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LINEAMENTA
ÍNDICE
APRESENTAÇÃO
INTRODUÇÃO
Os Padres
A hodierna negação do mistério
A mistagogia hoje
Presidir à Eucaristia
O decoro da Celebração Eucarística
A dignidade do canto e da música sagrada
O encontro com o mistério através da arte
A orientação da oração
A área particularmente sagrada do presbitério ou santuário
O altar, mesa do Senhor
O tabernáculo, tenda da Presença
Conclusão
Questionário
APRESENTAÇÃO
Como é aliás bem sabido, trata-se do primeiro passo da consulta universal, que dará a
possibilidade a todas as Igrejas particulares, espalhadas pelo mundo, de entrar no
processo sinodal com a reflexão, a oração e as sugestões mais oportunas, por forma a
se poder preparar o Instrumentum laboris, que constituirá a ordem do dia da
Assembleia sinodal.
A consulta em vista dessa futura Assembleia sinodal contém uma novidade na história
do Sínodo dos Bispos: o tema corresponde, de facto, ao de uma recente Encíclica
pontifícia sobre a Eucaristia na sua relação vital com a Igreja, a Ecclesia de
Eucharistia. A circunstância merece ser tida em conta pela influência directa que terá
na consulta e no trabalho sinodal verdadeiro e próprio.
Não surpreende o facto de um Sínodo ser chamado a debruçar-se sobre uma matéria
tratada pelo Magistério pontifício ordinário. O que admira é a proximidade
cronológica e a identidade promulgativa: é o mesmo Papa, que, num breve espaço de
tempo, escreve sobre a Eucaristia e confia a um Sínodo o mesmo tema. Tudo isto é rico
de significado para o Pontífice, para os Bispos e para a Igreja.
A Assembleia sinodal tem finalidades consultivas, e mesmo que desta vez os Bispos não
sejam convocados pelo Papa para darem sugestões em vista de intervenções doutrinais,
existem, todavia, razões suficientes para reunir os pastores, para que, num tema tão
decisivo para a vida e missão da Igreja, manifestem as exigências e implicações
pastorais da Eucaristia na celebração, no culto, na pregação, na caridade e nas
diversas obras em geral.
O ponto mais relevante, porém, é outro. Considerando a evidente analogia dos títulos,
é inevitável perguntar qual a razão que terá levado o Papa a escolher um tema já
tratado. A resposta a essa objecção dialéctica encontra-se na observação do que se
passa na vida actual da Igreja. Não há dúvida de que, hoje, existe na Igreja uma
“urgência eucarística”, não já derivada de uma incerteza de fórmulas, como acontecia
no tempo do Vaticano II, mas porque a hodierna praxe eucarística carece de uma nova
e amorosa expressão, feita de gestos de fidelidade Àquele que se faz Presente a quantos
hoje continuam a procurá-l’O: “Mestre, onde moras?”.
25 de Fevereiro de 2004
INTRODUÇÃO
1. Deus invisível manifestou-se no Verbo feito carne, o Filho Jesus Cristo. Depois da
Ascensão, “o que era visível do nosso Redentor passou para os ritos sacramentais”.[1]
Por isso “Vemos uma coisa e entendemos outra. Vemos um homem (Jesus), mas
acreditamos em Deus”.[2]
A Igreja, sacramento da salvação de Jesus Cristo para o homem, vive do culto centrado
no Verbo encarnado, sacramento do Pai. O Cânone Romano e a anáfora de São João
Crisóstomo definem a Santa Missa como ‘oblationem rationabilem’ e ‘logikèn
latreían’, o tornar-se evento da palavra divina, em que participam o espírito e a razão.
Aquele que é a palavra, o Verbo, dirige-se ao homem e espera dele uma resposta
compreensível, racional (rationabile obsequium). Assim, a palavra humana torna-se
adoração, sacrifício e acção de graças (eucharistía). Este ‘culto espiritual’ (cf. Rom 12,
1) é o coração da ‘participação’ activa e consciente do povo de Deus no mistério
eucarístico,[3] que atinge a plenitude na Sagrada Comunhão.[4]
2. O Concilio ecuménico Vaticano II dedicou ao Mistério Eucarístico o capítulo III da
Constituição sobre a Sagrada Liturgia. Tudo o que, porém, nesse Documento se diz da
Liturgia, como ápice e fonte da acção da Igreja, diz respeito, antes de mais, à celebração
da Eucaristia, a ‘Divina Liturgia’, como os Orientais preferem chamá-la. O tema do
próximo Sínodo será a Eucaristia, na qual o povo de Deus participa em virtude do
Baptismo. Ela é, de facto, o ‘ápice’ da iniciação cristã, como o é da acção apostólica,
uma vez que esta última pressupõe a participação na comunhão da Igreja. E é, ao
mesmo tempo, ‘fonte’, porque constitui o alimento da sua vida e missão.[5] Eis porque
a Encíclica de João Paulo II, Ecclesia de Eucharistia, refazendo-se à Carta apostólica
Novo millennio ineunte, que exortava a conhecer, a amar e imitar Cristo, mostra como
“um renovado impulso na vida cristã passa pela Eucaristia”.[6]
4. O tema escolhido por João Paulo II para a XI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo
dos Bispos é a Eucharistia fons et culmen vitæ et missionis Ecclesiæ. Entre as questões
que deverão ser objecto de aprofundamento, indicam-se sobreudo três:
a. o Filho de Deus, Jesus Cristo, com os gestos da última Ceia e sobretudo com as
palavras ‘Fazei isto em memória de Mim’, não entendia uma simples refeição fraterna,
mas uma liturgia, verdadeiro culto de adoração ao Pai ‘em espírito e verdade’ (cf. Jo 4,
24);
b. com a reforma litúrgica, não foi destruído o secular património da Igreja Católica.
Apenas se procurou promover, na fidelidade à tradição católica, a renovação da Liturgia
para favorecer a santificação dos cristãos;
c. a presença real do Senhor no Santíssimo Sacramento foi querida por Ele mesmo para
que o Deus Emanuel fosse, hoje e sempre, um Deus próximo do homem, o seu Redentor
e Senhor.
Capítulo I
Os Hebreus tinham também uma refeição sagrada ou sacrifício convival (tôdâ) (vejam-
se, por exemplo, os Salmos 22 e 51) que se fazia no tempo de Jesus e se caracterizava
pelo agradecimento e pelo sacrifício incruento do pão e do vinho. Pode compreender-se
assim um outro aspecto da última Ceia, o do sacrifício convival de agradecimento. O
rito veterotestamentário do sangue derramado em sacrifício serve de fundo ao tema da
aliança que Deus gratuitamente estabelece com o seu povo (cf. Gen 24, 1-11).
Preanunciado pelos profetas (cf. Is 55, 1-5; Jer 31, 31-34; Ez 36, 22-28), e
absolutamente necessário para compreender a última Ceia e toda a revelação de Cristo,
esse rito tem um nome – em hebraico berìt, traduzido em grego por diathéke –, que
indicará também o corpo dos escritos do Novo Testamento. De facto, o Senhor
sancionou na última Ceia a aliança, o seu testamento, com os discípulos e com toda a
Igreja.
7. O facto histórico da última Ceia é narrado nos Evangelhos de São Mateus (26, 26-
28), de São Marcos(14, 22-23) e de São Lucas (22, 19-20) e em São Paulo, na primeira
Carta aos Coríntios (11, 23-25), passagens que permitem compreender o sentido do
acontecimento: Jesus Cristo dá-se (cf. Jo 13, 1) como alimento do homem: dá o seu
corpo e derrama o seu sangue por nós. Esta aliança é nova, porque inaugura uma nova
condição de comunhão entre o homem e Deus (cf. Heb 9, 12): Além disso, é nova e
melhor que a antiga, porque, sobre a cruz, o Filho oferece Si mesmo, dando a quantos O
recebem o poder de se tornarem filhos do Pai (cf. Jo 1, 12; Gal 3, 26). O mandamento
Fazei isto em memória de Mim indica a fidelidade e a continuidade do gesto, que deve
permanecer até à vinda do Senhor (cf. 1 Cor 11, 26).
Realizando este gesto, a Igreja recorda ao mundo que entre Deus e o homem existe uma
amizade indestrutível, graças ao amor de Cristo, que, oferecendo-Se, venceu o mal.
Nesse sentido, a Eucaristia é força e lugar de unidade do género humano. Mas a
novidade e o significado da última Ceia estão imediata e directamente ligados ao acto
redentor da cruz e da ressurreição do Senhor, ‘palavra definitiva’ de Deus ao homem e
ao mundo. Assim, Cristo, com o desejo ardente de celebrar a Páscoa, de Se oferecer (cf.
Lc 22, 14-16), torna-Se a nossa Páscoa (cf. 1 Cor 5, 7): a cruz tem início na Ceia (cf. 1
Cor 11, 26). E é a mesma pessoa, Jesus Cristo, que, na Ceia de modo incruento e sobre
a cruz com o seu próprio sangue, é sacerdote e vítima que Se oferece ao Pai: “sacrifício
que o Pai aceitou, retribuindo essa doação total de seu Filho, que Se tornou ‘obediente
até à morte’ (Fil 2, 8), com a sua doação paterna, ou seja, com o dom da vida nova
imortal na ressurreição, porque o Pai é a primeira fonte e o doador da vida desde o
princípio”.[15] Por isso, não se pode separar a morte de Cristo da sua ressurreição (cf.
Rom 4, 24-25), com a vida nova que daí provém, e na qual somos inseridos com o
Baptismo (cf. Rom 6, 4).
10. Jesus Cristo é o Vivente e encontra-Se na glória, no santuário do céu, onde entrou
graças ao seu sangue (cf. Heb 9, 12). Encontra-se no estado imutável e eterno de sumo
sacerdote (cf. Heb 8, 1-2); “tem um sacerdócio que não terá fim” (Heb 7, 24s); oferece-
Se ao Pai e, pelos méritos infinitos da sua vida terrena, continua a irradiar a redenção do
homem e do cosmo, que n’Ele se transforma e se recapitula (cf. Ef 1, 10). Tudo isto
significa que o Filho Jesus Cristo é mediador da nova aliança para os que foram
chamados à herança eterna (cf. Heb 9, 15). O seu sacrifício dura eternamente no
Espírito Santo, que recorda à Igreja tudo o que o Senhor realizou como sumo e eterno
sacerdote (cf. Jo 14, 26; 16, 12-15). São João Crisóstomo observa que o verdadeiro
celebrante da divina Liturgia é Cristo: Aquele que celebrou a Eucaristia “naquela ceia,
realiza também hoje o mesmo milagre. Nós possuímos a ordem de ministros, mas é Ele
que santifica e transforma a oferta”.[17] Portanto, “não se trata de uma imagem ou de
uma figura de sacrifício, mas de um sacrifício verdadeiro”.[18]
Deus dignou-Se aceitar a imolação do Filho como vítima pelo pecado, e a Igreja reza
para que o sacrifício sirva para salvação do mundo. Existe uma identidade plena entre
sacrifício e renovação sacramental instituída na Ceia que Cristo mandou celebrar em sua
memória como sacrifício de louvor, de acção de graças, de propiciação e expiação.[19]
Daí que, graças ao amor sacrifical do Senhor, “a Missa torna presente o sacrifício da
Cruz; não é mais um, nem o multiplica”.[20] Portanto, o acto prioritário é o sacrifício;
segue-lhe o banquete, onde tomamos em alimento o Cordeiro imolado sobre a Cruz.
11. Fazer memória de Cristo significa recordar toda a sua vida, porque na Missa tornam-
se presentes, à sua maneira e ao longo do ano, os mistérios da redenção, mas
especialmente, segundo São Paulo, a humilhação (cf. Fil 2), o amor supremo que O
tornou obediente até à Cruz. Todas as vezes que comemos o seu corpo e bebemos o seu
sangue, anunciamos a sua morte, até que Ele venha (cf. 1 Cor 11, 26), bem como a sua
ressurreição (cf. Act 2, 32-36; Rom 10, 9; 1 Cor 12, 3; Fil 2, 9-11). Por isso, Ele é o
Cordeiro Pascal imolado (cf. 1 Cor 5, 7-8), que está de pé, porque ressuscitou (cf. Ap 5,
6).
A instituição da Eucaristia teve início na última Ceia: as palavras que nela Jesus
pronuncia são uma antecipação da sua morte. Mas também esta ficaria vazia, se o seu
amor não fosse mais forte do que a morte, para chegar à ressurreição. Eis porque a
morte e a ressurreição são chamadas, na tradição cristã, mysterium paschale. Isto
significa que a Eucaristia é muito mais do que uma simples ceia; o seu preço foi uma
morte, que foi vencida com a ressurreição. Por isso, o lado aberto de Cristo é o lugar
originário donde nasce a Igreja e promanam os sacramentos que a edificam, o Baptismo
e a Eucaristia, dom e vínculo de caridade (cf. Jo 19, 34). Assim, na Eucaristia adoramos
“Aquele que estava morto e que agora vive para sempre” (Ap 1, 18). O Cânone Romano
exprime tudo isto logo a seguir à consagração: “Celebrando agora, Senhor, o memorial
da bem-aventurada paixão de Jesus Cristo, vosso Filho, nosso Senhor, da sua
ressurreição de entre os mortos e da sua gloriosa ascensão aos Céus, nós, vossos servos,
com o vosso povo santo, dos próprios bens que nos destes, oferecemos à vossa divina
majestade, o sacrifício perfeito, santo e imaculado, o pão santo da vida eterna e o cálice
da eterna salvação”.
12. Em todos os sacramentos, Jesus Cristo actua através de sinais sensíveis que, sem
mudarem de natureza, adquirem uma capacidade transitória de santificação. Na
Eucaristia, Ele está presente com o seu corpo e sangue, alma e divindade, dando ao
homem toda a sua pessoa e a sua vida. No Antigo Testamento, Deus, através dos seus
enviados, indica a sua presença na nuvem (shekhinà), no tabernáculo, no templo. Com o
Novo Testamento, na plenitude do tempo, vem habitar entre os homens no Verbo feito
carne (cf. Jo 1, 14), tornando-Se realmente Emanuel (cf. Mt 1, 23); fala por meio do
Filho, seu herdeiro (cf. Heb 1, 1-2).
São Paulo, para fazer compreender o que acontece na comunhão da Eucaristia, afirma:
“Aquele que se une ao Senhor constitui com Ele um só espírito” (1 Cor 6, 17), numa
nova vida que promana do Espírito Santo. Santo Agostinho compreendeu-o em
profundidade, mas, já antes dele, Santo Inácio de Antioquia e, depois, os monges e
muitos místicos e teólogos. A Divina Liturgia é esta presença de Cristo “que reúne
(ekklesiázon) todas as criaturas”;[25] convoca-as à volta do santo altar e
“providencialmente as une, tanto a Si mesmo como entre si”.[26] Diz São João
Crisóstomo: “Quando estás para abeirar-te da sagrada mesa, acredita que nela está
presente o Senhor de todos”.[27] Por isso, a adoração é inseparável da Comunhão.
Grande é o mistério da presença real de Jesus Cristo![28] Para o Vaticano II, tem o
mesmo sentido da definição de Trento: com a transubstanciação, o Senhor torna-Se
presente no seu corpo e sangue.[29] O Padres Orientais falam de metabolismo[30] do
pão e do vinho em corpo e sangue. São dois modos significativos de conjugar razão e
mistério, porque, como afirmou Paulo VI, a presença eucarística “constitui, no seu
género, o maior dos milagres”.[31]
Capítulo II
14. Com o aval oficial da Igreja, teve início a primeira reflexão teológica que determiná
a futura doutrina eucarística da presença de Cristo, do modo como esta se realiza e da
dimensão sacrificial, como o testemunham as catequeses dos Padres para o antes, o
durante e o depois da iniciação cristã. São Gregório de Nissa, por exemplo, defende que,
com a Comunhão eucarística, se adere ao corpo de Cristo, enquanto que com a fé se
adere à sua alma[39] e se recebe a imortalidade. Também São Cirilo de Jerusalém,
refazendo-se a São Pedro, recorda que, com a Eucaristia, nos tornamos participantes da
natureza divina.[40] São João Crisóstomo vê a Eucaristia no contexto da iniciação
baptismal, como alimento da vida recebida e sua ajuda na luta contra Satanás.
Particularmente eficaz para a tensão escatólogica é esta sua explicação: “Quando vês o
Senhor imolado e prostrado, e o sacerdote que preside ao sacrifício e que reza, e todos
tingidos de vermelho daquele sangue precioso, julgas encontrares-te ainda entre os
homens e estares ainda sobre a terra? Ou não te sentirás imediatamente arrebatado aos
céus, contemplando, com o espírito livre de todo o pensamento carnal, com a alma nua e
a mente pura, as realidades celestes?”.[41]
16. A Eucaristia exprime também a natureza da Igreja una, santa, católica e apostólica,
tanto a nível local como universal. A recente Encíclica de João Paulo II, Ecclesia de
Eucharistia, constitui um acto de Magistério iluminante para a compreensão da relação
entre a Eucaristia e a Igreja. A grandeza e beleza da Igreja Católica estão precisamente
no facto de esta não ficar parada numa determinada época ou milénio, mas crescer,
amadurecer, penetrar mais profundamente no mistério, propô-lo nas verdades que se
devem crer e nas liturgias que se devem celebrar. Até nisto se vê que, nela, continua a
existir a única Igreja de Cristo.
Santo Agostinho explicava assim a Eucaristia aos neófitos na noite de Páscoa: “Deveis
ser esclarecidos sobre o que recebestes. Ouvi portanto brevemente o que diz o Apóstolo
ou, melhor, Cristo por meio do Apóstolo, sobre o sacramento do corpo do Senhor: ‘Um
só é o pão, e nós formamos um só corpo, embora sejamos muitos’. Está tudo aí; disse-
vo-lo brevemente; não conteis porém as palavras, pesai-as!”.[51] Na citada frase do
Apóstolo está, segundo o santo bispo de Hipona, a síntese do mistério que os neófitos
recebem.
A apostolicidade da Eucaristia
Por conseguinte, “não se deve esquecer que, se a Igreja faz a Eucaristia, a Eucaristia faz
a Igreja, a ponto de isso se tornar critério de confirmação, até de uma correcta doutrina”.
[62] Também por isso, a Eucaristia é um dom que se deve descobrir pessoalmente como
comunhão com Cristo, profundidade do mistério e verdade existencial.
A catolicidade da Eucaristia
19. Não menos importante é a catolicidade da Eucaristia, ou seja, a sua relação com a
Igreja universal e local. A Comunhão, que “não foi sem razão que [...] se tornou um dos
nomes específicos deste Sacramento excelso”,[63] indica também a natureza da Igreja.
Se é verdade que a Igreja “vive e cresce continuamente”[64] da Eucaristia e nela se
exprime, a sua celebração, todavia, “não pode ser o ponto de partida da comunhão
eclesial, cuja existência pressupõe, visando a sua consolidação e perfeição”.[65] O
Concílio Vaticano II lembra que a comunhão católica se exprime nos ‘vínculos’ da
profissão de fé, da doutrina dos Apóstolos, dos sacramentos e da ordem hierárquica.[66]
Exige, portanto “um contexto de integridade dos laços, mesmo externos, de comunhão”,
[67] de modo especial o Baptismo e a Ordem. A Eucaristia como sacramento encontra-
se entre esses vínculos necessários, mas, para ela ser visivelmente católica, deve ser
celebrada una cum Papa et Episcopo, princípios de unidade visível universal e
particular. É uma “exigência intrínseca da celebração do sacrifício eucarístico”, que “em
virtude do carácter próprio da comunhão eclesial, [...] embora se celebre sempre numa
comunidade particular, nunca é uma celebração apenas dessa comunidade, [...] mas é
imagem e verdadeira presença da Igreja una, santa, católica e apostólica”.[68]
Paulo VI, na Constitução apostólica Missale Romanum de 1969, exprimia o desejo que
o Missal, renovado por disposição do Vaticano II, fosse acolhido como meio de
testemunhar e afirmar a unidade de todos, e de exprimir, na variedade das línguas, ‘uma
única e idêntica oração’. É aí que se encontra o sentido da observância das normas
litúrgicas e canónicas relativas à Eucaristia. A Igreja, quando dá normas sobre a
Eucaristia, considera dirigida a si própria a ordem que Jesus deu aos Apóstolos de
prepararem a Páscoa (cf. Lc 22, 12).
Capítulo III
A natureza da Eucaristia
Paulo VI reafirmou na Encíclica Mysterium fidei que a Missa é sempre acção de Cristo
e da Igreja, mesmo se excepcionalmente celebrada em privado, ou seja, apenas pelo
sacerdote. Cristo não está presente na Eucaristia de modo espiritual ou simbólico, mas
está realmente presente nela, que é fonte da unidade da Igreja, seu corpo.[83] Segundo a
fé que a Igreja desde sempre professou, a Eucaristia, diferentemente dos outros
sacramentos, é “a carne do nosso salvador Jesus Cristo, que padeceu pelos nossos
pecados e que o Pai por sua benignidade ressuscitou”.[84] Quanto à transubstanciação
das espécies, quer na Encíclica, quer na Profissão de Fé, Paulo VI reafirma o nexo
causal da mesma com a presença: Cristo torna-Se presente na Eucaristia por uma
mudança de toda a substância das duas espécies.[85]
23. Jesus é o Filho de Deus corporalmente presente entre os homens. Não foi apenas
afirmado por Ele; foi também testemunhado pelo Espírito juntamente com o Pai,
sobretudo no Baptismo e na transfiguração. O Senhor garante uma presença quotidiana,
“todos os dias até ao fim do mundo” (Mt 28, 20), ao longo das épocas históricas. Essa
presença, originada pelo Pai e continuamente a Ele referida, torna-se contemporânea a
cada homem e em todos os tempos, graças ao Espírito. A plenitude divina do Verbo da
vida encontrava-se na humanidade de Jesus de Nazaré. Depois da sua ascensão (cf. Mc
16, 19-20; Lc 24, 50-53; Act 1, 9-14), fica no mistério da Eucaristia, máximo
sacramento da Presença de Deus ao homem. A ascensão, de facto, não significa o
desaparecimento de Cristo num céu fechado; a abertura do céu está a significar um
modo de voltar: “Precisamente então, [...] o Filho da Homem foi conhecido da maneira
mais excelsa e mais santa como Filho de Deus: pois tendo-se retirado para a glória da
paterna majestade, passou a estar, de modo inefável, ainda mais presente (præsentior)
com a sua divindade, embora mais distante com a sua humanidade [...] Quando subir ao
meu Pai, então poderás tocar-me de modo mais perfeito e excelso”.[87] Portanto, com a
ascensão, Jesus Cristo não se ausenta do mundo, mas está presente numa nova forma.
Cristo dissera: “Não voltareis a ver-me enquanto não disserdes: Bendito o que vem em
nome do Senhor” (Mt 23, 39). O cálice da bênção passou para as mãos dos Apóstolos,
depois de o Senhor ter voltado ressuscitado para o meio deles. A partir de então, a
Igreja, quando se reúne, aclama-O sempre bendito, e na Liturgia, depois do tríplice
Santo, acrescenta Bendito o que vem em nome do Senhor.
24. A fé cristã, por conseguinte, não consiste apenas em acreditar na existência de Deus
ou da pessoa histórica de Jesus, mas também no facto de que, n’Este, o Verbo de Deus
se fez carne e continua a habitar entre nós: no princípio da sua vida terrena, com um
corpo mortal dotado de propriedades ligadas ao espaço e ao tempo; depois, com um
corpo ressuscitado, já não vinculado às mesmas. De facto, o Ressuscitado entra com as
portas fechadas, supera num instante distâncias relevantes, para Se fazer reconhecer,
ouvir, ver e tocar pelos seus. A partir da ressurreição e da ascensão, a sua presença é
uma realidade nova.
Este método de Deus, que atravessa a história atingindo todo o homem, parece vir
insinuado na primeira Carta de São João: “O que era desde o princípio, o que ouvimos,
o que vimos com os nossos olhos, o que contemplámos e as nossas mãos tocaram acerca
do Verbo da vida, [...] nós vos anunciamos, para que estejais também em comunhão
connosco” (1 Jo 1, 1-3). E Santo Ambrósio comenta: “provemos a verdade do mistério
com o próprio mistério da encarnação. Será que foi respeitado o curso normal da
natureza, quando o Senhor Jesus nasceu de Maria? [...] Pois bem, o que reapresentamos
é o corpo nascido da Virgem [...] É a verdadeira carne de Cristo, que foi crucificada e
foi sepultada. É, portanto, verdadeiramente o sacramento da sua carne”.[88]
25. O Magistério do Papa e dos Bispos, depois do Concílio Vaticano II, interveio
pontualmente para encorajar a aplicação da reforma litúrgica e avaliar os seus sucessos.
Na Encíclica Ecclesia de Eucharistia, João Paulo II, após ter incluído entre as luzes
sobretudo a participação dos fiéis na Liturgia, “com profunda dor” indica também as
sombras: nalguns lugares, o descrédito do culto da adoração eucarística e os abusos,
“que contribuem para obscurecer a recta fé e a doutrina católica acerca deste admirável
Sacramento”.[92] Há que distinguir entre a luz da Eucaristia como sacramento e as
sombras, que são invés obra humana. Por exemplo, na catequese e na praxe eucarísticas
notam-se insistências unilaterais sobre o carácter convivial da Eucaristia, sobre o
sacerdócio comum, sobre o anúncio considerado por si só eficaz, sobre os ritos
eucarísticos ecuménicos contrários à fé e à disciplina da Igreja.
A vida da graça transmite-se através de sinais sensíveis em cada sacramento, mas com
maior evidência na Eucaristia. A Igreja não dá a vida a si por si só, nem se edifica por si
mesma; vive de uma realidade que a precede; por outras palavras, “a acção conjunta e
indivisível do Filho e do Espírito Santo, que está na origem da Igreja, tanto da sua
constituição como da sua continuidade, opera na Eucaristia”.[95] Portanto, a Igreja não
nasce a partir de baixo, porque a communio é graça, é dom que vem do alto.
“A Igreja recebeu a Eucaristia de Cristo seu Senhor, não como um dom, embora
precioso, entre muitos outros, mas como o dom por excelência, porque dom d’Ele
mesmo, da sua Pessoa na humanidade sagrada, e também da sua obra de salvação. Esta
não fica circunscrita no passado, pois ‘tudo o que Cristo é, tudo o que fez e sofreu por
todos os homens, participa da eternidade divina, e assim abraça todos os tempos’”.[96]
Recebendo o único Pão, entramos nesta única vida e tornamo-nos assim um único
Corpo do Senhor. Fruto da Eucaristia é a união dos cristãos, antes dispersos, na unidade
do único pão e do único corpo. É por esse mesmo motivo, que só pode ser recebida na
unidade com toda a Igreja, superando toda a separação religiosa ou moral.[100]
Capítulo IV
A liturgia da Eucaristia
30. O sacramento é “um sinal sensível da realidade sagrada e forma visível da graça
invisível”.[111] Não se julgue superada uma tal definição do Concílio de Trento, porque
ainda serve para evidenciar os elementos de que necessariamente se compõe também o
sacramento eucarístico: o ministro, os que o recebem e o gesto sensível.
Quanto aos elementos, o gesto da Eucaristia é possível só com o pão, com o vinho e
algumas gotas de água que exprimem a união do povo santo com o sacrifício de Cristo,
[112] mesmo se para a validade do gesto a água não seja necessária.[113] Quanto à
fórmula, para a fé católica, são essenciais e necessárias apenas as palavras da
consagração.[114] O ministro é o sacerdote validamente ordenado.[115] Podem receber
validamente a Eucaristia só os baptizados, a quem, segundo a tradição latina, se exige o
uso da razão para que possam conhecer, por quanto possível, os mistérios da fé e
abeirar-se dela com recta intenção e devoção. Exige-se igualmente o estado de graça,
que depois de um pecado mortal se recupera com a Confissão sacramental.[116]
Por tudo isto se compreende que a Liturgia não é uma propriedade privada, deixada à
mercê da criatividade pessoal nas celebrações comunitárias ou naquelas com poucos
fiéis ou sem eles.[117] A forma da Missa concelebrada por vários ministros, onde se
manifesta ao máximo a unidade do sacerdócio, do sacrifício e do povo de Deus, é
regulada no Rito Romano por normas precisas.[118] Os Ritos Orientais, que
consideram-na uma alta expressão de unidade, desaconselham-na “sobretudo quando o
número dos concelebrantes for desproporcionado em relação ao dos fiéis leigos
presentes”.[119]
O acto penitencial
32. Próprio do Rito Romano, o acto penitencial tem a finalidade de dispor a ouvir a
Palavra de Deus e a celebrar dignamente a Eucaristia. Nos Ritos Bizantino, Armeno e
Siro-antioqueno existem orações preparatórias do sacerdote, a par de gestos de
purificação (lavabo, incenso), que são próprios também dos Ritos Maronita, Caldeu e
Copto. As fórmulas propostas pelo Missal Romano favorecem o reconhecimento da
nossa situação de pecadores e o discernimento em vista de uma contrição do coração e
aumentam o desejo do perdão de Deus e dos irmãos. Não é o caso de falar de exame de
consciência, que exige tempo e aprofundamento pessoal e é uma condição da Confissão
sacramental. O acto penitencial termina com a invocação da misericórdia de Deus.[121]
O Evangelho tem por objecto a Palavra, o Verbo, o alegre anúncio (euaggélìon) que
Deus desceu sobre a terra para dar-nos o alimento que não morre. A Eucaristia torna-
nos amigos de Cristo, que é a Sabedora de Deus. É o ‘Evangelho da esperança’![123]
34. No Rito Romano, a liturgia eucarística tem início com a preparação dos dons. Nesse
momento, assumem papel relevante os fiéis leigos, que levam o pão e o vinho ao
presbitério, onde o sacerdote os recebe para oferecê-los a Deus Pai. Também se dá a
possibilidade de oferecer outros dons, destinados a ajudar os pobres ou outras igrejas. A
apresentação do pão e do vinho, com os dons destinados à caridade, sublinha a forte
relação da Eucaristia com o mandamento do amor. A Liturgia todavia dispõe que o pão
e o vinho sejam colocados directamente sobre o altar, enquanto os outros dons não
devem ser postos sobre a mesa eucarística, mas fora dela, num lugar convenidente, e
isso para exprimir a veneração devida aos elementos que depois se transformarão no
corpo e sangue do Senhor.[127]
Na liturgia bizantina põe-se sobre o altar, além das toalhas, um linho sagrado, que
representa a descida do corpo de Cristo da cruz; colocam-se sobre ele os Dons, que se
tornarão corpo e sangue do Senhor, com um gesto que representa a sua paixão
imaculada e a sua sepultura.[128] O sacerdote, para ser digno de oferecê-los por ele
mesmo e pelos pecados do povo, após a ‘Grande Entrada’, dirige ao Pai uma súplica.
Deve estar limpo de pecado (amartia); “não por natureza, mas pela dignidade do
sacerdote”.[129] Depois, faz-se a incensação dos santos Dons, que é prefiguração da
descida do Espírito Santo sobre os mesmos[130] e da oração de adoração que, em
Cristo, sobe ao Pai. A preparação e apresentação dos Dons não é um simples momento
funcional, mas parte integrante do Sacrifício, altamente simbólica.
A Oração Eucarística
35. O sacerdote, ou o diácono nos Ritos Orientais, introduz a Oração Eucarística com o
convite: “Corações ao alto”. Nas Constituições Apostólicas diz-se: “Voltados para o
Senhor, com temor e tremor, oferecemos de pé a oblação”.[131] O diálogo serve – diz
São João Crisóstomo – “para podermos apresentar erguida a nossa alma diante de Deus,
vencendo a prostração em que nos puseram os afazeres da vida quotidiana [...] Pensa
perto de quem estás, em companhia de quem te preparas para invocar a Deus: em
companhia dos Querubins [...] Ninguém, portanto, participe nesses hinos sagrados e
místicos com um fervor relaxado [...] Mas cada qual, arrancando do próprio espírito
tudo o que é terreno e transportando-se inteiramente ao céu, como se se encontrasse
junto do próprio trono da glória e voasse com os Serafins, ofereça assim o hino
santíssimo ao Deus da glória e da magnificência. Eis porque somos exortados a estar
compostos nesse momento [...], ou seja, a estar com ‘temor e tremor’ (Fil 2, 12), com
uma alma desperta e vigilante”.[132]
Precisamente por isso, a essa elevação se dá o nome de anáfora: a acção dos crentes de
elevar ao alto os corações.[133] Os Dons não são colocados apenas no altar terreno, mas
levados ao altar celeste, e isso deve fazer-se na paz, no espaço da paz imperturbável do
céu.[134] Além disso, o sacrifício é oferecido com uma única finalidade, a do amor e da
misericórdia. Isso torna-o agradável ao Senhor. É sacrifício de louvor, porque exalta o
amor do Senhor.[135]
36. Os fiéis unem-se respondendo: “É digno e justo”. Observa São João Crisóstomo: “O
dar graças, a Eucaristia, é um acto em comum; de facto, não é só o sacerdote que
agradece, mas todo o povo. O sacerdote é o primeiro a tomar a palavra; os fiéis dão de
imediato o seu assentimento: É digno e justo. Só então o sacerdote começa a acção de
graças, a Eucaristia”.[136] Assim se exprime a participação do povo de Deus, o seu
avançar para a Igreja celeste, que culmina no Sanctus, o hino de vitória (epinikio), fusão
do hino angélico da visão de Isaías com a aclamação do povo de Jerusalém ao Senhor
que entrava na Cidade Santa para a sua paixão voluntária.
No fim da anáfora, os fiéis respondem com o Amen à doxologia trinitária, e “com essa
exclamação fazem próprias todas as expressões do sacerdote”.[137]
A instituição da Eucaristia
37. O Senhor, na vigília da sua paixão, tomou o pão, deu graças, partiu-o [...] e disse. A
ordem ‘fazei isto em memória de mim’, dirigida aos Apóstolos que na Cena mística
representavam toda a Igreja, a começar dos seus sucessores, refere-se ao conjunto do
acto eucarístico. O seu ápice está na conversão do pão e do vinho no corpo e sangue do
Senhor e na fé nas suas palavras.
Desde as origens, a Igreja repete solenemente os gestos do Senhor, decompondo-os para
meditá-los um a um, como a procurar aprofundar, num esforço constante e renovado, o
significado dos mesmos: a apresentação dos Dons, a consagração, a fracção e a
distribuição da Comunhão.[138] Por isso, as palavras ‘Tomai e comei’ não incluem o
gesto simultâneo da fracção da hóstia; nesse caso, deveria seguir de imediato a
comunhão. Invés, nesse momento altamente místico, a Liturgia convida o celebrante a
inclinar-se e a proferir as palavras com voz clara, mas não alta, para se favorecer a
contemplação, como faz o Bispo na Quinta-Feira Santa, quando sopra sobre o crisma. O
celebrante “nas suas atitudes como na forma de proferir as palavras divinas, procurará
sugerir aos fiéis a presença viva de Cristo”.[139] Nesse momento, de facto, realiza-se o
Sacrifício sacramental.[140]
38. Nos primeiros séculos, antes da consagração dirigia-se ao Pai uma invocação,
acompanhada do gesto das mãos estendidas (epíclesi), a pedir o envio do Espírito Santo
para santificar e transformar o pão e o vinho no corpo e sangue do Senhor. O
fundamento dessa oração encontra-se nas palavras que o Senhor proferiu após a
instituição do mistério: “Quando vier o Paráclito [...] Ele dará testemunho de Mim [...] e
vos recordará tudo o que Eu vos disse [...] Ele Me glorificará” (Jo 15, 26; 14, 26; 16,
14). Devido às controvérsias, surgidas entre os séculos IV e V à volta da divindade do
Espírito Santo, essa oração foi colocada depois da consagração, como testemunham
algumas tradições litúrgicas. Grande parte das anáforas conservam-na porém no seu
lugar original, como faz o Cânone Romano que pede ao Pai o Espírito, ‘o poder da sua
bênção’.[141]
Os Padres, que defenderam a importância da epiclese ao Espírito, acharam por bem uni-
la às palavras da instituição, para que o sinal sacramental se realizasse. As palavras do
Senhor são, de facto, Espírito e vida (cf. Jo 6, 63). Cristo actua juntamente com o
Espírito Santo, mas mantém-Se o único que consagra a Eucaristia e concede o mesmo
Espírito. O Concílio de Trento, todavia, determinou não ser a epiclese indispensável
para a validade da Eucaristia.[142]
Como observa Santo Ambrósio: “que dizer da bênção dada pelo próprio Deus, em que
operam as mesmas palavras do Senhor e Salvador? Sendo este sacramento que recebes
realizado com a palavra de Cristo [...] não poderá a palavra de Cristo, que pôde criar do
nada o que não existia, mudar as coisas que são naquilo que não eram? Certamente não
é menos difícil dar às coisas uma existência do que mudá-las noutras [...] É o mesmo
Senhor Jesus que diz: ‘Isto é o meu corpo’. Antes da bênção das celestiais palavras, a
palavra designava um determinado elemento; depois da consagração, passa a designar o
corpo e o sangue de Cristo. É Ele mesmo que o chama seu sangue. Antes da
consagração, tem um outro nome; depois da consagração, chama-se sangue. E tu dizes:
‘Amen’, ou seja, ‘Assim é[C1]’”.[143]
39. Na Divina Liturgia faz-se memória daqueles em quem Cristo vive. São Dionísio
Areopagita diz: “Está presente, inseparavelmente, a multidão dos Santos, que mostra
como estes estejam indivisivelmente ligados e Ele numa união supraterrena e sagrada”.
[144] Não pode existir, portanto, contraposição entre o culto do Senhor e o culto dos
Santos. Quando estavam em vida, procuravam fazer tudo para a glória de Deus; agora,
alegram-se com o facto de que, por sua causa, Deus é glorificado.[145] As Intercessões
exprimem a oferta da Eucaristia em comunhão com toda a Igreja, celeste e terrestre, por
todos os seus membros vivos e defuntos.[146] Em primeiro lugar, é invocada a Mãe de
Deus e sempre Virgem Maria, porque a consagração que fez de si ao Senhor, é análoga
à entrega da nossa vida, constantemente renovada no sacrifício eucarístico. Oferecemos
a Eucaristia na memória dos Santos para honrá-los e para agradecer a Deus que no-los
deu como intercessores em nosso favor. Eles próprios, que representam uma acção de
graças da parte dos homens pelos benefícios divinos, intercedem e intervêm nas nossas
Eucaristias.
Cristo comunica-Se também aos defuntos, “segundo uma modalidade – diz Cabasilas –
que só Ele conhece”.[147] Se se encontram no estado de purificação, recebem uma
graça não inferior à dos vivos – observa São João Crisóstomo –, que lhes obtém a
remissão dos pecados.[148]
– Pai nosso: nele, existe o pedido do pão de cada dia, que é também o pão eucarístico, e
ao mesmo tempo, “se implora a purificação dos pecados, para que realmente os santos
Dons sejam dados aos santos”.[153] Pedindo o perdão, pede-se também a capacidade de
perdoar, para que o Reino e a vontade de Deus se realizem em nós e nos tornemos
dignos de receber o Sacramento.
– O rito da paz: a troca da saudação da paz, ou seja, do perdão, que nas Liturgias
Orientais e na Ambrosiana tem lugar antes da anáfora, no Rito Romano faz-se antes da
Comunhão. O Senhor ressuscitado apareceu no meio dos seus e ofereceu a sua paz;
preparou - diz São João Crisóstomo - “a mesa da paz”.[154] A Eucaristia dá a paz e a
salvação das almas, que é o próprio Cristo (cf. Ef 2, 13-17). Este foi imolado para
pacificar as realidades celestes e terrestres; para se viver em paz com os irmãos.[155]
Daí que a Eucaristia seja o vínculo da paz (cf. Ef 4, 3): “Como a paz estabelece a
unidade no múltiplo, assim a agitação divide o um em muitos”.[156] De facto, “paz [...]
é a Igreja de Cristo”.[157] O cristão, ao pedir a paz, pede na realidade Cristo: “Quem
procura a paz procura Cristo, pois Ele é a paz”.[158] A Liturgia é o mistério que faz
com que a paz de Cristo volte de novo à inteira criação.
A paz é um nome que os primeiros cristãos davam à Eucaristia, porque esta significa
reunir, superar barreiras, levar os homens a uma unidade nova. Com a reunião
eucarística, os cristãos, ao perdoarem-se uns aos outros antes de fazer a Comunhão,
criaram condições de paz num mundo sem paz.
– Fracção do Pão: este rito significa que, embora sendo muitos, na comunhão do pão
partido tornamo-nos um só corpo. Diz São João Crisóstomo: “O que Cristo não padeceu
sobre a cruz, padece-o na oblação por tua causa, e aceita que O partam para poder a
todos saciar”.[162] Mas o Cristo pluri-partido não se divide. Depois da fracção, cada
partícula do santo pão é Cristo inteiro.[163] Todos os que se abeiram da Comunhão
recebem o Cristo inteiro, que enche em plenitude. Nenhuma comunidade pode receber
Cristo, a não ser com toda a Igreja.
– União das espécies: é um gesto simples do Rito Romano, mas de grande significado e
que exalta a obra do Espírito, desde a encarnação à ressurreição do Senhor. A Liturgia
Bizantina explica-o como sendo a ‘plenitude de Espírito Santo’; e no rito especial do
zéon, que vem logo a seguir, diz ao derramar água quente: ‘Fervor de Espírito Santo’.
Agora Cristo ressuscita!
– Preparação pessoal: é feita pelo sacerdote com orações muito sugestivas, recitadas
em voz baixa, e com alguns instantes de silêncio, que antecipam o silêncio mais
prolongado depois da Comunhão. É um exemplo para ajudar os fiéis a prepararem-se.
A santa Comunhão
43. O sacerdote eleva a Hóstia consagrada como o Corpo de Cristo foi erguido na cruz,
[164] dizendo na Liturgia Latina: “Felizes os convidados para a Ceia do Senhor. Eis o
Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo”; e na Bizantina: ‘O que é santo aos
santos’. Além disso, “porque a Comunhão dos mistérios não é permitida indistintamente
a todos, o sacerdote não convida a todos [...] convida à Comunhão os que se encontram
em condições de nela participar dignamente: o que é santo aos santos [...] Ele aqui
chama ‘santos’ os que são perfeitos na virtude, e também os que tendem a essa
perfeição, embora ainda não a tenham atingido. Pois nada lhes impede que, participando
nos santos mistérios, sejam por eles santificados”.[165]
44. Das fontes antigas infere-se que a Comunhão não se toma, mas se recebe, como
símbolo do que ela significa, ou seja, Dom recebido em atitude de adoração. Nos casos
previstos para a Comunhão sob as duas espécies, deve ter-se presente, no Rito Latino, a
doutrina católica sobre a mesma.[169] Nos Ritos Orientais, observe-se a tradição
consignada nos cânones.[170]
Por fim, a oração depois da Comunhão pede os frutos do mistério celebrado e recebido,
pois é à sua consecução que a Santa Missa se destina.[173]
Capítulo V
45. O Senhor prometeu: “Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos”(Mt 28, 20).
Não somos nós que O fazemos presente; é Ele que Se faz presente entre nós e assim
permanece todos os dias. Para penetrarem no mistério da sua presença permanente, os
fiéis são instruídos, se catecúmenos com a catequese intimamente ligada à Liturgia; se
inciados, com a mistagogia ou catequese pós-baptismal.[174]
46. Enquanto nalgumas áreas do globo se mantém bastante vivo o sentido do mistério,
noutras nota-se uma difusa mentalidade que, embora não negando formalmente o
mistério de Deus, nega a possibilidade de descobri-lo com a razão e de aderir-Lhe
livremente. Um neopaganismo envia mensagens que induzem a fugir da realidade para
se refugiar nos mitos, nos ídolos, que podem só momentaneamente consolar a
existência. Por outro lado, é também largamente sentida uma exigência de
espiritualidade.[175] Assiste-se, ainda, ao avançar de tendências gnósticas que levam a
procurar o sentido da história junto de uns tantos privilegiados que o conheceriam por
presunta revelação.
A mistagogia hoje
47. O Senhor caminha com o seu povo; acompanha sempre a missão da Igreja com a
sua presença, que nos transforma e nos faz entrar no tempo definitivo (éschaton). No
início da mistagogia, existe um encontro de fé com o Senhor mediante a sua graça. A
praxe das Igrejas Orientais de dar a Comunhão às crianças juntamente com o Baptismo
e o Crisma está a significar que a graça da Eucaristia vem antes de toda a intervenção
humana. Como se poderia aliás fazer mistagogia sem a atracção de Jesus? O Evangelho
refere encontros de Jesus com homens e mulheres de diferentes condições. Do encontro
de Cristo com o homem parte um itinerário de conhecimento que se transforma em
experiência de fé: “Onde moras? [...] E ficaram com Ele” (Jo 1, 38-39). Foi assim que
alguns O seguiram. Esta é a mistagogia de Deus para com o homem, que começa por
assumir a nossa carne para levá-la à redenção.
Presidir à Eucaristia
48. O método da mistagogia consiste em ler nos ritos o mistério de Cristo e contemplar
a subjacente realidade invisível. Por isso, na Liturgia o mistagogo não fala em nome
próprio, mas torna-se eco da Igreja que lhe confiou o que recebeu. A Liturgia não pode
ser tratada pelo celebrante e pela comunidade “como propriedade privada”.[179]
São João Baptista é a figura mais emblemática do ministro, que se diminui para fazer
crescer o Senhor. Essa é a base do poder sagrado, exousía no Espírito Santo, confiado à
Igreja por Cristo, sacerdócio de Cristo participado aos seus ministros. São Cirilo de
Jerusalém faz presente que a palavra ecclesía encontra-se pela primeira vez na
passagem onde se confia a Aarão o ministério sacerdotal. Sacerdócio e Igreja nascem ao
mesmo tempo, como partes inseparáveis uma da outra.[180] O Cânone Romano diz:
“Aceitai benignamente, Senhor, a oblação que nós, vossos servos, com toda a vossa
família, Vos apresentamos”. Respeitando a diferença de funções próprias do Corpo, na
Missa o sacerdote exerce a função de Cristo cabeça, enquanto todos os fiéis exercem a
de membros de Cristo. O sacerdote actua in persona Christi, no sentido que já não é ele
que actua, mas Cristo nele (cf. Gal 2, 20).
49. A Eucaristia estende a sua eficácia a toda a actuação do ministro, já que a função
sacerdotal não inclui apenas a santificação, mas também o governo e o ensinamento.
Esta é a verdade do ministério do Bispo, quando celebra a Eucaristia. Além disso, é nele
que se revela em plenitude e “com maior clareza” a Igreja como sacramento de unidade.
[181] A mesma verdade serve de fundamento ao ministério do presbítero, “quando
celebra […] a Eucaristia com dignidade e humildade”;[182] é também o modelo das
funções diaconais, dos ministros e, de modo especial, do acólito, do ministro
extraordinário da Comunhão e de todos os fiéis que devem “oferecer-se a si mesmos”
com um profundo sentido religioso e caridade para com os irmãos.[183]
51. O canto e a música devem ser dignos do mistério que se celebra, como atestam os
salmos, os hinos e os cânticos espirituais da Sagrada Escritura (cf. Col 3, 16). Daí que,
desde os primeiros séculos, a Igreja tenha considerado a música sacra como parte
integrante da Liturgia. Embora aceitando diversas formas musicais, o Magistério da
Igreja tem constantemente afirmado a conveniência de que “essas diversas formas
musicais estejam em harmonia com o espírito da Sagrada Liturgia”,[190] para evitar o
risco de contaminar o culto do mistério com elementos profanos impróprios.
52. Na encarnação do Verbo, não se dá apenas o encontro de Deus com o homem que
espera a salvação, mas torna-se visível aos homens a imagem de Deus (cf. Jo 14, 9). Por
sua vez, com o mistério pascal de Cristo, o homem é envolvido num movimento de
ascensão para Deus, que passa necessariamente através da cruz e, portanto, através da
realidade humana (cf. Col 1, 15-20). A celebração destes mistérios tem uma profunda
analogia com “as actividades mais nobres do engenho humano”, entre as quais
justamente se incluem as artes liberais, sobretudo a arte religiosa. Esta, de facto, como
aliás a Liturgia, leva o espírito à contemplação através da experiência sensível. Daí que
seja muito apta “a conduzir piamente e o mais eficazmente possível o espírito do
homem até Deus”.[191]
A orientação da oração
53. A concepção cósmica da salvação que vem “visitar-nos do alto” (Lc 1, 78), inspirou
a tradição apostólica de orientar para o Oriente os edifícios cristãos e a posição do altar,
por forma a celebrar-se a Eucaristia voltados para o Senhor, como ainda se faz entre os
Orientais. “Não se trata neste caso, como muitas vezes se repete, de presidir à
celebração virando as costas ao povo, mas de guiar o povo na peregrinação para o
Reino, invocado na oração até à vinda do Senhor”.[193]
55. A imagem bíblica e patrística do céu, que desce sobre a terra, manifesta-se na
Eucaristia celebrada sobre o altar.
Não é necessário que o altar seja grande, mas deve ter uma forma proporcionada ao
espaço do presbitério. O sacerdote a ele acede para os ritos do ofertório; na
concelebração, os sacerdotes se dispõem à sua volta durante a anáfora.[195] A especial
recomendação de haver um altar fixo em cada igreja é expressão da veneração que a ele
se deve, qual sinal de Jesus Cristo, pedra viva (1 Pe 2, 4).[196] Pelo mesmo motivo, o
altar é ornado e coberto ao menos com uma toalha digna.[197]
57. A adoração não está em contraposição com a Comunhão, nem mesmo é algo que a
ela se junta: a Comunhão atinge a profundidade do homem, quando é corroborada pela
adoração. Não existe conflito de sinais entre o tabernáculo e o altar da celebração
eucarística. A presença eucarística não é cronológica, limitada à Missa; é mistério que
perdura no tempo até à parussia do Senhor glorioso.
Os Orientais, embora não tenham a adoração eucarística, muitas vezes conservam sobre
o altar o artofório, reserva dos Santos Dons para os enfermos e ausentes, e sobre ele
também colocam o livro dos Evangelhos.
Capítulo VI
59. São Cirilo de Jerusalém exortava: “Depois de teres comungado o corpo de Cristo,
abeira-te também do cálix do seu sangue, não estendendo as mãos, mas inclinando-te e
dizendo Amen em atitude de adoração e veneração”.[205] Pode dizer-se que da
Comunhão sacramental nasce a adoração, palavra que exprime um gesto de inclinação
profunda do corpo e da alma. Os principais gestos de adoração, que, entre outros,
acomunam Católicos e Ortodoxos, são a inclinação (proskýnesis) e a genuflexão
(gonyklisía). Como o estar de pé exprime a ressurreição, o prostrar-se por terra é sinal
de adoração d’Aquele que, ressuscitado, é o Vivente. No Novo Testamento, de modo
especial na liturgia do Apocalipse, aparece várias vezes a palavra proskýnesis, sendo
essa liturgia celeste apresentada à Igreja como modelo e critério da liturgia terrestre. Os
gestos de adoração, que a Liturgia manda observar, traduzem o reconhecimento da
majestade do Senhor e a pertença do homem a Deus.
60. Comungar significa entrar em comunhão com o Senhor e com os Santos da Igreja
terrestre e celeste. Por isso, Comunhão e contemplação implicam-se reciprocamente.
Não podemos comungar sacramentalmente, sem fazê-lo de modo pessoal: “Eu estou à
porta e chamo. Se alguém ouvir a minha voz e Me abrir a porta, entrarei em sua casa,
cearei com ele e ele comigo” (Ap 3, 20). Esta é também a verdade mais profunda da
piedade eucarística.
61. O sagrado é sinal do Espírito Santo. Diz São Basílio Magno: “Tudo o que tem
carácter sagrado é d’Ele que provém”.[208] Embora neste tempo de desacralização se
julgue ter eliminado o confim entre sagrado e profano, Deus não se retira do mundo
para abandoná-lo à sua mundanidade. Enquanto o mundo não for transformado e Deus
não for tudo em todos (1 Cor 15, 28), mantém-se a distinção entre o sagrado e o
profano.
62. A Liturgia é festa feita a Cristo que ressuscitou. Para um cristão, esse é o sentido da
festa e sobretudo do Domingo. No que concerne as expressões de piedade do povo de
Deus, nomeadamente as do culto eucarístico fora da Missa, estas têm um laço originário
com a liturgia eucarística, que necessita de um atento discernimento.
É na Liturgia, onde se realiza de modo especial a inculturação da fé. Pode dizer-se que
esta teve a sua primeira expressão precisamente na encarnação, quando a Palavra
assumiu a natureza humana e se exprimiu com a palavra do homem, no tempo, lugar e
cultura particulares em que Jesus viveu. O Vaticano II pôs em evidência como é desse
acontecimento que nasce a capacidade de levar o Evangelho, a Liturgia e a doutrina
cristã às culturas locais, por forma a atingir eficazmente os destinatários, em especial os
pobres e os simples de coração.
Assim, também fora da Santa Missa, o Senhor Jesus é um alimento espiritual vivo. É o
mistério arcano do Deus-connosco que nos acompanha no nosso caminho.
Capítulo VII
65. O significado pessoal da Eucaristia pode dizer-se que é posto em evidência por São
Cirilo de Jerusalém, o qual observa que, com o sacramento do corpo e sangue de Cristo,
o homem torna-se “um só corpo (sýssomos) e um só sangue (sýnaimos) com Ele”.[217]
Enquanto São João Crisóstomo ouve Cristo dizer-lhe: “Desci novamente à terra, não só
para me misturar com os da tua gente, mas também para te abraçar: deixo-me comer por
ti e deixo-me partir em pequenos pedaços, para que a nossa união e amálgama sejam
verdadeiramente perfeitas. De facto, enquanto os seres que se unem mantêm
perfeitamente distinta a sua individualidade, Eu invés formo uma unidade contigo.
Aliás, não quero que nada se meta entre nós; só quero o seguinte: que ambos formemos
uma só coisa”.[218] Por isso, o corpo do fiel torna-se morada de Deus trinitário: “Tem
Cristo a habitar dentro dele, com o seu Pai e o Paráclito”.[219] Durante a Divina
Liturgia Bizantina canta-se: “Vimos a luz verdadeira, recebemos o Espírito celeste,
encontrámos a verdadeira fé, adorando a Trindade indivisível, pois foi esta que nos
salvou”.
Portanto, a Comunhão tem eficácia ontológica, enquanto é união com a vida de Cristo,
que transforma a vida do homem. Por meio dela, estabelece-se uma pertença vital, que
aperfeiçoa e realiza a adopção filial do Baptismo.
66. Um outro aspecto da graça sacramental eucarística é ser antídoto, que liberta[220] e
preserva do pecado.[221] A Eucaristia fortalece a vida sobrenatural do cristão e faz com
que este não perca as virtudes teologais. É um sacramento dos vivos, ou seja, dos que
beneficiam da união com Cristo e a Igreja. O pecado mortal, com efeito, provoca a
separação de Deus e da Igreja, impedindo assim o acesso à Eucaristia. Daí que a
Eucaristia seja antídoto, medicina eficaz para curar as feridas do pecado através da
misericórdia divina, que a mesma significa e realiza: “O Senhor, que ama o homem, viu
logo o que se passara e a grandeza da ferida, e apressou-Se a curá-la, não fosse ela,
alargando-se, tornar-se uma ferida incurável [...] Nem por um instante, movido da sua
bondade, deixou de cuidar do homem”.[222]
Por conseguinte, a Eucaristia é um dom que nos interpela pessoalmente. Este carácter
pessoal do Sacramento terá que ser reafirmado na pastoral.
A unidade com Cristo, cabeça do corpo místico, que é a Igreja, é o fruto principal da
Eucaristia, que assim exprime o seu significado.
A Eucaristia é o banquete “para vencer a morte”;[228] com ela, “assimila-se, por assim
dizer, o segredo da ressurreição”,[229] para viver eternamente. A vida eterna não é uma
duração prolongada, nem mesmo um tempo sem fim; é sim um outro plano de
existência. São João distingue entre bíos – a vida transitória deste mundo – e zoé – a
verdadeira vida que entra em nós no encontro com o Senhor. Tal é o sentido da sua
promessa: “Quem ouve a minha palavra e acredita n’Aquele que Me enviou, tem a vida
eterna, [...] passou da morte à vida” (Jo 5, 24), “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem
acredita em Mim, ainda que tenha morrido, viverá; e todo aquele que vive e acredita em
Mim nunca morrerá” (Jo 11, 25). Em virtude deste significado escatológico da
Eucaristia, esperamos pela ressurreição definitiva, quando Deus será tudo em todos (cf.
1 Cor 15,28).
70. Alimentando-se da Eucaristia, os cristãos nutrem a sua alma e tornam-se alma que
sustém o mundo,[230] dando assim sentido cristão à vida,[231] que é sentido
sacramental. É deste sacramento que provém o dom da caridade e da solidariedade, pois
o Sacramento do altar não pode separar-se do mandamento novo do amor recíproco.
71. Já desde o início do segundo século, Santo Inácio de Antioquia definia os cristãos
como aqueles que “vivem de acordo com o Domingo”,[234] na fé da ressurreição do
Senhor e da sua presença na celebração eucarística.[235] São Justino, invés, na
conclusão da Eucaristia dominical evidencia a urgência ética: “Aqueles, portanto, que
vivem na abundância e querem dar, dão conforme cada um entende, e o que se recolhe é
deposto junto de quem preside; é este mesmo que socorre os órfãos e as viúvas, e
quantos são esquecidos por motivo de doença ou por qualquer outro motivo, os
encarcerados, os estrangeiros; em poucas palavras, torna-se provedor de quantos passam
por necessidade”.[236]
A Eucaristia fundamenta e aperfeiçoa a missio ad gentes.[237] Da Eucaristia nasce para
todo o cristão o dever de colaborar na dilatação do Corpo eclesial.[238] A actividade
missionária, de facto, “pela palavra da pregação e pela celebração dos sacramentos, cujo
centro e ápice é a Sagrada Eucaristia, torna presente a Cristo, autor da salvação”.[239]
O mandamento missionário, que levou, não poucas vezes, ao martírio, sofrido até aos
nossos dias por pastores e fiéis, precisamente durante a celebração da Eucaristia, tende a
levar à multidão dos homens a salvação dada no sacramento do pão e do vinho.
Por conseguinte, a Sagrada Comunhão produz todos os seus frutos: aumenta a nossa
união com Cristo, separa-nos do pecado, consolida a comunhão eclesial, empenha-nos
em favor dos pobres, aumenta a graça e dá o penhor da vida eterna.[240]
CONCLUSÃO
A partir da primeira Páscoa, em que o Senhor Jesus realizou com os seus discípulos o
novo e definitivo êxodo da escravidão do pecado, já não existe o sangue de um cordeiro,
mas pão e vinho distribuídos a todos, corpo e sangue do verdadeiro Cordeiro de Deus.
Realiza-se assim a nova aliança.
73. No sacramento da presença real, a fé encontra força e impulso, para que realmente a
lex orandi permaneça no vínculo da lex credendi e se traduza em lex agendi da vida e da
missão da Igreja. Por isso, a Eucaristia também tem um dinamismo pessoal: é dom para
ser celebrado, que mergulha num mais profundo conhecimento do mistério da salvação,
leva à Comunhão, conduz à adoração e, por fim, interpela a vida através da missão e do
ministério pastoral, dando impulso à caridade dentro e fora da Igreja.
QUESTIONÁRIO
10. A presença real de Cristo na Eucaristia: Os fiéis nas vossas paróquias conservaram
a fé na presença real do Senhor no sacramento da Eucaristia? Entendem claramente o
dom da Presença real do Senhor? Verificam-se na liturgia da Santa Missa ou no culto
eucarístico fenómenos que comportam o risco de perder a consideração pela Presença
Real? Se tais fenómenos se verificam, quais seriam as suas causas?
13. O decoro na celebração da Eucaristia: Nas vossas Igrejas dá-se a devida atenção
ao decoro da celebração eucarística? Qual é o contexto artistico-arquitectónico em que
se desenrolam as liturgias eucarísticas, tanto as solenes como as ordinárias? É evidente,
já a partir dessa ambientação, que o banquete eucarístico é verdadeiramente um
banquete “sagrado” (Ecclesia de Eucharistia, 48)? Com que frequência e por que
motivos pastorais se celebra a Eucaristia fora dos lugares de culto?
18. Eucaristia e vida moral: A Eucaristia faz crescer a vida moral do cristão. Que
pensam os fiéis leigos da necessidade da graça sacramental para viver segundo o
Espírito e tornar-se santo? Que pensam os fiéis da relação entre a recepção do
sacramento da Eucaristia e os demais aspectos da vida cristã: a santificação pessoal, o
empenho moral, a caridade fraterna, a construção da sociedade terrena, etc.?
19. Eucaristia e missão: A Eucaristia é também um dom para a missão. Têm os fiéis
consciência de que o sacramento da Eucaristia leva à missão, que eles mesmos têm de
realizar no mundo segundo o próprio estado de vida?
20. Ainda sobre a Eucaristia: Que outros aspectos não incluídos nas perguntas
precedentes deveriam ter-se em conta relativamente ao Sacramento da Eucaristia, em
vista da preparação do Instrumentum laboris para a discussão sinodal?
Notas
[3] Cf. Conc. Œcum. Vat. II, Const. de sacra Liturgia Sacrosanctum concilium, 14 e 48;
II Cœtus Extraordinarii Generalis Synodi Episcoporum (1985), Relationem finalem,
II.B.b.1.
[4] Cf. Institutionem Generalem Missalis Romani (20.IV.2000), 13; Conc. Œcum.
Tridentin., sess. XXII, cap. 6.
[5] Cf. Conc. Œcum. Vat. II, Const. de sacra Liturgia Sacrosanctum concilium, 10.
[6]Ioannis Pauli II, Litt. encycl. Ecclesia de Eucharistia (17.IV.2003), 60: AAS 95
(2003), 473.
[8]Conc. Œcum. Vat. II, Const. de sacra Liturgia Sacrosanctum concilium, 47.
[9]Ibidem.
[13]Cf. Ioannis Pauli II, Litt. encycl. Ecclesia de Eucharistia (17.IV.2003), 9: AAS 95
(2003), 438-439.
[15]Ioannis Pauli II, Litt. encycl. Redemptor hominis (4.III.1979), IV, 20: AAS 71
(1979), 309-316.
[18]N. Cabasilæ, Expositio divinæ liturgiæ, 32, 10: SCh 4bis, 204.
[20]Ioannis Pauli II, Litt. encycl. Ecclesia de Eucharistia (17.IV.2003), 12: AAS 95
(2003), 441.
[21] Esta expressão dos Orientais, muito sugestiva e significativa, indica a ‘última Ceia’
ou ‘Ceia do Senhor’'. O adjectivo ‘última’ deve tomar-se também como referido ao
desejo de Cristo de comer pela última vez, antes de morrer, a Páscoa segundo o rito
judaico, para dar-lhe o significado ‘novo e eterno’ e como aliança mística. Neste
sentido, a expressão pode tomar-se como ‘chave hermenêutica’ da Eucaristia, não
separada do mistério pascal, que compreende, não só a morte e ressurreição, mas
também a encarnação.
[28]Cf. Ioannis Pauli II, Litt. encycl. Ecclesia de Eucharistia (17.IV.2003), 15: AAS 95
(2003), 442-443.
[29]Cf. Conc. Œcum. Vat. II, Const. de sacra Liturgia Sacrosanctum concilium, 7, 47;
Decr. de Presbyterorum ministerio et vita Presbyterorum ordinis, 5,18; Institutionem
Generalem Missalis Romani (20.IV.2000), 3.
[30] Cf., e.g., S. Cyrilli Ierosolomitani, Catechesin mystagogicam, IV, 2, 1-3; IV, 7,5-6;
V, 22, 5: SCh 126bis, 136. 154. 172.
[31] Pauli VI, Litt. encycl. Mysterium fidei (3.IX.1965), 26: AAS 57 (1965), 766.
[35]Cf. Didachen 9-10. 14: J.P. Audet ed., Parisiis 1958, 235-236; 240.
[36]Cf. I Apologiam 67, 1-6; 66, 1-4: Corpus Apologetarum Christianorum Secundi
Sæculi, vol. I, pars 1, Wiesbaden 1969, p. 180-182; 184-188.
[50] Cf. Breviloquium, VI, 9: Opera omnia, Opuscoli Teologici / 2, Romæ 1966, 276.
[51] Sermo 229,A (Guelferbytanus 7), Tractatus de Dominica Sanctae Paschae, 1; PLS
2, 555; E.D.G. Morin, Miscellanea Agostiniana, I, Romae 1930, 462.
[52]Cf. Ioannis Pauli II, Litt. encycl. Ecclesia de Eucharistia (17.IV.2003), 23: AAS 95
(2003), 448-449.
[56]Cf. Conc. Œcum. Vat. II, Const. dogm. de Ecclesia Lumen gentium, 3; Ioannis Pauli
II, Litt. encycl. Ecclesia de Eucharistia (17.IV.2003), 21: AAS 95 (2003), 447.
[58]Cf. Ioannis Pauli II, Litt. encycl. Ecclesia de Eucharistia (17.IV.2003), 26: AAS 95
(2003), 451.
[62] Instruction pour l’Application des Prescriptions Liturgiques du Code des Canons
des Églises Orientales, 32.
[63]Ioannis Pauli II, Litt. encycl. Ecclesia de Eucharistia (17.IV.2003), 34: AAS 95
(2003), 456.
[64]Conc. Œcum. Vat. II, Const. dogm. de Ecclesia Lumen gentium, 26.
[65]Ioannis Pauli II, Litt. encycl. Ecclesia de Eucharistia (17.IV.2003), 35: AAS 95
(2003), 457.
[66] Cf. Conc. Œcum. Vat. II, Const. dogm. de Ecclesia Lumen gentium, 14.
[67]Ioannis Pauli II, Litt. encycl. Ecclesia de Eucharistia (17.IV.2003), 38: AAS 95
(2003), 458-459.
[68] Ibidem, 39: AAS 95 (2003), 459-460; cf. Congregationis pro Doctrina Fidei, Litt.
Communionis notio (28.V.1992), 11: AAS 85 (1993), 844.
[69] Ioannis Pauli II, Litt. encycl. Ecclesia de Eucharistia (17.IV.2003), 35: AAS 95
(2003), 457.
[70] Cf. Conc. Œcum. Tridentin., Decr. de ss. Eucharistia, sess. XIII, cap. 1, De reali
præsentia D.N.I. Christi in ss. Eucharistiæ sacramento, cap. 2, De ratione institutionis
ss. huius sacramenti: DS 1637-41; Can. 1-5: DS 1651-55.
[71] Cf. ibidem, Decr. de ss. Eucharistia, sess. XIII, cap. 4, De Transsubstantiatione:
DS 1642.
[74] Cf. ibidem, Decr. de ss. Eucharistia, sess. XIII, cap. 1, De reali præsentia D.N.I.
Christi in ss. Eucharistiæ sacramento: DS 1636-1637, cap. 2, De ratione institutionis
ss. huius sacramenti: DS 1638.
[75] Cf. ibidem, Decr. de Eucharistia, sess. XIII, cap. 5 - 8: DS 1643-1750; can. 1 - 3:
DS 1751-1753.
[76]Cf. Pii XII, Litt. encycl. Mediator Dei (20XI.1947), II: AAS 39 (1947), 547-552.
[77] Cf. Conc. Œcum. Vat. II, Const. dogm. de Ecclesia Lumen gentium, 28.
[78] Cf. Innocentii III, Professionem fidei Waldensibus præscriptam, DS 794; Conc.
Œcum. Lateranens. IV, Definitionem contra Albigenses et Catharos: DS 802; Conc.
Œcum. Tridentin., Decr. de Missa, sess. XXII, cap. 1, De institutione sacrosancti Missæ
sacrificii: DS 1740, can. 2: DS 1752.
[79]Cf. Ioannis Pauli II, Litt. Ap. Dominicæ Cenæ (24.II.1980), 8: AAS 72 (1980), 127-
130; Litt. encycl. Ecclesia de Eucharistia (17.IV.2003), 28-29: AAS 95 (2003), 451-453.
[80] Cf. Conc. Œcum. Vat. II, Const. de sacra Liturgia Sacrosanctum concilium, 7;
Decr. de activitate missionali Ecclesiæ Ad gentes, 14.
[81] Cf. Conc. Œcum. Vat. II, Const. dogm. de Ecclesia Lumen gentium, 3; Decr. de
presbyterorum ministerio et vita Presbyterorum ordinis, 4-5.
[82] Cf. Conc. Œcum. Vat. II, Const. dogm. de Ecclesia Lumen gentium, 17; Decr. de
Œcumenismo Unitatis redintegratio, 2,15.
[83] Cf. Pauli VI, Litt. encycl. Mysterium fidei (3.IX.1965), 17-25: AAS 57 (1965), 762-
766.
[85] Cf. Pauli VI, Sollemnem Professionem fidei (30.VI.1968), 25: AAS (1968), 442-
443.
[86] Pauli VI, Litt. encycl. Mysterium fidei (3.IX.1965), 27: AAS 57 (1965), 766.
[91]Ioannis Pauli II, Litt. encycl. Ecclesia de Eucharistia (17.IV.2003), 55: AAS 95
(2003), 470.
[97] Ad Ephesios, 20, 2: Patres Apostolici, F.X. Funk ed., Tübingen 1992, p. 190.
[100] Cf. Ioannis Pauli II, Litt. encycl. Ecclesia de Eucharistia (17.IV.2003), 30.44-45:
AAS 95 (2003), 453-454, 462-463.
[104]Cf. Conc. Œcum. Vat. II, Decr. de Œcumenismo Unitatis redintegratio, 22.
[105]Cf. Ioannis Pauli II, Litt. encycl. Ecclesia de Eucharistia (17.IV.2003), 46: AAS 95
(2003), 463-464.
[106]Cf. Conc. Œcum. Vat. II, Const. de sacra Liturgia Sacrosanctum concilium, 8;
Ioannis Pauli II, Litt. encycl. Ecclesia de Eucharistia (17.IV.2003), 19: AAS 95 (2003),
445-446.
[112]Cf. Conc. Florentin., Decr. pro Græcis: DS 1303, Decr. pro Armeniis: DS 1320,
Conc. Œcum. Tridentin., Decr. de Eucharistia, sess. XIII, cap. 4, De
Transsubstantiatione: DS 1642; etiam Institutionem Generalem Missalis Romani
(20.IV.2000), 319-324.
[113] Cf. Conc. Œcum. Tridentin., Decr. de Missa, sess. XXII, cap. 7, De aqua in calice
offerendo vino miscenda: DS 1748.
[114] Cf. Conc. Florentin., Decr. pro Armeniis: DS 1321; Decr. pro Iacobitis: DS 1352;
Conc. Œcum. Tridentin., Decr. de Missa, sess. XXII, cap. 1, De institutione sacrosancti
Missæ sacrificii: DS 1740.
[115] Cf. Cf. Conc. Œcum. Tridentin., Decr. de Missa, sess. XXII, cap. 1, De
institutione sacrosancti Missæ sacrificii: DS 1740; can. 2: DS 1752.
[116] Cf. ibidem, cap. 7, De præparatione, quæ adhibenda est, ut digne quis s.
Eucharistiam percipiat: DS 1646-1647, cap. 8, De usu admirabilis huius sacramenti:
DS 1648-1650, can. 11: DS 1661.
[117]Cf. Institutionem Generalem Missalis Romani (20.IV.2000) 19; Ioannis Pauli II,
Litt. encycl. Ecclesia de Eucharistia (17.IV.2003), 52: AAS 95 (2003), 467-468.
[123]Cf. Ioannis Pauli II, Adhort. Ap. postsynod. Ecclesia in Europa (28.VI.2003), 13:
AAS 95 (2003), 657-658.
[125]Cf. Conc. Œcum. Vat. II, Const. de sacra Liturgia Sacrosanctum concilium, 56.
[134] Cf. S. Ioannis Chrysostomi, Homiliam in diem natalem Domini nostri Iesu
Christi, 7: PG 49, 361.
[150]Cf. Constitutiones Apostolicas, VIII, 12, 39: F. X. Funk, ed., Paderborn 1905, I,
510, et Anaphoras alexandrinas Marci, Serapionis, Basilii copti.
[151] Cf. Conc. Œcum. Tridentin., Decr. de Missa, sess. XXII, cap. 6, De Missa, in qua
solus sacerdos communicat: DS, 1747, can. 8: DS, 1758.
[153]Ibidem, 81.
[157]Constitutiones Apostolicæ, II, 20, 10: F.X. Funk ed., Paderborn 1905, I, 77.
[170] Cf. Instruction pour l’Application des Prescriptions Liturgiques du Code des
Canons des Églises Orientales, 59.
[171] Thomæ a Celano, Vita Seconda, 201(789): Fonti Francescane, Padova 1980, 713.
[174] Cf. Instruction pour l’Application des Prescriptions Liturgiques du Code des
Canons des Églises Orientales, 30.
[175] Cf. Ioannis Pauli II, Ep. Ap. Novo millennio ineunte (6.I.2001), 33: AAS 93
(2001), 289-290.
[177]Cf. Conc. Œcum. Vat. II, Const. de sacra Liturgia Sacrosanctum concilium, 48.
[179]Ioannis Pauli II, Litt. encycl. Ecclesia de Eucharistia (17.IV.2003), 52: AAS 95
(2003), 467-468.
[184]Ibidem, 288.
[185]Ibidem, Proœmio, 3.
[186]Cf. Ioannis Pauli II, Litt. encycl. Ecclesia de Eucharistia (17.IV.2003), 49: AAS 95
(2003), 465-466.
[187] Cf. Instruction pour l’Application des Prescriptions Liturgiques du Code des
Canons des Églises Orientales, 34.
[189] Cf. Fonti Francescane, I, Testamento, 13: 114; Lettere 208, 224.
[191]Conc. Œcum. Vat. II, Const. de sacra Liturgia Sacrosanctum concilium, 122.
[192]Ioannis Pauli II, Litt. encycl. Ecclesia de Eucharistia (17.IV.2003), 49: AAS 95
(2003), 465-466.
[198] Cf. Instruction pour l’Application des Prescriptions Liturgiques du Code des
Canons des Églises Orientales,103.
[203] Ibidem.
[204] Instruction pour l’Application des Prescriptions Liturgiques du Code des Canons
des Églises Orientales, 108.
[206]Ioannis Pauli II, Litt. encycl. Ecclesia de Eucharistia (17.IV.2003), 25: AAS 95
(2003), 449-450.
[207] Sobre o culto eucarístico renovado depois do Concílio Vat. II, vejam-se:
Eucharisticum Mysterium, Instrução da Congregação dos Ritos e do Consilium,
aprovada e confirmada por Paulo VI (25 de Maio de 1967): EV, vol. II, 1084-1153;
Eucharistiæ Sacramentum, com que a Congregação para o Culto Divino reviu o Rito da
Comunhão e do Culto eucarístico fora da Missa (21 de Junho de 1973): ivi, vol. IV,
1624-1659; Inæstimabile Donum, publicada pela Congregação para o Culto Divino,
sobre Algumas normas relativas ao culto eucarístico (3 de Abril de 1980); cf. ivi, vol.
VII, 282-303.
[213]Cf. Ioannis Pauli II, Litt. encycl. Ecclesia de Eucharistia (17.IV.2003), 10: AAS 95
(2003), 439.
[215]Ioannis Pauli II, Litt. encycl. Ecclesia de Eucharistia (17.IV.2003), 25: AAS 95
(2003), 449-450.
[221]Cf. Conc. Œcum. Tridentin., Decr. de Eucharistia, sess. XIII, cap. 2, De ratione
institutionis ss. huius sacramenti: DS 1638.
[223] Innocentii III, Ep. “Cum Marthæ circa” ad Ioannem quondam archiep. Lugdun.
(29.XI.1202): DS 783.
[225]Conc. Œcum. Vat. II, Const. dogm. de Ecclesia Lumen gentium, 26.
[226]Cf. Ioannis Pauli II, Litt. encycl. Ecclesia de Eucharistia (17.IV.2003), 35: AAS 95
(2003), 457.
[227]Cf. Conc. Œcum. Tridentin., Decr. de Eucharistia, sess. XIII, cap. 2, De ratione
institutionis ss. huius sacramenti: DS 1638; cap. 8, De usu admirabilis huius
sacramenti: DS 1649.
[228]Cf. Ioannis Pauli II, Litt. encycl. Ecclesia de Eucharistia (17.IV.2003), 17: AAS 95
(2003), 444-445.
[230]Cf. Ad Diognetum V, 5.9.11; VI, 1-2.7: Patres Apostolici, F.X. Funk ed., Tübingen
1992, p. 312-314.
[232]Cf. Ioannis Pauli II, Litt. encycl. Ecclesia de Eucharistia (17.IV.2003), 62: AAS 95
(2003), 474-475.
[234]Ad Magnesios, 9, 1: Patres Apostolici, F.X. Funk ed., Tübingen 1992, 196.
[235]Cf. Ioannis Pauli II, Litt. encycl. Ecclesia de Eucharistia (17.IV.2003), 41: AAS 95
(2003), 460-461.
[237] Cf. Conc. Œcum. Vat. II, Decr. de activitate missionali ecclesiæ Ad gentes, 39.
[239]Ibidem, 9.
[241]Ioannis Pauli II, Litt. encycl. Ecclesia de Eucharistia (17.IV.2003), 55: AAS 95
(2003), 470.
[244]Ioannis Pauli II, Litt. encycl. Ecclesia de Eucharistia (17.IV.2003), 22: AAS 95
(2003), 448.
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