Você está na página 1de 3

Análise - Economia e educação: a contribuição de Álvaro Vieira Pinto para o estudo histórico da

tecnologia

Por Rodrigo M.Lehnemann

Introdução: O texto a seguir apresenta uma breve análise sobre o trabalho de Marco Cezar de Freitas,
onde este visa novamente trazer a luz a obra de Álvaro Vieira Pinto, que nos apresenta uma relação
única entre sujeito e trabalho, fazendo uma crítica as oportunidades ofertadas as diferentes
distribuições sociais, e trazendo no conceito de amanualidade uma interessante proposta de um novo
“projeto nacional” mais justo e acessível a todos.

Autor/a:
• Marco Cezar de Freitas, Pós-Doutorado em Livre Docência pela USP, Doutor em
História e Filosofia da Educação pela PUC-SP, Mestre em História e Filosofia da
Educação pela PUC-SP, Graduado pela Fundação Municipal de Ensino Superior de
Bragança Paulista, atua como professor associado livre-docente no Departamento de
Educação da Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade Federal
de São Paulo. Iniciou a carreira de professor da educação básica na escola pública em
1982 e em 1988 tornou-se professor universitário atuando, desde então, na formação de
professores no Curso de Pedagogia oferecendo cursos sobre a construção social da
infância. Desenvolveu pesquisas referentes a vulnerabilidades infantis e educação
inclusiva. Coordena o Projeto de Pesquisa EDUCINEP - Educação Inclusiva na Escola
Pública, que abriga a Plataforma de Saberes Inclusivos com colaboradores brasileiros e
estrangeiros.

• Álvaro Borges Viera Pinto, Doutor em Filosofia pelo Colégio Santo Inácio, Graduado
Médico pela Faculdade Nacional de Medicina do Rio de Janeiro, Graduado também
Matemática Superior e Física. Catedrático da Faculdade de Filosofia da Universidade
do Brasil (hoje UFRJ), com tese defendida na França sobre a cosmologia em Platão.
Unia rigorosíssima formação clássica à condição de excelente matemático. Ganhou
projeção a partir de 1956, quando se juntou ao grupo de fundadores do Instituto
Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), cujo Departamento de Filosofia passou a
chefiar. Ali, instalado no centro dos debates do ciclo desenvolvimentista, dedicou-se a
compreender os vários modos de pensar o Ser Nacional a partir da periferia do sistema-
mundo. Incursionou pela sociologia, a pedagogia, a história, a linguística e a
demografia. Nação, povo, trabalho, cultura, ciência, técnica, dependência,
desenvolvimento, construção de identidades foram temas que permearam sua fecunda
reflexão, que sempre pensou a partir da condição de filósofo.

Observação: Vieira Pinto não é um dos autores deste artigo, no entanto como o mesmo trata de
sua trajetória e do conjunto de sua obra, achei pertinente trazer um breve histórico junto ao do
real autor do artigo.

Argumento do texto.

Quais são as ideias centrais do texto? O texto gira em torno de uma análise da obra e da trajetória de
Vieira pinto, trazendo além de um breve histórico profissional uma abordagem geral e superficial
sobre o conjunto de sua obra e seu pensamentos sobre a relação homem e trabalho.

Destacar os Objetivos: O trabalho tem como objetivo analisar a obra desenvolvida ao longo de trinta
anos por Vieira Pinto na construção do conceito de Trabalho Tecnologicamente Avançado que
possibilitou a reelaboração dos conceitos de desenvolvimento e sub-desenvolvimento no Brasil e na
América Latina.
O que o autor problematiza?

Justificativa: Umas das principais justificativas do autor é trazer a luz a velada obra obra de Vieira
Pinto, seus argumentos e relações quanto ao homem e o trabalho, que apesar de terem sido escritas a
mais de 30 anos, ainda são bastante atuais perante nossa realidade capitalista contemporânea.

Referenciais teóricos:

Posicionamento Teórico: O texto assim como a obra a qual ele se refere tem uma postura crítica, que
questiona o nosso conceito de sociedade e distribuição do trabalho e das oportunidade de trabalho,
sobre um ótica diferente que não observa o sociedade através de classes, mas sim através do trabalho e
das oportunidade que são ofertadas a cada indivíduo, trazendo uma relação rica entre sujeito e ofício.

Que considerações finais o autor aponta, principais contribuições/conclusões do texto. Em suas


considerações finais, o autor da voz aos argumentos de Vieira Pinto, nos trazendo uma leitura sobre
uma ideia de “projeto nacional”, que deveria ser edificado pelos jovens em uma nova estrutura social,
onde todos possam ter acesso as mesmas oportunidades de trabalho, buscando sempre a dissolução do
acúmulo de ofício em determinados setores sociais e por conseguinte trazendo uma melhor
distribuição de renda e qualidade de vida a todos.

Síntese:

Ao percorrermos a velada obra e trajetória de Vieira Pinto, somos lentamente convidados a refletir
sobre as dicotomias entre o centro e a periferia, deixando de lato a tradicional abordagem do conflito
de classes para tentar perceber através da visão do trabalho o papel que cada um de nós possui em
nossa sociedade, convidando-nos a inverter a maneira com olhamos para o tempo e para as
tecnologias. Pois seriam, por exemplo, os conhecimentos neolíticos assim chamados por serem
produzidos na era de mesmo nome, ou seria esta era e sua cultura fruto de conhecimento e de um
conjunto de ferramentas neolíticas que estava ao alcance daqueles que nela viviam e por isso recebe
este nome?

Somos todos fruto de nosso trabalho, o resultado das oportunidades e dos conhecimentos que
compõem a ontogenia necessária para exercermos nosso ofício, sendo através dele e de suas
peculiaridades que juntos compomos o senso comum que caracteriza nossa comunidade e sociedade.
Assim podemos dizer que diferentes recursos, são percebidos de diferentes maneiras e valorados de
diferentes formas conforme a amanualidade daqueles inseridos no meio ao qual estamos. Assim
fazendo uma ilustrativa comparação, um carro velho, pode ser visto por um mecânico como lixo a ser
desmontado e reaproveitado, já um operário por sua vez o veria como um meio de transporte e por fim
um colecionador que poderia vê-lo como artigo raro e muito valioso. O recurso sem o ofício é tão
inútil quanto o ofício sem o recurso, desta forma podemos dizer que controlar o ofício é uma maneira
subjetivizar o recurso.

Se por um momento nos afastarmos e deixarmos de lado o discurso neoliberal, poderemos perceber
como o trabalho afeta as diferentes sociedades, fazendo emergir o abismo que separa o centro da
periferia. Quais são os instrumentos colocados as mãos daqueles situados no centro, mais favorecidos,
e quais os instrumentos colocados as mãos dos marginalizados que na periferia subsistem? Desta
maneira é possível perceber que a rusticidade da periferia favorece a sub subjetividade frente ao
centro, conferimos aos marginalizados as ferramentas da servidão e aos que no centro estão as
ferramentas da liderança, que ditando desta maneira as regras do desiguais do jogo das trocas, que faz
com que o marginalizado entregue ao centro tudo o que tem em troca das migalhas necessárias a sua
subsistência.

Desta maneira o autor expõe as cicatrizes da colonialidade dos povos subdesenvolvidos, fazendo-nos
entender que estas marcas sociais não surgiram de um processo oriundo de uma mentalidade arcaica
de séculos passados, mas foram frutos de uma construção desigual, resultada do empobrecimento nos
termos da troca, que estende até os dias de hoje, com a subjetividade daquilo que somos e daquilo que
produzimos. Enquanto na periferia, a industrialização é determinada pelas necessidades do centro,
sendo desta maneira mergulhada em uma ciclo de empobrecimento contínuo, emergindo nos filhos
nascidos de seu ventre um incômodo questionamento ao seu sentimento de pertença, restringindo o
acesso as poucas ferramentas que lhe são colocadas a mão de maneira a estreitar sua visão de mundo,
para que os filhos do centro possam viver e gozar dos produtos e dos benéficos da industrialização,
onde a qualidade de vida e a produção emergem de maneira homogenia.

Sob a ótica de Vieira Pinto, não existem novas tecnologias, toda tecnologia em si é nova em seu
tempo, sendo a relação do homem sobre o utensílio o fator determinante do seu “grau de domínio ou
subordinação” frente ao objeto. Desta forma fazendo-nos pensar quem ou você domina a tecnologia de
seu tempo ou será dominado por ela. Ao olhamos sob esta ótica, para que possamos transcender uma
situação de subdesenvolvimento precisamos mudar a “amanualidade” com a qual nos relacionamos
com o mundo, oportunizado ao maior número de indivíduos possível os meios e saberes necessários
para a manipulação de recursos cada mais complexos e elaborados. Pois através desta alteração, é que
serão abertas as novas oportunidades e os novos horizontes, que trarão ao jovem que neles ingressa o
sentimento de “dever fazer”. Pois este ao tocar nas novas ferramentas que lhe são entregues, percebe
que pode delas fazer uso para mudar aquilo que não era considerável mutável em sua prévia noção de
mundo.

É preciso desconstruir as consciências terceirizadas, que atribuem a um “eles” inexistente as


responsabilidades sociais das transformações pelas quais a sociedade tanto anseia. Precisamos
entender que nosso campo de ações possíveis de estende a medida como articulamos e expandimos
nosso grau de amanualidade, adquirindo capacidades de manipular recursos e utensílios que
possibilitação a “nós” resolvermos os problemas que jamais seriam resolvidos por “eles”. Assim
podemos afirmar que quanto maior o seu grau de amanualidade, seu domínio sobre o objeto, mais a
mão este estará para você a capacidade de manter ou transformar o mundo.

O homem vê o mundo influenciado pela forma como realiza seu trabalho, assim um homem entregue
as rusticidades de vida, com um não manuseio ou manuseio precário das ferramentas que lhe são
ofertadas, terá que conviver com o seu subdesenvolvimento intelectual, em uma sociedade desigual
onde diferentes pessoas vivem diferentes momentos tecnológicos simultâneos. Desta maneira
conforme aponta Vieira Pinto, a sociedade brasileira balança em um constante pêndulo que hora nos
aproxima da aceleração e hora nos afasta dela, aceleração esta descrita por ele como:

“à medida que maior número de indivíduos ingressassem nas formas adiantadas de produção,
ampliando, portanto, sua área de contato com a objetividade e aumentando seu interesse na
transformação das coisas, o pensamento crítico passaria a preponderar” .

Em seguida Vieira Pinto apresenta-nos o conceito do homem-em-situação, que morfologicamente é


confundido o trabalho que exerce, desta maneira são as oportunidade de trabalho que internalizam o
existir de uma nação, que será tão rica e próspera quanto lhe for permitida trabalhar para ser. Desta
maneira é possível concluir que nas oportunidades de trabalho ofertadas a uma nação é que
determinaremos os seus rumos podendo o trabalho ao mesmo tempo tornar-se um instrumento de
opressão, quanto um instrumento de transformação, pois nele reside o necessário para que possa-se
fazer emergir a criticidade social transformadora.

Em suas conclusões finais o autor nos apresenta o fato de que Vieira pinto não considerava o povo
desprovido de ciência ou escolaridade, mas desprovido de oportunidades justas de trabalho e
mergulhado na precariedade e na rusticidade, sendo que estas não deveriam ser tratadas como indícios
de um “povo culturalmente atrasado”, mas sim como os alicerces necessários a edificação de uma
nova nacionalidade. Uma nacionalidade onde as tecnologias seriam socialmente disseminadas, onde
aos jovens são ofertadas as condições necessárias ao seu manuseio, possibilitando a eles o acesso a
novas oportunidades de trabalho, que por sua vez fariam emergir o senso crítico, o “ dever fazer”
transformador necessário para a edificação de um novo projeto nacional.

Você também pode gostar