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3º DECÊNDIO MARÇO / 2008 – ANO XXVIII – Nº 9

I MOBILIÁRIO Existência de condomínio especial


em shopping center e sua personalidade jurídica.
Autores: Antonio C. P. Franco e José Roberto P. Franco (p. 3)

O uso da arbitragem nas questões condominiais.


Autora: Tatiana Scholai (p. 6)

O consentimento na escritura pública ou particular de compra


e venda de imóveis – Parte III. Autor: Jorge Tarcha (p. 7)

Jurisprudência Cartorária (p. 23)

O usufruto e nua propriedade.


Autor: Wilson Bueno Alves (p. 27)

Locação – Responsabilidade do fiador até


a efetiva entrega das chaves – Acórdão do STJ (p. 14)

Execução – Penhora – Não incidência sobre


direitos de compromissário-comprador (p. 22)

Condomínio: Comissão de representantes –


Responsabilidade. Autor: Carlos Roberto Tavarnaro (p. 35)

ISSN 1982 - 4599

38 ANOS 9 771982 459001 BDI - Boletim do Direito Imobiliário


Direção:
Dominique Pierre Faga ÍNDICE
Conselho Editorial:
Dominique Pierre Faga COMENTÁRIOS E DOUTRINA
Alberto Prates dos Santos EXISTÊNCIA DE CONDOMÍNIO ESPECIAL EM SHOPPING CENTER E SUA PERSONALI-
Antonio Albergaria Pereira DADE JURÍDICA (Antonio Celso Pinheiro Franco e José Roberto Pinheiro Franco) ............. 03
Heronides Dantas de Figueiredo
E-mail: redacao@diariodasleis.com.br O USO DA ARBITRAGEM NAS QUESTÕES CONDOMINIAIS (Tatiana Scholai) ...................... 06
Jornalista Responsável:
Julio Cesar Borges, MTB nº 42073 LIÇÕES DE DIREITO IMOBILIÁRIO
ISSN: 1982-4599 O CONSENTIMENTO NAS ESCRITURAS DEFINITIVAS DE COMPRA E VENDA

Colaboradores: (PÚBLICAS OU PARTICULARES) – PARTE III (Prof. Jorge Tarcha) ....................................... 07


Adriano Erbolato Melo
Amaro Moraes e Silva Neto
JURISPRUDÊNCIA
Américo Isidoro Angélico
Arthur Edmundo de Souza Rios PENHORA – DIREITOS SOBRE USUFRUTO – ALUGUEL – CONSTRIÇÃO DA TOTALIDA-
Bianca Castelar de Faria DE DESSAS RENDAS (TJSP) ................................................................................................... 10
Carlos Alberto Dabus Maluf
LOCAÇÃO – FIANÇA – FALTA DE OUTORGA DA MULHER DO FIADOR (STJ) ...................... 11
Daniel Alcântara Nastri Cerveira
Dilvanir José da Costa CONTRATO DE LOCAÇÃO – TÍTULO EXECUTIVO JUDICIAL – ASSINATURAS DE TES-
Felipe Leonardo Rodrigues TEMUNHAS – IRRELEVÂNCIA (TJMG) .................................................................................... 13
Fernanda Souza Rabello LOCAÇÃO – FIANÇA – GARANTIA ATÉ A EFETIVA ENTREGA DAS CHAVES (STJ) ............. 14
Geraldo Beire Simões
Guilherme Fanti CONDOMÍNIO – EDIFÍCIO – PRETENDIDA PERMISSÃO DE MANUTENÇÃO DE ANIMAL
Iuli Ratzka Formiga EM APARTAMENTO – INADMISSIBILIDADE (TJSP) ............................................................... 18
Jaques Bushatsky LOCAÇÃO – AÇÃO RENOVATÓRIA – SEGURO DE INCÊNDIO – DESCUMPRIMENTO –
Jorge Tarcha
José Hildor Leal INFRAÇÃO (TJMG) ..................................................................................................................... 19
Kênio de Souza Pereira CORRETAGEM – PREÇO FIXADO EM RAZÃO DA ÁREA DO IMÓVEL (TJRS) ....................... 21
Leonardo Henrique M. Moraes Oliveira EXECUÇÃO – PENHORA – DIREITOS DE COMPROMISSÁRIO-COMPRADOR (TJSP) ........ 22
Luis Camargo Pinto de Carvalho
Luiz Antonio Scavone Jr.
Marcelo Manhães de Almeida JURISPRUDÊNCIA CARTORÁRIA
Márcio Flávio Lima REGISTRADOR IMOBILIÁRIO – CIRCUNSCRIÇÃO GEOGRÁFICA – LEI LOCAL – EQUI-
Marco Aurélio Bicalho de A. Chagas
VALÊNCIA COM A CIRCUNSCRIÇÃO JUDICIÁRIA (STJ) ....................................................... 23
Marco Aurélio Leite da Silva
Mário Cerveira Filho REGISTRO DE IMÓVEIS – NEGATIVA DE ACESSO – CERTIDÕES DE PENHORA (CSM/SP) .. 25
Michel Rosenthal Wagner
Narciso Orlandi Neto
Regnoberto Marques de Melo Jr. BOLETIM CARTORÁRIO
Ricardo Amin Abrahão Nacle USUFRUTO E NUA PROPRIEDADE (Wilson Bueno Alves) ........................................................ 27
Valestan Milhomem da Costa ÁGUA MOLE EM PEDRA DURA ... (OFICIAL REGISTRADOR – EXIGÊNCIAS DESCABIDAS) .. 29
Wilson Bueno Alves
“PENSO, LOGO EXISTO” (AUTORITARISMO INCONSCIENTE DE ALGUNS REGISTRADO-
Gerência Comercial:
RES) ............................................................................................................................................. 31
Telefone e fax: (11) 3673-3155 (PABX)
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Foto de Capa: PERGUNTAS & RESPOSTAS
www.sxc.hu AÇÃO DE DESPEJO POR FALTA DE PAGAMENTO – QUANDO PODE SER AJUIZADA ....... 33
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Gráfica Josemar IMPENHORABILIDADE DE BEM DE FAMÍLIA ............................................................................. 33

Editora: FIANÇA LOCATÍCIA – REGISTRO DO CONTRATO JUNTO À MATRÍCULA DE IMÓVEL DO


DIÁRIO DAS LEIS LTDA. FIADOR ........................................................................................................................................ 33
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cial. Os artigos assinados não refletem ne-
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2 DIÁRIO DAS a LEIS
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da direção(DLI)
IMOBILIÁRIO 3º DECÊNDIO MARÇO/2008 – Nº 9
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COMENTÁRIOS E DOUTRIN
DOUTRINA
A
EXISTÊNCIA DE CONDOMÍNIO ESPECIAL EM SHOPPING CENTER
E SUA PERSONALIDADE JURÍDICA

Antonio Celso Pinheiro Franco (*)


José Roberto Pinheiro Franco (**)

Tendo em vista que se alega que Isso, por si só, já demonstra o nica, acompanhada de apurado es-
o condomínio de vários shopping ânimo, o espírito, a alma, a mente, a tudo sobre o potencial de compras
centers não foi constituído legalmen- índole, a intenção, a vontade, repita- das áreas de influência que servem,
te, não tendo personalidade jurídica se, voltada para o condomínio. visando dar ao consumidor seguran-
própria, nem mesmo podendo ser Com efeito, condomínio, na lin- ça, conforto e o máximo de estímulo
considerado um condomínio especi- guagem do Direito Civil, embora sig- ...” Confira-se as declarações gerais,
al do próprio segmento, porque a nifique direito simultaneamente tido constate-se as regras para a utiliza-
Escritura Declaratória de Normas por várias pessoas sobre o mesmo ção das unidades, anote-se como se
Gerais Regedoras do Funcionamen- objeto, o Direito Moderno, contudo, usa as áreas de circulação e uso ge-
to e Utilização desses condomínios no que é inerente aos princípios e ral, verifique-se as normas de aluguel,
supostamente não prevê a formação regras aplicáveis aos shoppings, da fiscalização do aluguel apurado
do condomínio, deparamo-nos, por ampliou esse conceito, sem dele fu- com base no faturamento bruto, dos
vezes, com problemas de existência gir, designando como de uso comum encargos decorrentes da locação,
e representatividade junto a bancos, ou condomínio as diversas depen- das garantias, da marca e logotipo do
atos notariais, assinaturas de contra- dências de um prédio, como áreas, shopping, das dívidas dos lojistas,
tos, etc. corredores, elevadores, lojas, lugares dos relatórios referentes às opera-
Tais problemas, contudo, a nos- de uso comum, razão pela qual po- ções comerciais, do rateio das des-
so ver, têm sido levantados de forma dem ser utilizadas por todos os usu- pesas entre todos, da taxa de admi-
prematura, sem a consideração de ários e lojistas, que inclusive devem nistração devida à administradora, do
respeito à Administração (semelhan- regulamento interno, da associação
que se cuida de instituto novo, espe-
te ao síndico), manutenção, conser- dos lojistas, da rescisão e multas,
cífico do ramo de atividade, ou seja,
vação, encargos, etc. enfim, a tudo tutelando os interesses
não se considera que estamos dian-
comuns, no fomento das vendas.
te de condomínio típico do segmento A Escritura Declaratória que De se lembrar, nesse passo, que
de Shopping Center, condomínio es- constitui essa pluralidade de direitos há vinculação obrigatória de todos os
pecial e com regras próprias, portan- e interesses, em comum, reveste-se lojistas, sempre visando congregá-los
to, mas que não deixa de ser tam- da forma de condomínio, seja em com o objetivo principal de promover
bém considerado condomínio, para suas definições, todas elas constan- e divulgar o shopping e suas ativida-
os fins e efeitos de direito. tes da referida escritura, seja na ma- des; há fundo de promoção, visando
Do exame da Escritura Declara- neira de operação, seja mesmo re- cobrir as despesas de publicidade,
tória desses condomínios constata- gendo minuciosamente a vida do propaganda e as mais diversas pro-
mos, ao primeiro súbito de vista, que empreendimento como um todo, do moções; há normas visando unifor-
foram estabelecidas as normas ge- “tipo condomínio”. mizar e simplificar o funcionamento,
rais que disciplinarão as locações, o É ler essa Escritura Declaratória em todas as suas facetas, e a admi-
uso de unidades e o funcionamento e verificar de plano que tudo, nos nistração do shopping, face às inú-
geral do shopping center, ou seja, mínimos detalhes, estão regrados e meras e indubitáveis vantagens de-
regras para todos aqueles que, em normatizados. Veja-se as definições, correntes desse procedimento; exis-
comum, participarem do empreendi- confira-se o seu objeto, onde vem te perfeita integração das locações,
mento shopping. E à essa Escritura dito, com todas as letras, que “a fina- da utilização de espaços do shopping
Declaratória desses condomínios, os lidade primordial de um Centro de e de áreas de uso comum; ocorre
lojistas aderem expressamente no Compras e Eventos é congregar no regra de que todas as deliberações
momento da formalização de cada mesmo local o maior número de ati- aplicam-se a lojistas, locatários, e
contrato de locação, juntando a sua vidades empresariais, distribuindo os eventuais sublocatários e ocupantes
vontade à expressão e ao conceito diferentes ramos de comércio e ser- legítimos desses locais, prepostos e
condominial. viços, segundo uma planificação téc- empregados dos lojistas e seus res-

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pectivos herdeiros ou sucessores, tos são entendidos e interpretados ninguém. O ato é legítimo.
quando for o caso; observa-se o ne- pelo que neles se contém e não pelo A realidade jurídica atual não
gócio global, com as disposições pró- nome ou rótulo que a eles tenham permite que se leve o mundo das for-
prias e pertinentes e os ramos de sido submetidos. O que vale é o con- mas ao extremo, já que mesmo que
negócios envolvidos; obedece-se a teúdo, a essência. E, ambos, no caso, não observado o procedimento de
plano elaborado sobre minuciosos são de condomínio especial. praxe, se o fim objetivado pela lei foi
estudos, objetivando o sucesso har- Tem-se falado que, na verdade, alcançado, ainda que por via sinuo-
monioso de todo o empreendimen- estamos diante de condomínio sa ou inortodoxa, é válido o ato, no
to, normas gerais para acabamen- atípico. Mas, ao reverso, sustenta- caso, a Convenção do Condomínio e
to, instalação, decoração, utilização, mos nós, cuida-se de condomínio tí- a Administração, máxime quando
obras; critérios básicos e determina- pico da atividade e do segmento de estamos falando não do condomínio
dos pela Escritura de Declaração, shopping centers, condomínio espe- convencional, mas, sim, daquele es-
elemento instituidor do condomínio cial, portanto. pecial.
especial, à qual aderem os lojistas;
todas as áreas, dependências e ins- Mas, de qualquer forma, diante Essa a primeira conclusão.
talações, de uso comum, qualquer de tudo o que já se falou, irrelevante Temos, também, uma outra.
que seja a sua natureza, destinadas é o dissenso no que tange ao “nomen
juris” do instituto. Basta saber que é Essa segunda conclusão vem
em geral aos lojistas, seus dependen- apoiada no fato de que as mesmas
tes, funcionários, prepostos, agentes, um condomínio especial, em sua
substância. dúvidas e indagações ocorreram
clientes, bem como ao público em quando se estabeleceu outro “condo-
geral, estarão sempre sujeitas ao E se assim não fosse, o condo- mínio especial” (art. 63, § 3º, da lei nº
controle, disciplina e administração mínio não seria passível de inscrição 4.591/64).
da administradora; igualmente propa- no CNPJ/MF, como ocorre reiterada-
ganda ou publicidade de quaisquer mente, onde se exige Convenção Conforme nos narra CAIO MÁ-
espécies, a não ser com a autoriza- Condominial (Escritura Declaratória) RIO DA SILVA PEREIRA, em sua
ção escrita da administração; dos lo- e Síndico (Administração formada, obra “Condomínio e Incorporações”,
jistas será exigido, nas datas fixadas Administrador), tudo entendido como Forense, 6ª edição, pgs. 341 e sgs.,
pela administração e nas condições demonstrado, satisfatório e suficien- ”Instituto novo de direito, como ficou
estipuladas ou estabelecidas, e na te para a Secretaria da Receita Fe- esclarecido acima (ns.30 a 34, su-
proporção de sua participação, res- deral, que reconhece nele, não só pra), tem de ser tratado como tal. O
peitada a metragem de cada unida- instituição para os fins tributários, condomínio especial em edifício co-
de, encargos, tributos, seguros, des- mas, igualmente, para a legislação letivo tem, portanto, as suas caracte-
pesas que direta ou indiretamente civil. rísticas próprias. Não pode ser trata-
incidam ou venham a incidir sobre a do com um conceito antigo. Se é um
Em suma, escolhendo-se uma direito novo, se tem suas linhas es-
ocupação ou locação no shopping, os forma para a prática de um ato ou
serviços comuns, as unidades e as truturais próprias, assim há que ser
contrato, em princípio, a lei não ex- entendido. Entendido e aplicado.
atividades nelas desempenhadas, clui quaisquer outras para a prática
conforme estabelecido na Escritura do referido ato, desde que seja E pelo fato de não se atentar
Declaratória. alcançada a finalidade. No caso, a para esta caracterização própria é
Assim, tal Escritura Declaratória, Escritura Declaratória seguramente que providências legais têm sido
nesse condomínio especial, é, sem pode ser entendida e interpretada distorcidas, mal interpretadas e
dúvida, a Convenção do Condomínio, como Convenção do Condomínio e descumpridas.
sua linha mestra que deve ser segui- a Administração, o Administrador, Referimo-nos, em particular, ao
da, seu ato instituidor ao qual ade- como Síndico, às quais aderem os poder aquisitivo do condomínio. A fa-
rem todos os lojistas no momento da lojistas no momento da formalização culdade de adquirir direitos.”
formalização de cada contrato de lo- dos contratos de locação, trazendo, (...)
cação, aperfeiçoando, assim, de con- assim, o elemento formador do con-
E, continua, “a nosso ver, o pro-
seguinte, a figura do condomínio es- domínio especial. blema tem sido colocado, partindo do
pecial. Nem se fale em nulidades, pos- pressuposto de que o condomínio
E é irrelevante que assim tenha to que nesse tema predomina o prin- especial está subordinado aos mes-
sido chamada (Escritura Declara- cípio da finalidade e do prejuízo. Na mos princípios dominantes em ma-
tória) porque, é princípio basilar em hipótese em discussão a finalidade téria de condomínio tradicional. Esta
nosso Direito, que os atos e contra- foi alcançada e não houve prejuízo a é uma noção que há de ser

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liminarmente afastada. xará dominar por idéias preconcebi- quando a lei for omissa, o juiz decidi-
Trata-se de um instituto novo das para interpretar somente à luz de rá o caso de acordo com a analogia,
(ns. 30 a 34, supra), sujeito a uma conceitos vetustos. O grande traba- os costumes e os princípios gerais de
disciplina própria, e que obedece aos lho do aplicador é construir pelo en- direito (art. 4º da Lei de Introdução
ditames da legislação específica tendimento e pela boa compreensão ao Código Civil) e que na aplicação
como de sua preceituação doutriná- da lei. da lei, o juiz atenderá aos fins sociais
ria peculiar. E se esta se desgarra de con- a que ela se dirige e às exigências
ceitos tradicionais, para exprimir no- do bem comum (art. 5º da Lei de In-
É certo que o condomínio não é trodução do Código Civil).
pessoa jurídica (ns. 37, 40, 90, su- ções vigentes no tempo atual e para
pra). Os direitos e os deveres são dar solução a problemas que a vida Sob esta ótica, depois de exa-
reconhecidos e impostos aos social contemporânea suscita, não minados todos os aspectos, é que
condôminos ut singuli. Assim se vê pode ser explicada senão à luz dos concluímos a nossa análise da ma-
nos arts. 3º (condomínio de todos), novos conceitos. téria, no sentido de que (a) o
9º (os proprietários, promitentes com- O Juiz é o grande construtor do SHOPPING é um CONDOMÍNIO tí-
pradores, cessionários ou promiten- direito. Foi a elaboração pretoriana pico do segmento de Shopping
tes cessionários dos direitos pertinen- que vivificou o direito romano em mil Centers, onde são estabelecidas as
tes à aquisição de unidades autôno- anos de vida da sociedade romana e normas gerais que disciplinarão as
mas), 12 (cada condômino), 19 (cada construiu uma sistemática que sobre- locações, o uso de unidades e o fun-
condômino), 24 (assembléia de vive dois milênios depois. E, se os cionamento geral do shopping center,
condôminos), 52 (imissão de cada romanos não recuaram frente à ne- com regras para todos aqueles que,
contratante na posse de sua unida- cessidade de construir, deram-nos o em comum, participarem do empre-
de). Todas as vezes que a lei faz re- exemplo, para que edifiquemos tam- endimento. É dotado de Convenção
ferência a direitos e deveres, atribui bém.” do Condomínio (Escritura Declara-
uns e outros aos condôminos indivi- tória) e Administração (Síndico), aos
(...) quais aderem e estão subordinados
dualmente. Nunca alude ao condo-
mínio como sujeito passivo ou ativo E nem se diga que o legislador todos os lojistas, no ato da
de uns ou de outros. de 1964 inovou em nosso direito. Ao formalização de cada contrato de lo-
revés, já encontrou abertos caminhos cação; (b) por se tratar de um institu-
Este é, pois, um dado certo e exemplares. O espólio, posto que não to novo, sujeito a uma disciplina pró-
positivo. Em face da doutrina legal tenha personalidade jurídica, é repre- pria, não pode pura e simplesmente
brasileira, amparada por boa sorte de sentado pelo inventariante, compare- ser desconsiderado ou ignorado por
autoridades, o condomínio não é uma ce em escritura de alienação e ad- bancos, tabelionatos, etc., já que, ain-
pessoa jurídica. quire direitos. A massa falida, igual- da que se queira negar a sua perso-
Acontece que, sem lhe conce- mente, é representada, e lhe é reco- nificação, deve ser tratado como se
der a personificação, o legislador em nhecida a faculdade de cumprir con- fosse dotado de personalidade, para
certas circunstâncias trata-o como se tratos bilaterais de que resulta even- certas circunstâncias, pois assim
fosse dotado de personalidade. Na tualmente a aquisição de direitos. E ocorre sempre com estes entes (con-
construção por administração, embo- tudo se passa sem que jamais se domínio, massa falida, espólio, Câ-
ra seja esta de responsabilidade dos exigisse, num ou noutro caso, o re- mara Municipal, etc.), seja ainda por
proprietários ou adquirentes (art. 58), conhecimento de personalidade jurí- analogia com o condomínio tradicio-
as faturas e os recibos são emitidos dica à herança ou à massa falida.” nal, seja diante dos princípios gerais
“em nome do condomínio” (art. 58, E – completamos nós – vemos de direito (art. 4º da Lei de Introdu-
nº I), como em “conta aberta em também em outros casos onde a ção ao Código Civil), seja mais dian-
nome do condomínio” serão deposi- Câmara Municipal, por exemplo, en- te dos fins sociais a que ela se dirige
tadas as contribuições dos quanto instituição, não tem persona- e às exigências do bem comum (art.
condôminos. lidade jurídica, ostentando todavia 5º da Lei de Introdução ao Código
Ao aludir, então, à adjudicação personalidade judiciária, de forma Civil).
em nome do condomínio, a lei abdi- que pode estar em Juízo para a de- (*) O autor é Advogado em São
ca de sua personificação. fesa de interesses próprios ou prer- Paulo.
Ora, ao intérprete cabe entender rogativas funcionais, inclusive quan- (**) O autor é Advogado em São
e aplicar a lei, tal como é e vem to aos contratos por ela celebrados. Paulo e ex-Presidente da Associação
redigida. O hermeneuta não se dei- Vale lembrar, por outro lado, que dos Advogados de São Paulo – AASP.

3º DECÊNDIO MARÇO/2008 – Nº 9 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 5


DOUTRINA
COMENTÁRIOS E DOUTRIN A

O USO DA ARBITRAGEM NAS QUESTÕES CONDOMINIAIS


Tatiana Scholai (*)

Conflitos fazem parte da vida em nial, um dos assuntos mais importan- mentos e infiltrações em apartamen-
sociedade, a forma de encontrar uma tes que fazem parte da vida de qual- tos, ruídos, e demais assuntos refe-
solução é que varia conforme o caso. quer condomínio são as relações tra- rentes ao condomínio. Essas causas
Em nossa cultura as pessoas levam balhistas. Através da Câmara Arbitral são julgadas por um profissional es-
para o judiciário, onde o maior entra- podem ser resolvidas em uma audi- pecialista na área, visando sempre a
ve é a morosidade. E, como bem ência discussões que demorariam conciliação das partes, a fim de res-
enfatizou Rui Barbosa, se a justiça anos na Justiça do Trabalho. guardar a união e o bem-estar dos
tardou ela falhou, e justiça lenta é uma A Câmara Arbitral, através de moradores envolvidos, decorrente da
negação de justiça. Além de desgas- seus árbitros, está apta a solucionar própria natureza jurídica da arbitra-
tar ainda mais o relacionamento en- questões envolvendo o condomínio gem.
tre as partes, pois a conduta das par- e seus funcionários, sendo que com Nada mais desagradável para
tes será de ganha-perde, onde cada a realização do procedimento de ar- um síndico do que ser apontado como
um pagará para ver quem está com bitragem o empregado poderá fazer o responsável por uma obra, um pro-
a razão. tranqüilamente o levantamento do duto ou serviço que foi adquirido ou
O que poucos sabem é que há seu FGTS. contratado pelo condomínio e não fi-
outras formas de solucionar os con- Outro problema que atrapalha o cou como o esperado.
flitos, como a arbitragem, a media- dia-dia de qualquer síndico é aquele Para minimizar esse sofrimento,
ção e a conciliação, que são instru- referente aos inadimplentes. Todo o condomínio pode valer-se da arbi-
mentos para resolver os conflitos fora condomínio sofre com a situação do tragem para resolver as lides que
da esfera do Judiciário, de uma for- não pagamento dos valores envolvem contratos que não foram
ma rápida, amigável, sigilosa, cons- condominiais e também com a falta devidamente cumpridos, para que a
titucional e informal. de uma forma eficaz de realizar a causa seja analisada por um especi-
Caracterizada pela informali- cobrança desses valores. alista no assunto, que se baseará na
dade, a arbitragem oferece decisões Com a arbitragem é diferente. ética, na imparcialidade e nos princí-
ágeis, técnicas e sigilosas, o árbitro Conforme tem se verificado na práti- pios e garantias que a lei brasileira
primeiramente tenta levar as partes ca, através da utilização deste méto- confere ao consumidor para proferir
a um acordo, por meio da tentativa do o problema é drasticamente dimi- sua decisão.
de conciliação, somente depois de nuído, quando não extinto, na maio- A opção de utilizar a arbitragem
esgotada todas as tentativas é que ria dos condomínios que já se utili- nas questões condominiais só trará
ele emite sua decisão, chamada de zam deste sistema, uma vez que os benefícios, e com certeza consegui-
sentença arbitral, que tem a mesma acordos firmados pelas partes na remos alcançar o maior objetivo des-
força de uma sentença judicial, mas Câmara Arbitral ou os julgamentos tes métodos que é o que chamamos
com um diferencial importante defi- proferidos pelo árbitro têm força de de GANHA-GANHA.
nitivo. Não cabe recurso, tornando- coisa julgada, ou seja, deles não cabe
se novamente mais rápido e evitan- (*) A autora é Bacharel em Di-
recurso, facilitando e muito o recebi-
do a infinidade dos diversos recursos reito, Diretora da Câmara de Arbitra-
mento dessas dívidas, com um cus-
judiciais e das filas de distribuição das gem, Mediação e Conciliação Brasi-
to baixo, com o mínimo de incômodo
diversas instâncias. leira, Vice-Presidente da Arbitragio –
às partes, e preservando a relação e
Câmara de Mediação e Arbitragem
Diferente do judiciário, na arbi- convívio social entre os condôminos.
em Relações Negociais, Membro do
tragem as partes escolhem os árbi- Pode também ser levados ao INAMA, Participante da Comissão de
tros que irão decidir o conflito, ou pela juízo arbitral os problemas que sur- Arbitragem da OAB-SP em 2006.
confiança que depositam neles ou por gem entre vizinhos, problemas estes Palestrante e Docente. Especialista
sua especialidade na matéria, conse- que sempre desgastam tanto o sín- em Direito Imobiliário pela FMU e em
guindo assim uma sentença mais jus- dico quanto as partes envolvidas. Mediação e Arbitragem pela FGV. E-
ta e mais eficaz. Pode ser matéria de procedi- mail: tatianascholai@camaradearbi
No tocante ao direito condomi- mento arbitral problemas de vaza- tragem.com.br

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LIÇÕES DE DIREITO IMOBILIÁRIO
DIREITO
O CONSENTIMENTO NA ESCRITURA PÚBLICA OU PARTICULAR
DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEIS – PARTE III

Prof. Jorge Tarcha (*)

Os vários tipos de declaração (de no § 1º do artigo 37 (inserido no ca- Está sendo lavrada, no escritó-
manifestação do consentimento) pítulo II do Título II que trata dos as- rio de uma imobiliária ou de um ad-
O consentimento pode ser sentos praticados no Registro Civil vogado, uma escritura definitiva de
das Pessoas Naturais): compra e venda de imóvel cujo valor
– Escrito não ultrapassa trinta salários míni-
Art. 37. As partes, ou seus pro-
– Verbal curadores, bem como as testemu- mos.
– Expresso nhas, assinarão os assentos... Uma das partes é analfabeta,
– Tácito § 1º. Se os declarantes, ou as nem sequer sabendo ler e desenhar
testemunhas não puderem, por qual- sua assinatura.
– Simbólico
quer circunstância, assinar, far-se-á O responsável pelo escritório
O consentimento por escrito declaração no assento, assinando a diz: “Não há problema. Qualquer das
Não será necessário discorrer rogo outra pessoa e tomando-se a pessoas aqui presentes poderá assi-
sobre o consentimento escrito. O impressão dactiloscópica da que não nar a rogo da parte analfabeta. Além
nome já diz tudo. assinar, à margem do assento. disso, o teor da escritura será lido em
O consentimento escrito se dá, Note-se a conjunção “e” (assi- voz alta, para conhecimento dela.”
geralmente, pela assinatura. Diz um nando a rogo outra pessoa e toman- Essa assinatura a rogo não tem
provérbio popular: “assinou, dançou”. do-se a impressão dactiloscópica) o menor valor.
Veremos, adiante, que há outras indicando obrigatoriedade e não Ocorre que poderiam todos es-
formas de manifestar o consentimen- facultatividade. tar de acordo, mancomunados, no
to escrito. Portanto, em nosso entender, a sentido de enganar o analfabeto. Não
A assinatura a rogo assinatura do analfabeto deve ser seria impossível que tudo aquilo que
Como consente o analfabeto, efetuada por meio de dois substitu- foi escrito no documento particular
que sequer sabe assinar seu nome? tos, obrigatoriamente, a saber: a as- estivesse em total desacordo com a
sinatura a rogo e a impressão digital. realidade dos fatos.
A primeira maneira que nos sur-
ge à mente é a impressão digital do Conquanto e LRP traga esse Qual seria a maneira de asse-
dedo polegar. dispositivo no bojo das normas so- gurar a lisura desse negócio?
bre a escrituração dos assentos no Resposta: fazendo com que um
Não é um modo aceitável se pra-
Registro Civil das Pessoas Naturais, notário, portador de fé pública, par-
ticado isoladamente. De fato, como
é nossa opinião que ele vale para ticipe da operação.
reconhecer a firma, nesse caso? Se-
ria necessário que o Oficial incumbi- qualquer consentimento de analfa-
Isso pode ser feito de duas ma-
do do reconhecimento tivesse, à sua beto ou de pessoa impedida de as-
neiras:
disposição, um microscópio para a sinar.
Lavrando a escritura definitiva
indispensável conferência. A pessoa que assina a rogo de-
em tabelionato. A assinatura a rogo,
Recomenda-se, no caso, a as- verá atuar também como testemunha
efetuada por qualquer pessoa pre-
sinatura a rogo, expressão que de- do ato e deverá ser qualificada com-
sente ao ato, teria a chancela do no-
riva do verbo .“rogar”, significando pletamente.
tário.
“suplicar”. Observe-se, ainda, que o assi-
Ou outorgando o analfabeto
Então, o analfabeto roga, supli- nante a rogo deverá fazê-lo com sua
uma procuração pública, a pessoa
ca que outra pessoa assine em seu própria e habitual assinatura, isto
de sua inteira confiança, para que
lugar. é, não deverá desenhar, em cursivo,
assine em seu lugar. Nesse caso, a
o nome do analfabeto. assinatura do analfabeto (ou impedi-
A LRP - Lei dos Registros Pú-
blicos, nº 6.015 de 1973 (consultar o Atente-se, agora, para uma pe- do de assinar) seria efetuada a rogo,
Portal da Legislação do DLI) dispõe, quena mas elucidativa história: nessa procuração pública.

3º DECÊNDIO MARÇO/2008 – Nº 9 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 7


DIREITO
PRÁTICA DE DIREITO IMOBILIÁRIO

A assinatura a rogo como Portanto, não havendo lei que Entendemos que não. Se não
mandato especifique a forma, esta é livre, po- deixar dúvidas, se for declarado em
Juridicamente, a assinatura a dendo ser até verbal. termos explícitos e concludentes, o
rogo pode ser entendida como uma Tome-se, como exemplo, o con- consentimento expresso pode ser
procuração que o analfabeto (ou o trato de locação. Não há, na Lei de verbal.
contratante que não pode assinar) Locações, nº 8.245/91 (consultar o O consentimento tácito
outorga a pessoa de confiança, Portal da Legislação do Diário das Que é tácito? Novamente, va-
para que assine por ele. Leis Imobiliário), qualquer exigência mos nos valer do Aurélio:
À luz do que foi dito acima, essa quanto à forma do contrato.
– Que não se exprime por pala-
procuração deverá ser pública, vale Vale, pois, o contrato verbal, vras; subentendido, implícito:
dizer, lavrada por tabelião de notas. que se provará pelos recibos de pa-
gamento de aluguel. Estes são obri- – Que, por não ser expresso, de
Quando o tabelião ou escreven- algum modo se deduz.
te admite, na escritura pública, uma gatórios, para que não se configure
assinatura a rogo, está lavrando si- crime de sonegação fiscal. Por exemplo: sabe-se que na
multaneamente outra escritura pú- Outros contratos nos quais se doação é indispensável a aceitação
blica – a de mandato. permite a forma livre: o de comodato, do donatário, que é aquele que re-
o de mandato (procuração) etc. cebe a doação.
Já no instrumento particular ha-
verá a necessidade de um só ato Código Civil, artigo 656: O man- Essa aceitação pode ser expres-
público, que será a procuração públi- dato pode ser expresso ou tácito, sa ou tácita.
ca com poderes para assinar. verbal ou escrito. Agora, imagine-se que um pai
Observe-se que o analfabeto Forma expressa queira doar ao seu filho uma casa em
não é um incapaz. Porém, deverá más condições, necessitando refor-
Que quer dizer “expresso”? mas.
manifestar sua vontade de maneira
satisfatória, de acordo com a lei (no Vamos recorrer aos dicionários. O filho não diz que sim nem que
caso, a Lei dos Registros Públicos). Primeiramente o Aurélio, que nos pro- não. Mas, começa a reformar a casa.
porciona três significados e um exem-
Aqueles que quiserem aprofundar plo: O que é que se deduz? Que ele
seus conhecimentos sobre a assi- aceitou a doação. Foi uma aceitação
natura de analfabeto, ou de pessoa 1. Que fica exarado, consigna- tácita, pois, embora não tenha sido
do; manifesto; manifestada expressamente, dedu-
impedida de assinar, encontrarão no
DLI várias lições do sapientíssimo 2. Que não admite réplicas; ter- ziu-se por atos do donatário.
DR. ANTONIO ALBERGARIA, no seu minante, categórico, decisivo; A manifestação simbólica
Boletim Cartorário. Podemos indicar 3. Que se expõe em termos ex- É aquela manifestada por sím-
os verbetes “Impressão Digital”, no nº plícitos e é concludente; bolos, como a mímica.
20 de 2002, verbete “Datiloscopia” no
O exemplo: “Ali estava a vonta- Assim, desde os tempos da
nº 14 de 2001, verbete “Assinatura”
de expressa do morto.” Roma antiga, o dedo polegar voltado
no nº 21 de 2000, verbete “A rogo”
Agora, consultemos o Vocabu- para cima significa sim, O.K. Inver-
no nº 2 de 2000, verbete “Assinatura
lário Jurídico de DE PLÁCIDO E SIL- samente, se voltado para baixo, o
a Rogo em Atos Notariais” no nº 16
VA: manifestante da vontade optou pela
de 1999.
negativa.
O consentimento verbal Derivado do latim expressus, de
exprimire (enunciar claramente, de- O silêncio como manifestação da
Em princípio, a forma dos con- clarar formalmente), na terminologia vontade
tratos, no direito brasileiro, é livre, a jurídica, quer significar o que vem Pergunta: vale o provérbio
menos que a lei imponha forma de- declarado, exposto formalmente, de “quem cala consente”?
terminada. modo a não deixar a menor dúvida.
A resposta será: “depende do
Código Civil, artigo 166 - É nulo Indaga-se, agora, se um con- tipo de silêncio”.
o ato jurídico quando sentimento pode ser, ao mesmo tem-
Efetivamente, como ressalta
(...) po, verbal e expresso. SÍLVIO DE SALVO VENOSA (Teoria
IV – não revestir a forma pres- Ou seja: o consentimento ex- Geral dos Contratos) tal dito popular
crita em lei. presso é só por escrito? não é jurídico.

8 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 3º DECÊNDIO MARÇO/2008 – Nº 9


DIREITO
PRÁTICA DE DIREITO IMOBILIÁRIO

O entendimento geral é que o São as seguintes as hipóteses salvadas as decorrentes de práticas


silêncio é um fato ambíguo, que por de silêncio qualificado: anteriores entre as partes;
si só não representa uma manifesta- Pode-se deduzir a manifestação O silêncio também implica em
ção da vontade. da vontade pelo silêncio quando há aceitação quando as relações entre
Quem cala não nega, mas tam- omissão de cláusulas contratuais. Por as partes, freqüentes e sucessivas,
bém não afirma. Não diz que não, exemplo, na ausência de cláusula permitem deduzir a vontade pelo si-
nem que sim; não rejeita nem aceita. estabelecendo o percentual de juros, lêncio da outra parte.
O silêncio não se confunde com eles deverão ser cobrados na base A jurisprudência deu ganho de
a manifestação tácita, que foi vista de 6%. causa a um fornecedor de tecidos
acima, na qual o consentimento se No silêncio do contrato quanto à que enviava mensalmente um lote de
deduz de atos praticados. existência de multas, elas não pode- mercadorias a um cliente, sem pedi-
O silêncio somente estará apto rão ser cobradas. do expresso do mesmo e este acei-
a demonstrar consentimento quan- O silêncio também será qualifi- tava.
do vier acompanhado de outras cado quando houver um pacto entre A certa altura o cliente devolveu
circunstâncias. as partes, estabelecendo que o silên- a mercadoria alegando que não ha-
Ou seja: em certas circunstân- cio, em face de uma determinada pro- via efetuado o pedido.
cias haverá um silêncio circunstan- posta, equivalerá à aceitação.
O tribunal considerou que os rei-
ciado ou qualificado, e, neste caso, Por exemplo, uma proposta es- terados fornecimentos sem recusa
equivale a uma manifestação da von- tabelecendo que o silêncio da outra configuravam uma relação periódica
tade. parte, em 30 dias, equivale à não e sucessiva, permitindo deduzir-se a
Nesse sentido é a redação do aceitação. vontade de aceitar.
artigo 111 do Código Civil: Antes da promulgação do Códi- O silêncio intencional como
Código Civil, art. 111. O silêncio go de Defesa do Consumidor havia omissão dolosa
empresas que forneciam cartões de
importa anuência, quando as circuns- Imagine-se o caso de um cor-
crédito, assinaturas de revistas etc.
tâncias ou os usos o autorizarem, e retor de imóveis que, sabedor de al-
sem qualquer solicitação do eventu-
não for necessária a declaração de guns aspectos negativos de um imó-
al cliente, estipulando que o silêncio
vontade expressa. vel (por exemplo, a existência de fei-
ou a não devolução do produto em
Repetindo, para que fique bem ra-livre na porta ou a ocorrência de
determinado tempo caracterizava
claro: o silêncio de um contratante inundações) os omite ao oferecê-lo
aceitação.
somente pode permitir a conclusão ao cliente.
O CDC vedou essa prática, con-
de que se trata de manifestação da O Código Civil trata do assunto
siderando-a abusiva.
vontade se, por determinadas cir- no artigo 147:
cunstâncias ou por usos e costumes CDC, art. 39: É vedado ao for-
Art. 147. Nos negócios jurídicos
do lugar, se puder deduzir uma ma- necedor de produtos ou serviços,
bilaterais, o silêncio intencional de
nifestação da vontade. dentre outras práticas abusivas:
uma das partes a respeito de fato ou
Sendo assim, não se pode acei- (...) qualidade que a outra parte haja ig-
tar a idéia de que quem simplesmen- VI - executar serviços sem a pré- norado, constitui omissão dolosa, pro-
te se cala, em face de uma proposta via elaboração de orçamento e auto- vando-se que sem ela o negócio não
de contrato, a aceita. rização expressa do consumidor, res- se teria celebrado.

(*) O autor é Advogado, Professor de Direito Imobiliário. Autor dos livros: Direito Imobiliário, Uma Abordagem
Didática, edição particular; Títulos de Crédito, Editora Plêiade; Contratos Mercantis, Editora Graph Press; Despesas
Ordinárias e Extraordinárias de Condomínio, Editora Juarez de Oliveira. Autor do curso a distância, por correspondên-
cia, sobre locação de imóveis, da empresa Diário das Leis. E-mail: jorgetarcha@jorgetarcha.com.br

3º DECÊNDIO MARÇO/2008 – Nº 9 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 9


JURISPRUDÊNCIA
JURISPRUDÊNCIA
PENHORA – DIREITOS SOBRE USUFRUTO – ALUGUEL DO IMÓVEL
PELA USUFRUTUÁRIA A TERCEIROS – CONSTRIÇÃO DA TOTALIDA-
DE DESSAS RENDAS – POSSIBILIDADE – EXERCÍCIO REGULAR DOS
DIREITOS DO CREDOR PARA CONCRETIZAR A GARANTIA (TJSP)
ACÓRDÃO A penhora em si não era e não é nula, como já havia
Penhora - Direitos sobre o usufruto de imóvel - sido reconhecido no mencionado aresto, tratando-se in-
Aluguel dele pela usufrutuária a terceiros - Constrição clusive de questão preclusa. O que ocorria, na realidade,
da totalidade dessas rendas - Possibilidade - Exercí- é que se o usufruto tornara-se estéril, não produzindo ren-
cio regular dos direitos do credor, para concretizar a das, a penhora era frustrada, podendo o exeqüente, em
garantia - Recurso não provido. seu interesse, providenciar outra constrição.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo Ele foi persistente, entretanto, preferindo manter a
de Instrumento nº 7.116.582-3, da Comarca de São Paulo penhora do exercício do usufruto, como era seu direito e
- SP (33ª Vara Cível - Proc. nº 827.378/98), sendo agra- diligenciou, então, até descobrir que a executada voltara
vante Virgínia Gomes Mendes e agravada Marsa Indús- a alugar a terceiros o imóvel, sendo obtida cópia do res-
tria e Comércio de Plásticos Ltda. pectivo contrato (fls. 120/123).

Acordam, em Décima Terceira Câmara, Seção de Deferiu, pois, o MM. Juiz a intimação desse novo lo-
Direito Privado do Tribunal de Justiça, por votação unâni- catário para que depositasse nos autos a integralidade
me, negar provimento ao recurso. dos aluguéis e é contra isso que basicamente se volta a
agravante, alegando que essas rendas têm caráter ali-
Inconformada com a r. decisão copiada às fls. 127,
mentar e que quando muito deveria a constrição se resu-
vem a agravante pedir seja ela reformada, afirmando, em
mir a 30% delas.
resumo, que deveria ser anulada a penhora que recaiu
sobre o usufruto de imóvel da qual é detentora e que a A decisão, porém, estava perfeitamente correta, ajus-
constrição deveria ser reduzida a um percentual dos alu- tando-se às regras do artigo 671 do Código de Processo
guéis percebidos. Civil. Não há que se falar agora, notadamente diante do
histórico do comportamento processual da devedora, que
Recurso processado regularmente.
se trataria de verba de natureza alimentar ou que deveria
É o Relatório. ser reduzida a constrição. A penhora é do exercício inte-
A pretensão da agravante é evidentemente inconsis- gral do usufruto do imóvel e o conteúdo econômico desse
tente. exercício é evidentemente a totalidade das rendas por ele
produzidas, não cabendo à executada a reserva para si
Pelos elementos de informação existentes nos au-
de parcela alguma. Como a penhora deve ser uma garan-
tos, incluindo os termos do v. acórdão de fls. 110, que
deu provimento a agravo anteriormente interposto, veri- tia efetiva, permitindo a satisfação integral do crédito e
fica-se que há muito tempo houve regular penhora do como a executada não tinha melhor garantia a oferecer,
exercício do direito de usufruto de um imóvel do qual a não houve a menor violação à regra do artigo 620 do Có-
executada ora agravante é detentora e em tentativas digo de Processo Civil.
anteriores da percepção pelo exeqüente dos respecti- Isto posto, negaram provimento ao agravo.
vos aluguéis ocorreram entraves, terminando por frus-
Presidiu o julgamento o Desembargador Luiz Sabbato
trar o conteúdo da penhora, visto que a devedora afir-
e dele participaram os Desembargadores Heraldo de Oli-
mou naquelas oportunidades ora ter sido o imóvel ocu-
veira e Irineu Jorge Fava.
pado gratuitamente por seus empregados, ora ter pas-
sado a ocupá-lo pessoalmente, não havendo produção São Paulo, 31 de janeiro de 2007
de frutos e rendimentos. Ulisses do Valle Ramos, Relator

10 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 3º DECÊNDIO MARÇO/2008 – Nº 9


JURISPRUDÊNCIA
JURISPRUDÊNCIA

LOCAÇÃO – FIANÇA – NULIDADE QUANDO AUSENTE A OUTORGA DA


MULHER DO FIADOR (STJ)
AgRg nos EDcl no Recurso Especial nº 631.799 - 1. Os embargos de declaração somente são cabí-
MS (2004/0024472-1) veis quando presente, ao menos, uma das hipóteses pre-
Relator: Ministro Paulo Gallotti vistas no art. 535 do Código de Processo Civil.

Agravante: Luíza Yoshiro Azato Goya 2. Ainda que o fiador seja parte ilegítima para argüir
a nulidade da fiança sem outorga uxória, no caso, não há
Advogado: Silzomar Furtado de Mendonça Júnior e como modificar o julgado embargado tendo em vista a
outro interposição do recurso especial também por seu cônju-
Agravado: Celso Antonio Salmazo e outro ge.
EMENTA 3. Embargos rejeitados.” (fl. 197)
Agravo regimental. Embargos de declaração. Re- A agravante renova as mesmas razões de
curso especial. Locação. Fiança sem outorga uxória. inconformismo já expostas nos embargos de declaração,
Nulidade. Decisão mantida por seus próprios funda- segundo as quais o recurso especial dos agravados se-
mentos. quer poderia ultrapassar o juízo de admissibilidade, dado
1. Não há como abrigar agravo regimental que não que não preencheu os seus requisitos e, tampouco, po-
logra desconstituir os fundamentos da decisão ata- deria ser provido, por falta de amparo legal.
cada. É o relatório.
2. Ainda que o fiador seja parte ilegítima para ar- VOTO
güir a nulidade da fiança sem outorga uxória, no caso, O Senhor Ministro Paulo Gallotti (Relator): Sem ra-
não há como modificar o julgado agravado tendo em zão a agravante.
vista a interposição do recurso especial também por
A decisão recorrida deve ser mantida pelo que nela
seu cônjuge.
se contém, tendo em conta que a recorrente não logrou
3. Agravo regimental a que se nega provimento. desconstituir quaisquer dos fundamentos então adotados,
ACÓRDÃO que ora submeto ao Colegiado para serem confirmados:
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam “Como cediço, o recurso de que se cuida tem o seu
os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Jus- alcance precisamente definido no artigo 535 do Código
tiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas de Processo Civil, vale dizer, eliminar da decisão qual-
a seguir, por unanimidade, negar provimento ao agravo quer obscuridade ou contradição ou suprir omissão sobre
regimental, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. ponto acerca do qual se impunha pronunciamento.
A Sra. Ministra Maria Thereza de Assis Moura e os In casu, as razões da embargante não lograram com-
Srs. Ministros Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado provar a existência de quaisquer dos referidos vícios, por-
do TRF 1ª Região) e Hamilton Carvalhido votaram com o quanto o julgado embargado, ao adentrar no mérito, teve
Sr. Ministro Relator. por preenchidos os requisitos de admissibilidade do ape-
lo especial.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Nilson Na-
ves. Nesse sentido:
Presidiu o julgamento a Sra. Ministra Maria Thereza ‘Processual Civil. Embargos de declaração.
de Assis Moura. Inexistência de irregularidades no Acórdão.
Brasília (DF), 06 de setembro de 2007 1. Os Embargos de Declaração somente são cabí-
veis quando ‘houver, na sentença ou no acórdão, obscuri-
Ministro Paulo Gallotti, Relator
dade, dúvida ou contradição’ ou ‘for omitido ponto sobre o
RELATÓRIO qual devia pronunciar-se o Juiz ou Tribunal’ (incisos I e II,
O Senhor Ministro Paulo Gallotti: Trata-se de agravo do art. 535, do CPC).
regimental desafiando decisão assim ementada:
2. Inocorrência de irregularidades no acórdão quan-
“Processo Civil. Embargos de declaração. Recurso do a matéria que serviu de base à interposição do recurso
especial. Negativa de prestação jurisdicional. Inexistência. foi devidamente apreciada no aresto atacado, com funda-
Fiança sem outorga uxória. Nulidade. mentos claros e nítidos, enfrentando as questões suscita-

3º DECÊNDIO MARÇO/2008 – Nº 9 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 11


JURISPRUDÊNCIA
JURISPRUDÊNCIA

das ao longo da instrução, tudo em perfeita consonância pelo cônjuge que prestou a fiança. Ilegitimidade. Decreta-
com os ditames da legislação e jurisprudência consolida- ção de ofício pelo magistrado. Impossibilidade. Recurso
da. O não acatamento das argumentações deduzidas no especial conhecido e improvido.
recurso não implica em cerceamento de defesa, posto que
1. É pacífica a jurisprudência do Superior Tribunal de
ao julgador cumpre apreciar o tema de acordo com o que
Justiça no sentido de que é nula a fiança prestada sem a
reputar atinente à lide.
necessária outorga uxória, não havendo considerá-la par-
3. Não está obrigado o Magistrado a julgar a questão cialmente eficaz para constranger a meação do cônjuge
posta a seu exame de acordo com o pleiteado pelas par- varão.
tes, mas, sim, com o seu livre convencimento (art. 131,
2. É inadmissível recurso especial pela alínea ‘a’ do
do CPC), utilizando-se dos fatos, provas, jurisprudência,
permissivo constitucional, quando os dispositivos
aspectos pertinentes ao tema e da legislação que enten-
infraconstitucionais tidos por violados não foram debati-
der aplicável ao caso concreto.
dos no acórdão recorrido, malgrado tenham sido opostos
4. Descabe, nas vias estreitas de embargos embargos declaratórios, restando ausente seu necessá-
declaratórios, que a matéria seja reexaminada, no intuito rio prequestionamento. Tal exigência tem como desiderato
de ser revista ou reconsiderada a decisão proferida. Não principal impedir a condução ao Superior Tribunal de Jus-
preenchimento dos requisitos necessários e essenciais à tiça de questões federais não examinadas no tribunal de
sua apreciação. origem. Aplicação das Súmulas nºs 282/STF e 211/STJ.
5. Preliminares indicadas que foram, implicitamente, 3. Nos termos do art. 239 do Código Civil de 1.916
apreciadas pela decisão embargada, visto que, ao se jul- (atual art. 1.650 do Novo Código Civil), a nulidade da fian-
gar o mérito, obviamente tem-se como ultrapassado o juízo ça só pode ser demandada pelo cônjuge que não a subs-
de admissibilidade. Dissídio jurisprudencial devidamente creveu, ou por seus respectivos herdeiros.
comprovado e matéria jurídica relativa aos dispositivos
4. Afasta-se a legitimidade do cônjuge autor da fian-
legais indicados como violados perfeitamente debatida no
ça para alegar sua nulidade, pois a ela deu causa. Tal
decisório a quo.
posicionamento busca preservar o princípio consagrado
6. Embargos rejeitados.’ na lei substantiva civil segundo a qual não poder invocar a
Por último, ainda que o fiador seja parte ilegítima para nulidade do ato aquele que o praticou, valendo-se da pró-
argüir a nulidade da fiança sem outorga uxória, no caso, não pria ilicitude para desfazer o negócio.
há como modificar o julgado embargado tendo em vista a 5. A nulidade da fiança também não pode ser declara-
interposição do recurso especial também por seu cônjuge. da ex officio, à falta de base legal, por não se tratar de
A propósito: nulidade absoluta, à qual a lei comine tal sanção, indepen-
dentemente da provocação do cônjuge ou herdeiros, legiti-
A - ‘Agravo regimental em recurso especial. Loca-
mados a argüi-la. Ao contrário, trata-se de nulidade relati-
ção. Falsificação da assinatura da cônjuge mulher. Fian-
va, válida e eficaz entre o cônjuge que a concedeu, o afian-
ça prestada sem a outorga uxória. Nulidade.
çado e o credor da obrigação, sobrevindo sua invalidade
1. É firme o entendimento desta Corte Superior de quando, e se, legitimamente suscitada, por quem de direi-
Justiça em que a fiança prestada por marido sem a outor- to, vier a ser reconhecida judicialmente, quando, então, em
ga uxória invalida o ato por inteiro, não se podendo limitar sua totalidade será desconstituído tal contrato acessório.
o efeito da invalidação apenas à meação da mulher.
6. Recurso especial conhecido e improvido.’
2. Inexiste óbice à argüição de nulidade da fiança,
(REsp nº 772.419/SP, Relator o Ministro Arnaldo
em se cuidando de recurso especial interposto também
Esteves Lima, DJU de 24/4/2006)
pela cônjuge mulher, que possui legitimidade para deman-
dar a anulação dos atos do marido. Ante o exposto, rejeito os embargos declaratórios.”
(fls. 198/200)
3. Agravo regimental improvido.’
Ante o exposto, nego provimento ao agravo regimental.
B - ‘Processual Civil. Locação. Fiança. Prequestio-
namento. Inexistência. Súmulas nºs 282/STF e 211/STJ. É como voto.
Ausência da outorga uxória. Nulidade relativa. Argüição Brasília, 06 de setembro de 2007

12 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 3º DECÊNDIO MARÇO/2008 – Nº 9


JURISPRUDÊNCIA
JURISPRUDÊNCIA

EXECUÇÃO – CONTRATO DE LOCAÇÃO – TÍTULO EXECUTIVO JUDI-


CIAL – AUSÊNCIA DE ASSINATURAS DE TESTEMUNHAS –
IRRELEVÂNCIA (TJMG)
Apelação Cível n° 1.0024.05.851412-6/001 em co- ação executiva.
nexão com Apelação Cível nº 1.0024.05.851413-4/001 - Relata o apelante que efetuou a entrega das chaves
Comarca de Belo Horizonte - Apelante(s): Sérgio Leopoldo do imóvel locado em 27/12/2003, afirmando que esta é a
da Costa - Apelado(a)(s): Arlinda Candiotto Camargos - data que marca o fim da relação jurídica havida entre os
Relator: Exmo. Sr. Des. D. Viçoso Rodrigues litigantes.
Processo Civil - Execução - Contrato de locação - Pugna pelo provimento do recurso, a fim de que seja
Título executivo judicial - Ausência de assinatura de declarada a apelada carecedora de ação ou, caso reste
duas testemunhas - Irrelevância - Inteligência dos art. superada a tese, seja reformada a sentença para limitar a
585, IV do CPC (redação original) e art. 585, V do CPC responsabilidade do apelante pelos valores devidos até a
(redação determinada pela Lei 11.382/2006). data de 27/12/2003.
O instrumento contratual que materializa relação Este o relatório. Decido.
locatícia constitui título executívo hábil a lastrear ação
executiva em que o credor objetiva a cobrança de alu- Conheço do recurso porque se fazem presentes os
guéis e encargos acessórios. pressupostos de admissibilidade.

ACÓRDÃO Pretende o apelante a extinção do processo de exe-


cução sob a alegação de ausência de título executivo, haja
Vistos etc., acorda, em Turma, a 18ª Câmara Cível
vista a ausência de assinatura de duas testemunhas no
do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incor-
instrumento de contrato de locação, bem como a ausên-
porando neste o relatório de fls., na conformidade da ata
cia de confecção de novo instrumento após o término do
dos julgamentos e das notas taquigráficas, à unanimida-
prazo inicialmente previsto pelos litigantes.
de de votos, em negar provimento ao recurso.
Sucessivamente, pretende o apelante que sua res-
Belo Horizonte, 04 de dezembro de 2007
ponsabilidade pelos débitos requeridos na ação de exe-
Des. D. Viçoso Rodrigues - Relator cução seja limitada à data de 27/12/2003, quando afirma
VOTO ter entregue as chaves do imóvel locado.
Trata-se de recurso de apelação interposto por Sér- Inicialmente, no que tange à ausência de título exe-
gio Leopoldo da Costa contra a sentença prolatada pelo cutivo capaz de dar lastro à execução em apenso, enten-
Juízo da 8ª Vara Cível da Comarca de Belo Horizonte que do que as alegações da apelação são desprovidas de fun-
julgou improcedentes os pedidos declinados pelo apelan- damento e não merecem acolhida.
te nos autos dos Embargos de Devedor opostos à execu-
O art. 584, IV do Código de Processo Civil, em sua
ção movida por Arlinda Candiotto Camargos.
redação original, já previa que o crédito decorrente de alu-
A sentença afastou a alegação de ausência de títu-
guel, desde que comprovado por contrato escrito, consti-
lo executivo, bem como reconheceu ser o apelante de-
tui título executivo hábil a instruir ação de execução. Não
vedor dos valores requeridos na ação de execução fun-
há exigência de que o contrato esteja subscrito por duas
dada em contrato de locação de imóvel residencial - R$
11.137,70 (Onze mil, cento e trinta e sete reais e setenta testemunhas.
centavos). Atualmente, o art. 584, V do CPC, com redação de-
Irresignado, aduz o apelante que a ação executiva terminada pela Lei 11.382/2006 prevê que o crédito
não estaria lastreada por título executivo, uma vez que o documentalmente comprovado decorrente de locação tem
instrumento de contrato de locação não estaria subcrito natureza de título executivo extrajudicial.
por duas testemunhas, conforme exigido pelo art. 585, II A meu juízo, o documento de fls. 11/13 dos autos da
do Código de Processo Civil.
execução em apenso atende de forma satisfatória a exi-
Alega que o contrato em que a apelada ampara seus gência legal, haja vista que comprova a relação locatícia
pedidos somente comprova a relação locatícia no perío- mantida entre os litigantes.
do compreendido entre 15/05/1999 a 14/11/2001, susten-
tando que após o lapso temporal informado a avença pas- Neste sentido:
sou a ser verbal, não servindo, portanto, para embasar a “Processual Civil. Locação. Contrato.. Art. 585, IV, do

3º DECÊNDIO MARÇO/2008 – Nº 9 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 13


JURISPRUDÊNCIA
JURISPRUDÊNCIA

CPC. Admissibilidade alínea “A”. Prequestionamento. mara Cível - Rel. Beatriz Pinheiro Caires - Data do Julga-
Embargos. Súmula 211/STJ. Dissídio não caracterizado. mento: 11/03/2004).
Art. 255 do RISTJ.
Também não procede a alegação do apelante no
I - Nos termos do art. 585, IV, do CPC, constitui título sentido de que após o decurso do prazo inicial pactuado a
executivo extrajudicial o contrato de locação escrito e de- relação locatícia passou a ser regida por contrato verbal,
vidamente assinado pelos contratantes. Não há exigên- haja vista que não teria sido elaborado novo instrumento
cia legal de que o instrumento seja, também, a exemplo contratual, conforme prevê a cláusula 21ª.
da hipótese do inciso II desse artigo, subscrito por duas
Aplica-se ao caso em voga a regra prevista pelo art.
testemunhas.
46, § 1º da Lei 8.245/91, que prevê a prorrogação da loca-
(...) ção em vigor, regida por instrumento inscrito, por prazo
(STJ - REsp 401265 / CE - Quinta Turma - Rel. Min. indeterminado.
Feliz Fischer - Data do Julgamento: 13/03/2002).
Com efeito, tendo o apelante permanecido no imóvel
EMENTA: Execução - Contrato de locação - Assina- por prazo superior a 30 (trinta) dias ao termo final do con-
tura de uma testemunha - Irrelevância - Art. 585, IV, CPC trato e não havendo qualquer oposição do locador, resta-
- Título executivo extrajudicial. ram mantidas as disposições da avença original pactua-
O crédito decorrente de aluguel, comprovado por da entre os litigantes, não havendo, portanto, que se falar
contrato escrito é título executivo, de acordo com o art. em contrato verbal.
585, IV, do CPC, não exigindo a lei que o contrato de loca- Por fim, no que diz respeito à limitação da responsa-
ção esteja assinado por duas testemunhas. Portanto, a
bilidade do apelante aos débitos apurados até a 27/12/
ausência de assinatura é irrelevante à questão, por ser
2003 entendo que não existe prova nos autos que seja
inaplicável à espécie a norma do inciso II, ante o princípio
capaz de comprovar que a restituição do imóvel à apela-
da especialidade.
da se deu naquela data.
(TAMG - Apelação Cível n.º 2.0000.00.310866-7/000
Não observou o embargante/apelante a regra pre-
- Terceira Câmara Cível - Rel. Duarte de Paula - Data do
vista pelo art. 333, I do Código de Processo Civil, pois não
Julgamento: 30/08/2000).
apresentou em juízo os elementos de convicção aptos a
EMENTA: Apelação - Execução - Indeferimento da dar sustentação ao direito alegado.
inicial - Contrato de locação - Título executivo extrajudicial
Assim, entendo que a sentença que reconheceu a
- Ausência de testemunhas - Irrelevância.
responsabilidade integral do apelante pelos débitos relati-
O crédito decorrente de aluguel de imóvel constitui vos ao contrato de locação que celebrou com a apelada
título executivo extrajudicial, desde que acompanhado de deve ser mantida em todos os seus termos.
prova escrita que, neste caso, é o próprio contrato de lo-
Em face do exposto, nego provimento ao recurso.
cação. O título executivo, em casos tais, é o crédito exis-
tente, sendo que o contrato locatício tem como função Custas pelo apelante, restando suspensa a
provar a existência de negócio jurídico entre as partes. exigibilidade da condenação por litigar sob o pálio da as-
Para estes fins, não é necessário que o contrato locatício sistência judiciária.
tenha sido subscrito por duas testemunhas. Votaram de acordo com o(a) Relator(a) os
(TAMG - Apelação Cível n.º 429.933-4 - Sexta Câ- Desembargador(es): Elpídio Donizetti e Fabio Maia Viani.

LOCAÇÃO – FIANÇA – PRORROGAÇÃO – CLÁUSULA DE GARANTIA


ATÉ A EFETIVA ENTREGA DAS CHAVES (STJ)
Recurso Especial nº 818.293 - SP (2006/0029313-3) Recorrido: Pedro Fausto
Relator: Ministro Carlos Fernando Mathias (Juiz Con- EMENTA
vocado do TRF 1ª Região) Processual Civil e Civil. Embargos de declaração.
Recorrente: Edgardo Armando Bonfante Aplicação de multa. Prequestionamento. Inviabilidade.

14 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 3º DECÊNDIO MARÇO/2008 – Nº 9


JURISPRUDÊNCIA
JURISPRUDÊNCIA

Locação. Fiança. Prorrogação. Cláusula de garantia posição contratual sobre a forma de prorrogação da loca-
até a efetiva entrega das chaves. ção se esta se opera por força de lei”.
1. Se os embargos declaratórios são opostos com Opostos embargos de declaração, estes foram rejei-
o nítido propósito de agitar questão constitucional ou tados com aplicação de multa de 1% sobre o valor da
federal, e não possuem caráter protelatório, inviável causa.
impor a multa a que se refere o parágrafo único do Alega violação aos arts. 114, 818, 819, 835, 837, 838,
art. 538 do Código de Processo Civil, incidindo a II, todos do Código Civil e 40, II e 47, da Lei nº 8.245/91,
Súmula nº 98 desta Corte. eis que a fiança foi prestada por prazo certo e que se
2. A Terceira Seção desta Corte consolidou o en- extingue ao termo do contrato originário, não se prorro-
tendimento de que os fiadores continuam responsá- gando com a locação.
veis pelos débitos locatícios posteriores à prorroga- Sustenta que o entendimento do acórdão recorrido é
ção legal do contrato, se anuíram expressamente a diametralmente oposto ao do Superior Tribunal de Justi-
essa possibilidade e não se exoneraram nas formas ça.
dos artigos 1.500 do Código Civil de 1916 ou 835 do
Diploma Civil atual, a depender da época que firma- Manifesta que não se pode conferir interpretação
ram a avença, q.v., verbi gratia, ERESP nº 566.633/CE. extensiva à fiança e a incidência da súmula 214/STJ.

3. Recurso especial a que se dá parcial provimen- Aduz que os embargos declaratórios nada tinham de
to. protelatórios, mas sim visavam o requisito recursal do
prequestionamento, o que afasta a multa imposta.
ACÓRDÃO
Contra-razões às fls. 178/179, em que pugna o re-
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são corrido pela manutenção do julgado.
partes as acima indicadas, acordam os Senhores Minis-
tros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por Admitido o recurso especial na origem, ascenderam
unanimidade, dar parcial provimento ao recurso, nos ter- os autos a este Tribunal.
mos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Paulo É o relatório.
Gallotti e Maria Thereza de Assis Moura votaram com o VOTO
Sr. Ministro Relator.
O Exmo. Sr. Ministro Carlos Fernando Mathias (Juiz
Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Nilson Convocado do TRF 1ª Região) (Relator): De início, pas-
Naves e Hamilton Carvalhido. sa-se a examinar a questão da multa imposta ao recor-
Presidiu o julgamento a Sra. Ministra Maria Thereza rente em virtude da oposição de embargos de declara-
de Assis Moura. ção.
Brasília (DF), 18 de setembro de 2007 A multa prevista no parágrafo único do art. 538 do
Ministro Carlos Fernando Mathias Código de Processo Civil deve ser afastada nos casos
em que os embargos declaratórios não possuem caráter
(Juiz Convocado do TRF 1ª Região), Relator protelatório, porque opostos com o nítido propósito de pro-
RELATÓRIO vocar o prequestionamento.
O Exmo. Sr. Ministro Carlos Fernando Mathias (Juiz Esse é o conteúdo do Enunciado nº 98 de nossa
Convocado do TRF 1ª Região) (Relator): Trata-se de re- Súmula, in verbis: “Embargos de declaração manifesta-
curso especial interposto por Edgardo Armando Bonfante, dos com notório propósito de prequestionamento não tem
com fundamento nas alíneas a e c do permissivo consti- caráter protelatório.”
tucional, ofertado contra acórdão prolatado pelo Tribunal Nesse sentido caminha a jurisprudência desta Cor-
de Justiça do Estado de São Paulo, assim ementado (fls. te, merecendo destaque os seguintes julgados:
55/56):
“Agravo de instrumento - Agravo regimental - Deci-
“Locação de imóveis. Cobrança. Embargos à execu- são monocrática de membro de Tribunal - Recurso espe-
ção. Contrato de locação prorrogado por prazo cial - Inadmissão. I - A decisão monocrática, ainda que
indeterminado. Responsabilidade do fiador até a efetiva proferida por membro de Tribunal, não se enquadra no
entrega das chaves. permissivo constitucional do Recurso Especial. II - A deci-
A responsabilidade do fiador até a efetiva entrega das são desafiada não foi proferida em última instância nem
chaves é regra contida na Lei do Inquilinato, que não pode foi prolatada por Tribunal. III - Agravo Regimental
sofrer interferência do que dispõe a respeito da fiança, no improvido” (AgRgAg nº 177.954/RN, Relator Ministro
plano genérico, o Código Civil. Irrelevante qualquer dis- Waldemar Zveiter, DJ 08.3.2000).

3º DECÊNDIO MARÇO/2008 – Nº 9 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 15


JURISPRUDÊNCIA
JURISPRUDÊNCIA

“Processual civil. Multa. INSS. Interposição de recur- sultantes de prorrogação do contrato de locação sem a
so cabível. Caráter protelatório. Inexistência. - É descabi- anuência daquele, sendo irrelevante a existência de cláu-
da a aplicação da multa por interposição de recurso, con- sula estendendo a obrigação fidejussória até a entrega
siderado como de caráter protelatório, na hipótese em que das chaves. Precedentes. Agravo regimental a que se nega
a legislação processual assegura ao INSS a faculdade de provimento.”
manifestar recurso de agravo regimental, com vistas ao Entretanto, ao melhor apreciar a matéria e legislação
esgotamento das vias recursais ordinárias, para fins de correlata, convenci-me de forma contrária.
posterior utilização dos recursos extraordinário e especi-
al. - Recurso especial conhecido.” (REsp. nº 438.898/RJ, A fiança é a promessa, feita por uma ou mais pesso-
Relator Ministro Vicente Leal, DJ 04.11.02) as, de satisfazer a obrigação de um devedor, se este não
a cumprir, assegurando ao credor o seu efetivo cumpri-
Assim, a oposição de embargos de declaração com mento.
o fito de prequestionamento não configura abuso por par-
te da recorrente, a justificar a multa imposta. Esse tipo de garantia tem como características a
acessoriedade, a unilateralidade, a gratuidade e a
Quanto aos efeitos da fiança, o tema foi resolvido subsidiariedade.
pela Terceira Seção, no EREsp nº 566.633, relator Minis-
tro Paulo Medina, em que ficou acordado que continuam Ante suas características, e nos termos do Código
os fiadores responsáveis pelos débitos locatícios posteri- Civil, tanto o revogado (art. 1.483) quanto o novo (art. 819),
ores à prorrogação legal do contrato. A prorrogação da o contrato de fiança não admite interpretação extensiva.
fiança somente ocorre se os fiadores anuíram expressa- Nestes termos, pode-se extrair que a fiança: a) é um
mente a essa possibilidade e não se exoneraram nas for- contrato celebrado entre credor e fiador; b) é uma obriga-
mas dos arts. 1.500 do Código Civil de 1916 ou 835 do ção acessória à principal; c) pode ser estipulado em con-
Diploma Civil atual, a depender da época que firmaram a trato diverso do garantido, como também inserido em uma
avença. de suas cláusulas, mas sem perder a sua acessoriedade;
No julgamento do AgRg no REsp nº 713.033, publi- d) não comporta interpretação extensiva, logo o fiador só
cado no DJ de 27/8/2007, o voto proferido no EREsp nº responderá pelo que estiver expresso no instrumento de
566.633 é transcrito nos seguintes termos, q.v. verbi gratia: fiança, e, e) extingue-se pela expiração do prazo determi-
nado para sua vigência; ou, sendo por prazo
“Imprescindível frisar que esta Corte Superior possui indeterminado, quando assim convier ao fiador (art. 1.500
inúmeros precedentes, no sentido de que o contrato de do CC revogado e 835 do novo CC); ou quando da extinção
fiança deve ser interpretado restritivamente, pelo que é do contrato principal.
inadmissível a responsabilização do fiador por obrigações
locativas resultantes de aditamentos do contrato de loca- Ao transportar este instituto para a Lei de Locação,
ção sem a anuência daquele, sendo irrelevante a existên- imprescindível que os artigos do referido Diploma Legal
cia de cláusula estendendo a obrigação fidejussória até a se adaptem aos princípios norteadores da fiança.
entrega das chaves. Ainda que o artigo 39 da Lei n.º 8.245/91 determine
Nesse sentido: EREsp 302.209/MG, Min. Gilson Dipp, que “Salvo disposição contratual em contrário, qualquer
DJ 18/11/2002; REsp 697470/SP, Min. Felix Fischer, DJ das garantias da locação se estende até a efetiva devolu-
26.09.2005; AgRg no Ag 633522/PR, Min. Paulo Gallotti, ção do imóvel”, tal regramento deve se compatibilizar com
DJ 29.08.2005; AgRg no Ag 422884/SP, Min. Arnaldo o instituto da fiança, se esta for a garantia prestada.
Esteves Lima, DJ 29.08.2005; EDcl no AgRg no Ag Assim, a cada contrato de fiança firmado, diferentes
560438/SC, Min. Laurita Vaz, DJ 23.05.2005; AgRg no conseqüências serão produzidas aos encargos do fiador.
REsp 682862/RS, Min. Nilson Naves, DJ 05.09.2005; AgRg Dessa forma, há que se fazer algumas considera-
no REsp 568968/SC, Min. José Arnaldo da Fonseca, DJ ções:
17.10.2005; AgRg no Ag 510498/SP, Min. Hamilton
Carvalhido, DJ 29.08.2005; REsp 682430, Min. Hélio 1º) se os fiadores concordaram em garantir a loca-
Quaglia Barbosa, DJ 05.10.2005 e AgRg no REsp 502836/ ção, tão-somente, até o termo final do contrato locativo
SP, DJ 14.03.2005, de minha relatoria, assim ementado: (prazo certo), não responderão pelos débitos advindos da
“Processual Civil e Civil. Locação. Fiança. Interpre- sua prorrogação para prazo indeterminado;
tação restritiva. Prorrogação do contrato de locação. Fal- 2º) se os fiadores concordaram em garantir a loca-
ta de anuência do fiador. Responsabilidade. Inexistência. ção até o termo final do contrato locativo (prazo certo) e
Súmula 214/STJ. O contrato de fiança deve ser interpre- expressamente anuíram em estender a fiança até a en-
tado restritivamente, pelo que é inadmissível a trega do imóvel nos casos de prorrogação do contrato
responsabilização do fiador por obrigações locativas re- locativo para prazo indeterminado, responderão pelos

16 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 3º DECÊNDIO MARÇO/2008 – Nº 9


JURISPRUDÊNCIA
JURISPRUDÊNCIA

débitos daí advindos. locatício. Para que se estenda às renovações ou pror-


Entretanto, na segunda hipótese, ante o caráter gra- rogações oriundas de aditamento contratual entre in-
tuito da fiança e a indefinição temporal para a entrega do quilino e senhorio, é necessária a anuência expressa
imóvel, eis que depende exclusivamente da vontade do do fiador. Não basta, para esse efeito, a simples inser-
locatário, a garantia deve ser entendida como sendo por ção de cláusula de responsabilidade até a entrega das
prazo indeterminado, a possibilitar ao fiador a sua exone- chaves. O art. 39 da lei do Inquilinato opera plenamen-
ração, nos termos do artigo 1.500 do Código Civil revoga- te dentro do prazo determinado (ou não) estipulado ori-
do, se o contrato tiver sido celebrado na sua vigência, ou ginalmente no contrato de locação. Para aplicar-se após
do artigo 835 do Novo Código Civil, se o contrato foi acor- exaustão de tal prazo, ter-se-á de verificar os termos
dado após a sua entrada em vigor. da convenção. A norma do art. 39 deverá se harmoni-
zar com os termos do contrato a serem observados após
Nas lições de Walmir de Arruda Miranda Carneiro: o vencimento do prazo primitivo. Não havendo conven-
“A fiança estipulada para durar até a entrega das ção expressa sobre a vigência da fiança além do prazo
chaves do imóvel ao locador é garantia estabelecida sem do contrato primitivo, a simples declaração de respon-
limitação de tempo, coisa que permite ao fiador exone- sabilidade do fiador até a entrega das chaves não man-
rar-se, a partir do término do prazo contratual, nos ter- tém a fiança indefinidamente. Esse parece ser a atual
mos do art. 1.500 do Código Civil, salvo se renunciou a sinalização da jurisprudência do STJ (Terceira Seção)
esse direito. Conforme acertadamente pondera Lauro Operada a prorrogação legal ou convencional da loca-
Laerte de Oliveira ‘A fiança prestada no contrato de lo- ção e passando a vigorar por prazo indeterminado, a
cação até a entrega das chaves é inexoravelmente sem fiança, quando também prorrogada, ficará sujeita à
limitação de tempo. Nem se argumente que a data da exonerabilidade voluntária assegurada pelo art. 1.500
desocupação do imóvel é o termo final. Este é indefini- do antigo Código Civil (art. 835 do novo Código Civil).
do. Como a locação pode durar um ano, pode durar cin- Ineficaz é a cláusula de renúncia prévia aos favores nos
qüenta anos. Daí preconizarmos a possibilidade de exo- mencionados artigos, por força da garantia fundamen-
neração do fiador na locação prorrogada por tempo tal de liberdade individual, que não condiz com
indeterminado, em que houver cláusula de responsabili- vinculação obrigacional perpétua, em temas como o da
dade até a entrega das chaves. Vale dizer que somente fiança. Daí a irrenunciabilidade do direito de exonera-
após a prorrogação sem limitação de tempo é dado ao ção da fiança prestada sem predeterminação de tem-
fiador pleitear a exoneração e nunca no período inicial po. Configurada a situação de exonerabilidade e exer-
de locação por prazo certo’ (ob. cit., p. 77)” (Carneiro, cendo o fiador a sua faculdade liberatória, cabe ao lo-
Walmir de Arruda Miranda; ‘Anotações à Lei do cador o direito de exigir do inquilino novo fiador, sob
Inquilinato’; São Paulo: ed. RT; 2000") pena de resolução do contrato (Lei n.º 8.245/91, art.
Merece destaque a conclusão exarada pelo Profes- 40, inc. IV) Não me parece, data venia, merecedora de
sor Humberto Theodoro Júnior em conferência proferida apoio a tese de que seria desprovida de validade a con-
no Seminário “A fiança locativa em face do novo Código venção que expressamente estabeleça a continuidade
Civil”, realizada no Centro de Estudos Jurídicos, no dia 22 da fiança na hipótese de prorrogação da locação por
de agosto de 2003, no Tribunal de Alçada de Minas Ge- prazo indeterminado. Isso porque o Código Civil con-
rais, em Belo Horizonte - MG, verbatim: sagra a possibilidade de fiança por dívida futura e de
“A maior parte das divergências jurisprudenciais em duração indeterminada. Desde que se preveja essa pror-
torno da prorrogação do contrato locativo assegurado rogação da garantia fidejussória de maneira clara e pre-
por fiança decorre da não-distinção entre os fenôme- cisa, não há razão para negar-se efeito à avença. Cria-
nos da extinção (ex lege) e da exoneração (ex voluntate) se, na espécie, um contrato de garantia de prazo
da garantia. Não há nulidade da cláusula negocial que indeterminado, cuja a vigência persistirá enquanto não
preveja a superveniência de prorrogação legal ou con- se der a denúncia de que trata o art. 835 do novo Códi-
vencional da locação, ficando desde logo o fiador res- go Civil. Não há, outrossim, incompatibilidade entre o
ponsável pelas obrigações do locatário relativas ao novo art. 39 da Lei do Inquilinato e o art. 835 do novo Código
período de ampliação da vigência contratual. É válida a Civil. Prorrogado o contrato locatício por prazo
fiança tanto para as dívidas atuais como para as dívi- indeterminado, a fiança também se prorroga por prazo
das futuras do novo Código Civil, art. 821. A previsão indeterminado. Durante essa nova etapa da garantia,
de responsabilidade do fiador até a restituição do imó- surgirá para o fiador, no entanto, a faculdade de denun-
vel ao locador (entrega das chaves) não prevalece, se- ciar, com efeito ex nunc, o contrato de fiança, da mes-
gundo a atual jurisprudência do STJ (Terceira Seção), ma maneira que qualquer das partes do contrato de lo-
senão durante o prazo certo estatuído no original pacto cação de prazo indeterminado pode rompê-lo.”

3º DECÊNDIO MARÇO/2008 – Nº 9 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 17


JURISPRUDÊNCIA
JURISPRUDÊNCIA

CONDOMÍNIO – EDIFÍCIO – PRETENDIDA PERMISSÃO DE MANUTEN-


ÇÃO DE ANIMAL EM APARTAMENTO – INADMISSIBILIDADE – VEDAÇÃO
PELA CONVENÇÃO CONDOMINIAL – DIREITO INDIVIDUAL QUE NÃO
PODE SER IMPOSTO À COLETIVIDADE DE MORADORES (TJSP)
ACÓRDÃO E, por opção dos moradores, inexistem quaisquer
Condomínio. Edifício. Pretendida permissão de outros animais no local. Aliás, a prova oral indica que a
manutenção de animal em unidade autônoma. proibição de animais foi circunstância que justificou a aqui-
Inadmissibilidade. Vedação pela convenção sição do apartamento por outros moradores (fls. 137, 142
condominial. Inexistência de quaisquer outros animais e 145).
no local, por opção dos moradores. Oposição dos Não bastasse, há prova de que foi a filha da autora
condôminos, de modo geral, à permanência de ani- expressamente comunicada da proibição antes da loca-
mais. Direito individual que não pode ser imposto à ção do apartamento, e mudou-se para o condomínio-réu
coletividade de moradores. Ação julgada improceden- com o cão escondido dentro de uma bolsa (fls. 138), de
te. Recurso provido. Voto vencido. modo que tinha ciência de que estava agindo em contra-
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apela- riedade com a convenção condominial.
ção Cível com Revisão nº 345.553-4/4-00, da Comarca E como os moradores, de modo geral, se manifesta-
de São José dos Campos, em que é apelante Condomí- ram no sentido de oposição à permanência de animais no
nio Edifício Uirapuru, sendo apelada Georgina Lopes prédio (fls. 54/57), não há como se impor aos demais a
Ferreira. permanência do animal da autora.
Acordam, em Sexta Câmara de Direito Privado do Cumpre consignar, ademais, que o tamanho do ani-
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, proferir a mal ou o risco à segurança e limpeza não pode ser o úni-
seguinte decisão: “deram provimento ao recurso, por co fundamento da permanência.
maioria de votos, vencido o revisor, que fará declaração Nem há se falar em ofensa ao direito de propriedade
de voto.”, de conformidade com o voto do Relator, que assegurado na Constituição da República, uma vez que
integra este acórdão. um direito individual não pode ser imposto à coletividade
O julgamento teve a participação dos Desembargadores de moradores.
Magno Araújo (Presidente, sem voto), Percival Nogueira Como se tem decidido:
E Encinas Manfré.
“Condomínio. Permanência de animais no interior de
São Paulo, 25 de maio de 2006 edifício. Existência de convenção expressa a respeito, ve-
Vito Guglielmi, Relator dando tal possibilidade. Alegada repercussão de decisão
VOTO desfavorável, no aspecto emocional das filhas da autora.
1. Adotado o relatório de fls. 184/185, que fica fazen- Ocorrência, todavia, de adesão expressa à convenção
do parte integrante deste, por maioria de votos, dá-se pro- quando da locação. Invocação do inc. XXII do art. 5º da
vimento ao recurso. Constituição da República de 1988 descabível, estando o
direito de propriedade limitado ao interesse coletivo, pre-
2. Ação de obrigação de não fazer que busca a per-
ponderante. Recurso provido” (TJSP - Ap. Cível n. 152.335-
missão de manutenção de animal em unidade autônoma
2 - São Vicente - Rel. Laerte Nordi - j. 28.12.89).
do condomínio-réu.
“Declaratória. Objetivo. Direito de manter animal de
Julgada procedente, sobreveio o apelo, sob o funda-
estimação na unidade residencial. Inadmissibilidade. Con-
mento de que o pedido da autora é contrário à convenção
venção do Condomínio proibindo a permanência de ani-
condominial e viola os direitos coletivos.
mais nos apartamentos. Inexistência de violação às nor-
E assiste razão ao apelante, ressalvadas as convic- mas constitucionais. Ação idônea e sem vício. Prelimina-
ções da D. Magistrada e do Ilustre Desembargador Revi- res rejeitadas. Recurso provido. O fato de a Convenção e
sor. o regulamento interno disciplinarem direitos e deveres dos
Segundo o capítulo VIII, item 9º, da Convenção condôminos, com a finalidade de conciliar conveniência e
Condominial, é proibido “manter nos apartamentos, ainda interesses, condicionados às normas de boa vizinhança,
que temporariamente, animais e aves de qualquer espé- a teor do artigo 19 da Lei n. 4.591/64, não pressupõe qual-
cie” (fls. 25). quer violação à regra do artigo 5º, XXII, da Constituição

18 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 3º DECÊNDIO MARÇO/2008 – Nº 9


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da República, que assegura o direito de propriedade, po- gador Revisor, dá-se provimento ao recurso.
rém dentro dos princípios e limites fixados em lei ordiná- Declaração de Voto Divergente do Des. Percival No-
ria” (TJSP - Ap. Cível n. 246.344-2 - Itanhaém - 12ª Câ- gueira.
mara Civil - Rel. Scarance Fernandes - j. 25.04.95).
Ouso divergir do douto Relator, que entendeu por dar
“Cominatória. Animal (cão de raça ‘pit bull’). Perma- provimento à apelação, para julgar improcedente a ação.
nência em condomínio. Uso nocivo da propriedade. Ação
julgada parcialmente procedente. Inadmissibilidade. Cir- Isto porque, a meu ver, não merecia provimento a
cunstâncias ponderáveis ante a impossibilidade de convi- pretensão recursal, pelas razões deduzidas na própria r.
vência com condôminos e funcionários permanentes ou sentença, a saber:
temporários do Edifício, ordenando-se a retirada do cão A convenção condominial afronta os dispositivos
em ordem à preservação da incolumidade física daque- constitucionais que asseguram o direito de propriedade e
les. Imposição de cautelas que, malgrado aceitáveis, não de resguardo da vida privada. Tendo a prova demonstra-
afastam a ocorrência de risco e eventual dano, ainda que do que o animal não causa prejuízo à segurança, sosse-
mínimo, à segurança de pessoas que circulam nas partes go ou saúde dos demais moradores, a aludida proibição é
comuns do edifício, inclusive visitantes e prestadores de abusiva, por caracterizar indevida interferência na vida
serviços ao condomínio. Perdas e danos improvados. privada de cada família lá residente, conforme preceden-
Recurso parcialmente provido” (TJSP - Ap. Cível n. te jurisprudencial colacionado na sentença (TJSP, A.C.
137.433-4/5 - São Paulo - 4ª Câmara de Direito Privado - 282.082-1, C. 2ª Câmara de Direito Privado, rel. Des.
Rel. Munhoz Soares - j. 22.05.03). Roberto Bedran, j. em 9.5.97, v.u.).
Logo, demonstrado que o comportamento da autora Ressaltando o limitado caráter prático da questão,
está contrário ao disposto na convenção condominial e à ante a mudança da autora (fls. 173), entendo, pelos moti-
vontade da maioria dos condôminos, a improcedência da vos já acima explicitados, com o máximo respeito ao en-
ação era de rigor. tendimento do douto Relator e, ainda, ao do ilustre patrono
da apelante-ré, que não deveria ser acolhida a pretensão
Com o resultado, invertem-se os ônus da sucum- recursal.
bência. Portanto, pelo exposto, pelo meu voto, se nega pro-
3. Nestes termos, vencido o Eminente Desembar- vimento ao apelo.

LOCAÇÃO – AÇÃO RENOVATÓRIA – OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS –


SEGURO DE INCÊNDIO – DESCUMPRIMENTO – INFRAÇÃO CONTRATUAL
A AUTORIZAR A NÃO RENOVAÇÃO PELO LOCADOR (TJMG)
Apelação Cível n° 1.0024.05.629217-0/001 - Comarca do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incor-
de Belo Horizonte - Apelante(s): Vezo Ind Com Moda Ltda porando neste o relatório de fls., na conformidade da ata
- Apelado(a)(s): Margarida Jorge Sarsur e outro(a)(s) - dos julgamentos e das notas taquigráficas, à unanimida-
Relatora: Exmª. Srª. Desª. Evangelina Castilho Duarte de de votos, em negar provimento.
EMENTA Belo Horizonte, 02 de outubro de 2007
Renovatória de locação - Obrigações contratuais Desª. Evangelina Castilho Duarte - Relatora
- Seguro de incêndio - Descumprimento. VOTO
Constitui infração contratual, que autoriza os lo- Tratam os autos de renovação de locação comercial
cadores a se oporem à renovação da locação, a au- do imóvel situado na rua Mato Grosso, nº. 560/570, bairro
sência de comprovação do pagamento do seguro con- Barro Preto, Belo Horizonte, ao argumento de ter a Ape-
tra incêndio por todo o período de vigência da loca- lante firmado contrato com os Apelados, pelo valor de
ção. Há preclusão do direito do locatário, que só com- R$2.251,00 mensais, e que vigora desde 01 de agosto de
prova a celebração de contrato de seguro contra in- 2000, com término previsto para 31 de julho de 2005.
cêndio, por período posterior ao ajuizamento da ação
renovatória. Apelação não provida. Alegaram os Apelantes que desenvolvem a mesma
atividade de comércio varejista de artigos de vestuário por
ACÓRDÃO mais de três anos, cumprindo o contrato de locação, com
Vistos etc., acorda, em Turma, a 10ª Câmara Cível quitação dos tributos e taxas incidentes sobre o imóvel,

3º DECÊNDIO MARÇO/2008 – Nº 9 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 19


JURISPRUDÊNCIA
JURISPRUDÊNCIA

pagando pontualmente os aluguéis. preencher os requisitos do art. 51, comprovando, ainda, o


Concluíram que têm direito à renovação da locação cumprimento das obrigações do contrato em curso.
por igual período, pretendendo-a por mais 05 anos e ofe- A Apelante afirma que não tinha obrigação de con-
recendo aluguel mensal de R$2.530,34, com reajuste anu- tratar seguro contra incêndio, por interpretação da cláu-
al pelo IGPM acumulado. sula quarta, item “d” do contrato de locação, fls. 13/16,
A r. decisão recorrida, fls. 246/252, julgou extinto o assim redigida:
processo sem resolução do mérito, com base no art. 267, “Quarta: - Das Taxas e dos Impostos: - Que além
IV, CPC, ao entendimento de ausência de requisito es- dos aluguéis na cláusula terceira, o Locatário também
sencial para a propositura da ação renovatória, conforme pagará ... b) - Os seguros, que a resguardar o imóvel;
art. 71, II, da Lei 8245/91, e condenou a Apelante ao pa- enfim em todos os impostos e taxas que venham a incidir;”
gamento de custas e honorários advocatícios. A regra geral a respeito do contrato de seguro na
A Apelante pretende seja cassada a decisão de 1º locação de imóveis, é contra incêndio, com a finalidade
grau, ao argumento de ser locatária cumpridora de suas de resguardar o patrimônio do locador.
obrigações contratuais, além de ter realizado diversas re- Os termos da cláusula quarta do contrato de locação
formas no imóvel, mantendo-o em ótimo estado de con- conduzem à conclusão de que o locatário estava obriga-
servação. do à celebração de contrato de seguro contra incêndio,
Alega que, atendendo determinação do juízo, com- por se tratar da modalidade que possibilita resguardar o
provou o pagamento do seguro contra incêndio, cumprin- imóvel locado.
do o requisito legal. Observa-se que o MM. Juiz a quo, atendendo a re-
Acrescenta que a apólice apresentada é suficiente querimento dos Apelados, f. 81, determinou que a Ape-
para comprovar sua adimplência contratual, visto que as lante comprovasse a contratação do seguro, conforme
apólices vencidas nos anos anteriores não teriam valor previsão contratual.
jurídico ao tempo da decisão. A Apelante apresentou apólice de seguro contra in-
Ressalta que, embora o contrato preveja a cêndio, emitida em 01 de dezembro de 2006, com vigên-
contratação de seguro, trata-se de cláusula genérica, não cia de 06 de novembro de 2006 a 06 de novembro de
especificando a modalidade de seguro a ser contratado, 2007.
sendo, pois, impossível exigir que a Apelante promoves- A contratação do seguro ocorreu após o ajuizamento
se a contratação de todos os tipos existentes. da ação renovatória, também em data posterior à deter-
Alega que, convicto da extinção do processo sem a minação do juízo, conforme fls. 239 e 243/244, e abran-
resolução do mérito, caberia ao MM. Juiz a quo proferir gendo período posterior à vigência do contrato de loca-
julgamento imediato, não determinando a produção da ção.
prova pericial técnica, que demandou tempo e despesas Ora, cabia à Apelante comprovar a contratação do
desnecessárias para o apelante. seguro a partir do início da locação, agosto de 2000, bem
Destaca que a prova pericial lhe foi favorável, cons- como sua renovação durante a vigência do contrato, para
tatando o valor da locação em R$2.365,62, ao contrário se desincumbir da exigência prevista no art. 71, II, da Lei
do pretendido pelos apelados no valor de R$5.000,00. 8.245/91.
Pretende a cassação da sentença. É a lição de Maria Helena Diniz:
A r. decisão recorrida, f. 246/252, foi publicada em 30 “Prova do fiel ou exato cumprimento do contrato em
de maio de 2007, vindo o recurso em 14 de junho, sendo curso pelo inquilino, demonstrando a observância a todas
tempestivo e acompanhado do devido preparo. as exigências legais e contratuais, mediante a apresenta-
Estão presentes, portanto, os requisitos para conhe- ção de documentos, de recibos de aluguéis ou de encar-
cimento do recurso. gos locatícios etc. Nesta exigência está compreendido o
adimplemento não só das cláusulas contratuais exaradas
O art. 51, da Lei 8.245/91, assegura ao locatário o no contrato renovando, inclusive as relativas ao pagamento
direito à renovação da locação comercial, desde que se de tributos, mas também às obrigações legais. Se houver
trate de contrato escrito, firmado por tempo determinado, alguma infração legal ou contratual, o locador estará au-
com vigência de cinco anos, e exploração da mesma ati- torizado a opor-se à renovatória, recusando-se a efetivá-
vidade comercial por, no mínimo, 03 anos ininterruptos. la, porque a ação não pode beneficiar a quem infringir
De conformidade com o disposto no art. 71, da Lei 8.245/ obrigação legal ou contratual”. (in Lei de Locações de Imó-
91, para ajuizamento da ação renovatória, o locatário deve veis Urbanos Comentada, 4ª ed., Saraiva, São Paulo,

20 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 3º DECÊNDIO MARÇO/2008 – Nº 9


JURISPRUDÊNCIA
JURISPRUDÊNCIA

1997, p. 293/294) contratação do seguro, aplicando-se a regra do art. 960


Nesse mesmo sentido é a jurisprudência: do CC, desnecessária, portanto, a notificação.” (RT, 644/
125).
“Locação - Infração contratual - Não realização de
seguro contra incêndio. Nos contratos de locação, se o Impõe-se concluir que a Apelante não preencheu os
inquilino não efetua o seguro contra incêndio a que se requisitos que autorizam o ajuizamento da ação renova-
obrigara, tem-se por configurada infração contratual, au- tória.
torizada a rescisão do ajuste, pouco importando que não Logo, não há motivos para reforma da r. decisão re-
tenha havido prejuízo para o locador face da não ocorrên- corrida.
cia de sinistro”. (RT, 622/144). Diante do exposto, nego provimento à apelação apre-
E, ainda: sentada por Vezo Indústria e Comércio da Moda Ltda.,
“Locação - Infração contratual - Seguro contra incên- para manter íntegra a r. decisão recorrida.
dio - Seguro contratado em tempo e modo diversos da-
queles estipulados na avença locatícia. Infração contratual Custas recursais, pela Apelante.
configurada. Desnecessidade de notificação para consti- Votaram de acordo com o(a) Relator(a) os
tuição em mora. A mora se configura desde o momento Desembargador(es): Cabral da Silva e Roberto Borges
da inobservância da cláusula determinante da imediata de Oliveira.

AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS – PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE


CORRETAGEM – COMPRA E VENDA – PREÇO FIXADO EM RAZÃO DA
ÁREA DO IMÓVEL – VENDA “AD MENSURAM” – VERIFICAÇÃO DE DI-
FERENÇA A MENOR DA ÁREA DO IMÓVEL (TJRS)
Primeira Turma Recursal Cível - nº 71000936831 - parcial provimento.
Comarca de Lajeado - Imobiliaria Snil - Recorrente: Paulo Participaram do julgamento, além do signatário (Pre-
Cesar Saatkamp - Recorrente Rejane Kappel sidente), os eminentes Senhores Dr. Heleno Tregnago
Ação de reparação de danos. Prestação de servi- Saraiva e Dr. João Pedro Cavalli Júnior.
ços de corretagem. Compra e venda de imóvel. Preço Porto Alegre, 28 de setembro de 2006
fixado em razão da área do imóvel (venda ad
mensuram e não ad corpus). Verificação de diferença Dr. Ricardo Torres Hermann, Presidente e Relator
a menor da área do imóvel. Impossibilidade de a inde- VOTOS
nização compreender a comissão e o valor restituído Dr. Ricardo Torres Hermann (Presidente e Relator)
em razão da menor valia do imóvel. Merece parcial provimento o recurso.
Embora deficiente a prestação dos serviços de Não resta a menor dúvida de que o corretor de imó-
corretagem, o que se deu pela omissão na verificação veis recorrente omitiu-se na verificação da correta
da (sic) total do imóvel negociado, tal conduta ilícita metragem do imóvel negociado.
não repercutiu em prejuízo ao autor no que diz res-
peito à necessidade de conceder abatimento propor- E, na forma do disposto no art. 723, do Código Civil,
cional no preço do imóvel em razão da constatação deve prestar ao cliente todos os esclarecimentos que es-
de área menor no imóvel, porque tal conseqüência tiverem ao seu alcance, acerca da segurança ou risco do
decorreu de imposição legal e não de culpa do réu. negócio, das alterações de valores e do mais que possa
Assim, devida apenas a restituição da comissão de influir nos resultados da incumbência, sob pena de res-
corretagem, mas não a devolução parcial do preço do ponder por perdas e danos.
imóvel correspondente à área faltante naquela con- No caso dos autos, não atentando o recorrente ao
signada no contrato de compra e venda de imóvel. fato de que havia, nos fundos do terreno, área verde que
Recurso parcialmente provido. não integrava a área titulada, não poderia tê-la feito cons-
tar no contrato como se pertencesse ao recorrido. Tal ví-
ACÓRDÃO cio de qualidade do serviço era suficiente, inclusive, para
Vistos, relatados e discutidos os autos. a resolução do contrato, consoante se vê do disposto no
Acordam os Juízes de Direito integrantes da Primei- art. 500, “caput”, do Código Civil¹.
ra Turma Recursal Cível dos Juizados Especiais Cíveis A opção da compradora de aceitar a redução proporci-
do Estado do Rio Grande do Sul, à unanimidade, em dar onal do preço não afasta a culpa pelo negócio mal realizado.

3º DECÊNDIO MARÇO/2008 – Nº 9 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 21


JURISPRUDÊNCIA
JURISPRUDÊNCIA

Todavia, embora deficiente a prestação dos serviços da no contrato de compra e venda de imóvel.
de corretagem, tal conduta ilícita não repercutiu em preju- Em face do exposto, voto no sentido de dar-se parci-
ízo ao autor no que diz respeito à necessidade de conce- al provimento ao recurso, reduzindo o valor da indeniza-
der abatimento proporcional no preço do imóvel, porque ção para o montante de R$ 1.000,00 (um mil reais), com
tal conseqüência decorreu de imposição legal e não de correção monetária desde a data da realização do negó-
culpa do réu, já que não poderia, sob pena de cio (28/01/05), pelo IGP-M e juros de mora de 12% ao
locupletamento ilícito, receber o recorrido por área de que ano a contar da citação.
não dispõe. Sem incidência de sucumbência, em face do provi-
Assim, devida apenas a restituição da comissão de mento parcial do recurso e da interpretação conferida pe-
corretagem, mas não a devolução parcial do preço do las Turmas Recursais ao disposto no art. 55, da Lei nº
imóvel correspondente à área faltante naquela consigna- 9.099/95.

EXECUÇÃO – PENHORA – INCIDÊNCIA SOBRE DIREITOS DE


COMPROMISSÁRIO-COMPRADOR DE IMÓVEL – INADMISSIBILIDADE
– IMPOSSIBILIDADE DE REALIZAÇÃO DE HASTA PÚBLICA (TJSP)
ACÓRDÃO que se aguarde a aquisição do direito real por parte do
Agravo de Instrumento. Processo de execução. executado, eis que dependeria da solvência da dívida.
Penhora de direitos de compromissário-comprador de Recurso tempestivo, preparado (fls. 30/31), proces-
bem imóvel. Irregularidade. Impossibilidade de reali- sado sem a liminar (fl. 34), com informações (fls. 44/45) e
zação da hasta pública. Provimento negado. resposta (fls. 90/91).
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo É o relatório.
de Instrumento nº 418.806-4/6-00, da Comarca de Limei- O recurso não merece ser provido.
ra, em que é agravante Rio Bravo Empreendimentos e
Comércio Ltda., sendo agravado Rogério Bizerra da Cruz: Inicialmente, observa-se correta a cautela do i. ma-
(Voto nº 12.504) gistrado, conforme informações (fls. 44/45), no sentido de
evitar que a execução de ação de cobrança seja utilizada
Acordam, em Terceira Câmara de Direito Privado do em afronta a direitos do consumidor.
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, proferir a
seguinte decisão: “Negaram provimento ao recurso, v. u.”, Por outro lado, em casos excepcionais, admite a ju-
de conformidade com o voto do Relator, que integra este risprudência a penhora sobre direitos do compromissário-
acórdão. comprador, conforme argumentação do agravante. Nes-
se sentido, Agravo de Instrumento nº 70002956977, da
O julgamento teve a participação dos Desembargadores
Primeira Câmara Especial Cível, do Tribunal de Justiça
Antonio Maria e Donegá Morandini.
do Rio Grande do Sul.
São Paulo, 08 de agosto de 2006.
Ocorre que, no caso, impossível a hasta pública, ante
Caetano Lagrasta, Presidente e Relator as irregularidades da penhora, que não foi realizada com
VOTO clareza, eis que, apesar de o exeqüente ter requerido a
penhora sobre os direitos de aquisição do réu, sobre o
Vistos. Trata-se de Agravo de Instrumento interposto
imóvel (...) (fl. 16), determinou o i. magistrado a penhora
por Rio Bravo Empreendimentos e Comércio Ltda., em
sobre os direitos do imóvel (...) (fl. 17), com a posterior
face de Rogério Bizerra da Cruz, contra a r. decisão que,
expedição de certidão para inscrição da penhora (...) (fl.
em ação de execução, decidiu ser incabível a hasta de
23), constatando-se, posteriormente, não estar registra-
direitos que não sejam convalidáveis em direito real sujei-
da na matrícula do imóvel a penhora (fl. 27), o que resul-
to a expropriação, determinando que se aguarde a aquisi-
tou no indeferimento da hasta pública (fl. 29).
ção do direito real por parte do executado para prossegui-
mento da execução. Estas irregularidades impedem a efetivação da has-
Sustenta, em síntese, ser possível o leilão dos direi- ta pública, eis que poderá causar prejuízo, não só para o
tos do executado, conforme art. 655, X, do CPC, eis que, executado, como para terceiros, que precisam ter clareza
apesar de se tratar do único bem encontrado, a dívida daquilo que será arrematado.
decorre do próprio financiamento. Alega ser impossível Ante o exposto, nega-se provimento ao recurso.

22 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 3º DECÊNDIO MARÇO/2008 – Nº 9


JURISPRUDÊNCIA CAR
JURISPRUDÊNCIA CART
TORÁRIA
REGISTROS PÚBLICOS – REGISTRADOR IMOBILIÁRIO – CIRCUNSCRI-
ÇÃO GEOGRÁFICA – COMPETÊNCIA DA LEI LOCAL – EQUIVALÊNCIA
COM A CIRCUNSCRIÇÃO JUDICIÁRIA (STJ)
Recurso em Mandado de Segurança nº 14.370 - RS RELATÓRIO
(2001/0177584-2) O Exmo. Sr. Ministro Humberto Martins (Relator):
Relator: Ministro Humberto Martins Cuidam os autos de recurso em mandado de segu-
Recorrente: Zeno Tworkowski - Impetrado : Conse- rança interposto, com base no art. 105, II, b, da CF, contra
lho da Magistratura do Tribunal de Justiça do Estado do acórdão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, cuja
Rio Grande do Sul ementa assim registra:

Recorrido: Estado do Rio Grande do Sul “Administrativo - Registros Públicos - Registrador


Imobiliário - Circunscrição Geográfica - Competência da
Recorrido: Paulo Heinrich lei local - Equivalência com a Circunscrição Judiciária.
EMENTA 1. Compete à lei local estabelecer a circunscrição
Administrativo – Registro Público – Registrador territorial, aludida no art. 12, parte final, da Lei n. 8.935/
Imobiliário – Desmembramento de Circunscrição Imo- 94, na qual o registrador imobiliário desenvolverá seus
biliária por lei local – Equivalência com Circunscrição misteres, observados os parâmetros estabelecidos na lei
Judiciária – Art. 236 CF – Arts. 12 e 47 da lei n. 8.935/94 federal. Por isso, emancipadas certas localidades, o res-
– Ausência de Direito Líquido e Certo ao não- pectivo registro imobiliário competirá à circunscrição judi-
Desmembramento – Inexistência de mácula do ato lo- ciária que abranger os novos municípios, nos termos do
cal face à Delegação do Poder Público. art. 139 do Coje-RS, norma compatível com o art. 236 da
1. Direito líquido e certo existe quanto à delega- CF/88 e a lei federal.
ção do serviço notarial (registro de imóveis) pelo Po- 2. Segurança denegada.” (fl. 191)
der Público, o que é diferente de suposto direito à O recorrente é oficial do Registro de Imóveis de Rio
manutenção desse serviço sobre cada imóvel da cir- Pardo–RS. Alega que, com a emancipação da localidade
cunscrição onde atua. de Passo do Sobrado e do desmembramento da localida-
2. Se a circunscrição é desmembrada, inclusive de de Cerro Alegre Alto, ambas – até então pertencentes
por iniciativa da população envolvida, não há falar em à circunscrição territorial, judicial e imobiliária de Rio Par-
sobreposição dos interesses privados do oficial do do – foram transferidas para a cidade de Santa Cruz, em
registro aos interesses da coletividade. decorrência de emancipação da primeira e da anexação
3. Os oficiais de registro de imóveis e civis das da segunda ao Município de Santa Cruz.
pessoas naturais estão sujeitos às normas que defi- Com essa transferência, insiste o recorrente no fato
nem a circunscrição geográfica (art. 12, Lei n. 8.935/ de não ter o acórdão recorrido respeitado o direito líquido
94). Normas locais. e certo do oficial de registro em ver mantida sua circuns-
4. Desmembrando-se a área onde situados os crição imobiliária, o que também fora negado pela autori-
imóveis, acompanham-na as respectivas circunscri- dade coatora, que houve por bem publicar o ato n. 016/
ções imobiliárias. 96-CM, estabelecendo a nova circunscrição imobiliária das
localidades de Passo do Sobrado e Cerro Alegre Alto.
Recurso ordinário conhecido e improvido.
O argumento da irresignação se dá no sentido de
ACÓRDÃO que está o recorrente investido em delegação da União,
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são par- como determinado na Constituição Federal (art. 236), não
tes as acima indicadas, acordam os Ministros da Segunda podendo o Poder Judiciário transmudá-la, porque não
Turma do Superior Tribunal de Justiça “A Turma, por unani- detém atribuição para tanto.
midade, negou provimento ao recurso ordinário, nos termos
do voto do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a).” Os Srs. Minis- Por fim, assevera que o ato coator, mantido pelo
tros Herman Benjamin, Eliana Calmon, João Otávio de acórdão recorrido que denegou a segurança, decotou ile-
Noronha e Castro Meira votaram com o Sr. Ministro Relator. galmente parte de sua delegação para entregá-la a outro
oficial de registro, uma vez que não detinha o Poder Judi-
Brasília (DF), 13 de fevereiro de 2007. ciário competência para realizar tal reestruturação. Por
Ministro Humberto Martins, Relator fim, registrou que ao Judiciário cabe apenas a fiscaliza-

3º DECÊNDIO MARÇO/2008 – Nº 9 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 23


JURISPRUDÊNCIA
JURISPR CART
UDÊNCIA CAR TORÁRIA

ção dos serviços notariais, não a delegação, na forma do 94, que assim expressam:
art. 236 da Constituição Federal e da Lei n. 8.935/94, que “Art. 236. Os serviços notariais e de registro são exer-
regulamenta aquele artigo. (fls. 202/208) cidos em caráter privado, por delegação do Poder Público.
Contra-razões às fls. 214/216 e fls. 237/237. § 1º. Lei regulará as atividades, disciplinará a res-
Parecer da Subprocuradoria–Geral da República ponsabilidade civil e criminal dos notários, dos oficiais de
pugnando pelo improvimento do recurso. (fl. 242) registro e seus prepostos, e definirá a fiscalização de seus
Os autos foram a mim atribuídos em 3.7.2006 em atos pelo Poder Judiciário.”
face da aposentadoria do saudoso Ministro Franciulli Netto. “Art. 12. Aos oficiais de registro de imóveis, de títulos
É, no essencial, o relatório. e documentos e civis das pessoas jurídicas, civis das pes-
soas naturais e de interdições e tutelas compete a prática
1. Direito líquido e certo existe quanto à delegação do de atos relacionados na legislação pertinente aos regis-
serviço notarial (registro de imóveis) pelo Poder Público, o tros públicos, de que são incumbidos, independentemen-
que é diferente de suposto direito à manutenção desse te de prévia distribuição, mas sujeitos os oficiais de regis-
serviço sobre cada imóvel da circunscrição onde atua. tro de imóveis e civis das pessoas naturais às normas
2. Se a circunscrição é desmembrada, inclusive por que definem a circunscrição geográfica. (...)
iniciativa da população envolvida, não há falar em “Art. 47. O notário e o oficial de registro legalmente
sobreposição dos interesses privados do oficial do regis- nomeados até 5 de outubro de 1988, detêm a delegação
tro aos interesses da coletividade. constitucional de que trata o art. 2º.”
3. Os oficiais de registro de imóveis e civis das pessoas Por último, e de crucial observação, o recorrente tenta
naturais estão sujeitos às normas que definem a circunscri- fazer sobrelevar seu interesse privado em detrimento do
ção geográfica (art. 12, Lei n. 8.935/94). Normas locais. interesse de toda a coletividade local no que diz respeito
4. Desmembrando-se a área onde situados os imóveis, à desmembração das circunscrições, máxime quando, em
acompanham-na as respectivas circunscrições imobiliárias. nenhum momento, o ato coator falou em perda da dele-
Recurso ordinário conhecido e improvido. gação própria do impetrante.

VOTO De mais a mais, como muito bem pontuado no


acórdão recorrido (fl. 195), “compete ao Tribunal de Justi-
O Exmo. Sr. Ministro Humberto Martins (Relator): ça o poder de fiscalizar e a iniciativa das leis que estabe-
Inicialmente, conheço do recurso ordinário, porque leçam organização judiciária,’na qual se insere a divisão
presentes os pressupostos extrínsecos e intrínsecos. das circunscrições, às quais estão sujeitos os registros
A pretensão recursal não merece prosperar. imobiliários e civil das pessoas naturais’, consoante ensi-
na WALTER CENEVIVA (Lei dos notários e dos registra-
Nenhuma mácula existe no acórdão recorrido, da dores comentada, p. 80, São Paulo, 1996).”
relatoria do Desembargador Araken de Assis, ao registrar a
conclusão a que chegou o Ministério Público Estadual: “Evi- Por fim, não há como firmar a existência de direito líqui-
dentemente que o impetrante detém a delegação do serviço do e certo em face do desmembramento das áreas afetas ao
de Registro de Imóveis no Município de Rio Pardo, o que registro, o que é diferente do fato de ser ou não o recorrente
não significa que tem o direito adquirido à manutenção do delegatário do Poder Público. O mesmo fundamento levou o
serviço sobre cada imóvel. Se o imóvel não pertence mais a Supremo Tribunal Federal a estabelecer o enunciado 46, que
Rio Pardo, não pertence mais àquela circunscrição.” (fl. 195) assim registra: “desmembramento de serventia de justiça não
viola o princípio da vitaliciedade do serventuário.”
Somem-se a isso alguns outros fatores alinhavados
abaixo. Como também lembrado no acórdão recorrido, o
Supremo Tribunal Federal assentou que “a fiscalização
Por primeiro, a própria Lei de Registros Públicos (Lei dos serviços notariais e de registro, ‘ut’ art. 236 da Cons-
n. 6.015/73), art. 169, assevera que os atos enumerados tituição, pelo Poder Judiciário, tem expresso assento no §
no art. 167 serão realizados no cartório da situação do 1º do art. 231 da Lei Maior, estando definida em lei (Ple-
imóvel, com algumas exceções. no, ADIn-MC 1.583-RJ, 26.06.97, Rel. o Sr. Ministro Néri
Segundo, a área foi desmembrada, como noticiam da Silveira, DJU 13.11.98, p. 2).” (fl. 197)
os autos, por iniciativa popular e, desmembrando-se a área
Ante o exposto, conheço do recurso ordinário, mas
onde situados os imóveis, acompanham-na as respecti-
nego-lhe provimento.
vas circunscrições imobiliárias.
Por terceiro, o ato dito coator cuidou, a bem da ver- É como penso. É como voto.
dade, de observar rigorosamente as premissas do art. 236 Ministro Humberto Martins, Relator
da Constituição Federal e dos arts. 12 e 47 da Lei n. 8.935/ Brasília, 13 de fevereiro de 2007

24 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 3º DECÊNDIO MARÇO/2008 – Nº 9


JURISPRUDÊNCIA
JURISPR CART
UDÊNCIA CAR TORÁRIA

REGISTRO DE IMÓVEIS – NEGATIVA DE ACESSO AO REGISTRO DE CER-


TIDÕES DE PENHORA DE BENS IMÓVEIS – INADEQUADA QUALIFICA-
ÇÃO DE CREDOR CASADO E SEU CÔNJUGE – AUSÊNCIA DE PROVA DE
INTIMAÇÃO DO DEVEDOR A RESPEITO DA CONSTRIÇÃO E DE NOMEA-
ÇÃO DE DEPÓSITÁRIO DO BEM – DÚVIDA PROCEDENTE (CSM/SP)
ACÓRDÃO recurso.
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apela- Sustenta que as exigências do oficial registrador,
ção Cível nº 681-6/9, da Comarca de Jundiaí, em que é ratificadas pela Meritíssima Juíza Corregedora Permanen-
apelante Adalberto Biazzi e apelado o 1º Oficial de Regis- te, configuram formalismo exacerbado, contrariando o dis-
tro de Imóveis, Títulos e Documentos e Civil de Pessoa posto no § 4º do art. 659 do CPC, orientado à dinamização
Jurídica da mesma Comarca. e desburocratização do processo executivo. Acrescenta
Acordam os Desembargadores do Conselho Superi- que a intimação da penhora ao devedor e a nomeação de
or da Magistratura, por votação unânime, em negar provi- depositário configuram providências de interesse das par-
mento ao recurso, de conformidade com o voto do relator tes no processo, sem qualquer repercussão sobre o re-
que fica fazendo parte integrante do presente julgado. gistro imobiliário, o qual, no caso, restará preservado na
sua função de garantidor da segurança jurídica (fls. 30 e
Participaram do julgamento, com votos vencedores, 31).
os Desembargadores Celso Luiz Limongi, Presidente do
Tribunal de Justiça e Caio Eduardo Canguçu de Almeida, A Douta Procuradoria Geral de Justiça manifestou-
Vice-Presidente do Tribunal de Justiça. se no sentido de ser negado provimento ao recurso (fls.
37 a 40).
São Paulo, 26 de abril de 2007
É o relatório.
Gilberto Passos de Freitas,
2. O Apelante pretende o registro de penhoras de
Corregedor Geral da Justiça e Relator imóveis levadas a efeito em ação de execução que move
VOTO em face de Carlos Augusto Pasti. Tal registro foi recusado
Registro de Imóveis - Dúvida julgada procedente pelo oficial registrador da serventia a quem cabe a prática
- Negativa de acesso ao registro de certidões de pe- do ato, recusa essa considerada correta pela Meritíssima
nhora de bens imóveis - Ausência de adequada quali- Juíza Corregedora Permanente.
ficação de credor casado e seu cônjuge, bem como De início, cumpre reafirmar, em conformidade com o
de comprovação de intimação do devedor a respeito entendimento tranqüilo deste Colendo Conselho Superior
da constrição e de nomeação de depositário do bem - da Magistratura, que o fato de o título apresentado a re-
Violação aos princípios da legalidade, especialidade gistro ter origem judicial não o torna imune à qualificação
subjetiva e continuidade registrais - Recusa mantida registral pelo oficial registrador, no que concerne à obser-
- Recurso não provido. vância dos princípios e regras próprias à matéria. O exa-
1. Cuidam os autos de dúvida de registro de imóveis me da legalidade, nesses casos, não promove a incursão
suscitada pelo Primeiro Oficial de Registro de Imóveis, sobre o mérito da decisão judicial, mas tão-só relativa-
Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica de mente à apreciação das formalidades extrínsecas da or-
Jundiaí, a requerimento de Adalberto Biazzi, referente ao dem e à conexão de seus dados com o registro e a sua
registro de penhoras realizadas em ação de execução ajui- formalização instrumental (Apelações Cíveis nºs 30.657-
zada em face de Carlos Augusto Pasti. Após regular 0/2; 31.881-0/1; 71.397-0/5; 76.101-0/2).
processamento, com impugnação por parte do interessa- Quanto ao tema de fundo, tem-se que o recurso não
do e manifestação do representante do Ministério Públi- comporta provimento.
co, a dúvida foi julgada procedente para o fim de manter a Com efeito, das certidões expedidas pelo ofício judi-
recusa do Oficial em registrar o título, devido à ausência cial para o registro pretendido verifica-se que o Apelante,
de qualificação completa do credor, de intimação do de- nelas indicado como credor, não foi qualificado adequa-
vedor a respeito da constrição levada a efeito e de nome- damente, já que omitidos a data e o regime de seu casa-
ação de depositário do bem (fls. 27 e 28). mento, além de eventual pacto antenupcial. Ademais,
Inconformado com a respeitável decisão, interpôs o tampouco se fez referência ao nome e qualificação com-
interessado Adalberto Biazzi, tempestivamente, o presente pleta do cônjuge. Houve, sem dúvida, inobservância do

3º DECÊNDIO MARÇO/2008 – Nº 9 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 25


JURISPRUDÊNCIA
JURISPR CART
UDÊNCIA CAR TORÁRIA

disposto no item 68, letra “b”, do Capítulo XX do Tomo II Martins Bonilha).


das NSCGJ, tornando inviável o registro, sob pena de “Registro de Imóveis. Dúvida. Recusa de registro de
infringência ao princípio da especialidade subjetiva. penhora.
Além disso, inexiste comprovação da intimação da Necessidade de conter o respectivo auto o nome do
penhora ao executado, conforme exigido pelo art. 669, fiel depositário do bem. Recurso improvido. (...)
parágrafo único, do CPC, nem indicação do depositário
dos bens, nos termos da previsão contida no art. 239 da O artigo 659, § 4º do Código de Processo Civil deter-
Lei n. 6.015/1973. mina que a penhora do bem imóvel será realizada medi-
ante auto ou termo de penhora, podendo ser providencia-
Observe-se que a comprovação da intimação da pe- do o registro no ofício imobiliário mediante apresentação
nhora ao executado e a indicação de depositário apare- da certidão de inteiro teor do ato.
cem como requisito essencial à formação dos títulos le-
vados a registro, sem o que não podem eles ingressar no O artigo 665 do mesmo Código estabelece que o auto
fólio real, por ofensa ao princípio da legalidade. de penhora conterá, além de outras informações, a ‘no-
meação de depositário dos bens’.
Não tem sido outro, nesses temas, o entendimento
deste Conselho Superior da Magistratura, como se pode O artigo 239 da Lei de Registros Públicos prevê que
ver dos julgados a seguir indicados, um dos quais igual- a penhora de imóvel será registrada em cumprimento de
mente lembrado pelo Sr. Oficial Registrador: mandado ou à vista de certidão do escrivão, dos quais
constem, dentre outros dados, o nome do depositário do
“Registro de Imóveis - Dúvida - Mandado de penhora bem.
- Falta da qualificação da exeqüente e da designação do
depositário - Terrenos de marinha - Ausência de definição Não consta do título ora em questão a nomeação do
da existência do domínio útil - Registro inviável - Recusa depositário, não podendo ter ingresso no registro. (...)
mantida. (...) A nova redação do artigo 659 do Código de Proces-
(...) As exigências da especialidade subjetiva fazem so Civil não afasta a exigência em discussão.
necessária, também, a qualificação da credora, em con- Na verdade, com a inovação do dispositivo visou-se
formidade com o item 68, letra ‘b’ do Capítulo XX das deixar clara a independência dos atos de penhora e registro.
Normas de Serviço da Corregedoria Geral da Justiça, que Ou seja, buscou-se tornar extreme de dúvida que
deveria fazer parte integrante do título judicial. realizada a penhora, a execução segue seu curso nor-
O primeiro dos óbices, ao menos por enquanto, não mal, notadamente no que tange o transcurso do prazo
pode ser afastado, podendo ser superado, caso seja reti- para embargos, e ainda os atos de expropriação, inde-
ficado o título judicial ou sejam apresentados documen- pendentemente do registro da constrição.
tos oficiais idôneos a fornecer a prova da qualificação, Portanto, ao dispositivo legal em tela não pode ser
como complemento ao título, como o já decidido por este dada a interpretação que pretende o apelante.” (Ap. Cív.
Conselho Superior (p. e., Apelação nº 12.062-0/5, da n. 396-6/8 - j. 18.08.2005 - rel. Des. José Mário Antonio
Comarca de Espírito Santo do Pinhal, j. 26.1.91). Cardinale).
O depósito, por outro lado, segundo Araken de Assis Anote-se que a orientação que ora se segue está
(Manual do Processo de Execução, 3ª ed., RT, São Pau- amparada na legislação em vigor na data da apresenta-
lo, 1995, pp. 465/467), ‘representa elemento estrutural e ção dos títulos a registro e no entendimento aqui esposa-
funcional da penhora’, sempre presente no processo de do a respeito, não se aplicando as alterações posteriores,
execução. O depositário exerce uma função auxiliar ao em especial aquelas introduzidas na matéria pela Lei n.
Juízo, a partir de um negócio jurídico processual celebra- 11.382, de 06 de dezembro de 2006.
do com o Estado-Juiz, passando a exercer a posse direta
da coisa, o que o legitima para o emprego de interditos Em tema de registros públicos, como sabido, impera
possessórios, para os atos de conservação e administra- a regra “tempus regit actum”, estando, assim, o registro
ção da coisa penhorada. da penhora sujeito à lei vigente ao tempo da apresenta-
ção do título.
O nome do depositário, nesse sentido, obrigatoria-
mente, deve constar do título judicial lastreador do regis- Portanto, em conclusão, corretas se mostram a res-
tro da penhora, o que encontra previsão tanto na norma peitável sentença apelada e a recusa manifestada pelo
processual supra referida, quanto,também, expressamen- oficial registrador.
te, no artigo 239 da Lei 6.015/73. Nesses termos, pelo meu voto, à vista do exposto,
Peca o título pela falta de tal requisito e, portanto, o nego provimento ao recurso.
segundo óbice, da mesma forma, não pode ser supera- Gilberto Passos de Freitas,
do.” (Ap. Cív. n. 33.358-0/0 - j. 10.03.1997 - rel. Des. Márcio Corregedor Geral da Justiça e Relator

26 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 3º DECÊNDIO MARÇO/2008 – Nº 9


BOLETIM CARTORÁRIO
O Boletim Cartorário foi criado em março de 1990. O seu idealizador e
9/1

redator é o Dr. Antonio Albergaria Pereira, que possui uma experiência de


mais de cinqüenta anos em cartórios, sendo ainda um dos mais premiados na
área cartorária.

A redação do Boletim Cartorário e a seleção das matérias estão a cargo de


seu redator.
Antonio Albergaria Pereira

USUFRUTO E NUA PROPRIEDADE


Uma escrevente do Sr. WILSON pradora B é vendida a nua-proprie- pessoa. Então, a proibição de alienar
BUENO ALVES, notário na Comarca dade do IMÓVEL, devidamente des- o usufruto, obviamente é relativa a
de Osasco, SP, lavrou uma escritura crito na escritura, cujo translado que terceiros, nunca contra o nu proprie-
pela qual os vendedores vendiam um me foi remetido, está correto. O Sr. tário, o que seria o maior dos absur-
imóvel urbano, desdobrando a ven- Wilson Bueno Alves, refutando os di- dos, já que é esta, juntamente com a
da de forma bipartida: para uma com- zeres da nota de devolução, o fez nos renúncia e a morte do usufrutuário,
pradora, o usufruto sobre o imóvel, termos da exposição a seguir trans- uma das formas mais comuns da
e, para a outra, a nua propriedade. O crita. extinção do referido direito real, con-
translado da escritura, apresentado “A PROIBIÇÃO DA ALIENAÇÃO solidando-se a nua propriedade, nos
ao Registrador Imobiliário, recebeu DO USUFRUTO, EM FACE DO termos do art. 1.410, VI do Código
nota de devolução subscrita pela DISPOSTO NO ARTIGO 1.393 DO Civil.
substituta do oficial, nestes termos: CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO Essa “alienação” tanto pode ser
“Impossível venda de usufruto (vide feita mediante uma venda, a título
Art. 1.393 do Código Civil). Título não Wilson Bueno Alves
oneroso ou doação, título não onero-
comporta registro (sic)”. Datou e as- “Não se pode transferir o usu- so, isto porque alienar significa, se-
sinou. Omito o nome da subscritora fruto por alienação; mas o seu exer- gundo o dicionário Aurélio, “transferir
da nota de devolução, mas quero crer cício pode ceder-se por título gratui- para outrem o domínio de algo; tor-
ser advogada, ou bacharel em direi- to ou oneroso”. Este é o teor do arti- nar alheio; alhear;” pouco importan-
to. O Sr. Wilson, remeteu-me a cita- go 1393 do Código Civil de 2002. do se essa alienação se dará medi-
da nota de devolução, acompanha- O legislador de 2002 melhorou ante pagamento ou por doação.
da do seu entendimento sobre o as- a redação do art. 717 do velho Códi-
sunto: venda da nua propriedade para Esse esclarecimento também se
go de 1916, que preceituava: “O usu- faz necessário porque, por mais
uma pessoa, e do usufruto para ou- fruto só se pode transferir, por alie-
tra pessoa. Refutando o entendimen- inacreditável que se possa pensar,
nação, ao proprietário da coisa; mas alguns relutam em entender que a
to da subscritora da nota de devolu- o seu exercício pode ceder-se por tí-
ção, logicamente o fez para publica- transferência do usufruto pode ser
tulo gratuito ou oneroso.” feita através de uma venda, já que
ção no BOLETIM CARTORÁRIO,
cujas páginas também ficam à dis- Por ser desnecessário, excluiu ceder, instituir ou vender, também têm
posição da subscritora da citada nota o texto que dizia: “O usufruto só se o mesmo significado, que é de trans-
para expor e justificar o seu entendi- pode transferir, por alienação, ao pro- mitir mediante pagamento. Já tivemos
mento sobre o que está expresso no prietário da coisa”, permanecendo a oportunidade de provar a um regis-
citado artigo 1393 do vigente Código expressão, “mas o seu exercício pode trador que o usufruto, ao ser transfe-
Civil, e para poupar o leitor, aqui o ceder-se por título oneroso ou gratui- rido onerosamente, pode ser objeto
transcrevo: “Art. 1.393 – Não se pode to.” de uma venda e compra do direito
transferir o usufruto por alienação; Com isto, está muito claro que real. Dúvida a esse respeito, não será
mas o seu exercício pode ceder-se sendo constituído o usufruto, o usu- jurídica, mas lamentavelmente, será
por título gratuito ou oneroso.” Des- frutuário não está impedido de aliená- de conhecimento gramatical.
taco: Esse dispositivo integra o Títu- lo em favor do nu proprietário, já que Mas, voltando ao tema principal,
lo VI – que disciplina o USUFRUTO. esta será uma das formas possíveis o que precisa ser repetido e veemen-
Da escritura expressa e claramente de se promover a consolidação da temente frisado, porque muitos relu-
consta, que para a compradora A é propriedade para que ela volte a com- tam em compreender e aplicar, é que
vendido o USUFRUTO, e para a com- por a plena propriedade em uma só a vedação contida no art. 1393 só

3º DECÊNDIO MARÇO/2008 – Nº 9 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 27


CART
BOLETIM CARTORÁRIO 9/2

pode passar a existir depois que o Vou agora meter minha “colher de um imóvel, não estava e nem está,
usufruto for constituído, ou seja, o nesse assunto”, afirmando: O notá- em face do vigente Código Civil, im-
legislador se referiu ao usufrutuário rio Wilson Bueno Alves está certo. pedido, por ato oneroso, de vender a
e não ao proprietário pleno (conferir Errou a subscritora da nota de devo- um dos adquirentes a NUA PROPRI-
ADEMAR FIORANELLI – Jornal do lução, ou então SÓ ELA ESTÁ CER- EDADE, e a outro o USUFRUTO. Tal
Notário, Janeiro-Fevereiro/2003). TA e não só o tabelião Wilson, junta- ocorrendo, é que o usufruto sobre um
Dele não divergem o ilustre Doutor e mente com outros ESTARÃO ERRA- imóvel só pode, pelo usufrutuário, ser
Professor, Narciso Orlandi Neto e o DOS. vendido ou doado ao nu proprietário.
admirável registrador de imóveis, a) – Afirmar, como afirmou a Não chegamos ainda a cercear o di-
Ulysses da Silva em “O Código Civil subscritora da nota de devolução, que reito de propriedade sobre um imó-
e o Registro de Imóveis – ed. Sérgio o USUFRUTO não comporta regis- vel – e o usufruto é parte integrante
Fabris – 2003”. tro, é ignorar totalmente o que está do mesmo. Recolhido o imposto de-
Depois de existente, se o usu- expresso no artigo 1.391 do C. Civil. vido, entendo, como também enten-
fruto pudesse ser alienado a tercei- Comporta sim. dem outros com mais autoridade do
ros, estaria ele descaracterizado na que eu, ser perfeitamente lícita, váli-
b) – O que a ilustre subscritora da e regular a venda da nua proprie-
sua principal essência, fazendo-se do da nota de devolução afirma sobre o
usufruto um novo usufruto de forma dade para uma pessoa e do usufruto
assunto enfocado: no passado, ilus- para outra pessoa. Isso afirmo por-
sucessiva, eternizando esse direito tres registradores imobiliários, de cul-
real, que deve ser extinto com a mor- que isso permite o Código Civil vigen-
tura comprovada, como Elvino Silva te, de forma mais objetiva e clara do
te do usufrutuário (art. 1410, I do Filho, Maria Helena Leonel Gandolfo
Código Civil). que o anterior. Tão segura é essa afir-
e Jether Sottano apreciaram o assun- mativa que recentemente comprei
A redação utilizada pelo legisla- to e deram publicidade no BOLETIM um apartamento aqui em São Paulo,
dor de 2002, através do art. 1393, não IRIB, ORGÃO DE CLASSE DOS RE- estipulando o USUFRUTO em meu
permite nenhuma modificação funda- GISTRADORES IMOBILIÁRIOS – nome e a NUA PROPRIEDADE em
mental que permita modificar a dou- Novembro/1979, nº 30, página 3, nome de uma filha minha, e a escri-
trina e a jurisprudência firmadas ao quando respondem a uma pergunta tura está REGISTRADA corretamen-
longo da existência desse direito real, formulada nestes termos: Podem ser te no 5º Registro Imobiliário, cujo ti-
desde 1916 pelo art. 717, até hoje, efetuados os registros, quando o pro- tular Dr. Sérgio Jacomino, ilustre e
através do art. 1393 do novo Código prietário, vende, no mesmo ato (gri- capacitado registrador imobiliário, o
Civil. fei) a uma pessoa, a nua proprieda- qual não teve dúvida alguma em pra-
Efetivamente, desnecessária a de, e a outra, o usufruto? A tal per- ticar os dois atos registrários: o usu-
expressão de 1916 “só se pode trans- gunta, a resposta foi clara e segura, fruto em meu nome e a nua proprie-
ferir por alienação ao proprietário da como soe acontecer aos que sabem dade em nome de minha filha. O Dr.
coisa”, porque se a outro que não o e ESTUDAM. Ipsis litteris: “Nada há Sérgio Jacomino, além de estudioso
proprietário fosse permitida a sua que impeça tais registros. Embora o e capacitado registrador imobiliário,
transferência, estaria criada a sua art. 717 (do anterior Código Civil) de- é também IDEALISTA, qualidade que
sucessividade. termine que o usufruto só se pode louvo e admiro, criando ele o
transferir por alienação ao proprietá- EDUCARTÓRIO, cuja finalidade é
Entretanto, o que não pôde rio da coisa, o entendimento doutri-
prevêr o ilustre e culto jurista de 2002, estimular o cartorário a ESTUDAR.
nário é o de que essa proibição refe- Espero que as reuniões do EDUCAR-
é que a redundância de Clóvis, tinha re-se ao usufrutuário. Portanto, assim
uma razão de ser; não contava ele TÓRIO não sejam meramente soci-
como o proprietário pode vender a ais, e sim, sobretudo, de esclareci-
com o despreparo de alguns que propriedade, reservando para si o
mesmo lendo, não conseguem enten- mentos sobre a importância dos ser-
usufruto, PODE TAMBÉM (destaquei viços cartorários que não podem e
der o que está escrito, e assim vão e grifei) VENDER A NUA PROPRIE-
teimando, relutando e aplicando de- nem devem ser comprometidos por
DADE PARA UMA PESSOA E O exigências do jaez da que ora apre-
sastrosamente. USUFRUTO PARA OUTRA”. A partir ciamos. O oficial registrador exerce
Clóvis não subestimou os leito- desse momento é que em obediên- uma função privativa, ou seja, só ele
res de 1916, mas o outro, superesti- cia ao disposto no artigo citado, o pode praticar o ato registral envolven-
mou os de 2002. USUFRUTO só pode ser vendido ao do um imóvel situado na sua circuns-
Osasco, 30 de outubro de 2007. proprietário da coisa. crição. Esse privilégio obriga-o a ser
Wilson” Quem tem a propriedade plena sábio, estudioso e responsável, abs-

28 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 3º DECÊNDIO MARÇO/2008 – Nº 9


CART
BOLETIM CARTORÁRIO 9/3

tendo-se de fazer afirmativas ridículas na matrícula do imóvel: um do cia, criticando a falha de quem a subs-
como a que anotamos na exigência adquirente da nua propriedade e outro creveu, e isso o faço inspirado em
motivadora desta exposição: “Impos- da aquisição do usufruto. SANTO AGOSTINHO: PREFIRO OS
sível a venda de usufruto. Título não Esta exposição efetivamente é QUE ME CRITICAM quando me cor-
comporta registro”, quando na verda- de crítica a uma exigência imotivada, rigem, aos que me elogiam quando
de o título motivador desta exposição mas ela é feita com um único propó- me corrompem...; completo, ou me
COMPORTA E EXIGE dois registros sito: Destacar sua total improcedên- mantém em erro.

ÁGUA MOLE EM PEDRA DURA...


(Escritura não acolhida pelo Oficial Registrador – Exigências descabidas)
“Água mole em pedra dura, tan- Neste último caso, o mais ocorrente, no mesmo nível de igualdade funcio-
to bate até que fura”, anexim popular que compromete o notário elaborador nal, identificados genericamente
que na sua essência revela que uma do título, é quando este não tem a como “profissionais do direito” (Art. 3º
luta visando o fim de um bom com- necessária acolhida na serventia pre- da Lei Fed. 8.935). Ainda hoje alguns
bate deve ser persistente. Nesse dial. Essa “não acolhida” formulada registradores continuam formulando
anexim vejo o valor da persistência pelo oficial registrador do título, tem exigências ridículas, imotivadas, ile-
numa luta, desde que esta vise um um nome – EXIGÊNCIA –, o qual vê gais, algumas até mesmo jocosas,
fim sadio, útil e de interesse de uma no título uma IRREGULARIDADE comprometendo, não raro, o notário
classe, no caso a classe cartorária que impede o seu ingresso na que elaborou o título. Nos grandes
brasileira, notarial. Sempre entendi serventia predial. Exigência, não só centros urbanos pululam exigências
que o notário e o registrador imobili- é um DITO do oficial, como também as quais abstenho-me de identificá-
ário igualam-se pelo valor dos servi- uma OBRIGAÇÃO que a lei lhe im- las, em respeito aos registradores de-
ços que realizam. Mas também sem- põe (Art. 198 da Lei 6.015). Formular dicados, estudiosos e eficientes. Uma
pre notei que o desejo do notário é o exigências não é um direito do ofici- exigência infundada não só compro-
de conseguir um cartório de registro al, mas sim um DEVER, que se cum- mete o notário que elaborou a escri-
imobiliário. Respeitando esse dese- pre obrigatoriamente, mas correta- tura, com também os interesses e
jo, vejo muito mais dinamismo e de- mente. Só por isso esse direito-de- direitos do interessado no registro da
dicação nos serviços notariais. A di- ver está expresso na lei. Contudo, escritura. Sentindo que nos grandes
ferença que os distingue é a forma e quando em exercício no cargo de centros urbanos ainda “persistem”
a sabedoria com que realizam os notário na Capital de São Paulo, exigências inomináveis para mim,
seus serviços. Achava e acho que o constatei exigências infundadas, jo- escrevi uma monografia sobre o as-
notário deve, obrigatoriamente, ser cosas, imotivadas e prepotentes de sunto e dei publicidade à mesma pela
correto na elaboração e redação das alguns registradores. Posso afirmar, EDITORA EDIPRO, e pelo que cons-
suas escrituras, notadamente e es- não com orgulho, mas sim como ato tato não teve a repercussão espera-
pecialmente aquelas que devem ne- de obrigação funcional, NUNCA da. Para eliminar ou, no mínimo ate-
cessariamente ter ingresso numa TIVE, UMA ESCRITURA POR MIM nuar, reduzir as conseqüências des-
serventia predial, ou seja, NUM CAR- ELABORADA, objeto de dúvida. sas divergências entre notários e re-
TÓRIO DE REGISTRO. Lamentavel- Quando em atividade funcional, as gistradores, quando notário em São
mente alguns registradores imobiliá- “EXIGÊNCIAS” que chegavam às Paulo, Capital, “sugeri ousadamente”
rios, por praticarem atos que lhes são minhas mãos, envolvendo escrituras que por lei fosse dado o direito ao
privativos, não sei porque “investem- lavradas por escreventes meus, as notário elaborador do título, e por ele
se de um poder”, de um “direito” ou lia atentamente. Refutei por escrito al- encaminhado ao registro, de partici-
até mesmo de uma “autoridade” que gumas delas e o título (translado da par obrigatoriamente no processo de
não possuem, ou possuindo-a, dela escritura) foi registrado. Hoje, notári- dúvida suscitado pelo registrador, an-
se valem de uma forma incorreta. os e registradores, POR LEI, estão tes da manifestação do órgão do Mi-

3º DECÊNDIO MARÇO/2008 – Nº 9 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 29


CART
BOLETIM CARTORÁRIO 9/4

nistério Público, para contestar a exi- O Trabalho foi apresentado pe- fendendo o ato por ele lavrado, ten-
gência do registrador. Confesso de- rante a mesa composta pelo eminen- do em vista que apresenta conheci-
solado, nada consegui, nem mesmo te Des. Ricardo Dip e pelos Registra- mentos jurídicos suficientes para tan-
o apoio de algum notário do que pro- dores Sérgio Jacomino, Francisco to, bem como pode vir a ser respon-
pus. Antes tarde do que nunca. Um Rezende e Ricardo Coelho, não dei- sabilizado no caso de o título não
dos notários, entre os capazes, estu- xando, portanto, de ser debatido al- atender aos princípios registrais, até
diosos e lúcidos, pensa como eu, o guns pontos da apresentação, a qual, para justificar o trabalho elaborado
que muito me honra e envaidece. na forma de resumo, segue em ane- com a sua convicção.
Dele recebi a mensagem que a se- xo, pois o mérito está sendo revisa- Espera-se que a apresentação
guir transcrevo. do. dos conteúdos, com remissões a dou-
“Prezado Amigo e sempre No- Aliás, peço licença e autorização trinas e aos entendimentos que al-
tário Dr. Antonio Albergaria, para citar alguns trechos do artigo em guns Tribunais têm utilizado para re-

Honrado em cumprimentá-lo, minha monografia. soluções de expedientes desta natu-

saudoso da nossa fraterna amizade, Atenciosamente, com um forte reza, tenha contribuído para o escla-

a qual, mesmo que não tenhamos abraço e muita saúde! recimento do assunto.

mantido contado ultimamente, conti- J. P. Lamana Paiva” Foi importante este estudo para
nua forte. bem poder informar o cidadão que
A conclusão de sua tese que a
De outro lado, informo que con- tem de se socorrer no Poder Judi-
seguir é transcrita é um primor de
tinuo, semanalmente, lendo o Diário ciário para a resolução de conflitos
honra e valor dos serviços notariais,
das Leis, Boletim do Direito Imobiliá- de idéias diversas originárias da
merecendo, pois aqui ser transcrita.
rio, tão bem conduzido pelo eminen- qualificação documental feita pelo
“CONCLUSÃO Registrador, não acatadas pela par-
te jurista.
O Procedimento de Dúvida no te interessada no ato registral – in-
No DLI, do 1° Decêndio Setem-
Registro de Imóveis serve para resol- clusive o Tabelião de Notas - e, por
bro /2007- Ano XXVII, n°25, págs. 25,
ver as dissidências entre o suscitante isso, submetidas ao Poder Equilí-
“Notários X Registradores”, consta,
- que é sempre o Registrador, poden- brio.”
como sempre, comentário sugerin-
do ser o substituto nas suas ausên- O título deste comentário, tem
do para que os notários participem
cias e impedimentos - e o apresen- estes sentidos: 1. Minha coerência
do Processo de Dúvida. Confesso
tante de um título que pretende e persistência do meu entendimen-
que fiquei muito feliz ao ler o con-
acessar o Álbum Imobiliário. to sobre o assunto ora exposto; 2.
teúdo, o que coincide com a minha
Foi verificado que este Procedi- Minha alegria em saber que o Dr.
monografia defendida na PUCMI-
mento pode ser suscitado por outros Lamana Paiva também adota igual
NAS, por ocasião do Curso de Pós-
serviços registrais e notariais, mas entendimento. Não quero dar a esta
Graduação stricto sensu. Cabe ain-
exposição os característicos do
da ressaltar que a apresentei tam- nunca pelo Tabelião de Notas.
“canto do cisne”; 3. Quero sim
bém no XXXIV Encontro dos Ofici- O Tabelião de Notas, por sua ferretoar os notários para que lutem
ais de Registro de Imóveis do Bra- vez, como digno representante do e aumentem a força da gota d’água,
sil- IRIB, realizado em 24 a 28 de se- Estado na sua Comarca e autor do até hoje gotejando sobre pedra dura,
tembro de 2007, em Florianópolis, título notarial, após colher e sanear a mais por apatia dos notários, embo-
tendo em vista o espaço criado pelo vontade das partes, poderá vir a in- ra a lei os coloca ao nível dos regis-
IRIB, para apresentação de teses e tegrar o Procedimento da Dúvida, tradores (Art. 3º da Lei Federal
estudos registrais. como ASSISTENTE SIMPLES, de- 8.935).

30 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 3º DECÊNDIO MARÇO/2008 – Nº 9


CART
BOLETIM CARTORÁRIO 9/5

“PENSO, LOGO EXISTO”


(Autoritarismo inconsciente de alguns registradores)
O título deste artigo, na sua sa- omitindo, por questão de ética, o tão a escrever e publicar o meu en-
bedoria, contém profunda verdade. É nome do oficial “que não pensou”, tendimento sobre tais recusas, fun-
ele a reprodução de uma frase mas contrariando DESCARTES, dadas em exigências (para mim) des-
antológica de DESCARTES. O ho- EXISTE e atazana a vida de muitos. tituídas, não digo de fundamento,
mem é o único ser que pensa, con- Quando comecei a escrever no anti- mas afirmo, ridículas, reveladoras da
seqüentemente existe, e existe por- go DIÁRIO DAS LEIS, isso o fiz por ignorância, da prepotência, do
que pensa. Se não pensasse não iniciativa própria, sem qualquer inte- autoritarismo ou (é difícil registrar,
existiria como ser humano, pois ao resse material, mas com o único pro- mas registro) do sadismo do oficial,
lado do homem que pensa, temos pósito de fazer com que todos os já que o mesmo é, como o NOTÁ-
outros seres que por não pensarem cartorários executem seus serviços RIO, o único responsável por todas
são animais irracionais. O que é ra- com consciência a responsabilidade, as falhas ou irregularidades que fo-
ciocínio? É a atividade mental que ESTUDANDO o ato cartorário a ser rem praticadas na serventia de que é
através do desconhecido chega-se praticado, em todas as suas titular. Quando comecei a escrever no
ao conhecido, procurado e desejado. minúcias. Obtive a mais desacredi- então Boletim do Direito Imobiliário,
Todos os animais existem, mas só tada notaria paulistana, num concur- depois Diário das Leis Imobiliário, o
um efetivamente pensa: O HOMEM. so “de título”, em primeiro lugar, fiz por iniciativa própria, ato que foi
Se não pensasse não existiria, segun- reclassificação que obtive em conse- acolhido pelos seus diretores. O que
do a afirmativa do sábio filósofo. Esta qüência de ter todos os títulos que a publicava, extrapolou o âmbito
divagação, um tanto filosófica literá- então lei vigente mencionava, e tam- cartorário, e um renomado jurista fez
ria, como introdutória desta exposi- bém pela longa experiência vivida no referências públicas ao meu trabalho,
ção, tem um sentido: Um cartorário interior paulista nas atividades profis- de forma elogiosa e para mim imen-
que não pensou, deixou de registrar sionais de notário, registrador civil e samente gratificantes. Lembro-me
uma escritura, mas outro homem que registrador imobiliário. Lutei não con- que uma delas foi divulgada no “O
conhece e confirma a frase de Des- tra todos os registradores imobiliári- ESTADO DE SÃO PAULO”. Isso me
cartes, não só não concordou com a os paulistanos, mas contra alguns, foi sumamente gratificante pelos tí-
recusa do registrador imobiliário, que não acolhendo escrituras para tulos que ornamentam o seu nome
como demonstrou a improcedência registro nas serventias de que eram de jurista e muito me envaideceram.
de sua recusa, e a escritura, por de- titulares, as devolviam, muitas sem A confirmar que os sábios são humil-
terminação superior, foi registrada, e motivo algum, ou sem que da “EXI- des, de certa feita esse jurista vem
dessa particularidade eu tomei co- GÊNCIA” constasse qualquer funda- ao meu escritório, e me oferece, com
nhecimento através do DIÁRIO DAS mento. Duas coisas ocorreram: mi- estimulantes dedicatórias, obras de
LEIS IMOBILIÁRIO, 2° decêndio, nha reação a tais exigências e minha sua autoria, que ornamentam – com
Outubro 2007, páginas 4-5, em arti- decepção, estas não menciono, por muito orgulho – minha biblioteca,
go de autoria de um renomado juris- terem suporte na ilucidez, no quais sejam: Das Cláusulas de
ta, respeitadíssimo no DIREITO EM autoritarismo, na prepotência, e tam- Inalienabilidade, Incomunicabilidade
GERAL, que com sua autoridade di- bém (porque deixar de registrar) NA e Impenhorabilidade – Do Condomí-
vulgou publicamente o que ocorreu, IGNORÂNCIA de alguns. Passei en- nio Tradicional no Direito Civil – A

3º DECÊNDIO MARÇO/2008 – Nº 9 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 31


CART
BOLETIM CARTORÁRIO 9/6

Transação no Direito Civil e As con- processo teria seu curso previsto na Repito como um pregador teimo-
dições no Direito Civil. lei, vista ao M.P., sentença e recur- so e insolente: SOU E SEREI – en-
Esse jurista é o Dr. Carlos so, este sim privativo do Ministério quanto puder escrever –, contra no-
Alberto Dabus Maluf. Pois bem, aqui Público, ou de advogado constituído tários incompetentes, embora sejam
está o motivo desta exposição no pelo interessado. O que pretendo iguais perante a lei, tais como os com-
BOLETIM CARTORÁRIO. Um reno- com o sugerido? Dar consciência e petentes. De memória, cito RUI, pa-
mado, respeitável e autorizado advo- responsabilidade, tanto ao notário em rodiando-o: Porque os cartorários in-
gado, assessorando uma transação redigir o título como ao oficial em competentes não são tratados desi-
imobiliária, envolvendo a alienação de examiná-lo para a prática do ato gualmente, na proporção que se
uma garagem de propriedade de um registrário. A inteligência ou a igno- desigualam?
cliente seu, teve a respectiva escri- rância; a dedicação ou a desatenção; Sobre o assunto, esta exposi-
tura dificuldade de ingresso na
a responsabilidade ou a irresponsabi- ção, registro, tem os característicos
serventia predial, e só nela ingressou
lidade de um ou de outro, antecipa- do “canto do cliente”:
pela força da autoridade do Conse-
damente ficariam evidentes e muitas
lho Superior da Magistratura, onde o Há uma observação do notário
dúvidas deixariam de existir e muitos
assunto foi questionado, e o brilhan- Wilson Bueno Alves, que a tenho por
erros ficariam restritos na esfera
te advogado NELSON KOJRANSKI precisa e válida: Se a exigência do
correcional, tudo em benefício dos
demonstrou ao alto colegiado o erro registrador objetivar aspecto formal
usuários dos serviços cartorários, e
de entendimento do registrador, que do título, quem está comprometido é
um entendimento mais leal e hones-
embora tenha logrado acolhida pelo o notário que o elaborou. Tal ocorren-
to existiria entre notários e registra-
Juiz Corregedor do Cartório, era im- do, o registrador não poderia formu-
dores, já que ambos igualam-se no
procedente por contrariar o direito do lar exigência, mas sim reclamação
exercício de suas atividades: São pro-
proprietário do imóvel. O artigo – ali- contra o notário que elaborou o títu-
fissionais do direito.
ás não só brilhante como também lo, para que o seu Corregedor apre-
O caso patrocinado pelo Dr. Nel-
didático, a justificar sua qualidade de ciasse sua falha, prevalecendo o nú-
son Kojranski tem particularidades
professor, está na íntegra reproduzi- mero do protocolo até a solução da
do às páginas 4 e 5 do n° 30 – 3° que comprometem o oficial registra-
reclamação, a impedir o protocolo de
decêndio – Outubro/2007 do DIÁRIO dor que recusou o registro do título,
novo título. O fato é – e isso afirmo
DAS LEIS IMOBILIÁRIO, cuja leitura a comprovar o que constantemente
de forma repetitiva –, pois afirmei
atenta recomendo a todos os profis- afirmamos aqui: AUTORITARISMO
quando o IRIB outorgou-me a “ME-
sionais do direito. Esta exposição tem INCONSCIENTE DE ALGUNS RE-
DALHA JULIO CHAGAS”: Temos no-
também um outro motivo, que sub- GISTRADORES IMOBILIÁRIOS,
tários incompetentes e registrado-
meto à apreciação do Dr. Carlos como o daquele que ignorando a di-
res também incompetentes, só que
Alberto Dabus Maluf, ao Dr. Nelson ferença solar que há entre “preço” e
a incompetência dos últimos são
Kojranski e a todos os que interessa- “dívida”, suscitou dúvida, quando um
agravadas pela prepotência.
rem-se pela sugestão: As exigências tutor, com dinheiro seu, pagou o pre-
deveriam ser formalizadas pelo ofici- ço de um imóvel que comprou para P.S.: Tomei conhecimento de

al, pessoalmente ao NOTÁRIO que tutelado. Movimentou-se o aparelha- que o Dr. Elvino Silva faleceu. Minha

redigiu o título, e só após a sua ma- mento do Poder Judiciário da saudade, pois, quando vivo, sempre
nifestação no processo (ambos não comarca, para a escritura ser regis- me apoiou em assuntos que expus
são profissionais do direito?) é que o trada. como ora exponho este.

32 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 3º DECÊNDIO MARÇO/2008 – Nº 9


PERGUNT
PERGUNTAS & RESPOST
GUNTAS AS
RESPOSTAS
AÇÃO DE DESPEJO POR FALTA DE PAGAMENTO – QUANDO PODE
SER AJUIZADA
Pergunta: Tenho um contrato efetuado em nome da pessoa jurídica, mas do contrato consta dois imóveis,
residenciais e um comercial. Qual o prazo para requerer o despejo por falta de pagamento já que o locatário
está apenas alguns dias atrasado. (M.J.G. – Carangola, MG)

Resposta: A ação de despejo por falta de pagamento poderá ser proposta a partir do primeiro inadimplemento do
locatário. Normalmente se espera até um mês, antes da proposição da ação de despejo por falta de pagamento, tendo
em vista o possível descontrole do locatário, bem como é bom avisar o locatário para pagar em tal dia sob pena do
ajuizamento da ação de despejo por falta de pagamento cumulada com cobrança. As ações devem ser propostas logo
para evitar o acúmulo de aluguéis vencidos, prejudicando o locador, bem como o locatário que depois não poderá pagar
em virtude do montante alto. A ação de despejo por falta de pagamento cumulada com cobrança poderá ser proposta
contra o locatário e os fiadores.

IMPENHORABILIDADE DE BEM DE FAMÍLIA


Pergunta: Um devedor de título extrajudicial, oriundo de negócios comerciais, cobrado à revelia, com pe-
nhora do único bem imóvel levado à praça de leilão público, cuja sentença já transitou em julgado: Há alguma
possibilidade de se conseguir uma medida judicial que interrompa a arrematação, adjudicação ou suste o lei-
lão, por ser o único imóvel de moradia do devedor, que não se trata de fiador de contrato de locação ? (J.C.A.B.
– São José do Rio Preto, SP)

Resposta: Nos termos da Lei da Impenhorabilidade de bem de família (Lei. 8.009/90), o único imóvel do executado
não poderá ser penhorado, salvo as exceções do art. 3.º da mesma lei, quais sejam: I) em razão dos créditos de
trabalhadores da própria residência e das respectivas contribuições previdenciárias; II) pelo titular do crédito decorrente
do financiamento destinado à construção ou à aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em
função do respectivo contrato; III) pelo credor de pensão alimentícia; IV) para cobrança de impostos, predial ou territorial,
taxas e contribuições devidas em função do imóvel familiar; V) para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido
como garantia real pelo casal ou pela entidade familiar; VI) por ter sido adquirido com produto de crime ou para execu-
ção de sentença penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens; VII) por obrigação decorren-
te de fiança concedida em contrato de locação. (Redação dada pela Lei nº 8.245, de 18.10.1991, D.O.U. de 21.10.1991)

FIANÇA LOCATÍCIA – AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL PARA O RE-


GISTRO DO CONTRATO RELACIONADO AO IMÓVEL DO FIADOR
Pergunta: Um fiador que dispõe de seus bens durante o prazo do contrato, tornando-se insolvente, sendo
que o contrato não foi averbado junto à matrícula do imóvel dado em garantia. A Ação de revogabilidade pode
ser intentada ou neste caso a fiança dada foi perdida quando solicitado o pagamento via medida judicial de
cobrança ? (J.C.A.B. – São José do Rio Preto, SP)

Resposta: Nos termos do art. 40 da Lei 8.245/91, o locador poderá exigir novo fiador ou a substituição da moda-

3º DECÊNDIO MARÇO/2008 – Nº 9 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 33


PERGUNT
PERGUNTAS
GUNT RESPOSTAS
AS & RESPOSTAS

lidade de garantia, sob pena de despejo, quando da insolvência do fiador declarado judicialmente; na alienação de seu
imóvel, etc. Não existe previsão na Lei de Registros Públicos para o registro ou averbação de contrato de locação
relacionado à fiança locatícia, ou de cláusula em que o fiador deu em garantia determinado imóvel. A fiança, sendo uma
obrigação pessoal do fiador, elenca-se no direito obrigacional e não como garantia real, porque não é requisito da fiança
a existência de propriedade imobiliária, não se vinculando ao seu patrimônio, pois o imóvel apenas prova que o fiador
é idôneo, sendo o mesmo penhorado, caso não seja vendido ou doado antes de qualquer execução por aluguéis
inadimplidos, não surtindo efeitos a menção no contrato de locação do imóvel do fiador.

LOCAÇÃO – DESPEJO POR FALTA DE PAGAMENTO C/C COBRANÇA –


ABANDONO DO IMÓVEL PELO LOCATÁRIO – MÓVEIS NÃO RETIRADOS
Pergunta: Efetuei um despejo por falta de pagamento cumulado com encargos de um imóvel comercial.
Entretando o inquilino fechou as portas dando sinal que iria abandoná-lo, mas deixando no seu interior alguns
móveis. Então requeri a tutela antecipada e citação do locatário e a citação dos fiadores, juntando ao processo
declaração de ex-funcionários da empresa locatária e de alguns vizinhos que o imóvel se encontrava fechado.
A magistrada determinou que o oficial de justiça certificasse ou não o abandono do referido imóvel, e o mesmo
certificou que o imóvel se encontrava fechado. Sendo assim, a Juíza não concedeu a tutela antecipada e após
50 dias de ter impetrado a ação mandou citar o locatário para pugar a mora ou contestar a açao e mandando
apenas cientificar os fiadores, sendo que foi requerido na inicial a citação via postal dos fiadores. Qual proce-
dimento devo adotar ? (M.J.G – Carangola, MG)

Resposta: Como no caso o abandono ocorreu após a propositura da Ação de Despejo, e houve até prova de que
o imóvel se encontra abandonado pelo locatário, tanto por provas testemunhais como pelo próprio oficial de justiça, nos
termos do art. 66 da Lei 8.245/91 deveria ocorrer a imissão na posse do imóvel. O caminho mais fácil será o da citação
do locatário para purgar a mora, já que se trata de depejo por falta de pagamento. O objeto desta ação é pagar purgando
a mora, caso contrário ocorrerá o despejo. Doutrina: Diz Francisco Carlos Rocha de Barros (Desembargador do 2.º
TACSP) em seu livro “Comentários à Lei do Inquilinato” - Editora Saraiva - 1995 - Pág.: 422: “...A segunda hipótese dar-
se-á se o abandono ocorrer após o ajuizamento, mas antes da citação do réu. Reconhecido pelo juiz o abandono,
mandará imitir o locador na posse do imóvel. Dir-se-á, então, que o processo será julgado extinto, sem julgamento do
mérito, porque o autor carecia de interesse processual (CPC, art. 267, VI). Não é tão simples. Nada impede que o
autor, imitido na posse, peça o prosseguimento da ação. Esta foi ajuizada com base em algum fundamento, e ele pode
ter interesse no julgamento da pretensão deduzida contra o réu. Pode insistir, portanto, na citação do réu para integrar
a relação processual e contestar, querendo o pedido. Nessa hipótese, o feito prosseguirá até o julgamento do mérito,
ainda que o imóvel já tenha sido desocupado. No julgamento do mérito o réu poderá ser condenado no pedido, além de
responsabilizado por custas e honorários. Só não se decretará o despejo porque o locador já foi imitido na posse. Anote-
se que, sem a citação do réu, portanto não completada a relação processual, não se forma o vínculo entre autor-juiz-réu.
Não se instaura, antes da citação, a situação de litígio que deve ser resolvida pelo juiz através da prestação jurisdicional.
Se não se efetivar a citação, será extinto o processo sem julgamento do mérito e não se poderá impor ao réu qualquer
condenação, sequer em verbas sucumbenciais. A ação só produz efeitos em relação ao réu após a sua citação (CPC,
art. 263, segunda parte). Enquanto não citado, não se concebe prolação de sentença que possa atingir o réu. Apresen-
ta-se idêntica solução para a hipótese de abandono antes da propositura da ação. Ajuizada a ação de despejo, consta-
ta-se já ter sido abandonado o imóvel. Verificado e reconhecido o abandono, o juiz decretará a imissão. O autor, se
quiser, poderá insistir no prosseguimento da demanda, requerendo a citação do réu. Vale aqui o que ficou dito para o
caso de abandono após a propositura, mas antes da citação.” Outra solução, caso contrário: Se for difícil localizar o
locatário, o mesmo deverá ser citado por edital.
34 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 3º DECÊNDIO MARÇO/2008 – Nº 9
NOTÍCIAS
NOTÍCIAS
CONDOMÍNIO: COMISSÃO DE REPRESENTANTES
RESPONSABILIDADE

Carlos Roberto Tavarnaro (*)

Interessante decisão prolatada pela 4ª Turma do Superior Tribunal de Justiça – STJ, em que
figurou como relator o Eminente Ministro Adir Passarinho Junior, enfrentou questão relacionada à
responsabilidade da Comissão de Representantes perante à Incorporadora/Construtora da obra em
construção.
Ao analisar dito contexto, aquela corte entendeu que o condomínio posteriormente instituído
seria o sucessor natural daquela comentada comissão.
Tal enfrentamento por certo revela aspectos interessantes, posto que, iniciados na fase embrio-
nária desta relação condominial. Confira o teor do aludido julgamento, a saber:
A Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) não conheceu de um recurso especial no
qual o Condomínio Edifício La Boheme House Apartments, de São Paulo, afirma não ser parte
legítima para responder à ação indenizatória movida por condômino que teve as chaves de seu
imóvel retidas pela comissão de representantes, criada para supervisionar o andamento das obras
e servir de intermediária entre os condôminos, o construtor e o incorporador. A Turma entendeu que,
após o término da construção, o condomínio formado sucede a comissão anterior e responde por
seus atos.
O proprietário do imóvel, além de não receber da comissão de representantes as chaves da
unidade que adquiriu, teve seu nome lançado como inadimplente em comunicados que circularam
posteriormente no condomínio. A sentença de primeiro grau condenou o réu a pagar R$ 5 mil relativos
a danos morais mais os valores equivalentes à locação do imóvel no período de outubro de 1991 a
julho de 1992. Em grau de apelação, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo manteve a decisão.
No STJ, o relator do processo, ministro Aldir Passarinho Junior, afirmou que, se o condomínio
não pudesse ser responsabilizado pelas ações da comissão de representantes, seria praticamente
impossível a algum condômino ressarcir-se de prejuízos causados pela comissão, pois teria de
acionar seus membros individualmente, já que ela desaparece ao término da obra.
Apesar de alegar não ser parte legítima para responder à ação, o condomínio foi responsável
pelo fato que ensejou o dano moral – a divulgação do nome do autor como inadimplente. Por si só,
o episódio seria suficiente para colocá-lo no pólo passivo do litígio.
Contra o argumento do réu, há ainda o texto da Lei n. 4.591/1964, que confere ao condomínio o
direito de reter a unidade cujo titular estiver inadimplente. Como o período em que a dívida foi
constituída coincide com o tempo de existência da comissão de representantes, infere-se que o
condomínio é o seu sucessor de direito. A Turma, ao não conhecer do recurso, foi unânime no
posicionamento de que o condomínio tem de arcar com os danos causados pela comissão que o
antecedeu.
Portanto, conforme visto, ao nascer formalmente o condomínio, ele já pode ter herdado respon-
sabilidades que surgiram preteritamente à sua existência, vez que, a comissão de representantes
seria a ante-sala deste condomínio.
(*) O autor é advogado, consultor, empresário e incorporador do setor imobiliário do Estado do
Paraná - tavarnaro.com.br
3º DECÊNDIO MARÇO/2008 – Nº 9 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 35
ÍNDICES DE CORREÇÃO MONETÁRIA
TR POUPANÇA FGV - % IBGE - % FIPE - %
MESES
% % I G P- M IGP/D I IPC-D I IPA-D I INCC -DI INPC IPC-A IPC
Mar./2006 0,2073 0,7083 (-) 0,23 (-) 0,45 0,22 (-) 0,82 0,20 0,27 0,43 0,14
Abr. 0,0855 0,5859 (-) 0,42 0,02 0,34 (-) 0,15 0,36 0,12 0,21 0,01
Mai. 0,1888 0,6897 0,38 0,38 (-) 0,19 0,46 1,32 0,13 0,10 (-) 0,22
Jun. 0,1937 0,6947 0,75 0,67 (-) 0,40 1,06 0,90 (-) 0,07 (-) 0,21 (-) 0,31
Jul. 0,1751 0,6760 0,18 0,17 0,06 0,17 0,47 0,11 0,19 0,21
Ago. 0,2436 0,7448 0,37 0,41 0,16 0,53 0,24 (-) 0,02 0,05 0,12
Set. 0,1521 0,6529 0,29 0,24 0,19 0,28 0,11 0,16 0,21 0,25
Out. 0,1875 0,6884 0,47 0,81 0,14 1,16 0,21 0,43 0,33 0,39
Nov. 0,1282 0,6288 0,75 0,57 0,24 0,75 0,23 0,42 0,31 0,42
Dez. 0,1522 0,6530 0,32 0,26 0,63 0,11 0,36 0,62 0,48 1,04
Ano 2006 2,12% 8,33% 3,83% 3,79% 2,05% 4,29% 5,04% 2,81% 3,14% 2,55%
Jan./2007 0,2189 0,7200 0,50 0,43 0,69 0,32 0,45 0,49 0,44 0,66
Fev. 0,0721 0,5725 0,27 0,23 0,34 0,19 0,21 0,42 0,44 0,33
Mar. 0,1876 0,6885 0,34 0,22 0,48 0,11 0,27 0,44 0,37 0,11
Abr. 0,1272 0,6278 0,04 0,14 0,31 0,02 0,45 0,26 0,25 0,33
Mai. 0,1689 0,6697 0,04 0,16 0,25 (-) 0,04 1,15 0,26 0,28 0,36
Jun. 0,0954 0,5959 0,26 0,26 0,42 0,09 0,92 0,31 0,28 0,55
Jul. 0,1469 0,6476 0,28 0,37 0,28 0,42 0,31 0,32 0,24 0,27
Ago. 0,1466 0,6473 0,98 1,39 0,42 1,96 0,26 0,59 0,47 0,07
Set. 0,0352 0,5354 1,29 1,17 0,23 1,64 0,51 0,25 0,18 0,24
Out. 0,1142 0,6148 1,05 0,75 0,13 1,02 0,51 0,30 0,30 0,08
Nov. 0,0590 0,5593 0,69 1,05 0,27 1,45 0,36 0,43 0,38 0,47
Dez. 0,0640 0,5643 1,76 1,47 0,70 1,90 0,59 0,97 0,74 0,82
Ano 2007 1,45% 7,70% 7,75% 7,89% 4,60% 9,44% 6,15% 5,16% 4,46% 4,38%
Jan./2008 0,1010 0,6015 1,09 0,99 0,97 1,08 0,38 0,69 0,54 0,52
Fev. 0,0243 0,5244 0,53 0,38 0,004 0,52 0,40 0,48 0,49 0,19
Mar. 0,0409 0,5411

SINDUSC ON/CUB - % (**) DÓLAR - R$


MESES IMPOSTO DE R ENDA RETIDO NA FONTE
MG RJ RS SC SP COMERCIAL PARALELO
Mar./2006 0,06 4,30 (-) 0,02 (-) 0,39 (-) 0,18 2,165 2,280 Base de A l íq u o ta ( % ) Parcela a
Abr. 0,49 (-) 0,48 0,02 0,26 0,05 2,089 2,300 Cálculo (R$) Deduzir (R$)
Mai. 0,55 0,07 0,81 2,91 2,77 2,324 2,400 Até 1.372,81 Isento -
Jun. 0,24 0,14 1,70 0,70 0,25 2,165 2,393 De 1.372,82 A
Jul. 0,19 0,26 0,39 (-) 0,004 0,17 2,176 2,400 2.743,25 15,0 205,92
Ago. 0,16 0,35 (-) 0,09 0,23 0,05 2,133 2,350 Acima 2.743,25 27,5 548,82
Set. 0,16 0,02 0,09 (-) 0,12 0,07 2,174 2,350 DEDUÇÕES:
Out. 0,12 0,74 (-) 0,04 (-) 0,04 0,00 2,143 2,370 a) R$ 137 ,99 por de pende nte; b) Pensãoalimen-
Nov. 0,07 0,16 (-) 0,19 (-) 0,86 0,06 2,166 2,400 tar integral; c) R$ 1.372,81 para aposentados,
Dez. 2,96 0,03 0,36 0,20 0,51 2,135 2,370 pensionistas e transferidos para a reserva re-
Ano 2006 6,15% 6,01% 3,38% 3,13% 4,28% (-) 8,76% (-) 6,32% munerada que tenham 65 anos de idade ou
Jan./2007 0,69 0,02 0,36 0,067 0,21 2,124 2,350 mais; d) contrib uição à Prev idênc ia Soc ial.
Fev. 0,19 0,10 0,08 0,32 0,16 2,121 2,300
Mar. 0,22 2,44 0,28 0,17 0,15 2,050 2,250 UPC (R$) - Jan. / Mar. - 2008 = 21,31
Abr. 0,31 0,13 0,82 0,56 0,71 2,033 2,200 Salário-Mínimo - Mar. - 2008 = 415,00
Mai. 0,36 0,02 0,22 3,17 1,21 1,9289 2,100 UFESP(SP) (R$) - 2007 = 14,23 - 2008 = 14,88
Jun. 0,23 0,45 2,06 0,16 1,43 1,926 2,100 UFM/SP (R$) - 2007 = 83,48 - 2008 = 87,20 (*)
Jul. 0,35 0,05 0,22 0,75 0,58 1,877 2,090
Ago. 0,24 0,29 0,08 (-) 0,02 0,50 1,962 2,150 OBSERVAÇÕES:
Set. 0,40 0,23 0,27 0,26 0,26 1,838 2,100 TR e P oupan ça - Perc entual co rrespond ente
Out. 0,68 0,63 0,45 0,72 0,78 1,744 2,050 ao primeiro dia útil do mês, a ser creditado
Nov. 0,52 0,12 0,23 0,31 0,68 1,783 2,000 t r in t a d ia s a p ó s; ( *) t ri b u to s l a nç a d o s em U F M ,
Dez. 4,19 0,10 0,08 0,55 0,59 1,771 1,990 exceto IPTU. Multiplique a quantid ade de UFM
Ano 2007 8,64% 4,65% 5,26% 7,20% 7,50% (-) 17,05% (-) 16,03% (extinta em 01.01.1996) correspondente por
Jan./2008 0,76 0,37 0,10 0,16 0,07 1,760 2,000 R$ 76,58; Dólar - Cotações do último dia útil do
Fev. 0,35 0,88 0,62 0,48 0,38 1,698 1,920 mês. (**) Até 02/2007, conf. NBR 12.721/1999;
Mar. a partir de março/2007, conf. NBR 12.721/2006.

COEFICIENTES ACUMULADOS ATÉ O MÊS ANTERIOR


REAJUSTE EM D EZEMBR O/2007 REAJUSTE EM JANEIRO /2008
Indexador B i m. T r im . Q u ad r im . Sem. Anual B i m. T r im . Q u ad r im . Sem. Anual
I G P -M / F G V 1,0175 1,0306 1,0407 1,0463 1,0623 1,0247 1,0354 1,0487 1,0620 1,0775
I G P -D I /F G V 1,0180 1,0299 1,0443 1,0509 1,0660 1,0254 1,0330 1,0451 1,0636 1,0789
I P C /F G V 1,0040 1,0062 1,0105 1,0175 1,0453 1,0097 1,0110 1,0133 1,0204 1,0460
I N P C /I B G E 1,0073 1,0098 1,0158 1,0222 1,0479 1,0140 1,0171 1,0196 1,0289 1,0516
I P C -A / IB G E 1,0068 1,0086 1,0134 1,0186 1,0419 1,0112 1,0143 1,0161 1,0233 1,0446
I P C / FI P E 1,0055 1,0079 1,0086 1,0169 1,0461 1,0130 1,0138 1,0162 1,0197 1,0438

REAJUSTE EM F EVEREIRO/2008 REAJUSTE EM M ARÇO/2008


Indexador B i m. T r im . Q u ad r im . Sem. Anual B i m. T r im . Q u ad r im . Sem. Anual
I G P -M / F G V 1,0287 1,0358 1,0467 1,0706 1,0838 1,0162 1,0341 1,0413 1,0658 1,0867
I G P -D I /F G V 1,0248 1,0355 1,0432 1,0701 1,0849 1,0137 1,0286 1,0394 1,0594 1,0865
I P C -D I /F G V 1,0168 1,0195 1,0209 1,0275 1,0490 1,0098 1,0169 1,0196 1,0232 1,0455
I N P C /I B G E 1,0167 1,0210 1,0241 1,0327 1,0536 1,0117 1,0215 1,0259 1,0316 1,0543
I P C -A / IB G E 1,0128 1,0167 1,0197 1,0264 1,0456 1,0103 1,0178 1,0217 1,0266 1,0461
I P C / FI P E 1,0134 1,0182 1,0190 1,0221 1,0423 1,0071 1,0154 1,0202 1,0234 1,0408

OBS .: Para reajuste anual de aluguel: multiplique o valor pelo indexador contratado.
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