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A tensão nunca explode, mas está ali, clara e cristalina, impondo ao olhar
descolonizado o peso de uma argumentação: evitar ao máximo a defesa dos
escravocratas, mesmo que, a contrapelo, estejam as colônias de pé e em condições
de tornarem-se nações, como observa um dos soldados mais conservadores
durante o filme.
Diante das objeções de Alencastro, Oliveira, em sua resposta, assume, para nossa
surpresa, toda a argumentação canhestra do racismo histórico pós-colonial: de que
não seriam somente os portugueses e seus financiadores majoritários, os norte-
americanos (cf. G. Horne, ""O sul mais distante"") os responsáveis pela empresa
colonial e, por conseguinte, pela escravidão, mas também os próprios africanos, as
""tribos"" (SIC) mais fortes escravizando as mais fracas ""para as venderem aos
brancos, aos europeus holandeses, ingleses, italianos, espanhóis, franceses, eu sei
lá...""
Oliveira: "A idéia que põe o padre Vieira por ter dito que "a escravidão dos africanos
devia servir de garantia à liberdade dos índios" (perdoe-me, mas gozaram eles
dessa liberdade neste final de século?). É preciso não esquecer que os índios são
os únicos nativos de alto a baixo das Américas onde os negreiros despejaram os
africanos da Etiópia, de Angola e de outras partes da África, e não apenas no Brasil.
O Brasil pensa que isso foi obra exclusiva do português a quem chama de colono.
Ora, os africanos despejados no Brasil e noutras partes das Américas eram um caso
bem diferente dos índios, pois estavam criminosamente desenraizados e perdidos
da sua identidade. Quem o fazia? Portugueses, sim, em boa parte e relativamente
ao Brasil. Mas só portugueses? Não, bem nítido que não. Os próprios africanos, as
tribos mais fortes, aprisionavam as mais fracas para as venderem aos brancos, aos
europeus holandeses, ingleses, italianos, espanhóis, franceses, eu sei lá. E a
primeira revolta ligada a Tiradentes, no Brasil não se levantou para eliminar a
escravatura, mas tão só para transferir o poder, libertando o território da tutela de
Portugal, o que veio a acontecer, mais tarde, voluntária e pacificamente por vontade
de d. Pedro 4º de Portugal.""
Os papos:
https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs1212199914.htm
https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs1601200007.htm