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UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL

FACULDADE DE EDUCAÇÃO
GERAJU - EDUCAÇÃO E POLÍTICAS PÚBLICAS
GÊNERO, RAÇA-ETNIA E JUVENTUDE.

MARCUS ALBERTO MOURA MACIEL

MEMORIAL
“GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA”

Brasília – DF
2009
MARCUS ALBERTO MOURA MACIEL

MEMORIAL
“GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA”

Memorial apresentado ao Grupo de


Pesquisa em Educação e Políticas
Públicas: Gênero, Raça/Etnia e Juventude,
da Faculdade de Educação da
Universidade de Brasília (UnB), como
exigência parcial para conclusão do Curso
de Extensão GDE — Gênero e
Diversidade na Escola, sob a orientação
da Profª. MsC. Edileuza Penha de Souza

Brasília – DF
2009
"A principal meta da
educação é criar homens que sejam
capazes de fazer coisas novas, não
simplesmente repetir o que outras
gerações já fizeram. Homens que sejam
criadores, inventores, descobridores. A
segunda meta da educação é formar
mentes que estejam em condições de
criticar, verificar e não aceitar tudo que a
elas se propõe." (Jean Piaget)
AGRADECIMENTOS

Agradeço ao Grupo de Pesquisa em Educação e Políticas Públicas:


Gênero, Raça/Etnia e Juventude (GERAJU), da Faculdade de Educação da
Universidade de Brasília (UnB), a Escola de Aperfeiçoamento dos Profissionais
em Educação (EAPE) pela oportunidade de fazer o Curso de Extensão Gênero
e Diversidade na Escola, como forma de me capacitar para implantação das
diretrizes curriculares para educação das relações de gênero e étnico-raciais no
contexto escolar.

Agradeço de forma extremamente especial à professora-tutora e


hoje amiga Edileuza Penha de Souza, que me acompanhou durante esse
período do curso, sempre disposta a elucidar minhas indagações, dando
orientações e propondo outras reflexões pertinentes a análise das temáticas.

Agradeço, por fim, a tod@s e todos que sempre estiveram dispostos


a conversar comigo sobre essas temáticas de modo mais acadêmico,
principalmente, as minhas amigas e aos meus amigos.
No princípio era o ermo 1
No princípio criou Deus os céus e a terra2.
No começo não havia separação entre o Orum, o Céu dos orixás, e o Aiê, a Terra dos
humanos.3
No princípio era mais um Curso à distância...
Eram antigas solidões sem mágoa.
E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo...
Homens e divindades iam e vinham, coabitando e dividindo vidas e aventuras.
Eu, apenas um aluno, segundo Luckesi4: “sem luz”.
O altiplano, o infinito descampado
No princípio era o agreste:
E disse Deus: Haja luz; e houve luz.
E viu Deus que era boa a luz; e fez Deus separação entre a luz e as trevas.
E Deus chamou à luz Dia; e às trevas chamou Noite.
Conta-se que, quando o Orum fazia limite com o Aiê, um ser humano tocou o Orum
com as mãos sujas...
A ementa dizia ser a luz, o caminho sobre Gênero e Diversidade na Escola
O céu azul, a terra vermelho-pungente.
E o verde triste do cerrado.
Eram antigas solidões banhadas
De mansos rios inocentes
Por entre as matas recortadas.
O céu imaculado do Orixá fora conspurcado.
E disse Deus: Haja uma expansão no meio das águas, e haja separação entre
águas e águas. E fez Deus a expansão...E chamou Deus à expansão Céus...
O branco imaculado de Obatalá se perdera. Oxalá foi reclamar a Olorum.
Para nós educadores, professor@s e gestores agora teremos como mostrar
que os céus são para todos...
Não havia ninguém. A solidão
Mais parecia um povo inexistente
E disse Deus: Ajuntem-se as águas debaixo dos céus num lugar; e apareça a
porção seca; e assim foi. E chamou Deus à porção seca Terra; e ao
ajuntamento das águas chamou Mares...

1 Fragmentos da “Sinfonia da Alvorada”, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes.


2 Fragmentos do “Livro de Gênesis” da Bíblia Sagrada (Velho Testamento).
3 Fragmentos do epÍlogo do livro, “Mitologia dos Orixás”, págs. 524-528 Reginaldo Prandi.
4 Luckesi Cipriano Carlos É Licenciado em Filosofia pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, da Universidade Católica do
Salvador, Bahia (1970), Bacharel em Teologia pela Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (1968), Mestre em Ciências Sociais pela Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, da Universidade Federal
da Bahia (1976) e Doutor em Educação: História, Política, Sociedade pelo Programa de pós-graduação da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (1992). Atualmente é professor pós-aposentado da Faculdade de Educação, da Universidade Federal da Bahia.
Tem 12 livros publicados, além de muitos artigos em revistas especializadas. Atualmente, juntamente com a Profª. Cristina D'Ávila,
coordena o GEPEL (Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação e Ludicidade), dentro do Programa de Pós-Graduação em Educação
da FACED/UFBA.
Olorum, Senhor do Céu, Deus Supremo, irado com a sujeira, o desperdício e a
displicência dos mortais, soprou enfurecido seu sopro divino e separou para sempre o
Céu da Terra.
Seria o fim do sofrimento para aqueles, que trazidos de além mar foram
escravizados e ainda hoje são discriminados pela cor da pele, pelo gênero, pela
orientação sexual, enfim, os diferentes.
Dizendo coisas sobre nada.
Sim, os campos sem alma
Pareciam falar, e a voz que vinha
Das grandes extensões, dos fundões crepusculares
Nem parecia mais ouvir os passos
E disse Deus: Haja luminares na expansão dos céus, para haver separação
entre o dia e a noite; e sejam eles para sinais e para tempos determinados e
para dias e anos. E sejam para luminares na expansão dos céus, para iluminar
a terra; e assim foi. E fez Deus os dois grandes luminares: o luminar maior para
governar o dia, e o luminar menor para governar a noite; e fez as estrelas.
Assim, o Orum separou-se do mundo dos homens e nenhum homem poderia ir ao Orum
e retornar de lá com vida.
Como “luminares” de educandos vamos juntos formar e informar cidadãos
conscientes das diferenças...
Dos velhos bandeirantes, os rudes pioneiros
Que, em busca de ouro e diamantes,
Ecoando as quebradas com o tiro de suas armas,
A tristeza de seus gritos e o tropel
De sua violência contra o índio...
Do novo teto do mundo, do planalto iluminado
Partiram também as velhas tribos malferidas
E as feras aterradas.
E só ficaram as solidões sem mágoa
E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa
semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e
sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a
terra.
E os orixás também não podiam vir à Terra com seus corpos.
E a esse homem foram designado substantivos...um pelo “acaso” como dizem
os Historiadores...“índio” para os nativos do novo continente, que o branco
também escravizou e ainda sofre discriminação nos nossos dias.
O sem-termo, o infinito descampado
Onde, nos campos gerais do fim do dia
Se ouvia o grito da perdiz
A que respondia nos estirões de mata à beira dos rios
O pio melancólico do jaó.
E vinha a noite. Nas campinas celestes
Rebrilhavam mais próximas as estrelas
E o Cruzeiro do Sul resplandecente
E criou Deus o homem à sua imagem: à imagem de Deus o criou; homem e
mulher os criou. E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-
vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as
aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra. E a todo o
animal da terra, e a toda a ave dos céus, e a todo o réptil da terra, em que há
alma vivente, toda a erva verde será para mantimento; e assim foi.
Agora havia o mundo dos homens e o dos orixás, separados.
Isoladas dos humanos habitantes do Aiê, as divindades entristeceram.
Os orixás tinham saudades de suas peripécias entre os humanos e andavam tristes e
amuados.
Foram queixar-se com Olodumare, que acabou consentindo que os orixás pudessem vez
por outra retornar à Terra.
Para isso, entretanto, teriam que tomar o corpo material de seus devotos.
As leituras atentas durante a madrugada eram seguidas de demoradas
reflexões, de que adiantava textos enxutos e toda uma dinâmica de
aprendizagem através dos fóruns, encontros presenciais e a orientação precisa
da Tutora com uma coordenação certeira da equipe organizadora se não fosse
para colocar em prÁtica?
Sobre a noturna mata do cerrado
Para abençoar o novo bandeirante
O desbravador ousado
O ser de conquista

O Homem!

E, enquanto os homens tocavam seus tambores, vibrando os batás e agogôs, soando os


xequerês e adjás, enquanto os homens cantavam e davam vivas e aplaudiam, convidando
todos os humanos iniciados para a roda do xirê, os orixás dançavam e dançavam e
dançavam.

Sim, era o Homem,

Tempos antes Oxum, que antes gostava de vir a Terra brincar com as mulheres,
dividindo com elas sua formosura e vaidade, ensinando-lhes feitiços de adorável
sedução e irresistível encanto, recebeu de Olorum um novo encargo: preparar os mortais
para receberem em seus corpos os orixás.

... Era finalmente, e definitivamente, o Homem.

E porque não a MULHER? Tem que ser o HOMEM? E não me venham com
esse discurso de que quando fala em HOMEM refere-se ao humano...há
tempos sutiãs foram queimados...Salve o Feminismo! Abaixo o Machismo e a
Homofobia!

VIVE LA DIFFÉRENCE!!!
PRIMEIRA SEMANA
SEMANA DE AMBIENTAÇÃO E APRESENTAÇÃO

Todo material preparado, quando recebi o email comunicando a


confirmação da minha inscrição já me considerei um vitorioso. Embora a
plataforma desde o inicio tenha me pregado algumas peças...Eu via todas as
tutoras e todos os cursistas, mas não conseguia me fazer ver.

O presente Curso: Gênero e Diversidade na Escola nasceu de


uma iniciativa da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres
(SPM) e do Conselho Britânico em parceria com a Secretaria de
Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD-MEC),
a Secretaria de Ensino a Distância (SEED-MEC), a Secretaria
Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) e
o Centro Latino Americano em Sexualidade e Direitos Humanos
(CLAM), além das secretarias de educação, as coordenadorias da
mulher e os movimentos sociais dos estados e dos municípios
participantes. O Curso Gênero e Diversidade na Escola integra a
orientação geral do governo federal, que a partir de 2003, criou
secretarias voltadas para o reconhecimento da diversidade, a
promoção da igualdade e o enfrentamento do preconceito e de
todas as formas de discriminação. Entre os objetivos destas
secretarias inserem-se: acompanhar e coordenar as políticas
publicas para a promoção da igualdade e o enfrentamento das
desigualdades e das violações aos direitos; articular, promover e
acompanhar a execução de diversos programas de cooperação
com organismos públicos e privados, nacionais e internacionais.
A participação de cada um/a dos/das cursistas nesta versão de
2008 contribuirá para que novas realidades e situações sejam
incorporadas ao Curso, favorecendo o aprimoramento dos
materiais e colocando cada um/uma de nós mais próximo/a de uma
educação de qualidade para todos e todas.5

Tive o prazer de receber um segundo email de boas vindas da minha


tutora. Que no meio das orientações trazia sempre os fluidos positivos da boa
convivência.

Edileuza Penha de Souza - domingo, 17 maio 2009, 19:20


Sejam bem vind@s
Primeiramente quero dar as boas vindas a tod@s vocês. Tenho
certeza que o curso “Gênero e diversidade na escola” é uma das
possibilidades para construirmos uma escola mais justa e
acolhedora, que respeite às diferenças e às diversidades.
Sou uma mulher negra, feminista, mãe, atualmente professora da
UnB com a disciplina “Cinema Negro” e professora do GDF no CEF
104 Norte, onde leciono história.
Gosto muito de música, cinema, ler, escrever, dar aulas e conhecer
pessoas e lugares; Também adoro não ter que fazer nada (risos...).

5 Adaptação do texto introdutório do presente curso.


Bem professores e professoras é isso, aos poucos vamos nos
conhecendo. Neste primeiro fórum gostaria que vocês se
apresentassem dizendo também o que motivou a se inscreverem
nesse curso. Depois, cliquem na abertura do curso, pois lá
conhecerão as orientações metodológicas para realizar o curso.
Caso tenham alguma dúvida, entrem em contato comigo, estarei
sempre à disposição. Lembre-se que o curso à distância requer de
cada um de nós disciplina e determinação, portanto, a partir de
agora, tente organizar seu tempo e a falta dele para realizações
das leituras e do cumprimento das tarefas. Por hora é isso, espero
vocês aqui.
Mais uma vez, sejam bem vind@s e um excelente curso para todos
nós.
Um abraço, axé e luz!
Edileuza

Uma semana de acertos, troca de senhas e finalmente foi possível, o


primeiro contato. Tive a sensação que certamente envolve os sertanistas
quando fazem o primeiro contato com “tribos isoladas”.6

ALELUIA AGORA POSSO DESEJAR AS BOAS VINDAS


Marcus Maciel - sábado, 23 maio 2009, 00:12

Olá, sou o MARCUS MACIEL, professor da Secretaria de Estado de Educação


do DF, atualmente "estou" Diretor eleito do Centro de Ensino Fundamental
Mestre D'Armas no Vale do Amanhecer em Planaltina DF. Possuo duas
graduações,
Estudos Sociais (Licenciatura curta com habilitação para História) e Geografia
(Licenciatura Plena), ambas no UNICEUB, fiz Pós Graduação em Educação
Ambiental a distância no SENAC, defendendo a monografia: A inclusão do
Portador de Necessidades Especiais e a prática da Educação Ambiental. Sou
Educador por escolha, e tenho realizado nestes quase 20 anos de profissão
trabalhos voltados para alunos com necessidades educacionais especiais, por
ter sido escolhido pelos céus para acolher uma dessas criaturinhas. Tenho 47
anos, sou paraibano de nascimento, nasci em João Pessoa, mas vim para o
Planalto Central com menos de um ano de idade. Sou separado há 13 anos
após um casamento de 8 anos. Hoje moro com meu companheiro também
professor. E junto com ele e alguns amigos fundamos uma ONG cidadã, o
ISDEL - Instituto Ser Diferente É Ser Legal (www.isdel.org.br), Participei do
Curso AFRICANIDADES. promovido pelo MEC/UNB. Ser EDUCADOR para
mim não tem preço, sou daqueles que ainda acredita na transformação de um
povo através da educação. Neste Curso estou disposto a mais uma vez seguir

6 Refere-se aos povos indígenas, que desde a época do Descobrimento, mantiveram-se afastados de todas as transformações
ocorridas no País. Eles mantêm as tradições culturais de seus antepassados e sobrevivem da caça, pesca, coleta e agricultura
incipiente, isolados do convívio com a sociedade nacional e com outros grupos indígenas. Os índios isolados defendem bravamente
seu território e, quando não podem mais sustentar o enfrentamento com os invasores de seus domínios, recuam para regiões mais
distantes. Pouca ou nenhuma informação se tem sobre eles e, por isso, sua língua é desconhecida. Entre eles, a demarcação das terras
onde vivem e a proteção ao meio ambiente, de forma a garantir sua sobrevivência física e cultural. No processo de ocupação dos
espaços amazônicos, o conhecimento e o dimensionamento das regiões habitadas por índios isolados são fundamentais para que se
possa evitar o confronto e a destruição desses grupos. Há na FUNAI, desde 1987, uma unidade destinada a tratar da localização e
proteção dos índios isolados, cuja atuação se dá por meio de sete equipes, denominadas Frentes de Contato, atuando nos estados do
Amazonas, Pará, Acre, Mato Grosso, Rondônia e Goiás. Disponível em: http://www.funai.gov.br, acesso em 20 de agosto de 2009.
o lema que a grande poetiza deixou: FELIZ AQUELE QUE APRENDE
ENSINANDO (Cora Coralina). Com relação ao ALELUIA é que o sistema não
estava me aceitando...rsrsrsrs coisas da informática. Como dedicado historiador
que sou, tenho estudado a Mitologia Afro-brasileira tentando traçar um
denominador comum com a Mitologia Greco-romana. Desejo a todos em
especial a nossa tutora Edileuza que tenhamos uma convivência salutar no
decorrer desse curso.

SEGUNDA SEMANA
MODULO 1 DIFERENTES MAS NÃO DESIGUAIS VIVA A DIFERENÇA
APRESENTAÇÃO

É indubitável o fato de que nós, brasileiros, vivemos numa sociedade


complexa, plural, diversa e desigual. A nossa diversidade e pluralidade,
contudo, não se exibe só através das diferentes culturas constituintes da
população. A nossa diversidade se expressa na marcante desigualdade social
brasileira, seja entre ricos e pobres, entre brancos e negros ou índios, seja,
enfim, entre os poucos que usufruem da cidadania plena e os integrantes de
uma significativa parcela da população que tem sido sistemática e
historicamente empurrada para as suas margens.

A nossa diversidade se manifesta nas tensões resultantes dessa


desigualdade, que explodem em conflitos sociais. Expressa-se,
consequentemente, na organização popular para a conquista de direitos.

A consciência da necessidade de afirmação é crescente, como revela,


entre outros, a progressiva organização dos povos indígenas, e a organização,
a luta e as proposições das entidades e grupos do Movimento Negro. São
intensas as reivindicações atuais pelo respeito à diferença, como as de gênero,
de opção sexual, a dos portadores de necessidades especiais etc.

Como educadores que somos, é nossa responsabilidade promovermos


as políticas educacionais no Brasil, não podemos nos eximir da tarefa, no
contexto de nossas responsabilidades, de construção de um Brasil mais justo,
mais solidário, mais fraterno e mais democrático.
E, é no Livro: Diversidade na educação: reflexões e experiências, que
vamos encontrar o porto seguro para ancorar nossa nau de inquietudes sobre
diversidades e discriminação no ambiente escolar, senão vejamos:

As desigualdades sociais, culturais, econômicas e raciais


encontram-se refletidas, como se sabe, no sistema educacional
brasileiro. O pertencimento racial, em especial, foi e é central na
definição e na construção dessa desigualdade.
Replicando os mais de trezentos e cinqüenta anos de
trabalho escravista, o negro na sociedade brasileira continua sendo
alijado da participação digna, democrática e cidadã e, portanto, da
educação formal desse País. Assim, não obstante o aumento
progressivo da escolaridade média da população brasileira em
geral ao longo do século XX, a diferença entre a escolaridade dos
jovens brancos e negros continua a mesma vivida pelos pais e
avós desses jovens.
Apesar, também, por exemplo, dos esforços e lutas para
tornar realidade uma educação escolar indígena, específica e de
qualidade, muito ainda precisa ser feito para que os sistemas de
ensino considerem a dimensão da identidade cultural e do
problema da relação hierarquizada entre as sociedades indígenas
e a sociedade nacional, de forma a encampar e a ajudar a construir
uma escola indígena que seja promotora da autonomia e da defesa
dos povos indígenas.
Este livro reúne trabalhos apresentados no I Fórum Nacional
Diversidade na Universidade, promovido pela Secretaria de
Educação Média e Tecnológica, do Ministério da Educação
(SEMTEC/MEC), realizado de 10 a 13 de dezembro de 2002, em
Brasília, com o objetivo de coletar sugestões sobre as questões da
inclusão social e da diversidade étnico-racial, a partir de reflexões
feitas por estudiosos no assunto.
Pelo valor das contribuições e pela riqueza dos debates,
avaliamos que a publicação dos textos que embasaram a
participação de intelectuais e militantes dos movimentos negro e
indígena, naquele momento, seria uma atitude ética e política de
nossa parte, expressando, assim, a determinação de
consolidarmos uma política de inclusão étnico-racial na educação.
Apresentamos, então, o livro: "Diversidade na Educação:
Reflexões e Experiências", que somar-se-á à importante
bibliografia referente ao tema da diversidade étnico-racial.7

SEGUNDA SEMANA
MÓDULO 1 – DIVERSIDADE
OBJETIVOS

Neste Módulo era a pretensão da Coordenação ampliar o nosso olhar


sobre a riqueza da diversidade do Brasil, explicitando que falar de diversidade
não é falar apenas de um “outro” ou “outra” distante e exótico/a aos nossos
olhos. Falar de diversidade é falar de nós mesmos/as, da nossa relação com
aqueles e aquelas que são diferentes de nós. Sendo assim, é foco deste
Módulo refletir o quanto a diferença e a diversidade podem servir para distinguir
os grupos, para separar, para discriminar ou segregar.

Em coerência com os objetivos e com o nome do curso, “Gênero e


Diversidade na Escola”, estudaremos várias correlações entre gênero e
sexualidade, gênero e orientação sexual, gênero e etnia, gênero e relações
raciais, perpassando, sempre, pelas relações que se dão dentro da escola.

SEGUNDA SEMANA
MÓDULO 1

7 Fragmentos da Apresentação do Livro Diversidade na educação: reflexões e experiências Diversidade na educação: reflexões e
experiências / Coordenação: Marise Nogueira Ramos, Jorge Manoel Adão, Graciete Maria Nascimento Barros. - Brasília: Secretaria
de Educação Média e Tecnológica, 2003. 170 p.
CONHECIMENTOS PRÉVIOS

A cada enunciado da estrutura do curso, nós deparávamos com


questões bem formuladas e bem amarradas com a ementa, com certeza a
estratégia visava ao meu ver manter acessa as nossas “lamparinas” da
curiosidade. Cabe ilustrar:

Será que o que você considera como “diversidade” realmente o é?


Preconceito é sinônimo de discriminação? Organize os
conhecimentos que você tem sobre diferenças, preconceitos e
discriminações, igualdade de direitos e a relação da escola com
esses temas e o que você gostaria de saber em relação a esses
assuntos. Registre neste Diário. Para estimular sua lembrança,
observe em sua volta. Quais diferenças chamam sua atenção?
Escolha dois grupos sociais distintos do seu. No que eles são
diferentes? Reflita sobre como a sociedade, em geral, lida com
essas diferenças. Como os membros desses grupos são vistos, ou
seja, o que dizem deles? Eles estão representados nos diferentes
meios de comunicação social? Eles pertencem a grupos,
organizações ou movimentos? Quais as reivindicações de seus
grupos, organizações ou movimentos? Você conhece alguns
direitos garantidos por lei a esses grupos? Quais? Quando você for
aos textos que fornecem embasamento teórico para o tema
“Diversidade”, procure ter em mente as dúvidas e interesses que
terá indicado aqui. É importante que você busque, nos textos,
respostas, indicações ou caminhos para suas próprias questões.8

Objetivava este primeiro Módulo apresentar conceitos essenciais para o


estudo da diversidade: cultura, diversidade cultural, etnocentrismo, estereótipo,
preconceito, discriminação, respeito e valorização da diversidade, entre outros.

Esses conceitos fornecem o instrumental analítico básico para abordar


as temáticas de gênero, sexualidade e relações étnico-raciais na escola, que
serão tratadas no decorrer do curso.

Para aqueles que estão tendo a oportunidade de ver essa massa


conceitual pela primeira vez, a surpresa é grande, porque as vezes simples
rodas de piadas no bar ou em reunião familiar estão impregnadas de
discriminação ao negro, a loiras, a homossexuais, português etc sem darmos
conta estarmos difundindo no nosso dia-a-dia atitudes politicamente não
corretas.

Estas atitudes repugnáveis é verdade, encontram suas origens na falta


de políticas públicas inexistentes em nosso País para todo tipo de discriminação
até pouco tempo atrás.

É muito novo para nós a preocupação governamental com a


discriminação ao negro, ao índio, a mulher, e mais recentemente aos

8 Enunciado da aba das primeiras anotações de “Conhecimento Prévios”.


homossexuais, com certeza essas políticas públicas são frutos dos mais
diversos movimentos sociais que tivemos a oportunidade de ver nascerem após
o fim do período de exclusão que vivemos entre 1964 e 1985 com a
convocação pelo Presidente Sarney da Assembléia Nacional Constituinte.
SEGUNDA SEMANA
MÓDULO 1
FORUM

Sempre atenciosa, nossa tutora trazia indagações muito pertinentes a


temática do Curso Gênero e Diversidade na Escola, algumas dessas
indagações faziam com que meu pensamento vaga-se no meu passado e
trouxesse respostas a perguntas ainda em aberto.

Edileuza Penha de Souza - segunda, 1 junho 2009, 13:45


Prezad@s Professores e professoras,
Embora estejamos na terceira semana, muitos ainda não
realizaram as tarefas da diversidade.
Além disso, há ainda aquel@s que não completaram devidamente
seu perfil! Assim, não percam tempo e não deixem para depois.
Por favor, leiam o texto Educação e Diversidade Étnico-Cultural, de
Nilma Uno Gomes, que se encontra no livro neste módulo de nossa
plataforma. Espero que o encontro presencial tenha apontado
possibilidades para nossas discussões. Após a leitura, gostaria que
vocês me respondessem as questões abaixo. Antes de ler o texto,
o que você entendia por Diversidade? E após ler o texto, o que
mudou na sua concepção? Dê ao menos dois exemplos de
situações escolares nas quais você já se deparou com situações
de diversidade. Explique como reagiu e diga se reagiria de outra
forma após ler o texto.
Axé e Luz!
Edileuza

Marcus Maciel - quarta, 27 maio 2009, 06:17


Na madrugada lendo e fazendo as tarefas do nosso curso, ouço na TV um
programa tipo “tele-aula”, que tratava sobre desemprego. São apresentados os
seguintes dados: Em março/09, o IBGE constatou que os trabalhadores pretos
ou pardos representam 50,3% da população desocupada, ainda que
signifiquem 45,3% do total da população em idade ativa, nas seis regiões
metropolitanas pesquisadas. Mas há um aumento de postos de trabalhos
assumidos por negros e pardos principalmente na cozinha, na construção civil
(pedreiros e auxiliares de pedreiros), serviços domésticos (casas de família) e
serviços gerais (limpeza). Outra informação era que a baixa escolaridade ou
nenhuma foi o fator decisivo para negros e pardos assumirem estes postos de
trabalho. Sem dúvida são dados tristes, mas que representam uma realidade
apesar da abolição da escravatura já ser centenária. Voltando ao texto
Educação, diferença, diversidade e desigualdade Sérgio Carrara, temos
acesso a dados ricos trazidos a tona num texto leve e bastante direto que
fazem retornarmos a sala de aula como “alunos” nas nossas quinta/sexta series
e novamente me ocorrem que as mudanças para a população negra/parda
andam de quelônio. Bom vou refletir um pouco mais...até breve

Marcus Maciel - domingo, 31 maio 2009, 08:36


Querida Tutora, colegas Andreia e Maria Terezinha
É sabido que educar é um processo lento e continuado.
Nossos alunos chegam à escola cheios de conceitos pré concebidos no seio de
cada uma de suas famílias e/ou comunidade.
Assim, se conseguirmos que ele aceite o diferente já será uma vitória. Porque
discriminação todos nós cometemos uns em maior escala outros em menor.
Por mais excêntrico que pareça ainda ouço dos pais de meus alunos
afirmações desse tipo: “... Diretor, eu espero que o senhor fique aqui na
escola até minha filha terminar o ginasial para ela ter condições de
arrumar um bom marido: estudado, com um bom emprego, de preferência
público e quem sabe até consiga limpar a raça...”
Façamos uma rápida analise do pensamento desse pai
a) Condição para a filha casar = terminar o ginasial.
b) Com o ginasial completo a filha terá como arrumar um = bom marido
c) O que é um bom marido = um rapaz estudado (agora o ginasial passa a não
ser estudo), bem empregado (e o emprego público ainda é o desejado) e
branco (apesar de não ter verbalizado a etnia branca, ela está claramente
subentendida, porque no inconsciente desse pai ser afro-descendente é algo
impuro, sujo)
E por mais que eu explique; que raça(*) não se limpa, nem usando “cândida”
(e será que usando esse apelido para água sanitária não estaria eu cometendo
discriminação?) para esse pai que desde sua tenra infância ouve falar que a
raça branca é a mais pura, no seu intimo, sua filha não poderá passar adiante
seus traços afros sob pena de manter “suja” a família. São conceitos que estão
impregnados talvez até na alma desse pai e que levaremos um bom tempo para
extrair.
Espero ter contribuído.

(*) Considerando as doutrinas racistas totalmente destituídas de base científica, a UNESCO desde a década
de 60 recomendou o abandono da palavra raça no meio científico e o uso de designações menos
discriminatórias. Desde então, o termo grupo étnico tem sido empregue para referir situações de grupos
sociais minoritários, que são percebidos e classificados em função da sua diferenciação cultural face aos
padrões estabelecidos pela cultura dominante. (UNESCO 1960/1973). Le racisme devant la science. Paris:
Gallimard.

Tive poucas oportunidades de interagir com os colegas durante o curso,


uma dessas poucas ocasiões foi com a colega Suzana que apreensiva com um
dos meus relatos, não se conteve e interagiu com minha pessoa e vale o
registro de tal interação:

Suzana Cristina Macedo de Melo - domingo, 31 maio 2009, 12:21


Olá Marcus Maciel, achei muito interessantes as suas colocações.
Realmente me impressiona o fato de que nos dias de hoje ainda
haja pessoas com o tipo de pensamento como o do pai que você
citou. Dias atrás, um homem que realizava um serviço em minha
casa mencionou que não gostava de preto. Quis iniciar uma
conversa com ele sobre o assunto, mas sinceramente achei que
não ía dar em nada, talvez por descrença quanto a mudanças, por
ver que tanto tempo se passou e a discriminação racial ainda é tão
latente. Essa não foi a postura correta, pois enquanto professores
e cidadãos, independentemente de estarmos em nosso local de
trabalho ou não, temos o dever de disseminar idéias quanto à
valorização das diferenças. Esse curso está me dando uma injeção
de ânimo e desejo que quando acontecer novamente outras
situações como essas, eu esteja de fato munida com poderosas
ferramentas para ajudar a combatê-las.

Atenta as nossas intervenções a tutora Edileuza sempre analisava-as com


primor, fazendo colocações pertinentes e que enriqueciam o curso.

Edileuza Penha de Souza - segunda, 1 junho 2009, 01:17


Oi Marcus,
Eis ai o nosso desafio, de modo algum acredito que esse pai é
racista ou preconceituoso, pois com certeza o que falta é a
informação. Veja, somente sonhamos com aquilo que de algum
modo conhecemos, esse é o mundo dele, então me parece que ele
deseja o "melhor" para sua filha. Você está coberto de razão em
cada linha descrita. No entanto, acredito que o espaço da escola
possa ser o território das mudanças, das possibilidades de que sua
filha continue os estudos, que deseje entrar na universidade, que
sonhe ter uma profissão e ainda se reconheça como uma mulher
negra e linda.
grande abraço
Axé e luz!
Edileuza

Marcus Maciel - domingo, 7 junho 2009, 17:46


Tutora Edileuza e demais Coleg@s
O material disponibilizado na unidade da segunda semana é bastante rico sem
dúvida, dizer que nada acrescentou seria uma grande falácia, do tipo: ser a
mesma pessoa ao chegar do outro lado do rio, pois se em nada a travessia
acrescentou ao menos saí molhado.
Com toda a minha história de vida, desde muito cedo tive a oportunidade de
conviver com a diversidade, e não essa diversidade teórica, que muitos só
vêem nos livros, mas sim com a diversidade do dia-a-dia, momentos
enfrentando-a pessoalmente outros, vendo na minha família e nos meus alunos.
Vejamos:
Nasci em uma tradicional nordestina. Por parte de Pai, neto de Delegado e
militar com família extremamente conservadora com descendência européia
(portuguesa, espanhola e italiana) e donos de alguma posse. Por parte de Mãe,
família simples, com avô motorista de ônibus e caminhão e avó bordadeira. Fui
criado por meus avôs maternos aqui em Brasília. Meu padrinho dirigiu muito
caminhão na época da construção de Brasília, nossa casa mesmo ficava em
cima de um desses, depois arranjou um emprego como motorista na
Embaixada Americana. Minha avó foi camareira do Brasília Palace Hotel, vindo
depois a ser funcionária do TSE, graças a seu modo expansivo e ter tido a
coragem de pedir ao presidente JK algo melhor.

No prédio, entre os colegas; pois fomos morar em um apartamento do DASP;


viam-me como metido porque tinha brinquedos que levariam anos pra chegar
ao Brasil, até as “bilocas” eram diferentes, daquelas grandes e coloridas.com
aquele monte de brinquedos importados, e haja discriminação, bullying 9 etc..
Em casa, na convivência diária com minha bisavó, uma mameluca10; típica
representante da miscigenação brasileira resultante da união de um português
com uma índia, porém altamente racista, ouvia que “neeegros” só prestavam
pra ser “piniqueiras”.

Na escola, lembro que meu avô me levava sempre com carros diferentes;
daqueles americanos que precisavam de um posto de gasolina a reboque; o
que fazia com que ouvisse comentários que era rico porque cada dia um carro
diferente me deixava na escola, isso me causava certo constrangimento...
Devido minha alta miopia usava óculos, “fundo de garrafa” e tinha jeito de “cdf”
Um aluno dedicado e estudioso frequentava a Igreja dos Mórmons, era
escoteiro, colecionava selos e era radioamador.

Na Igreja, (dos Mórmons), aprendia na escola dominical que “Deus” como


forma de castigo a Caim por este ter assassinado seu irmão Abel, escureceu
sua pele para que ele nunca esquecesse que tinha cometido um dos pecados
capital, assim os descendentes de Caim não poderiam receber o sacerdócio;
depois a Liderança da Igreja reviu esse dogma, liberando os afro-descendente
de receberem o sacerdócio.

Na família, com o nascimento de minha sobrinha com tetraplegia neonatal, não


rara às vezes passeando com ela no shopping, vi as crianças correrem pra
brincar com ela (gente! criança não tem malícia.) e as mães dessas crianças
rapidamente aparecerem com cara de nojo e falarem pra seus filhos ficarem
longe para evitar contato com a baba da minha sobrinha pra não pegarem a
doença dela.

Na ONG, (ISDEL), tive a oportunidade de vivenciar o comentário de uma mãe


após perguntar se suas filhas podiam participar dos comerciais de lançamento
do ISDEL, – “Pode sim, o senhor só avisa antes que é prá eu levá-las no salão
pra fazer uma escovinha.” Foi surpresa pra mãe quando informei que queria as

9 O termo BULLYING compreende todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação
evidente, adotadas por um ou mais estudantes contra outro(s), causando dor e angústia, e executadas dentro de uma relação desigual
de poder. Portanto, os atos repetidos entre iguais (estudantes) e o desequilíbrio de poder são as características essenciais, que tornam
possível a intimidação da vítima. Por não existir uma palavra na língua portuguesa capaz de expressar todas as situações de
BULLYING possíveis, o quadro, a seguir, relaciona algumas ações que podem estar presentes: Colocar apelidos, Ofender, Zoar,
Gozar, Encarnar, Sacanear, Humilhar, Fazer sofrer, Discriminar, Excluir, Isolar, Ignorar, Intimidar, Perseguir, Assediar, Aterrorizar,
Amedrontar, Tiranizar, Dominar, Agredir, Bater, Chutar, Empurrar, Ferir, Roubar, Quebrar pertences. Disponível em:
<http://www.bullying.com.br/BConceituacao21.htm#OqueE> acesso em 02/06/2009.
10 Miscigenação Brasileira MAMELUCO - Originou-se da união entre os colonizadores portugueses e os indígenas. Essa união
tornou-se comum no século XVI, poucos anos após a chegada dos portugueses ao Brasil. Sua pele é escura, mas não tanto quanto a
dos mulatos e a dos cafusos. MULATO - É originário da união entre o branco e o negro. O mulato era bastante comum em Minas
Gerais, na época da exploração do ouro, nos séculos XVIII e XIX. Com o tempo, também era muito encontrado em outras regiões do
país. Geralmente sua pele é escura, assim como seus olhos. CAFUSO - Surgiu como resultado da união entre índios e os negros
africanos que vieram para o Brasil. Foi também na época da mineração, em Minas Gerais, que houve maior mistura entre os povos
negros e indígenas. Sua pele geralmente é mais escura que a do mulato. Disponível em:
<http://www.terrabrasileira.net/folclore/origens/origens.html>acesso em 02/06/2009.
filhas dela com as miçanguinhas no cabelo, que não precisava levá-las no salão
bastava fazer aquele penteado. VEJAM O VIDEO (Não consegui fazer igual a
nossa colega) http://www.youtube.com/watch?v=XNoDY8Eo-Dg

No trabalho, primeiro como contrato temporário da FEDF11, sempre era visto


com certa diferença primeiro: quando ainda não havia assumido minha
homossexualidade, chegando a ouvir de uma colega no CEF 15 da Ceilândia se
eu era “delicadinho” somente pelo fato de ter sido criado pela minha avó ou se
eu era “frutinha” mesmo? Depois já como efetivo da Secretaria de Estado de
Educação do GDF e com a homossexualidade às claras, em pleno estágio
probatório ouvi de um Assistente Administrativo que eu seria muito melhor se
não fosse gay. Sem contar o fato que já relatei do pai de minha aluna e vários
que certamente estarei a relatar no decorrer do curso.
O ser igual é uma grande utopia, que foi amplamente divulgado e procurado por
Hitler num passado recente, fora disso tudo é DIVERSIDADE.

No decorrer do curso algumas vezes me empolgava com os relatos e na


tentativa de ser o mais real possível os deixava longos em demasia, mas no
meu consciente tenho a tranquilidade de estar oferecendo o meu “Melhor
Possível”12, como bom lobinho13 que fui na infância.

Marcus Maciel - segunda, 8 junho 2009, 01:53


Querida Tutora, Andréa e demais Coleg@s
O conceito pré-concebido ou simplesmente pré-conceito está tão presente e
enraizado em nossa sociedade que ao procurarmos um dicionário que por si só
representa a imparcialidade acadêmica deparamos com a descriminação já na
definição de cada um dos verbetes a seguir:
Heterossexualismo sm (heterossexual+ismo) Inclinação sexual normal pelo
sexo oposto. (grifo meu)
Homossexualismo sm (homossexual+ismo) Prática de atos homossexuais.
Ora, se o heterossexualismo é a inclinação normal pelo sexo oposto, o
homossexualismo seria a inclinação anormal pelo mesmo sexo, mas as
barbaridades não param ai. Senão vejamos as explicações que encontramos
para o sufixo ismo:
Em cristianismo, budismo, islamismo, judaísmo, zoroastrismo e hinduísmo, nós
temos o sufixo "ismo" que é de origem grega, "ismó", designando um conjunto
de crenças ou doutrinas de um determinado grupo, podendo ser de linha
escolar, religiosa, filosófica, teatral, política e musical.
O sufixo "ismo" gera algumas confusões, em medicina ele tem uma conotação
patológica, doença. No dicionário Houaiss, temos essa explicação: “... usado
para falar de uma intoxicação de um agente obviamente tóxico", também nos
remete a problema, uma disfunção. “Isso leva algumas pessoas a terem a
péssima compreensão desse sufixo em nomes religiosos, os mais perversos,
acabam fazendo essa analogia com a outra e por preconceito acabam

11 Fundação Educacional do Distrito Federal.


12 Saudação do Ramo Lobinho uma das divisões do Escotismo. Notas do autor.
13 Ramo Lobinho Programa do Escotismo aplicado a criança de 7 a 12 anos, preparando-a para que, ao atingir a idade e as condições
necessárias, prossiga sua formação, no Ramo Escoteiro. O Ramo Lobinho é inspirado na obra O LIVRO DA JÂNGAL, de Rudyard
Kipling, resumido em MOWGLI, O MENINO LOBO. Notas do autor
acusando os crentes de tais religiões de “doentes de deus”, já que para eles
sua raiz 'vocabólica' os condena".
Em parte essa confusão ocorre devido a uma discussão que atingiu todas as
esferas da sociedade: Homossexualismo: é uma doença ou um modo de ser?
Se for uma doença, o sufixo está sendo usado corretamente, essa é a crença
de muitos líderes religiosos nas principais religiões abraâmidas (descendentes
de Abraão), que o "homem homossexual" está sofrendo de um problema clínico
ou de um distúrbio mental, ai homossexualismo seria uma patologia.
Para a Medicina o termo deixou de ser tratado como patologia na década de 80,
isso lá em 85. O termo homossexual muda e vira "homossexualidade", o sufixo
"dade" é adicionado, significando "modo de ser", comportamento.
Andréia, também estou fazendo o Curso Juventude, Diversidade e
Convivência Escolar, não sei se é o mesmo ao qual você se refere, se for
perdi a palestra do ilustre professor. Quem bom pra ele, porque se estivesse na
platéia não conseguiria me manter calado. Mas ai está minha contribuição para
dirimir as duvidas que pairam no ar e na cabeça de muitos de nós educadores
dos cidadãos do amanhã.

Edileuza Penha de Souza - terça, 9 junho 2009, 00:11


Marcus,
Muito boa sua exposição que, com base em sua vivência pessoal,
faz boa análise dos preconceitos/diversidade. Hoje, "cdf" e com
óculos de grau você seria um nerd.

SEGUNDA SEMANA
MÓDULO 1
CONHECIMENTOS ADQUIRIDOS

Chegamos ao fim do primeiro módulo, nos deparamos com o enunciado


que dizia ser o nosso espaço e nós fazia refletir sobre tudo que tínhamos visto e
lido...

Este momento é seu!


No começo deste Módulo solicitamos que você registrasse o que
você já sabia sobre como a sociedade em geral reconhece e lida
com as diferenças e também sobre suas dúvidas em relação a
esse tema. Os textos lidos neste Módulo apresentaram várias
informações, provocações e reflexões.14

Confesso que neste item do curso foram raras as vezes que fui um “bom
aluno”, pois devido uma falha na comunicação não ficaria claro a
obrigatoriedade em fazer os registros, após entender da necessidade, na
medida do possível passei a realiza-los, outras vezes as minhas participações
já eram o próprio registro...

TERCEIRA SEMANA

14 Enunciado da “aba” Registro de conhecimentos adquiridos”


MODULO 4 UNIDADE 1
PRIMEIRO ENCONTRO PRESENCIAL
29/05/2009

Realizado com certo atraso o primeiro encontro presencial, que deveria


acontecer no inicio do Curso, na verdade aconteceu já na terceira semana,
imprevistos a parte, foi muito bom o encontro, uma vez que tivemos a
oportunidade de conhecer pessoalmente as pessoas com as quais estávamos
convivendo apenas na forma virtual.

MODULO 4 UNIDADE 1
TERCEIRA SEMANA
CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DO RACISMO

APRESENTAÇÃO

Esta Unidade será desenvolvida através de quatro textos.


No primeiro deles – "Etnocentrismo, racismo e preconceito" –, começaremos
pela discussão das idéias e dos contextos que têm sido hostis à diversidade
étnico-racial. Isto é importante porque a maioria dessas idéias faz parte de
nosso próprio repertório e elas estão profundamente naturalizadas em nós, na
nossa linguagem e nas imagens mentais a partir das quais pensamos.
Com este intuito, faremos uma travessia longa, mas de forma rápida, pela
história do Ocidente e da sua relação com os “diferentes”, assim como pela
história das idéias produzidas por tal relação. Veremos que o nosso percurso
faz uma curva, mas sem fechar um círculo perfeito.
No texto "Ideologias do Estado nacional", partiremos de um período de
afirmação de diferenças absolutas entre os povos e os indivíduos que serviu de
argumento para afirmar o direito de uns sobre a falta de direitos de outros.
Em seguida, passaremos pela época em que foi afirmada a inexistência de
qualquer diferença relevante entre as pessoas, todos tomados como indivíduos
humanos, detentores, por isso, dos mesmos direitos.
Ao final, chegaremos a uma nova fase, na qual foram reconhecidas as
diferenças visando a igualar direitos, mas as diferenças já não sendo pensadas
como absolutas.
Em “João de Páscoa: um índio Pankararu”, você conhecerá a história de um
índio, que servirá de base para os temas do último texto – "O reconhecimento
da diversidade étnico-racial", o qual nos leva a refletir que, para fazer valer o
direito igual para todos, foi preciso abandonar a ficção de que todos são iguais,
a fim de reconhecer suas necessidades e expectativas históricas, culturais e
sociais diferenciadas.
Mas será que isto tudo não é apenas História? O que tão distantes e abstratas
questões têm a ver com o nosso cotidiano escolar?

CONHECIMENTOS PRÉVIOS TERCEIRA SEMANA

Pare um momento e pense sobre como é a composição racial da


sua família. Como as pessoas percebem a composição racial:
demonstram gostar ou não? Usam apelidos?
Resgate, ainda nesta linha de raciocínio, sua própria trajetória
escolar e profissional. O que é raça para você? Você se considera
racista em algum nível? Você já vivenciou situações que possam
ser chamadas de racistas? Como e onde elas aconteceram? Como
você se sentiu e o que pensou? Em quais situações perguntaram
sua cor/raça? O que você achou disto? Que critérios você usa para
classificar as pessoas como negras, brancas, mestiças, indígenas?
Que termos você acha conveniente usar na classificação de cor
das pessoas? Como você pensa a diferença entre negros e
brancos? E a diferença desses com os indígenas? Você
vivência/vivenciaria uma relação afetivo-sexual inter-racial? O que
você pensa a respeito dessas situações? Como você vê a
combinação entre homossexualidade e raça? Como você, como
educador/a, se relaciona com essas questões em sala de aula? O
que você pensa sobre as políticas públicas que utilizam o critério
racial e étnico na definição dos beneficiários? O que você sabe
sobre esse tema? Como você lida com essas questões em sala de
aula? Organize os conhecimentos que você tem a respeito desses
assuntos e o que você gostaria de saber sobre raça, racismo,
etnicidade, sistemas de classificação por cor/raça e a inter-relação
gênero, raça e sexualidade.

FÓRUM DA TERCEIRA SEMANA

A prática de elevador de “serviço”, o qual, muitas vezes é, na verdade,


destinado para “pretos e pobres”, denota que relações entre raça e classe? Que
tipo de juízo está por trás de atitudes racistas? A lógica do “você sabe com
quem está falando?” implícita na postura da agredida permite relacionar a
questão racial com que outros aspectos do nosso cotidiano?

por Edileuza Penha de Souza - segunda, 1 junho 2009, 21:37

Caríssim@s professores e professoras,


Espero que estejam tod@s bem e se recuperando da semana
intensa que tivemos. Nesta semana, três pontos foram destacados
para o nosso trabalho.
Por favor, leiam na cartilha do curso: História do racismo – p. 192-
196. Estado-nação: ideologia e mitos (democracia racial, mito das
três raças) p. 200-203. Reconhecimento da identidade étnico-racial
(p. 209) – pertencimento X identificação.
Após a leitura desses pontos “Elabore um comentário, com base
nas leituras, sobre os mitos e a realidade atual do racismo no
Brasil”. Nas discussões, destaque os eixos: “democracia racial
brasileira”, “o bom selvagem” e “as três raças”.
Gostaria ainda de sugerir a leitura do livro do Carlos Moore:
http://www.ipeafro.org.br/10_afro_em_foco/Moore_Racismo_atrave
s_da_historia.pdf e também indicar que assistam aos filmes:
Amistad - Steven Spielberg
"No século XIX, um navio espanhol é capturado na costa
americana, contendo 53 trabalhadores escravos negros
amotinados a bordo. Ao chegar em território americano, eles são
levados a um grande julgamento que cria polêmica entre os
abolicionistas e os conservadores do país"
Adivinhe quem vem para o jantar - Stanley Kramer
"Casal de ricos brancos entra em choque quando sua filha Joey
(Katharine Houghton) anuncia que está noiva de John Prentice
(Sidney Poitier), um doutor conceituado, de boa base financeira,
apaixonado, porém, negro. Como nos anos 60 o casamento entre
raças diferentes não era algo comum, John e Joey devem enfrentar
os absurdos preconceitos não apenas dos pais brancos da jovem,
mas também de outros negros".
Bom, é isso. Se organizem para que suas tarefas não acumulem.
Boa semana de trabalho a tod@s.
Um abraços, axé e luz!
Edileuza

O curso trazia sempre material “top de linha” haja vista o power point
entitulado “Elevador” me fazendo reviver um trabalho realizado na minha
graduação em Geografia, na disciplina Introdução a Antropologia, é certo que
minhas várias colocações causaram um certo mal estar entre alguns colegas
que faziam um curso a distância pela primeira vez e certamente estavam
desavisados que neste tipo de curso a participação e trocas de experiências é
uma das prerrogativas que o aluno possui ser avaliado pela tutoria.

Marcus Maciel - sábado, 30 maio 2009, 21:10 (Texto postado na segunda


semana, nem imaginava o elevador como tema)
Fazendo a tarefa pertinente ao Módulo I, lembrei de um trabalho que fiz quando
fui aluno da disciplina - Introdução a Antropologia - com a professora Lara
Santos Amorim, no UniCeub, tendo a música "Identidade" de Jorge Aragão
como pano de fundo, sem dúvida um excelente texto sem falar do lado musical.
Para quem só aprecia a musica quando está num barzinho, sugiro que analise
cada um dos versos (que por sinal publico aqui), e veja quão séria é a denúncia
que Jorge Aragão faz.
IDENTIDADE (Jorge Aragão)

Elevador é quase um templo


Exemplo pra minar teu sono
Sai desse compromisso
Não vai no de serviço
Se o social tem dono, não vai...
Quem cede a vez não quer vitória
Somos herança da memória
Temos a cor da noite
Filhos de todo açoite
Fato real de nossa história
Se o preto de alma branca pra você
É o exemplo da dignidade
Não nos ajuda, só nos faz sofrer
Nem resgata nossa identidade
Elevador é quase um templo
Exemplo pra minar teu sono
Sai desse compromisso
Não vai no de serviço
Se o social tem dono, não vai...
Quem cede a vez não quer vitória
Somos herança da memória
Temos a cor da noite
Filhos de todo açoite
Fato real de nossa história
Se o preto de alma branca pra você
É o exemplo da dignidade
Não nos ajuda, só nos faz sofrer
Nem resgata nossa identidade
Elevador é quase um templo
Exemplo pra minar teu sono
Sai desse compromisso
Não vai no de serviço
Se o social tem dono, não vai...
Quem cede a vez não quer vitória
Somos herança da memória
Temos a cor da noite
Filhos de todo açoite
Fato real de nossa história

Marcus Alberto Moura Maciel - domingo, 7 junho 2009, 13:37


O vídeo do elevador, que alguns colegas pensavam estar esquecido no baú da
segregação social e racial do povo brasileiro, na verdade, com o passar dos
tempos vai sendo modificado para “roupas de grife” e “carros de marca”.
Nós, “luminaris”, que estamos a fazer esse curso, com certeza, já fomos
lapidados o suficiente para discriminar em menor quantidade, mas mesmo
assim, ainda o fazemos.
Permitam-me aqui relatar três experiências recentes e ocorridas com pessoas
bem próximas.

BRB AGÊNCIA SETOR DE OFICINAS GUARÁ – Uma amiga de infância;


daquelas que chamávamos seu pai de tio e ela chamava os meus de tios. Tinha
o apelido de “kichute” que com o passar dos tempos conseguimos transformar
em “Nega” depois de muita luta com ela mesma, porque ela não via nesse
tratamento uma maldade... Pois bem, Nega foi ao Conjunto Nacional fazer
compras, resolve abrir um crediário, pra sua surpresa existiam mais de 10
ocorrências de cheque sem fundos, todos do BRB agência Setor de Oficinas
Guará. Não fez a compra e se dirigiu ao BRB. Lá ao pedir explicações foi
encaminhada a um funcionário que começou a atendê-la, puxou extrato no
micro olhou, chamou outro funcionário, que olhou a tela do micro, olhou pra ela
e saiu chamando outro funcionário, que veio e fez tudo igual, isso sem lhe
dirigirem uma palavra sequer. Ela perdeu a paciência e pediu pra que fosse
chamado o Gerente para explicar o que estava acontecendo. Veio o Gerente e
foi logo dizendo que ela deveria dar uma boa explicação senão iria chamar a
policia. Eu é que vou chamar, pois estou há mais de uma hora aqui para saber
sobre umas ocorrências no DPC/SERASA e já três funcionários do banco vem
aqui olham a tela do computador olham pra mim e saem sem nada me falarem.
Estou me sentindo descriminada e coagida. E existe lei para esses casos, a
Afonso Arinos é uma delas. Falando isso foi abrindo o celular. O gerente então
começou: “Senhora, temos aqui a informação de um talonário de cheques
inteiro que foi dado sem a devida previsão de fundos. A Senhora tem
conhecimento? Foram emitidos pela Senhora?” Nega pede pra ver os cheques,
pois aquela conta estava desativada há mais de 2 anos, pois teria sido aberta
quando prestava serviços ao METRÔ e já tinha 3 anos que não trabalhava mais
na empresa, lembrava ter usado a conta por mais 6 meses após a saída do
METRÔ. E que manteve a conta aberta, pois tinha uns pré-datados, mas todos
quitados após assumir um cargo concursado no SUPREMO. O Gerente, depois
dessa frase começou notadamente a olhá-la com outros olhos. Encurtando a
história, foram feitas cópias dos microfilmes, foi confirmada que a assinatura
não era da Nega e que tal talonário estaria entre os roubados num grande
assalto que a agência teria sofrido 1 ano antes. Nega entrou na justiça por
perdas e danos, sobre a discriminação racial o delegado sugeriu que não
entrasse, pois ela teria ido à agência desacompanhada e não haveria provas
contundentes da discriminação racial. Nega ganhou a Ação e embolsou 5 mil
reais pelo constrangimento de estar negativada no DPC/SERASA
indevidamente.

LOJA MULTIMARCAS DA ASA NORTE – O Pai de um amigo que e possui


fazenda na região do PADF, satisfeitíssimo com a aprovação dele no vestibular
da UnB, resolve presenteá-lo com uma cabine dupla, sem pestanejar, entramos
todos no carro e nos dirigimos a uma loja na 714 norte, Eu, o Seu Zé e Jr
quando chegamos Seu Zé pergunta a Secretaria pelo dono da loja, esta o olha
dos pés a cabeça e diz que o proprietário não está e que só volta à tarde, Seu
Zé anda pra lá e pra cá abre uma Camioneta outra, entra em uma, sai e quando
vai entrar em outra a secretaria se dirige a ele e diz essas camionetas são zero
quilometro o senhor está sujando com suas botas e essas roupas. Seu Zé nos
chama e vamos embora. Voltamos para o PADF, chegando lá fomos almoçar.
Seu Zé some. Passado umas três horas Seu Zé reaparece arrumado como se
casar fosse; cabelos cortado, barba feita, unhas cortadas e polidas, dentro de
uma calça de linho, camisa de seda e um blazer, além de uma maleta 007 preta
já desgastada. – “Vamos meninos, agora quero ver se não compro a
camioneta.” Pé na estrada e novamente estávamos na loja, chegamos, Seu Zé
cumprimenta a secretaria e pergunta pelo proprietário, ela informa que ele está
e pergunta a quem deve anunciar. Entramos todos, o proprietário é conhecido
do Seu Zé, conversa vem conversa vai, e ele pergunta o motivo da visita, Seu
Zé informa que queria comprar uma camioneta para presentear o Júnior que
acabara de passar no vestibular da UnB para Agropecuária, – “estive aqui na
sua loja pela manhã na companhia dos meninos, do jeito que fico na fazenda:
de botas, calça faroest e camisetas, e não fui bem tratado pela sua secretaria.
Pois certamente ela achou que alguém naqueles trapos que eu estava não teria
condições de sequer dar entrada numa camioneta, ela chegou a levantar do
birrô para chamar a minha atenção que estava sujando as camionetas. “Não
quero que você faça nada com ela, apenas vou comprar na loja ao lado uma
camioneta e vou pagar a vista”, nesse momento Seu Zé abre a maleta e mostra
os maços de dólares novinhos. O proprietário tenta amenizar o acontecido com
descontos e doação de acessórios, mas Seu Zé fica irredutível, se despede e
nos dirigimos à loja ao lado para comprar a camioneta à vista. (Seu Zé é uma
pessoa baixinha, franzina, rude, branco, de olhos azuis).
FILÉ MIGNON PRA CACHORRO – Feriadão, fomos à casa de Nega na SQS
414 para almoçar, Nega me chama pra irmos ao mercadinho comprar
temperos, carne, refrigerante e cerveja. Chegando lá fico com as compras dos
temperos cervejas e refrigerantes. Nega usando um vestido “tubinho”, meio
surrado, de havaianas e lenço no cabelo se dirige ao açougue do mercado.
Pouco tempo ouço um alvoroço no açougue, era Nega discutindo com o
açougueiro. Fui lá, ela me informa que havia perguntado se tinha filé mignon, o
açougueiro depois de tirar um “retrato” de corpo inteiro dela, responde com ar
de desdém que tem, mas que só vende a peça inteira. Nega então manda
pesar os 2 maiores que tiver. Isso feito pede que moa um deles, o açougueiro
diz que ela só pode está tirando onda dele... Ela diz que não. Ele então
pergunta – “foi isso mesmo que sua patroa mandou fazer?” Ela se irrita e diz
que não é empregada doméstica. Que ela que é a Dona da casa apesar de esta
vestida a vontade. E que um filé mignon é pra ela comer com amigos e o outro
moído é pra ela dá para cachorrinho da família. Resultado da brincadeira quase
60 reais só de filé mignon.
Nas três passagens aqui relatadas, duas das quais participei com coadjuvante,
demonstram: Sim! Somos um País racista e discriminador. Nada mais me
surpreende. Esta lenda de que: ”Somos um País que convive bem com as três
raças” é apenas falácia. Lamentável. Mas o que faz com que eu não desista
nunca, como dizia aquele slogan de uma grande campanha publicitária é o fato
de ainda acreditar enquanto educador que é possível mudar isso, tal qual
o “Yes we can”, do negro e muçulmano Barack Obama provou ser possível.
Faria eu, se assim permitido, toda uma retrospectiva módulo a módulo,
como imaginei que seria o memorial, haja vista que tínhamos as anotações de
conhecimentos prévios e as de conhecimento adquirido..., mas ai chegou a
orientação sobre números de paginas, que a essa altura já com certeza
ultrapassei... daqui em diante farei apenas rápidas pinceladas sobre cada tema
estudado no espaço temporal das semanas quatro a treze, é sob censura...

DESIGUALDADE ETNICO RACIAL

Este módulo trouxe um debate interessante, onde foi possível fazermos


uma releitura, do mito de ser o “Brasil um país sem discriminação”, ficou claro
que discriminamos sim, mas por motivos culturais essa discriminação não é
vista ou a ela são feitas “vistas grossas”, mas a verdade é que os menos
favorecidos economicamente e aqueles com menos estudo “coincidentemente”
são de origem afro-brasileira.

GÊNERO UM CONCEITO IMPORTANTE PARA O CONHECIMENTO DO


MUNDO SOCIAL

Aqui, tivemos a oportunidade de agregar informações de que “gênero” é


muito mais do que apenas um substantivo para definir alimentos
hortifrutigranjeiros, porque pasme era essa a ideia de alguns professores. Reler
conceitos de Macho x Fêmea, Homem x Mulher, Masculino x Feminino foi de
um enriquecimento sem limite, no fim ganhando nosso aluno(a) porque assim
suas inquietudes sobre o azul e o rosa, a bola e a boneca dentre outras daqui
pra frente deverão ser analisadas e resolvidas com maior facilidade.

SEXUALIDADE DIMENSÃO SOCIAL DIVERSIDADE DISCRIMINAÇÃO

Agregar conhecimentos e fomentar condições para solucionar os


problemas do dia a dia no ambiente escolar era o ápice deste modulo, que com
certeza atingiu seus objetivos uma vez que a riqueza das discussões foi sem
igual, ficou comprovado que muitos casos de discriminação na verdade eram
casos de desconhecimento da legislação e do processo histórico que
passamos, sem esquecermos da formação machista e patriarcal que está
enraizado na cultura do povo brasileiro.
Nossos horizontes abriram para a nova realidade, onde a criança pode
possuir uma família com dois pais ou duas mães, ser criada por um “par” de
pessoas e não tão somente por um “casal”.
ANEXOS

GLOSSÁRIO DE ALGUNS TERMOS EM YURUBA

TERMO EM YURUBA SIGNIFICADO EM PORTUGUES


Adjá É uma sineta cerimonial, que objetiva chamar aos
ORIXÁS.
Aiê O mundo terreno

Batás Tambores sagrados usados para entoar o xirê

Obatalá O supremo Orixá dos iorubas, aquele que fecunda.

Olodumare O Deus Supremo

Olorum Deus

Orum O céu dos Orixás

Oxum Uma das esposas de Xangó, a Deusa da Fertilidade.

Xequerês Espécie de chocalho, usado nas práticas ritualísticas do


candomblé.
Xirê O termo é usado, no candomblé, para designar a
seqüência de danças rituais com que se homenageiam
os orixás, pode significar também jogo ou brincadeira.
Brasília, Sinfonia da Alvorada

No princípio era o ermo


Eram antigas solidões sem mágoa.
O altiplano, o infinito descampado
No princípio era o agreste:
O céu azul, a terra vermelho-pungente
E o verde triste do cerrado.
Eram antigas solidões banhadas
De mansos rios inocentes
Por entre as matas recortadas.
Não havia ninguém. A solidão
Mais parecia um povo inexistente
Dizendo coisas sobre nada.
Sim, os campos sem alma
Pareciam falar, e a voz que vinha
Das grandes extensões, dos fundões crepusculares
Nem parecia mais ouvir os passos
Dos velhos bandeirantes, os rudes pioneiros
Que, em busca de ouro e diamantes,
Ecoando as quebradas com o tiro de suas armas,
A tristeza de seus gritos e o tropel
De sua violência contra o índio, estendiam
As fronteiras da pátria muito além do limite dos tratados.
– Fernão Dias, Anhanguera, Borba Gato,
Vós fostes os heróis das primeiras marchas para o oeste,
Da conquista do agreste
E da grande planície ensimesmada!
Mas passastes. E da confluência
Das três grandes bacias
Dos três gigantes milenares:
Amazonas, São Francisco, Rio da Prata ;
Do novo teto do mundo, do planalto iluminado
Partiram também as velhas tribos malferidas
E as feras aterradas.
E só ficaram as solidões sem mágoa
O sem-termo, o infinito descampado
Onde, nos campos gerais do fim do dia
Se ouvia o grito da perdiz
A que respondia nos estirões de mata à beira dos rios
O pio melancólico do jaó.
E vinha a noite. Nas campinas celestes
Rebrilhavam mais próximas as estrelas
E o Cruzeiro do Sul resplandecente
Parecia destinado
A ser plantado em terra brasileira:
A Grande Cruz alçada
Sobre a noturna mata do cerrado
Para abençoar o novo bandeirante
O desbravador ousado
O ser de conquista
O Homem!
II / O HOMEM
Sim, era o Homem,
Era finalmente, e definitivamente, o Homem.
Viera para ficar. Tinha nos olhos
A força de um propósito: permanecer, vencer as solidões
E os horizontes, desbravar e criar, fundar
E erguer. Suas mãos
Já não traziam outras armas
Que as do trabalho em paz. Sim,
Era finalmente o Homem: o Fundador. Trazia no rosto
A antiga determinação dos bandeirantes,
Mas já não eram o ouro e os diamantes o objeto
De sua cobiça. Olhou tranqüilo o sol
Crepuscular, a iluminar em sua fuga para a noite
Os soturnos monstros e feras do poente.
Depois mirou as estrelas, a luzirem
Na imensa abóbada suspensa
Pelas invisíveis colunas da treva.
Sim, era o Homem...
Vinha de longe, através de muitas solidões,
Lenta, penosamente. Sofria ainda da penúria
Dos caminhos, da dolência dos desertos,
Do cansaço das matas enredadas
A se entredevorarem na luta subterrânea
De suas raízes gigantescas e no abraço uníssono
De seus ramos. Mas agora
Viera para ficar. Seus pés plantaram-se
Na terra vermelha do altiplano. Seu olhar
Descortinou as grandes extensões sem mágoa
No círculo infinito do horizonte. Seu peito
Encheu-se do ar puro do cerrado. Sim, ele plantaria
No deserto uma cidade muita branca e muito pura...

Citação de Oscar Niemeyer


– "... como uma flor naquela terra agreste e solitária…"
- Uma cidade erguida em plena solidão do descampado.
Niemeyer
– " ... como uma mensagem permanente de graça e poesia..."
- Uma cidade que ao sol vestisse um vestido de noivado
Niemeyer
– " ... em que a arquitetura se destacasse branca, como que flutuando na
imensa escuridão do planalto..."
– Uma cidade que de dia trabalhasse alegremente
Niemeyer
– "…numa atmosfera de digna monumentalidade..."
– E à noite, nas horas do langor e da saudade
Niemeyer
– " ... numa luminação feérica e dramática..."
– Dormisse num Palácio de Alvorada!
Niemeyer
– " ... uma cidade de homens felizes, homens que sintam a vida em toda a sua
plenitude, em toda a sua fragilidade; homens que compreendam o valor das
coisas puras..."
– E que fosse como a imagem do Cruzeiro
No coração da pátria derramada.

Citação de Lúcio Costa


– "…nascida do gesto primário de quem assinala um lugar ou dele toma posse:
dois eixos que se cruzam em ângulo reto, ou seja, o próprio sinal da cruz."

III / A CHEGADA DOS CANDANGOS


Tratava-se agora de construir: e construir um ritmo novo.
Para tanto, era necessário convocar todas as forças vivas da Nação, todos os
homens que, com vontade de trabalhar e confiança no futuro, pudessem erguer,
num tempo novo, um novo Tempo.
E, à grande convocação que conclamava o povo para a gigantesca tarefa
começaram a chegar de todos os cantos da imensa pátria os trabalhadores: os
homens simples e quietos, com pés de raiz, rostos de couro e mãos de pedra, e
que, no calcanho, em carro de boi, em lombo de burro, em paus-de-arara, por
todas as formas possíveis e imagináveis, começaram a chegar de todos os
lados da imensa pátria, sobretudo do Norte; foram chegando do Grande Norte,
do Meio Norte e do Nordeste, em sua simples e áspera doçura; foram chegando
em grandes levas do Grande Leste, da Zona da Mata, do Centro-Oeste e do
Grande Sul; foram chegando em sua mudez cheia de esperança, muitas vezes
deixando para trás mulheres e filhos a aguardar suas promessas de melhores
dias; foram chegando de tantos povoados, tantas cidades cujos nomes
pareciam cantar saudades aos seus ouvidos, dentro dos antigos ritmos da
imensa pátria...

Dois locutores alternados


– Boa Viagem! Boca do Acre! Água Branca! Vargem Alta! Amargosa! Xique-
Xique! Cruz das Almas! Areia Branca! Limoeiro! Afogados! Morenos! Angelim!
Tamboril! Palmares! Taperoá! Triunfo! Aurora! Campanário! Águas Belas!
Passagem Franca! Bom Conselho! Brumado! Pedra Azul! Diamantina!
Capelinha! Capão Bonito! Campinas! Canoinhas! Porto Belo! Passo Fundo!
Locutor no 1
– Cruz Alta...
Locutor no 2
– Que foram chegando de todos os lados da imensa pátria...
Locutor no 1
– Para construir uma cidade branca e pura...
Locutor n 2
– Uma cidade de homens felizes...
IV / O TRABALHO E A CONSTRUÇÃO
– Foi necessário muito mais que engenho, tenacidade e invenção. Foi
necessário 1 milhão de metros cúbicos de concreto, e foram necessárias 100
mil toneladas de ferro redondo, e foram necessários milhares e milhares de
sacos de cimento, e 500 mil metros cúbicos de areia, e 2 mil quilômetros de
fios.
– E 1 milhão de metros cúbicos de brita foi necessário, e quatrocentos
quilômetros de laminados, e toneladas e toneladas de madeira foram
necessárias. E 60 mil operários! Foram necessários 60 mil trabalhadores vindos
de todos os cantos da imensa pátria, sobretudo do Norte! 60 mil candangos
foram necessários para desbastar, cavar, estaquear, cortar, serrar, pregar,
soldar, empurrar, cimentar, aplainar, polir, erguer as brancas empenas...
– Ah, as empenas brancas! -
– Como penas brancas...
– Ah, as grandes estruturas!
– Tão leves, tão puras...
Como se tivessem sido depositadas de manso por mãos de anjo na terra
vermelho-pungente do planalto, em meio à música inflexível, à música
lancinante, à música matemática do trabalho humano em progressão ...
O trabalho humano que anuncia que a sorte está lançada e a ação é
irreversível.
Cantochão
E ao crepúsculo, findo o labor do dia, as rudes mãos vazias de trabalho e os
olhos cheios de horizontes que não têm fim, partem os trabalhadores para o
descanso, na saudade de seus lares tão distantes e de suas mulheres tão
ausentes. O canto com que entristecem ainda mais o sol-das-almas a morrer
nas antigas solidões parece chamar as companheiras que se deixaram ficar
para trás, à espera de melhores dias; que se deixaram ficar na moldura de uma
porta, onde devem permanecer ainda, as mãos cheias de amor e os olhos
cheios de horizontes que não têm fim. Que se deixaram ficar muitas terras
além, muitas serras além, na esperança de um dia, ao lado de seus homens,
poderem participar também da vida da cidade nascendo em comunhão com as
estrelas. Que viram, uma manhã, partir os companheiros em busca do trabalho
com que lhes dar uma pequena felicidade que não possuem, um pequeno nada
com que poder sentir brilhar o futuro no olhar de seus filhos. Esse mesmo
trabalho que agora, findo o labor do dia, encaminha os trabalhadores em bando
para a grande e fundamental solidão da noite que cai sobre o planalto…
" Deste planalto central, desta solidão que em breve se transformará em
cérebro das altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o
amanhã do meu país e antevejo esta alvorada com fé inquebrantável e uma
confiança sem limites no seu grande destino."
(Brasília, 2 de outubro de 1956)
Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira
V / CORAL
I II III
Coro Coro Coro
Masculino Masculino Misto
Brasília, Brasília, Brasília
Brasília, Brasília, Brasília
Brasília, Brasília, Brasília
Brasília, Brasília, Brasília
BRASIL! BRASIL! BRASIL!
VI
Terra de sol
Terra de luz
Terra que guarda no céu
A brilhar o sinal de uma cruz
Terra de luz
Terra-esperança, promessa
De um mundo de paz e de amor
Terra de irmãos
Ó alma brasileira ...
... Alma brasileira ...
Terra-poesia de canções e de perdão
Terra que um dia encontrou seu coração
Brasil! Brasil!
Ah... Ah... Ah...
B r a s í 1 i a!
Dlem! Dlem!
Ô ... ô... ô... ô
Livro de Gênesis 1

1 No princípio criou Deus os céus e a terra.


2 E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o
Espírito de Deus se movia sobre a face das águas.
3 E disse Deus: Haja luz; e houve luz.
4 E viu Deus que era boa a luz; e fez Deus separação entre a luz e as trevas.
5 E Deus chamou à luz Dia; e às trevas chamou Noite. E foi a tarde e a manhã,
o dia primeiro.
6 E disse Deus: Haja uma expansão no meio das águas, e haja separação
entre águas e águas.
7 E fez Deus a expansão, e fez separação entre as águas que estavam
debaixo da expansão e as águas que estavam sobre a expansão; e assim foi.
8 E chamou Deus à expansão Céus, e foi a tarde e a manhã, o dia segundo.
9 E disse Deus: Ajuntem-se as águas debaixo dos céus num lugar; e apareça a
porção seca; e assim foi.
10 E chamou Deus à porção seca Terra; e ao ajuntamento das águas chamou
Mares; e viu Deus que era bom.
11 E disse Deus: Produza a terra erva verde, erva que dê semente, árvore
frutífera que dê fruto segundo a sua espécie, cuja semente está nela sobre a
terra; e assim foi.
12 E a terra produziu erva, erva dando semente conforme a sua espécie, e a
árvore frutífera, cuja semente está nela conforme a sua espécie; e viu Deus que
era bom.
13 E foi a tarde e a manhã, o dia terceiro.
14 E disse Deus: Haja luminares na expansão dos céus, para haver separação
entre o dia e a noite; e sejam eles para sinais e para tempos determinados e
para dias e anos.
15 E sejam para luminares na expansão dos céus, para iluminar a terra; e
assim foi.
16 E fez Deus os dois grandes luminares: o luminar maior para governar o dia,
e o luminar menor para governar a noite; e fez as estrelas.
17 E Deus os pôs na expansão dos céus para iluminar a terra,
18 E para governar o dia e a noite, e para fazer separação entre a luz e as
trevas; e viu Deus que era bom.
19 E foi a tarde e a manhã, o dia quarto.
20 E disse Deus: Produzam as águas abundantemente répteis de alma vivente;
e voem as aves sobre a face da expansão dos céus.
21 E Deus criou as grandes baleias, e todo o réptil de alma vivente que as
águas abundantemente produziram conforme as suas espécies; e toda a ave de
asas conforme a sua espécie; e viu Deus que era bom.
22 E Deus os abençoou, dizendo: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei as águas
nos mares; e as aves se multipliquem na terra.
23 E foi a tarde e a manhã, o dia quinto.
24 E disse Deus: Produza a terra alma vivente conforme a sua espécie; gado,
e répteis e feras da terra conforme a sua espécie; e assim foi.
25 E fez Deus as feras da terra conforme a sua espécie, e o gado conforme a
sua espécie, e todo o réptil da terra conforme a sua espécie; e viu Deus que era
bom.
26 E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa
semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e
sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a
terra.
27 E criou Deus o homem à sua imagem: à imagem de Deus o criou; homem e
mulher os criou.
28 E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei
a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos
céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra.
29 E disse Deus: Eis que vos tenho dado toda a erva que dê semente, que
está sobre a face de toda a terra; e toda a árvore, em que há fruto que dê
semente, ser-vos-á para mantimento.
30 E a todo o animal da terra, e a toda a ave dos céus, e a todo o réptil da
terra, em que há alma vivente, toda a erva verde será para mantimento; e assim
foi.
31 E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom; e foi a tarde e a
manhã, o dia sexto.
Epílogo
Estava inventado o candomblé.
Mitologia dos orixás

No começo não havia separação entre


o Orum, o Céu dos orixás,
e o Aiê, a Terra dos humanos.
Homens e divindades iam e vinham,
coabitando e dividindo vidas e aventuras.
Conta-se que, quando o Orum fazia limite com o Aiê,
um ser humano tocou o Orum com as mãos sujas.
O céu imaculado do Orixá fora conspurcado.
O branco imaculado de Obatalá se perdera.
Oxalá foi reclamar a Olorum.
Olorum, Senhor do Céu, Deus Supremo,
irado com a sujeira, o desperdício e a displicência dos mortais,
soprou enfurecido seu sopro divino
e separou para sempre o Céu da Terra.
Assim, o Orum separou-se do mundo dos homens
e nenhum homem poderia ir ao Orum e retornar de lá com vida.
E os orixás também não podiam vir à Terra com seus corpos.
Agora havia o mundo dos homens e o dos orixás, separados.
Isoladas dos humanos habitantes do Aiê, as divindades entristeceram.
Os orixás tinham saudades de suas peripécias entre os humanos
e andavam tristes e amuados.
Foram queixar-se com Olodumare, que acabou consentindo
que os orixás pudessem vez por outra retornar à Terra.
Para isso, entretanto, teriam que tomar o corpo material de seus devotos.
Foi a condição imposta por Olodumare
Oxum, que antes gostava de vir à Terra brincar com as mulheres,
dividindo com elas sua formosura e vaidade,
ensinando-lhes feitiços de adorável sedução e irresistível encanto,
recebeu de Olorum um novo encargo:
preparar os mortais para receberem em seus corpos os orixás.
Oxum fez oferendas a Exu para propiciar sua delicada missão.
De seu sucesso dependia a alegria dos seus irmãos e amigos orixás.
Veio ao Aiê e juntou as mulheres à sua volta,
banhou seus corpos com ervas preciosas,
cortou seus cabelos, raspou suas cabeças,
pintou seus corpos.
Pintou suas cabeças com pintinhas brancas,
como as pintas das penas da conquém,
como as penas da galinha-d’angola.
Vestiu-as com belíssimos panos e fartos laços,
enfeitou-as com jóias e coroas.
O ori, a cabeça, ela adornou ainda com a pena ecodidé,
pluma vermelha, rara e misteriosa do papagaio-da-costa.
Nas mãos as fez levar abebés, espadas, cetros,
e nos pulsos, dúzias de dourados indés.
O colo cobriu com voltas e voltas de coloridas contas
e múltiplas fieiras de búzios, cerâmicas e corais.
Na cabeça pôs um cone feito de manteiga de ori,
finas ervas e obi mascado,
com todo condimento de que gostam os orixás.
Esse oxo atrairia o orixá ao ori da iniciada e
o orixá não tinha como se enganar em seu retorno ao Aiê.
Finalmente as pequenas esposas estavam feitas,
estavam prontas, e estavam odara.
As iaôs eram a noivas mais bonitas
que a vaidade de Oxum conseguia imaginar.
Estavam prontas para os deuses.
Os orixás agora tinham seus cavalos,
podiam retornar com segurança ao Aiê,
podiam cavalgar o corpo das devotas.
Os humanos faziam oferendas aos orixás,
convidando-os à Terra, aos corpos das iaôs.
Então os orixás vinham e tomavam seus cavalos.
E, enquanto os homens tocavam seus tambores,
vibrando os batás e agogôs, soando os xequerês e adjás,
enquanto os homens cantavam e davam vivas e aplaudiam,
convidando todos os humanos iniciados para a roda do xirê,
os orixás dançavam e dançavam e dançavam.
Os orixás podiam de novo conviver com os mortais.
Os orixás estavam felizes.
Na roda das feitas, no corpo das iaôs,
eles dançavam e dançavam e dançavam.
Estava inventado o candomblé.
(Reginaldo Prandi, Mitologia dos orixás, págs. 524-528)
PROJETO

Assessoria e apoio:

www. .org.br

Planaltina-DF
2009
PROJETO
Ser Humano de Valor
OBJETIVO GERAL
 (Re)construir e valorizar atitudes de respeito ao Outro, indistintamente.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS
 Garantir o respeito às diferenças em todos os âmbitos, em nível social, cultural,
sexual, étnico, linguístico, religioso, estimulando a tolerância entre os pares em
sociedade;
 Reconhecer a presença dos princípios que fundamentam normas e leis no contexto
social;
 Refletir criticamente sobre as normas morais, buscando sua legitimidade na
realização do bem comum;
 Promover e divulgar documentos e legislação que tratam dos direitos individuais e
sua inviolabilidade em âmbitos regional, nacional e internacional;
 Compreender a vida escolar como participação no espaço público, utilizando os
conhecimentos adquiridos na construção de uma sociedade justa e democrática;
 Assumir posições segundo o próprio juízo de valor, considerando diferentes
pontos de vista e aspectos de cada situação;
 Construir uma imagem positiva de si, de respeito próprio e reconhecimento de sua
capacidade de escolher e realizar seu projeto de vida, em harmonia com a
coletividade;
 Compreender o conceito de justiça baseado na eqüidade, empenhando-se em
ações solidárias e cooperativas;
 Adotar atitudes de respeito pelas diferenças entre as pessoas, repudiando as
injustiças e discriminações;
 Valorizar e empregar o diálogo como forma de esclarecer conflitos e tomar
decisões coletivas para o bem comum.
JUSTIFICATIVA

A valorização das relações positivas entre as pessoas no mundo contemporâneo é


de suma importância para a formação da cidadania e para a construção de uma sociedade
pacífica, justa e igualitária, mesmo que utópica. Entretanto, é função da escola e dos
educadores estarem confiantes e atentos aos problemas que afligem a humanidade. Daí a
necessidade do desenvolvimento de projetos que contribuam para a melhoria do
processo ensino-aprendizagem, proporcionando aprendizagens ricas e significativas para
o educando.
As questões relacionadas à intolerância – de ordem social, cultural, étnica,
linguística, religiosa, até mesmo de práticas de exclusão de deficientes – preocupam a
sociedade, principalmente os educadores que presenciam manifestações implícitas ou
explícitas de desrespeito, até mesmo de colegas professores, profissionais em educação e
pais.
Temos a consciência de que não é possível mudar a realidade em sua
integralidade, mesmo porque a escola, por si só, não é capaz de transformá-la,
entretanto, por meio de ações como propostas neste projeto, pretende-se envolver a
comunidade escolar, proporcionando um espaço de discussão e transposição didática da
ética e formação da cidadania para o cotidiano.
As possibilidades de desenvolvimento de projetos são inúmeras, mas perpassam
pela compreensão de que as práticas pedagógicas são sociais e políticas e dependem do
envolvimento e do compromisso e a adesão de todos – corpo docente, discente e a
direção da escola.
Assim, a intervenção nesta realidade se dará de forma consciente, buscando
construir e reconstruir espaços de aprendizagem de forma criativa e significativa e,
principalmente, que contribua para a formação de uma consciência crítica e autônoma,
mesmo que relativa, porém capaz de contribuir com uma perspectiva de minimizar os
vários modos de violência na escola.
METODOLOGIA

O presente projeto será executado por meio da aquisição das competências e


desenvolvimento de habilidades, definidos conjuntamente pelos professores, que
também irão elaborar atividades a serem desenvolvidas. Entretanto, todos os anos e
séries deverão enfocar, em seus procedimentos, os temas geradores “Respeito” e
“Tolerância”, por meio de sensibilização artística, na qual os alunos e alunas irão
expressar sua opinião e visão de mundo por meio de desenhos, produção de narrativas e
poemas, peças teatrais, dança etc.

SUGESTÕES DE TEMAS ESPECÍFICOS

TEMAS PROCEDIMENTOS INDICAÇÃO PRODUÇÃO


Raça e Etnia  Trabalhando com aspectos de raça e Ed. Infantil/ 1º ano Desenhos, painéis,
cor; Álbum das
 Reconhecendo diferenças diferenças

Direitos  Lendo e interpretando as leis 2ª série/3ª série/ Desenhos, pinturas,


Humanos Se Liga esculturas

Gênero  Pesquisando sobre brinquedos e 2º ano, 2ª série Brinquedos de


brincadeiras de menino e de menina; sucata, móbiles
 Pesquisando sobre brinquedos e
brincadeiras do passado.
Sexualidade  Lendo textos e assistindo vídeos 3ª série/Acelera Teatro e dança

CULMINÂNCIA

Todas as produções artísticas – artes visuais, teatrais e literárias – elaboradas e


confeccionadas conjuntamente com o tema proposto neste projeto serão apreciadas numa
Exposição do Centro de Ensino Fundamental Mestre D’Armas.
CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO

SETEMBRO, OUTUBRO e  Aplicação de procedimentos


NOVEMBRO  Confecção de objetos de exposição, peças teatrais ou dança
21 DE NOVEMBRO 2009  Culminância

SUGESTÕES DE LIVROS, FILMES E ATIVIDADES

SUGESTÕES DE LIVROS
LIVRO/ AUTOR TEMA(S) GÊNERO INDICAÇÃ
O
Declaração universal dos direitos Direitos Legislação 3ª série
humanos – Adapt. Ruth Rocha e Otavio
Roth
A lagartixa que virou jacaré – Izomar Respeito, diferenças, ética Narrativa 2º série
Camargo Guilherme
Felicidade não tem cor– Júlio Emílio Braz Etnia, respeito diferenças Conto 3ª série
Todos temos direitos – Vários autores Direitos Legislação 3ª série
Valores e virtudes – Cléia A. Buchweitz e Ética, cidadania, diferenças Narrativa 3ª série
Paulo M. Aragão
Mais respeito, eu sou criança – Pedro Direitos, cidadania, respeito Poesia 3ª série
Bandeira
A ovelha negra – Bernardo Aibê Diferenças, Etnia, Raça e Cor Narrativa Ed. Infantil
Menina bonita do laço de fita – Ana Diferenças, Etnia, Raça e Cor Narrativa 2ª série
Maria Machado

SUGESTÕES DE FILMES
TÍTULO/ DESCRIÇÃO TEMAS DURAÇÃO INDICAÇÃO
“Shark Tale” – “Espanta tubarão” – Diferenças, respeito, 90 min. 3ª, Acelera
Longametragem de animação (EUA, sexualidade, tolerância
2004).
"Boundin'" – “Pular” – curta-metragem Diferenças, respeito, tolerância 5 min. Ed. Infantil
de animação (EUA, 2004).
SUGESTÕES DE ATIVIDADES E EXPRESSÕES ARTISTICAS A SEREM
DESENVOLVIDAS, TENDO COMO PONTO DE PARTIDA O LIVRO/TEXTO
LIDO OU FILME ASSISTIDO.

ATIVIDADES INDICAÇÃO (Série)


Narrativas individuais e/ou coletivas 1º , 2ª, Se Liga
Poemas individuais e/ou coletivos 2ª, 3ª, Acelera
Desenhos/ ilustrações Ed. Infantil
Peças teatrais/ dramatizações 3ª, Acelera
Fantoches 2ª , 3ª, Acelera
Dança 2ª, 3ª, Acelera
Jograis 2ª, 3ª, Acelera
R.A.P 2ª, 3ª, Acelera
Paródias musicais 2ª, 3ª, Acelera
Instalações fixas e/ou interativas 1º , 3ª, Se Liga
Móbiles 3ª, Acelera
Parlendas 2ª, 3ª, Acelera
Acróstico 2ª, 3ª , Acelera
Grafite 2ª, 3ª , Acelera
Dobraduras Ed. Infantil
ENCERRRAMENTO E CULMINÂNCIA

No dia 21 de novembro de 2009 (Sábado – de 9h às 15h ) acontece o


encerramento das atividades do Projeto “Ser Humano de Valor” Centro de Ensino
Fundamental Mestre D’Armas, com o apoio e assessoria do ISDEL – Instituto Ser
Diferente É Ser Legal, uma Organização Não-Governamental que possui como missão
atuar na formação da cidadania de crianças e jovens, buscando estimular a tolerância e
garantir o respeito às diferenças, em todos âmbitos, em nível social, cultural, sexual,
étnico, linguístico, religioso.
Participam também como apoiadores desse projeto o Conselho Escolar e
Associação de Pais e Mestre do CEF Mestre D’Armas.
O Projeto deverá ser desenvolvido com cerca de 1.000 crianças entre 05 e 12 anos
de idade – Educação Infantil e Ensino Fundamental Séries Iniciais
Entre as atividades a serem desenvolvidas, temos: sessões de vídeo, leituras de
livros paradidáticos e de leis, oficinas, jogos e brincadeiras.

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