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Gestão e Espiritualidade: pedalar é preciso

Com base na sua experiência de gestor de organizações religiosas em todos os níveis, o autor
percebeu a dificuldade de harmonizar as exigências da vida espiritual com as necessidades do
mercado. Tenta então, nesta obra, abordar de um modo geral os temas básicos com vistas a
superar a barreira existente entre gestão e espiritualidade, abrir uma porta, como diz, que
permita um desenvolvimento harmonioso das duas capacidades e exigências que se requerem do
gestor cristão.

Os quatro primeiros capítulos consistem numa iniciação à gestão e ao marketing, especialmente


em organizações de serviços. Fornece alguns conceitos-chave, voltados sobretudo para as
pessoas que não têm familiaridade com os termos nem com a lógica da ciência da gestão.

Por sua vez, partindo da constatação de que os administradores em geral pouco ou nada sabem
de espiritualidade, elabora dois capítulos em que trata de uma iniciação espiritual, levando em
conta, sobretudo, as características relevantes da espiritualidade para o nosso tempo. Um dos
problemas de gestão, particularmente grave no caso das organizações de Igreja, é a questão do
poder. O sétimo capítulo trata do assunto sob o ângulo do fascínio que exerce o poder,
especialmente religioso, e mostra a necessidade de se adotar um procedimento de serviço,
inspirado na figura de Jesus.

Nessa perspectiva, no capítulo final, sugere algumas orientações para as organizações que se
propõem a realizar mudanças, em vista de uma gestão mais profissional, sintonizada com a
espiritualidade, seguindo os oito passos propostos por John Kotter: estabelecer prioridades, criar
uma equipe capaz, desenvolver uma visão estratégica e ser capaz de comunicá-la a toda a
equipe. Em seguida, fortificar as bases, realizar e divulgar objetivos a curto prazo que vão sendo
conquistados, de forma a ir consolidando os ganhos e as mudanças, sem deixar de preparar
lideranças.

Quando eu era menino, queria muito andar de bicicleta. Mas, meus pais não me
permitiram, pois julgavam ser perigoso. Mais tarde, já com 20 anos de idade, durante
uma missão de férias no interior de Goiás, vi uma bicicleta e me deu vontade de
aprender. Ah, não foi fácil! Uma catequista me ajudou. Ela segurava a bicicleta por trás,
enquanto eu tentava me equilibrar. Então, me dizia: “Olhe para frente e vá pedalando”.
Depois de alguns tombos, deu certo. Percebi então que, na bicicleta, só se consegue o
equilíbrio em movimento.
Articular Gestão com Espiritualidade é como andar de bicicleta. Quanto mais cedo a
gente aprende, mais fácil se torna. Mesmo assim, trata-se de uma busca de constante
equilíbrio, que só se alcança quando em movimento.
“Gestão” se tornou uma palavra chave para organizações e grupos na sociedade
contemporânea. Não é mais algo restrito a empresas. O motivo é simples: a gestão ajuda
a alcançar resultados. Podemos definir “gestão” como a habilidade de liderar pessoas e
coordenar processos, em vista de resultados, para realizar a missão de um grupo
organizado. Trata-se de uma habilidade, ou seja, uma competência que se adquire e se
desenvolve. Ser gestor(a) é um aprendizado constante, que exige estudo, reflexão e
revisão da própria prática. Liderar pessoas significa envolvê-las de forma que assumam
a sua responsabilidade e se sintam estimuladas a dar o melhor de si. Coordenar
processos, por sua vez, quer dizer: estabelecer metas (aonde queremos chegar), tecer
estratégias, realizar atividades, avaliá-las e aprender com elas. Um “processo” é mais do
que fazer coisas, pois tem um começo, um meio e um fim, que se alimenta novamente e
impulsiona mudanças.
Quem está à frente de qualquer grupo eclesial é necessariamente um gestor(a). Pode ser
em uma paróquia, uma pastoral determinada ou uma comunidade. Ou então, em
instituição mais complexa, como escola, hospital ou rádio. Até a pouco tempo atrás, os
cristãos tinham a ilusão de que bastava boa vontade e muita fé para conduzir um grupo
ou uma organização da Igreja. Hoje, devido à exigência cada vez maior de qualidade, a
gestão se torna imprescindível. O amadorismo, ou seja, fazer as coisas de qualquer jeito,
sem processos, é um dos grandes limites na condução da ação pastoral da Igreja.
A espiritualidade é como a outra roda da bicicleta. Ela diz respeito às motivações mais
profundas que nos movem, ou seja, a paixão por Jesus Cristo e o Reino de Deus.
Cultivar a espiritualidade é alimentar esta sintonia com o Deus da Vida, que nos ama e
nos convoca para promover o Bem e espalhar sua Boa-Nova. Seguir a Jesus, como seus
primeiros discípulos, vivendo na sua presença, escutando seus apelos, recebendo seu
amor misericordioso: isso é espiritualidade para os cristãos.
Porque parece tão difícil pedalar esta bicicleta? Gestão e Espiritualidade não são rodas
iguais, nem do mesmo tamanho. Estamos lidando com realidades que têm linguagens,
lógicas, saberes e atitudes muito diferentes e que entram em conflito. Devemos aprender
a relacionar ambas, sem que uma tome o lugar da outra. Hoje temos a grande
oportunidade de articular gestão com espiritualidade. Uma organização cristã sem
gestão fracassa. E se lhe falta espiritualidade, esvazia-se. Perde sentido, mesmo que
tenha sucesso. A gestão ajuda a alcançar bons resultados. E a espiritualidade nos guia
para opções iluminadas, inspiradas no Evangelho. Nunca é tarde para aprender! Será um
exigente e prazeroso equilíbrio em movimento, como andar de bicicleta. Pedalar é
preciso!

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