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Da possibilidade de retificação de
partilha judicial por escritura pública.
Autor: Marco Antonio de O. Camargo (p. 27)
Colaboradores:
Adriano Erbolato Melo PRÁTICA DE DIREITO IMOBILIÁRIO
Amaro Moraes e Silva Neto O PREÇO NAS ESCRITURAS DEFINITIVAS DE COMPRA E VENDA – PARTE I
Américo Isidoro Angélico (Prof. Jorge Tarcha) ..................................................................................................................... 10
Arthur Edmundo de Souza Rios
Bianca Castelar de Faria JURISPRUDÊNCIA
Carlos Alberto Dabus Maluf
EXECUÇÃO FISCAL – EMBARGOS DE TERCEIRO – IMÓVEL ALIENADO E NÃO TRANS-
Daniel Alcântara Nastri Cerveira
Dilvanir José da Costa CRITO NO REGISTRO IMOBILIÁRIO (STJ) ............................................................................. 12
Felipe Leonardo Rodrigues FRAUDE À EXECUÇÃO – EMBARGOS DE TERCEIRO – PENHORA NÃO LEVADA A RE-
Fernanda Souza Rabello GISTRO – PRESUNÇÃO DE BOA-FÉ (TJSP) .......................................................................... 13
Geraldo Beire Simões DESPESAS CONDOMINIAIS – EXECUÇÃO – CREDOR HIPOTECÁRIO (STJ) ...................... 14
Guilherme Fanti POSSESSÓRIA – MANUTENÇÃO DE POSSE – CONVERSÃO EM AÇÃO DE NUNCIAÇÃO
Iuli Ratzka Formiga DE OBRA NOVA (TJSP) ............................................................................................................. 15
Jaques Bushatsky
CONDOMÍNIO – AÇÃO RESCISÓRIA – ERRO DE FATO – PRESTAÇÃO DE CONTAS (STJ) .... 17
Jorge Tarcha
José Hildor Leal COMPRA E VENDA – ADJUDICAÇÃO COMPULSÓRIA – GRAVAME HIPOTECÁRIO –
Kênio de Souza Pereira INEFICÁCIA (TJSP) .................................................................................................................... 19
Leonardo Henrique M. Moraes Oliveira LOTEAMENTO – REPASSE DO CUSTO DAS OBRAS DE INFRA-ESTRUTURA (TJSP) ........ 21
Luis Camargo Pinto de Carvalho CONDOMÍNIO – COTAS EM ATRASO – COBRANÇA – NOVO CONDÔMINO – CONTRATO
Luiz Antonio Scavone Jr. NÃO REGISTRADO (STJ) .......................................................................................................... 22
Marcelo Manhães de Almeida
Márcio Flávio Lima
Marco Aurélio Bicalho de A. Chagas JURISPRUDÊNCIA CARTORÁRIA
Marco Aurélio Leite da Silva REGISTRO DE IMÓVEIS – FORMAL DE PARTILHA – EXCLUSÃO DA MEAÇÃO DO CÔN-
Mário Cerveira Filho JUGE FALECIDO (CSM/SP) ....................................................................................................... 23
Michel Rosenthal Wagner REGISTRO DE IMÓVEIS – ESCRITURA DE VENDA E COMPRA – CESSÃO DE DIREITOS
Narciso Orlandi Neto DESNECESSIDADE DOS REGISTROS (CSM/SP) .................................................................. 25
Regnoberto Marques de Melo Jr.
Ricardo Amin Abrahão Nacle
BOLETIM CARTORÁRIO
Valestan Milhomem da Costa
PARTILHA JUDICIAL – RETIFICAÇÃO POR ESCRITURA PÚBLICA (Marco A. de O. Camargo) . 27
Wilson Bueno Alves
SPPREV EM SUBSTITUIÇÃO AO IPESP .................................................................................... 29
Gerência Comercial:
SERVENTUÁRIO PADRÃO DO ANO 2007 ................................................................................... 31
Telefone e fax: (11) 3673-3155 (PABX)
E-mail: comercial@diariodasleis.com.br
Foto de Capa: PERGUNTAS & RESPOSTAS
www.sxc.hu ESCRITURA DE DIVISÃO AMIGÁVEL EM GLEBA RURAL ........................................................ 33
Impressão e Acabamento: ALUGUEL – AÇÃO DE COBRANÇA – EXISTÊNCIA DE 2 CONTRATOS .................................. 33
Gráfica Josemar CERTIDÃO POSITIVA DE IMPOSTOS COM EFEITOS DE NEGATIVA ..................................... 33
Editora: COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA – EFEITOS JURÍDICOS APÓS A LAVRATURA
DIÁRIO DAS LEIS LTDA. DA ESCRITURA PÚBLICA .......................................................................................................... 33
CNPJ(MF) 47.381.850/0001-40 USUCAPIÃO – REGISTRO DA SENTENÇA – SATISFAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES FISCAIS ... 34
Rua Bocaina, 54 - Perdizes
CONDOMÍNIO – IDENTIFICAÇÃO DA UNIDADE AUTÔNOMA .................................................. 34
CEP: 05013-901 - São Paulo - SP
Telefone e Fax: (11) 3673-3155 (PABX)
Site: www.diariodasleis.com.br NOTÍCIAS
E-mail: dl@diariodasleis.com.br PERSONALIDADE JURÍDICA DO CONDOMÍNIO: NECESSIDADE DE SOLUÇÃO
(Daphnis Citti Lauro) .................................................................................................................... 35
Obs.: Proibida a reprodução total ou par-
cial. Os artigos assinados não refletem ne-
cessariamente
2 DIÁRIO DAS a LEIS
opinião do DLI. ÍNDICES DE CORREÇÃO MONETÁRIA .......................................................
da direção(DLI)
IMOBILIÁRIO 2º DECÊNDIO FEVEREIRO/2008 – Nº 5
36
ESTADU
LEGISLAÇÃO ESTADUAL
ADU MUNICIPAL
AL E MUNICIPAL
MUNICÍPIO SÃO PAULO – EDIFICAÇÕES RESIDENCIAIS E NÃO-RESI-
DENCIAIS DEVEM DISPOR DE SISTEMA DE AQUECIMENTO SOLAR
Regulamenta a Lei n° 14.459, de suas interligações hidráulicas que isoladas ou agrupadas horizontal ou
3 de julho de 2007, que acrescenta o funcionam por circulação natural ou verticalmente ou superpostas, da ca-
item 9.3.5 à Seção 9.3 - Instalações forçada. tegoria de uso residencial, ou inte-
Prediais do Anexo I da Lei nº 11.228, Art. 2º. É obrigatória a instala- grantes de conjunto de instalações de
de 25 de junho de 1992 (Código de ção do SAS nas novas edificações do usos não-residenciais, que incluam a
Obras e Edificações), e dispõe sobre Município de São Paulo destinadas construção de piscina de água
a instalação de sistema de aqueci- às categorias de uso residencial e aquecida.
mento de água por energia solar nas não-residencial. § 1º. Para os fins deste decreto,
novas edificações do Município de consideram-se piscinas todos os re-
São Paulo. Art. 3º. A obrigatoriedade esta-
belecida no artigo 2º deste decreto servatórios de água para finalidades
Gilberto Kassab, Prefeito do aplica-se, na categoria de uso não- de lazer, terapêuticas e de práticas
Município de São Paulo, no uso das residencial, às seguintes atividades esportivas, com capacidade superior
atribuições que lhe são conferidas por de comércio, de prestação de servi- a 5m3 (cinco metros cúbicos).
lei, ços públicos e privados, e industriais: § 2º. O SAS específico para a
Considerando as conclusões I - hotéis, motéis e similares; piscina é composto por coletor solar,
alcançadas pelo Grupo de Trabalho aquecimento auxiliar, acessório e
constituído pela Portaria nº 1.050 - II - clubes esportivos, casas de suas interligações hidráulicas que
PREF, de 10 de outubro de 2.007, banho e sauna, academias de ginás- funcionem por circulação natural ou
tica e lutas marciais, escolas de es- forçada.
Decreta: portes e estabelecimentos de locação
Art. 1º. Este decreto regulamen- de quadras esportivas; § 3º. O disposto neste artigo apli-
ta a Lei nº 14.459, de 3 de julho de ca-se somente às piscinas, novas ou
III - clínicas de estética, institu- existentes, que venham a receber um
2007, que acrescenta o item 9.3.5 à tos de beleza, cabeleireiros e simila-
Seção 9.3 - Instalações Prediais do sistema de aquecimento.
res;
Anexo I da Lei nº 11.228, de 25 de Art. 5º. Nas novas edificações
junho de 1992 (Código de Obras e IV - hospitais, unidades de saú- destinadas ao uso residencial,
Edificações), e dispõe sobre a insta- de com leitos e casas de repouso; unifamiliar ou multifamiliar, que te-
lação de sistema de aquecimento de V - escolas, creches, abrigos, nham um número de banheiros igual
água por energia solar nas novas asilos e albergues; ou superior a 4 (quatro) por unidade
edificações do Município de São Pau- VI - quartéis; habitacional deverá ser instalado o
lo. sistema de aquecimento solar com-
VII - indústrias, se a atividade
§ 1º. A instalação a que se refe- pleto.
setorial específica demandar água
re o “caput” deste artigo deverá ser aquecida no processo de industriali- Parágrafo único. Para efeito de
projetada e executada conforme as zação ou, ainda, quando disponi- aplicação deste decreto, define-se:
Normas Técnicas Oficiais vigentes, bilizar vestiários para seus funcioná- I - banheiro, o aposento dotado
que estabelecem os requisitos para rios;
de vaso sanitário, possuindo ou não,
o Sistema de Aquecimento Solar -
VIII - lavanderias industriais, de em suas instalações, aquecimento de
SAS, considerando os aspectos de
prestação de serviço ou coletivas, em água sanitária por alguma fonte de
concepção, dimensionamento, arran-
edificações de qualquer uso, que uti- energia;
jo hidráulico, especificação de com-
lizem em seu processo água aque-
ponentes, instalação e manutenção, II - água sanitária, a água potá-
cida.
onde o fluido de transporte é a água. vel utilizada para consumo humano;
Art. 4º. Sem prejuízo do estabe-
§ 2º. O SAS é composto por lecido no artigo 2º deste decreto, é III - água de piscina, a água tra-
coletor solar, reservatório térmico, igualmente obrigatória a instalação do tada para uso exclusivo de abasteci-
aquecimento auxiliar, acessórios e SAS nas edificações, novas ou não, mento da piscina.
Pme (sp) = 0,65 x 80,7 = 52,45 kwh/mês.m² AC = 1,13 x 0,7 x 7256,48 / 52,45 55 coletores
Para determinação da área AC = 109,43m² Conclusão: para atendimento da
coletora necessária para atender
70% da demanda de energia mensal, Supondo que o coletor possua demanda de 8.400 litros de água por
considerando um desvio de 45º do uma área de 2 m²: dia seriam necessários 118,26m² de
Norte Geográfico aplicamos a equa- Quantidade de coletores = 109,43 / 2 = determinado coletor solar para aten-
ção (3), sendo: 54,7 coletores dimento a contribuição solar de 70%.
COMENTÁRIOS E DOUTRIN
DOUTRINA
A
A TRANSFERÊNCIA DA POSIÇÃO DE DEVEDOR FIDUCIANTE
CESSÃO OU COMPRA E VENDA?
Maury Rouède Bernardes (*)
Por força das disposições do art. gado, de pleno direito, no crédito e Cumpre sublinhar também que,
28 da Lei 9.514/1997, quando o cre- na propriedade fiduciária.” (subli- com o registro da alienação fiduciária
dor-fiduciário cede seu crédito a ter- nhamos) em garantia, o devedor-fiduciante
ceiros está, também, transferindo ao Assim como nos casos da ces- transferiu ao credor-fiduciário, a pro-
cessionário “todos os direitos e obri- são do crédito pelo credor-fiduciário priedade sob condição resolutiva (ela
gações inerentes à propriedade e do pagamento da dívida por fiador se resolverá com a quitação do sal-
fiduciária em garantia”. (sublinha- ou terceiro, por igual se dá na hipóte- do do preço, objeto da garantia
mos) se de cessão e transferência da po- fiduciária), permanecendo com a pro-
Vale dizer, a simples cessão do sição de devedor-fiduciante. Ou seja, priedade sob condição suspensiva
crédito correspondente à parte do a cessão da posição de devedor- (ela se efetivará com a satisfação do
saldo do preço representada pelas fiduciante transfere ao cessionário, pagamento da dívida que garante).
prestações do parcelamento contra- todos os direitos e obrigações ineren- Segundo a lição de Melhim
tado, objeto da garantia constituída tes à propriedade fiduciária, antes Chalhub,
pela alienação fiduciária do imóvel fi- afetos ao cedente, investindo-se, as- “Na dinâmica do contrato de ali-
nanciado, conduz à transferência, ao sim, o cessionário, no direito real enação fiduciária de bens imóveis,
cessionário, de todos os menciona- (expectativo) de aquisição da propri- torna-se o alienante-fiduciante titular
dos direitos e obrigações, inclusive edade plena e na posição de deve- de um direito sob condição
sobre a propriedade (sob condição dor-fiduciante perante o credor- suspensiva, que se consubstancia
resolutiva) do imóvel objeto da alie- fiduciário. “numa expectativa real que encerra,
nação fiduciária em garantia. Aliás, não é outro o caminho condicionalmente, uma pretensão
Também na hipótese de paga- apontado pelo art. 29 da Lei 9.514/ restituitória.” A implementação desse
mento da dívida por fiador ou tercei- 1997: direito decorrerá do cumprimento das
ro interessado, ocorre a sub-rogação “O fiduciante, com anuência ex- obrigações do fiduciante e do cance-
de pleno direito no crédito e na pro- pressa do fiduciário, poderá transmi- lamento da propriedade fiduciária,
priedade fiduciária, a teor das dispo- tir os direitos de que seja titular so- nos termos do art. 25 (“com o paga-
sições do art. 31 da Lei 9.514/1997, bre o imóvel objeto da alienação mento .... resolve-se a propriedade
verbis: fiduciária em garantia, assumindo o fiduciária”). Sendo assim, titular de
“O fiador ou terceiro interessa- adquirente as respectivas obriga- um direito expectativo, pode o
do que pagar a dívida ficará sub-ro- ções.” fiduciante transmiti-lo da mesma for-
ma como são transmissíveis quais- tanto pode ser público quanto parti- FIDUCIÁRIA), sob o argumento de
quer direitos expectativos.” (Negócio cular, segundo a previsão legal do que o art. 29 atribui ao cessionário a
Fiduciário – Renovar – 3ª Edição – art. 38 da Lei 9.514/1997, com a re- condição de “adquirente”. Discorda-
pg. 272) dação que lhe foi dada pela Lei mos, pelas razões acima expostas.
priedade resolúvel estatui em seu art. “Os atos e contratos referidos da lei especial apontarem para a ces-
1.359, que: nesta Lei ou resultantes da sua apli- são de direitos e as evidentes vanta-
suspensiva, entendemos que o título Há, todavia, quem entenda que fiduciário, em qualquer caso, é con-
adequado para a transferência da a transferência da posição de deve- dição essencial para a transmissão
posição de devedor-fiduciante é o ins- dor-fiduciante deve ser efetivada de direitos sobre imóvel objeto de ali-
trumento de cessão e sub-rogação mediante a celebração de um con- enação fiduciária em garantia, bem
(no caso, CESSÃO DE DIREITOS trato de compra e venda de imóvel, assim para viabilizar o seu registro
AQUISITIVOS DA PROPRIEDADE entre o devedor-fiduciante, como imobiliário e sem o que o contrato
RESOLÚVEL, SUB-ROGAÇÃO DE transmitente e o “cessionário”, como somente obrigará as partes contra-
OBRIGAÇÕES E RATIFICAÇÃO DE adquirente (COMPRA E VENDA tantes.
PACTO ADJETO DE ALIENAÇÃO COM ASSUNÇÃO DE DÍVIDA DE (*) O autor é Advogado e Con-
FIDUCIÁRIA EM GARANTIA), que PACTO ADJETO DE ALIENAÇÃO sultor Jurídico da ADEMI RJ.
atividade estatal, e que os valores ação desvinculada de qualquer ativi- outros (imunidade recíproca), haja
cobrados para a sua prestação têm dade estatal, voltada para o contribu- vista que o parágrafo 3º do mesmo
a natureza jurídica de taxa4, os Muni- inte, salvo se a própria Constituição artigo, preleciona que a imunidade
cípios não podem pretender tal tribu- admitisse, explicitamente, o contrá- recíproca não se aplica ao patrimônio,
tação, eis que, assim agindo, estari- rio. renda e serviços relacionados com a
am ofendendo o Princípio da Imuni- Por outro lado, na mesma ses- exploração de atividades econômi-
dade Recíproca, previsto no art. 150, são de julgamento, o Ministro cas, regidas pelas normas aplicáveis
VI, a, da Constituição5. Não bastas- Sepúlveda Pertence antecipou seu a empreendimentos privados, ou em
se, é inviável que uma taxa e um im- voto, para julgar improcedente a que haja contraprestação ou paga-
posto possuam a mesma base de ação. Para o Ministro Pertence, ha- mento de preços ou tarifas pelo usu-
cálculo, ex vi do art. 145, §2º, da vendo a incidência do imposto de ren- ário.
Constituição (“as taxas não poderão da sobre a renda dos cartórios, não Nas palavras do Ministro, não
ter base de cálculo própria de impos- é razoável negar a incidência do ISS haveria como se conciliar a função a
tos”). sobre os serviços prestados por eles. que se destina a imunidade recípro-
Por tais razões, concluímos que Aduziu, ainda, que o serviço notarial ca com o efeito jurídico de declara-
não haveria como as atividades e de registro “é atividade estatal de- ção de inconstitucionalidade preten-
cartorárias serem tributadas pelo ISS: legada tal como exploração de servi- dido, pois “a imunidade recíproca
a uma, porque os valores pagos a tí- ços públicos essenciais, mas enquan- opera como mecanismo de pondera-
tulo de taxa não podem integrar a to atividade privada, é um serviço ção e calibração do pacto federativo,
base de cálculo de imposto; a duas, sobre o qual nada impede a incidên- destinado a assegurar que entes des-
porque a mesma atividade não pode cia do ISS”. providos de capacidade contributiva
ser tributada duas vezes, sob pena Na sessão do dia 26 de abril de vejam diminuída a eficiência na con-
de bitributação, prática vedada no 2007, o Ministro Joaquim Barbosa, secução de seus objetivos defendi-
ordenamento jurídico brasileiro. em seu voto-vista, comungando do dos pelo sistema jurídico. Ela também
O julgamento da ADI nº 3.089 entendimento do Ministro Sepúlveda é uma salvaguarda contra o risco de
teve seu início na sessão plenária de Pertence, julgou improcedente a ADI, utilização de tributos como instrumen-
20 de setembro de 2006, e, após o para declarar a constitucionalidade to de pressão econômica entre os
parecer do Ministério Público Fede- dos itens 21 e 21.1 da lista anexa LC membros do pacto federativo”.
ral pela inconstitucionalidade dos 116/2003, ao argumento de que a tri- Em suma, no entendimento do
itens 21 e 21.1 da lista anexa à LC butação do ISS cobrado de particu- Ministro Joaquim Barbosa, a imuni-
116/2003, o Ministro Relator Carlos lar, como contraprestação pelo exer- dade recíproca é garantia ou prerro-
Ayres Britto, votou pela procedência cício delegado de serviços notariais gativa imediata de entidades políticas
da ação, justamente com base na e de registro, não viola a imunidade federativas, e não de particulares que
natureza jurídica dos serviços recíproca. executam, com inequívoco intuito lu-
cartoriais e de registro. Segundo o Segundo o Ministro, de acordo crativo, serviços públicos mediante
Ministro6, o Supremo tem entendido com o artigo 236 da Constituição, a concessão ou delegação devidamen-
que o serviço notarial e de registro é atividade notarial é exercida por en- te remunerados. E concluiu: “não há
uma atividade estatal, porém, da tes privados, mediante contrapres- diferenciação que justifique a tributa-
modalidade serviço público, assim tação com viés lucrativo, posto que ção dos serviços públicos concedidos
não se poderia pressupor que têm de índole estatal, submetido ao po- e a não tributação das atividades de-
caráter tributário, como decorrentes der de polícia do Judiciário. Assim, legadas, elas se justificam pela ca-
do desempenho de atividade econô- não haveria falar na incidência do ar- pacidade contributiva dos agentes
mica. Para o Ministro, isto significa tigo 150 da Constituição, que veda a que as exploram com objetivo eco-
excluir a incidência do ISS, uma vez instituição e a cobrança, pelos entes nômico, pois a Constituição autoriza
que a natureza desse tributo só po- federados, de impostos sobre aos municípios e ao Distrito Federal
deria ter como fato gerador uma situ- patrimônio, renda ou serviços uns dos a instituição do ISS, ainda que públi-
cos, quando desempenhados por criminal dos notários, dos oficiais de blicos. Doutrina e Jurisprudência.”
particulares”. registro e de seus prepostos, e defi- 4. Vide ADIn nº 1.378/ES, Rel.
Na esteira da divergência aber- nirá a fiscalização de seus atos pelo Min. Celso de Mello, DJ 30.05.1997:
ta pelo Ministro Sepúlveda Pertence, Poder Judiciário. “A jurisprudência do Supremo Tribu-
bem como do entendimento do mi- § 2º Lei federal estabelecerá nal Federal firmou orientação no sen-
nistro Joaquim Barbosa, a Ministra normas gerais para fixação de tido de que as custas judiciais e os
Cármen Lúcia e os Ministros Ricardo emolumentos relativos aos atos pra- emolumentos concernentes aos ser-
Lewandowski, Eros Grau, Cezar ticados pelos serviços notariais e de viços notariais e registrais possuem
Peluso e Gilmar Mendes votaram registro. natureza tributária, qualificando-se
pela constitucionalidade dos itens 21 § 3º O ingresso na atividade como taxas remuneratórias de servi-
e 21.1 da lista anexa LC 116/2003 e notarial e de registro depende de con- ços públicos, sujeitando-se, em con-
pela improcedência da ADI. curso público de provas e títulos, não seqüência, quer no que concerne à
Ou seja, do total de 11 (onze) se permitindo que qualquer serventia sua instituição ou majoração, quer no
Ministros que votarão na ADI ajuiza- fique vaga, sem abertura de concur- que se refere à sua exigibilidade, ao
da pela ANOREG, 7 (sete) já votaram so de provimento ou de remoção, por regime jurídico-constitucional perti-
pela sua improcedência, e apenas o mais de seis meses. nente a essa especial modalidade de
Ministro Carlos Ayres Britto votou pela tributo vinculado, notadamente aos
3. Vide ADI nº 1.378/ES, Rel.
inconstitucionalidade da incidência do princípios fundamentais que procla-
Min. Celso de Mello, DJ 30.05.1997:
ISS sobre os serviços cartorários. mam, dentre outras, as garantias es-
“A atividade notarial e registral, ainda
senciais (a) da reserva de competên-
O julgamento da ADI nº 3.089 se que executada no âmbito de
cia impositiva, (b) da legalidade, (c)
encontra suspenso em virtude do serventias extrajudiciais não oficiali-
da isonomia, (d) da anterioridade.
pedido de vista do Ministro Marco zadas, constitui, em decorrência de
Precedentes. Doutrina.”
Aurélio. Faltam votar, ainda, o Minis- sua própria natureza, função
tro Celso de Mello e a Ministra Ellen revestida de estatalidade, sujeitando- 5. “Art. 150. Sem prejuízo de
Gracie. se, por isso mesmo a um regime es- outras garantias asseguradas ao con-
trito de direito público. tribuinte, é vedado à União, aos Es-
A menos que algum dos Minis-
tados, ao Distrito Federal e aos Mu-
tros altere seu posicionamento, o re- A possibilidade constitucional de
nicípios: (...)
sultado da ADI representará relevan- a execução dos serviços notariais e
te derrota dos cartórios, que se ve- de registro ser efetivada ‘em caráter VI – instituir impostos sobre:
rão obrigados (se já não o são) ao privado, por delegação do poder pú- a) patrimônio, renda ou serviços,
recolhimento do ISS sobre suas ati- blico’ (CF, art. 236), não uns dos outros; (...)”.
vidades. descaracteriza a natureza essencial- 6. Todas as informações referen-
Notas mente estatal dessas atividades de tes aos votos da ADI nº 3.089 foram
índole administrativa.
1. Vide MOREIRA, Bernardo retiradas de notícias veiculadas no
Motta. “O ISS em relação aos servi- As serventias extrajudiciais, ins- site oficial do Supremo Tribunal Fe-
ços cartorários, notariais e de regis- tituídas pelo Poder Público para o de- deral (www.stf.gov.br). Até a data da
tro público”. Diário das Leis. Boletim sempenho de funções técnico-admi- elaboração do presente estudo
nistrativas destinadas a ‘garantir a
Cartorário. Revista nº 11 de 2007. (21.09.2007), nenhum dos Ministros
publicidade, a autenticidade, a segu-
2. Art. 236. Os serviços notariais havia liberado seus votos.
rança, e eficácia dos atos jurídicos’
e de registro são exercidos em cará- (*) O autor é Advogado em Belo
(Lei 8.935/94, art. 1º), constituem ór-
ter privado, por delegação do Poder gãos públicos titularizados por agen- Horizonte/MG. Graduado em direito
Público. tes que se qualificam, na perspecti- pela Universidade Federal de Minas
§ 1º Lei regulará as atividades, va das relações que mantêm com o Gerais. Pós-Graduando em Direito
disciplinará a responsabilidade civil e Estado, como típicos servidores pú- Tributário pela PUC-MG.
(*) O autor é Advogado, Professor de Direito Imobiliário. Autor dos livros: Direito Imobiliário, Uma Abordagem
Didática, edição particular; Títulos de Crédito, Editora Plêiade; Contratos Mercantis, Editora Graph Press; Despesas
Ordinárias e Extraordinárias de Condomínio, Editora Juarez de Oliveira. Autor do curso a distância, por correspondên-
cia, sobre locação de imóveis, da empresa Diário das Leis. E-mail: jorgetarcha@jorgetarcha.com.br
Para a caracterização da fraude à execução de que Tanto assim que o imóvel foi inclusive objeto de fi-
trata o art. 593, II, do CPC, é necessária a presença nanciamento firmado pelo embargante junto à CEF (cf.
concomitante dos seguintes elementos: a) que a ação já contrato de fls. 21/29).
tenha sido aforada; b) que o adquirente saiba da existên- Irrelevante, outrossim, que ambas as alienações te-
cia da ação - ou por já constar no cartório imobiliário al- nham ocorrido após o ajuizamento da ação de conheci-
gum registro dando conta de sua existência (presunção mento originária (autos nº 99.096185-0). A própria segu-
juris et de jure contra o adquirente), ou porque o exeqüente, rança jurídica, que deve nortear o Registro de Imóveis,
por outros meios, provou que do aforamento da ação o estaria sendo abalada, a se permitir a tese alegada pelo
adquirente tinha ciência; e, c) que a alienação ou a requerido. Não se olvida, ainda, que além da proteção ao
oneração dos bens seja capaz de reduzir o devedor à in- credor, com o reconhecimento da fraude à execução, o
solvência, militando em favor do exeqüente a presunção ordenamento jurídico também ampara o terceiro de boa-
juris tantum”. fé, como no presente caso” (cf. fls. 118/119).
Vistos, relatados e discutidos estes autos, os Segundo entendimento mais recente sufragado pelo
desembargadores desta turma julgadora da Seção de Di- Colendo Superior Tribunal de Justiça, prestigiando o prin-
reito Privado do Tribunal de Justiça, de conformidade com cípio da boa-fé, se não registrada a penhora, a ineficácia
o relatório e o voto do relator, que ficam fazendo parte da venda em relação à execução depende de se demons-
integrante deste julgado, nesta data, negaram provimen- trar que o adquirente tinha ciência da constrição (REsp.
to ao recurso, por votação unânime. nº 145.371-MG - Rel. Min. Sálvio de Figueiredo; REsp. nº
214.990-SP, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo).
Renato Sartorelli, Relator
O art. 659 do CPC, em seu parágrafo 4º, introduzido
VOTO
pela Lei nº 8.952/94, passou a exigir o registro da penho-
Embargos de terceiro julgados procedentes pela r. ra junto ao cartório imobiliário para garantia da eficácia do
sentença de fls. 117/120, cujo relatório adoto. ato e de sua oponibilidade contra terceiros de boa-fé.
Inconformado, apela o embargado insistindo na re- Ausente o registro, ao exeqüente era debitado o en-
forma. Sustenta, em síntese, que a alienação do imóvel cargo de provar a má-fé da adquirente, evidenciando que
penhorado se deu em 22/10/2001, ou seja, em data pos- sabia da existência da demanda, tarefa da qual não se
terior ao julgamento do processo que desencadeou a desincumbiu satisfatoriamente em que pese a anteriori-
constrição, configurando-se, deste modo, a fraude à exe- dade do ato citatório.
cução que tornou nula a venda. Pleiteia, por isso, a sub- É sabido que a boa-fé se presume e a má-fé se pro-
sistência da penhora efetivada. va. E aqui não há evidência alguma de má-fé por parte da
Houve resposta e isenção de preparo em face da adquirente, que tomou as cautelas necessárias para a
gratuidade processual. realização do negócio, inclusive com a utilização do FGTS,
atuando dentro dos limites da normalidade, procedendo
É o relatório. às devidas pesquisas cartorárias, tanto que a Caixa Eco-
Na verdade a transparência da aquisição, aliada à nômica Federal aceitou a hipoteca do imóvel como ga-
cautela e à boa-fé com que a apelada conduziu a compra rantia do pagamento das prestações relativas ao crédito
entre os julgados, inexistente no presente caso, ou seja, E nesse aspecto, a “Turma Julgadora se manifestou de
enquanto o acórdão recorrido menciona que as cotas de forma lógica, coerente e fundamentada no que diz respei-
condomínio têm preferência sobre o crédito hipotecário, o to à preferência do crédito, conforme trechos do acórdão:
paradigma afirma que o crédito relativo a honorários ‘o crédito por despesas condominiais em favor do Condo-
advocatícios tem privilégio geral, mas não prefere os cré- mínio prefere a qualquer outro, inclusive ao crédito hipo-
ditos fiscais (fl. 40). tecário’” (fls. 26).
Ante o exposto, nego provimento ao agravo.” Conforme os precedentes do STJ, o crédito hipote-
Sustenta que a discussão não é sobre a preferência cário não prefere aos honorários advocatícios, como en-
do crédito condominial em face do hipotecário, mas sim a tende o recorrente. Nesse sentido:
preferência do crédito hipotecário sobre os honorários de “Direito civil e processual civil. Ação de execução.
sucumbência. Penhora de imóvel gravado de hipoteca. Honorários
Aduz que o acórdão é omisso por esse motivo, por advocatícios. Natureza.
não falar nada sobre os honorários de sucumbência. Crédito real. Preferência. Ônus sucumbenciais. Va-
Entende, então, o recorrente que o crédito hipotecá- lor fixado. Reexame de prova.
rio prefere aos honorários advocatícios. - Os honorários advocatícios inserem-se na catego-
Requer, assim, o provimento do recurso. ria de crédito privilegiado, dada a sua natureza alimentar,
sobrepondo-se, portanto, ao crédito real hipotecário.
É o relatório.
- Inviável o reexame de provas em sede de recurso
VOTO especial.
O Exmo. Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior (Relator): Recurso especial não conhecido.”
Inicialmente, recebo os embargos de declaração como
agravo regimental, por sua pretensão meramente (3ª Turma, REsp 598243/RJ, Rel. Min. Nancy
infringente. O acórdão não manteve-se omisso, pois pe- Andrighi, unânime, DJ de 28.08.2006)
diu a recorrente que o julgador se pronunciasse quanto à Ante o exposto, nego provimento ao agravo.
preferência do crédito hipotecário frente aos honorários É como voto.
sucumbenciais, por possuírem os mesmos garantia real. Brasília, 03 de maio de 2007
O efeito suspensivo postulado foi deferido à fl. 103. No caso, a situação descrita na inicial é outra, qual
Informações do MM. Juiz às fls. 117/119. seja, o réu invadiu parte do terreno do autor, praticando,
pois, esbulho.
Contraminuta às fls. 107/111.
A propósito a doutrina que segue, do citado Vicente
É o relatório. Grecco Filho, na mesma obra já referida:
Ingressou o aqui agravante com ação de manuten- “Omissis...
ção de posse c/c pedido de indenização, sustentando que
o réu ao dar início a uma construção, adentrou em parte O esbulho é a tomada da posse com a exclusão total
de seu terreno, em 90 m2 (sic), ultrapassando a divisa da posse do possuidor anterior; a turbação é a violação
entre a propriedade de ambos, e que teve que construir da posse sem que se exclua totalmente a posse do pos-
um muro de arrimo, às suas expensas, para sustentar a suidor anterior. Omissis...
obra edificada pelo réu. Se o agente, sem invadir totalmente uma proprieda-
Ofertada contestação e replicada esta, após a de, altera a cerca e passa a exercer posse exclusiva so-
especificação de provas, entendeu o MM. Juiz que a ação bre a área parcial do imóvel, cometeu esbulho dessa par-
em questão se trata de nunciação de obra nova, e não de te e não turbação, porque, nessa parte, excluiu totalmen-
manutenção de posse, tendo então convertido esta na- te a posse do outro. Comete turbação aquele que, sem
quela, pela decisão que segue: excluir a posse do outro, faz, por exemplo, plantações in-
tercaladas no terreno vizinho, abre a cerca para que o
“Sylvio Alberto Ballerini ajuizou a presente ação de gado vá pastar no terreno vizinho e depois o recolhe, etc.”
manutenção de posse em face de Antonio Spózito ale- (pág. 223)
gando ser proprietário do imóvel localizado na Rua
Turqueza, 546 e que o réu, proprietário do imóvel contí- Assim, a hipótese não é nem de manutenção de pos-
guo ao seu, procedeu à construção de um muro de divisa se, como proposta a ação pelo autor e nem de nunciação
invadindo sua propriedade. de obra nova, como determinado pelo juiz, e sim de rein-
tegração de posse, que o autor cumulou com o pedido
Ocorre que a ação cabível é outra e não a alternativo de indenização do valor da faixa de terreno in-
possessória. É que pode exercer a ação de nunciação de vadida e da despesa de construção do muro de arrimo
obra nova o proprietário, ainda que sem posse, para obter que diz ter sido necessário ser construído no caso.
a demolição de obra que invada seu terreno. De fato, esta
é a ação do autor, no caso – A ação de nunciação de obra E considerando o princípio da fungibilidade que rege
nova – que é própria para obstar a obra com que (sic) o as ações possessórias, a propositura de uma ação
vizinho invada a propriedade do nunciante. possessória quando a hipótese seria de outra, não impe-
de que o juiz conheça do pedido, dando a adequada pro-
Todavia, tenho que por questão de economia pro- teção legal correspondente aos fatos descritos, quando
cessual o processo deve ser aproveitado, até pelo princí- comprovados, sem levar em conta o nome dado à de-
pio da fungibilidade, considerando ainda que as duas manda.
ações não guardam ritos incompatíveis, mas ao contrá-
rio. A propósito a jurisprudência do E. Tribunal de Justiça
de Rondônia: “Omissis...
Desta forma, converto a presente ação em ação de
nunciação de obra nova, anotando-se e comunicando-se Tendo em vista o princípio da fungibilidade aplicável
no distribuidor. Omissis...” às ações possessórias, não há impedimento para que o
juiz conheça o pedido e outorgue a proteção legal corres-
Contra esta decisão insurge-se o autor, requerendo pondente à ação adequada que o caso requer (art. 920,
que seja mantida a ação em causa como manutenção de CPC). Omissis....”
posse.
(Apelação Cível nº 100.009.2003.003372-0, de Pi-
E razão lhe assiste, mas somente em parte. menta Bueno-RO, relator Desembargador Sansão
Não se houve com acerto o MM. Juiz ao transformar Saldanha, julgada em 08/06/2005)
a ação de manutenção de posse em ação de nunciação
de obra nova, pois que esta ação “protege o exercício dos Por fim, registre-se que o autor cumulou a ação
poderes regulares sobre a coisa, prejudicados por ato possessória com pedido de desfazimento da obra e, al-
abusivo do vizinho. Não há invasão, esbulho ou turbação, ternativamente, sua conversão em indenização.
mas a posse regular fica prejudicada porque a conduta Em situações como a da presente reintegração de
do vizinho, em seu próprio imóvel, vai atingir, por ser noci- posse, em que o réu invadiu, inadvertidamente e mesmo
va, o prédio vizinho.” (Vicente Grecco Filho, “Direito Pro- de boa-fé, pequena área do terreno vizinho, e que pouco
cessual Civil Brasileiro”, 3º vol., 6ª ed., Saraiva, pág. 226) prejudica a este, mesmo não havendo norma expressa
sa comum. Ora, se a lei civil exige do réu a prestação de A meu ver, não se pode dizer que o acórdão recorri-
contas para a coletividade em momento certo e esta dei- do violou a literalidade dos Arts. 22, § 1º, “f”, da Lei 4.591/
xa de acontecer, sabe lá por que razão, surge a possibili- 64 e 914 do CPC, porque, se as contas não foram presta-
dade jurídica do condômino postulá-la individualmente.” das à Assembléia dos condôminos, é razoável a interpre-
(fls. 177/178). tação de que surge legitimidade para que algum
Portanto, está claro que o Juiz admitiu a ação de pres- condômino, em nome próprio, reclame a prestação de
tação de contas mesmo sem a Assembléia dos contas ao síndico (no período da respectiva gestão). O
condôminos. Em resumo: houve pronunciamento sobre que não se poderia admitir é que o condômino, individual-
da inexistência da convocação da Assembléia dos mente, pleiteasse prestação de contas já aprovadas pela
condôminos. Assembléia dos condôminos.
A sentença de mérito pode ser rescindida com fun- Nossa jurisprudência diz que a interpretação razoá-
damento em erro de fato, resultante de atos ou de docu- vel não enseja rescisória por violação à literal disposição
mentos da causa, desde que não tenha havido controvér- de Lei, porque a ofensa deve ser tamanha que contrarie a
sia, nem pronunciamento judicial sobre o fato (CPC; Art. própria letra do dispositivo legal. Confira-se: Ar 1.910/
485, IX c/c § 2º). Essa é a toada de nossa jurisprudência: Arnaldo Esteves, Resp 595.874/Direito, Ar 467/Pádua, e
Ar 720/Nancy, Ar 464/Barros Monteiro, Dentre Outros.
Processual - Ação Rescisória - Suposto erro de Fato
- Tema Controvertido. Em suma: é razoável a interpretação de que o
condômino tem legitimidade para, em nome próprio, pe-
- Se o suposto erro foi objeto de controvérsia na for- dir prestação de contas ao síndico quando este não as
mação do acórdão, não cabe ação rescisória. (Resp tenha prestado por ausência de convocação de Assem-
210.028/Humberto). bléia de condôminos e impossibilidade de obtenção de
No mesmo sentido: Ar 246/Humberto, Ar 878/Fischer, quorum para convocação de Assembléia extraordinária,
Ar 834/Dipp, Resp 284.546/Pádua, Resp 147.796/Sálvio, por isso, não tem procedência pedido rescisório louvado
Resp 515.279/Nancy, Dentre Outros. em violação literal aos Arts. 22, § 1º, “f”, da Lei 4.591/64 e
O recorrente alegou violação literal à alínea “f” do § 914 do CPC.
1º do Art. 22 da Lei 4.591/64, que diz: Por fim, a divergência jurisprudencial não está de-
“§ 1º Compete ao síndico: monstrada com as formalidades exigidas pelo Art. 541,
(...) parágrafo único, do CPC. Não houve confronto analítico
f) prestar contas à Assembléia dos condôminos;” entre os paradigmas e o julgado recorrido para demons-
tração de semelhança entre os casos, que, na hipótese,
Note-se que o dispositivo apenas define competên- efetivamente, não existe. Simples transcrições de emen-
cia do síndico para prestação de contas à Assembléia dos tas e trechos não bastam. Veja-se: Eag 430.169/Humberto,
condôminos. No entanto, o artigo não atribui exclusivida- AgRg no Ag 552.760/Gonçalves, AgRg no Ag 569.369/
de à Assembléia e nem exclui literalmente a possibilidade Pádua, AgRg no Ag 376.957/Sálvio, dentre outros.
de algum condômino pedir prestação de contas ao Síndi-
co, inda mais quando presente a peculiaridade do caso Nego provimento ao recurso ou, na terminologia da
em que as contas não foram prestadas à Assembléia de Turma, não conheço do recurso.
condôminos. Brasília, 13 de março de 2007
Acordam, em Terceira Câmara de Direito Privado do “A questão não é nova e os temas discutidos já fo-
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, proferir a ram objeto de análise e decisão no Colendo Superior Tri-
seguinte decisão: “Deram Provimento ao Recurso, V.U.”, bunal de Justiça, que concluiu pela aplicação do Código
de conformidade com o voto do Relator, que integra este de Defesa do Consumidor e pela abusividade da cláusula
acórdão. instituidora de hipoteca dada pela construtora quando o
O julgamento teve a participação dos Desembargadores adquirente compra o imóvel à vista, ainda que ciente da
Caetano Lagrasta (Presidente, sem voto), Beratta da hipoteca.
Silveira e Adilson de Andrade. São Paulo, 17 de outubro Isso porque a hipoteca não impede a venda e com-
de 2006. Donegá Morandini, Relator. pra e é presumida a boa-fé de quem adquire na certeza
VOTO de que o ônus será liberado para outorga e registro da
escritura definitiva do imóvel (REsp 462.469/PR)”
1. Ação de adjudicação compulsória, cumulada com
liberação de hipoteca, promovida por Mário Luiz Oki e sua (Apelação Cível nº 431.755.4/8-00, de Jundiaí, Relator
mulher Maria Elisa André Oki contra Basic Engenharia Beretta da Silveira).
Ltda. e Banco Bradesco S/A. No mesmo sentido: “Civil e consumidor. Imóvel. In-
Houve composição amigável entre os autores e a ré corporação. Financiamento. SFH.
Basic, homologada às fls. 181. Hipoteca. Terceiro adquirente. Boa-fé. Não
Em relação ao Bradesco, pela r. sentença de fls. 180/ prevalência do gravame. 1. O entendimento pacificado no
183, a ação foi julgada Improcedente. Recorrem os auto- âmbito da Segunda Seção deste STJ é no sentido de que,
res. Insistem, pelas razões expostas às fls. 190/198, no em contratos de financiamento para construção de imó-
afastamento da hipoteca que recai sobre o imóvel. veis pelo SFH, a hipoteca concedida pela incorporadora
em favor do Banco credor, ainda que anterior, não preva-
Contra-razões às fls. 204/211. É o Relatório.
lece sobre a boa-fé do terceiro que adquire, em momento
2. Respeitado o entendimento esposado pelo I. Ma- posterior, a unidade imobiliária. Súmula 308 do Superior
gistrado (fls. 181/182), procede o apelo dos autos, impon- Tribunal de Justiça.
do-se o afastamento da hipoteca que recai sobre o imóvel
2. Recurso especial conhecido, mas não provido” (STJ,
descrito pela inicial.
REsp 625.045-GO, Terceira Turma, Relator Ministro
Com efeito. Fernando Gonçalves, julgamento em 17.05.05). Em suma,
Inquestionável, à vista do conteúdo da composição a dívida assumida pelos apelantes já está quitada, inexistindo
amigável de fls. 176/175, a quitação do preço do imóvel qualquer responsabilidade dos mesmos pelo débito da cons-
adquirido pelos recorrentes (fls. 177), inexistindo qualquer trutora em relação ao banco financiador, devendo a questão
pendência perante a vendedora Basic. ser equacionada somente entre essas partes.
Também inquestionável que pesa sobre a unidade Do contrário, estar-se-ia obrigando os apelantes ao
adquirida e quitada pelos apelantes uma hipoteca institu- pagamento de duas dívidas, ou seja, aquela relacionada
ída pela vendedora Basic em prol do Banco Bradesco, com a aquisição da unidade e outra relacionada com a
ora apelado, derivada do financiamento da construção do hipoteca.
edifício. Entretanto, a unidade adquirida pelos apelantes Impõe-se, dessa forma, o reconhecimento da inefi-
está imune ao ônus hipotecário acima referido. cácia do ônus hipotecário que recai sobre a unidade ad-
quirida pelos recorrentes, devendo o apelado, no prazo
É nessa linha, inclusive, o enunciado pela Súmula
de 30 (trinta) dias, a partir da publicação deste Acórdão,
308 do Superior Tribunal de Justiça:
providenciar a baixa do gravame, sob pena de multa diá-
“A hipoteca firmada entre a construtora e o agente ria de R$ 1.000,00 (um mil reais), ressalvando-se, no en-
financeiro, anterior ou posterior à celebração da promes- tanto, o direito do recorrido em exigir a substituição da
sa de compra e venda, não tem eficácia perante os referida garantia junto à construtora.
adquirentes do imóvel”. Acolhida a pretensão dos apelantes, fica invertido o
Esta Colenda Câmara, por sua vez, sobre a matéria, ônus da sucumbência (fls. 183). Isto posto, dá-se provi-
deixou assentado: mento ao apelo.
cessariamente, a totalidade do imóvel aqui discutido e não tilha, posto que indivisível antes dela.
apenas a metade ideal pertencente ao falecido, ante o Ensina Afrânio de Carvalho que ‘não importa que, em
disposto no art. 993, IV, do Código de Processo Civil, se- se tratando de cônjuge sobrevivente casado no regime
gundo o qual do inventário deve constar “a relação com- da comunhão de bens, metade ideal do imóvel já lhe per-
pleta e individualizada de todos os bens do espólio e dos tença desde o casamento, porque o título reúne essa par-
alheios que nele forem encontrados”. te ideal, societária, com a outra, a sucessória, para re-
Efetivamente, com a morte, o patrimônio do casal, compor a unidade real do ‘de cujus’.
existente na data do óbito de um dos cônjuges, assume o A partilha abrange todo o patrimônio do morto e to-
estado de indivisão, a qual somente se resolve com a dos os interessados, desdobrando-se em duas partes, a
partilha. societária e a sucessória, embora o seu sentido se res-
Daí por que, na hipótese em discussão, mostra-se trinja por vezes à segunda. Por isso, dá em pagamento
indispensável a partilha da totalidade do imóvel objeto do ao cônjuge sobrevivente ambas as metades que lhe cai-
título que se pretende registrar, sem o que permanece o bam, observando dessa maneira o sentido global da ope-
estado de indivisão. ração, expressa na ordem de pagamento preceituado para
Não se diga que, no caso, a metade do imóvel já o seu esboço, a qual enumera, em segundo lugar, depois
pertencia ao cônjuge sobrevivente desde o casamento, das dívidas, a meação do cônjuge e, em seguida, a
pois a comunhão decorrente deste último, como sabido, meação do falecido que, na hipótese, passa também ao
é pro indiviso, não podendo a parte ideal pertencente a cônjuge’ (Registro de Imóveis, Forense, 3ª Ed., RJ 1982,
cada um dos consortes ser destacada, a não ser no mo- pág. 281).
mento em que dissolvida a sociedade conjugal e realiza- A propósito do tema, o Colendo Conselho Superior
da a partilha. da Magistratura do Estado, apreciando caso em que o
Por essa razão, precisamente, a necessidade de o Sexto Cartório de Registro de Imóveis da Capital recusa-
formal de partilha fazer menção à totalidade do bem para ra registro de carta de adjudicação exibida por viúva
ter ingresso no registro predial. meeira, decidiu na mesma direção:
Não tem sido outro, aliás, o entendimento deste Con- Com o falecimento do marido, procedeu ela (cônju-
selho Superior da Magistratura, conforme se verifica no ge sobrevivente) ao inventário.
seguinte julgado, relatado pelo eminente Desembargador Fê-lo, todavia, indicando somente a metade ideal do
José Mário Antonio Cardinale, então Corregedor Geral da imóvel.
Justiça, com ampla referência à jurisprudência do Ora, nos termos do art. 923, IV, do Código de Pro-
colegiado: cesso Civil, o inventário deve conter a relação completa e
“Registro de Imóveis. Dúvida. Registro de carta de individuada de todos os bens do espólio e dos alheios que
adjudicação expedida em autos de inventário. nele forem encontrados.
Necessidade de se arrolar a totalidade dos bens. O imóvel, no seu todo, era bem comum ao falecido e
Recurso provido para reformar a sentença que autorizou à apelante. Devia, pois, figurar no inventário’ (ap. cível
o registro da adjudicação da metade ideal. 146-0, Capital, 29.12.80, Rel. Des. Adriano Marrey; apud
(...) se é certo que o direito do cônjuge supérstite à Narciso Orlandi Neto, Registro de Imóveis, ed. 1982, pp.
meação deriva do regime matrimonial de bens e não 30-32).
‘sucessionis causa’ (cfr. Caio Mário da Silva Pereira, Ins- O espólio é uma universalidade de bens que reúne
tituições de Direito Civil, v. VI, n. 446), não menos correto todos aqueles que integravam o patrimônio do casal, em
é que dessa premissa não se infere a divisão dos bens comum até a data do óbito de um dos cônjuges.
em frações ideais. Por isso que se forma uma comunida- Com a morte, esse patrimônio assume inteiramente
de hereditária (cfr. Theodor Kipp, Derecho de Sucesiones, o estado de indivisão já referido, sendo indispensável a
t. V, v. II, § 114), que se ultima com o desfecho do proces- partilha do todo, para resolver essa situação’ (Apelação
so sucessório. Cível n. 62.986-0/2, Araraquara).
A comunhão decorrente do casamento é “pro No mesmo sentido decidiu-se nas apelações cíveis
indiviso”. Ou seja, a parcela ideal pertencente a cada côn- 5.054-0, Capital, 27.1.86, e 5.444-0, 5.446-0, 5.818-0 to-
juge não pode ser destacada, o que somente ocorre quan- das de Taquaritinga, e 017289-0/7 de Campinas.
do dissolvida a sociedade conjugal.
Para permitir o ingresso do título no fólio real, a carta
Em sendo a morte a causa da extinção do casamen- de adjudicação deverá fazer menção à totalidade do bem.”
to e da comunhão, a metade só se extremará com a par- (Ap. Cív. n. 458-6/1 - j. 06.12.2005).
Lembre-se, por fim, que o fato de se tratar de título Portanto, o registro do formal de partilha pretendido
oriundo de processo judicial não o exime da qualificação não pode ser admitido, merecendo ser confirmada a deci-
registral, realizada pelo oficial registrador, à luz dos prin- são recorrida, com retificação do dispositivo para que cons-
cípios e normas registrais e da legislação em vigor à épo- te o julgamento de procedência da dúvida.
ca do registro pretendido. Nesses termos, pelo meu voto, à vista do exposto,
Assim, adequada, na espécie, a conduta do registra- nego provimento ao recurso, retificado o dispositivo da
dor, de recusar o registro do formal de partilha em discus- sentença proferida para o de procedência da dúvida.
são, por não satisfazer os requisitos exigidos em lei para Gilberto Passos de Freitas,
o ingresso no fólio real. Corregedor Geral da Justiça e Relator
passo que o MM. Juiz Corregedor Permanente os dispen- desse título também se reportar ao compromisso de ven-
sa. da e compra e nele também constar a cessão dos direitos
Sem razão o recorrente, merecendo subsistir a bem decorrentes desse contrato preliminar não induz à
fundamentada decisão recorrida. obrigatoriedade alguma de registro desses negócios, con-
soante sólidos precedentes do Conselho Superior da
Consigne-se, de início, que a questão reside apenas
Magistratura:
na necessidade, ou não, dos registros do compromisso e
da cessão, observando que estão superados os demais “Nesse caso, o registro da escritura pública de com-
entraves antes levantados, quer porque atendidos ao tem- pra e venda é possível sem o prévio registro do compro-
po do reingresso do título na serventia predial (fls. 09 e misso de venda e compra e de sua cessão pelos
14), quer porque não há que se falar em falta de preço na compromissários adquirentes.
venda e compra (o que se verifica no próprio título) nem Não há aí qualquer afronta ao princípio registrário da
há amparo legal para exigir retificação da escritura para continuidade, entendimento, aliás, já acolhido por este
constar a totalidade do preço na moeda atual (pois nela já Conselho Superior da Magistratura no julgamento da Ap.
consta quitação integral do preço pago no passado se- Cív. nº 43.481-0/9, da Comarca de São Vicente, relatada
gundo a moeda vigente ao tempo de cada pagamento, pelo eminente Des. Nigro Conceição” (Apelação Cível nº
parte [CR$ 1.250.000,00] recebida por alguns condôminos, 81.307-0/4, da Comarca de São Caetano do Sul, j. 27 de
parte [R$ 19.000,00] recebida por outros), como bem apon- dezembro de 2001, relator Desembargador Luis de
tado pelo MM. Juiz sentenciante (fls. 35/36), que, neste, Macedo, DOE de 18.02.2002, página 04);
ponto tem a concordância do apelante (fls. 40). “Está assentado que nesta hipótese não se registra-
Outrossim, registro de compromisso de venda e com- rá a cessão já que outorga da escritura pública de compra
pra, em si, é ônus, não dever, e, por isso, não se pode e venda diretamente ao terceiro cessionário dispensa o
impor a inscrição do contrato, sem razão legal ou registro das cessões intermediárias, porque não haverá
principiológica do sistema registral imobiliário, observan- ofensa ao princípio da continuidade” (Apelação Cível nº
do-se que sua falta não resulta estado de sujeição algum, 20.436-0/6, da Comarca da Capital, j. 11 de maio de 1995,
mas apenas deixa de agregar ao interessado a tutela in re relator Desembargador Antônio Carlos Alves Braga, DOE
do próprio interesse, que continua limitada à tutela ad rem. de 22.06.1995, página 46).
Em outras palavras, ausente o registro imobiliário do As referências jurisprudenciais do apelante, para sus-
compromisso de venda e compra, o contrato não tem efei- tentar quebra ao trato sucessivo (fls. 44), por fim, não se
tos erga omnes nem há constituição de direito real, res- amoldam à situação deste feito, pois nelas as hipóteses
tringindo o negócio ao universo dos direitos obrigacionais. eram de registro de promessas de venda de compra de
O registro, pois, é causa, não conseqüência, do di- disponentes (promitentes vendedores) que não figuravam
reito real (incluso o de aquisição, em sede de compromis- nas tábuas registrais, não de venda e compra cujos
disponentes (vendedores) figuram no fólio real, como é
so de venda e compra), como informa o princípio de ins-
este caso.
crição de nosso sistema jurídico (artigos 1.227 e 1.245,
ambos do novo Código Civil), e, assim, carece de Deste modo, sem razão a registradora e o apelante,
congruência lógico-jurídica a assertiva de que o registro é bem como viável o registro da venda e compra pretendi-
necessário por ter o contrato natureza de direito real. do, o recurso deve ser desprovido, mantendo-se a boa
sentença proferida pelo MM. Juiz Corregedor Permanen-
Ademais, não há ofensa alguma ao princípio de con-
te, Doutor José Carlos Hernandes Holgado.
tinuidade (artigo 195 da Lei nº 6.015, de 31 de dezembro
de 1973), pois no fólio real constam como proprietários Pelo exposto, conheço e nego provimento ao recur-
do imóvel em foco aqueles que são disponentes (vende- so.
dores) no título de venda e compra apresentado para re- Gilberto Passos de Freitas,
gistro (fls. 18), observando-se que a mera circunstância Corregedor Geral da Justiça e Relator
DA POSSIBILIDADE DE RETIFICAÇÃO
DE PARTILHA JUDICIAL POR ESCRITURA PÚBLICA
Marco Antonio de Oliveira Camargo (*)
A Lei n° 11.441/07 representa tam a solução célere e segura para para a correção dos erros ou omis-
efetivamente uma revolução, uma suas necessidades. sões verificados tardiamente.
mudança de paradigmas. A partir de As novas atribuições recebidas Uma escritura pública, a partir da
sua vigência a responsabilidade do pelo tabelião estão a exigir dele, como vigência da Lei 11441/07, quando,
tabelião de notas tornou-se ainda nunca antes aconteceu, o estudo do evidentemente, todas as partes inte-
maior e mais relevante para a socie- Direito Processual Civil. Como con- ressadas forem maiores e capazes e
dade. A atual geração deste profissi- tribuição ao estudo e debate o pre- entre elas existir consenso, parece
onal de direito, que vive e constrói sente texto compartilha com os even- ser um meio adequado para a neces-
este momento novidadeiro e de tualmente interessados algumas con- sária retificação da partilha efetivada
pioneirismo, tem uma grande respon- clusões sobre retificação de partilhas. com erro ou imperfeição.
sabilidade histórica. Será através dos
resultados que forem alcançados no É possível, e de ocorrência co- Trata-se de uma solução eficaz
momento presente que o tabelião e mum, uma situação de erro, omissão, e muito mais célere que a retificação
a nova lei serão julgados pelos usuári- ou imperfeição presente em partilha judicial nos autos originais.
os e pela história. homologada em processo de inven- As imperfeições a demandar re-
tário ou arrolamento. Por evidente, a tificação da partilha podem ser, e ge-
A cautela dos operadores do di- falha existente não obstou a senten- ralmente são, efetivamente, pouco
reito e de todos os envolvidos no ça por ter estado oculta e não ter sido significativas e facilmente sanáveis
complexo procedimento da realiza- levada a conhecimento do juiz ou dos pelas partes, sem a participação di-
ção de inventários e partilhas é real- interessados. Em tal situação, quan- reta do Estado-Juiz, bastando para
mente louvável, mas, neste novo mi- do o respectivo Formal de Partilha ou isso a apresentação de documentos
lênio, no mundo verdadeiramente Carta de Sentença for efetivamente ou comprovação de fatos que eram
globalizado de hoje, não existe lugar apresentado ao oficial de registro de inexistentes, encontravam-se ocultos
para acomodação. A sociedade exi- imóveis, no processo de qualificação à época do processo ou ainda que
ge mudanças e para mudar é neces- registrária, a imperfeição pode vir a tenham sido objeto de alteração de
sária certa dose de audácia. ser percebida e, diante de tal situa- substância ou forma, de modo a im-
A celeridade, eficácia e eficiên- ção, enquanto não superada, não pedir o necessário acesso ao servi-
cia dos processos é uma exigência será permitido o acesso ao registro ço de registro de imóveis.
geral que atinge todas as espécies imobiliário e a efetiva transmissão da O Conselho Nacional de Justi-
de rotinas e processos, sejam eco- propriedade de bem imóvel partilha- ça, na Resolução n° 35 (1) definiu cla-
nômicos, industriais, produtivos e do. ramente a competência do tabelião
também o Processo Judicial. Nesse A situação assume maior gravi- para realizar sobrepartilhas. O grupo
contexto não se deve fazer uma in- dade quando, por desídia do interes- de estudos criado pela Corregedoria
terpretação excessivamente restritiva sado, o registro do título somente for Geral de Justiça do Estado de São
do alcance da nova lei. A Lei n° buscado muito tempo depois da Paulo, antes da edição de tal resolu-
11.441/07, que foi editada no bojo de conclusão do processo judicial. Nes- ção, já havia se manifestado pela
uma Reforma do Judiciário, atende ta ocasião o processo poderá estar possibilidade da realização de
ao anseio da sociedade que está a arquivado o que dificulta ainda mais sobrepartilhas(2) e, em uma conclu-
exigir respostas rápidas que garan- o movimentar da máquina judiciária são especialmente esclarecedora,
reconheceu explicitamente o caráter Assim como se apresenta pos- dade do tabelião de notas, que aco-
procedimental do referido diploma sível a rescisão, igualmente viável lhe e formaliza a vontade livremente
legal(3), estendendo sua aplicação será a retificação, ou seja, a corre- manifestada pelas partes, é forma
aos óbitos ocorridos antes de sua vi- ção e alteração, do mesmo modo apta para rescindir atos jurídicos em
gência. como se procede com todos os de- que as mesmas pessoas são os úni-
Sobrepartilha, entretanto, não se mais atos jurídicos. Sendo possível cos interessados. Aplicável, na espé-
confunde com retificação. Inegavel- cancelar e rescindir, inquestiona- cie, o princípio de atração da forma,
mente existe diferença substancial e velmente, igualmente possível será que exige para o desfazimento do ato
gramatical entre os verbos sobre-par- retificar e corrigir. A garantia de po- a mesma forma pelo qual ele se fez,
tilhar e retificar ; grosso modo, der realizar mais, confere a seu titu- ou, no dizer do artigo 472 do Código
sobrepartilha se define pelo caráter lar a faculdade de realizar menos, Civil: O distrato se faz pela mesma
de acréscimo, adição, complemen- conforme assevera conhecido aforis- forma exigida para o contrato.
tação com elemento faltante. Diferen- mo jurídico. Na medida em que a Lei n°
temente, retificação tem significado Inexistindo dúvida sobre a pos- 11.441/07 conferiu ao tabelião, por
de correção, arrumação, tornar reto sibilidade de retificação de partilha meio da realização de escritura pú-
e íntegro aquilo que continha defeito homologada por sentença judicial, blica, capacidade para praticar atos
ou era inexato. resta analisar a forma como esta de- tipicamente processuais, conferindo-
O legislador previu no artigo verá ocorrer para adquirir a eficácia lhe competência para a realização de
1.040 do Código de Processo Civil a necessária. Trata-se de uma questão Inventários e separações, exigindo,
possibilidade da realização de fundamental, pois o respeito à forma entretanto, em exceção à regra geral
sobrepartilha para o acréscimo de prescrita para o ato é requisito de da atividade notarial, como condição
bens ou direitos ao inventário, mas, validade do mesmo. de validade do ato e para maior se-
no mesmo dispositivo, nada previu Por analogia à possibilidade da gurança jurídica, a assistência de
sobre correção de erros ou alteração sobrepartilha por escritura pública, é advogado, implicitamente atribuiu
de dados. razoável, a partir do início da vigên- à escritura pública capacidade de res-
cia da Lei n° 11.441, de 04 de janei- cindir e, evidentemente, de alterar e
Para retificação dos erros verifi- retificar partilhas e atos em que a
cados na descrição dos bens, previ- ro de 2007, admitir-se a possibilida-
de de retificação da partilha do mes- sentença existente seja meramente
são do artigo 1028 do CPC (4), o ins- homologatória da vontade dos inte-
trumento adequado é o aditamento mo modo que se faz a própria parti-
lha, ou seja, por escritura pública ressados.
retificativo, que sempre se fez no seio
do processo, sob a exclusiva depen- que, em caso de retificação, será de Contrariamente a tais argumen-
dência da tutela do juiz do feito. aditamento retificativo à partilha re- tos, seria possível argumentar que, a
alizada. teor do disposto no artigo 1028 do
A sentença judicial, que no in- CPC, toda e qualquer emenda deve
ventário é meramente homologatória, Se, a partir da vigência da Lei n°
ser feita, necessariamente, nos mes-
pode ser rescindida do mesmo modo 11.441/07, que inegavelmente tem
mos autos de inventário e que, por-
que os demais atos jurídicos em ge- caráter procedimental, a escritura
tanto, não seria possível o uso de
ral. Assim dispõe o artigo 486 do pública lavrada em tabelionato é for-
escritura pública para qualquer espé-
CPC, verbis: Os atos judiciais, que ma capaz de efetivar partilha entre
cie de retificação de inventário ou
não dependem de sentença, ou em maiores e capazes, quando entre to-
partilha. Este dispositivo, entretanto,
que esta for meramente homolo- dos os interessados existir consen-
deve ser interpretado de maneira fle-
gatória, podem ser rescindidos, como so, ela também será apta à realiza-
xível e em consonância com os obje-
os atos jurídicos em geral, nos ter- ção de sobrepartilhas, como, expres-
tivos da Lei n° 11.441/07 e de todo
mos da lei civil. samente afirma o Conselho Nacional
esforço que se realiza na atualidade
de Justiça (art. 25 da Resolução 35)
A rescisão da sentença para tornar a justiça mais ágil e aces-
homologatória, portanto, é possível e e também para retificações de parti-
sível ao cidadão. Esta foi a interpre-
está apenas condicionada às prescri- lhas, embora não exista, até a pre-
tação do Conselho Nacional de Jus-
ções do artigo 104 do Código Civil, sente data, decisão em caráter ad- tiça, e do Grupo de Estudos criado
regra aplicável aos negócios jurídicos ministrativo, jurisprudência firmada, pela C. G. J. de São Paulo, ao fazer
em geral, a saber: existência de con- ou doutrina conhecida afirmando ex- constar expressamente que sobre-
senso e de capacidade das partes, pressamente tal possibilidade. partilha é possível ser realizada por
ausência de ilicitude do objeto e uso Inequivocamente escritura públi- meio de escritura pública. Se, dife-
da forma adequada. ca, lavrada sob a fé e responsabili- rentemente, existisse o apego incon-
dicional aos velhos paradigmas, po- qualquer interessado através de link 4.26. A Lei n° 11.441/07, de caráter
der-se-ia, com base no mesmo dis- específico no Website: www.notarial procedimental, aplica-se também em
positivo, negar também a possibilida- net.org.br. caso de óbitos ocorridos antes de sua
de de realização de sobrepartilhas por Eventualmente poderá se mostrar vigência.
meio de escritura pública. necessário ainda, em complementação (4) CPC artigo 1028. A partilha,
O Conselho Nacional de Justi- à citada Central, a criação de norma ainda depois de passar em julgado a
ça, na referida Resolução n°35 que obrigue todo tabelião que realize sentença (Art. 1026), pode ser emen-
(art.10, parte final) determinou que os retificação de partilha (ou sobrepartilha) dada nos mesmos autos do inventá-
Tribunais de Justiça dos diferentes a comunicar diretamente o juízo que rio, convindo todas as partes, quan-
Estados promoverão as medidas processou o inventário da existência de do tenha havido erro de fato na des-
adequadas para a unificação e con- tal escritura. Desta forma, eventuais in- crição dos bens; o juiz, de ofício, ou
centração de dados e informações teressados, em buscas futuras, pode- a requerimento da parte, poderá, a
sobre as escrituras de inventário e rão facilmente vir a conhecer das alte- qualquer tempo, corrigir-lhe as inexa-
partilhas, separações e conversões rações extrajudiciais sofridas em parti- tidões materiais.
em divórcio que forem realizadas nos lha inicialmente homologada por Juiz (*) O autor é 2°Tabelião de No-
diversos tabelionatos existentes. de Direito. tas de Matão, SP.
A criação deste banco de dados Bibliografia NOTA DO REDATOR DO
unificado é realmente necessária, (1) Resolução n° 35, de 24/04/ BOLETIM CARTORÁRIO
considerando-se que a realização de 2007, editada pelo Conselho Nacio-
escrituras não sofre limitações nal de Justiça - Art. 25. É admissível Para mim, inegavelmente a Lei
territoriais e que já se admitiu expres- a sobrepartilha por escritura pública, 11.441/2007 tem este grande mérito:
samente a realização de sobrepar- ainda que referente a inventário e valorizou o notariado brasileiro, dada
tilhas que, de fato, representam alte- partilha judiciais já findos, mesmo que sua qualidade de “profissional do di-
ração de partilhas já realizadas e de o herdeiro, hoje maior e capaz, fosse reito”. Antes da lei, um inventário, ain-
processos judiciais já encerrados. menor ou incapaz ao tempo do óbito da que maiores e capazes fossem os
ou do processo judicial. herdeiros, eternizava-se nos escani-
Em atendimento à determinação nhos dos cartórios judiciais. A Lei que
do CNJ o Corregedor Geral da Justi- (2) Conclusões do grupo de es- o articulista aprecia com segurança,
ça do Estado de São Paulo, pelo Pro- tudos criados pela CGJ-SP para aná- simplificou a partilha de bens deixa-
vimento CG n° 19/2007, de 12/07/ lise da Lei n°11.441/2007(1): Item das por um falecido aos seus herdei-
2007, determinou a criação de uma 4.23. É admissível escritura pública ros se maiores. Essa lei, para mim,
Central de Escrituras de Separações, de sobrepartilha referente a inventá- teve este mérito: deu à atividade
Divórcios e Inventários – CESDI, sob rio e partilha judiciais já findos. Isto notarial um sentido de valor, pois é
a gestão do Colégio Notarial do Bra- ainda que o herdeiro, hoje maior e ele identificado por lei como “profis-
sil – Seção de São Paulo. Efetiva- capaz, fosse menor ou incapaz ao sional do direito”. O “BOLETIM
mente, desde o início do mês de tempo do óbito e do processo judicial. CARTORÁRIO” orgulha-se em divul-
agosto, a CESDI paulista está em ple- (3) Conclusões do grupo de es- gar trabalhos como o do articulista,
no funcionamento e pode ser tudos criados pela CGJ-SP para aná- que revela ser ele estudioso e dedi-
acessada, fácil e gratuitamente, por lise da Lei n°11.441/2007(1): Item cado notário.
com o repasse de custas que cons- e a obrigação de adotar as medidas e outros ingressos. Em nenhuma hi-
tituía a principal receita da Carteira necessárias para tanto; pótese o Estado poderá apropriar-se
de Previdência dos Advogados admi- c) Tanto o Ipesp quanto a dos recursos da Carteira dos Advo-
nistrada pelo Ipesp; SPPrev são prolongamentos perso- gados;
3 - Em 1º de junho de 2007, foi nalizados e instrumentos da atuação h) O Ipesp, até sua extinção, e a
promulgada a Lei Complementar nº do Estado de São Paulo no campo SPPrev como sua sucessora, respon-
1.010, que criou a São Paulo Previ- da previdência, sendo assim indiscu- dem diretamente perante os
dência (SPPrev), estabelecendo, em tível a responsabilidade subsidiária beneficiários da Carteira e, na hipó-
seu artigo 40, o prazo de 2 (dois) deste último; tese destas entidades por ele criadas
anos, a contar de sua publicação, d) Verificada, atuarialmente, a não poderem arcar com os pagamen-
para instalação e funcionamento da inviabilidade da Carteira dos Advoga- tos devidos, responderá o Estado
SPPrev, e consignando, no parágra- dos, caberá à SPPrev, na condição subsidiariamente.
fo único do citado artigo, que “con- de sucessora do Ipesp, se for total- 6 - Baseadas em tais premissas,
cluída a instalação da SPPrev fica mente inviável sua revitalização, pro- a OAB-SP, a AASP e o IASP
extinto o Ipesp, sendo suas funções mover a sua liquidação nos termos agendarão audiência com o governa-
não-previdenciárias realocadas em da lei estadual que vier a disciplinar dor do Estado de São Paulo, visando
outras unidades administrativas con- essa matéria; encontrar uma solução para os des-
forme regulamento”; tinos da Carteira dos Advogados;
e) Em qualquer hipótese deve-
4 - Não obstante o notório im- rão ser respeitados os direitos adqui- 7 - Em paralelo, está sendo ana-
pacto de tais alterações legislativas ridos, que são intangíveis, e deverão lisada a viabilidade da propositura de
na Carteira de Previdência dos Ad- eventual medida judicial de caráter
ser também amparados os direitos
vogados, não houve qualquer altera- coletivo, que ampare os interesses de
decorrentes dos atos jurídicos perfei-
ção na sua lei de regência, muito todos os contribuintes ativos e inati-
tos, praticados durante o pleno fun-
menos a adoção de providências pelo vos da Carteira;
cionamento da Carteira dos Advoga-
seu administrador, o Ipesp;
dos; 8 - Por fim, cumpre alertar que é
5 - Preocupadas com as altera-
f) Os participantes inativos, que absolutamente pessoal a decisão do
ções legislativas e estruturais da Car-
já recebem os benefícios para os contribuinte da Carteira em continu-
teira de Previdência dos Advogados
quais contribuíram e aqueles que, ar ou não recolhendo as contribui-
de São Paulo, a OAB/SP, a AASP e o
embora não estejam recebendo be- ções, lembrando que, a teor do dis-
IASP solicitaram a elaboração de
pareceres de renomados juristas, nefícios, já implementaram as condi- posto no artigo 7º da Lei nº 10.394/
cujas conclusões vão a seguir resu- ções de sua fruição, são titulares de 1970, será automaticamente excluí-
midas: direitos adquiridos e deverão conti- do da Carteira o segurado que dei-
nuar a recebê-los; xar de recolher seis contribuições,
a) A Lei Complementar nº 1.010/
sendo que o artigo 45 da referida Lei
2007 é perfeitamente clara ao confe- g) Os contribuintes ativos, deten-
consigna que, “salvo caso de erro,
rir à SPPrev a condição de sucesso- tores de expectativas de direitos, de-
não haverá restituição de contribui-
ra do Ipesp, atribuindo-lhe o encargo vem ser indenizados com base na
ção do segurado”.
de continuar zelando pela boa ges- “reserva individual” de cada partici-
tão da Carteira dos Advogados; pante, a ser calculada tomando-se Assim,continuaremos a empre-
b) O dever do Ipesp ultrapassa como referências a soma das contri- ender todos os esforços na defesa
a simples contabilização dos recur- buições efetuadas e a participação dos interesses dos colegas que es-
sos da Carteira dos Advogados, proporcional ao tempo de contribui- tão na Carteira de Previdência dos
abrangendo, indubitavelmente, o de- ção nos ingressos referentes às cus- Advogados do Ipesp.
ver de zelar por sua sustentabilidade tas, aos rendimentos das aplicações (Jornal do Advogado, Nov./2007)
ristas dos mais acatados e queri- de ter criado no BOLETIM CAR- para provimento de um cartorio.
dos entre nós, freqüentemente TORÁRIO “OS ROUXINÓIS DA Efetivamente, depois, os trabalhos
consultado pelos Srs. Desembar- CLASSE”. Eles efetivamente exis- que publiquei receberam os pontos
gadores e magistrados, citado em tem e sabem conscientemente e que a lei me conferia. Já aposen-
sentenças e acórdãos, lê-se, no com responsabilidade executar tado tive a oportunidade de publi-
respectivo prefácio, o seguinte: “A seus serviços. Fiz do “BOLETIM camente debater com um desem-
presente publicação não tem outro CARTORÁRIO” um veículo divul- bargador contrário à existência dos
escopo senão o de servir aos es- gador desses cartorários, que não cartórios e sua efetiva utilidade, no
tudantes, oferecendo-lhes, em for- é um órgão reivindicador de direi-
auditorio da faculdade, lotado de
ma os ensinamentos dos tratadis- tos, mas sim, unicamente sim,
seus alunos, fato que tenho como
tas, ao lado da jurisprudência que divulgador de VALORES EXISTEN-
lamentável, quando vi somente,
é a verdadeira fonte da vida jurídi- TES NA CLASSE. Efetivamente,
não mais do que quatro cartorários
ca...“ (cf. WASHINGTON DE BAR- nas razões do meu recurso fui con-
paulistanos. Concluí e conformei-
ROS MONTEIRO, “Direito de famí- tundente para com o magistrado,
me; não importa, vim aqui para de-
lia”, 1ª Ed., prefácio). Ninguém dirá, que lançou o seu parecer contrário
ao valor dos trabalhos que apre- fender o valor e a importância dos
em vista de tal prefácio, e que com
sentei, e a eles não deu valor al- serviços cartorários. Hoje, aqui em
tal modéstia, não haja o douto es-
gum. A mim, pouco me importou. São Paulo, os cartórios são dispu-
critor produzido obra de alto méri-
to... A adotar-se, contudo, o crité- Alegrei-me com o VOTO DO DR. tados por inúmeros magistrados e
rio que prevaleceu neste concur- MARREY. É este sentimento que promotores. A despeito dessa
so para os cartórios do Registro ci- procurei transmitir aos meus leito- “nova força intelectual”, a classe
v i l d a s Pe s s o a s N a t u r a i s , d o res ...ousados leitores, valorosos ainda continua com os mesmos
interland (sic) paulista, a obra cujo leitores que têm a coragem de defeitos, agora, comprometida pe-
prefácio foi mencionado, teria, pos- transmitir o que sabem sobre as- los títulos pretéritos daqueles que
sivelmente, sido rejeitada, por ha- suntos cartorários, atividade essa lograram a obtenção de um cartó-
ver o seu autor dito que resumira que hoje atrai não só cartorários rio. Este preâmbulo extenso para
apenas os dos antigos mestres... como também advogados, magis- indicar o SERVENTUÁRIO PA-
e o seu crítico haver se contenta- trados, promotores, entre outros. DRÃO – o último que indico, tem
do com essa declaração, sem lhe Ser cartorário, hoje é o desejo de uma justificativa que deixo expres-
examinar o conteúdo, de alto valor muitos... e foi com o desejo des- sa: foi ele indicado por um seu
jurídico”... ses muitos que criei o BOLETIM preposto, já agraciado com tal Tí-
CARTORÁRIO, para valorizar os tulo – Valestan Milhomem da Cos-
O acórdão é longo. Deu-me
cartorários efetivamente estudio-
ele a convicção de que o cartorário ta – é o DR. VALMIR GONÇALVES
sos e que valorizam a classe... e
estudioso (não digo os cultos, e DA SILVA, notário e oficial do 1º
esqueçam o que foram e conscien-
eles existem na classe), recebe de Serviço Notarial e Registral de
tizem-se do que hoje são: CARTO-
alguns magistrados um tratamen- Cabo Frio, Estado do Rio de Janei-
RÁRIOS. Se sabem, revelem o que
to inexpressivo pelo trabalho que ro, que possui estas expressivas
sabem. Sejam Rouxinóis da Clas-
realiza,... mas HOJE, muitos ma- virtudes, destadas por quem há
se.
gistrados estão deixando a magis- mais de um ano o indicou:
tratura para serem cartorários. Re- 4. Quando em atividade, fui
socio fundador de uma entidade, ESTUDIOSO – DILIGENTE –
gistro, efetivamente fui contunden-
sendo o único cartorário a fazer HUMILDE – CORTÊS – ALTRUÍS-
te nas razões do meu recurso, por-
que defendia um direito legítimo parte dela; os demais eram magis- TA – ÉTICO E HONESTO.
meu, não acolhido pelo magistra- trados, promotores, advogados, e O Diploma lhe será entregue
do apreciador dos trabalhos apre- dos assuntos debatidos deles par- por uma destas duas formas: aqui
sentados. Não importa a opinião do ticipei e no orgão de tal entidade em São Paulo, na sede do DIÁRIO
magistrado. Importo-me sim, com divulguei trabalho de minha auto- DAS LEIS IMOBILIÁRIO, ou em
o teor do voto do Desembargado ria, e não sofri a contundência do sua comarca, por quem o indicou,
Dr. Adriano Marrey, de cultura jurí- entendimento daquele juiz que Valestam Milhomem da Costa. O
dica tão respeitosa como a do seu apreciou os meus trabalhos apre- preâmbulo extenso é a minha ho-
saudoso pai. Esse voto foi a razão sentados num “concurso de titulos” menagem pessoal ao indicado.
Resposta: A escritura de divisão amigável somente pode ser feita entre as pessoas cujos nomes constem na
matrícula como sendo proprietários. Nenhum dos quinhões resultantes da divisão poderá ser menor do que a “fração
mínima de parcelamento” constante do CCIR emitido pelo INCRA. Será necessário efetuar levantamento topográfico
com memoriais descritivos. Não é necessário o georreferenciamento, por ter menos de 500 hectares. A servidão de
passagem constará dos memoriais e das novas escrituras. Feita a divisão nessas condições, em glebas não inferiores
à fração mínima de parcelamento, não haverá necessidade de aprovação da Prefeitura, INCRA, DPRN, etc. Após
realizadas as escrituras e devidamente registradas no Registro de Imóveis, as áreas deverão ser atualizadas no cadas-
tro do INCRA.
Resposta: Sim. A ação de cobrança deverá ser instruída com os dois contratos, contra os dois fiadores.
Resposta: O comprador correrá risco com este tipo de certidão, sendo o único imóvel da empresa perseguido
pelos credores ou pelo Poder Público, pelas dívidas tributárias, etc., pois poderá haver fraude contra credores (art. 158
e segts do CC) e não fraude à execução, pois não existe, ainda, processo judicial, com a conseqüente anulação do
negócio. Se o comprador, mesmo assim, quer o imóvel, sabendo de todas as conseqüências que poderão advir, pelas
dívidas da vendedora, isto deverá ser consignado no instrumento de compra e venda.
Resposta: A escritura de compra e venda é consequência da quitação do compromisso de compra e venda, sem
a qual não haveria a sua outorga. A escritura de compra e venda, estando registrada no Cartório de Imóveis, confere ao
seu titular o domínio sobre a coisa, quando, antes, somente tinha a posse com o compromisso. O compromisso de
compra e venda poderá ser útil caso haja uma ação de anulação de escritura, onde se poderá comprovar todos os
passos retratados no compromisso de compra e venda, como a quitação, testemunhas do compromisso, etc. Nos
termos do art. 1417 do Código Civil, “mediante promessa de compra e venda, em que não se pactuou arrependimento,
celebrada por instrumento público ou particular, e registrada no Cartório de Registro de Imóveis, adquire o promitente
comprador direito real à aquisição do imóvel.
Resposta: O Termo “satisfeitas as obrigações fiscais”, do art. 945 do Código de Processo Civil, refere-se a dívidas
tributárias referentes ao imóvel, não entrando neste rol o ITBI por se tratar de aquisição originária, embora existem leis
de certos municípios que cobram este imposto indevidamente. Será possível usucapir imóvel penhorado com dívida
pelo IPTU; entretanto, o usucapiente deverá pagar a dívida se não quiser que o imóvel seja arrematado em hasta
pública.
Resposta: Conforme entendimento do Dr. José Hildor Leal, na descrição das unidades autônomas para o registro
na Serventia Predial, continua sendo realizada como sempre foi, conforme o art. 7º da Lei 4.591/91, e o art. 1.332 do
Código Civil em nada alterou a sistemática, quando diz: “extremadas umas das outras” que já faz parte das especificações
registradas quando da incorporação imobiliária, sendo o art. 225 da Lei de Registros Públicos utilizado fora destas
situações. O entendimento de Mario Pazutti Mezzari, em seu livro “Condomínio e Incorporação no Registro de Imóveis”,
Editora do advogado, continua válido. Pág. 31/32: “Identificação da Unidade Autônoma (...). A identificação da unidade
autônoma, no entanto, é formalizada complementarmente com outros elementos igualmente exigidos em lei (art. 7º)
Tem-se por suficiente que a perfeita identificação de uma unidade se faça mediante a indicação dos seguintes elemen-
tos: A designação numérica ou alfabética, a localização por pavimento (1º, 2º, 3º etc.), a situação dentro do pavimento
(frente, fundos, meio etc), sua área privativa, a correspondente área de uso comum, sendo normalmente indicada a
área total, que é o somatório das duas primeiras. Indica-se igualmente a fração ideal que lhe é correspondente, dispen-
sada a descrição interna da unidade. A boa técnica registral exige que qualquer imóvel que se pretenda individuar, seja
identificado também com suas confrontações externas (art. 225 da Lei de Registros Públicos). A Lei n.º 4.591/64 dispen-
sa a descrição interna da unidade. (...) Usualmente, na propriedade horizontal instituída sobre prédios de pequeno e
médio porte, a perfeita identificação da unidade não exige a indicação de suas confrontações. Inobstante, casos há em
que, dada a magnitude do prédio, com inúmeras economias num mesmo pavimento, somente mediante a indicação das
confrontações é que se logrará atingir a individualização descrita necessária. Fica aqui o registro de que a melhor
orientação para a questão é a casuística, até mesmo pela falta de orientação objetiva sobre a matéria.”
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