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INTRODUÇÃO
Tendo como “pano de fundo” os episódios; promovidos pela "Frente Parlamentar
Evangélica" no Parlamento em 2011; que resultaram na suspenção pela Presidenta Dilma da
distribuição de seis mil “kits antihomofobia”; ferramenta do Programa “Escola sem
Homofobia”, projeto apoiado pela militância LGBT 2, com a ajuda da sociedade civil
organizada; através de ONGs e coordenado pela SECAD/MEC.
Procurando focar a problemática analisando e pesquisando a posição daqueles que
deveriam agir em nome de um Estado laico para executarem as políticas públicas para a
diversidade; em nosso caso específico a Presidenta Dilma e alguns Deputados Federais; e
acabam ouvindo seus dogmas religiosos contrariando a Constituição Federal que apregoa a
laicidade do Estado.
Por se tratar de uma temática da pós-modernidade: Diversidade-Homofobia; não há
autores consagrados, há sim; uma quantidade variada de dissertações e teses de novos
pesquisadores, que guardam o mérito por estarem produzido estudos a partir de sólidas
bases teóricas com a preocupação em sustentar suas hipóteses a partir de uma farta e
consistente base documental.
Neste artigo partirmos da relação entre Estado Brasileiro e a sociedade, sabendo que
a condição de Estado Laico é resultante de uma luta política e social que constrói a
Democracia. Nesta Especialização, encontramos eco aos anseios e inquietações na temática
“Relações de Gênero e Homofobia na Escola”.
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O autor é Historiador, Geógrafo, Gestor Ambiental, Militante voluntário d’uma ONG; que trabalha com
Diversidade e Direitos Humanos, este artigo foi apresentado para a conclusão da Especialização em Educação
para a Diversidade e Cidadania na UFG (2010-2012). Orientado por Marcelo de Paula Pereira Perillo
(df.professor@gmail.com)
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Neste artigo vamos usar esta sigla foi aprovada em 2008, durante 1ª Conferência Nacional GLBT, quando
houve a troca do GLBT pelo LGBT.
1. REVISITANDO A HISTÓRIA
Apesar de existir diferença entre neutralidade e imparcialidade, principalmente
quando se produz pesquisas na área das Ciências Sociais; assim, este trabalho segue o que
aduz Geertz:
o acesso direto ou neutro ao ponto de vista nativo é inviável pois, o antropólogo
não pode se abster de suas pré-convicções, e que a compreensão se daria através
da articulação entre conceitos distantes (os dos nativos) e conceitos próximos (os
do antropólogo). (GEERTZ, 1974, p.32)
Esta fala de Ávila legitima as políticas públicas que em 2003 e 2008 introduziram nos
curriculos escolares da Educação Básica o ensino da História e Cultura Afro-ameríndia.
Eliade (1992) explica que podemos localizar pela primeira vez esta relação entre
história e o sagrado quando expõe a visão do historiador Heródoto:
Podemos localizar sua primeira manifestação na Grécia clássica, sobretudo a partir
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do século V. Esse interesse manifesta-se, por um lado, nas descrições dos cultos
estrangeiros e nas comparações com os fatos religiosos nacionais – intercalados
nos relatos de viagens – e, por outro lado, na crítica filosófica da religião tradicional.
Heródoto (c. 484-c. 425 a.C.) já apresentava descrições admiravelmente exatas de
algumas religiões exóticas e bárbaras (Egito, Pérsia, Trácia, Cítia etc.), e chegou até
mesmo a propor hipóteses acerca de suas origens e relações com os cultos e as
mitologias da Grécia. (ELIADE, 1992, p.6).
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Neste trabalho entende-se que a linguagem corrente assume o masculino como padrão hegemônico
perpetuando valores sexistas e discriminatórios. Por este motivo, dentro dos limites que a própria língua impõe,
procuramos utilizar uma “linguagem inclusiva”.
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O Estado ao tomar a iniciativa de elaborar o BSH, reconheceu a trajetória de milhares
de brasileiros e brasileiras que desde os anos 80 vêm se dedicando à luta pela garantia dos
direitos humanos dos homossexuais, este Programa é uma articulação bem sucedida e é
responsável por atitudes e comportamentos documentados na pesquisa Juventude e
sexualidade realizada pela UNESCO em 14 capitais em 2000, com 16.422 estudantes, 3.099
educadorxs e 4.532 pais e mães de alun@s de 241 escolas, onde: 27% d@s estudantes não
gostariam de ter homossexuais como colegas de classe; 35% dos pais e mães de alun@s não
gostariam que seus filh@s tivessem homossexuais como colegas de classe e; 15% d@s
estudantes consideram a homossexualidade uma doença. Esta Pesquisa por si só é de suma
importância para a causa GLBT, respaldando oficialmente as reivindicações, nesse rastro em
conjunto com o MEC nasceu o kit anti-homofobia, objeto desta nossa discussão.
Em 2009, nos mesmos moldes, foi publicado o estudo Revelando Tramas,
Descobrindo Segredos: Violência e Convivência nas Escolas, baseado em uma amostra de 10
mil estudantes e 1.500 professorxs do DF, apontando que 63,1% dos entrevistados alegaram
já ter visto pessoas que são (ou aparentam ser) homossexuais sofrerem preconceito; mais
da metade d@s professorxs afirmam já ter presenciado cenas discriminatórias contra
homossexuais nas escolas; e 44,4% dos garotos e 15% das garotas afirmaram que não
gostariam de ter colega homossexual na sala de aula.
Esta fala nos dá suporte para apresentarmos o presente estudo com a analise dos
pronunciametos de apenas um Parlamentar, no caso escolheu-se aquele com oratória mais
contundente; Jair Bolsonaro (PP/RJ); optamos em trabalhar com fragmentos de seus seis
pronunciamentos mais incisivos. para não nos tornarmos longos e repetitivos.
Assim, após o acompanhamento das atividades parlamentares do primeiro ano da
54ª Legislatura, (2011 a 2015), o contemplado para o presente estudo é o Deputado Jair
Bolsonaro:
Ex Militar formado pela AMAN, natural de Campinas - SP, Casado, tem 61 anos,
Capitão do Exercito Brasileiro, eleito com 120.646 votos, está no seu sétimo
mandato como Deputado Federal, já pertenceu ao Partido Democrata Cristão
(PDC), ao Partido Progressista Reformador (PPR), ao Partido Progressista Brasileiro
(PPR) atualmente faz parte dos quadros do Partido Progressista (PP) do Rio de
Janeiro, se diz Católico e que já pertenceu a Igreja Batista. (CÂMARA FEDERAL,
2011)
Estes pronunciamentos são muito bem trabalhados pela oratória e pela retórica, além
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de trazerem uma grande carga de fundamentalismo, sofismas, falácias, sarcasmo e até
mesmo teatro por parte de seu autor.
De posse deste material, possamos iniciar as analises que confirmarão ou não a nossa
hipótese levantada: o lobby político e religioso ameaça a laicidade do Estado Brasileiro
principalmente nas Políticas Públicas para a Diversidade.
Os fragmentos dos discursos analisados são apresentados a seguir nas figuras 2 e 3.
Figura 2
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vão a cata de assinaturas para suas proposituras, e a máxima do 'É dando que se recebe' é
comum nas trocas de assinaturas: fulano assina a propositura de beltrano se cicrano também
assinar...
"O Congresso é um balcão de negócios”, afirmou o Presidente Lula em depoimento
inédito gravado em 1997 e publicado por (NUNES, 2009) na Revista Veja, o Presidente
afirmou ainda: "o presidente é obrigado a negociar com os Judas do Parlamento”.
Figura 3
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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quando publicou o livro desativou o Blog)
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