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SUPLEMENTOS – Cap. 03
A ÉTICA E A ADMINISTRAÇÃO
1. CONCEITUAÇÃO DA ÉTICA
1. Devo avisar ao meu chefe que seu subordinado, meu amigo, usa o tempo do
expediente para vender trabalhos artesanais aos colegas?
2. Devo dizer sempre a verdade? Há ocasiões em que é preferível mentir? Quais?
3. Tenho o direito de atirar num suspeito que se aproxima de mim à noite em lugar
perigoso antes de ser agredido?
4. Devo cumprir uma ordem que não me parece eticamente correta, ou é preferível
arriscar meu conceito na empresa, ou mesmo meu emprego?
5. Posso usar no meu produto matérias primas de baixa qualidade, com a
finalidade de baixar o custo, quando o risco de ser descoberto é remoto e os
malefícios aos consumidores pequenos?
6. Posso usar o tempo de expediente na empresa numa situação de emergência
para obter ganhos monetários adicionais?
7. Devo avisar ao chefe que meu colega e amigo não é competente ou “não veste
a camisa” da empresa?
8. Posso empregar um amigo na empresa, mesmo sendo ele competente, mas não
o mais competente para a posição?
9. Posso dar prioridade a investimentos na qualidade do produto em detrimento de
investimentos na segurança dos empregados?
10. Posso usar software pirata?
11. Posso vender sem nota fiscal para assegurar a sobrevivência da empresa e
o emprego de pessoas que me são leais?
12. Posso vender sem nota fiscal para aumentar meus lucros, meus
investimentos e criar novos empregos?
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13. Posso comprar sem nota fiscal para conseguir um abatimento no preço do
produto?
14. Posso promover um subordinado competente, embora não o mais
competente para a posição em tela porque ele me é leal? Porque é meu amigo?
15. Posso distorcer um pouco a verdade para vender um produto quando os
danos para o comprador são muito pequenos?
16. Posso usar na empresa que me emprega atualmente informações
confidenciais que aprendi em emprego anterior e em relação aos quais não
firmei nenhum compromisso de não utilizar em outra organização? Em que
condições?
17. Posso usar na empresa que me emprega atualmente informações
confidenciais que aprendi num emprego anterior se isto for indispensável para a
manutenção do meu emprego?
18. Posso comprar num camelô, que visivelmente não está registrado e não
paga imposto, a fim de obter um preço mais baixo?
19. Posso comprar num camelô, que visivelmente não está registrado e não
paga imposto, para conseguir um produto de que necessito e não posso obtê-lo
de outra forma?
20. Posso avançar o sinal vermelho à noite, em lugar perigoso, quando não
vem nenhum carro na outra direção, mesmo que não haja sinal visível de
perigo?
21. Posso avançar o sinal vermelho de dia, em lugar pouco perigoso, quando
não vem nenhum carro na outra direção e não há pedestres querendo
atravessar a rua?
22. Posso fazer campanha eleitoral por um amigo, que não parece ser bom
candidato, mas vai me favorecer, embora respeitando a legislação?
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Luciano Zajdsnajder identifica as seguintes formas de ser ético:
121
SANCHEZ VASQUEZ, A. - Ética - Editora Civilização Brasileira; Rio de Janeiro,1970; pg. 6.
122
SANCHEZ VASQUEZ, Adolfo - Op. cit. - pg. 75.
123
RUSS, Jacqueline - La Pensée Éthique Contemporaine - Presses Universitaires de France; Paris,
1994; pg. 5.
124
ZAJDSZNAJDER, L. - Ser Ético - Editora Gryphus; Rio de Janeiro, 1994; pgs. 137 a 148.
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Introdução
O Utilitarismo
O utilitarismo, defendido por Jeremy Bentham e John Stuart Mill, pode ser
resumido no princípio de que a moral se justifica quando os desejos humanos
concordam com seus preceitos e coloca a felicidade como bem supremo a ser
perseguido pela humanidade, reconhecendo a impossibilidade de alcançá-la em
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sua plenitude. De forma simplificada, dizemos que o utilitarismo prega que se
ninguém é prejudicado, a decisão é ética. Extrapolando este princípio, concluímos
que o balanço das boas conseqüências sobre as más é o que conta para a
avaliação ética, i.e., é válido o comportamento que produz o maior bem para o
maior número. Levando isto às últimas conseqüências, justificara-se o hedonismo
como ético, desde que os benefícios obtidos sejam superiores aos malefícios
causados. Não era este o ponto de vista de Bentham e, muito menos, de Mill.
Os princípios universais
MILL, John Stuart - El Utilitarismo - Ed. Cast.: Alianza Editorial; Madrid, 1994.
125
126
GIANNETTI DA FONSECA, Eduardo – Vícios Privados, Benefícios Públicos?: A Ética na
Riqueza das Nações – Companhia das Letras; São Paulo, 1993; pgs. 42 e 45.
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Algumas decisões são muito difíceis de avaliar sob o ponto de vista ético por
envolverem ambigüidades. Nestes casos, devemos tentar uma avaliação
considerando as abordagens acima. Existem, porém, alguns princípios que não
admitem ambigüidades. A honestidade é uma dessas qualidades absolutas. “A
honestidade é um princípio que não admite relatividade, ou seja, o indivíduo é ou
não é honesto; não existe o relativamente honesto nem o aproximadamente
honesto. A tolerância não entra nas cogitações nem na fixação de um limite de
honestidade. Não existe também menor ou maior desonestidade, mas
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Dubrin fornece o seguinte guia para a análise das decisões sob o ponto de
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vista da ética:
1. Isto é certo?
2. Isto é justo?
3. Quem será prejudicado?
4. Você ficaria à vontade se os detalhes da sua decisão fossem divulgados na
primeira página do jornal ou pelo correio eletrônico da empresa?
5. Você diria a seus filhos para fazer isto?
1. Cumprimento de promessas.
2. Não prejudicar os outros.
3. Ajuda mútua.
4. Respeito pelas pessoas.
5. Respeito pelas propriedades. 129
127
LOPES DE SÁ, Antonio - Ética Profissional - Editora Atlas; 2ª edição; Rio de Janeiro,1998; pg.
172.
128
DuBRIN, Andrew J. - Princípios de Administração - 4ª Edição - LTC - Livros Técnicos e
Científicos Editora S.A.; Rio de Janeiro, 1998; pg. 34.
129
STONER, James A.F. and FREEMAN, R. Edward - Administração - 5ª edição; Prentice-Hall do
Brasil; Rio de Janeiro, 1985; pg. 79.
130
JACKS, L. P. Apud GIANNETTI DA FONSECA, Eduardo - Vícios Privados, Benefícios
Públicos?: A Ética na Riqueza das Nações - Companhia das Letras; São Paulo, 1993; pgs. 27 e 28.
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131
GIANNETTI DA FONSECA, Eduardo - Vícios Privados, Benefícios Públicos?: A Ética na
Riqueza das Nações - Companhia das Letras; São Paulo, 1993; pg. 57.
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como uma nova realidade, como uma necessidade de um tempo que precisa de
autogoverno e principalmente de um quadro de referência não apenas para os
momentos extremos, mas para o cotidiano, que obriga a tantas decisões e que é
de muitos riscos e incertezas. Nesta hipótese, nos é entregue o desafio de agir
eticamente nas situações comuns, refletir a respeito com freqüência...por desejar
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uma vida de melhor qualidade.”
1. O princípio religioso;
2. O princípio da força afirmativa;
3. O princípio da realidade;
4. O princípio da responsabilidade;
5. O princípio da liberdade e da igualdade;
6. O princípio da diferença;
7. O princípio da autodeterminação;
8. O princípio do respeito pela vida.
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O que seria uma empresa ética? “A empresa ética é definida, pelos nossos
padrões, como aquela que conquistou o respeito e a confiança de seus
empregados, clientes, fornecedores, investidores e outros, estabelecendo um
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DAVIS, Keith - Corporate Responsibility - in “Contemporary Management”; Prentice-Hall;
Englewood Cliffs, N.J., 1974; Apud STONER, James A.F. and FREEMAN, R. Edward -
Administração - 5ª edição; Prentice-Hall do Brasil; Rio de Janeiro, 1985; pg. 73.
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Como passar dos princípios para a prática? Nenhuma empresa pode ser
ética se a alta administração da empresa não transmite uma cultura baseada em
premissas éticas. O ponto de partida é, portanto, a vontade da alta administração
de estabelecer objetivos, políticas, normas e padrões éticos a serem adotados pela
empresa. Algumas chegam a definir e divulgar um código de ética a ser seguido
por todos os que dirigem e trabalham na empresa, mas se há um código
explícito terá que ser obedecido.
Se, a longo prazo, a postura ética tende a beneficiar a empresa, por que
esta postura nem sempre é seguida?
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Finalmente, temos que considerar que são os pequenos deslizes que levam
aos grandes, como demonstrou o Padre Antônio Vieira no século XVII na sua obra
A Arte de Furtar. Muitas pessoas ou empresas, aparentemente éticas, acham que,
num momento de pressão, será válido cometer um pequeno deslize, esquecendo-
se das conseqüências que isto pode acarretar no futuro. É possível, às vezes,
superar o problema, mas existem riscos.
LOPES DE SÁ, Antonio - Ética Profissional - Editora Atlas; 2ª edição; Rio de Janeiro, 1998; pg.
142
125.
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THIRY-CHERQUES, Hermano Roberto - Sondagem Sobre Valores Éticos - Pesquisa
mimeografada da Fundação Getúlio Vargas; Rio de Janeiro, 1993.
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Por outro lado, se existem tantas organizações que dizem que gostariam de
ser éticas, mas não conseguem sê-lo sem por em risco a sua sobrevivência, temos
que admitir que é preciso fazer algo para lhes dar condições de operarem de forma
ética sem este risco. Provavelmente, eles não têm condições de cumprir a
legislação e por isto não se consideram éticos. O problema pode estar no custo da
legalidade. “Na América Latina, o custo da legalidade está muito acima da renda
da população, e aí reside o problema. O custo da lei deve ser proporcional à
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GIANNETTI DA FONSECA, Eduardo – Vícios Privados, Benefícios Públicos?: A Ética na
Riqueza das Nações – Companhia das Letras; São Paulo, 1993; pg. 95.
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145
GHERSI, Enrique – A Corrupção como conseqüência – in Think Tank; Junho de 2000, pg. 22 e
seg.; Instituto Liberal.
146
HOFFMAN, James J.; COUCH, Grantham & LAMONT, Bruce T. – A Teoria da Relatividade
da Ética – in HSM Management; nov-dez, 1999; pgs. 142 e seg.
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5. A ÉTICA E O DESENVOLVIMENTO
Mesmo usando o termo desenvolvimento no seu contexto mais restrito, de
desenvolvimento econômico, a ética traz amplas vantagens para a sociedade.
Sempre se soube o que John Stuart Mill registrou: “nem agora, nem em
épocas anteriores, as nações detentoras do melhor clima e do melhor solo têm
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sido as mais ricas ou poderosas.” Toynbee comprovou que condições naturais
favoráveis não geram progresso, que as civilizações que prosperaram foram
aquelas que enfrentaram desafios para o seu desenvolvimento e que: “o sucesso
parece que torna as pessoas acomodadas ou convencidas. Coletei uma série de
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exemplos notáveis para mostrar como isto realmente acontece.” “Os
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GIANNETTI DA FONSECA, Eduardo – Vícios Privados, Benefícios Públicos?: A Ética na
Riqueza das Nações – Companhia das Letras; São Paulo, 1993; pgs. 60 e 64.
148
MILL, John Stuart – Principles – Apud: GIANNETTI DA FONSECA, Eduardo – Op. cit. – pg.
172.
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TOYNBEE, Arnold – A Study of History – Weathervane Books; New York, 1972; pg. 141.
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150
SKIDMORE, Thomas – Brazil: Five Centuries of Change – Oxford University Press, 1999; pgs.
21 e 22.
151
GIANNETTI DA FONSECA, Eduardo – Op. cit. – pgs. 144 e 154.
152
GIANNETTI DA FONSECA, Eduardo – Op. cit. – pg. 155.
153
Idem – pg. 155.
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6. CONCLUSÃO: REALISMO DA
ADMINISTRAÇÃO
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MACDONNEL – A Survey of Political Economy; Apud GIANNETTI DA FONSECA, Eduardo
– Op. cit. – pg. 174.
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Tudo sugere que o mundo cada vez mais caminhará balizado pelos
conceitos de individualismo (pluralismo de idéias e atitudes, oportunidades iguais
dadas a todos os jogadores), direitos civis (prerrogativas civis inalienáveis dos
cidadãos), competição (força fundamental que garante o equilíbrio econômico e a
satisfação das necessidades), estado pequeno (governo compacto, fiscalizador
eficiente e rigoroso, cuja interferência na vida cotidiana do país acontece como
exceção e não como regra), justiça ágil (solução rápida das disputas e utilização
de contrato entre as partes como forma de selar acordos) e especialização
científica (universalização do ensino, de um lado, e formação de especialistas nas
diversas áreas do conhecimento, de outro).
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cultue também a idéia de cooperação. Tal idéia não apenas permite a formação
de equipes de trabalho eficazes, como também gera no médio prazo
sociedades mais solidárias e justas.
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