende
que os valores escravos deslocam penhasco abaixo o
sublime dos diversos conhecimentos por uma massa
opressora. Por conta disso a limitação do pensamento
dentro da diretriz civilizatória recai sobre ação mundana
e isso aflige as pessoas de distintas maneiras, mesmo
tendo, o indivíduo, todas capacidade física e intelectual
para remediar os problemas vitais. Por isso o respeito
aos gregos e indiferença quando ao cristianismo, en-
quanto um viabiliza a criação como sonho possível o
outro mostra uma apatia ao novo.
159
Somente a tecnologia é necessária a ação humana? Ou
ficamos dependentes de novas morais e sem perspectiva
heroica de ruptura civilizatória? Bem então a arte de viver
acaba por se torna apenas crítica daqueles que produzem
valores de fato capitalizados no dia a dia, sem saber que
o mundo é existente enquanto atividade de potência, e
para isso, a jornada do herói precisa exerce-las da me-
lhor maneira possível, colocando o pensamento altruísta
reflexivo a favor dos valores humanos.
Referências bibliográficas
160
ARAKAWA, HIROMU. FullmetalAlchemist. Tradução:
Luís Octavio Kobayashi. São Paulo: JBC, 2016. Volu-
mes: I-VI.
161
Organizado pelo projeto de pesquisa em História
em quadrinhos, o I Aspas Norte aconteceu em outu-
bro de 2018 e reuniu diversas apresentações de
trabalhos acadêmicos sob o tema “Linguagem dos
Quadrinhos”. Em 2019 foi realizada a segunda
edição do evento, igualmente reunindo diversos
pesquisadores do Amapá e Pará.
162