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Uma publicação
BOLETIM DO DIREITO IMOBILIÁRIO
Os serviços notariais e registrais
e o Imposto Sobre Serviços
Gilson C. Sant’Anna (p. 25)
Convenção de condomínio
não está acima da lei.
Kênio de Souza Pereira (p. 6)
te representar infração a ordem eco- pagamento de multa no valor equiva- ânsia do investidor em franquias. Ele
nômica. Cabe à autoridade antitruste lente a 2% (dois por cento) do seu está atrás da segurança econômica
aferir se o grau de restrição efetiva- faturamento bruto anual, determinan- para investir em determinado negó-
mente decorrente da cláusula se do, ainda, a imediata cessação da cio8, que já consolidado no merca-
mantém no limite razoável, bastante prática, além de outras determina- do, pode lhe dar.
para, por um lado, garantir a viabili- ções, tudo nos termos do voto do Nesse passo, a melhor doutrina,
dade do empreendimento shopping Relator, o qual acolheu requerimento na pena de Jorge Pereira Andrade9,
center, e, por outro, não sobrestar o do MPF, no sentido de que seja ofici- define franquia da seguinte forma: “é
desenvolvimento das atividades co- ada a SDE, a fim de que seja promo- um conceito pelo qual uma empresa
merciais dos lojistas ali instalados”. vida investigação sobre a prática de industrial, comercial ou de serviços,
O CADE, em 04.09.2007, não cláusula de raio pelos demais detentora de uma atividade mercado-
obstante os pareceres supra citados, Shoppings Centers que integram o lógica vitoriosa, com marca notória ou
concluiu pela punição do Iguatemi, mesmo mercado relevante do nome comercial (franqueadora) per-
entre outros motivos porque: (i) a clá- Iguatemi (Eldorado, Morumbi, Jardim mite a uma pessoa física ou jurídica
usula de raio7 deve ser analisada à Sul, Villa-Lobos e Higienópolis). Ven- (franqueada), por tempo e área ge-
luz da razão e da realidade, e o cido o Conselheiro Sicsú”. ográfica exclusivos e determina-
Iguatemi usa não só a citada cláusu- Como não poderia deixar de ser, dos, seu uso, para venda ou fabri-
la, bem como outras que restringem o Iguatemi recorreu ao judiciário, que cação de seus produtos e/ou servi-
a concorrência, tal como a cláusula felizmente vem confirmando a decisão ços mediante uma taxa inicial e por-
de exclusividade; (ii) as cláusulas de da autarquia, dando segurança jurídi- centagem mensal sobre movimento
raio não obedecem a um padrão, pelo ca para novos empreendimentos. de vendas, oferecendo, para isto,
contrário, são de livre arbítrio do Neste sentido o Desembargador todo o seu know-how administrativo,
Iguatemi e, muitas vezes, possuem Federal convocado David Wilson de de marketing e publicidade, exigindo
contornos de cláusula de exclusivida- Abreu Pardo, relator do caso, salien- em contrapartida um absoluto aten-
de; (iii) a estratégia de copiar o tenant tou a impossibilidade do Iguatemi de dimento a suas regras e normas, per-
mix do concorrente é visto pela lite- limitar a concorrência sob o argumen- mitindo ou não a subfranquia”. (grifo
ratura econômica como uma forma to de diminuição do faturamento. Se- nosso)
de atuação do comércio; (iv) as cláu- gundo o magistrado, “eventual redu- A franquia, como todo o negó-
sulas de raio não podem servir para ção de faturamento do Shopping, em cio, possui pontos positivos e negati-
restringir os concorrentes, dando as- razão da exclusão da cláusula de raio, vos que valem ser destacados para
sim, às cláusulas restritivas, o papel pode ser atribuída à própria dinâmi- estudo da cláusula de territorialidade,
que caberia à eficiência e eficácia ca do mercado, e não a uma concor- para entender, principalmente, o que
das ações comerciais; e, por fim (v) rência desleal, ou mesmo a uma con- esta cláusula visa a proteger. São
a cláusula de raio eleva o poder de duta oportunista dos lojistas”. Em pontos positivos para o franqueado:
mercado do Iguatemi, bem como os seguida, acrescentou: “o fato é que a associa-se a uma marca consolida-
preços cobrados por ele. cláusula de raio, na forma como utili- da, desenvolve um conceito de su-
E concluiu com o seguinte zada pelo Shopping, parece prejudi-
cesso, corre menos risco, tem aces-
car a livre iniciativa, a livre concor-
acórdão: “O Plenário, por unanimida- so à profissionalização do negócio,
rência, e, em última instância, a liber-
de, conheceu do presente Recurso pertence a um todo coletivo, obtém
dade de escolha do consumidor, o
de Ofício no presente Processo Ad- melhor relação investimento/retorno,
que não pode ser tolerado pelo Esta-
ministrativo, dando-lhe provimento, conta com a cobertura de uma
do”.
considerando, por maioria, a Repre- corporação consolidada. Por outro
sentada, como incursa no art. 20, II. A Franquia e a cláusula de lado: menor grau de liberdade, em-
inciso I c.c. o art. 21, inciso IV e V, da territorialidade. preendimento ligado a um parceiro
Lei nº 8.884/94, condenando-a ao A palavra segurança resume a remoto, necessidade de assimilar um
conceito estabelecido de negócio, ris- A partir destas pequenas consi- “Nesse sentido, para a definição do
co associado ao desempenho do derações, trataremos agora de uma mercado relevante geográfico deste
franqueador. das bases do contrato de franquia: a processo, é necessário delimitar a
Neste sentido, óbvio é que a es- cláusula de territorialidade. A que dis- área máxima em que os consumido-
colha da marca a que o empreende- tância um franqueado deve ficar do res (lojistas/compradores) do
dor será associado/franqueado, bem outro? Shopping Center Iguatemi estariam
como a localização no novo empreen- A exclusividade em determina- dispostos a se locomoverem na hi-
dimento depende de uma análise con- das regiões tem seu fundamento, pótese de um abuso da posição do-
junta de franqueado e franqueador, segundo Adalberto Simão Filho13: “a minante. Isso permitiria conhecer to-
pelo menos na última assertiva. exclusividade territorial é de profun- dos os shopping centers (de alto pa-
É corrente que no contrato de fran- do interesse do franqueado porque drão) que concorrem com o
quia o franqueador seja remunerado delimitará o campo de sua ação e li- Iguatemi”. E concluiu que: “dessa for-
como nos shoppings centers, com por- mitará o acesso de outros integran- ma, define-se, como o mercado rele-
centagem do faturamento da loja, em- tes da rede à zona concedida. Prote- vante deste processo, os shopping
bora distintas as contrapartidas. Pare- ge-se, desta forma, a possibilidade de centers de alto padrão estabelecidos
ce óbvio, então, que dois franquea- uma concorrência danosa sobre o na zona oeste, norte da zona sul e
dos, um do lado do outro, não é do franqueado e racionaliza o processo oeste da zona central da cidade de
interesse do franqueador que terá distributivo, evitando-se a saturação São Paulo, os quais apresentam um
nessas duas lojas a diminuição do de pontos de mercado, quando bem nível de diferenciação corresponden-
faturamento e a concorrência desne- aplicada”.
te ao do shopping Iguatemi: Eldorado,
cessária entre dois franqueados10. Conforme se observa, a cláusu- Morumbi, Jardim Sul, Villa Lobos e
Nesta linha de raciocínio, Frans la de raio14 ou de exclusividade visa Higienópolis (além, obviamente, do
Martins11 coloca que são cláusulas garantir uma interdependência entre próprio Iguatemi)”.
essenciais aos contratos de franquia as franquias, preservando a capaci-
Nessa linha de raciocínio é que
o prazo de contrato, delimitação do dade de atrair o público consumidor
devem ser entendidos o mercado re-
território e da localização, as taxas de ao seu estabelecimento.
levante e a cláusula de exclusivida-
franquia, as quotas de venda, o direi- Não é segredo que a localização de em contratos de franquia16. Ne-
to de o franqueado vender a franquia do estabelecimento comercial influi
cessariamente, deve ser feito pelo
e cancelamento ou extinção do con- no fluxo de público do empreendi-
franqueador (sim, é dele a responsa-
trato12. mento e é por isto que ter como seu
bilidade pelo modelo de negócio e
Ora, nada mais lógico. O inves- vizinho e, pior, sua concorrente,
como ele vai se expandir) um estudo
tidor ao se interessar por ramo co- franqueada de mesma cadeia, não
econômico do ponto de vista do
mercial novo precisa conhecer alguns fará nada bem para o sucesso do
franqueado, analisando-se os bene-
requisitos tais como quanto ele de- negócio.
fícios de serem instalados dois ou
verá aplicar, onde será seu estabele- É por isto que a cláusula de ex-
mais estabelecimentos em locais não
cimento e suas probabilidades de êxi- clusividade deve respeitar o estudo
muito distantes, sob pena de caniba-
to. geográfico de mercado relevante e
lismo.
Que nenhum negócio tenha su- seu poder15, ou seja, qual é o públi-
co alvo do negócio e qual a possibili- Assim, somente poderá ser
cesso garantido, não é novidade.
dade real de estes visitarem e usa- permitida cláusula de raio17 que res-
Mas, ao se investir em uma franquia,
rem o negócio. peite seu fim essencial: proteger o
como já dito, os riscos são menores,
franqueado contra a predação de um
e o poder da marca combinado com No caso do Iguatemi, por exem-
“amigo concorrente”.
o know-how do franqueador devem plo, a SDE em seu parecer observou
refletir uma boa entrada no mundo os seguintes tópicos para a definição (*) O autor é Advogado em São
dos negócios. do mercado relevante geográfico: Paulo, SP.
o julgamento antecipado implica cerce- as menores; Minas Gerais constatado, que em al-
amento de defesa.” (1.0024.06.281355- b) cláusula que permita que o gumas convenções de edifícios onde
5/002) síndico não preste contas à Assem- o apartamento de cobertura ou tér-
CLÁUSULAS ILEGAIS PODEM bléia Geral, de forma a tornar as con- reo é penalizado de forma injusta,
SER ANULADAS tas “uma caixa preta”, pois afronta os com cobrança abusiva de taxa de
art. 1.348, VIII e art. 1.350 do CC que condomínio estipulada com base na
A convenção não é um docu-
preveem que o síndico deve prestar fração ideal, que foi criada para divi-
mento imutável, apesar de ter cará-
contas à assembleia anualmente ou dir despesas de construção, vemos
ter normativo, oponível até contra
quando exigidas; que a imposição do rateio de despe-
aqueles que recusaram sua aprova-
sas que favorece o enriquecimento
ção, ou seja, supera o conceito de c) cláusula que impeça a eleição
ilícito das unidades-tipo não pode pre-
simples contrato que tem caráter do síndico em Assembleia ou que crie
valecer.
obrigacional somente perante aos mecanismos que favoreçam a frau-
que pactuaram. de ao impedir que vários condôminos Como os apartamentos-tipo são
quem então poderia? Certamente ne- derá renovar-se.”; so em que atuei como advogado, na
nhum juiz cometeria validar a cláusu- d) cláusula que preveja multa de defesa do proprietário de uma cober-
la que diz que 1/3 dos condô-minos mora de 10% para o inadimplente não tura, que tem uma fração ideal 188%
pode alterar convenção, já que a lei contumaz, sendo que o CC prevê que superior à dos demais apartamentos-
impõe o quorum qualificado de 2/3 do a multa será de 2%. tipo, o Desembargador do TJMG,
meio da convenção de condomínio, xação da quota dos condôminos, des- térreo do edifício.
têm a liberdade de estipularem a for- de que obedecidos os requisitos for- (...)”
ma adequada de rateio das despe- mais, preservada a isonomia e
“EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL.
sas condominiais. Aprovada pelo descaracterizado o enriquecimento ilí-
AÇÃO DECLARATÓRIA. RATEIO
quorum regular, a convenção assu- cito de alguns condôminos. O rateio
DAS DESPESAS CONDOMINIAIS.
igualitário das despesas condominiais
me status de norma cogente frente LOJA LOCALIZADA NO ANDAR
não implica, por si só, enriquecimento
às relações condominiais. Conquan- TÉRREO.
sem causa dos proprietários de mai-
to em consonância com as disposi-
or fração ideal.” 1. Descabe ser cobrado dos AA.
ções legais que regem a matéria, o
O Tribunal de Justiça do Estado despesas relativas a equipamentos
rateio com base na fração ideal, pre-
do Rio Grande do Sul, por decisão de segurança, circuito interno de TV
visto na convenção de condomínio,
unânime na apelação cível nº e limpeza, já que deles não se bene-
pode, em determinados casos, ofen-
70020824439, constatou a abusivi- ficiam, por serem proprietários de loja
der preceitos outros, hierarquicamen-
dade de cláusula convencional de localizada no andar térreo, contando
te superiores, como a boa-fé objetiva
cobrança de taxa de condomínio, com entrada independente, sem a
e a vedação ao enriquecimento ilíci-
eximindo uma loja que possuía en- utilização do espaço interno do con-
to. Destarte, é possível que se reco-
trada independente, sem a utilização domínio. 2. Impositivo o recálculo da
nheça a abusividade e ilicitude da
do espaço interno do condomínio, do
aplicação do preceito legal e cota condominial, na forma como es-
pagamento das despesas com as
estatutário concernente ao rateio das tabelecido pela sentença, para dela
quais a mesma não tinha participa-
despesas condominiais com base na afastar as despesas com as quais
ção, dentre elas as relativas a equi-
fração ideal das unidades autônomas. não se beneficiam os AA. NEGADO
pamentos de segurança, diante da
Nesse contexto, afigura-se indispen- PROVIMENTO A AMBOS OS APE-
efetiva comprovação de quem deles
sável à solução da lide a realização LOS. UNÂNIME.
se beneficiam é que se mostra pos-
da perícia indeferida na sentença. Em
sível o aludido rateio. Portanto, a convenção não pode
se verificando a utilidade da prova
requerida, há de se reconhecer que No trecho extraído do voto da se sobrepor o Código Civil e aos prin-
o julgamento antecipado implica cer- Desembargadora Nara Leonor Cas- cípios jurídicos, cabendo aos que se
ceamento de defesa.” tro Garcia, no processo acima cita- sentirem lesados, combater a norma
do, a mesma explana com maestria que for ilegal, e questioná-la em juízo,
No sentido de confirmar que a
sobre a questão em tela: caso o bom senso não prevaleça en-
Convenção é norma subsidiária, não
podendo estipular cláusula que venha “(...) tre os condôminos que devem evitar
a ferir princípios jurídicos e nem esti- Sendo assim, ainda que a conven- a manutenção de normas que cau-
pular rateio de maneira a penalizar ção de condomínio preveja o rateio sem situações injustas.
alguma unidade com a cobrança de comum das despesas condominiais e, (*) O autor é Diretor da Caixa
forma abusiva, ou seja, contrária ao no caso, pagamento diferenciado aos
Imobiliária – Rede Netimóveis, Advo-
que realmente usufrui dos serviços AA., com redução de 35% do valor
gado Especialista em Direito Imobili-
comuns, o STJ decidiu da seguinte devido, nada impede que, mediante
forma:
ário, Vice-presidente do Sindicato do
provocação do condômino, como no
Mercado Imobiliário de Minas Gerais
“Ementa: DIREITO CIVIL - DES- caso, venha o Poder Judiciário a se
(SECOVI-MG), Professor do MBA da
PESAS CONDOMINIAIS - CRITÉRIO pronunciar de forma a redefinir quais
despesas condominiais podem ser co- FEAD-MG – Direito Imobiliário, Árbi-
DE RATEIO NA FORMA IGUALITÁRIA
ESTABELECIDO EM CONVENÇÃO bradas dos AA., afastando do rateio tro da CAMINAS – Câmara de Arbi-
CONDOMINIAL – ADMISSIBILIDADE. aquelas das quais não se utilizam por tragem de Minas Gerais, Tel. (31)
A assembléia dos condôminos é livre não lhes trazer qualquer benefício à 3225-5599 – e-mail – keniopereira@
para estipular a forma adequada de fi- sua unidade autônoma, localizada no caixaimobiliaria.com.br
É claro que ele deverá prestar A solidariedade é, pois, excep- datárias de uma coisa, ficarão soli-
contas aos demais. Porém, se ele se cional dariamente responsáveis para com o
tornar insolvente, os outros terão pre- Observe-se que a obrigação so- comodante.
juízo. Sem falar na demora do trans- lidária constitui uma exceção. Por Art. 1016. Os administradores
curso de uma ação de prestação de esse motivo, ela não é admitida fora respondem solidariamente perante a
contas. da lei ou do contrato. sociedade e os terceiros prejudica-
A solidariedade passiva Não havendo expressa menção dos, por culpa no desempenho de
Já esta solidariedade tem gran- no contrato e não existindo previsão suas funções.
de importância, pelas vantagens que legal, a obrigação se divide. Cada Art. 1052. Na sociedade limitada,
apresenta. devedor é obrigado apenas à sua a responsabilidade de cada sócio é
Com efeito, como já dissemos quota parte e cada credor tem direito restrita ao valor de suas quotas, mas
acima, o credor não precisa acionar apenas ao seu quinhão. todos respondem solidariamente pela
cada um dos devedores. Ele pode Assim sendo, a solidariedade integralização do capital social.
reclamar, de um ou de alguns dos co- não pode decorrer de sentença judi- Um exemplo da Lei das Loca-
devedores, o pagamento do total, cial. ções (Lei 8.245/91 – consultar o
podendo escolher o mais solvente ou Exemplos de solidariedade portal de legislação do Diário das
o que tenha bens de maior liquidez. instituída por lei Leis)
Regras da solidariedade passiva (Os artigos citados abaixo são Art. 2º Havendo mais de um lo-
deste ou promitente cessionário com sabilidade Civil na Incorporação Imo- publicidade e corretagem, resultam
título que satisfaça os requisitos da biliária, informa: culpadas pela impossibilidade da
alínea a do art. 32; “A empresa corretora pode so- construção, respondem perante o
A norma quer dizer que, caso 1. Contrato – Compromisso de Fornecedor, no sentido técnico,
haja mais de um incorporador, serão compra e venda – Incorporação imo- é aquele que fornece em caráter ha-
todos solidários entre si. biliária – Rescisão – Cumulação com bitual, como atividade profissional e
devolução das quantias pagas e per- não esporadicamente.
b) quanto à concessão do “ha-
das e danos – Corretor de vendas – Após a aquisição, surgiram de-
bite-se”:
Omissão quanto à irregularidade do feitos no imóvel.
Lei 4.591/64, art. 44. Após a con- negócio, firmando , inclusive, os re-
cessão do “habite-se” pela autorida- Se esse for o caso, atente-se
cibos das quantias contratadas – So-
de administrativa, o incorporador de- para o teor do artigo 18 do Código de
lidariedade com a incorporadora –
verá requerer a averbação da cons- Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/
Recurso não provido.
trução das edificações, para efeito de 90 – consultar o Portal de Legislação
2. E, assim, associou-se à do Diário das Leis):
individualização e discriminação das
incorporadora do empreendimento, Os fornecedores de produtos de
unidades, respondendo perante os
que não chegou sequer a ser inicia- consumo duráveis ou não duráveis
adquirentes pelas perdas e danos
do, quer fisicamente, bem como pe- respondem solidariamente pelos
que resultem da demora no cumpri-
rante o Registro Imobiliário. Por isso vícios de qualidade ou quantidade
mento dessa obrigação.
que, nos termos do artigo 159 do que os tornem impróprios ou inade-
§ 1º Se o incorporador não re- Código Civil (de 1916), deve arcar quados ao consumo a que se desti-
querer a averbação, o construtor com os prejuízos causados. nam ou lhes diminuam o valor...
requerê-la-á, sob pena de ficar so-
3. Resultando de ato ilícito a par- Prevalecem, assim, as regras
lidariamente responsável com o
ticipação das rés no negócio, torna- da solidariedade passiva. O consu-
incorporador perante os adquiren-
se irrecusável a solidariedade passi- midor tem o direito de escolha entre
tes.
va de ambas. os participantes do negócio incorpo-
Solidariedade da empresa 4. Empresas coligadas que, na rativo (incorporador, construtor, em-
corretora promoção e incorporação de venda presa corretora), buscando ressar-
Everaldo Augusto Cambler, em e compra de unidades imobiliárias, cimento de um ou de todos conjun-
sua minuciosa obra sobre a Respon- quer no ramo de construção, quer na tamente.
(*) O autor é Advogado, Professor de Direito Imobiliário. Autor dos livros: Direito Imobiliário, Uma Abordagem
Didática, edição particular; Títulos de Crédito, Editora Plêiade; Contratos Mercantis, Editora Graph Press; Despesas
Ordinárias e Extraordinárias de Condomínio, Editora Juarez de Oliveira. Autor do curso a distância, por correspondên-
cia, sobre locação de imóveis, da empresa Diário das Leis. E-mail: jorgetarcha@jorgetarcha.com.br
Brasília (DF), 11 de novembro de 2008 1. Inexistente contradição no julgado, mas nítido pro-
pósito de rediscussão da matéria, afasta-se a alegação
Ministro Humberto Martins, Relator de ofensa ao art. 535, I, do CPC.
RELATÓRIO 2. A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido
O Exmo. Sr. Ministro Humberto Martins (Relator): de que o promitente comprador pode ser considerado
Magnum Comercial e Construtora Ltda. interpõe agra- contribuinte do IPTU, conjuntamente com o proprietário
vo regimental contra decisão de minha autoria, que ficou do imóvel, responsável pelo seu pagamento. A existência
assim ementada: (fl. 128) de possuidor apto a ser considerado contribuinte do im-
posto não implica exclusão automática, do pólo passivo
“Processual Civil – Execução fiscal – IPTU – Legiti- da obrigação tributária, do titular do domínio (assim en-
midade ad causam – Compromissário vendedor – Possi- tendido aquele que tem a propriedade registrada no Re-
bilidade – Recurso especial provido.” gistro de Imóveis). Precedentes: Resp 979.970/SP (Rel.
O agravo interno baseia-se nas seguintes razões, em Min. Luiz Fux), dentre outros.
síntese: 3. Legítimo para figurar no pólo passivo da execução
a) pela inadmissão do recurso especial, pois neces- fiscal tanto o compromissário-vendedor como o
sária a interpretação de lei local, incidindo a Súmula 280/ compromissário-comprador, podendo a autoridade admi-
nistrativa optar por um ou por outro, visando a facilitar o suidor apto a sofrer a incidência do imposto.
procedimento de arrecadação (Precedente REsp 457.078/ 1. ‘Definindo a lei como contribuinte o proprietário, o
SP, Rel. Min. Teori Albino Zavascki). titular do domínio útil, ou o possuidor a qualquer título,
4. Recurso especial provido em parte.” pode a autoridade administrativa optar por um ou por ou-
(REsp 850.000/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado tro visando a facilitar o procedimento de arrecadação.’
em 21.8.2008, DJe 25.9.2008.) (REsp 927.275/SP, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, 1ª
Turma, DJ de 30/4/2007).
“Processo Civil. Tributário. Execução fiscal. IPTU.
Cobrança. Exceção de pré-executividade. Legitimidade 2. Recurso Especial conhecido e provido.”
passiva. Dilação probatória. Contrato de promessa de (REsp 712.998/RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, Se-
compra-e-venda. Proprietário e possuidor. Concomitância. gunda Turma, julgado em 4.9.2007, DJ 8.2.2008.)
(...) “Processual Civil – Execução fiscal – IPTU – Legiti-
2. A invocação de ilegitimidade passiva ad causam, midade ad causam – Compromissário vendedor – Possi-
via exceção de pré-executividade, afigura-se escorreita, bilidade.
uma vez cediço na Turma que o novel incidente é apto a 1. Hipótese de cobrança de IPTU de compromissário-
veicular a ausência das condições da ação. Faz-se mis- vendedor cujo nome ainda consta no registro de imóveis.
ter, contudo, a desnecessidade de dilação probatória (ex- 2. A questão refere-se a responsabilidade tributária
ceção secundum eventus probationis), porquanto a situa- que é atribuída ao proprietário, qual seja, aquele que tem
ção jurídica a engendrar o referido ato processual deve a propriedade registrada no Registro de Imóveis.
ser demonstrada de plano.
3. Existência de lei municipal que atribui responsabi-
3. In casu, o indeferimento do pedido deveu-se à lidade tributária ao possuidor indireto.
inexistência de comprovação do compromisso de com-
pra e venda e do registro translatício do domínio no cartó- 4. O entendimento desta Corte é no sentido de que o
rio competente, malogrando o recorrente a infirmação da promitente comprador é legitimado para figurar no pólo
certeza, da liquidez ou da exigibilidade do título, mediante passivo conjuntamente com o proprietário, qual seja, aque-
inequívoca prova documental. le que tem a propriedade registrada no Registro de Imó-
veis, em demandas relativas à cobrança do IPTU. E, as-
4. Ademais, o possuidor, na qualidade de promitente- sim, cabe, ao legislador municipal, eleger o sujeito passi-
comprador, pode ser considerado contribuinte do IPTU, vo do tributo, contemplando qualquer das situações pre-
conjuntamente com o proprietário do imóvel, responsável vistas no CTN.
pelo seu pagamento.
Agravo regimental improvido.”
(Precedentes: REsp 784.101/SP, deste relator, DJ de
30.10.2006; REsp 774720/RJ; Relator Ministro Teori Albino (AgRg no REsp 1022614/SP, Rel. Min. Humberto
Zavascki DJ 12.06.2006; REsp 793073/RS Relator Mi- Martins, julgado em 8.4.2008, DJ 17.4.2008.)
nistro Castro Meira DJ 20.02.2006; REsp 712.998/RJ, “Tributário. Execução fiscal. IPTU. Legitimidade
Rel. Ministro Herman Benjamin, DJ 08.02.2008; REsp passiva. Proprietário e possuidor. Fixação da verba hono-
774720 /RJ, Relator Ministro Teori Albino Zavascki, DJ rária. Recurso especial. Ausência de prequestionamento.
12.06.2006) Análise do contexto fático-probatório da causa. Aplicação
5. O art. 34 do CTN estabelece que contribuinte do das súmulas 07 do STJ e 389 do STF.
IPTU ‘é o proprietário do imóvel, o titular do seu domínio 1. A falta de prequestionamento da matéria suscita-
útil, ou o seu possuidor a qualquer título’. da no recurso especial, a despeito da oposição de embar-
6. A existência de possuidor apto a ser considerado gos de declaração, impede o conhecimento do recurso
contribuinte do IPTU não implica a exclusão automática, especial (Súmula 211 do STJ).
do pólo passivo da obrigação tributária, do titular do domí- 2. Em matéria de prova, as instâncias ordinárias são
nio (assim entendido aquele que tem a propriedade regis- soberanas, não podendo o STJ, em recurso especial,
trada no Registro de Imóveis). apreciar eventual desacerto na sua análise (Súmula 7/
7. Recurso Especial desprovido.” STJ).
(REsp 979.970/SP, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Tur- 3. O art. 34 do CTN estabelece que contribuinte do
ma, julgado em 6.5.2008, DJe 18.6.2008.) IPTU “é o proprietário do imóvel, o titular do seu domínio
“Tributário. Execução fiscal. IPTU. Contrato de pro- útil, ou o seu possuidor a qualquer título”. Assim, a exis-
messa de compra e venda. Legitimidade passiva do pro- tência de possuidor apto a ser considerado contribuinte
prietário do imóvel não excluída pela existência de pos- do IPTU não implica a exclusão automática, do pólo pas-
sivo da obrigação tributária, do titular do domínio (assim passivo do tributo, contemplando qualquer das situações
entendido aquele que tem a propriedade registrada no previstas no CTN.
Registro de Imóveis). Definindo a lei como contribuinte o proprietário, o ti-
4. Ao legislador municipal cabe eleger o sujeito pas- tular do domínio útil, ou o possuidor a qualquer título, pode
sivo do tributo, contemplando qualquer das situações pre- a autoridade administrativa optar por um ou por outro vi-
vistas no CTN. Definindo a lei como contribuinte o propri- sando a facilitar o procedimento de arrecadação’ (Prece-
etário, o titular do domínio útil, ou o possuidor a qualquer dente: REsp 475.078/SP, 1ª T, Rel. Min. Teori Albino
título, pode a autoridade administrativa optar por um ou Zavascki, DJ dia 27.09.2004).
por outro visando a facilitar o procedimento de arrecada- 5.Recurso especial parcialmente conhecido e, nesta
ção. parte, desprovido.”
5. No caso, porém, o Tribunal de origem, apreciando (REsp 927.275/SP, Rel. Min. Teori Albino Zavascki,
as provas dos autos, considerou o executado parte ilegíti- Primeira Turma, Julgado em 17.4.2007, DJ 30.4.2007.)
ma pois o Fisco já conhecia a transferência da proprieda-
de do imóvel tributado, uma vez que consta de seus ca- “Processo Civil. Tributário. Mandado de segurança.
dastros o nome do novo responsável tributário. Taxas. Legitimidade ativa. Contrato de promessa de com-
pra-e-venda. Proprietário e possuidor. Concomitância.
6. O reexame da adequada aplicação, pelo acórdão
recorrido, dos critérios de eqüidade, previstos no art. 20, 1. O promitente comprador de imóvel possui legitimi-
§ 3º, do CPC, impõe, necessariamente, revolvimento dos dade ativa ad causam para impetrar mandado de segu-
fatos e das provas dos autos, o que não se comporta no rança objetivando efetuar o pagamento do IPTU, indepen-
âmbito do recurso especial, atraindo a incidência da dentemente do pagamento das taxas de conservação e
Súmula 7/STJ. Aliás, sobre a matéria, o STF editou a limpeza, incidentes sobre o imóvel objeto do contrato de
súmula 389, aqui aplicável por analogia: “salvo limite le- promessa de compra e venda, tendo em vista que: I) foi
gal, a fixação de honorários de advogado, em comple- imitido na posse do imóvel, conforme certificado pelas ins-
mento da condenação, depende das circunstâncias da tâncias ordinárias;
causa, não dando lugar a recurso extraordinário”. II) não há, nos autos, qualquer afirmação ou com-
7. Recurso especial parcialmente conhecido e, nes- provação de que o tributo tenha sido recolhido por pessoa
sa parte, improvido.” diversa. Precedente: AgRg no REsp 754.278/RJ, Rel. Min.
Francisco Falcão, DJ 28.11.2005.
(REsp 713.581/SP, Rel. Min. Teori Albino Zavascki,
julgado em 15.4.2008, DJ 7.5.2008.) 2. O art. 34 do CTN estabelece que contribuinte do
IPTU “é o proprietário do imóvel, o titular do seu domínio
“Tributário. Execução fiscal. IPTU. Contrato de pro- útil, ou o seu possuidor a qualquer título”.
messa de compra-e-venda. Legitimidade passiva. Propri-
etário e possuidor. Dissídio jurisprudencial não compro- 3 Deveras, a existência de possuidor apto a ser con-
vado. Sumula 13/STJ. Interpretação de direito local. Im- siderado contribuinte do IPTU não implica a exclusão au-
possibilidade. Súmula 280/STF. tomática, do pólo passivo da obrigação tributária, do titu-
lar do domínio (assim entendido aquele que tem a propri-
1. A divergência jurisprudencial ensejadora do conhe- edade registrada no Registro de Imóveis).
cimento do recurso especial pela alínea c deve ser devi-
damente demonstrada, conforme as exigências dos arts. 4. O possuidor, na qualidade de promitente-compra-
541, parágrafo único, do CPC e 255 do RISTJ, sendo cer- dor, pode ser considerado contribuinte do IPTU, conjunta-
to que a ‘divergência entre julgados do mesmo Tribunal mente com o proprietário do imóvel, responsável pelo seu
não enseja recurso especial’ (Súmula 13/STJ). pagamento. (Precedentes: REsp 784.101/SP, deste relator,
DJ de 30.10.2006; REsp 774720 /RJ; Relator Ministro
2. Ofensa a direito local não enseja recurso especial,
Teori Albino Zavascki DJ 12.06.2006; REsp 793073/RS
aplicando-se, por analogia, a Súmula 280 do Supremo
Relator Ministro Castro Meira DJ 20.02.2006; AgRg no
Tribunal Federal.
REsp 754278/RJ Relator Ministro Francisco Falcão DJ
3. ‘O art. 34 do CTN estabelece que contribuinte do 28.11.2005 REsp 475078/SP Relator Ministro Teori Albino
IPTU ‘é o proprietário do imóvel, o titular do seu domínio Zavascki DJ 27.09.2004) 5. Recurso Especial desprovi-
útil, ou o seu possuidor a qualquer título’. A existência de do.”
possuidor apto a ser considerado contribuinte do IPTU
(REsp 752.815/SP, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Tur-
não implica a exclusão automática, do pólo passivo da
obrigação tributária, do titular do domínio (assim entendi- ma, julgado em 27.2.2007, DJ 15.3.2007, p. 265.)
do aquele que tem a propriedade registrada no Registro “Tributário. IPTU. Responsabilidade tributária. Pro-
de Imóveis). Ao legislador municipal cabe eleger o sujeito messa de compra e venda de imóvel. Legitimidade passi-
gados, adquirindo materiais necessários à manutenção e binado com o artigo 8º, ambos da Lei 4.591/64.
conservação das coisas e partes comuns, etc. O fato de não ter participado jamais de assembléias
(Loteamento Fechado e Loteamento Horizontal, ed. AIDE, do condomínio não o exclui do rateio.
1ª ed., 1991, p. 57).
Ensina J. Nascimento Franco:
(...)
“Uma vez instituído um órgão administrativo do con-
Não se pode perder de vista, finalmente, que o De- junto, tal como uma associação de moradores, e
creto-lei 271/67, em seu artigo 3º, manda aplicar aos estabelecida uma Convenção, torna-se legal a cobrança
loteamentos a Lei 4.591/64, que regia os condomínios em do que for gasto com os serviços de administração e con-
edificações, e equipara o loteador ao incorporador e os servação das partes comuns, quais sejam, jardins, pra-
compradores de lotes aos condôminos. ças, ruas, captação e distribuição de água, limpeza, cole-
Dada a peculiaridade da situação fática presente ta de lixo, vigilância, seguro, etc. Isto porque, segundo o
nesses loteamentos, pois, que exige um órgão gestor ins- jurista Marco Aurélio Viana, o condomínio fechado guar-
tituído no interesse coletivo, tem a boa jurisprudência en- da estreita semelhança com a propriedade horizontal, na
tendido que não é lícito ao devedor ‘acenar com a liberda- qual prevalece a regra do rateio das despesas com equi-
de de associação, garantia constitucional’, para se esqui- pamentos e serviços postos à disposição de todos os parti-
var das contribuições destinadas à manutenção e à cipantes da comunidade. Nenhum deles pode negar-se
implementação da coisa comum (RT 706/161), eis que ao pagamento de sua parte a pretexto de inexistência de
‘aqueles que adquirem propriedades nessas circunstân- um condomínio, ou de não pertencer aos quadros da as-
cias, sistema de loteamentos com conformação de con- sociação dos moradores criada pela maioria, pois a con-
domínios, têm esse ônus de arcar com as despesas cole- tribuição decorre menos da condição de associado do que
tivas (JTACSP 156/67)” (Ap. c/ Rev. 934.106-0/9, julgada em virtude de poder utilizar dos serviços comunitários”
em 24.08.2006). (Condomínio, RT, 1997, pp. 235/236).
Assim, o apelante é condômino, devendo arcar com Também nesse sentido: 36ª Câmara, Ap. s/ Rev. nº
a cota que lhe cabe relativamente às despesas de condo- 1.015.803-0/3, relator Romeu Ricupero, julgada em
mínio e segurança, de conformidade com o estatuto da 20.07.2006).
associação apelada e com o artigo 12, caput, e § 3º, com- Posto isso, nega-se provimento à apelação.
SFH, sempre se verificou um especial destaque a dois edição de normas restritivas, entre as quais se destaca o
mecanismos favoráveis ao mutuário, quais sejam, a for- DL 2.349/87. Com efeito, após esse decreto-lei, os con-
ma de reajuste da prestações mensais e o Fundo de Com- tratos de financiamento não poderiam conter a cláusula
pensação de Variações Salariais - FCVS. de cobertura pelo FCVS, salvo se o valor mutuado fosse
De um lado, houve a preocupação de eximir o mutu- inferior ao que seria fixado pelo Conselho Monetário Na-
ário dos efeitos imediatos das oscilações dos índices de cional. Ademais, o referido diploma se apressou a afirmar
correção monetária, mediante a sujeição do reajuste das o óbvio: “nos contratos sem cláusula de cobertura pelo
prestações a critérios compatíveis com os seus rendimen- FCVS, os mutuários finais responderão pelos resíduos dos
tos salariais. saldos devedores existentes, até sua final liqüidação” (art.
2º).
Assim, por exemplo, a Lei n. 4.380/64 centrou o rea-
juste das prestações mensais ao redor do salário-míni- Realmente, é evidente que os contratos sem adesão
mo, até ser censurada, nesse ponto, pela Lei n. 6.205/75. ao FCVS carreiam aos mutuários o dever de suportar o
Outrossim - tentando reconquistar o equilíbrio na relação saldo devedor residual.
prestação/salário, abalada notadamente com a citada Lei Acresça-se, por oportuno, que a Lei n. 8.692, de 28
n. 6.205/75 -, veio o Decreto-lei n. 2.164/84 a criar o Pla- de julho de 1993, representou um marco nessa tendência
no de Equivalência Salarial por Categoria Profissional - de afastar dos contratos de financiamento a cobertura do
PES/CP e a estabelecer que o reajuste das prestações FCVS, porquanto, em seu artigo 29, assentou, in verbis:
“corresponderá ao mesmo percentual e periodicidade do “As operações regidas por esta lei não terão cobertura do
aumento de salário da categoria profissional a que per- Fundo de Compensação das Variações Salariais (FCVS)”.
tencer o adquirente” (art. 9º, redação original). Posterior- Essas considerações são relevantes para explicar o
mente, o DL n. 2.284/86, fortalecendo a relação presta- porquê de, nos contratos sem cobertura do FCVS, inexistir
ção/salário, assentou que “em nenhuma hipótese a pres- abuso ou ilegalidade na inserção de cláusulas que
tação do Sistema Financeiro da Habitação será superior explicitem o que, há muito, já integra a lógica do SFH, a
à equivalência salarial da categoria profissional do mutu- saber: o mutuário final deverá arcar com o saldo devedor
ário” (art. 10, § 1º). Mais adiante, a Lei n. 8.004/90, alte- residual.
rando o art. 9º do DL 2.164/84, limitou a prestação mensal
à relação prestação/salário verificada na data da assina- De fato, ao associar a atualização das prestações
tura do contrato, apesar de determinar que o Índice de mensais a modalidades de reajustes diferentes da inci-
Preço ao Consumidor - IPC deverá ser levado em conta dente sobre o saldo devedor, a legislação objetivou, ape-
no reajuste das prestações mensais. nas, livrar o mutuário de suportar, nas prestações men-
O fato é que esse atrelamento do reajuste das pres- sais, a repercussão financeira imediata decorrente das
tações mensais a critérios diversos do aplicável ao rea- variações imprevisíveis da economia. Não buscou, jamais,
juste do saldo devedor gerava, freqüentemente, um con- brindar o mutuário com a redução final do custo do em-
siderável montante ainda pendente de amortização ao fim préstimo.
do prazo contratual. Ao bônus de valer-se, por anos, de uma prestação
Por outro lado, antevendo esse saldo devedor resi- mensal compatível com os reajustes salariais, segue-se
dual, a Resolução n. 25, de 16.06.1967, do Conselho de o ônus de, ao cabo do contrato, arcar-se com o saldo de-
Administração do extinto Banco Nacional da Habitação - vedor eventual remanescente. Realmente, desse encar-
BNH instituiu o Fundo de Compensação de Variações go o SFH somente desonerou aqueles mutuários em cujo
Salariais - FCVS, o qual, em síntese, consiste em uma contrato houvesse a adesão ao FCVS e que, por isso,
espécie de seguro destinado a cobrir esse valor eventual- contribuíram mensalmente para esse fundo.
mente remanescente quando do término do contrato. Em É essa sistemática que foi desenhada pela lei e pela
contrapartida a essa garantia, cumpria ao mutuário de- vontade das partes, de maneira que se revela inviável que
sembolsar, mensalmente, além do valor das prestações o Judiciário a remodele para, a qualquer pretexto, esten-
mensais, uma contribuição destinada ao FCVS. Essa con- der o benefício do FCVS aos mutuários que não contribu-
tribuição mensal do mutuário e o aporte de recursos do íram para esse fundo por terem celebrado contratos de
BNH alimentavam o FCVS. financiamento sem a correspondente cláusula de garan-
Convém ressaltar que, ao longo do tempo, o FCVS tia de cobertura.
imergiu em uma crise financeira notória, na medida em Esclareça-se, desde logo, que, caso o mutuário se
que os saldos residuais dos contratos de financiamento insurja contra o valor do saldo devedor residual, caber-
passaram a ser constantes e em valores expressivos. lhe-á ajuizar eventual ação revisional, e não tentar isen-
Esse crescente solapamento do FCVS ensejou a tar-se da sua responsabilidade de suportar com o custo
- Previsto em lei, o critério de reajuste do saldo deve- A diferença de reajuste das prestações mensais em
dor (pelos mesmos índices de atualização dos depósitos relação ao reajuste do saldo devedor implicou, na espé-
em cadernetas de poupança) é válido, independentemente cie, um saldo devedor residual, o qual será de responsa-
do parâmetro utilizado para o reajustamento dos encar- bilidade dos mutuários em razão da inexistência de previ-
gos mensais (Plano de Equivalência Salarial por Compro- são de cobertura do FCVS.
metimento de Renda). Diga-se, finalmente, que a presente demanda girou
Não estando preconizada a cobertura do eventual em torno da existência ou não de responsabilidade do sr.
resíduo pelo FCVS (Fundo de Compensações de Varia- Maxwiell e de sua esposa pelo pagamento do saldo deve-
ções Salariais), o que sobejar ao final do contrato é da dor residual, de sorte que não há óbice a que eles ve-
responsabilidade do mutuário. nham, futuramente, impugnar o valor do saldo devedor
residual por outros fundamentos.
Recurso especial não conhecido.”
Dá-se, pois, provimento ao recurso especial, para
(REsp 382875/SC, 4ª Turma, Rel. Min. Barros julgar improcedente a demanda, invertidos os ônus de
Monteiro, DJ 24/02/2003) sucumbência.
Esse entendimento, pelo que já foi exposto, não se É o voto.
limita aos contratos firmados após a Lei n. 8.692/93, mas
se espraia para qualquer contrato de financiamento Ministro Massami Uyeda, Relator
habitacional em que não se tenha pactuado expressamen- Brasília, 25 de novembro de 2008
porque tal requisito é necessário apenas para exercício as partes, o que é suficiente, no caso, para autorizar o
do direito de ação por perdas e danos, nos termos do art. decreto de procedência da ação.
33 da lei do inquilinato. Diz que manifestou interesse na De toda forma, bem se vê que a locatária tomou ci-
compra do imóvel, destacando que a notificação efetiva- ência inequívoca da notificação e, nesse aspecto, como
da é irregular. Pede a improcedência da ação. bem observado pelo magistrado “a quo”, “dela pode ter
Processado o recurso, com preparo e com contra- constado prazo menor do que noventa dias, mas, mais
razões, os autos restaram remetidos a este C. Tribunal de importante do que isso, esta ação somente foi ajuizada
Justiça. depois do decurso desse prazo maior por inteiro. Com
É o resumo do essencial. isso, sem ter efetivamente prejudicado o locatário, por-
Eventual preterição ao exercício do direito de prefe- que, em substância, mais do que quanto à forma, foi res-
rência não obsta prosseguimento da ação de despejo, peitado seu direito, ao prazo maior, integral.” (fl. 143).
tanto que discutido em sede inadequada, inexistindo qual- A r. sentença, assim, deu solução adequada ao caso
quer impugnação especificada quanto aos requisitos para e merece ser mantida integralmente.
a retomada do imóvel locado. Há relação “ex locato” entre Isto posto, nega-se provimento ao recurso.
Agravo de instrumento - Despesas condominiais No caso em exame, como bem ponderou o julgador,
- Substituição de penhora - Inviabilidade - Requeri- o recorrente não observou o prazo legal para requerer a
mento intempestivo - Recurso improvido. substituição da constrição, nem, tampouco, comprovou a
inexistência de gravame à parte adversa, o que seria ne-
Vistos, relatados e discutidos estes autos, os cessário. Ainda que a certidão do Registro de Imóveis te-
desembargadores desta turma julgadora da Seção de Di- nha sido juntada a fls. 14/15, tal providência não foi feita
reito Privado do Tribunal de Justiça, de conformidade com oportunamente, na medida em que a praça já havia sido
o relatório e o voto do relator, que ficam fazendo parte designada e as partes, regularmente, intimadas. Vale res-
integrante deste julgado, nesta data, negaram provimen- saltar que é necessária a imposição de um limite tempo-
to ao recurso, por votação unânime. ral para a prática dos atos processuais, sob pena de ha-
VOTO ver uma perpetuação da demanda.
Agravo de instrumento interposto contra decisão pro- Ao propósito do tema, Antonio Carlos Marcato, citan-
ferida em ação de cobrança de despesas condominiais, do lição de Nelton dos Santos, assevera que: “configura
ora em fase de cumprimento de sentença, que indeferiu a verdadeiro tumulto processual permitir o juiz que a parte
substituição da penhora. pratique o ato depois de consumada a preclusão e já se
Inconformada, a agravante brandiu pela reforma do tendo avançado o processo. Cumpre ao juiz, em suma,
“decisum”, afirmando que a permuta não trará nenhum conduzir o processo sem retrocessos e, ao mesmo tem-
prejuízo ao credor, pois o imóvel indicado localiza-se no po, assegurando a mais ampla e eficaz participação dos
mesmo edifício e tem valor e metragem semelhantes ao litigantes” (“in” Código de Processo Civil Interpretado, São
do bem já constrito. Paulo, Editora Atlas S/A, 2004, pág. 479).
Formado o instrumento nesta instância, o agravado Portanto, preclusa a oportunidade própria e adequada
apresentou contraminuta de fls. 37/40. para requerer a substituição da penhora, o indeferimento
É o relatório. era de rigor.
Inconsistente o reclamo. Ante o exposto, nego provimento ao recurso.
cíficos e divisíveis, pela sua natu- rágrafo único, III, da Constituição de uma intermediação privada, realiza-
reza, não podem ser remunerados 1988. da sempre em nome do próprio Es-
por taxas. Sendo assim, nos siste- – Adilson Abreu Dallari(Direito tado;
ma de direito positivo daquela épo- Tributário Brasileiro. 8ª ed., São Pau- – o Estado Brasileiro não fugiu
ca existiam serviços públicos cuja lo: Saraiva, 2002,p.42-43). Para o à tradição histórica acima, adotando,
contrapartida era a taxa, e serviços autor, a concepção de Greco trata- por opção do legislador constituinte,
públicos remunerados mediante pre- se apenas de uma “antiga polêmica”, o sistema que delega ao particular o
ço. pois, com o art.175 da atual Consti- exercício da fé pública. Na sistemáti-
– Flávio Bauer Novelli (Opus cit. tuição Federal, o pagamento de tari- ca atual, notários e registradores são
p.104), com base em M.S. Giannini, fas como forma de remuneração de profissionais do direito, delegados de
critica a visão de Greco, argumentan- serviços concedidos tem assento uma atividade estatal, que possuem
do que o autor confunde serviço pú- constitucional. Afirma, ainda, ser per- autonomia administrativa e financei-
blico com serviço regido por normas feitamente lícita a fixação de tarifa ra para gerenciar suas serventias,
de direito público, esquecendo-se de como forma de remuneração de ser- inclusive no que diz respeito às des-
que existem serviços públicos pres- viços públicos concedidos, inclusive pesas de custeio, investimento e pes-
tados de acordo com normas de di- aqueles de utilização compulsória, soal;
reito privado. Novelli afirma que, se- como os serviços de saneamento – o serviço notarial e registral
gundo a interpretação de Greco, se- básico e recolhimento domiciliar do é uma das formas de intervenção
riam taxas as contraprestações típi- lixo. do Estado em nossa sociedade, ten-
cas que tanto a doutrina quanto a ju- As críticas ao critério da do por finalidade a prevenção de li-
risprudência reconhecem como au- compulsoriedade, enquanto caracte- tígios;
tênticos preços públicos ou tarifas, rística isolada da relação, já foram
tais como as que são pagas pela uti- – a Constituição de 1988 ressal-
elencadas acima, evidenciando que ta a distinção entre serviços judiciais
lização dos serviços de água e esgo- tal critério não serve para diferenciar
to, de educação e instrução (anuida- em face dos serviços notariais e
taxa de preço público. registrais. Compete privativamente
des ou mensalidades escolares), de
transporte ferroviário, rodoviário e Analisando-se o atual regime ju- aos Tribunais elaborar seus regimen-
aéreo, de manutenção e limpeza de rídico dos serviços notariais e tos internos (CF, art. 96, I, a, b e d; II,
estações aeroportuárias ou rodoviá- registrais e de suas contraprestações, b, c e d). Os serviços notariais e
rias, de armazenagem, de correios e pode-se afirmar que: registrais estão previstos no art.236;
telégrafos, de telefonia, de forneci- – desde a antiguidade e nas – as serventias do foro judicial
mento de energia elétrica e de gás mais diferentes culturas, a socieda- prestam os serviços forenses, que
em domicílio, e, assim, muitas outras de humana sempre teve algum me- são remunerados por custas /
semelhantes. canismo de preservação da memó- emolumentos judiciais, conforme o
– Luciano Amaro também dis- ria de atos e negócios jurídicos, com art. 24, IV e 98 § 2º da CF/88. Os
corda de Greco e aponta um erro de a finalidade de pré-constituição de serviços notariais e registrais são re-
interpretação na teoria deste autor, provas e prevenção de litígios. Foram munerados por outra categoria
uma vez que a Emenda n.18/65 não surgindo, assim, os encarregados de (emolu-mentos notariais), conforme
eliminou a expressão “outras rendas” redigir e registrar documentos escri- explicita o § 2º, do art. 236 da Carta
com o intuito de restringir a remune- tos e se configurando o que hoje se Magna Nacional e a Lei 10169/2000.
ração dos serviços públicos ao insti- entende por atividade notarial; Além disso, as receitas provenientes
tuto da taxa. A previsão de “outras – os serviços notariais e dos serviços notariais e registrais não
rendas” não se encontrava na E.C. registrais existem atualmente em to- fazem parte do Título VI, Capítulo I,
18/65, assim como não consta no dos os Estados, que os organizam de da CF, que trata do Sistema Tributá-
art.145, II , da atual Constituição, por- formas diversas; rio Nacional;
que aquela norma disciplinou somen- – na história das serventias – a competência para legislar
te receitas tributárias. Ressalte-se notariais e registrais, há uma contí- em sede de serviços forenses é a
que a Constituição de 1967, em seu nua e progressiva dinâmica que concorrente do art. 24, IV da CF; en-
art.160, II, mencionava, de modo transcende os limites do território quanto que a referente a emolu-
expresso, “serviços públicos”, em re- pátrio e, ao mesmo tempo em que mentos é a privativa da União, em
lação aos quais previa que a lei de- coloca essa atividade como fenôme- termos de normas gerais (Lei 10169/
veria estabelecer “tarifas”, dispositi- no gerado no âmbito central do pró- 2000), consoante o disposto no art.
vo que corresponde ao art.175, pa- prio Estado, a desloca, todavia, para 236, §2º; da Constituição. No regime
jurídico das contraprestações qualidade de ente soberano de Direi- o caso do serviço notarial. Dessa for-
notariais e registrais não se aplica o to Público. As receitas provenientes ma, não existe imunidade tributária
disposto no art. 24, §3º, da CF, pois da prestação dos serviços notariais recíproca, pois o artigo 150, §3º da
não se trata de competência legisla- e registrais são preços públicos, a sua Constituição Federal estabelece que
tiva concorrente; cobrança se destina integralmente ao a imunidade recíproca não se aplica
– o termo serventia, contido no notário, e o seu regime jurídico é o ao patrimônio, à renda e aos servi-
artigo 16, da Lei 8935/94, identifica da legalidade genérica do Estado de ços relacionados com a exploração
especificamente o serviço e não a Direito, o qual permite sua regula- de atividades, em que haja contra-
função, esta sim relacionada a car- mentação administrativa, dentro dos prestação ou pagamento de preços,
gos, classes e carreiras, ou seja, a parâmetros traçados pelo Legislativo. ou tarifas, pelo usuário. Sendo assim,
atividades específicas dos funcioná- 5. A definição da contraprestação no tocante ao item 21, subitem 21.1,
rios públicos. As serventias notariais notarial e registral como preço a LC 116/03 atuaria no âmbito de sua
e registrais não são cargos públicos, público e o Imposto Sobre competência, delineada pelo art.146
mas órgãos estatais despersonali- Serviços de Qualquer Natureza da Carta Magna, estabelecendo fa-
zados que, por determinação do le- (ISSQN) tos geradores, base de cálculo e con-
gislador constituinte, tiveram suas tribuintes (III, a) e até regulando as
A introdução da Lei complemen- limitações ao poder de tributar (II), ao
administrações transferidas para par- tar nº 116, de 31 de julho de 2003, no
ticulares, conforme, inclusive, o en- firmar que nem todo serviço público
sistema jurídico brasileiro, instituiu é imune, harmonizando-se, assim,
tendimento mais recente do STF (ADI nova disciplina para o ISSQN. A nova
2602). com o §3º do art.150, da CF/88.
Lei adiciona à antiga lista de servi-
Dessa forma, a prestação do ços tributáveis (Dec. Lei 406/68) cen- 5.2. Segunda corrente de inter-
serviço notarial e registral não confi- tenas de novos serviços e, dentre as pretação: O serviço notarial e
gura exercício de soberania do Po- novas atividades tributadas, encon- registral, sendo remunerado por taxa,
der Público, mas um serviço jurídico tra-se o serviço notarial (art.1º, §3º, não permite a incidência do ISSQN.
de utilidade ou relevância pública, que item 21, subitem 21.1), cujas Os tributaristas Roque Antonio
atende não apenas às necessidades contraprestações foram fixadas pelo Carraza, Osires de Azevedo Lopes
individuais do usuário, mas principal- legislador como preço ou tarifa. Filho, Fernando Neto Botelho, Álva-
mente à necessidade social de se- Com relação à constituciona- ro Mello Filho e Betina Treiger
gurança jurídica e, em consequência, lidade da cobrança do ISSQN sobre o Grupenmacher defendem a tese de
de prevenção de litígios. E, para con- serviço notarial, existem duas corren- que os serviços notariais não estão
cluir, se o serviço notarial e registral tes antagônicas que se diferenciam sujeitos à tributação por meio do
fosse típico do Estado, não poderia conforme o entendimento dado à na- ISSQN. O que se alega é, em resu-
haver transferência de seu exercício tureza jurídica do serviço e da sua mo, o seguinte:
a particulares. contraprestação . Este trabalho propõe – as serventias notariais e
O quadro abaixo sintetiza a na- uma terceira linha de interpretação. registrais são serviços públicos esta-
tureza jurídica das contraprestações 5.1. Primeira corrente de inter- duais, submetidas à disciplina de Di-
das serventias notariais e registrais: pretação: A lei complementar nº 116/ reito Público. O ISSQN, como esta-
belecido no art. 156, III da Constitui-
Critérios Contraprestações Notariais
ção, refere-se aos serviços realiza-
1.Princípio da destinação pública do tri- – dos no âmbito do Direito Privado;
buto. – a atividade notarial e registral,
2. Serviço público que o Estado fornece, – ainda que executada no âmbito de
agindo na qualidade de ente soberano de Di- serventias privatizadas constituem,
reito Público. em decorrência de sua própria natu-
reza, uma função revestida de
De tudo que foi exposto, pode- 03, no tocante aos serviços notariais, estatalidade, sujeitando-se, por isso
se concluir que as contraprestações não desrespeita a Constituição Fede- mesmo, a um regime jurídico de Di-
notariais e registrais não obedecem ral. reito Público. A base desse entendi-
ao princípio da destinação pública do Para essa corrente, que defen- mento encontra-se na jurisprudência
tributo, e nem tampouco se configu- de o ponto de vista dos Municípios, estudada nos capítulos anteriores;
ram como contraprestação de servi- existem serviços públicos que não – ao utilizar a mesma base de
ço público exercido pelo Estado, na são remunerados por taxas, como é cálculo e o mesmo fato gerador de
atos notariais e registrais, o zelo para incidindo sobre uma mesma base de ços públicos não serve como funda-
que o serviço seja prestado com ra- cálculo (emolumentos) – art.145, §2º, mento jurídico para os municípios
pidez, qualidade satisfatória, e de CF. cobrarem ISSQN sobre tais ativida-
modo eficiente, podendo propor a ela- O quadro abaixo resume as prin- des, acontecimento que traria prejuí-
boração de planos de adequada e cipais interpretações da Lei 116/03 zos para os usuários, que são os
melhor prestação desse serviço, se- com relação ao serviço notarial: contribuintes de fato desse tributo.
gundo critérios populacionais e sócio-
Pode-se concluir que a classifi- (*) O autor é Doutor em Direito
econômicos. Logo, é o Estado, atra-
cação das contraprestações dos ser- Econômico, Titular do 1º Distribuidor
vés de seu Poder Judiciário, quem
viços notariais e registrais como pre- de Niterói, RJ.
possui a competência constitucional
para instituir taxa, no exercício do Lei 116/03, Art.1º, §3º, item 21, Base jurídica utilizada
poder de polícia sobre as atividades subitem 21.1.
notariais e registrais. A cobrança do
A cobrança do ISSQN não fere a Cons- Arts. 146, II, III, “a” e 150, §3º,
ISSQN pelo Município implica em uma
tituição Federal. CF.
invasão de competência e, conse-
quentemente, em uma bitributação, As contraprestações notariais são ta- Arts. 150, VI, “a” da CF.
por causa da existência dessa taxa xas e, por essa razão, não podem servir Arts. 77 e 79, II do CTN.
estadual. Note-se que essa bitributa- como base de cálculo do ISSQN.
Jurisprudência do STF (Ane-
ção não ocorre devido à natureza ju-
xo I).
rídico-tributária das contrapresta-
ções notariais e registrais que, como As contraprestações notariais são Art. 236, §1º da CF.
já foi visto, são preços públicos, mas preços públicos. O Município não pode Art. 145, §2º, CF.
devido ao fato de que o nosso siste- cobrar ISSQN sobre essas receitas, por-
que a Constituição Federal atribui ao Po- Lei 8935/94, Capítulo VII.
ma tributário nacional não admite a
existência de dois tributos (taxa de der Judiciário dos Estados a competência
fiscalização estadual e ISSQN) para fiscalizar os serviços notariais.
da lusitânia, etc). Nota-se que, ainda 1.2. FATO JURÍDICO – ATO conducentes a estabelecer, alterar ou
hoje, cada parte de uma peça teatral JURÍDICO – NEGÓCIO JURÍDICO extinguir relações jurídicas, a incluí-
é chamada de ato. A palavra antiga Fato é todo evento, aconteci- rem eles, pois, os atos que se reali-
auto (variante de acto) adquiriu a mento. Quando algo acontecido tem zam independentemente de declara-
acepção jurídica de narrativa escrita, repercussão na esfera do Direito, diz- ção de vontade do agente e que, por
circunstanciada e autenticada de se que é um fato jurídico, porquan- isso mesmo, podem, com base no
qualquer atividade ou diligência judi- to todo direito se origina de um fato art. 185 do Código Civil em vigor, ser
ciária (auto de penhora, auto de (ex facto jus oritur). Consoante a de- designados ATOS JURÍDICOS NÃO
arrematação, etc), administrativa finição de CAIO MÁRIO DA SILVA NEGOCIAIS. Exemplos, em matéria
(auto de infração), ou notarial (auto PEREIRA, completando a de de direito privado: o abandono de
de aprovação de testamento cerra- SAVIGNY, “fatos jurídicos são acon- uma coisa por seu proprietário e o
do). O seu plural autos veio a signifi- tecimentos em virtude dos quais co- empossamento de um bem com âni-
car o conjunto ordenado das peças meçam, se modificam ou se extin- mo de se tornar dono. Exemplos no
de um processo. guem as relações jurídicas” (Institui- âmbito instrumental do tabelionato de
Ata, por sua vez, é a mesma ções, vol. I, tópico 78; 1978,1:396- notas: as atas notariais, as autenti-
palavra actu(m), usada no plural neu- 397). cações notariais de documentos avul-
tro (acta) com o sentido etimológico sos, os traslados e as certidões, que
Eles se apresentam sob duas são atos do ofício sem conteúdo
de ações, feitos, coisas feitas, daí modalidades:
passando a significar registros ou negocial.
assentamentos de decisões e depois 1.2.1. FATOS JURÍDICOS NA- b) ATOS JURÍDICOS EM SEN-
relato escrito do que se passou numa TURAIS, que são TIDO ESTRITO, que são os ATOS
reunião, sessão, convenção, assem- – provocados por fenômenos da JURÍDICOS NEGOCIAIS, ou melhor,
bleia, congresso, etc. natureza, quando estes repercutem NEGÓCIOS JURÍDICOS, em seus
Portanto, ato, auto e ata origina- na órbita do Direito; dois polos:
riamente queriam expressar idéias – involuntários, isto é, não de- b.1 – NEGÓCIOS JURÍDICOS
semelhantes ou afins, com a circuns- pendem da vontade humana, ou para UNILATERAIS, resultantes de decla-
tância de que ata trazia uma noção os quais ela concorre sem ser a cau- rações unilaterais de vontade. Exem-
de pluralidade que o tempo afastou e sa determinante. plos: renúncia de usufruto e testa-
deu ensejo à formação do plural atas, Exemplos: chuva, raio, tempes- mento.
de uso bastante comum, como figu- tade e deslocamento de cursos b.2 – NEGÓCIOS JURÍDICOS
ra na expressão livro de atas. Ao ver- d’água por aluvião; nascimento e BILATERAIS, resultantes de declara-
bete ata o dicionário Novo Aurélio morte (o nascimento de uma criança ções de vontade de partes em posi-
século XXI ainda alude com o mes- pressupõe a vontade humana e esta ções distintas, mas em convergência
mo sentido técnico-jurídico de autos pode influir quanto à morte, mas não para o mesmo fim. Exemplos: os con-
na expressão: o relator leu as atas determina o acontecimento). tratos em geral.
do processo.
1.2.2. FATOS JURÍDICOS HU- Na atividade notarial, importa
Do significado primário de indi- MANOS, que são ressaltar, desde já e por questão de
car nominalmente a ação (actio), con- princípio, que tanto os negócios jurí-
tida no verbo agir, a actuação, o exer- – provocados pelo ser humano;
dicos unilaterais como os bilaterais se
cício da actividade, o fazer, a palavra – voluntários. formalizam mediante o mais impor-
acto, em seu itinerário semântico, tante ato do ofício, que é a escritura
Exemplos: atos jurídicos, que
veio a designar o resultado da ação.
produzem efeitos lícitos segundo a pública.
E, assim, no mundo do Direito, cu-
vontade do agente, e atos ilícitos, que À cata de precisão terminológica
nhou-se a expressão ato jurídico para
produzem efeitos nocivos por vício de com referência ao significado de ato
dar a ideia de manifestação de von- vontade do agente, ou seja, implicam
tade destinada a produzir efeitos ju- jurídico, quis definí-lo o art. 81 do Có-
deveres reparatórios e acarretam
rídicos queridos por seu agente ou digo Civil de 1916, ao dispor que é
sanções para ele.
seus agentes. Apresenta-se então todo ato lícito com o fito imediato de
sob dupla face: o ato jurídico no sen- Isolando, no amplo espectro dos “adquirir, resguardar, transferir, mo-
tido substancial, ou seja, a manifes- fatos jurídicos, os provocados pelo dificar ou extinguir direitos”. Des-
tação das relações jurídicas em seu ser humano e, dentre eles, tão so- sa definição prescindiu, todavia, o
conteúdo, para perpetuação e segu- mente os atos jurídicos, portanto líci- Código Civil vigente. Posto que, no
rança das quais se faz mister seja tos, estes também se mostram sob citado artigo 81, se cuidou de dar re-
materializado por meio do ato jurídi- duas facetas: alce ao ato jurídico em sentido estri-
co no sentido formal, que é o conti- a) ATOS JURÍDICOS EM SEN- to, aquela definição legal, em vista
nente, ou seja, o instrumento que dá TIDO AMPLO, que alcançam todas disso, também se aplicava e continua
visibilidade ao conteúdo. as manifestações de vontade aplicando-se ao negócio jurídico. As-
sim, com o acréscimo de uma ex- ferenciação, CAIO MÁRIO (1978,1: negócio jurídico, uma criação dos ju-
pressão, negócio jurídico pode ser 412), ensina que a noção do ato jurí- ristas alemães com grande aceitação
definido como todo ato lícito que con- dico lato sensu abrange as ações pelos italianos, “se originou da obser-
tenha declaração de vontade e tenha humanas, tanto aquelas que são vação de que existem atos jurídicos
por fim imediato adquirir, resguardar, meramente obedientes à ordem que não se externam sob a forma de
transferir, modificar ou extinguir direi- constituída, determinantes de uma declaração de vontade, embora
tos. Porque, na compreensão de res- consequências jurídicas ex lege, in- produzam modificações no mundo
peitáveis civilistas, ato jurídico e ne- dependentemente de serem ou não externo, tais como a ocupação, a tra-
gócio jurídico são nuanças de uma queridas, como aquelas outras decla- dição, a gestão de negócios alheios,
só realidade. rações de vontade, polarizadas no etc, atos lícitos e voluntários, cujos
Mas, considerando a expressão sentido de sua finalidade, hábeis a efeitos decorrem da lei, independen-
negócio jurídico portadora de concei- produzir efeitos jurídicos queridos. te de saber se o indivíduo os previu
to já assente na doutrina e de ser A esta segunda categoria, cons- ou desejou”. E, comparando, distin-
mais técnica do que a expressão ato tituída de uma declaração de vonta- gue: “Já os negócios jurídicos decor-
jurídico, os elaboradores da reforma de dirigida no sentido da obtenção de rem sempre de uma previsão e uma
do Código Civil – chegada a termo um resultado, é que a doutrina tradi- intenção resultantes de uma decla-
mediante a Lei nº 10.406, de 10 de cional denominava ato jurídico (stricto ração de vontade”.
janeiro de 2002, – fizeram duas op- sensu), e a moderna denomina ne- No entanto, com subsídio nas li-
ções: omitir a definição legal e disci- gócio jurídico. ções de ORLANDO GOMES e
plinar a matéria sob a designação de Leciona ainda CAIO MÁRIO VICENTE RÁO, prognosticando em
negócio jurídico (livro III, título I, ca- (1978,1:413) que a expressão ato sentido contrário à orientação que
pítulos I a V, arts. 104 a 184), dedi- jurídico “é um valor semântico veio a ser seguida pelos juristas
cando aos atos jurídicos não abrangente de um conceito jurídi- elaboradores da reforma do Código
negociais apenas o art. 185, para aí co mais amplo, compreensivo de Civil, ressalvou o mesmo LEIB
consignar “Aos atos jurídicos lícitos, qualquer declaração de vontade, SOIBELMAN, no primeiro volume de
que não sejam negócios jurídicos, individual ou coletiva, do particular seu Dicionário (1973,1:68-69) e no
aplicam-se, no que couber, as dispo- ou do Estado, destinada à produ- tópico destinado ao ATO JURÍDICO
sições do Título anterior”, ou seja, as ção de efeitos”. Tomada, porem, a NEGOCIAL, que “a doutrina do ne-
relativas aos negócios jurídicos. expressão ato jurídico em sentido gócio jurídico constitui um labirinto,
Distingue a doutrina, entretanto, estrito, com o significado de decla- um quebra-cabeça criado pelos ale-
e entende que a conceituação de ato ração de vontade apta a produzir mães e no qual os italianos estão se
jurídico tem sentido abrangente das os efeitos jurídicos queridos, tem- envolvendo a fundo. Quando a con-
esferas do direito público e do direito se que, nesta acepção, as noções fusão aumentar os italianos vão aca-
privado, compreendendo atos de con- de ato jurídico e negócio jurídico se bar abandonando o problema com o
teúdo legislativo, administrativo e aproximam. E, então, CAIO MÁRIO velho argumento de que é preciso
jurisdicional, assim como atos sob o considera que “o negócio jurídico voltar à claridade latina, como já
ponto de vista apenas formal, consis- deve ser compreendido como uma aconteceu com tantos problemas da
tentes em atos judiciais, notariais e espécie dentro do gênero ato jurí- ciência do direito”. O prognóstico,
registrários, de um lado; de outro, dico ”. aqui no Brasil, não vingou, pois aí
atos contratuais, de declaração uni- está o Código Civil reformado, que
Reafirma-se que, no negócio ju- pretendeu descartar a expressão ato
lateral de vontade e até mesmo de rídico, o ponto fundamental é a de-
manifestação volitiva não externada jurídico e prestigiar a designação de
claração de vontade apta a produzir negócio jurídico, mas sem alcançar
em declaração expressa. Os atos ju- os efeitos jurídicos queridos. Pois
rídicos, portanto, tomada a expressão prescindir nem de uma nem de ou-
nem sempre ela se faz presente na tra.
em seu significado amplo, contêm caracterização do ato jurídico, haja
sempre manifestações de vontade vista que, em certas circunstâncias, Como quer que seja, indica a
aptas as produzir seus efeitos, mas configuram-se atos jurídicos decor- doutrina contemporânea ser no con-
nem sempre se trata de exteriori- rentes de um comportamento, os trato onde se vê com mais clareza a
zação volitiva tendente a produzir os quais, por causa dessa peculiarida- figura do negócio jurídico. Assim, para
efeitos jurídicos desejados, pois tan- de, prescindem da declaração que se situe o negócio jurídico com
to uma lei como um regulamento ad- volitiva. Explicou isso com clareza relação à amplitude do conceito e to-
ministrativo quanto uma sentença – LEIB SOIBELMAN (1973,2:409-410), mando como exemplo o contrato,
atos de autoridade – trazem no tópico de seu Dicionário onde, ao tem-se que o conceito de fato jurídi-
consequências jurídicas que discorrer sobre a expressão negócio co é mais amplo que o de ato jurídi-
independem de ser queridas ou não jurídico em consonância com a lição co, o qual é mais amplo que o de ne-
por alguém ou por uma coletividade. de DARCY BESSONE DE OLIVEIRA gócio jurídico, o qual é mais amplo
Num esforço de sintetizar a di- ANDRADE, refere que a teoria do que o de contrato.
Visto que os atos jurídicos em jurídico, é chamado tecnicamente de tabelião de notas (ou seja, a vulgari-
acepção estrita consubstanciam ne- instrumento. Nesse sentido, diz o zada autenticação de cópia de docu-
gócios jurídicos , dos quais é art. 653 do Código Civil atual (corres- mento avulso);
indissociável a declaração de vonta- pondente ao art. 1.288 CCiv/1916) f) o instrumento de protesto de
de em busca de um resultado lícito, que a “procuração é o instrumento do título, o seu registro em livro do tabe-
e, ainda mais, que, sob o aspecto sub- mandato”. lião de protesto e a certidão por ele
jetivo, certas atitudes do ser humano À palavra documento, oriunda do expedida;
configuram atos jurídicos em sentido latim documentu(m), cuja raiz está no
amplo, embora não resultem de de- g) os registros públicos a que se
verbo docere (doceo, doces, docui, referem as legislações civil e mercan-
claração volitiva, mas pressuponham doctum), com o significado de ensinar,
manifestação de vontade por outros til;
atribui-se sentido mais amplo que à
meios que não a fala ou o escrito, a palavra instrumento. Esta, por sua vez, h) as certidões expedidas pelas
exemplo da apropriação de um bem proveniente do latim instrumentu(m), serventias registrárias e por outras
de dono desconhecido (postura ativa) cuja raiz é a mesma do verbo repartições de registro público;
e, em certos casos, do silêncio (pos- instruere (instruo, instruis, instruxi, i) as certidões, os certificados e
tura passiva, como pode ocorrer na instructum), com a acepção de ins- os demais documentos expedidos
aceitação de liberalidade), importa res- truir, está tão próxima do sentido da- por repartições públicas.
saltar que, para o Direito Notarial, in- quela (ensinar-instruir) que, na lingua-
teressam, por sua relevância, os atos Revendo, sob a óptica da ordem
gem jurídica corrente, são ambas
jurídicos em estrito sentido, ou seja, de importância, o elenco exemplificativo
usadas em sinonímia.
os atos jurídicos negociais ou preci- das espécies do gênero instrumento
samente negócios jurídicos, mas mes- O instrumento, à feição do do- público, pode-se afirmar com segu-
mo estes quando resultantes de de- cumento, classifica-se em particular rança que a escritura pública é a sua
claração de vontade expressa por e público. Por instrumento particular principal modalidade. Tanto é que a
escrito, nos casos em que devem (por se entende o documento escrito que expressão instrumento público foi e
exigência legal) ou podem (à livre es- é feito e assinado ou somente assi- continua sendo constantemente em-
colha dos interessados) assumir a for- nado por quem esteja na livre dispo- pregada em vez de escritura pública.
ma de atos notariais, mediante escri- sição e administração de seus bens
No rol dos instrumentos públicos,
tura pública da autoria de especializa- (art. 221 CCiv/2002, correspondente
para o interesse desta exposição, so-
do profissional do direito, a saber: o ao art. 135 CCiv/1916), enquanto por
bressaem os instrumentos públicos
notário com as atribuições, no Brasil, instrumento público se deve conce-
notariais, em cuja referência, nas alí-
de tabelião de notas. ber o documento escrito cuja autoria
neas b, c, d, e, não se acha incluída a
é de agente do poder estatal.
1.3. DOCUMENTO – INSTRUMEN- ata notarial, porque a listagem agru-
TO – INSTRUMENTO PÚBLICO – O instrumento público, tomado pou espécies tradicionalmente conhe-
INSTRUMENTOS PÚBLICOS como gênero, se subdivide em ins- cidas no direito brasileiro, o que não é
NOTARIAIS trumento público judicial e instrumen- o caso da ata notarial, modalidade
to público extrajudicial (administrati- nova entre nós que urge difundir e
Documento é palavra que, em- vo, notarial e registrário), compreen- valorizar, pois ela está prevista na Lei
pregada em sentido amplo, significa dendo várias espécies. A título de dos Notários e Registradores (Lei nº
o meio exterior de perpetuar a exis- exemplo, são apontadas as mais tra- 8.935, de 18 de novembro de 1994),
tência de um fato ou de uma coisa. dicionalmente conhecidas a seguir: entre os atos atribuídos aos tabeliães
Nesta acepção, diz-se documento
a) o conjunto dos atos proces- de notas, no art. 7º, III. Antes, porém,
histórico, por exemplo. Mas a pala-
suais e cada um deles considerados era praticada como algo inerente às
vra é comumente empregada em
de per si, especialmente carta de sen- praxes do notariado de tipo latino e, a
sentido jurídico restrito para indicar o
tença, de arrematação ou de adjudi- seu respeito, já havia um precedente
meio exterior de perpetuar a existên-
cação, formal de partilha e certidão implícito de ata notarial no Código de
cia de um fato jurídico, de um ato ju-
rídico, especificamente de um negó- extraída dos autos judiciais ou Processo Civil de 1973, cujo art. 364
cio jurídico, ou, ainda, de coisas que expedida em decorrência deles pelo preceituou: “O documento público faz
sejam ou possam tornar-se objeto de escrivão; prova não só de sua formação, mas
relação jurídica, a saber: mapas, também dos fatos que o escrivão, o
b) a escritura lavrada pelo tabe-
plantas topográficas, projetos tabelião ou o funcionário declarar que
lião de notas em livro próprio;
arquitetônicos, desenhos, croquis, ocorreram em sua presença” (desta-
c) o auto da lavra de tabelião ques em grifo nesta transcrição). Logo,
fotografias, gravações, etc.
para aprovar testamento cerrado e a o que está faltando é conscientizarem-
O documento escrito, quanto à anotação dessa ocorrência em seu se de sua importância os notários, os
sua origem, classifica-se em particu- livro de notas; magistrados, os juristas e os demais
lar e público. O primeiro formalizado
d) o traslado extraído e a certi- operadores do direito.
sem a interferência de agente do po-
der estatal, ao passo que o segundo é dão expedida pelo tabelião de notas; (*) O autor é Tabelião do 6º Ofício
aquele expedido por agente estatal. e) o reconhecimento de firma fei- de Notas de Belo Horizonte, Especia-
O documento escrito, no âmbito to e a pública forma expedida pelo lista em Direito Notarial e Registral.
32 BDI - BOLETIM DO DIREITO IMOBILIÁRIO 1º DECÊNDIO FEVEREIRO/2009 – Nº 4
PERGUNT
PERGUNTAS & RESPOST
GUNTAS AS
RESPOSTAS
TRANSFERÊNCIA AO LOCATÁRIO DA TAXA BANCÁRIA PARA COBRAN-
ÇA DE BOLETO DE ALUGUEL
Pergunta: Nos contratos de locação, é acrescida taxa de cobrança de boleto bancário. Temos sido “metra-
lhados” pelos locatários, se negando ao pagamento. Considerando que as relações locatícias não são discipli-
nadas pelo Código do Consumidor, é ilegal essa cobrança, visto que vem expressamente descrita no contrato
de locação? (F.C. – Paulínea, SP)
Resposta: Será legal a transferência da taxa de cobrança de boleto, desde que prevista em cláusula contratual,
nos termos do art. 22, inciso VIII da Lei 8.245/91, quando diz que o locador é obrigado pagar as taxas, salvo disposição
expressa em contrário no contrato. Inclusive é uma das condições feita ao candidato à locação, se concorda ou não,
para poder ser locatário. O boleto bancário visa agilizar os trabalhos da administradora, beneficiando o locador e,
principalmente o locatário.
Resposta: Trata-se de assunto polêmico e dependerá das Normas de Serviço da Corregedoria Geral da Justiça de
cada Estado, caso não exista dispositivo legal taxativo, bem como de suscitação de dúvidas. Veja as normas de seu
Estado de Federação. Na Revista do Direito Imobiliário do Irib (RDI Edição 62), Ademar Fioraneli diz que “os Emolumentos
pelo registro de formal de partilha é calculado pelo valor total do monte-mor, incluindo a meação do cônjuge supérstite
– 7.º Oficial de Registro de Imóveis de São Paulo. O item 94.3 do Provimento CGJ nº 33/2007 - do Estado de São Paulo,
diz que “ Havendo partilha, prevalecerá como base para o cálculo dos emolumentos, o maior valor dentre aquele
atribuído pelas partes e o venal. Nesse caso, em inventário e partilha, excluir-se-á da base de cálculo o valor da meação
do cônjuge sobrevivente.”
Resposta: Sim, desde que esteja de acordo com os requisitos para tal intento, pois a ação renovatória poderá ser
proposta no prazo decadencial de seis meses a um ano antes de vencer o contrato de cinco anos ou do último contrato
como somatório deste prazo. O locatário somente terá direito à Ação Renovatória se atender os requisitos do art. 51 da
Lei 8.245/91, devendo para tanto ter contrato escrito de cinco anos ou contratos ininterruptos que somados resultem
neste prazo. O entendimento jurisprudencial tem admitido um intervalo de mais ou menos três meses entre um contrato
e outro para a possibilidade de soma dos contratos anteriores, para o direito à ação renovatória. Ademais disto, o art. 51
da lei inquilinária tem outros requisitos a serem atendidos, como a prova de três anos no mesmo ramo de comércio,
dentro dos cinco anos de contrato escrito, estando o mesmo não vencido, a prazo determinado.
Resposta: Haverá um compromisso de compra e venda de fração ideal na qual faz parte integrante as unidades
condominiais a serem construídas. Neste caso poderá ser feita uma transferência de titularidade junto à incorporadora,
ou caso contrário, devido a taxa de transferência ou até mesmo ao aumento das prestações, poderá ser feita uma
cessão deste compromisso de fração ideal ou um contrato de gaveta; ou caso desejarem, aguardar a entrega das
chaves com a outorga da escritura, caso o compromisso de compra e venda esteja quitado.
Resposta: Se já foi outorgada a escritura definitiva, pendente somente a entrega da posse ao comprador, poderá
ser ajuizada uma ação para a entrega da coisa como uma obrigação de fazer, conforme cláusula contratual de entrega
do bem, cumulada com multa cominatória e contratual (Arts. 621 a 628 e 632 a 641 do CPC). No caso não é transferên-
cia de propriedade, já que fora outorgada a escritura - art. 640.
Resposta: Deverá ser proposta Ação de Despejo por Falta de Pagamento contra os familiares, atuais ocupantes,
pois a locação é caracterizada como “intuitu familiae”. Poderá ser proposta a ação contra a concubina e o filho do
locatário (se maior) que permaneceram no imóvel. Poderá ser ajuizada também contra o desertor, inclusive para ampliar
a possibilidade do pagamento dos aluguéis, tendo em vista que o contrato de locação é verbal.
CONSTRUTORA É CONDENADA
POR NÃO ENTREGAR IMÓVEL NA DATA CONTRATADA
Uma construtora que não entregou o imóvel dentro do prazo estipulado em contrato terá que devolver todas as
parcelas pagas pelo comprador com correção monetária e juros moratórios de 0,5% ao mês. Motivo da condenação:
terminado o prazo para a entrega do apartamento, a obra sequer tinha sido iniciada.
A ação de rescisão de contrato de promessa de compra e venda de imóvel por atraso na obra foi movida por Cornélio
Pinheiro de Faria Junior contra a empresa Aguiar Villela Engenharia e Construções Ltda. O Tribunal de Alçada de Minas
Gerais julgou a ação procedente e determinou a restituição integral das quantias pagas pelo comprador devidamente corrigidas.
A construtora recorreu ao Superior Tribunal de Justiça para modificar o acórdão da Justiça mineira, sustentando
que, da mesma forma que o Código de Defesa do Consumidor favorece o comprador impedindo a retenção total das
parcelas pagas em caso de inadimplemento, sua devolução integral também seria inadmissível.
Alegou, ainda, que, como o comprador não havia quitado todas as parcelas devidas, não poderia exigir o cumpri-
mento da obrigação sem antes cumprir sua parte. Segundo os autos, o comprador vinha pagando pontualmente as
prestações contratadas e só interrompeu o pagamento um mês depois do prazo fixado para a entrega da obra.
Por unanimidade, a Quarta Turma do STJ, acompanhando o voto do relator, ministro Aldir Passarinho Junior,
manteve a decisão do tribunal mineiro. Segundo o ministro, a alegação da construtora é despropositada e não tem
qualquer amparo: “na verdade, a recorrente pretende transformar uma regra protetiva do consumidor no contrário, o
que refoge ao comando legal”.
Quanto à alegada inadimplência por parte do comprador, o ministro ressaltou, em seu voto, que o fato de ele ter
interrompido o pagamento das prestações dois dias antes de ajuizar a ação não caracteriza descumprimento do contra-
to. Para o ministro, ficou claro que a inadimplência foi exclusivamente da construtora.
(STJ, Resp 476481)
1º DECÊNDIO FEVEREIRO/2009 – Nº 4 BDI - BOLETIM DO DIREITO IMOBILIÁRIO 35
ÍNDICES DE CORREÇÃO MONETÁRIA
TR POUPANÇA FGV - % IBGE - % FIPE - %
MESES
% % I G P- M IGP/DI I P C -D I IPA-D I INCC-DI INPC IPC - A IPC
Jan./2007 0,2189 0,7200 0,50 0,43 0,69 0,32 0,45 0,49 0,44 0,66
Fev. 0,0721 0,5725 0,27 0,23 0,34 0,19 0,21 0,42 0,44 0,33
Mar. 0,1876 0,6885 0,34 0,22 0,48 0,11 0,27 0,44 0,37 0,11
Abr. 0,1272 0,6278 0,04 0,14 0,31 0,02 0,45 0,26 0,25 0,33
Mai. 0,1689 0,6697 0,04 0,16 0,25 (-) 0,04 1,15 0,26 0,28 0,36
Jun. 0,0954 0,5959 0,26 0,26 0,42 0,09 0,92 0,31 0,28 0,55
Jul. 0,1469 0,6476 0,28 0,37 0,28 0,42 0,31 0,32 0,24 0,27
Ago. 0,1466 0,6473 0,98 1,39 0,42 1,96 0,26 0,59 0,47 0,07
Set. 0,0352 0,5354 1,29 1,17 0,23 1,64 0,51 0,25 0,18 0,24
Out. 0,1142 0,6148 1,05 0,75 0,13 1,02 0,51 0,30 0,30 0,08
Nov. 0,0590 0,5593 0,69 1,05 0,27 1,45 0,36 0,43 0,38 0,47
Dez. 0,0640 0,5643 1,76 1,47 0,70 1,90 0,59 0,97 0,74 0,82
Ano 2007 1,45% 7,70% 7,75% 7,89% 4,60% 9,44% 6,15% 5,16% 4,46% 4,38%
Jan./2008 0,1010 0,6015 1,09 0,99 0,97 1,08 0,38 0,69 0,54 0,52
Fev. 0,0243 0,5244 0,53 0,38 0,004 0,52 0,40 0,48 0,49 0,19
Mar. 0,0409 0,5411 0,74 0,70 0,45 0,80 0,66 0,51 0,48 0,31
Abr. 0,0955 0,5960 0,69 1,12 0,72 1,30 0,87 0,64 0,55 0,54
Mai. 0,0736 0,5740 1,61 1,88 0,87 2,22 2,02 0,96 0,79 1,23
Jun. 0,1146 0,6152 1,98 1,89 0,77 2,29 1,92 0,91 0,74 0,96
Jul. 0,1914 0,6924 1,76 1,12 0,53 1,28 1,46 0,58 0,53 0,45
Ago. 0,1574 0,6582 (-) 0,32 (-) 0,38 0,14 (-) 0,80 1,18 0,21 0,28 0,38
Set. 0,1970 0,6980 0,11 0,36 (-) 0,09 0,44 0,95 0,15 0,26 0,38
Out. 0,2506 0,7519 0,98 1,09 0,47 1,36 0,77 0,50 0,45 0,50
Nov. 0,1618 0,6626 0,38 0,07 0,56 (-) 0,17 0,50 0,38 0,36 0,39
Dez. 0,2149 0,7160 (-) 0,13 (-) 0,44 0,52 (-) 0,88 0,17 0,29 0,28 0,16
Ano 2008 1,6348% 7,9036% 9,8100% 9,1000% 6,0730% 9,8048% 11,8735% 6,4809% 5,9027% 6,1632%
Jan./2009 0,1840 0,6849
OBS .: Para reajuste anual de aluguel: multiplique o valor pelo indexador contratado.
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