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Kelvin Ashindorbe2
Introdução
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Partidos Políticos
Os partidos políticos constituem um componente essencial da tradição
democrática moderna, porque sem partidos políticos, a democracia que é base-
ada no modelo liberal do governo da maioria seria praticamente impossível.
Uma das primeiras definições de partido político foi dada por Edmund
Burke, que concebeu um partido político como “um corpo de homens unidos
para promover, por seus esforços conjuntos, o interesse nacional sobre alguns
princípios particulares em que todos concordaram” (citado em Adebayo 2006,
64). Há outras definições de partido político de outras escolas que questionam
o conceito. Por exemplo, Giovani Satori vê um partido político como “qualquer
grupo político que se apresente em eleições e seja capaz de eleger candida-
tos a cargos públicos” (citado em Kopecky & Mair 2003, 29). A definição de
Satori serve a dois propósitos úteis. Por um lado, é suficientemente preciso
para distinguir o partido político de outros grupos da sociedade, uma vez
que são apenas os partidos políticos que patrocinam candidatos às eleições.
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Por outro lado, são suficientemente amplos para incluir todos os partidos
políticos, seja em regimes de partido único não competitivo ou em sistema
multipartidário competitivo.
Estudiosos, em um esforço para capturar as características essenciais de
uma variedade de partidos políticos em diferentes épocas e regiões do mundo,
desenvolveram tipologias variadas e classificação de partidos políticos. Embora
essas classificações tenham sido desenvolvidas essencialmente para ajudar na
construção de uma teoria sobre partidos políticos, também é possível usá-las
para explicar algumas das peculiaridades e tendências de fracionamento desses
partidos. Maurice Duverger (1954) fez uma distinção entre o que chamou de
“Partidos Quadro”, liderados por indivíduos de alto status socioeconômico, e o
“Partido de Massas”, que, segundo ele, mobiliza um amplo segmento de mem-
bros através do desenvolvimento de um organização grande e complexa. Ele
também identificou o que chamou de “Partido Devoto” ligados à veneração de um
líder partidário carismático, sendo um exemplo o Partido Comunista Leninista
(citado em Anifowoshe 2004). Otto Kirchheirmer (1966) propôs quatro modelos
partidários: partidos burgueses de representação individual; partidos classistas de
massa; partidos de massa denominacionais; e partidos do tipo catch-all (citado em
Gunther e Diamond 2003). Katz e Mair (1995) identificaram o que chamaram de
Partido de Cartel, no qual o financiamento público de partidos políticos e o papel
ampliado do Estado induzem as partes a buscar principalmente perpetuar-se no
poder e aproveitar-se desses recursos. Gunther e Diamond (2003) identificaram
15 variantes diferentes de partidos políticos e categorizaram-nas com base em
três grandes espectros: natureza da organização partidária, seja baseada na elite
ou na massa; orientação programática das partes, sejam elas ideológicas ou clien-
telistas; e norma comportamental em perspectiva e operação - seja pluralista/
democrática ou hegemônica.
Os vários tipos de partidos políticos não se excluem mutuamente.
Na prática, os partidos políticos são muitas vezes um híbrido de dois, ou
até mesmo dos três tipos. Isto se aplica aos partidos políticos na Nigéria, os
quais apresentam características similares a estas categorias discutidas. O
que também é verificado no caso da Nigéria é que o contexto de formação
dos partidos políticos teve profundo impacto na natureza da organização
partidária e, portanto, em suas perspectivas e em seus resultados.
Integração Nacional
A Integração Nacional envolve principalmente o manejo de elementos
sociais, econômicos, políticos, étnicos e geográficos diferentes em um único
Estado-nação. Refere-se a um processo, estratégia e método de construção de
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caracterizou esses partidos políticos foi seu padrão de formação. que levou
à subsequente degeneração em partidos de base étnica e à personalização
de suas operações. A influência cultural na formação desses partidos, sem
dúvida, desempenhou um papel significativo nesse sentido. Por exemplo, o
partido do Grupo de Ação (AG), que emergiu como uma resposta à crescente
popularidade do NCNC na região ocidental, está ligado à organização socio-
cultural Pan-Iorubá ou Egbe Omo Oduduwa’ (a reunião dos descendentes de
Oduduwa). Depois de uma série de reuniões e de preparação, a organização
cultural, em março de 1951, transformou-se em um partido político e realizou
sua conferência inaugural em Owo, uma cidade atualmente localizada no
estado de Ondo, Nigéria (Mackintosh 1966).
O mesmo vale para o Congresso do Povo do Norte, que surgiu de uma
organização cultural chamada Jam’iyyar Mutanen Arewa (Associação dos Povos
do Norte), formada em junho de 1949. Os líderes do grupo anunciaram que seu
objetivo era combater o ócio e a injustiça na região norte. Esse grupo cultural
transformou-se em um partido político em outubro de 1951 (Dudley 1968). A
origem cultural e étnica, particularmente do NPC e do AG, gerou conflitos entre
eles, pois cada um protegia seu enclave regional quanto eles tentavam fazer
uma incursão eleitoral na base política do partido rival, assim, essa estratégia
só serviu para inflamar o ódio e a animosidade étnica. A independência foi
alcançada, apesar dessas rivalidades, devido a um alto grau de mobilização dos
cidadãos para acabar com o domínio colonial. No entanto, as rivalidades intra e
inter partidárias seguiram caracterizando esses partidos após a independência,
levando à sua degeneração em grupos de pressão étnica, uma tendência que
resultou no truncamento do governo democrático (Yakub 2004).
A terceira geração de partidos políticos, na classificação de Ujo, eram
os partidos da segunda república (1979-1983). As reformas constitucionais e
políticas de 1975-1979 mudaram a definição de partido político de uma noção
funcional para uma legal-constitucional. Os partidos políticos foram definidos
mais em termos de estrutura do que de função, com ênfase nos requisitos
para o registro de partidos políticos, tais como perspectiva e disseminação
nacional, organização interna ou democracia, reconhecimento e registro por
um órgão de gestão eleitoral.
Os objetivos das reformas constitucionais e políticas que precederam
a inauguração da segunda república, entre outras coisas, foram despersonali-
zar as operações dos partidos políticos e retirar seu caráter étnico, dando-lhes
uma perspectiva nacional (Omoruyi 2002). Os partidos nessa época incluíam
o Partido da Unidade da Nigéria (UPN)13, o Partido Nacional da Nigéria (NPN),
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Alguns dos problemas dos partidos políticos na Nigéria são bem reco-
nhecidos na literatura e têm servido como obstáculo e impedimento ao apro-
fundamento da democracia, notadamente a não institucionalização do partido
político, a fraca liderança do partido, a ausência de disciplina partidária, a tímida
sinalização para um sistema partidário ideologicamente coerente e a concepção
superficial das responsabilidades que os poderes políticos exigem (Simbine
2002). Um exame mais minucioso desses fatores revela que eles também
contribuem, em grande parte, para a incapacidade dos partidos políticos de
servirem como agentes para a integração nacional na Nigéria.
O déficit de liderança, por exemplo, é um fator importante na com-
preensão da situação nigeriana. É um fato amplamente reconhecido que o
progresso ou não de qualquer sociedade depende em grande parte da quali-
dade da liderança que tal sociedade ou Estado pode reunir. Essa afirmação é
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ele rapidamente deserta para o partido rival na busca pelo poder. Atualmente,
este parece ser o caso, com políticos que se movem em direções diferentes
dependendo da equação de poder e permutações em cada rodada de eleição. O
APC certamente não é exatamente a festa progressista que seu nome retrata.
É, na melhor das hipóteses, uma multidão heterogênea de elementos tanto
do progressismo quanto do conservadorismo. A derrota do PDP nas últimas
eleições gerais e a alternância de poder apresentaram uma chance de apro-
fundar e consolidar a democracia na Nigéria. É também uma oportunidade
para os reformistas insistirem em reformas internas para transformar o
partido (Adeniyi 2017; Abdullahi 2017).
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RESUMO
Os partidos políticos são instituições cruciais na construção de uma ordem democrá-
tica participativa; eles fornecem plataformas para o desenvolvimento de propostas de
políticas públicas concorrentes, bem como servem como instrumentos para canalizar
grupos sociais díspares em uma plataforma política comum, proporcionando, assim,
um efeito estabilizador a uma sociedade de outra forma fragmentada. O significado dos
partidos políticos, portanto, vai além da função utilitária de contestar ou reter o poder
político para incluir a capacidade de fornecer uma força unificadora em face de clivagens
étnico-religiosas profundas. A trajetória histórica da formação de partidos políticos na
Nigéria, entretanto, contraria esse ideal teórico e normativo. Os partidos políticos na
Nigéria pré e pós-independência serviram como locais para a mobilização do povo ao
longo das linhas de falha primordiais. Este artigo argumenta que os dois principais
partidos políticos da Nigéria hoje apresentam uma oportunidade para romper o ciclo
de partidos regionais que não se esforçaram ativamente para a integração nacional.
PALAVRAS-CHAVE
Partido Político; Mobilização; Democracia; Integração; Nigéria.
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