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Genética
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ISBN 978-85-68075-72-2
CDD 575.1
Sumário
Neste livro, iremos abordar um dos mais importantes campos das ciências
biológicas, a genética.
Essa área de conhecimento se consolidou com a descoberta de trabalhos
realizados por um monge chamado Gregor Johann Mendel, que nos levou a
entender como as características eram transmitidas, ao longo das gerações,
nos organismos. Outros estudos feitos por vários pesquisadores, dentre eles,
Watson e Crick, revelaram a estrutura da molécula de DNA, impulsionando
ainda mais avanços no conhecimento sobre a genética.
Na Unidade 1, veremos a importância da genética na vida, na sociedade e
para compreensão de alguns conceitos e estudos biológicos, desde os estudos
de Mendel até descobertas atuais, levando-nos a entender que o material ge-
nético (DNA) é o principal responsável por estabelecer os parâmetros da vida.
A herança de características biológicas tem como base os trabalhos de
Mendel. Na Unidade 2, iremos discutir as bases da hereditariedade através
dos experimentos realizados por ele, onde veremos como os genes são
transmitidos ao longo das gerações.
Na Unidade 3, discutiremos sobre a citogenética e a genética do câncer.
Diversos estudos têm revelado que o câncer é uma doença genética. Abor-
daremos a relação entre genes e câncer, considerando como as mutações,
alterações cromossômicas, vírus e os agentes ambientais exercem seus papéis
no desenvolvimento dos cânceres.
Em nossa última unidade, trataremos dos conceitos em biologia mole-
cular, biotecnologia e evolução, discutindo como o DNA se replica, bem
como os detalhes específicos dos processos de transcrição e tradução e as
variações moleculares que podem levar à especiação e à evolução molecular
das espécies.
Unidade 1
Introdução à genética
Graziela dos Santos Barni
Introdução ao estudo
Caro(a) acadêmico(a)! Por meio do estudo desta unidade você irá entender
os aspectos que levaram ao crescimento e futuro da ciência genética, seus
campos de estudo e sua importância na sociedade atual. Também será possível
conhecer as terminologias mais utilizadas em genética e as informações quanto
à natureza do material genético: DNA e RNA, suas diferenças e a importância
desses ácidos nucleicos.
1970-1973 Purificação
1977 Fred Sanger desenvolve a
1966 Descoberta do das enzimas de restrição e
tecnologia de sequenciamento
código genético uso na tecnologia do DNA
do DNA
recombinante
Uma vez que os processos genéticos são fundamentais para a própria vida, a
ciência da genética unifica a biologia e funciona como seu centro. Desse modo,
não é surpreendente que a genética tenha uma longa e rica história. Seu ponto
de partida foi o jardim de um mosteiro da Europa Central da década de 1860,
onde Gregor Mendel, um monge agostiniano, realizou uma série de experimen-
tos com ervilhas durante uma década. O trabalho de Mendel mostrou que as
características dos seres vivos são transmitidas dos genitores para as proles de
maneira previsível. Este monge concluiu que as características das ervilheiras, tais
como altura da planta e cor da flor, são controladas por unidades descontínuas de
Introdução à genética 5
nos cromossomos, os quais são fielmente transmitidos por meio dos gametas,
mantendo a continuidade genética de geração a geração (KLUG et al., 2010).
Os geneticistas encontraram muitos exemplos diferentes de características
hereditárias, entre 1910 e em torno de 1940, possibilitando-lhes testar essa
teoria repetidamente. Às vezes, os padrões de herança diferiam dos exemplos
simples descritos por Mendel, mas a teoria cromossômica da herança podia
ser aplicada. E continua a explicar como as características são transmitidas de
geração a geração em uma variedade de organismos, inclusive os humanos
(KLUG et al., 2010).
Desde os experimentos de Mendel, vários pesquisadores e outras pesquisas
surgiram para tentar entender e aprofundar os segredos do DNA. Quatorze anos
depois de o genoma humano ter sido mapeado, a genética continua a ser a área
que desperta mais interesse na investigação científica, embora a tradução das
recentes descobertas em tratamentos médicos tenha sido lenta. Um estudo da
Sciencewatch, da Thomson Reuters, verificou que 7 dos 13 principais investiga-
dores de 2010 trabalham nesta área, sendo que Eric Lander, do Broad Institute
of Harvard e do Massachusetts Institute of Technology (MIT), foi considerado o
investigador mais popular do mundo. O trabalho deste biólogo engloba o ma-
peamento genético de doenças como o câncer de pulmão (GENÉTICA..., 2011).
Na última década, tanto o meio acadêmico-científico quanto os meios de
comunicação passaram a divulgar os grandes avanços da ciência no campo
da genética. Normalmente, quando se fala no assunto, as pessoas rapidamente
associam a genética com o DNA e os testes de paternidade. Não é uma asso-
ciação incorreta, mas genética não se limita a isto.
Genética é a ciência que estuda os genes. A partir de suas descobertas,
desenvolveram-se a biotecnologia, a engenharia genética, a clonagem, os pro-
dutos transgênicos, o uso terapêutico das células-tronco etc. São assuntos
muito comentados atualmente e, com frequência, eles se tornam manchetes
do noticiário. Mas o que isso tem a ver com o nosso cotidiano?
Bem, em primeiro lugar, isso está relacionado diretamente com a nossa exis-
tência, pois a genética é a base do ser humano. Ela é responsável pelas nossas
variabilidades e diferenças, bem como pelas nossas semelhanças. Todos nós
apresentamos 46 cromossomos e cerca de 30.000 genes: portanto, numerica-
mente, somos todos iguais. Porém, a combinação desses genes e as permutações
ocorridas no processo de divisão celular (a meiose, especificamente) garantem
nossas diferenças (BRAUN, 2005).
Introdução à genética 7
Atividades de aprendizagem
1. Atualmente, é possível retirar células de um feto em desenvolvimento
no útero da mãe e determinar seu cariótipo. Que informações impor-
tantes a análise desse cariótipo pode fornecer?
2. Os cromossomos humanos podem ser estudados em células do
sangue. Essa análise pode ser feita tanto em linfócitos quanto em
hemácias? Justifique sua resposta.
10 GENÉTICA
2.1.3 Mutabilidade
Os membros individuais de uma espécie não são idênticos; mesmo assim,
a prole tende a se assemelhar com os genitores. As diferenças na cor da pele
e forma do cabelo que diferenciam típicos africanos subsaarianos dos típicos
europeus do Norte são herdadas por seus filhos, não importando em que con-
tinente eles nasceram. Contudo, os europeus do Norte são descendentes de
grupos que saíram da África há dezenas de milhares de anos e, na época dessa
migração, assemelhavam-se a seus ancestrais africanos. Nos anos intercalares,
as mudanças nas informações sobre a cor da pele e forma dos cabelos ocorre-
ram e se espalharam pela prole tanto dos emigrantes quanto dos parentes que
ficaram em seus lares. As estruturas portadoras das informações, então, têm
de ser capazes de sofrer mudanças, chamadas mutações. Todas as espécies
que existem surgiram da evolução de espécies ancestrais que se diferenciaram
delas em uma variedade de características. Camundongos e humanos têm um
ancestral em comum. Assim, em alguma época do passado, devem ter surgido
mutações que alteraram algumas das informações passadas entre os pais e a
prole, e essas mudanças devem ter sido herdadas. Tais mutações podem re-
sultar em alterações relativamente pequenas em alguma propriedade de um
organismo, tal como cor da pele, ou em grandes alterações na forma, tais como
as que diferenciam os humanos dos camundongos. O acúmulo de um grande
número de mutações pode até mesmo resultar na formação de estruturas to-
talmente novas, tais com os membros dos vertebrados.
2.1.4 Tradução
Não é suficiente que exista um mecanismo apenas para transferir informa-
ções sobre um organismo de uma geração para outra por meio do zigoto. Um
mapa deve conter a informação necessária para especificar um automóvel,
por exemplo; mas, sem a maquinaria da fábrica, funcionários e energia, não
12 GENÉTICA
Figura 1.3 Ampliações sucessivas levam o material genético de um organismo a um foco mais nítido
Cada cromossomo
O DNA é uma
Organismo Cada núcleo é uma longa
Um par dupla hélice.
(humano) celular molécula de DNA,
O corpo específico de
contém um e os genes são
humano é feito cromossomos.
complemento regiões funcionais
de trilhões de desse DNA.
idêntico de
células.
cromossomos
em duas cópias.
Cada cópia é
um genoma.
Atividades de aprendizagem
1. Cite algumas técnicas genéticas utilizadas nos dias atuais.
2. O que são aberrações cromossômicas?
Introdução à genética 17
Nucleotídeos livres
3.1.3 Mutabilidade
No curso da replicação, uma base incorreta pode ser colocada ou bases
podem ser perdidas ou duplicadas. Caso ocorra tal evento, a nova cópia de
DNA e todas as cópias decorrentes dessa cópia serão diferentes da molécula
ancestral. Terá ocorrido uma mutação herdável.
3.2.1 Transcrição
A primeira etapa em transformar a informação no DNA em uma sequência
de aminoácidos é a transcrição da sequência de nucleotídeos no DNA em
uma molécula correlata, o RNA mensageiro (mRNA), que também tem um
arcabouço de nucleotídeos como estrutura. O RNA mensageiro é composto
da molécula de ácido ribonucleico (RNA), que é uma sequência de nucleotí-
deos similar ao DNA exceto por conter ribose em vez de desoxirribose em seu
arcabouço e ter o nucleotídeo uracil (U) em lugar de timina. Na transcrição,
a dupla-hélice de DNA é separada em dois filamentos únicos, e um desses
filamentos serve de molde para a construção de uma sequência de RNA uni-
filamentar. O processo de transcrição, que ocorre no núcleo, é muito similar
ao processo de replicação do DNA, porque o filamento de DNA serve como
molde para fazer um filamento de mRNA. O mRNA, cópia da molécula original
de DNA, é chamado de transcrito. O RNA que é produzido diretamente da
transcrição do DNA pode, então, ser alterado para produzir um mRNA final
(RNA mensageiro). Essa alteração consiste em remover trechos do transcrito
original que não codificam aminoácidos (GRIFFITHS et al., 2008).
O RNA final transcrito é uma espécie de “cópia funcional” do DNA. A pro-
dução desses transcritos serve a três funções importantes na célula. Primeiro,
aumenta o número de cópias de informação genética disponível para a célula a
qualquer tempo. Embora a célula contenha apenas uma cópia de cada uma das
moléculas de DNA que é herdada de cada um de seus genitores, a transcrição
Introdução à genética 21
3.2.2 Tradução
A produção de uma cadeia de aminoácidos com base em uma sequência
de nucleotídeos ocorre no processo de tradução. Como uma sequência feita
apenas de quatro tipos diferentes de nucleotídeos pode gerar uma sequência
de aminoácidos composta de 20 tipos diferentes de aminoácidos? A solução
é que a sequência de nucleotídeos no mRNA é “lida” em grupos sucessivos
de três nucleotídeos ao longo da cadeia de mRNA. Cada grupo de três é um
códon (GRIFFITHS et al., 2008).
AUU CCG UAC GUA AAU UUG
Códon Códon Códon Códon Códon Códon
Como existem, então, 4 × 4 × 4 = 64 trincas códon e apenas 20 aminoáci-
dos, mais de um códon pode corresponder a cada aminoácido. Por exemplo,
AUC, AUU e AUA, codificam o aminoácido leucina. Existem também códons
de fim, tais como o UAG, que indicam o final da sequência traduzida. Esse
processo de transcrição, tradução e regulação dos genes será melhor abordado
na Unidade 4 deste livro.
O modelo da dupla-hélice proposto por Watson e Crick foi feito com base
nos resultados de cientistas anteriores a eles. Eles se basearam em descobertas
anteriores da composição química do DNA e proporções de suas bases. Além
disso, imagens de difração de raios X revelaram ao olho treinado que o DNA
é uma hélice de dimensões precisas. Watson e Crick concluíram que o DNA é
uma dupla-hélice composta de duas cromátides de nucleotídeos ligados que
se enrolam uma na outra (GRIFFITHS et al., 2008).
A estrutura proposta do material hereditário imediatamente sugeriu como
ele poderia servir como um mapa, e como esse mapa poderia ser transmitido
ao longo das gerações. Primeiro, a informação para fazer um organismo está
codificada na sequência de bases dos nucleotídeos que compõem os dois fila-
mentos de DNA da hélice. Segundo, devido às regras de complementaridade
de bases descobertas por Watson e Crick, a sequência de um filamento deter-
mina a sequência de outro filamento. Desse modo, a informação genética na
sequência de DNA pode ser transmitida de uma geração para a seguinte, e cada
um dos filamentos separados de DNA, servindo como um molde para produzir
novas cópias da molécula. Nesta seção, enfocaremos o DNA, sua estrutura e
a produção de cópias do DNA em um processo chamado de replicação. Exa-
tamente como o DNA é replicado ainda é uma área ativa de pesquisa 50 anos
após a descoberta da dupla-hélice. Nossa compreensão atual do mecanismo de
replicação dá um papel central a uma máquina proteica, chamada replissomos.
Esse complexo de proteínas coordena as numerosas reações que são necessárias
para a rápida e precisa replicação do DNA (GRIFFITHS et al., 2008).
Camundongo morre
Camundongo vive
Células vivas
da linhagem S
(c) (d)
Linhagem R
Camundongo morre
Camundongo vive
Linhagem S
Linhagem S morta pelo calor Células vivas
morta pelo calor da linhagem S
Extrato de linhagem S
Linhagem S viva
recuperada Nenhuma linhagem S viva recuperada
Timina
Adenina
Guanina
Citosina
D = Desoxirribose
(açúcar)
P = Fosfato
Ligação de
Hidrogênio
Os dois
filamentos da
dupla hélice
parental
desenrolam-
se, e cada um
especifica um
novo filamento-
filho pelas regras
de pareamento de
bases
Antigo
Novo
Replicação
semiconservativa
Replicação conservativa
Replicação dispersiva
Atividades de aprendizagem
1. O processo de transcrição e tradução é muito importante para a sín-
tese de proteínas. Descreva o que significa cada um desses processos
e em qual região celular eles ocorrem.
2. Uma anomalia genética autossômica recessiva é condicionada por
uma alteração da sequência de DNA. Um homem portador dessa
anomalia apresenta a sequência timina-citosina-timina, enquanto sua
mulher que é normal apresenta a sequência timina-adenina-timina.
A análise do DNA de um filho do casal mostrou que ele é portador
tanto da sequência de bases do pai quanto da mãe. O filho terá a
doença? Por quê?
Introdução à genética 37
Fique ligado!
Nesta unidade você aprendeu que:
A genética é uma área utilizada nas mais variadas atividades, princi-
palmente aquelas relacionadas a novas pesquisas médicas, biomédicas
e ambientais.
Percebemos que a genética é a ciência que estuda os genes e os meca-
nismos envolvidos na sua hereditariedade e que o homem utiliza essa
ciência desde os tempos mais remotos, mesmo que de forma empírica.
Como uma disciplina moderna, ela começou nos anos de 1860, com o
trabalho de Gregor Mendel, que primeiro formulou a ideia da existência
de genes.
Hoje sabemos que um gene é uma região funcional da longa molécula
de DNA que constitui a estrutura fundamental de um cromossomo.
O DNA é composto de quatro nucleotídeos, cada um contendo um
açúcar desoxirribose, fosfato e uma de quatro bases: adenina (A), timina
(T), guanina (G) e citosina (C).
Vimos que a informação não é transferida diretamente do DNA para
a proteína, pois, em uma célula eucariótica, o DNA está no núcleo,
enquanto a proteína é sintetizada no citoplasma.
A transferência da informação do DNA para uma proteína requer um
intermediário. Esse intermediário é o RNA.
O RNA é uma fita simples, seu açúcar é a ribose e, ao invés de timina,
ele possui uracil (ou uracila) em seus nucleotídeos.
Referências
BRAUN, C. F. S. Genética: como as pesquisas genéticas estão presentes no cotidiano.
2005. Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/disciplinas/biologia/genetica-como-as-
pesquisas-geneticas-estao-presentes-no-cotidiano.htm>. Acesso em: 30 mar. 2014.
GENÉTICA é o campo de estudo mais popular. Pfarma, 15 mar. 2011. Disponível em: <http://
pfarma.com.br/noticia-setor-farmaceutico/carreira-farmaceutica/519-genetica-e-o-campo-de-
estudo-mais-popular.html#ixzz2xVL6gyRR>. Acesso em: 21 jul. 2014.
GRIFFITHS, A. J. F. et al. Introdução à genética. 9. ed. Rio de Janeiro: guanabara Koogan, 2008.
KLUG, W. S. et al. Conceitos de genética. 9ed. Porto Alegre: Artmed, 2010.
MELLO, J. L. J. Genética. Associação Educacional Leonardo da Vinci (ASSELVI). Indaial:
Asselvi: 2008.
NUSSBAUM, Robert L. et al. Thompson & Thompson genetica médica. 7. ed. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2008.
OTTO, P. A.; NETTO, R. C. M.; OTTO, P. G. Genética médica. São Paulo: Roca, 2013.
Unidade 2
Bases da
hereditariedade
Gabriel Marcos Domingues de Souza
Introdução ao estudo
Um dos grandes colaboradores para os conhecimentos de genética, que
hoje são base para novas tecnologias, foi o monge Gregor Mendel (1822-1884).
Mendel vivia em um mosteiro na Áustria, e suas pesquisas como botânico fo-
ram concentradas na espécie Pisum sativum, ou ervilha-de-cheiro. Além disso,
tinha no monastério, à disposição de sua pesquisa, um jardim e uma estufa.
A ervilha oferecia muitas vantagens para a investigação genética: era fácil de
cultivar, crescia rapidamente e produzia muitas sementes. Porém, o seu grande
sucesso, além de ter escolhido a planta “certa”, foi usar o seu conhecimento
em matemática para relacionar os resultados com a interpretação matemática
e formulação de hipóteses. Por dez anos ele acompanhou, observou, anotou
e, enfim, interpretou seus resultados com algumas conclusões importantes
que inferiram princípios básicos de herança, porém, somente após a morte de
Mendel é que seu trabalho foi redescoberto, entendido (por volta do início do
século XX) e recebido seu devido valor. É por suas experiências que ele recebe
o título de “Pai da Genética”.
Gregor Mendel cultivou 29 mil pés das ervilhas para pesquisar como suas
características eram passadas de geração em geração. Na verdade, seu real
objetivo era o de criar vegetais híbridos e safras mais resistentes, já que a maio-
ria dos biólogos da época afirmava que as características dos genitores eram
transmitidas ao se combinarem nos descendentes, que seriam um meio-termo
dos pais. De fato, com os conhecimentos que você obterá ao longo dessa
nossa unidade, você poderá inferir que, desse modo, a diluição de todas as
características hereditárias acabaria por acontecer. Por que depois de algumas
gerações, além de indagações básicas, como por exemplo, se essa combinação
de características dos pais realmente acontecesse. Por que alguns filhos são mais
altos ou mais baixos que seus genitores e não apresentam uma estatura média?
O meticuloso trabalho de Mendel nos leva a concluir que existiam unidades
(os genes) que sempre atuavam em pares, um de cada genitor. Após um tempo,
percebeu-se que tais genes poderiam atuar de forma dominante ou recessiva,
o que explicava como uma característica se ausentava por várias gerações até
reaparecer, esse e outros pontos surgirão ao longo de nossa unidade e você
poderá encontrar respostas e dicas no texto de seu livro.
46 GENÉTICA
Hoje, sabemos que estes fatores são os chamados genes. Os genes apre-
sentam versões diferentes, chamadas de alelos. Os alelos de determinado gene
estão situados na mesma posição, chamada lócus, em cromossomos homólo-
gos. Um organismo que possui dois alelos diferentes para determinado lócus
é chamado de heterozigoto, e aquele que possui dois alelos iguais para um
lócus é chamado de homozigoto. Cada indivíduo possui um conjunto de genes
chamado de genótipo e um conjunto de características morfológicas determi-
nadas pelos genes e influenciadas pelo ambiente, conhecido como fenótipo.
As características observadas por Mendel eram todas fenotípicas, mas a partir
delas ele pôde inferir o que estava acontecendo com seu genótipo.
48 GENÉTICA
Atividades de aprendizagem
Defina alelo dominante e alelo recessivo.
Atividades de aprendizagem
Que tipos de gametas os indivíduos AA, Aa e aa podem produzir?
Seguindo isso, na F1 espera-se que todos os indivíduos sejam Aa, o que foi
observado por Mendel. Estes descendentes produzem gametas A (50%) e ga-
metas a (50%), lembrando que os alelos se separam na formação dos gametas.
A probabilidade de um gameta feminino A encontrar um gameta masculino A
é dada pela multiplicação das probabilidades de cada gameta:
P(A e A) = P(A) × P(A) = 1/2 × 1/2 = 1/4
No caso de heterozigotos, há duas opções: o gameta feminino A pode se
encontrar com o gameta masculino a, ou o gameta feminino a pode encontrar-
-se com o gameta masculino A, formando, nos dois casos, um heterozigoto.
Neste caso, o cálculo isolado de cada uma das possibilidades e a soma são
necessários: é a regra da ocorrência de dois eventos independentes e diferentes
onde a ordem não é importante:
P(A e a) = 1/2 × 1/2 = 1/4
P(a e A) = 1/2 × 1/2 = 1/4
P(Aa) = P(A e a) + P(a e A) = 1/4 + 1/4 = 2/4 = 1/2
Em F2, Mendel esperava as proporções genotípicas: 1/4 AA: 2/4 Aa: 1/4 aa ou,
1:2:1. Já para as proporções fenotípicas é usada a regra dos eventos mutuamente
exclusivos, ou seja, a probabilidade de ocorrerem sementes amarelas é deter-
minada pela soma das probabilidades de ocorrer o genótipo AA ou o Aa:
P(amarela) = P(AA) + P(Aa) = 1/4 + 2/4 = 3/4
Já a probabilidade de ocorrerem sementes verdes em F2 é dada pela proba-
bilidade do genótipo aa, sendo assim, 1/4. Portanto, as proporções fenotípicas
esperadas em F2 por Mendel eram 3/4 amarelas: 1/4 verdes, ou 3:1. Em ambas
as proporções, genotípicas e fenotípicas, Mendel conseguiu constatar que
ocorriam em todas as características que ele estudou.
Atividades de aprendizagem
Observando o heredograma apresentado anteriormente, qual tipo de ca-
racterística está representada pelos indivíduos escuros?
54 GENÉTICA
Atividades de aprendizagem
Qual a diferença básica entre a primeira e a Segunda Lei de Mendel?
Atividades de aprendizagem
Existe algum perigo de se fazer uma transfusão de sangue de uma pessoa
tipo B para uma pessoa tipo A? E de uma pessoa tipo B para outra do tipo
AB? Explique.
Em primeiro lugar, se a mãe é A, ela pode ser homozigota (IA IA) ou hetero-
zigota (IA i); o sangue tipo B de seu filho pode ter sido produzido pelo genótipo
IB IB ou pelo genótipo IBi. A criança não pode herdar o alelo IB de sua mãe que
é tipo A; isto sugere que a mãe deve ter passado para seu filho o seu alelo i, sendo
então, a mãe, heterozigota. Agora, o suposto pai, sendo do tipo O e, portanto, com
o genótipo ii, não pode, neste caso ser o pai desta criança, pois não tem como
passar o alelo IB que ela apresenta.
Bases da hereditariedade 59
Outro tipo de antígeno encontrado no sangue humano faz parte do sistema MN.
O gene LM produz o antígeno M e o gene LN produz o antígeno N. Com isso, há
três genótipos e fenótipos diferentes, em uma relação de codominância: LM LM
(tipo M); LN LN (tipo N) e LM LN (tipo MN). Como no sistema Rh, não há espon-
taneamente anticorpos para estes antígenos, a não ser que haja um estímulo,
em uma transfusão, por exemplo.
Gametas parentais
Gametas AB à 20 + 160 = 180
Gametas ab à 20 + 160 = 180
Veja que, para ambos, os gametas possuem 20 originados das células que
sofrem permuta e 160 das células que não sofrem permuta.
66 GENÉTICA
Atividades de aprendizagem
Quando ocorre permutação, por que a frequência de gametas recombi-
nantes é a metade da frequência de permuta?
2 19
A C B
4.2 Sistema XY
A maioria dos vertebrados, muitos invertebrados e plantas com flores, nos
quais os sexos são separados, a determinação do sexo é feita pelo sistema XY,
em que as fêmeas apresentam dois cromossomos sexuais idênticos (XX), e
os machos, um cromossomo idêntico ao da fêmea e outro diferente (XY). Em
mamíferos, o cromossomo Y tem um gene responsável pelo desenvolvimento
dos testículos, determinando o sexo masculino do indivíduo.
Didaticamente, podemos representar os cromossomos de um organismo
da seguinte forma: os machos por 2AXY e as fêmeas por 2AXX, em que A
representa o conjunto haploide de autossomos. Lembrando que nas células
diploides há dois cromossomos autossômicos de cada tipo, por exemplo, na
espécie humana, temos 44 cromossomos autossômicos e 2 sexuais, feminino:
46, XX; masculino: 46, XY.
Na formação dos gametas, no macho, metade desses gametas terão o cro-
mossomo X e outra metade o cromossomo Y. Nas fêmeas, todos os gametas terão
o cromossomo X. No sistema XY, as fêmeas são homogaméticas, pois produzem
70 GENÉTICA
Atividades de aprendizagem
Qual o sexo do indivíduo com síndrome de Klinefelter e qual o seu cariótipo?
E com relação à síndrome de Turner?
Atividades de aprendizagem
O que é a compensação de dose?
Gametas XH Y
H H H H
X X X X Y
h H h
X X X XhY
Genótipo Fenótipo
Homem: calvo
C1C1
Mulher: calva
Homem: calvo
C1C2
Mulher: não calva
Homem: não calvo
C2C2
Mulher: não calva
Fonte: Lopes e Rosso (2005).
4.6 Sistema X0
No sistema X0 os machos são 2AX0 e as fêmeas são 2AXX. Sendo assim os
machos são os heterogaméticos, produzem dois tipos de gametas, quanto aos
cromossomos sexuais: um com o cromossomo X; o outro não tem cromossomo
sexual. As fêmeas são homogaméticas, pois todos os seus gametas possuem
um cromossomo X.
Esse sistema é visto em alguns insetos. Observe, no quadro a seguir, o cru-
zamento entre (fêmea) 2AXX 3 2AX0 (macho):
Gametas AX A0
2AXX 2AX0
Genótipos na F1 AX
Fêmea Macho
76 GENÉTICA
4.7 Sistema ZW
Nesse sistema, as fêmeas apresentam dois cromossomos sexuais diferentes,
sendo o sexo heterogamético, enquanto os machos apresentam dois cromos-
somos sexuais iguais, sendo o homogamético. Os cromossomos sexuais são
denominados Z e W, lembrando que a utilização dessas letras é uma convenção
a fim de diferenciar esse sistema do sistema XY. Esse tipo de sistema ocorre em
aves, borboletas, mariposas e alguns peixes.
Observe a formação dos gametas e dos genótipos após fecundação, por
meio do cruzamento entre (fêmea) 2AZW x 2AZZ (macho):
Gametas AZ
2AZZ
AZ
Macho
2AZW
AW Genótipos na F1
Fêmea
4.8 Sistema Z0
A fêmea é Z0, heterogamética e o macho é ZZ, homogamético, o que ocorre
em algumas espécies de mariposas. Observe o quadro abaixo com a formação
dos gametas e dos possíveis genótipos em F1:
Gametas AZ
2AZZ
AZ
Macho
2AZ0
A0 Genótipos na F1
Fêmea
Fique ligado!
Vamos relembrar quais os principais tópicos abordados nesta unidade:
Primeira e segunda lei de Mendel.
Interação gênica.
Genes ligados, permutação e segregação independente.
Cromossomos sexuais e herança ligada ao sexo.
Bases da hereditariedade 77
( ) José — B/MN
( ) Henrique — AB/M
4. Explique a diferença entre interação gênica e pleiotropia.
João tem hemofilia clássica, que é uma doença recessiva ligada
ao X. Poderia João ter herdado o gene da doença das seguintes
pessoas? Justifique.
( ) A mãe de sua mãe.
( ) O pai de sua mãe.
( ) A mãe de seu pai.
( ) O pai de seu pai.
Bases da hereditariedade 79
Referências
ALBERTS, B. Biologia molecular da célula. Porto Alegre: Artmed, 2010.
HIB, J.; DE ROBERTIS, E. M. Biologia celular e molecular. 16. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2014.
JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Biologia celular e molecular. 9. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2012.
LINHARES, S.; GEWANDSZNAJDER, F. Biologia: volume único — livro do professor. São
Paulo: Ática, 2005.
LOPES, S.; ROSSO, S. Biologia. São Paulo: Saraiva, 200. 480 p.
PIERCE, B. A. Genética: um enfoque conceitual. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.
SNUSTAD, D. P. Fundamentos da genética. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013.
WEESLER, S. R. et. al. Introdução à genética. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013.
Unidade 3
Citogenética e genética
do câncer
Graziela dos Santos Barni
Introdução ao estudo
Caro(a) acadêmico(a)! Por meio do estudo desta unidade, você irá aprimo-
rar seus conhecimentos sobre genética. Estudaremos, os princípios básicos da
citogenética e as principais causas de mutações gênicas causadoras dos mais
diversos problemas, dentre eles, o câncer.
No final de cada seção, você encontrará atividades de aprendizagem que
o(a) ajudarão a fixar os conceitos.
Vamos iniciar?
1.1 As células
Com exceção das células que desenvolvem os gametas (germinativas), todas
as células do corpo são chamadas de células somáticas. O genoma contido no
núcleo das células somáticas humanas consiste em 46 cromossomos, arranjados
em 23 pares (Figura 3.1). Desses 23 pares, 22 são semelhantes em homens e
mulheres e são denominados autossomos, numerados do maior para o menor.
O par restante compreende os cromossomos sexuais: dois cromossomos X
nas mulheres, e um cromossomo X e outro Y nos homens. Cada cromossomos
carrega genes que são arranjados linearmente no DNA. Os membros de um par
de cromossomos (cromossomos homólogos) carregam informações genéticas
equivalentes, isto é, elas possuem os mesmos genes na mesma sequência. Em
qualquer lócus específico, entretanto, elas podem ter formas idênticas ou leve-
mente diferentes do mesmo gene, chamados de alelos. Um membro de cada
par de cromossomos é herdado do pai, e o outro, da mãe. Normalmente, os
membros de um par de cromossomos são microscopicamente indistinguíveis uns
dos outros. Nas mulheres, os cromossomos sexuais, os dois cromossomos X, são
igualmente indistinguíveis. Nos homens, os cromossomos sexuais são diferentes.
Um deles é um cromossomo X, idêntico ao X das mulheres, herdado por um
84 GENÉTICA
As histonas são
proteínas nas quais o
DNA está enrolado
Célula
Núcleo
O núcleo O DNA é composto de bases nitrogenadas
das células que são as letras do código genético
humanas
Os cromossomos
contém 46
são formados por
cromossomos
fibras de Adenina
cromatina
Timina
Guanina
Citosina
constituídas de um conjunto
de histonas e DNA
Proporção de um
cromossomo em
intérfase
Octâmero
de histona
~140 dp
de DNA
são, então, fixados, estendidos em lâminas e corados por uma das diversas
técnicas, dependendo do procedimento diagnóstico particular que esteja sendo
realizado. Eles estão, então, prontos para análise.
Cada vez mais, a análise de rotina do cariótipo em nível citogenético está
sendo complementada pelo que pode ser denominado cariotipagem molecular,
a aplicação de técnicas genômicas para avaliar a integridade e a dosagem da
totalidade do cariótipo genômico. A determinação de quais abordagens são mais
adequadas para diagnósticos particulares ou propósitos de pesquisa constitui
uma área em rápida evolução, à medida que a resolução, a sensibilidade e a
facilidade da análise genômica aumentam.
1.3.4 Neoplasia
Praticamente todos os cânceres estão associados a uma ou mais anomalias
cromossômicas. A avaliação dos cromossomos e do genoma na amostra teci-
dual adequada (o próprio tumor, ou a medula óssea na hipótese de neoplasias
hematológicas malignas) pode fornecer um diagnostico útil ou informações
prognósticas.
Human female
G-bands
1 2 3 4 5
6 7 8 9 10 11 12
13 14 15 16 17 18
19 20 21 22 X Y
a adjetivação letal foi usada de início para descrever apenas aquelas mutações
que originavam eliminação pré-natal do concepto. Uma mutação que resulta em
esterilidade é, geneticamente, tão letal quanto aquela que causa a eliminação
do embrião ou feto sob a forma de abortamento, ou a morte de indivíduos em
fase pré-reprodutiva, de modo que essa segunda categoria também é incluída
no conceito de mutação letal. É importante salientar, ainda, as diferenças entre
mutações letais de acordo com a sua natureza. Mutações dominantes letais
são aquelas que, em heterozigose (ou excepcionalmente em homozigose),
determinam a inviabilidade, a morte em pré-reprodutiva ou a esterilidade de
seus portadores. As letais recessivas são as que, em homozigose, tem o mesmo
efeito. As recessivas ligadas ao X, que impedem a reprodução de hemizigotos.
As dominantes ligadas ao X, que, em hemizigose ou em heterozigose, exercem
esse efeito drástico (OTTO; NETTO; OTTO, 2013).
A recombinação genética pode rearranjar a variabilidade presente nos or-
ganismos, embaralhando diferentes tipos de mutações em novas combinações.
A seleção natural simplesmente tratará de preservar as combinações mais bem
adaptadas às condições ambientais existentes ou eliminar os genótipos ou
combinações de genótipos que resultem em indivíduos afetados, com proba-
bilidade baixa de se reproduzir.
As mutações ocorridas ao acaso, por erros acidentais no mecanismo de
perpetuação das células, são ditas espontâneas. Na realidade, muitas decorrem
de fenômenos físico-químicos naturais conhecidos, como isomeria dinâmica
por tautomeria das bases nitrogenadas do DNA (OTTO; NETTO; OTTO, 2013).
Já as mutações decorrentes de algum agente indutor extrínseco, químicos
ou físicos, são chamadas de induzidas. Parte dessas mutações, no entanto,
surge por causa da radiação naturalmente presente na natureza. Apesar de uma
certa ambiguidade, vamos falar um pouco desses dois termos que adjetivam
mutações (OTTO; NETTO; OTTO, 2013).
Em todos os organismos estudados, verificou-se que cada gene tem uma taxa
de mutação característica, isto é, a cada n cópias, uma conterá um erro, ao acaso.
A maioria dos genes humanos apresenta uma mutação em 100.000 a uma mutação
em 1.000.000 de gametas por geração. A taxa de mutação é, por natureza, uma
entidade heterogênea, pois pode tanto se referir a uma alteração em um único có-
don de DNA como um conjunto de centenas ou milhares de alterações diferentes
no interior de um único gene de tamanho muito grande. Todas elas conduzindo a
fenótipos mais ou menos indistinguíveis entre si, como é o caso dos genes corres-
96 GENÉTICA
1.8.1 Substituições
Em geral, são alterações de um único par de bases, por isso são comumente
chamadas de mutações de ponto. São trocas de um nucleotídeo por outro di-
ferente na molécula do DNA
1.8.2 Deleções
Correspondem à perda de um ou vários nucleotídeos na molécula do DNA.
1.8.3 Inserções
Correspondem à introdução de um ou vários nucleotídeos na molécula de
DNA. Um tipo especial de inserção é a duplicação, surgida quando a porção in-
serida tem sequência de bases repetida em outra região do gene ou do genoma.
MEIOSE I
Fonte: <http://www.cursoobjetivo.br/vestibular/roteiro_estudos/projeto_genoma.aspx>.
Acessado em: 28 de março de 2014.
1 2 3 4 5
6 7 8 9 10 11 12
13 14 15 16 17 18
19 20 21 22 X Y
1 2 3 4 5
6 7 8 9 10 11 12
D E
13 14 15 16 17 18
F G
19 20 21 22 X X
Atividades de aprendizagem
1. A síndrome de Down caracteriza-se pela presença de um cromossomo 21
a mais nas células dos indivíduos afetados. Esse problema pode ser decor-
rente da não disjunção do cromossomo 21 em dois momentos durante a
formação dos gametas. Esquematize uma meiose normal e uma com não
disjunção, utilizando-se somente do cromossomo 21. Lembre-se de que
a não disjunção pode ocorrer na meiose I ou II.
2. Descreva sucintamente como se prepara uma lâmina para observação
de cromossomos humanos.
Citogenética e genética do câncer 107
único alelo mutado é suficiente para alterar o fenótipo de uma célula normal
para maligna. Esses genes são responsáveis por aumentar a proliferação celu-
lar, ao mesmo tempo que inibem a apoptose, eventos que dão início a uma
neoplasia (WEINBERG, 2008).
Atividades de aprendizagem
1. Discuta os possíveis motivos pelos quais o câncer colorretal é um
câncer adulto, enquanto o retinoblastoma afeta crianças.
2. Cite dois eventos que possam contribuir para o aparecimento do
câncer.
114 GENÉTICA
Fique ligado!
Nesta unidade, vimos que citogenética é a ciência que estuda a consti-
tuição genética das células através dos estudos com cromossomos. Os
cromossomos, por sua vez, são moléculas longas de DNA constituídas
por duas cadeias de nucleotídeos emparelhadas por meio de ligações de
hidrogênio entre bases nitrogenadas complementares. Esses cromossomos
apresentam uma região especial, o centrômero, e é em relação à posição
do centrômero que eles podem ser classificados em metacêntricos, sub-
metacêntricos, acrocêntricos e telocêntricos.
O cariótipo humano é formado por 23 pares de cromossomos, e exis-
tem várias técnicas laboratoriais para visualização destes cromossomos,
como padrão de bandas G, Q e R, entre outras.
O tamanho e a forma dos cromossomos são constantes entre os indi-
víduos da mesma espécie, porém, alterações numéricas, quando afetam
o número de cromossomos da célula, ou estruturais, quando afetam a
estrutura de um ou mais cromossomos, podem acontecer em função de
vários fatores mutagênicos, levando a modificações no cariótipo e ao
aparecimento de síndromes genéticas.
As divisões celulares são rigorosamente controladas, de modo a ga-
rantir o bom funcionamento do organismo. Ao longo do desenvolvimento
embrionário e das fases jovens da vida, as divisões celulares devem so-
brepujar a morte das células, para que os diversos órgãos se formem e
cresçam até atingir seu tamanho definitivo. Entretanto, podem acontecer
alterações genéticas que danificam esse sistema de controle da divisão
celular, levando a célula a crescer e se multiplicar de forma desenfreada,
dando origem a células cancerígenas.
Referências
ANTONIALLI, W. F. Mecanismos básicos e moleculares da senescência celular. Disponível
em: <http://igce.unesp.br/ib/biologicas/meca.html>. Acesso em: 19 jul. 2014.
CURSO OBJETIVO. Projeto Genoma. Disponível em: <http://www.curso-objetivo.br/
vestibular/roteiro_estudos/projeto_genoma.aspx>. Acesso em: 31 mar. 2014.
GENÉTICA NA ESCOLA. Câncer: uma doença genética. Disponível em: <http://
geneticanaescola.com.br/wp-home/wp-content/uploads/2012/10/Genetica-na-Escola-31-
Artigo-02.pdf>. Acesso em: 16 fev. 2014.
MOORHEAD, P.S., et al. Hungerford: Chromosome preparations of leucocytes cultures
from human peripheral blood. Exp. Cell. Res., v. 20, p. 613-616, 1960.
OTTO, P. A.; NETTO, R. C. M.; OTTO, P. G. Genética médica. São Paulo: Roca, 2013.
NUSSBAUM, Robert L. et al. Thompson & Thompson genetica médica. 7. ed. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2008
WEINBERG, R. Does imagery work? Effects on performance and mental skills. Journal of
Imagery Research in Sport and Exercise, n. 3, p. 1-20, 2008.
Unidade 4
Biologia molecular,
biotecnologia e
evolução
Gabriel Marcos Domingues de Souza
Seção 2: Biotecnologia
Esta seção abordará conceitos e técnicas utilizadas
em biologia molecular para cortar, isolar, identificar
e manipular o material genético. Serão apresentadas
diferentes metodologias utilizadas para identificar
sequências de DNA de interesse, como as reações
de restrição, clonagem gênica, reação em cadeia da
polimerase e sequenciamento de DNA.
Seção 3: Genética evolutiva
A seção sobre genética evolutiva irá descrever os
processos que contribuem para a variabilidade mo-
lecular e sua implicação na evolução dos genomas
nos diferentes seres vivos.
B i o l o g i a m o l e c u l a r, b i o t e c n o l o g i a e e v o l u ç ã o 123
Introdução ao estudo
A biologia molecular é uma área da genética em constante ascensão. O
desenvolvimento de tecnologias que auxiliam no aprofundamento dos conhe-
cimentos sobre os principais processos que ocorrem em nível molecular, nos
seres vivos, colabora para o aumento dos estudos e importância dessa área.
Ao longo desta unidade, estudaremos os conceitos básicos necessários para
compreender essa grande área do conhecimento. Veremos as particularidades
no processo de replicação do DNA, os mecanismos envolvidos na transcrição,
na formação do RNA e como a informação é codificada de um gene e traduzida
em uma proteína.
Os conhecimentos sobre esses processos de transmissão e transformação
da informação genética possibilitou o desenvolvimento de técnicas que têm
revolucionado a ciência. Veremos como a utilização da informação contida no
genoma dos seres vivos são manipuladas e usadas no tratamento de doenças,
melhoramento de espécies vegetais e animais de importância econômica, na
produção de fármacos e na indústria alimentícia.
O genoma detém toda a informação para a formação de um organismo. É
através dessa informação que as características peculiares de cada ser vivo se
manifestam. Portanto, cada espécie existente difere uma da outra, inicialmente
pelo seu conteúdo genético. Essas diferenças se manifestam na capacidade
de adaptação aos ambientes, estruturas morfológicas, complexidade etc. Para
entendermos como ocorrem as variações moleculares, suas implicações na
evolução dos genomas e formação dos mais diferentes seres vivos deste planeta,
precisamos compreender as bases e origens moleculares dessas mudanças.
Contudo, ao final desta unidade teremos condições de compreender a
importância dos conhecimentos em biologia molecular no desenvolvimento
dos organismos, manutenção da vida, na evolução e na utilização desses co-
nhecimentos para o desenvolvimento biotecnológico.
nesse processo, os tipos de RNA e como essa molécula pode ser processada.
Ao final da seção, veremos como o RNA é traduzido formando os peptídeos.
celular que o material genético irá se duplicar para que as células-filhas rece-
bam a mesma quantidade de DNA que a célula-mãe.
Também é importante destacar que a replicação do DNA ocorre de maneira
semiconservativa. Como visto na Unidade 1, a molécula de DNA é constituída
de duas cadeias de nucleotídeos que se enrolam, originando a dupla-hélice,
sendo estas cadeias de nucleotídeos antiparalelas, ou seja, de polaridade in-
versa. Relembrando que cada cadeia conserva em uma ponta com um grupo
fosfato livre no carbono 5 do açúcar (5’) e em outra com o grupo OH livre no
carbono 3 (3’); isto significa que a ponta 5’ de um filamento é oposta à ponta 3’
do outro, sendo mantidas por ligações químicas fracas (pontes de hidrogênio),
entre as bases nitrogenadas de cadeias diferentes. Essa polaridade inversa de
filamentos complementares tem um papel importante na replicação, transcri-
ção e recombinação do DNA. A natureza complementar dos dois filamentos
de nucleotídeos em uma molécula de DNA sugere que, durante a replicação,
cada uma das fitas parentais serve de molde para a formação de uma nova fita
completa. Assim, cada uma das duas células-filhas tem seu DNA constituído
por um filamento antigo e um novo, e por este motivo a replicação é chamada
semiconservativa.
Cada vez que o DNA é sintetizado, ele só ocorrerá em um único sentido, 5’
a 3’, em ambos os filamentos. Isto significa que novos nucleotídeos são sem-
pre adicionados à ponta 3’ do filamento crescente. Primeiro, o DNA precisa
se desenrolar para que os filamentos sejam expostos a toda a maquinaria da
replicação. À medida que ele se desenrola, o filamento molde que é exposto no
sentido 3’ a 5’ permite que um novo filamento seja sintetizado continuamente,
no sentido 5’ a 3’. Este novo filamento é denominado de replicação contínua
ou leading. Já no filamento exposto no sentido 5’ a 3’, denominado replicação
descontínua ou lagging, a síntese de DNA começa e continua no sentido oposto
do desenrolar da fita dupla, porém, é um processo que é repetido sucessiva-
mente, pois é realizado em pequenos trechos descontínuos.
A replicação ocorre em quatro estágios, cada um deles com diferentes
enzimas e proteínas próprias: iniciação, deselicoidização, alongamento e tér-
mino. Para todos estes estágios, a replicação do DNA de bactérias foi mais bem
estudada e compreendida, assim, ela será utilizada como modelo de estudo
para entendermos este processo.
O processo de iniciação é marcado pelo reconhecimento de sítios de ini-
ciação na molécula do DNA por um complexo de proteínas. Em eucariontes,
126 GENÉTICA
haja vista sua complexidade e tamanho, estes sítios são encontrados em muitos
lugares do genoma. Em bactérias como a E. coli, devido à natureza circular de
seus cromossomos, existe apenas um sítio de iniciação, o OriC. Proteínas ini-
ciadoras se ligam ao OriC fazendo que um curto trecho de DNA se desenrole
utilizando a hidrólise de ATP, que fornece a energia necessária para separar
os filamentos.
A deselicoidização, ou o desenrolar da fita, faz que outras proteínas de
ligação unifilamentar se liguem ao filamento nucleotídico. A proteína DNA
helicase quebra as pontes de hidrogênio existentes entre as bases dos dois
filamentos de uma molécula de DNA. No entanto, não é ela que inicia, mas
sim os fatores de iniciação, que primeiro separam um curto trecho do DNA
para a DNA helicase continuar a quebrar as demais ligações. Outras proteínas,
chamadas de ligação unifilamentar, ligam-se ao DNA unifilamentar exposto e
impedem que este se re-helicoidize, estabilizando a molécula.
A proteína que de fato realiza o alongamento da fita de DNA, a DNA po-
limerase, necessita de um nucleotídeo com um grupo 3’- OH livre para atuar.
Outra enzima, chamada primase, fornece trechos curtos de nucleotídeos, ou
primers, para iniciar a replicação. A primase é uma RNA polimerase, o que
significa que ela não necessita de um grupo 3’- OH livre para adicionar novos
nucleotídeos, mas ela fornece à DNA polimerase este grupamento livre para
ela iniciar a replicação. Estes primers de RNA, posteriormente, são removidos
e substituídos por nucleotídeos de DNA.
O processo de alongamento é iniciado após o DNA ser desenrolado e um
primer ter sido inserido. Com estes pré-requisitos, as DNA polimerases podem
alongar o filamento de polinucleotídeos, catalisando a polimerização do DNA.
Em bactérias, há pelo menos cinco DNA polimerases diferentes, sendo duas
(DNA polimerase I e III) específicas para a síntese na replicação e as outras três
com funções especializadas no reparo do DNA.
Enquanto o molde ou filamento está disponível, a DNA polimerase adiciona
novos nucleotídeos à ponta 3’ de um filamento crescente. Os nucleotídeos de
RNA que serviram de primer são, então, removidos e substituídos por nucleo-
tídeos de DNA pela DNA polimerase I. Após o último nucleotídeo do primer
de RNA ter sido substituído, ainda resta um corte no arcabouço açúcar-fosfato
do filamento que é fechado pela DNA ligase, com uma ligação fosfodiéster
entre o grupo 5’- P do nucleotídeo inicial adicionado à DNA polimerase III e
o grupo 3’- OH do nucleotídeo final adicionado pela DNA polimerase I. Em
B i o l o g i a m o l e c u l a r, b i o t e c n o l o g i a e e v o l u ç ã o 127
Atividades de aprendizagem
Qual a importância da replicação?
1.2 Transcrição
O objetivo central da transcrição é a síntese seletiva de uma molécula de
RNA. Também caracterizada como um processo complexo, a transcrição exige
uma gama de proteínas, precursores de nucleotídeos de RNA e um molde de
DNA para, ao final desta fase, obter a primeira etapa na via de informação, que
é o dogma central a biologia: o DNA é transcrito em RNA, e este, traduzido
em uma proteína.
têm outras funções celulares que não serão discutidas nesta unidade ou
funções ainda pouco estudadas.
O que é, então, a transcrição? Ela pode ser resumida na síntese de RNA a
partir de um molde de DNA. Comparando este processo ao que acabamos de
ver, a replicação, a diferença está no tamanho deste molde. No caso da repli-
cação, toda a molécula serve de molde, mas na transcrição apenas um trecho
(ou poucos trechos) da molécula de DNA servirá de molde, ou seja, apenas
um gene (ou alguns genes) será transcrito em RNA.
É importante salientar que apesar de o molde para a síntese de RNA ser o
mesmo para a síntese de DNA, o que difere o processo de transcrição da repli-
cação neste sentido, é que apenas um dos filamentos da dupla-hélice do DNA,
o filamento molde, é que de fato será usado na transcrição. O outro filamento,
denominado filamento não molde, geralmente não é transcrito. Durante o
processo de transcrição a molécula de RNA sintetizada é complementar e de
polaridade inversa ao filamento molde de DNA; assim, o RNA transcrito tem
as mesmas polaridade e sequência de bases que as do filamento não molde,
com uma diferença: ao invés da base T ele tem a base U.
O trecho na molécula de DNA que irá codificar, ou seja, sintetizar uma
molécula de RNA, é chamado de unidade de transcrição. Cada unidade de
transcrição é composta por um promotor, uma sequência codificante de RNA e
um finalizador. É no promotor que há o reconhecimento do trecho a ser trans-
crito por um complexo de proteínas, conhecido como aparato de transcrição.
Além disso, ele indica qual dos dois filamentos da molécula do DNA servirá
de molde e também determina o ponto de início da transcrição. A sequência
codificante é uma sequência de nucleotídeos de DNA que será copiada em uma
molécula de RNA. Já a região conhecida como finalizador compreende uma
sequência de nucleotídeos que indica onde a transcrição deve parar.
Como na replicação, a transcrição acontece no sentido 5’ a 3’, mas ao con-
trário da síntese de DNA, a síntese de RNA não precisa de primer. O aparato
de transcrição tem como enzima principal a RNA polimerase, que juntamente
com outras proteínas, em etapas diferentes, catalisa a síntese na nova molécula
de RNA. Em bactérias, há um tipo de RNA polimerase que é responsável pela
síntese das diferentes classes de RNA já apresentadas. Em eucariotos, a RNA
polimerase I transcreve rRNA, a RNA polimerase II transcreve pré-mRNA e ou-
tros pequenos RNAs e a RNA polimerase III transcreve tRNA e pequenos rRNA.
130 GENÉTICA
Atividades de aprendizagem
Qual estrutura e/ou molécula está relacionada com o início da transcrição,
quando se liga a sequência consenso – 10 encontrada nos promotores
bacterianos?
a) A holoenzima (cerne da enzima + sigma).
b) Fator sigma.
c) Cerne da enzima.
d) mRNA.
B i o l o g i a m o l e c u l a r, b i o t e c n o l o g i a e e v o l u ç ã o 131
1.3 Tradução
O processo de tradução é a leitura, pelos ribossomos, da molécula de mRNA
que foi transcrita (e processada, em eucariotos), e como resultado teremos a
formação de uma proteína. Como este processo ocorre será demonstrado a
seguir, mas antes vamos relembrar: o que é uma proteína?
Proteínas são polímeros de aminoácidos unidos por ligações peptídicas.
Existem 20 aminoácidos diferentes que compõem as mais diversas proteínas.
Também as proteínas têm níveis de organização: a estrutura primária corres-
B i o l o g i a m o l e c u l a r, b i o t e c n o l o g i a e e v o l u ç ã o 135
e o sítio A, para este códon, fica vazio. Quando isto ocorre, várias proteínas
chamadas de fatores de liberação se ligam ao ribossomo e clivam o tRNA do
sítio P e dissociação do ribossomo, liberando o mRNA.
Usamos aqui, também, para explicar a tradução, o modelo E. coli, ou como
isto ocorre em bactérias. Para eucariotos, o processo é semelhante, porém com
algumas diferenças:
Na iniciação, a subunidade menor não identifica uma sequência consenso
na molécula de mRNA, mas sim ao Cap 5’ do mRNA que foi processado.
Tanto na iniciação, quanto no alongamento e no término, são outros os
fatores de iniciação envolvidos.
A principal delas é que a tradução em eucariotos ocorre, relembrando,
no citoplasma; em bactérias, como não há núcleo tal qual em eucario-
tos, a tradução pode ocorrer ao mesmo tempo em que a transcrição. Em
eucarioto isto já não é possível.
Vários ribossomos podem associar-se à molécula de mRNA, tanto em
procariotos como em eucariotos. Podendo ser vista a partir de microscopia
eletrônica, esta estrutura é chamada de polirribossomo.
Após a tradução, as proteínas recém-produzidas podem, tanto em euca-
riotos como em procariotos, sofrer algumas modificações, chamadas de pós-
-traducionais. Algumas são inicialmente sintetizadas como precursoras, que são
maiores e precisam ser clivadas para se tornarem funcionais. Outras necessitam
de outras proteínas auxiliares para se dobrar corretamente, acontecendo, muitas
vezes, junto à tradução. Em eucariotos, certas proteínas sofrem remoção de 15
a 30 aminoácidos em uma de suas pontas, o que irá auxiliar a proteína a se
direcionar para um local específico dentro da célula.
138 GENÉTICA
Seção 2 Biotecnologia
Após compreendermos os processos básicos de transmissão da informação
gênica através da replicação, transcrição e tradução, iremos discutir, nesta seção,
a utilização dos conhecimentos obtidos em biologia molecular. As constantes
descobertas e avanços nas tecnologias têm possibilitado aos cientistas isolar,
manipular e utilizar a informação genética na indústria alimentícia, farmacêu-
tica e no estudo sobre doenças. Veremos as principais técnicas usadas para
identificar sequências de interesse e usá-las para o desenvolvimento da ciência
e da genética.
Para compreender como toda essa mudança foi possível, nas mais diferentes
áreas do conhecimento, estudaremos as bases das principais técnicas usadas
na tecnologia do DNA recombinante: técnicas para cortar a molécula de DNA
em locais específicos, localizar sequências de interesse no material genético,
amplificar essas sequências, inserir um fragmento de DNA em um vetor de clo-
nagem, transferir o vetor com o fragmento inserido para uma célula receptora.
Atividades de aprendizagem
Qual tipo de enzima de restrição é usado na tecnologia do DNA recom-
binante?
2.3 Eletroforese
A eletroforese consiste em uma técnica que se utiliza das características bio-
químicas das moléculas. Existem vários tipos de eletroforese, porém, trataremos
aqui apenas da que separa moléculas de DNA. Como citado anteriormente, a
eletroforese em gel de agarose é a responsável pela separação dos fragmentos
obtidos da reação de restrição. O gel é uma substância porosa composta por
poços ou canaletas, feitos em sua extremidade, para receber soluções com
fragmentos de DNA. Na eletroforese, ele é colocado em uma solução tampão
dentro de uma cuba de eletroforese. A cuba é composta por dois polos, onde
cada um recebe a ligação de uma fonte de energia para gerar corrente elétrica.
Como o DNA tem uma carga negativa, oriunda do grupamento fosfato presente
em cada nucleotídeo, os fragmentos de DNA migram do polo negativo para o
positivo do gel. Nessa migração, o gel atua como um crivo para os fragmen-
tos, que irão se deslocar, ao longo da malha formada pelo gel, de acordo com
seus tamanhos. Fragmentos menores se deslocam com maior velocidade no
gel do que os maiores, com o passar do tempo, os fragmentos se separam pela
diferença de tamanho.
Para saber o tamanho dos fragmentos separados, normalmente se aplica uma
solução, em um dos poços, onde são conhecidos os tamanhos dos fragmentos,
142 GENÉTICA
podendo ser usada como marcação para os fragmentos da amostra com tamanhos
desconhecidos que migraram na separação por eletroforese.
2.4 Sondas
Para encontrar um fragmento de interesse, podemos usar uma sonda. A
sonda consiste em uma molécula de DNA ou RNA contendo sequências
complementares às sequências do gene buscado. A sonda irá fazer a ligação,
hibridização, com as bases complementares da sequência a ser encontrada,
portanto, é necessário marcar essa sonda, radioativa ou quimicamente, para
localizar um gene específico ou uma sequência de interesse.
B i o l o g i a m o l e c u l a r, b i o t e c n o l o g i a e e v o l u ç ã o 143
Uma das formas é usar um gene similar de outro organismo como sonda.
Por exemplo, se queremos isolar o gene que sintetiza a insulina humana e o
gene já foi isolado em outros animais, podemos usar a sequência desse gene
como sonda para encontrar o mesmo gene para insulina em humanos. A ligação
complementar entre a sonda e o alvo não requer, necessariamente, correlação
completa, isto é, uma sequência parecida, com pequenas diferenças, pode ser
usada como sonda.
Outra forma de se obter uma sonda é através do isolamento da proteína
codificada pelo gene. Usando o código genético e a sequência de aminoácidos
da proteína, podemos deduzir a sequência de DNA que codifica essa proteína
e confeccionar sondas sintéticas. Porém, sabemos que a mesma proteína pode
ser obtida por diferentes sequências de nucleotídeos, devido à redundância
do código genético, onde mais de uma trinca de bases nucleotídicas podem
ser sinônimas para um único aminoácido. Para reduzir esse problema, usa-se
uma mistura de todas as possíveis sequências de nucleotídeos possíveis como
sonda. Uma forma de reduzir o número de sequências possíveis na mistura é
utilizar uma região da proteína com pouca redundância em seus códons.
Agora, quando se conhece a sequência de uma região de interesse, um
conjunto de sondas pode ser elaborado através de um sintetizador de oligonu-
cleotídeos. As sondas resultantes são usadas para triar e localizar a sequência
procurada.
Até agora, aprendemos como cortar a molécula de DNA, separar os fragmen-
tos cortados, visualizar esses fragmentos e como obter sondas para localizá-los.
Mas como ocorre a ligação da sonda com os fragmentos separados, formando
as bandas, no gel de agarose?
Para isso os fragmentos precisam passar por um processo de desnaturação e
ser transferidos para um meio sólido permanente. A técnica, conhecida como
transferência de Southern, transfere fragmentos desnaturados e unifilamentares
de um gel para um meio sólido permanente. Após a transferência, ocorre a
144 GENÉTICA
hibridização com a sonda marcada. A sonda irá se ligar com qualquer fragmento
unifilamentar que contenha sequências complementares a ela.
Atividades de aprendizagem
Quais são os três critérios básicos para a escolha de um vetor de clonagem?
2.8 Sequenciamento
As metodologias para descobrir mais sobre a informação genética não param
de evoluir. Uma poderosa ferramenta para analisar o DNA é o sequenciamento.
Ele permite extrair a informação do material genético, fornecendo suporte na
obtenção de conhecimentos sobre a estrutura e função dos genes.
A primeira estratégia usada para sequenciar o DNA foi criada por F. Sanger et
al. nos anos 1970, com base na replicação, alongamento do DNA, usando um
nucleotídeo especial, o trifosfato de didesoxirribonucleosídeo (ddNTP), usado
como um dos substratos. Os ddNTPs são idênticos aos dNTP, mas não têm o
grupo 3’ – OH livre, quando são incorporados na cadeia de DNA outros nucleotídeos
não conseguem se ligar ao filamento crescente pela ausência do grupo 3’ – OH
que estabelece a ligação fosfodiéster com o nucleotídeo que chega.
Essa técnica necessita de uma quantidade considerável de DNA, e para isso,
são usados métodos já vistos anteriormente, como a clonagem e amplificação
por PCR. Os fragmentos amplificados são divididos em quatro tubos diferentes.
Em cada tubo são adicionadas cópias de um iniciador (primer) complementar
a uma ponta do DNA a ser sequenciado, os 4 dNTPs, com as bases adenina,
timina, guanina e citocina, uma pequena quantidade de apenas um dos ddNTP,
responsável por finalizar a síntese de DNA, em que cada um dos quatro tubos
recebe um ddNTP diferente e a DNA polimerase.
Nessa reação, o primer ou o dNTP recebe uma marcação química ou ra-
dioativa, para que o DNA recém sintetizado posse ser detectado. Nos quatro
tubos a polimerase amplifica o DNA e, ao longo do processo, em cada tubo,
ocorre ocasionalmente a adição de um ddNTP ao filamento que interrompe a
síntese. Portanto, a incorporação dessa molécula no filamento de DNA recém-
-sintetizado ocorre de forma aleatória, em diferentes posições, cópias, formando
um grupo de sequências de DNA com tamanhos diferentes. Por exemplo em
um dos tubos o ddNTP adicionado foi o que contém a base Adenina (A); nesse
caso, todos os fragmentos, de diferentes tamanhos, formados nesse tubo são
terminados por um nucleotídeo que tem a base A. Nos outros três tubos ocor-
B i o l o g i a m o l e c u l a r, b i o t e c n o l o g i a e e v o l u ç ã o 151
rem processos semelhantes, porém com os outros tipos de ddNTP, timina (T),
guanina (G) e citosina (C). Quando terminam as reações de síntese de DNA,
todas as moléculas nos tubos são desnaturadas e o DNA unifilamentar de cada
reação é separado por eletroforese em gel.
Os resultados da amplificação em cada tubo são colocados em poços, um
ao lado do outro no gel submetido à eletroforese. Essa disposição permite, ao
final da eletroforese, distinguir a localização e os tamanhos de cada filamento de
DNA, podendo se observar diferenças de tamanho de apenas um nucleotídeo.
Para interpretar o gel, é só lembrar-se das características da eletroforese, em
que moléculas menores se deslocam mais e rapidamente no gel e as maiores
se deslocam menos e mais devagar. Portanto, ao visualizar o gel, localizamos
o fragmento mais próximo do fundo, ou seja, no final do gel, ele é o menor
fragmento, o mais leve, e se esse fragmento é oriundo das amostras do tubo
onde o ddNTP era, por exemplo, composto pela base guanina, isso significa
que o primeiro nucleotídeo incorporado na sequência complementar ao seu
molde de DNA tinha G. E, assim, vamos avaliando o gel: qual o segundo
menor fragmento? Em qual tubo estava? O terceiro menor? Quarto? Com isso,
conhecemos a sequência complementar do nosso fragmento e podemos, então,
descobrir qual a ordem das bases do filamento original do nosso fragmento.
Por muito tempo, essa técnica foi executada de forma manual, era um
processo demorado, trabalhoso e muito caro. Atualmente, as técnicas de se-
quenciamento são automatizadas, usam marcadores fluorescentes, detectores
a laser e sequenciam milhares de pares de bases em algumas horas. Outras
tecnologias, além do princípio do didesoxi, têm se desenvolvido, aumen-
tando a capacidade de sequenciamento e diminuindo as etapas demoradas e
trabalhosas do processo, por meio do sequenciamento direto do DNA, sem a
necessidade de clonar fragmentos em bactérias ou por PCR. Essa abordagem,
aliada às novas tecnologias, baixam drasticamente o tempo e o preço da técnica
de sequenciamento de DNA.
152 GENÉTICA
Mas o genoma, visto com uma atenção especial, apresenta uma organização
compreensível, dando a possibilidade de conhecermos a relação dos diferentes
arranjos genômicos e os mecanismos pelos quais eles evoluíram.
Atividades de aprendizagem
Quais os mecanismos que auxiliam os genomas a aumentarem seus ta-
manhos e sua complexidade?
Atividades de aprendizagem
O que são pseudogenes?
Fique ligado!
A seguir, os principais tópicos abordados nesta unidade:
A replicação do DNA.
Transcrição e processamento do RNA.
Tradução — síntese proteica.
Técnicas em biologia molecular.
Genética evolutiva.
Referências
ALBERTS, B. Biologia molecular da célula. Porto Alegre: Artmed, 2010.
CRICK, F. H. C. et al. General nature of the genetic code for proteins. Nature, v. 192, p.
1227–1232, 1961.
HIB, J.; DE ROBERTIS, E. M. Biologia celular e molecular. 16. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2014.
JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Biologia celular e molecular. 9. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2012.
LINHARES, S.; GEWANDSZNAJDER, F. Biologia: volume único — livro do professor. São
Paulo: Ática, 2005.
PIERCE, B. A. Genética: um enfoque conceitual. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.
SNUSTAD, D. P. Fundamentos da genética. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013.
WEESLER, S. R. et. al. Introdução à genética. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013.
Anotações
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