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Ondas

do Caos

Índice
1 – Inesperado

Senti a luminosidade da manhã machucando meus olhos quando tentei os abrir


pela primeira vez, acima a copa frondosa farfalhava numa dança suave sob o
vento. Sentia a roupa colada em meu corpo, umedecida pelo meu próprio sangue,
a dor era insana. Por quê?
Não sei dizer porque não conseguia andar, virei-me de lado, sentindo as folhas
coladas em meu corpo na viscosidade do líquido vermelho, estava deitada na
poça de meu próprio sangue, sentia-me fraca e enjoada. Tomada pelo desespero e
ansiedade chorei uma vez mais.
Sabia que chorar não me ajudaria em nada, mas não tinha sequer ideia de onde
estava e mal conseguia me lembrar do que acontecera na noite passada. Estava
com Tom numa festa que logo se tornou um ritual e depois as drogas e as
bebidas fizeram efeito.
Agora estava ali, jogada em meio aquele bosque, numa manhã cinzenta e fria,
arrastando-me lentamente, deixando um rastro de sangue, sem saber para onde
ir, com as lágrimas a umedecer o rosto pegajoso. Gritei por ajuda, mas só os
pássaros alçaram voo.
O terreno adiante tornava-se acidentado e rochoso e vi que havia algo que parecia
uma toca. Não sabia dizer o que era mais perigoso, ficar ali a deriva no meio do
mato ou arriscar encontrar um animal naquela toca. Não sabia da minha bolsa,
celular, coisas…
Quis chorar novamente, contudo juntei todas as minhas forças para me arrastar
por mais alguns metros. A parede misturava várias cores de pedra, como um
mosaico natural numa grande pedra cinzenta, a entrada era arqueada e havia
madeira apodrecida, obra humana, com certeza, alguém usara aquelas madeiras
como uma porta.
Sangrava muito enquanto me arrastava, porém podia ver a pequena toca cada vez
mais próxima. O ouvi gritar e em seguida os passos rápidos que criavam
minúsculos redemoinhos com as folhas soltas no solo. Quis olhá-lo, mas tudo o
que fiz foi soltar um suspiro de alívio e deixar meu corpo relaxar sobre o chão
úmido.
Senti a mão quente tocando com delicadeza meu ombro e virei a cabeça com
dificuldade. Fitei um par de olhos azuis, num rosto acetinado e que se tornaria
facilmente rosado. O cabelo comprido tinha duas cores, de um lado era loiro
claríssimo e do outro preto.
— Lumi!
Ele pendurou a máquina fotográfica profissional no pescoço e se agachou ao meu
lado. Não escondeu o choque ao ver meu corpo. Eu tinha cortes profundos de
faca em todos os membros, um símbolo ocultista também fora feito com a faca
em meu abdômen e soube mais tarde que os cortes que tinha aos montes em
minhas costas também eram símbolos ocultistas.
— Água. - Pedi com a voz fraca.
De uma bolsa de nylon de alças longas que caía sobre seu quadril numa cor
marrom, ele retirou uma garrafa plástica preta e ao perceber que não conseguia
beber sozinha, deu-me de beber para em seguida procurar algo em sua bolsa, o
que julguei ser o celular.
— Preciso ligar para a ambulância.
— Não, por favor, Stig. Apenas me leve para a sua casa. - Implorei.

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