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TUTORIAIx

unidade
situação problema 1 3. Erros espontâneos nos processos bioquímicos,
DEFINIÇÕES como alterações nos processos que envolvem o DNA
Senescência
• Abrange todas as alterações que ocorrem no Teorias programadas
organismo humano no decorrer do tempo e que não • Conceito de relógio biológico, fenômenos delimitados
configuram doenças → alterações decorrentes de marcando etapas específicas da vida, como
processos fisiológicos do envelhecimento, que tornam crescimento, maturidade, senescência e morte.
o indivíduo mais suscetível à morte. • O envelhecimento estaria relacionado com o declínio
• Entre os exemplos de senescência temos: o dos sistemas orgânicos desencadeado pela inabilidade
aparecimento de cabelos brancos ou a queda deles, a de comunicação e adaptação inter/intracelular do ser
perda de flexibilidade da pele e o aparecimento de com o ambiente.
rugas, perda de massa muscular etc. • DNA → determinação de funções celulares e criação
• São fatores que não provocam o encurtamento da de células
vida, mas implicam em perda de reserva funcional.
Teorias metabólicas: a taxa metabólica de um organismo
Senilidade era inversamente proporcional a seu peso corporal.
• Condições que acometem o indivíduo no decorrer da Desse modo, longevidade e metabolismo estariam
vida devido a mecanismos fisiopatológicos. ligados por um nexo causal em que taxas metabólicas
• São alterações decorrentes de doenças crônicas elevadas promoveriam ou estariam associadas a um
(hipertensão, diabetes, insuficiência renal e cardíaca, tempo de vida curto.
doença pulmonar crônica e outras), de interferências Teorias genéticas: afirmam que modificações na
ambientais e de medicamentos e que podem expressão gênica seriam responsáveis pelas alterações
comprometer a funcionalidade e a qualidade de vida. observadas nas células senescentes.
• Essas alterações não são normais do envelhecimento. Te o r i a s n e u ro e n d ó c r i n a s e i m u n o l ó g i c a s : o
• Podem levar à insuficiência de órgãos ou funções. envelhecimento seria decorrente de alterações ocorridas
nas funções neurais e endócrinas, notadamente no
ASPECTOS BIOLÓGICOS DO ENVELHECIMENTO sistema hipotálamo-hipófise-adrenal. Este sistema
Teorias biológicas do envelhecimento alterado limitaria a integração das funções orgânicas
• De modo geral, todas tentam cobrir os aspectos específicas, levando à degradação das funções
genéticos, bioquímicos e fisiológicos. homeostáticas. A hipótese de alguns autores é que o
• As teorias genéticas apresentam especulações e envelhecimento seria o resultado da redução da
evidências sobre a identidade de erros responsáveis habilidade adaptativa do organismo ao estresse por uma
pelo envelhecimento, acumulações de erros na queda da resposta simpática.
estruturação genética, senescência programada e Epigenética: conjunto de modificações no genoma que
telômeros. são herdadas pelas gerações subsequentes, mas que não
• As teorias bioquímicas estão focadas no metabolismo alteraram a sequência do DNA. De forma bastante
energético, na geração de radicais livres e na taxa de interessante a ciência tem apresentado que variações
sobrevida associadada à saúde mitocondrial. não genéticas (ou epigenéticas) apresentadas por
• As teorias fisiológicas apresentam explicações para a determinado organismo ao longo de sua vida podem ser
senescência associadas ao sistema endócrino e o papel passadas aos seus descendentes. Hábitos de vida e até
d o s h o r m ô n i o s n a re g u l a ç ã o d a t a x a d e mesmo o ambiente social podem modificar o
envelhecimento celular. funcionamento celular.
• Quando são analisados os mecanismos de dano e Apoptose: Apesar de a apoptose desempenhar um papel
limitações celulares, existem 3 processos pelos quais reconhecido no envelhecimento, excluindo células
as moléculas sofrem comprometimento nocivas, modulando potenciais células tumorais ou
1. Secundário a reações químicas intracelulares, como mesmo executando aquelas com morfologia alterada
consequência do surgimento de espécies tóxicas de pelo papel do tempo, sua relação com o envelhecimento
oxigênio, os radicais livres, seja por agentes exógenos humano é ainda pouco clara. A taxa de apoptose é alta
como poluentes ou radiação em células senescentes do cérebro e dos sistemas
2. Subprodutos de componentes da glicose e cardiovascular, gastrintestinal, endócrino e imune.
metabólitos
Teorias estocásticas envelhecimento normal ocorreria pelo fato de essas
• Condicionadas a alterações moleculares e celulares, células desviarem-se de seu processo de
progressivas e aleatórias, que promovem danos nas diferenciação.
estruturas biológicas para manutenção da vida. Dano oxidativo e radicais livres: o oxigênio é capaz de
• As estruturas celulares são capazes de transformar a causar danos por oxidação, ou seja, retirar elétrons de
energia absorvida do ambiente e, em seguida, substâncias
modificar este meio distribuindo calor e outras formas inorgânicas ou mesmo de moléculas orgânicas como
de energia. DNA, proteínas e lipídios, causando instabilidade celular.
• Todas as células, guardadas as devidas proporções, são
instáveis do ponto de vista termodinâmico (entropia). AVALIAÇÃO GERIÁTRICA AMPLA
• Sua organização intrínseca está submetida a um • A AGA é um processo diagnóstico multidimensional,
contínuo e ininterrupto processo de diversos “ataques” geralmente interdisciplinar, para determinar as
aleatórios – estocásticos – que podem causar, em cada deficiências, incapacidades e desvantagens do idoso e
unidade, uma degradação. planejar o seu cuidado e assistência a médio e longo
• Fenômenos diversos oriundos dessa desordem prazos, tanto do ponto de vista médico como
promoveriam erros em diversos segmentos orgânicos, psicossocial e funcional.
provocando um declínio fisiológico e estrutural • A diferença da AGA para um atendimento médico
progressivo. habitual é que ela prioriza o estado funcional e a
qualidade de vida, utilizando instrumentos de avaliação
Teoria do uso e desgaste: quanto mais desgaste sofre (testes, índices e escalas), facilitando a comunicação
uma célula, maior é o comprometimento em sua entre os membros da equipe interdisciplinar e a
habilidade de sobrevida. Ao longo do envelhecimento comparação evolutiva.
celular são observados inúmeros agravos que promovem • É utilizada preferencialmente nos idosos frágeis e
uma limitada capacidade de reparação, a qual, com o portadores de multimorbidades.
passar do tempo, é cada vez menor. O desgaste gradual • Considerada o padrão-ouro para a avaliação de idosos.
das células somáticas era resultado exclusivo de seu uso • Os seus objetivos principais são realizar um diagnóstico
contínuo e ininterrupto, ou seja, que a causa principal do global e desenvolver um plano de tratamento e
envelhecimento era sua incessante replicação, reabilitação, gerenciando os recursos necessários para
provocando, consequentemente, um desgaste. as intervenções terapêuticas e reabilitatórias.
Teoria das modificações proteicas: erros podem ocorrem • Ela é capaz de identificar diminuições da capacidade,
em qualquer uma das etapas, quando eles ocorrem, limitações das atividades e mesmo restrições à
genes defeituosos, mRNA e proteínas são produzidos de participação (desvantagens) do paciente idoso, mas se
modo inadequado e/ou defeituosos. Champion postulou utilizada isoladamente da avaliação clínica tradicional
que modificações pós-traducionais poderiam ser não identifica as condições de saúde (distúrbios ou
disseminadas e, assim, esse fenômeno ser um doenças) responsáveis por elas.
mecanismo plausível de envelhecimento. • Ela faz parte do exame clínico do idoso, sendo
Teoria da mutação somática e do dano do DNA: fatores fundamental nos pacientes portadores de
orgânicos poderiam causar alterações específicas na multimorbidades e em uso de vários medicamentos.
composição do DNA e nas células somáticas. Falha na
reparação ou anomalias existentes promoveriam “golpes” - Complementa a avaliação clínica tradicional e melhora
aleatórios que comprometeriam a expressão de grandes a precisão diagnóstica
regiões cromossômicas ou mesmo cromossomos - Define se há diminuições da capacidade e limitações
inteiros, como consequência, a expressão inadequada de das atividades, sejam elas de causa motora mental ou
suas funções promoveria o envelhecimento celular. psíquica
Teoria do erro castrófico: apresenta que, ao longo dos - Detecta problemas médicos inaparentes
anos, erros aleatórios e constantes poderiam construir - Identifica o risco de declínio funcional
alterações drásticas nas atividades enzimáticas, levando à - Avalia os riscos nutricionais
limitação do funcionamento celular e, em nível macro, de - Identifica riscos de iatrogenia
todo o organismo. - Prediz desfechos desfavoráveis, como mortalidade,
Desdiferenciação: as células diferenciadas têm a perda funcional e fragilização
habilidade de repressão seletiva da atividade de genes - Orienta para as medidas de preservação e restauração
desnecessários para a sobrevivência. Nessa hipótese, o da saúde
- Define os parâmetros de acompanhamento do
paciente
- Direciona para as modificações e adaptações
ambientais
- D e fi n e c r i t é r i o s p a r a h o s p i t a l i z a ç ã o e
institucionalização

• Os parâmetros avaliados pela AGA são: equilíbrio,


mobilidade e risco de quedas, função cognitiva,
condições emocionais, deficiências sensoriais,
capacidade funcional, estado e risco nutricional,
condições socioambientais, polifarmácia e medicações
inapropriadas, comorbidades e multimorbidade.

Avaliação funcional
• Toda avaliação do idoso deve ter como ponto de
partida a avaliação da funcionalidade global, através
das atividades de vida diária básicas, instrumentais e
avançadas. • Fenótipo da fragilidade: se caracteriza pela presença de
• Atividades básica de vida diária (AVD) = alimentar-se, três ou mais dos seguintes critérios: perda de peso
continência, locomover-se, banho, vestir-se. involuntária (5 quilos no último ano); autorrelato de
exaustão; fraqueza; baixo nível de atividade física e
ÍNDICE DE KATZ lentificação da marcha. A presença de três ou mais
• A pontuação varia de 0 a 6 pontos, onde 0 indica total parâmetros define o “ idoso frágil” , e a presença de um
independência para desempenho das atividades e 6, ou dois parâmetros define o idoso “pré-frágil” . Os
dependência (total ou parcial) na realização de todas as idosos que não apresentaram nenhum desses
atividades propostas. parâmetros são considerados robustos.
• A pontuação intermediária indica a dependência total
ou parcial em quaisquer das atividades e deverá ser
avaliada individualmente.

• O componente clínico-funcional da fragilidade tem o


declínio funcional como a principal manifestação de
vulnerabilidade.
ESCALA DE LAWTON • O declínio funcional estabelecido se caracteriza pela
• Essa escala atinge uma pontuação máxima de 27 presença de incapacidade funcional ou dependência
pontos, correspondendo à maior independência, propriamente dita, ao passo que no declínio funcional
enquanto a pontuação mínima de 9 pontos relaciona- iminente estão presentes condições crônicas
se à maior dependência. preditoras de dependência funcional,
• Nessa escala são avaliadas tarefas mais complexas institucionalização e óbito, como comorbidades
como arrumar a casa, telefonar, controlar e tomar os múltiplas (polipatologia, polifarmácia, internação
remédios e cuidar das finanças.
recente), sarcopenia e comprometimento cognitivo Polifarmácia
leve (CCL). • Uso simultâneo de vários medicamentos por um
• O componente sociofamiliar resgata a importância de mesmo indivíduo → o número exato de medicamentos
outros determinantes de saúde, como sexo, raça-cor, em uso que caracteriza a polifarmácia não é bem
escolaridade, estado civil, arranjos familiares, viuvez definido na literatura, encontrando-se descrições que
recente, idoso cuidador, participação e apoio social, variam de dois até seis e mais drogas.
acesso a serviços e situação laboral. • O grande problema da polifarmácia é que ela favorece:
- falta de adesão aos tratamentos
ESCALA VISUAL DE FRAGILIDADE - uso inadequado dos medicamentos
• Essa escala baseia-se na funcionalidade e - ocorrência de efeitos adversos e interações
complexidade clínica dos idosos e apresenta extremos medicamentosas
opostos, que representam o grau máximo e mínimo de - desenvolvimento de síndromes geriátricas como a
vitalidade (capacidade homeostática) e fragilidade incapacidade cognitiva, incontinência urinária e quedas
(vulnerabilidade). - aumento da mortalidade
• Esses extremos estão ligados por uma linha reta - custo financeiro desnecessário
contínua, mas declinante, dividida em dez estratos • Embora a terapêutica medicamentosa seja essencial
clínico-funcionais, que variam continuamente, dentro para o controle da maioria das doenças, deve-se
de uma faixa de valores estabelecidos e onde pode ser considerar que não existem fármacos completamente
marcado o ponto em que o idoso se encontra. s e g u ro s , p o i s , c o m o v i s to , a s a l te ra ç õ e s
• A definição do estrato clínico-funcional baseia-se na farmacocinéticas e farmacodinâmicas que ocorrem no
funcionalidade (dependência ou independência para envelhecimento frequentemente resultam em
AVD avançadas, instrumentais ou básicas) e na aumento do tempo de atividade das drogas, maior
existência de fatores de risco, doenças e comorbidades risco de toxicidade, maior frequência de efeitos
múltiplas, pois, além da heterogeneidade funcional, os adversos e efeito reduzido ou aumentado em relação
idosos também apresentam diferenças quanto à ao previsto para determinada dose.
complexidade clínica e necessidade de
a co m p a n h a m e n to g e r i á t r i co - g e ro n to l ó g i co
especializado.
• Classificação Clínico Funcional do Idoso: divide os
idosos em três grandes grupos: robustos, em risco de
fragilização e frágeis, sendo que cada grupo engloba
alguns estratos da EVF:
* Idosos robustos: estratos 1, 2 e 3;
* Idosos em risco de fragilização: estratos 4 e 5;
* Idoso frágil: estratos 6, 7, 8, 9 e 10.
• Os idosos frágeis, por sua vez, dividem-se em três
grupos: de baixa complexidade, de alta complexidade e
em fase final de vida.
Reação adversa a medicamentos: definida como
qualquer resposta prejudicial ou indesejável e não
intencional que ocorre com medicamentos em doses
normalmente utilizadas no homem para profilaxia,
diagnóstico, tratamento de doença ou para modificação
de funções fisiológicas. previsíveis, relacionadas à
acentuação de efeitos farmacológicos conhecidos das
drogas e, portanto, potencialmente evitáveis. A
ocorrência de RAM é favorecida pela prescrição de
altas doses de fármacos sem levar em conta os
efeitos do envelhecimento e da fragilidade na sua
metabolização e excreção, assim como da aumentada
sensibilidade dos idosos a drogas comumente utilizadas,
como as cardiovasculares e as que atuam no sistema
nervoso central. Além disso, a polipatologia, a Cascata iatrogênica: ocorre não só do excesso de
polifarmácia e o uso de medicamentos considerados medicamentos usados por um paciente, mas também
inapropriados para idosos predispõe a ocorrência de por uso de intervenções, realização de procedimento ou
reações adversas, devendo, indivíduos com esse perfil, até mesmo por omissão de determinantes na condição
ter sua prescrição cuidadosamente planejada e de saúde do paciente. A chamada cascata iatrogênica
monitorada. A falha em reconhecer uma RAM tem o pode ter início no uso sucessivo e crescente de
potencial de comprometer a saúde do idoso, medicamentos para tratar problemas de saúde
particularmente quando a reação é interpretada como originados de outros medicamentos. Vários fatores
sintoma de novo problema de saúde e tratada com outra determinam a ocorrência de iatrogenia em pacientes
droga, resultando na cascata de prescrição. idosos, deve-se considerar o cansaço, falta de
conhecimento, estresse dos profissionais envolvidos,
Interação medicamentosa: por suas características, os além de dificuldade para entender prescrições e falta de
idosos estão também sujeitos a ocorrências de interações atenção na administração de medicamentos. Os idosos
medicamentosas, que podem ser definidas como os encontram-se em maior vulnerabilidade em relação à
efeitos que um medicamento pode ter sobre outro, ocorrência de iatrogenia medicamentosa, uma vez que
resultando em alterações na concentração sérica do usam maior número de medicamentos tanto em
fármaco, nos seus efeitos terapêuticos, nos efeitos quantidade e variedade de substâncias. É importante
adversos e em prejuízo da resposta clínica esperada. considerar que a variedade de medicamentos
Interações de um fármaco podem também se disponíveis, comorbidades, o próprio processo de
estabelecer com alimentos, estado nutricional e com envelhecimento, fácil acesso aos medicamentos e o uso
doenças. São as chamadas interações droga-droga, de polifarmácia são fatores que influenciam o aumento
droga-alimento e droga-doença. da ocorrência de iatrogenia em idosos.

Medicamentos inapropriados para idosos: por definição, Desprescrição: é o processo sistemático de identificar e
medicamentos potencialmente inapropriados (PIM) para suspender drogas quando o risco potencial de prejuízo
uso em idosos (idades acima de 65 anos) são aqueles supera os benefícios que ela possa trazer, considerando
cujos riscos adversos excedem seus benefícios. Para os objetivos individuais do cuidado, o nível de
minimizar essa situação e oferecer informação segura funcionalidade, a expectativa de vida e os valores e
aos médicos, nas últimas décadas foram desenvolvidos preferências do paciente. Consiste na revisão criteriosa da
vários critérios para identificação de PIM, que variam de prescrição com o objetivo de identificar drogas
acordo com a cultura local, com os fármacos disponíveis inapropriadas para os idosos, passíveis de serem
na região e com a opinião dos experts que compuseram retiradas. As principais situações em que a desprescrição
os painéis que definiram cada critério. Dessa forma, pode ser útil são a polifarmácia, presença de RAM, falta
medicamentos considerados inapropriados em um de eficácia e mudanças nos objetivos do tratamento, que
critério podem não ser em outro. Benzodiazepínicos, podem ocorrer nas doenças terminais, demência e
ANIH, anti-histamínicos e antipsicóticos foram os grupos fragilidade avançadas. O processo de desprescrição
de drogas mais comumente relatados como envolve as seguintes etapas: revisar → analisar → agir →
potencialmente inapropriados para idosos. ajustar → monitorar
Os dois critérios mais conhecidos e utilizados são os
Critérios de Beers e os Critérios STOPPSTART, de origem GRANDES SÍNDROMES GERIÁTRICAS
europeia, que consideram que a prescrição inapropriada • Condições apresentadas por idosos que não se
abrange tanto o uso de PIM que deve ser evitado encaixam em categorias de doenças específicas, mas
(Critérios STOPP) como potenciais omissões de que são altamente prevalentes, têm etiologia
prescrição que devem ser instituídas (Critérios START). multifatorial e associam-se a múltiplas comorbidades
As decisões para a prescrição devem ser individualizadas e desfechos negativos, como incapacidade e piora da
com base nas condições médica, funcional e social; qualidade de vida.
qualidade de vida e prognóstico, devendo envolver • A saúde do idoso é determinada pelo funcionamento
tomada de decisão compartilhada. harmonioso de quatro domínios funcionais: cognição,
humor, mobilidade e comunicação → perda dessas
funções resulta nas grandes síndromes geriátricas.
audição, motricidade oral e voz (a visão pode ser incluída
como uma quinta função comunicativa). Os problemas
de comunicação podem resultar em perda de
independência e sentimento de desconexão com o
mundo, sendo um dos mais frustrantes dos aspectos
causados pela idade. A incapacidade comunicativa pode
ser considerada importante causa de perda ou restrição
da participação social (funcionalidade), comprometendo
a capacidade de execução das decisões tomadas,
afetando diretamente a independência do indivíduo.

Iatrogenia: pode ser definida como um e vento ou Incontinência urinária: definida como a queixa de
doença não intencional causado por uma intervenção, qualquer perda involuntária de urina. A sua prevalência
justificada ou não, por parte da equipe multiprofissional aumenta com a idade e a sua presença compromete a
de saúde, que resulte em dano à saúde do paciente qualidade de vida do paciente.
(iatrogenia de ação). A iatrogenia também pode ser
decorrente da omissão direta de uma intervenção bem Insuficiência familiar: a dimensão sociofamiliar é
estabelecida esperada ou de um procedimento de fundamental na avaliação multidimensional do idoso. A
monitoramento (iatrogenia de omissão). família constitui-se na principal instituição cuidadora dos
idosos frágeis, devendo ser privilegiada nessa sua função.
Incapacidade cognitiva: comprometimento das Contudo, o que se observa normalmente é a insuficiência
funções encefálicas superiores capaz de prejudicar a familiar na realização de cuidado aos idosos, muito
funcionalidade da pessoa. Para o seu diagnóstico, é devido a mudanças sociodemográficas e culturais, que
preciso constatar a perda da funcionalidade do indivíduo, têm repercussões importantes na capacidade de
muitas vezes através da perda das atividades de vida acolhimento às pessoas com incapacidades, que
diária (AVD’s). historicamente dependiam do apoio e cuidado familiar.

Instabilidade postural: perda da capacidade individual TERMINALIDADE DA VIDA


para o deslocamento no ambiente de forma eficiente e • Segundo Kübler-Ross, o diagnóstico de uma doença
segura. É a falta de capacidade para corrigir o potencialmente terminal é fator de desestruturação
deslocamento do corpo durante seu movimento no psicológica, fazendo com que pacientes e familiares
espaço e está associada a alterações dos sistemas passem por algumas fases emocionais características.
sensorial e motor, tanto pela involução motora Sem necessariamente constituir um processo linear,
decorrente do processo de envelhecimento como por de sequência rigorosa, os estágios sistematizados por
disfunções e doenças comuns aos idosos. Ameaçam sua Kübler-Ross permitem acompanhar o processo de
qualidade de vida, frequentemente levando a declínio da morrer dos pacientes terminais, minorando seu
capacidade de autocuidado e participação em atividades sofrimento.
sociais e físicas. Além da redução da funcionalidade, • A percepção da morte na visão do paciente terminal é
associam-se a aumento de morbidade e mortalidade e diferente em cada fase do ciclo de vida. Na infância, a
institucionalização prematura. morte pode ser representada conforme se modificam
o pensamento e a linguagem. Para o adulto, a morte
Imobilidade: qualquer limitação do movimento, o que pode depender da experiência física e psicológica pela
representa uma causa importante de comprometimento qual se está passando. Já, para o idoso, a morte pode
de qualidade de vida. O grau de imobilidade ser configurada em uma perspectiva de maior
normalmente é progressivo e na imobilidade completa o resignação.
idoso é totalmente dependente, além de sofrer
consequências em todos os sistemas fisiológicos, que Primeiro estágio: negação e isolamento
progressivamente perdem função. A negação é mecanismo de defesa temporário diante da
morte. Ocorre com mais frequência no início da doença,
Incapacidade comunicativa: pode decorrer de e em pacientes e familiares que são prematuramente
comprometimento em quatro áreas distintas: linguagem, informados acerca do seu diagnóstico.
A intensidade e duração desse estágio dependem da experimenta o desespero nem rejeita sua realidade. Esse
capacidade do enfermo, e das outras pessoas que é o momento em que os familiares mais precisarão de
convivem com ele, de lidar com essa dor. Em geral, a amparo, ajuda e compreensão, devendo a equipe
negação não persiste por muito tempo. No entanto, responsável ter ciência do estágio pelo qual o paciente
alguns pacientes podem jamais ultrapassar esse estágio, está passando. Não se pode desistir do tratamento do
indo de médico em médico, até encontrar alguém que o paciente, porque, ao sentir-se abandonado ou sem
apoie em sua posição. assistência, ele se entrega e desiste também. O paciente
se sentirá confortado em saber que não foi esquecido,
Segundo estágio: raiva mesmo quando não houver mais nada a se fazer por ele.
Esse estágio pode estar relacionado à impotência e à Nesse momento, os cuidados paliativos vão ao encontro
falta de controle sobre a própria vida. É muito difícil lidar das necessidades do paciente terminal, uma vez que
com o paciente nessa fase: faz exigências, se revolta, podem, isso sim, minimizar a dor e o sofrimento, e ao
solicita atenção contínua, faz críticas e tem explosões mesmo tempo atender às suas necessidades básicas de
comportamentais caso não seja atendido ou se sinta higiene, nutrição e conforto, ajudando-o a manter sua
incompreendido e desrespeitado. É importante que, dignidade como pessoa.
nesse estágio, haja compreensão dos demais sobre a
angústia transformada em raiva no paciente que teve de SUPORTE SOCIAL E FAMILIAR + POLÍTICAS PÚBLICAS
interromper as atividades da sua vida por causa da • A inserção do idoso na família é um determinante das
doença. Os pacientes geralmente se revoltam contra suas condições de vida. A família é uma instituição
Deus, o destino ou alguém próximo. importante, em parte, por ser o espaço onde se
definem os padrões de cuidado aos membros
Terceiro estágio: barganha dependentes. Além disso, o montante de recursos do
Nessa fase, geralmente o paciente tenta negociar com qual a família dispõe para suprir as suas necessidades
Deus de maneira implícita ou até mesmo com os não depende apenas da flutuação das oportunidades
médicos, entrando em algum tipo de acordo que adie do mercado de trabalho, mas também de cada
seu desfecho inevitável. Os pacientes acreditam que, por momento específico do ciclo de vida familiar que
serem obedientes, alegres e não questionadores, o determina quais membros serão liberados para o
médico fará com que melhorem. Normalmente, a pessoa trabalho e quais serão encarregados dos cuidados com
que se encontra nesse estágio realiza promessas em os demais.
sigilo, contando com a possibilidade de ser • O planejamento da assistência profissional deve estar
recompensada por seu bom comportamento. Em geral, em sintonia com o contexto familiar do idoso,
o paciente se mantém sereno, reflexivo e dócil. considerando as nuances culturais e sociais presentes
nesta relação. Neste sentido, é imprescindível à
Quarto estágio: depressão qualidade do cuidado relevar o papel da família do
Essa fase surge quando o paciente se encontra em fase idoso, uma vez que ela está presente no dia-a-dia do
terminal e tem consciência da sua debilidade física; mesmo, tendo que lidar com o processo de
portanto, não pode mais negar sua doença. Nessa etapa, envelhecimento e com os problemas que o idoso pode
o indivíduo é muitas vezes forçado a submeter-se a mais desenvolver. Esta dinâmica vem ocasionando
uma hospitalização ou a outra cirurgia. Aqui a depressão mudanças na própria constelação familiar, na qual a
assume quadro clínico característico: desânimo, intergeracionalidade surge como uma das
desinteresse, apatia, tristeza, choro etc. características do processo de envelhecimento não só
As tentativas anteriores não deram certo: negar não individual, mas familiar, em que famílias envelhecem
adiantou; revoltar-se e fazer barganhas, também não. junto com os seus membros, se reorganizando para
Dessa forma, deve-se deixá-lo à vontade para externar fazer face às demandas do envelhecimento.
seu pesar e assim aceitar a situação mais facilmente.
Promoção e prevenção de saúde: a promoção da
Quinto estágio: aceitação saúde é o conjunto de medidas destinadas a desenvolver
No último estágio, os pacientes que viveram a doença e uma saúde ótima, promover a qualidade de vida e reduzir
receberam apoio podem chegar a essa fase aceitando o a vulnerabilidade e riscos à saúde relacionados aos seus
processo. determinantes e condicionantes, como hábitos de vida,
Na maioria das vezes, o paciente manifesta grande condições de trabalho, habitação, ambiente, educação,
tranquilidade e pode permanecer em silêncio. Já não lazer, cultura, acesso a bens e serviços essenciais. Por sua
vez, o termo prevenção de doenças consiste na principais vulnerabilidades e oferecendo orientações de
implementação de medidas capazes de reduzir a autocuidado. A Caderneta permite a identificação das
predisposição às doenças ou atrasar seu início e necessidades de saúde de cada idoso e do potencial de
respectivas complicações ou incapacidades. risco e graus de fragilidade, o que é fundamental para a
O processo de fragilização, que consiste na perda elaboração do projeto terapêutico singular e para o seu
progressiva da vitalidade ou reserva homeostática, pode acompanhamento com resolutividade na atenção básica.
ser dividido em duas fases. Na fase inicial ou Trata-se de um instrumento que auxilia na estratificação
assintomática que se estabelecem os danos futuros à dos idosos de acordo com sua capacidade funcional.
saúde. Sendo assim, as ações preventivas são mais
eficazes quando realizadas nessa fase. As ações de Estatuto do Idoso
promoção da saúde, prevenção primária e secundária Art. 4. Nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de
(estágio pré-clínico) devem ser feitas rotineiramente. negligência, discriminação, violência, crueldade ou
Posteriormente, tem-se a fase sintomática, na qual estão opressão, e todo atentado aos seus direitos, por ação ou
recomendadas as ações cuidadoras, que consistem em omissão, será punido na forma da lei.
intervenções capazes de melhorar a qualidade de vida do Art. 14. Se o idoso ou seus familiares não possuírem
indivíduo, nas ações curativas, reabilitadoras e paliativas, condições econômicas de prover o seu sustento, impõe-
além dos cuidados gerais específicos de cada condição se ao Poder Público esse provimento, no âmbito da
crônica de saúde. Segundo esse modelo, as intervenções assistência social.
preventivas ou “cuidados antecipatórios” podem ser Art. 15. É assegurada a atenção integral à saúde do idoso,
classificadas em quatro níveis. por intermédio do Sistema Único de Saúde - SUS,
As intervenções preventivas utilizam quatro tipos de garantindo-lhe o acesso universal e igualitário, em
abordagem: rastreamento, quimioprevenção (uso de conjunto articulado e contínuo das ações e serviços, para
drogas que, comprovadamente, reduzem o risco de a prevenção, promoção, proteção e recuperação da
doenças e/ou suas complicações), imunização e saúde, incluindo a atenção especial às doenças que
aconselhamento. A equipe de saúde, ao final de toda afetam preferencialmente os idosos.
consulta, deverá prescrever as intervenções preventivas Art. 16. Ao idoso internado ou em observação é
indicadas ou contra indicá-las, quando os malefícios assegurado o direito a acompanhante, devendo o órgão
superarem os benefícios ou quando a relação custo- de saúde proporcionar as condições adequadas para a
benefício das intervenções não for apropriada, sua permanência em tempo integral, segundo o critério
independentemente da motivação da consulta. As médico.
intervenções relacionadas à prevenção primária e Art. 37. O idoso tem direito a moradia digna, no seio da
secundária apresentam um impacto progressivamente família natural ou substituta, ou desacompanhado de
menor, à medida que ocorre redução da vitalidade. Dessa seus familiares, quando assim o desejar, ou, ainda, em
forma, tais medidas devem ser reavaliadas nos idosos instituição pública ou privada.
frágeis, independentemente da idade. Quanto mais frágil
for o indivíduo, menor é a probabilidade de melhoria da Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa
qualidade de vida com as intervenções preventivas do Realizar ações de prevenção de acidentes no domicílio e
tipo rastreamento e quimioprevenção. nas vias públicas, como quedas e atropelamentos.
Nesses casos, a prevenção terciária e, principalmente, a Realizar ações integradas de combate à violência
quaternária devem prevalecer. Este é um aspecto de doméstica e institucional contra idosos e idosas. Realizar
fundamental importância a ser considerado na ações motivadoras ao abandono do uso de álcool,
elaboração do plano de cuidados para idosos frágeis, a tabagismo e sedentarismo, em todos os níveis de
fim de se prevenir a iatrogenia provocada por atenção. Promover ações grupais integradoras com
intervenções que podem ser fúteis, como é o caso do inserção de avaliação, diagnóstico e tratamento da saúde
rastreio e tratamento às dislipidemia em idosos longevos. mental da pessoa idosa. Promover a saúde por meio de
serviços preventivos primários, tais como a vacinação da
Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa população idosa, em conformidade com a Política
É um instrumento estratégico de qualificação da atenção Nacional de Imunização.
à pessoa idosa, objetiva contribuir para a organização do
processo de trabalho das equipes de saúde e para a Melhor em Casa: a Atenção Domiciliar (AD) está
otimização de ações que possibilitem uma avaliação indicada “para pessoas que, estando em estabilidade
integral da saúde da pessoa idosa, identificando suas clínica, necessitam de atenção à saúde em situação de
restrição ao leito ou ao lar de maneira temporária ou mecanismos para a sua manutenção podem falhar,
definitiva ou em grau de vulnerabilidade; na qual a resultando em processos isquêmicos.
atenção domiciliar é considerada a oferta mais oportuna • Com o avanço da idade, o coração e os vasos
para tratamento, paliação, reabilitação e prevenção de sanguíneos apresentam alterações morfológicas e
agravos, tendo em vista a ampliação de autonomia do teciduais, mesmo na ausência de qualquer doença.
usuário, família e cuidador”. A AD no SUS pode ser • Alterações hemodinâmicas que se caracterizam por
realizada tanto pelas equipes da Estratégia Saúde da redução da reserva funcional → diminuição da
Família (ESF) da APS, como pelas equipes resposta cardiovascular ao esforço observada nos
multiprofissionais dos Serviços de Atenção Domiciliar idosos.
(SAD), credenciados ou não no Programa Melhor em
Casa, a depender dos critérios de elegibilidade, Função cardiovascular
vulnerabilidade e intensividade do cuidado. • O envelhecimento determina modificações estruturais
que levam à diminuição da reserva funcional, limitando
situação problema 1 o desempenho durante a atividade física, bem como
reduzindo a capacidade de tolerância em várias
ENVELHECIMENTO SISTEMA CARDIOVASCULAR
situações de grande demanda, principalmente nas
• Apesar de vários estudos epidemiológicos terem
doenças cardiovasculares.
demonstrado que fatores genéticos, dislipidemias,
• O débito cardíaco pode diminuir em repouso,
diabetes e vida sedentária são os principais fatores de
principalmente durante o esforço, tendo influência
risco para doença coronária, hipertensão arterial,
importante do envelhecimento por meio dos seguintes
insuficiência cardíaca e acidente vascular encefálico
determinantes:
(AVE), consideradas as doenças cardiovasculares mais
- diminuição da resposta de elevação da frequência
prevalentes em nosso meio, a idade se configura como
cardíaca ao esforço ou outro estímulo
o principal fator de risco cardiovascular.
- diminuição da complacência do ventrículo esquerdo
• As teorias do envelhecimento podem ser agrupadas
com elevação da pressão diastólica desta cavidade,
em teoria do genoma, fisiológica e orgânica, e os
levando à disfunção diastólica do idoso, e que se deve
estudos têm mostrado que, em relação ao sistema
principalmente à dependência da contração atrial para
cardiovascular, as duas últimas seriam as mais aceitas.
manter o enchimento ventricular e o débito cardíaco
- diminuição da complacência arterial, com aumento
Teorias fisiológicas
da resistência periférica e consequente aumento da
• Explicam as alterações cardiovasculares ligadas à teoria
pressão sistólica, com aumento da pós-carga
do cruzamento
dificultando a ejeção ventricular devido às alterações
• Importância das alterações da matriz proteica
estruturais na vasculatura
extracelular relacionadas com o tempo, principalmente
- diminuição da resposta cronotrópica e inotrópica às
do colágeno e da substância fundamental → aumento
catecolaminas
da rigidez pericárdica, valvular e talvez miocárdica
- diminuição do consumo máximo de oxigênio pela
redução da massa ventricular encontrada no
envelhecimento
Teorias orgânicas
- diminuição da resposta vascular ao reflexo
• A teoria imunológica explica as características de
barorreceptor, com maior suscetibilidade do idoso à
duração da sobrevivência da espécie em termos de
hipotensão
disfunção imunológica programada.
• Com o envelhecimento, o débito cardíaco poderá estar
• A teoria neuroendócrina, em combinação com a teoria
normal ou diminuído
ligada ao cruzamento, forneceria explicações para
• O coração pode entrar em falência quando submetido
m u i t a s a l t e ra ç õ e s c a rd í a c a s p ró p r i a s d o
a maior demanda, como na presença de doenças
envelhecimento.
cardíacas ou mesmo sistêmicas.
• O sistema cardiovascular sofre significativa r edução de
sua capacidade funcional com o envelhecimento.
Alterações morfológicas
• Em repouso, o idoso não apresenta redução
PERICÁRDIO: em geral decorrentes do desgaste
importante do débito cardíaco, mas em situações de
progressivo, sob a forma de espessamento difuso,
maior demanda, tanto fisiológica como patológicas, os
particularmente nas cavidades esquerdas do coração,
sendo comum o aumento da taxa de gordura epicárdica.
ENDOCÁRDIO: espessamento e a opacidade, em especial e, com isso, poderemos ter prolapso e insuficiência
no coração esquerdo, com proliferação, fragmentação e mitral.
desorganização das fibras colágenas e elásticas, devido à Pode-se encontrar: disfunção valvar sob a forma de
hiperplasia irritativa resultante da longa turbulência insuficiência e/ou estenose; alterações na condução do
sanguínea. Após os 60 anos, há focos de infiltração estímulo; endocardite infecciosa; condições que levam à
lipídica particularmente no átrio esquerdo. Na oitava formação de insuficiência cardíaca.
década, as alterações escleróticas são observadas de
modo difuso em todas as câmaras, sendo que em Valva aórtica
qualquer idade o átrio esquerdo é o mais profundamente Calcificação; alterações pouco significativas sob a forma
afetado. de acúmulo de lipídios, de fibrose e de degeneração
colágena, que podem estender-se ao feixe de His, com a
MIOCÁRDIO: as mudanças na matriz extracelular do presença de áreas fibróticas nas bordas das cúspides,
miocárdio são comparáveis àquelas na vasculatura, com constituindo as chamadas excrescências de Lambia.
colágeno aumentando, diâmetro fibroso aumentado, A estenose aórtica pode ser dividida em 2 fases distintas:
diminuição de elastina e fibronectina aumentada, uma fase inicial precoce dominada por deposição valvar
podendo ocorrer aumento na produção de matriz de lipídios, lesão e inflamação apresentando muita
extracelular. Há proliferação de fibroblastos e perda semelhança com a aterosclerose e uma fase de evolução
celular ou alterações nas funções celulares. tardia, em que os fatores pró-calcificantes e pró-
Ocorre acúmulo de gordura principalmente nos átrios e osteogênicos em última análise causam a progressão da
no septo interventricular, mas pode também ocupar as doença.
paredes dos ventrículos. Observa-se também moderada
degeneração muscular com substituição das células SISTEMA DE CONDUÇÃO: o envelhecimento altera a
miocárdicas por tecido fibroso. Depósitos intracelulares condução cardíaca das células marcapasso no nó
de lipofuscina (pigmento senil) podem levar a atrofia sinoatrial; o número de células do nó sinoatrial reduz-se
miocárdica. acentuadamente e podem comprometer o nó
Com o passar da idade, podemos encontrar depósitos de atrioventricular e o feixe de His. A degeneração do
substância amiloide que podem acarretar complicações sistema de condução predispõe ao aparecimento de
de natureza funcional, como arritmias atriais, disfunção arritmias.
atrial e até bloqueio atrioventricular. A infiltração gordurosa separando nó sinusal da
musculatura subjacente contribui para o aparecimento
VALVAS: observam-se degeneração e espessamento, de arritmia sinusal, sendo mais frequente a fibrilação
sendo que as manifestações acontecem particularmente atrial. Distúrbios do ritmo variam de arritmias benignas
em cúspides do coração esquerdo, sendo raras em valvas até bloqueios de ramos que evoluem para bloqueios
pulmonares e tricúspide. atrioventriculares.
Nas fases iniciais, podem ter alterações metabólicas com Ocorre a diminuição da eficácia da modulação beta-
redução do conteúdo de mucopolissacarídios e aumento adrenérgica. A diminuição da influência simpática sobre o
da taxa de lipídios; com o aumento da idade, poderemos coração e os vasos do idoso são observadas
ter processos moderados de espessamento, de esclerose principalmente durante o exercício.
discreta, de fragmentação colágena com pequenos Há dilatação cardíaca e aumento de volume sistólico para
nódulos na borda de fechamento das cúspides, que se compensar a resposta atenuada da frequência cardíaca.
acentuam com a idade. O efeito vasodilatador dos agonistas beta-adrenérgicos
sobre a aorta e grande vasos também diminui com a
Valva mitral idade, bem como a resposta inatrópica do miocárdio às
A calcificação da valva mitral é uma das alterações mais catecolaminas e a capacidade de resposta dos
importantes e mais comuns do envelhecimento cardíaco. barorreceptores às mudanças de posição.
As alterações iniciam-se geralmente na parte média do
folheto posterior e estendem-se para a base de AORTA: aumento do calibre, volume e extensão; maior
implantação, podendo levar a deformação ou espessura e rigidez da parede; alterações da túnica
deslocamentos da cúspide, sendo caracterizadas por elástica (desorganização e perda de fibras); hiperplasia
espessamento, depósito de lipídios, calcificação e subendotelial (redução e modificações químicas da
degeneração mucoide, a qual torna o tecido valvar frouxo elastina).
distúrbios estruturais e funcionais progressivos reduzem contribuem em cerca de 12% das mortes por doenças
a distensibilidade e aumentam a rigidez da parede cardíacas, fazendo com que o consumo de produtos de
arterial. tabaco seja a segunda causa de doenças
cardiovasculares, após a hipertensão arterial (que
ARTÉRIAS: o aumento da rigidez arterial provoca também pode ser agravada pelo consumo dos produtos
aumento da pós-carga diretamente pela diminuição da de tabaco).
complacência arterial e, indiretamente, acelera a
velocidade de propagação da onda de pulso pelo sistema Alcoolismo: a ingestão exagerada de bebidas alcoólicas
vascular, promovendo um retorno precoce ainda no pode provocar a aterosclerose, uma complicação
período sistólico na parede da raiz da aorta, ocorrendo, cardíaca que culmina em derrame e infarto.
como consequência, um pico tardio da pressão sistólica
com aumento desta, bem como aumento da pressão de Estresse: o sistema cardiovascular possui ampla
pulso e aumento da pós-carga. participação na adaptação ao estresse, sofrendo por isso
as consequências da sua exacerbação. A suspeita de que
CORONÁRIAS: pode-se encontrar perdas de tecido estados de estresse mental agudos e crônicos sejam
elástico e aumento do colágeno acumulando-se em fatores de risco para maior morbimortalidade por doença
trechos proximais das artérias. Eventualmente, ocorre cardiovascular é antiga. Entretanto, a adequada
depósito de lipídios com espessamento da túnica média. comprovação científica deste fato somente vem sendo
É comum a presença de vasos epicárdicos tortuosos, obtida mais recentemente. Muitos profissionais ainda
ocorrendo mesmo quando não há diminuição dos encaram com certo ceticismo esta associação,
ventrículos. No coração, a coronária esquerda altera-se encontrando dificuldade em valorizá-la na prática clínica,
antes da direita. Outra alteração significativa é a embora o estresse mental seja uma das principais
calcificação das artérias coronárias epicárdicas, o que queixas de pacientes.
resulta em redução na complacência vascular, respostas
vasomotoras anormais e perfusão miocárdica diminuída. Genética: exceto em síndromes, a contribuição genética,
tanto para o tempo de vida quanto algumas doenças
SNA: a eficácia da modulação beta-adrenérgica sobre o crônicas (Alzheimer, doenças cardiovasculares e diabetes
coração e os vasos diminui com o envelhecimento, mellitus tipo 2), é relativamente baixa. Este fato
mesmo que os níveis de catecolaminas estejam demonstra que fatores ambientais, como estilo de vida e
aumentados, principalmente durante o esforço. Acredita- dieta, desempenham papel fundamental no fenótipo do
se que haja uma falha nos receptores beta-adrenérgicos, envelhecimento. Ou seja, a genética não é uma rota
ocasionada pelo aumento dos níveis de catecolaminas, determinística, e cada vez mais pode ser “manipulada”
principalmente a norepinefrina, que frequentemente em benefício da saúde.
está aumentada nos idosos. As consequências funcionais
da diminuição da influência simpática sobre o coração e Obesidade: é um dos fatores preponderantes para
vasos do idoso são observadas principalmente durante o explicar o aumento da carga de DCNT, uma vez que está
exercício; portanto, à medida que o idoso envelhece, o a s s o c i a d a f re q u e n te m e n te a e n fe r m i d a d e s
aumento do débito cardíaco durante o esforço se obtém cardiovasculares como hipertensão arterial, AVC e IC.
com o maior uso da lei de Frank-Starling com dilatação
cardíaca, aumentando o volume sistólico para compensar Dislipidemia: representa importante fator de risco
a resposta atenuada da frequência cardíaca. O efeito cardiovascular (CV), sendo que a lipoproteína de baixa
vasodilatador dos agonistas beta-adrenérgicos sobre a densidade colesterol (LDL-c) é o mais relevante fator de
aorta e os grandes vasos também diminui com a idade, risco modificável para DAC. Existe ampla evidência
bem como a resposta inotrópica do miocárdio às advinda de estudos genéticos e clínicos com estatinas e
catecolaminas e a capacidade de resposta dos outros hipolipemiantes, demonstrando que níveis mais
barorreceptores às mudanças de posição. baixos de LDL-c se associam à redução proporcional de
desfechos CV, incluindo infarto do miocárdio, AVC e
FATORES ACELERADORES DE DOENÇAS morte CV.
CARDIOVASCULARES
DISLIPIDEMIA
Tabagismo: De acordo com a OMS, o tabagismo e o • A dislipidemia consiste da elevada concentração de
fumo passivo lipídios na corrente sanguínea e redução do HDL.
• As dislipidemias podem ser classificadas em: poligênicas → a interação entre fatores genéticos e
- Hiperlipidemias (níveis elevados de lipoproteínas) ambientais determina o fenótipo do perfil lipídico.
- Hipolipidemias (níveis plasmáticos de lipoproteínas
baixos). EPIDEMIOLOGIA
• As dislipidemias podem ser: Estudos observacionais de base populacional conduzidos
- Primária: genética → mutações genéticas únicas ou no Brasil revelam prevalências de dislipidemia de 43% a
múltiplas que promovem a produção excessiva ou a 60%.
deficiência da eliminação dos triglicerídeos e do LDL,
ou baixa produção ou eliminação excessiva do HDL ATEROSCLEROSE
- Secundária: causada pelo estilo de vida e outros • Doença inflamatória crônica de origem multifatorial,
fatores, como doenças e medicamentos → estilo de que ocorre em resposta à agressão endotelial,
vida sedentário com ingestão excessiva de gordura acometendo principalmente a camada íntima de
saturada, colesterol e ácidos graxos trans. artérias de médio e grande calibre.
• Em geral, as lesões iniciais, denominadas estrias
Fisiopatologia gordurosas, formam-se ainda na infância e
• Esse acúmulo de lipídios na circulação é uma caracterizam-se por acúmulo de colesterol em
consequência metabólica do excesso de tecido macrófagos.
adiposo visceral, e está associado a maior • Com o tempo, mecanismos protetores levam ao
suscetibilidade a DC, resistência à insulina e outros aumento do tecido matricial, que circunda o núcleo
indicadores de disfunções metabólicas. lipídico, mas, na presença de subtipos de linfócitos de
• Seu transporte pela circulação acontece por meio das fenótipo mais inflamatório, a formação do tecido
lipoproteínas, como a very-low density lipoprotein matricial se reduz, principalmente por inibição de
(VLDL) → transporta os lipídios endógenos, síntese de colágeno pelas células musculares lisas que
principalmente os TAGs, aos tecidos. migraram para íntima vascular e por maior liberação
• Quando apresenta maior concentração de ésteres de de metaloproteases de matriz, sintetizadas por
colesterol em comparação aos TAGs, recebe outra macrófagos, tornando a placa lipídica vulnerável a
denominação, sendo conhecida agora como LDL. complicações.
• O LDL entrega o colesterol aos tecidos e teoricamente,
retorna ao fígado para o excesso do colesterol ser Fisiopatologia
excretado via bile. • A formação da placa aterosclerótica inicia-se com a
• Contudo, em pessoas com hipertrigliceridemia, tal agressão ao endotélio vascular por diversos fatores de
retorno é afetado pela diminuição da expressão de risco, como dislipidemia, hipertensão arterial ou
receptores no fígado para essa lipoproteína. Assim, a tabagismo.
mesma acumula na circulação. • Como consequência, a disfunção endotelial aumenta a
• O acúmulo de lipoproteínas ricas em colesterol, como a permeabilidade da íntima às lipoproteínas plasmáticas,
LDL no compartimento plasmático, resulta em favorecendo a retenção destas no espaço
hipercolesterolemia. subendotelial.
• Este acúmulo pode se dar por doenças monogênicas, • Retidas, as partículas de LDL sofrem oxidação,
em particular, por defeito no gene do LDLR ou no gene causando a exposição de diversos neoepítopos,
APOB100. tornando-as imunogênicas.
• Centenas de mutações do LDLR já foram detectadas • O depósito de lipoproteínas na parede arterial,
em portadores de Hipercolesterolemia Familiar (HF), processo-chave no início da aterogênese, ocorre de
algumas causando redução de sua expressão na maneira proporcional à concentração destas
membrana, outras, deformações em sua estrutura e lipoproteínas no plasma.
função. • Além do aumento da permeabilidade às lipoproteínas,
• Mutação no gene que codifica a APOB pode também outra manifestação da disfunção endotelial é o
causar hipercolesterolemia por conta da deficiência no surgimento de moléculas de adesão leucocitária
acoplamento da LDL ao receptor celular. Mais na superfície endotelial, processo estimulado pela
comumente a hipercolesterolemia resulta de presença de LDL oxidada → responsáveis pela atração
mutações em múltiplos genes envolvidos no de monócitos e linfócitos para a intimidade da parede
metabolismo lipídico, as hipercolesterolemias arterial.
• Induzidos por proteínas quimiotáticas, os monócitos formará parte da capa fibrosa da placa
migram para o espaço subendotelial, no qual se aterosclerótica.
diferenciam em macrófagos, que, por sua vez,
captam as LDL oxidadas. PLACA = elementos celulares, componentes da matriz
• Os macrófagos repletos de lípides são chamados de extracelular e núcleo lipídico e necrótico, formado
células espumosas e são o principal componente das principalmente por debris de células mortas.
estrias gordurosas, lesões macroscópicas iniciais da
aterosclerose. • As placas estáveis caracterizam-se por predomínio de
• Uma vez ativados, os macrófagos são, em grande colágeno, organizado em capa fibrosa espessa,
parte, responsáveis pela progressão da placa escassas células inflamatórias, e núcleo lipídico e
aterosclerótica por meio da secreção de citocinas , necrótico de proporções menore; as instáveis
que amplificam a inflamação, e de enzimas apresentam atividade inflamatória intensa,
proteolíticas, capazes de degradar colágeno e outros especialmente em suas bordas laterais, com grande
componentes teciduais locais. atividade proteolítica, núcleo lipídico e necrótico
Os linfócitos T, embora menos numerosos que os proeminente, e capa fibrótica tênue.
macrófagos no interior do ateroma, são de grande • A ruptura desta capa expõe material lipídico altamente
importância na aterogênese → mediante interação trombogênico, levando à formação de um trombo
com os macrófagos, as células T podem se diferenciar sobrejacente = aterotrombose (um dos principais
e produzir citocinas que modulam o processo determinantes das manifestações clínicas da
inflamatório local. aterosclerose).
• Diversos mecanismos têm sido propostos para a
aterogênese e suas complicações, como a oxidação de EPIDEMIOLOGIA
lipoproteínas (principalmente lipoproteínas de baixa O processo aterosclerótico é responsável pelo maior
densidade) e a alteração fenotípica do endotélio índice de mortalidade no Brasil.
vascular, produzindo substâncias quimiotáticas de Em 1995, 23% das mortes, em todas as idades em nosso
linfócitos, liberando espécies reativas de oxigênio, país, ocorreram em consequência da aterosclerose.
promovendo vasoconstrição e reduzindo propriedades Cerca de 1,5 milhão de pessoas por ano nos Estados
antitrombóticas. Unidos sofrem um Infarto do Miocárdio (IM); destes, um
• Recentemente, o comprometimento da resposta terço morre antes de chegar a um hospital.
imune de linfócitos, diminuindo a produção de A principal causa subjacente da Cardiopatia Isquêmica
anticorpos anti-LDL oxidada, foi associado à (CI) é a aterosclerose.
aterosclerose e complicações.
• A maior gravidade da aterosclerose está relacionada INSUFICIÊNCIA CARDÍACA
com fatores de risco clássicos, como dislipidemia, • A IC é uma entidade com declínio progressivo da
diabetes, tabagismo, hipertensão arterial, entre outros, função ventricular, devido à disfunção miocítica
mas, a nível celular, cristais de colesterol, progressiva causada por alterações na expressão de
microfilamentos liberados por neutrófilos, isquemia e genes, perda de células por necrose e apoptose e
alterações na pressão de arrasto hemodinâmico têm consequente remodelamento celular e das câmaras
sido implicados na ativação de complexo inflamatório, cardíacas.
que se associa com ruptura da placa
aterosclerótica ou erosão endotelial. Fisiopatologia
• A partir destas complicações, ocorre interação do fator • O processo de remodelamento resulta em dilatação e
tecidual da íntima vascular com fator VII a circulante, hipertrofia ventricular, estresse parietal elevado,
levando à geração de trombina, ativação plaquetária e isquemia miocárdica relativa, depleção de energia e
formação do trombo, determinando as principais fibrose intersticial.
complicações da aterosclerose, infarto agudo do • Essa série de eventos é mediada essencialmente pela
miocárdio e Acidente Vascular Cerebral (AVC). ativação de sistemas neuro-hormonais e
• Alguns mediadores da inflamação estimulam a autócrino/parácrinos, decorrentes da queda do débito
migração e a proliferação das células musculares cardíaco, que afetam o aparelho cardiovascular de
lisas da camada média arterial → ao migrarem para a maneira complexa.
íntima, passam a produzir não só citocinas e fatores de • Tais alterações destinam-se a restaurar o volume
crescimento, como também matriz extracelular, que sanguíneo, o débito cardíaco e a homeostase
circulatória e funcionam inicialmente como • Basicamente, a pressão arterial é o resultado do
mecanismos compensatórios úteis→ mas depois, produto do débito cardíaco e da resistência vascular
muitas respostas podem tornar-se deletérias, periférica. Enquanto no jovem o débito cardíaco
passando a atuar como fatores patogenéticos que encontra-se elevado com pouca alteração na
agravam o estado hemodinâmico e clínico, afetando o resistência vascular periférica, no idoso observa-se
prognóstico desfavoravelmente. exatamente o contrário: aumento nítido da
• Alterações ou respostas neuro-humorais (hormonais e resistência periférica com redução do débito
autócrino/parácrinas): cardíaco.
- Sistemas que provocam vasoconstrição, retenção de • O aumento da resistência periférica no idoso é
sódio e água e proliferação celular: ativação do sistema consequência direta da aterosclerose, que leva a um
nervoso simpático e do sistema renina-angiotensina- processo a que podemos chamar envelhecimento do
aldosterona, liberação de arginina, vasopressina, vaso.
endotelinas e citocinas • Não há dúvida de que o envelhecimento por si só pode
- Sistemas que causam vasodilatação, natriurese e determinar modificações tanto na arquitetura como na
diurese e são antiproliferativos: peptídios natriuréticos, composição da parede vascular.
prostaglandinas, bradicinina e óxido nítrico (fator de • O endotélio, atingido pelo envelhecimento, libera
relaxamento dependente do endotélio). menor quantidade de óxido nítrico, que é um
• Embora influenciando-se mutuamente, as ações importante fator de relaxamento vascular.
vasoconstritoras, retentoras de sódio e água, e • Por outro lado, a sensibilidade da musculatura lisa
proliferativas sobrepujam as oponentes, resultando em vascular aos efeitos da endotelina, um potente
aumento da resistência vascular periférica, da pré e vasoconstritor, diminui, embora sua liberação
pós-carga, edema e congestão visceral e efeitos aumente com o avançar da idade.
proliferativos. • O diâmetro dos vasos tende a aumentar. O conteúdo
de colágeno aumenta, enquanto a elastina
EPIDEMIOLOGIA progressivamente se desorganiza, se adelgaça e, com
Segundo estimativa do Datasus, 6,5 milhões de brasileiros frequência, se fragmenta. Há deposição lipídica e de
sofrem de IC. cálcio, com concomitante perda de elasticidade. Todas
Em 2014, dos 1.139.263 pacientes internados devido a DCV, essas modificações observadas no idoso podem
19,6% foram por IC, constituindo praticamente um quinto interagir com outros potentes fatores de risco
de todas as internações. Deste total, 71,45% ocorreram cardiovascular, como hipertensão arterial.
em indivíduos com idade igual ou superior a 60 anos, • A ausência de uma ação vasodilatadora menos eficaz
com maior percentual entre 70 e 79 anos. do óxido nítrico permite que a resposta vasoconstritora,
Homens e mulheres hipertensos têm aumento proveniente de outros mecanismos, estimule a
substancial de risco para o desenvolvimento de IC em proliferação de células musculares lisas, o que
relação aos indivíduos normotensos. Entre as mulheres, a possibilita alterações na arquitetura vascular.
HAS foi responsável por 59% dos casos, entre os homens
39% de acordo com os dados de Framingham EPIDEMIOLOGIA
(Rodeheffer, 2011). A mesma fonte refere que 1/4 dos No Brasil, HA atinge 32,5% (36 milhões) de indivíduos
casos de IC ocorrem devido à HAS e nos indivíduos com adultos, mais de 60% dos idosos, contribuindo direta ou
idade de 65 ou mais anos contribui em 68% dos casos. indiretamente para 50% das mortes por doença
cardiovascular (DCV).
HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA Os principais fatores de risco para HAS são: idade
Fisiopatologia principalmente acima de 50 anos; prevalência parecida
• O mecanismo básico que explica o progressivo entre ambos os sexos, sendo mais comum em homens
aumento da pressão sistólica observado com a idade é até 50 anos, invertendo esta relação nas décadas
a perda da distensibilidade e da elasticidade dos subsequentes; indivíduos não brancos; excesso de peso;
vasos de grande capacitância, resultando em aumento sedentarismo; ingesta aumentada de sal e álcool; fatores
da velocidade da onda de pulso. socioeconômicos e genéticos.
• Nessas circunstâncias, a pressão diastólica tende a ficar
normal ou até baixa devido à redução da complacência
dos vasos de grande capacitância.
ARRITMIAS REABILITAÇÃO CARDIOVASCULAR
Fisiopatologia Fase 1
• Os mecanismos eletrofisiológicos das arritmias são • Na fase 1 da RCV objetiva-se que o paciente tenha alta
classificados em: distúrbios da formação do impulso, hospitalar com as melhores condições físicas e
distúrbios da condução do impulso e distúrbios psicológicas possíveis, municiado de informações
associados da formação e da condução do impulso. referentes ao estilo saudável de vida, em especial no
• São considerados distúrbios da formação anormal que diz respeito ao exercício físico.
do impulso cardíaco as alterações de automatismo e • Propõe-se a combinação de exercícios físicos de baixa
atividade deflagrada. intensidade, técnicas para o controle do estresse e
- O automatismo anormal ocorre com a formação programas de educação em relação aos fatores de
repetitiva de impulsos, desencadeando arritmias risco e à cardiopatia.
persistentes como a taquicardia atrial incessante. • A equipe de atendimento deve ser composta por,
- A atividade deflagrada envolve os pós-potenciais pelo menos, médico, fisioterapeuta e enfermeiro,
precoces, como em casos de taquicardia ventricular capacitados para atuar em RCV, que não precisam
(TV) polimórfica e os pós-potenciais tardios, como em dedicar tempo integral ao programa de reabilitação,
casos de arritmias relacionadas com a intoxicação podendo exercer outras atividades no hospital.
digitálica. • O direcionamento às fases ambulatoriais da RCV deve
• Os distúrbios da condução do impulso estão ser realizado na alta da internação.
presentes em reentradas como em pacientes com
dupla via nodal e taquicardia de reentrada nodal, via Fase 2, 3 e 4
anômala em taquicardias atrioventriculares • A fase 2 começa imediatamente após a alta hospitalar
relacionadas com a síndrome de Wolff-Parkinson- e tem duração média de 3 meses.
White (WPW), áreas de fibrose miocárdica e taquicardia • A fase 3 costuma ter duração de 3 a 6 meses e a fase 4
ventricular monomórfica, macro reentrada no flutter tem duração prolongada.
atrial e micro reentradas em casos de fibrilação atrial. • Em todas as fases objetiva-se progressão dos
• São consideradas como alterações na formação e benefícios da RCV ou, pelo menos, a manutenção
na condução do impulso a parassístole e as dos ganhos obtidos.
extrassístoles ventriculares. • Em uma divisão rígida da RCV em fases temporais,
• Com relação às bradiarritmias, os mecanismos são por pode-se não levar em consideração que existem
diminuição do automatismo, podendo haver retardo pacientes com cardiopatias graves, muito sintomáticos
ou ausência de geração do estímulo elétrico e debilitados, que permanecem por longo prazo em
espontâneo (despolarização) e diminuição na uma reabilitação “fase 2”, pois continuam requerendo a
velocidade do impulso pelo sistema de condução. supervisão direta dos exercícios físicos, enquanto
• Em indivíduos idosos, esses mecanismos estão outros, de baixo risco, desde o início se enquadram em
frequentemente relacionados com a doença programas de fase 3 ou mesmo de fase 4, sendo
intrínseca do sistema de condução, seja pelo potenciais candidatos a uma RCV domiciliar, em que a
processo esclerodegenerativo senil ou associado à maioria das sessões ocorrem sob supervisão indireta, à
doença aterosclerótica. distância.
• Portanto, recomenda-se uma estratificação do risco
EPIDEMIOLOGIA clínico que possibilite o uso mais racional dos
Mais 20 milhões de brasileiros sofrem algum tipo de programas, com direcionamento individualizado às
arritmia cardíaca, doença responsável por mais de 320 modalidades de RCV.
mil mortes súbitas todos os anos no país, segundo dados
da Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (Sobrac). Risco Clínico Alto
A fibrilação atrial é um dos tipos de arritmia cardíaca, com • A duração da RCV pode variar conforme o quadro
prevalência maior entre os idosos, caracterizada pelo clínico e a evolução do treinamento físico.
ritmo irregular dos átrios (câmaras superiores do • O enquadramento, a manutenção ou a reclassificação
coração). A doença afeta 2,5% da população mundial. do perfil de risco devem ser determinados pela
A prevalência das arritmias cardíacas na população varia a avaliação médica pré-participação e por reavaliações
arritmia mais comum, com prevalência de 0,2% em subsequentes, realizadas pelo médico e demais
indivíduos < 55 anos e de 8 a 10% em > 80 anos. Dados integrantes da equipe.
de 2013.
• O modelo dessa avaliação médica deve conter, no
mínimo, consulta clínica, exame físico, As diretrizes médicas têm recomendado, no mínimo, a
eletrocardiograma (ECG) de repouso e teste prática de exercício físico de intensidade moderada por,
cardiopulmonar de exercício (TCPE) ou teste pelo menos, 150 minutos semanais ou de alta
ergométrico (TE). intensidade por 75 minutos semanais (recomendação 1
• As características clínicas dos pacientes que se B). A prática de mais de 300 minutos semanais de
enquadrariam inicialmente no risco clínico alto exercício de intensidade moderada a alta pode conferir
(presença de, pelo menos, uma delas) são: benefício adicional.
- Internação por descompensação cardiovascular
recente (menos de 8 a 12 semanas) devido a quadros
de: IAM ou angina instável; revascularização cirúrgica
ou percutânea; arritmias complexas; morte súbita
revertida; descompensação de IC;
- Pacientes cardiopatas, com presença ou ausência de
evento cardiovascular e/ou intervenções, mas com
importantes alterações funcionais ao esforço físico;
- Outras características clínicas de pacientes com risco
aumentado aos exercícios físicos: doença renal crônica
(DRC) dialítica, dessaturação de oxigênio em esforço e
arritmia ventricular complexa em repouso ou esforço.

Exercícios aeróbicos
• Os equipamentos mais usados são esteiras rolantes e
cicloergômetros de membros inferiores, mas também
podem ser utilizados cicloergômetros de membros
superiores, remoergômetros, ergômetros de esqui,
elípticos, entre outros.

Exercícios de fortalecimento muscular


• Existem diversos aparelhos, mas é possível realizar
vários exercícios utilizando somente o peso corporal,
que representa um esforço, em geral, suficiente nos
pacientes mais debilitados.
• Um exemplo prático é o exercício de sentar e levantar,
cuja realização requer tão somente uma cadeira ou um
banco.
• O uso de cordas ou faixas suspensas, bem fixadas ao
teto ou alto da parede, podem permitir uma ampla
variedade de exercícios com a utilização do peso do
próprio corpo.
• Pesos livres, halteres ou caneleiras com pesos variados
são frequentemente adotados em programas de RCV
e possibilitam uma ampla variedade de movimentos e
estímulos adequados de diferentes grupos
musculares.

Outros exercícios
• Visando a saúde global, considerando a cardiopatia e
doenças associadas, pode ser necessário acrescentar
treinamento isométrico manual, treinamento da
musculatura inspiratória e exercícios para aprimorar o
equilíbrio e a flexibilidade.

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