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A PREPOSIÇÃO E A CARACTERIZAÇÃO DO OBJETO INDIRETO:

ASPECTOS SINCRÔNICOS E DIACRÔNICOS

Maria Aparecida C.R Torres Morais (USP)

1. Introdução.

Na evolução do latim a perda da morfologia dos casos nas categorias nominais leva
as línguas românicas a explorarem diferentes recursos sintáticos para a expressão das
relações entre os constituintes da sentença, entre eles, a ordem das palavras e
enriquecimento funcional das preposições, as quais passam a assumir os valores das
formas casuais das declinações. Naturalmente, as mudanças gramaticais que marcam as
línguas românicas em relação ao latim criam problemas para os gramáticos preocupados
em descrevê-las nos moldes clássicos. Torna-se necessário uma reflexão mais voltada
para a nova realidade lingüística, de modo que termos tradicionais como nominativo,
acusativo, dativo, etc., referentes aos casos formais, embora ainda presentes na
nomenclatura gramatical, passam a ser entendidos como variantes denominativas das
relações ou funções gramaticais correspondentes, como sujeito, objeto direto (OD) e
objeto indireto (OI). No entanto, a tradição gramatical ainda encontra problemas para
alcançar rigor descritivo na determinação das relações gramaticais. No caso do OI a
imprecisão das descrições tradicionais tem sido notável no que diz respeito tanto ao
estatuto da preposição que introduz o constituinte, quanto à sua caracterização como
Sintagma Nominal (NP) ou Sintagma Preposicional (PP) e o seu estatuto argumental.

Bastante distinta dos modelos tradicionais, a gramática gerativa (Chomsky, 1965,


1981) define as funções gramaticais a partir da posição estrutural que as categorias
gramaticais (NP, VP, PP) ocupam na frase, especificamente, em termos de relações de
dominância. Deste modo, sujeito da sentença é definido como o NP imediatamente
dominado por S [NP, S]; objeto direto como o NP imediatamente dominado por VP [NP,
VP]; objeto de preposição como o NP imediatamente dominado por PP, contendo uma
preposição X [NP, PP] e predicado como o VP imediatamente dominado pela S [VP, S].
Na perspectiva gerativista, embora se possa reconhecer "informalmente a função de
objeto indirecto" (Raposo, 1992, p. 82, nota 9), não se tem como lhe atribuir um estatuto
teórico, uma vez que a mesma não é definida em termos exclusivamente posicionais, mas
sim como objeto de preposição, nos moldes das funções oblíquas, embora distinta no que
diz respeito à teoria temática. O fato de a caraterização do OI não se reduzir a termos
posicionais, leva, portanto, à necessidade de assumir outros critérios que permitam
determinar a função.

Portanto, a busca de critérios mais exatos para descrever o OI no português exige


que se considere primeiramente que a caracterização das funções gramaticais só poderá
ser realizada, levando-se em conta tanto o contexto da estrutura argumental do
predicador, como o fenômeno da subcategorização verbal, o qual envolve noções de
transitividade e intransitividade. De fato, a noção de estrutura argumental e a
subcategorização verbal permitem entrever que os laços que unem os constituintes ao
verbo são de diferente natureza, ou seja, alguns são mais "íntimos" outros mais
2

"externos", levando à necessidade de se distinguir, com base em critérios formais, os


complementos dos adjuntos. Em seguida, é importante reconhecer o argumento não
posicional proposto por várias abordagens na descrição gramatical do OI, a saber: a
cliticização ou "substituição" do DP-OI pela forma dativa do clítico, no caso da terceira
pessoa, o pronominal lhe/lhes. Com a associação entre a forma pronominal dativa e a
função OI, é possível identificar complementos indiretos de verbos como dar, oferecer,
etc., dos complementos oblíquos de verbos como gostar, assistir, etc. Nesta perspectiva,
o clítico lhe torna-se uma peça importante para o estudo do OI nos contextos de
complementação verbal.

Do mesmo modo, reconhece-se como fator intimamente relacionado ao OI a


delimitação do estatuto da preposição a. No presente estudo destacamos a relevância da
preposição a em contraste com para, optando por nos apoiar em uma abordagem
comparativa com o espanhol. Esta estratégia nos permite verificar que, tanto nessa língua
quanto no PE, em oposição ao PB, o lhe cliticiza exclusivamente o NP introduzido pela
preposição a, nunca para. Este ponto, porém, só poderá ser entendido, levando-se em
conta o importante fenômeno do redobro do clítico. No PE, o redobro é bastante restrito,
sendo possível apenas quando o elemento dobrado é também ele um pronominal com
acento enfático.(cf. seção 2)

(1) a. Eu não o vi a ele


b. Eu não lhe dei o livro a ele.

No espanhol, ao contrário, o redobro do clítico é praticamente irrestrito e muito


produtivo com os OIs. Por este motivo, a apresentação que se segue vai trazer
inicialmente alguns fatos dessa língua. A literatura relevante trata ainda a questão do
estatuto categorial do OI como PP ou NP e um distinção dos OIs selecionados pelos
predicadores verbais de dois e três lugares em contraste com os casos em que o OI se
comporta como uma função “construída” na expressão dos valores possessivo, benefativo
e locativo.(cf. seções 3 e 4) Destaca-se ao mesmo tempo, o fato de que o OI anafórico
passa por uma reanálise nas suas formas de expressão no PB.(cf. seção 5) Será feita
também uma proposta inicial de mudança que procure dar conta dos fatos observados.(cf.
seção 6) Finalmente, é nosso objetivo neste estudo uma abordagem diacrônica do PB.
Esta abordagem tem um caráter quantitativo e toma como corpus os anúncios e cartas de
leitores e editores de jornais publicados no século XIX, em diferentes capitais e em
cidades do interior de São Paulo, Minas Gerais e Bahia. Vamos nos limitar a isolar os
DPs selecionados por verbos ditransitivos com o papel temático meta/benefativo,
introduzidos por a ou para, ou seja, neste primeiro momento fazemos um recorte,
privilegiando a busca dos resultados que envolvem a expressão do OI oblíquo em
detrimento da expressão do OI anafórico.(cf.seção 7) 1

2.0. Contraste entre as preposições a e para

1
Alguns estudos de orientação sociolingüística, de natureza diacrônica, como os de Berlinck, (1996, 1997,
1999, 2000) mostram, nos contextos com os verbos ditransitivos, a queda percentual na expressão anafórica
do dativo e a substituição da preposições a pela preposição para na variante brasileira.

2
3

A discussão que se segue mostra que é possível isolar as propriedades que


distinguem as preposições a e para nos contextos dativos, de modo que manter a
preposiçao para como índice funcional próprio dos OIs não é condizente com os fatos de
espanhol e português.2

2.1. Os fatos do espanhol

As preposições a e para no espanhol têm um estatuto distinto, facilmente


verificável em um conjunto de propriedades, algumas das quais elencadas abaixo: 3

a. A preposição a e para apresentam a possibilidade de co-ocorrência:

(2) La Reina entregó al presidente de la Cruz Roja un donativo para los presos de guerra.

b. As seqüências em que as preposições a e para ocorrem não são sempre sinônimas:

(3) a. Compró una chaqueta a Juan.


b. Compró una chaqueta para Juan.

Na sentença (3a), a seqüência <a+NP>é ambígua na expressão do benefativo e


origem/fonte, ou seja, pode ser interpretada como a compra de uma jaqueta para Juan, ou
como a expressão da venda de uma jaqueta por parte do Juan. Em (3b), porém, o
sintagma introduzido pela preposição para expressa apenas o benefativo, evidenciando
que a paráfrase com (24a) atinge apenas um dos seus significados, justamente o que
expressa benefativo, mas não o que expressa origem/fonte.

c. Do mesmo modo, os contextos de finalidade são de uso exclusivo de para; valores


como meta, origem, possessão ou interesse são de uso exclusivo de a:

(4) a. Le coloqué las cortinas al salón.


b. *Le coloqué las cortinas para el salón.
c. *M. há reservado pan a la cena.
d. M. há reservado pan para la cena.

d. Note-se que as frases introduzidas por para expressando o benefativo não podem ser
usadas em sentido negativo:

(5) a. A Toña le detectaron cáncer en el pecho.


b. *Para Toña le detectaron cáncer en el pecho.

e. O melhor argumento, porém, na distinção das preposições para e a nos contextos com

2
Usamos simplesmente o termo português em algumas passagens em que a distinção português europeu
(PE) e português brasileiro (PB) não estiver sendo relevante.
3
A discussão baseou-se em Ordoñez (1999).

3
4

OI é o redobro do clítico: lhe/lhes co-ocorre com NPs introduzidos unicamente pela


preposição a. O fenômeno é vetado aos contextos em que outras preposições, entre elas,
para e de introduzem o constituinte:

(6) a. Le envió una postal a Pepe.


b. *Le envió una postal para Pepe.
c. Le acarició la mano a la chica,
d. Le acarició la mano.
e. Acarició la mano de la chica
f. *Le acarició la mano de la chica.

No entanto, como observa Ordoñez (1999), os gramáticos espanhóis, de um modo


geral, assumiram uma paralelo entre a e para como expresso em (7):
(7) a. Hizo una toquilla a su suegra./ Le hizo una toquilla.
b. Hizo una toquilla para su suegra. / Le hizo una toquilla.

Nos termos do autor, está claro que a substituição pelo clítico dativo da seqüência
<para +NP> em (7b) não é adequada descritivamente e assumi-la obriga ou a postular
que os sintagmas introduzidos por a e para desempenham a mesma função, ou abandonar
o critério da substituição pelo clítico, uma vez que os contextos de redobro mostram
claramente que o lhe redobra unicamente NPs introduzidos por a. Nenhuma das
conclusões é aceitável: o que se verifica é uma má aplicação da possibilidade de
substituição do NP pelo clítico, com base na sinonímia contextual, ou em uma confusão
dos conteúdos lingüísticos com a realidade extralingüística que se depreende das
expressões a su hijo e para su hijo (cf. também, Hernanz & Brucart, 1987 e Campos,
1999). 4

2.2. Os fatos do português

No estudos gramaticais do português, ocorrem problemas semelhantes na


utilização dos critérios para determinar o estatuto da preposição a, novamente porque
deixa de ser feita uma distinção entre a preposição a plena, com conteúdo semântico, e a
preposição dummy especializada em marcar OIs. No primeiro caso, a introduz
complementos oblíquos e adjuntos circunstanciais variados, como em José reagiu ao
ataque ou José vai a São Paulo. 5
4
Cf. Coelho (2002) para uma reflexão sobre o estatuto da preposição para, como parte dos estudos
envolvendo a gramaticalização das diferentes preposições na história do português.
5
Bechara (2000) mostra que a preposição a não só introduz complemento verbais –OI/OD- e
complementos nominais, como também numerosas circunstâncias, como se segue:
a. Termo do movimento: Levei-os ao banco. Fui ao banco.
b. Tempo: Ia por ali às vezes.
c. Fim ou destino: Apresentaram-se a falar ao imperador.
d. Meio, instrumento, modo. Fechar à chave, Falar aos gritos, andar a cavalo.
e. Lugar, aproximação: Vejo-a assomar à porta. Estar à janela.
g. Semelhança, conformidade: Falou ao modo biblíco.
h. Preço. a um real.
i. Posse .Tomou o pulso ao doente. (do doente)

4
5

No segundo caso, a introduz OI em sentenças como José abraçou ao pai.


Bechara (2000) constitui uma exceção dentro da tradição gramatical, ao afirmar que o OI
ocorre regido obrigatoriamente pela preposição a, não para: “Cabe insistir que a
preposição que introduz o complemento indireto é a; muitas vezes, parece que, nesta
função, se acha a preposição para, já que a e para se alternam em muitos esquemas
sintáticos, mas não quando se trata do complemento indireto, o que só raramente
acontece:” (pp.422-423).

Adaptando Bechara para os termos da nossa discussão, pode-se dizer que em uma
sentença como Alguns alunos compraram flores para a professora, a preposição para
não introduz o OI, dada a possibilidade de uma sentença como Alguns alunos compraram
flores ao florista para a professora, em que a preposição a expressa o papel-θ
origem/fonte e para o papel-θ benefativo. Por outro lado, se ambos os termos tivessem o
mesmo estatuto gramatical poderiam ser coordenados o que não ocorre, como mostra a
agramaticalidade de Alguns alunos compraram flores à florista e para a professora.
Note-se ainda que a pronominalização só poderia ser realizada com o termo à florista,
como mostra o contraste gramaticalidade vs agramaticalidade de Alguns alunos
compraram-lhe flores para a professora vs Alguns alunos compraram- lhe ao florista.

Pelo que foi exposto acima, fica fácil reconhecer que os temos usados por
Bechara na descrição do OI toma como base os fatos do PE, deixando de contemplar os
fatos do PB. Como sabemos, alguns trabalhos sobre o PB atual mostram a tendência em
substituir a preposição a pela preposição para com os verbos ditransitivos de
"transferência" ou "movimento". Além disso, o clítico lhe tem sido substituído pelo
oblíquo a ele/ a ela, outra reanálise que não se verifica no PE.
Por sua vez, Mateus & alii (1991) definem o OI como o argumento de verbos de
dois ou três lugares, tipicamente com a função sintática de recipiente, alvo ou meta, fonte
ou origem e experienciador. Na maioria dos casos tem o traço [+animado] e é cliticizado
por lhe. Observemos seus exemplos:
(8) a. O miúdo deu o brinquedo ao amigo. b. O miúdo deu-lhe o brinquedo.
c. O menino obedece ao pai. d. O menino obedece-lhe. (p. 231)

O constituinte OI aparece pronominalizado na forma dativa, com uma marcação


morfológica única para a terceira pessoas: lhe/lhes. Com base em Mateus e alii, vamos
assumir que a substituição do OI pelo dativo lhe constitui o teste de identificação mais
preciso para isolar a função OI. De fato, enquanto a preposição a não é exclusiva dos OIs,
o clítico lhe não pode estar associado com complementos preposicionados.

(10) a.O João gosta da Maria,


b.*O João lhe gosta.
c.O João pensa na Maria.
d. * O João lhe pensa.

O autor observa ainda que com os verbos: limpar, enxugar, assoar, os brasileiros usam em e portugueses o
a:
j.Limpar as lágrimas no lenço. Limpar as lágrimas ao lenço.

5
6

Mateus & alii fazem ainda uma importante distinção entre OI e funções sintáticas
oblíquas, caracterizando estas últimas como argumentos opcionais ou nucleares,
dependendo da natureza do predicador. As funções sintáticas oblíquas expressam uma
variedade de relações semânticas, entre elas, instrumento, comitativo, benefativo, tempo,
duração, freqüência, locativo, situacional, direcional, causa, fim. Vejamos alguns
exemplos:

(11) a.O meu amigo pintou esse quadro para a Maria. (benefativo)
b.Tenho de sair já para não perder o avião. (fim)
c.O Luís foi ao cinema com a Ana. (comitativo)
d.O João cortou-se com o abre-latas. (instrumento)

Os constituintes oblíquos são, portanto, regidos por uma preposição que marca sua
função semântica. Os verbos que determinam esse esquema são, em geral, verbos com
regência preposicional. Assim, entre os verbos que selecionam a preposição com temos:
confundir, partilhar, repartir; preposição de: afastar, aproximar, esconder; em: converter,
enfiar; preposição por: distribuir, substituir, trocar. É importante ressaltar que as autoras
também registram que o OI aparece com predicadores de três lugares, usados como
predicadores de dois lugares. Nestes casos, ocorre o que fenômeno da “incorporação” do
do constituinte complemento do N, núcleo do NP- OD, à grade argumental do verbo, (cf.
seção 3)

(12) a.Cortar[as folhas]OD [ às arvores]OI. b. Cortar [as folhas das árvores]OD.


c. Limpar [o pó] OD [à mesa] OI d. Limpar [o pó da mesa] (p. 230)

Com dar e fazer seguido de OD que designa estado de coisas, o OI é tipicamente


[-animado]

(13) a.Dar [uma pintura] OD [às estantes]OI


b.Fazer[ uma limpeza] OD [à casa] OI (p..230)

Novamente, observa-se que estas construções podem admitir um OBL em lugar do


OI:

(14) a. Dar [uma pintura] OD [ nas estantes] OBL


b. Fazer [uma limpeza] OD [na casa] OBL (p.230)

Finalmente, observe-se ainda os chamados complementos oblíquos podem ser


comutados pelas formas pronominais ele. ela, eles, elas, introduzidos pelas respectivas
preposições.(cf. Bechara, 2000)

(15) a.Todos gostam do artista.


b.Todos gostam dele.
c. Os turistas assistiram à opera.
d. Os turistas assistiram a ela.
e. O José não confia nos empregados.
f. O José não confia neles.

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Da mesma forma, verbos do tipo chegar, ir, vir, viver, morar, selecionam OBL,
que podem ser comutados por advébios de lugar:

(16) a.O José chegou de São Paulo.


b.O José chegou de lá.

Como discutido, o redobro do clítico constitui o argumento fundamental para a


afirmação de que a preposição a é o elemento que marca o OI. Entretanto, ao contrário do
espanhol onde o fenômeno é muito produtivo e praticamente irrestrito, o português o
produz apenas na presença dos pronomes oblíquos. Isso não impede, porém, que se possa
reconhecer o contraste entre a e para, em termos da exclusão da preposição para nos
contextos de redobro:

(17) a. Dei-lhe o livro a ela.


b. *Dei-lhe o livro para ela.

Também as construções de Deslocamento à Esquerda, nas quais o lhe co-ocorre


com a preposição a, evidenciam os complementos indiretos com a forma <a+ NP>.
Observe-se ainda a agramaticalidade de (18b), com a forma a ele em lugar do lhe em
(18c):

(18) a. Ao teu amigo, ainda não lhe pagaram os direitos de autor, pois não?
b. * Ao teu amigo, ainda não pagaram a ele os direitos de autor, pois não?:
c *Para o João ainda não lhe pagaram os direitos de autor, pois não? (cf. Duarte,
1987)

Do mesmo modo, nos contextos com os chamados dativos possessivos que


alternam com os genitivos, é posssível encontrar o contraste entre os sintagmas
introduzidos pela preposição a-dativa e pelo de–genitivo: novamente, a cliticização do
lhe está restrita aos sintagmas introduzidos pela preposição a:

(19) a. O Carlos conhece os defeitos ao David.


b. O Carlos conhece-lhe os defeitos .
c. O Carlos conhece os defeitos do David (Miguel, 1996).

Concluimos, portanto, que o português e o espanhol se identificam no emprego do


lhe e da preposição a como identificadores do OI.

3.0. O estatuto categorial do objeto indireto

3.1. O espanhol e português europeu (PE)

Como observado anteriormente, a discussão do OI envolve a definição do seu


estatuto categorial como sintagama nominal (NP), ou sintagma preposicional (PP), a qual
está relacionada com o papel atribuído à preposição a, introdutora obrigatória do
constituinte.

7
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Suñer (1988) estuda o comportamento dos PPs e NPs no espanhol e conclui que
os OIs não são PPs, mas NPs. Um dos seus argumentos toma como base os papéis
temáticos, considerando–se que o papel-θ do NP introduzido por uma preposição é
determinado por esta preposição. Como os exemplos abaixo mostram, a preposição a não
altera o papel temático atribuído pelas preposições plenas aos seus argumentos, o que
evidenciaria o seu estatuto de preposição semanticamente vazia:

(20) a. Consegui un empleo para María. (meta)


b. Le consegui un empleo a María. (meta)
c. Los niños compraron chucherías de la vendedora. (fonte)
d. Los niños les compraron chucherias a la vendendora. (fonte)
e. Arreglaron la televisión de mi madre. (possuidor)
f. Le arreglaron la televisión a mi mi madre. (possuidor)
g. Lavó el auto por ella. (benefativo)
h. Le lavó el auto a ella (benefativo)

Também para o português europeu (PE) é possível argumentar a favor da hipótese


de que o OI comporta-se como um NP e não como PP. Um destes argumentos se refere
ao fato já comentado de que o clítico lhe não poder estar associado aos oblíquos. Assim,
verbos como pensar, gostar, etc. tomam complementos preposicionais, mas não clíticos
dativos:

(21) a. * Pensei-lhes muito.


b. Pensei muito neles .

Duarte (1987) confirma com vários argumentos a hipótese de que o OI no PE tem


uma natureza nominal e não preposicional, de modo que a preposição a que introduz o
NP-OI não tem contéudo semântico, constituindo unicamente um marcador gramatical de
Caso. Nestes termos, caracteriza-se formalmente pelo esquema <a + NP>. Um dos
argumentos da autora, refere-se às estruturas de controle, as quais evidenciam que o OI é
o controlador do pronominal nulo (PRO) sujeito em (22a), em oposição ao PP, ou
complemento preposicionado em (22b):

(22) a. Permitiram ao Joãoi [PROi apresentar o trabalho mais tarde]


b. Combinei com o Joãoi [ PRO*i/j ir ao cinema]

Observe-se que os falantes brasileiros atribuem o mesmo juízo de gramaticalidade


às sentenças em (22). Isto é interessante porque, como vamos discutir posteriomente,
nossa proposta é que, no PB, o OI passou a ser analisado como um oblíquo, mesmo
quando introduzido por a. Deixamos, porém, para uma pesquisa futura um
aprofundamento da questão envolvendo as estruturas de controle.

4.0. Para uma tipologia do OI

4.1. No espanhol

Os fatos que dizem respeito às preposições a e para poderão ser situados num
quadro gramatical mais amplo, quando se leva em conta que, na literatura espanhola, foi
estabelecida uma tipologia do OI ou Complemento Indireto (CI) em duas grandes classes

8
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A primeira, denominada CI1, inclui predicados agrupados em dois subconjuntos: (i)


predicados ditransitivos que têm como núcleo do VP verbos de transferência - material,
abstrata, movimento físico e abstrato -, dentro do seguinte esquema: Suj-agente/
causador; OD (tema); CI (origem ou meta). A preposição que os introduz é sempre a,
nunca para. Há redobro obrigatório do clítico dativo, se o sintagma <a+NP> está
topicalizado, e redobro opcional, embora muito produtivo, nos outros casos. O CI1 é
sempre cliticizado pelo dativo lhe; (ii) CIs selecionados por predicados intransitivos ou
inacusativos caracterizados por verbos de movimento físico, psíquico (verbos
psicológicos), acontecimento, incumbência, adequação. Como no caso anterior, os CIs
são sempre introduzidos por a, nunca para e cliticizados por lhe. O redobro do clítico
pode ser obrigatório, ou não, dependendo de cada verbo em particular. (23a) é um
exemplo de CI1 em predicado transitivo de transferência e (23b-c) de CI1 com verbos
psicológico (gusta) e inacusativo(nació):
(23) a. (Le) dedicó una sonata a su mecenas
b b. A Maria le gusta la música.
c. A Pepe le nació una niña.

O que os CI1s têm em comum é o fato de serem selecionados pelo predicador. Ao


lado dos CI1, porém, há um conjunto de verbos como preparar, cozinhar, pintar, lavar,
limpar, etc. que seleciona um complemento indireto, denominado CI2 e identificado por
um conjunto de papéis temáticos como benefativo (o chamado dativus commodi
/incommodi), possessivo, locativo. A propriedade fundamental que distingue os dois
grupos é o fato de que, ao contrário do CI1, o CI2 não está previsto na grade argumental
do verbo, embora compartilhe um conjunto de propriedades formais definidoras do CI1.
Segundo Ordoñez (1999), não se definiu ainda com precisão o CI2 no espanhol, mas o
seu comportamento permite entrever propriedades interessantes a respeito do OI e do
dativo lhe. De fato, nesses contextos, se o NP-OI está realizado lexicalmente, o redobro
do clítico é obrigatório. Ora, o fenômeno do redobro parece evidenciar que o lhe pode
estar atuando como um recurso gramatical que permite “incorporar” um argumento a um
verbo ou predicador que não a tinha selecionado na grade temática. Ou seja, quando o
pronome dativo está presente, o comportamento do CI2 incorporado não se distingue do
verdadeiro CI1. Assim, a uma das manifestações desse processo dá-se o nome de atração
funcional, definida como um fenômeno sintático que se produz quando uma função
sintática, estando vazia, passa a exercer uma atração sobre um constituinte que exerce
outra função.
(24) a. Compró un piso al contratista (orig/meta) para su hijo.(ben)
b. Compró un piso 0 (orig) para su hijo. (ben)
c. Compró un piso a su hijo. (orig/meta) (ben).

Observe-se que o sintagma para su hijo em (24a), passa a ser interpretado como
um OI em (24c) sem que ocorra mudança na expressão do papel-θ. Cria-se, assim, uma
ambigüidade em que a su hijo pode ser interpretado como origem/meta ou benefativo.
Essa seria a razão tradicional para se atribuir de forma equivocada um estatuto de OI aos
NPs introduzidos por para. Portanto, a cada um dos significados das sentenças em (24)
associam-se propriedades formais distintas, que incluem, entre outras: (i) expressão de
papéis temáticos distintos; (ii) substituição da preposição plena para pela preposição

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dummy a; (iii) Clítico dativo obrigatório diante de <a+NP> benefativo e opcional diante
de <a+NP>origem/meta, como ilustrado pelos exempolos em (25a-b) respectivamente.

(25) a. (Le) Compró un piso a su hijo. (orig/meta)


b. Le Compró un piso a su hijo. (ben).

Por sua vez, os casos de “incorporação” de um CI2 à grade argumental do verbo,


com as mesmas propriedades descritas para o caso acima, mostram que complementos
preposicionados com papeís temáticos variados, entre eles, possessivo, locativo,
benefativo, incorporam-se à dependência direta do verbo. Tais complementos são
introduzidos pelas preposições genitivas, locativas e benefativas. 6 Observemos os
exemplos:
(26) a. Le limpió las manos al niño. (poss)
b. Limpió las manos del niño.
c. Le puso oregano a la pizza. (loc)
d. Puso oregano en la pizza.
e. Le compró un piso a su hijo (ben)
f. Compró un piso para su hijo.
g. El libro le es útil al alumno. (ben)
7
h. El libro es útil para el alumno.

Observe-se ainda os casos abaixo na presença de outras preposições, entre elas,


de, por, contra, com, e predicados que selecionam ou o argumento experienciador ou o
comitativo:

(27) a. Juan tiene miedo de María.


b. Juan le tiene miedo a Maria.
. c. María hizo el trabajo por Juan.
d. María le hizo el trabajo a Juan.
a. Juan jugó un partido de tenis con/contra María.
b. Juan le jugó un partido de tenis a Maria.
c. Irene no habla com Adela.
d. Irene no le habla a Adela

Novamente, estamos diante de casos em que a preposição plena é substituída por

6
Segundo Ordoñez (1999), o teste mais seguro para se considerar o estatuto de um OI como argumento
selecionado pelo verbo é o dos particípios, uma vez que estes, embore conservem o mesmo número de
argumentos selecionados pela forma finita do verbo, não permitem os clíticos pronominais. Esta
propriedade de admitir o OI, ou a forma <a+NP> sem o clítico pronominal coloca-se como a prova decisiva
para a determinação do estatuto argumental de um CI. Se o que individualiza um OI com verbos finitos é
a pronominalização com o lhe e se os particípios não o admitem, o fato de um particípio poder selecionar
um CI mostra que este já estava previsto na valência do verbo:
7
Os casos dos complementos adjetivais e nominais é bastante interessante. Por ser o adjetivo, um atributo
do verbo ser ou estar, pode ou manter o complemento com a preposição que o adjetivo rege, ou co-ocorrer
com um clítico pronominal que se apóia no verbo e é compatível com a preposição a. Embora os átonos
dativos dependam do adjetivo por terem sido selecionados por ele, comportam-se sintaticamente como
complementos verbais. Em outras palavras, o uso do le se torna obrigatório e o complemento do adjetivo
agora incorporado ao verbo tem como índice funcional possível a preposiçãoa a.

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a e o redobro do clítico é obrigatório. É possível “construir” uma função sintática,


impondo-lhe restrições formais, ou semânticas, de modo que um constituinte não
argumental atua como se o fosse. Em outras palavras, a função OI nestes contextos é
construída por meio de um processo gramatical. O pronome dativo atua como recurso
gramatical, permitindo incorporar a um verbo um argumento que não estava selecionado
em sua grade temática. Quando o pronome se faz presente, o comportamento dos OIs
incorporados não difere dos selecionados, ou seja, esses submetem-se às exigências do
OIs argumentais, em particular, a coexistência com o clítico pronominal e adoção da
preposição a.8

4.2. No português europeu

A argumentação usada para os fatos do espanhol parece ser adequada para


descrever os fatos do PE. Primeiramente, estabelece-se uma distinção entre OI
“argumental” e “incorporado”, de acordo com os esquemas de predicação. O OI
argumental é típico dos predicados ditransitivos, intransitivos e inacusativos, entre eles,
os chamados verbos psicológicos. Os predicados ditransitivos englobam os verbos
semanticamente classificados como verbos de transferência material, - dar, vender,
compar, roubar, etc.; transferência comunicativa - comunicar, dizer, confiar, revelar,
explicar, declarar, etc.; movimento físico - trazer, fugir, etc., e movimento abstrato -
oferecer, entregar, conferir, destinar, etc, - dentro do esquema S V OD OI. O esquema
temático envolve um sujeito-agente/causador, OD -tema e OI meta/recipiente ou origem.
São introduzidos por a nunca para e cliticizados pelo dativo lhe. Todas essas
propriedades podem ser observadas nos exemplos em (28):9
(28) a. Pediram-me, inúneras vezes, para explicar aos professores as causas do insucesso escolar de
muitas crianças portuguesas imigrantes. (DNA no177- 22/04/00)
b…. Já contei também a história do juiz que mandou vir ao tribunal os ladrões que "faziam" a
estação do Rocio porque tinham roubado o relógio ao seu pai. ... (Notícias-Magazine, maio/2000)
…|| A pele do seu bebé é muito delicada e o seu rabinho | é uma das zonas mais sensíveis do seu corpo.
Ao estar | permanentemente exposto à humidade e a outros | agentes externos, é fundamental dedicar-lhe
toda a | atenção, oferecendo-lhe uma fralda com Cermo- | protecção e Máxima Secura. (Pais & Filhos, no
105, outubro, 1999)

8
Os chamados dativos supérfluos diferem dos OI. Enquanto o OI é um função nominal, os dativos
supérfluos não ocupam uma função sintática, são opcionais, e se limitam a marcar a ênfase, o interesse a
afetação, como ilustrado em (I):

(i) O José me derrubou o vaso de cristal.


9
A exemplificação vai se valer de um corpus de língua escrita em diferentes níveis de formalidade, do mais
formal para o menos formal. Seguindo sugestões de textos propostas por Duarte e Cyrino (2000), serão
considerados como mais formais os ensaios e editoriais de revistas e jornais; como intermediários ou semi-
formais, as colunas e matérias assinadas e cartas de leitores e editores; e como menos formais, os anúncios,
entrevistas, e receitas. Os dados referentes ao PE foram extraídos das revistas portuguesas Visão, Quo,
DNA , Magazine e Pais & Filhos.

11
12

Da mesma forma, os verbos intransitivos/inacusativos enquadram-se em um


esquema S V OI (PP), em que o OI é interpretado como recipiente ou experienciador,
introduzido por a nunca para, e cliticizado pelo lhe. Constituem um conjunto
diversificado de predicados de movimento físico, psíquico, acontecimento, incumbência,
adequação, interesse, entre eles: obedecer, servir, chegar, constar, faltar, incumbir,
convir, tocar, corresponder, bastar, sobrar, subir, vir, cair, escapar, parecer, ocorrer,
sobrevir, suceder, acontecer; e verbos psicológicos, pertencentes a um subconjunto dos
verbos inacusativos do tipo de agradar ou desagradar. Observe-se pelos exemplos em
(20) que, com os verbos desse grupo, ao contrário do conjunto anterior, o OI se expressa
preferencialmente com o clítico, em lugar do NP pleno:

(29) a. Por exemplo, no final de uma consulta da rede HELP | basta-lhe apresentar o cartão, pagar
2.000$00 e tudo o resto fica | por nossa conta. (VISÃO, 7 a 13 /10/ 1999 )
b.| Em casos de carência vitamínica e reduzida quantidade de fibras no organismo. POSOLOGIA:
Tomar sempre que lhe apeteça. | Repetir sempre que possa. Óptimo acompanhamento de refeições. ( QUO,
no 49- 1999)
c. …já não | precisa ter um médico na família. | Basta pertencer à família de médicos | que o
Sistema Personalizado de | Saúde da Tranquilidade põe à sua | disposição, e que está preparado | para o
atender com a maior rapidez | e eficiencia, a si e à sua família. (Pais & Filhos, no 105 –10/1999)

O PE difere do espanhol e se alinha ao francês e iltaliano, por não apresentar o


redobro do clítico nos contextos dativos:

(30) a. Jean a donné des bonbons à Marie.


b. * Jean lui a donné des bonbons à Marie.
c. Lina a dato una caramella a Giovanni.
d. * Lina gli ha dato una caramella a Giovanni.
e. O José deu balas à Maria.
f. * O José deu-lhe balas à Maria.

Ora, a ausência do redobro parece comprometer uma possível afirmação de que o


português apresenta a possibilidade do OI “incorporado” à estrutura argumental do verbo,
na forma proposta para o espanhol. Entretanto, é bastante produtiva a ocorrência do OI
não argumental (CI2), incluindo os chamados dativos possessivos em predicados como
limpar, queimar, ver, ouvir; os benefativos em verbos como comprar, levar, etc., e os
locativos (direcionais) em verbos como fugir, ir, chegar, etc. Os exemplos em (31)
expressam o complemento locativo. Observe-se que o critério mais preciso usado para
identificação do dativo locativo é a substituição da preposição em pela preposição a. Por
sua vez, os dativos possessivos expressam as mesmas propriedades dos locativos, sendo
distintos apenas pelo fato de que os elementos ausentes são os anafóricos genitivos e não
as preposições locativas (Exs.32).10

(31) a. A minha mãe me pedia para puxar o lustro ao soalho. (DNA, no171- 11/03/00)
b. Reconhece-lhe o papel de padrinho? (DNA, no 170- 04/03/00)

10
As línguas apresentam diferenças na expressão do possessivo: o françês prefere expressar o DP com os
clíticos; o espanhol tem redobro obrigatório nessas construções. O português se alinha ao francês, ou seja,
não tem redobro e prefere os clíticos.

12
13

(32) a. …dizia nesta carta que tinha uma doença rara que lhe ia corroendo as extremidades dos
membros… ( DNA, no 180 13/05/00)
b. Por que é que uma fralda seca é tão importante | para a pele do bebé? || Porque o amoníaco
produzido pela interacção da urina| e das fezes pode irritar-lhe a pele, causando-lhe incómo- | do e mau-
estar…(Pais & Filhos, no 105-10/1999)
c. Eu tinha uma série de fotografias do Gorbachev que tinham sido distribuídas quando ele
chegou ao poder, eram fotografias oficiais distribuídas pela Novosti e que, portanto, tinham sido retocadas
de maneira a que não se visse a mancha que ele tem na cabeça. Quando o vi pela primeira vez na televisão,
vi-lhe a mancha, bem nítida na cabeça. (DNA, no 178- 29/04/00)

Os dados do PE mostram que, apesar da distribuição complementar entre clíticos


e NPs, os clíticos dativos têm uma função gramaticalizadora na relação entre um
complemento não valencial e o verbo. A diferença entre o espanhol e PE fica restrita à
manifestação morfológica do dativo lhe na presença do NP lexical, ou seja, ao redobro.
No entanto, em ambas as línguas, o lhe marca a alteração do estatuto do complemento
nominal para complemento verbal. Daí a impossibilidade da co-ocorrência do lhe e dos
anafóricos seu/seus, etc. Além disso, confirma-se empiricamente a hipótese de que a
preposição a é um marcador de Caso, não tem conteúdo semântico, mas um papel
morfológico, semelhante ao da preposição genitiva. O uso da preposição a e cliticização
pelo lhe estão em estreita correlação. Se um for possível a outra também o será.

Em particular, a alternância entre o lhe e a forma <a+NP> nos exemplos (33) e


(34) abaixo é bastante reveladora dos processos formais que envolvem o OI no PE, e que
são idênticos aos que se manifestam nos contextos de redobro obrigatório do espanhol.
No caso de verbos como fugir, a gramática produz as três formas. Assim, (33a/34a) e
(33b/23b) são contextos dativos com alternância do lhe e do NP; (34c) mostra um PP
introduzido pela preposição de:

(33) a. Tive um conflito com o Savimbi, tenho tudo gravado, onde lhe chamei mentiroso. (DNA no 171
11 março 00)
b. Chamei mentiroso a Savimbi numa conferência de imprensa. ( DNA no 171- 11/ 03/00)

(34) a. …mas não fugiu aos tiques e situações dos anos 60. (DNA, no 171-03 /11/00)
b. Não vá a boca fugir-lhe para certas verdades … (DNA, no 168- 19/02/00)
c. Às vezes tenho ataques de nostalgia. Mas procuro fugir deles. (DNA, no 180- 13/05/00)

Portanto, nas estruturas com OIs não valenciais expressando valor possessivo,
benefativo, de direção, locativo, etc., nos quais se manifesta o fenômeno da incorporação,
o PE está muito próximo do espanhol. Como dissemos, a diferença entre as duas línguas
resume-se ao fato de que o português não manifesta o redobro obrigatório do dativo lhe
com os OIs incorporados. Conclui-se que o OI pode ser caracterizado como uma função
muito especial, quando a comparamos com o sujeito e objeto direto. De fato, enquanto
alguns verbos parecem trazê-la prefigurada em sua valência lexical, em um grande
número de casos ela é uma função construída. O importante a destacar na identificação
dos OIs é que os mesmos mostram diferentes graus de envolvimento no processo verbal,
os quais podem ser descritos, em termos semânticos, como um relacionamento temático
envolvendo papel -θ meta, fonte, benefativo, e outros. Do mesmo modo, reconhece-se
nos contextos dativos as particularidades do lhe frente ao quadro geral dos outros
pronomes pessoais. O dativo lhe se apresenta como um capacitador funcional, ou recurso

13
14

gramatical, para que, por exemplo, predicados de dois lugares possam incorporar um
novo argumento. Com essa propriedade evidencia-se que nem sempre os clíticos estão
'substituindo' um argumento ou objeto que poderia ser expresso por um NP, pronominal
ou não. Há certas relações que só podem ser expressas por eles.11

5.0. O português brasileiro

Sabe-se que as reanálises relacionadas ao sistema pronominal constituem um dos


aspectos mais marcantes que separam hoje o PB da variante européia, o que permite falar
em duas gramáticas diferentes do ponto de vista da Língua-I (Galves, 1998, 2001). A
gramaticalização da forma você como pronome pessoal de segunda pessoa em
substituição ao tu na maioria das variedades do PB leva a uma quebra da associação entre
pronome e flexão verbal, a qual perde a propriedade de identificar sujeito nulo
referencial, ou seja, deixa de existir uma correspondência perfeita entre as pessoas do
pronome e pessoas do verbo. De fato, embora sob o aspecto nocional a forma você se
refira à segunda pessoa, leva o verbo para a terceira e co-ocorre com os possessivos e
pronomes átonos, dativos e acusativos de terceira pessoa. Todo o quadro pronominal se
desloca, há um rearranjo das funções pessoais dos pronomes, a forma ele ficando
exclusiva como a não-pessoa (cf. Ilari et alii.1996)12

Em um estudo comparativo entre o PB e PE, esses aspectos precisam ser


ressaltados, acrescidos de dois outros não menos importantes: (i) a baixa freqüência dos
pronomes clíticos complementos de terceira pessoa no uso oral e escrito menos formal na
variante brasileira (cf. Duarte,1986). Segundo Galves (2001 p.129), o clítico acusativo de
terceira pessoa não faz parte da gramática “nuclear”, adquirida na infância em situação
normal de aquisição, mas da “periferia” adquirida em situação formal. As mudanças no
sistema pronominal, portanto, atingem principalmente o campo da expressão da terceira
pessoa. (ii) a substituição dos pronomes clíticos por outras formas que, usando a tipologia
de Kato (1999) chamaremos de pronomes fracos livres. No caso do dativo lhe, a forma
em competição é o sintagma preposicional a/para + ele(s) na terceira pessoa, e a/para+
você(s), na segunda.13

(35) a Durante a infância, os filhos vivem para agradar aos pais. Quando decidem contar que são gays,
os jovens estarão desagradando profundamente a eles (...). (VEJA, 16/02/00)
b. || Se o seu namorado | merece mais do que | rosas, dê para ele os | melhores botões.|| Camisas |
Dudalina | por Fernando de Barros. (CLÁUDIA, 06/04/1999)
c. Segundo seu relato, um empresário do setor de ônibus contou a ele ter sido obrigado a aceitar

11
Torres-Morais (em andamento) propõe uma hipótese de estrutura de frase distintas para as construções
com verbos ditransitivos do PE e PB, com base nas construções de objeto duplo do inglês.
12
Observa-se ainda em certas regiões do Nordeste o chamado fenômeno do "lheísmo", ou seja, o uso do
dativo lhe como pronome acusativo de segunda pessoa (cf. Ramos, 1999).
13
Cardinaletti & Starke (1994) distinguem três tipos de pronomes: clíticos, fracos e fortes. Cada classe
exibe suas próprias propriedades distribucionais e propriedades interpretativas que os autores atribuem a
diferentes níveis estruturais.

14
15

um acordo para pagar 40.000 reais por mês. (VEJA, 26/06/2002)

e.Em julho de 1980, o papa visitou o Rio Grande do Sul. Na oportunidade, eu era o presidente da
Câmara Municipal de Porto Alegre e entreguei a ele o título de cidadão porto-alegrense. (VEJA,
26/06/2002)
d. Quando o inverno chegar, | o que você quer ser: cigarra ou formiga?|| A Presidência BBV é | um
sistema de poupança | e previdência que | permitirá a você uma vida | confortável no futuro | e importantes
vantagens | fiscais no presente, | já que os depósitos | são dedutíveis de | sua renda bruta em sua | próxima
declaração, | até o limite de 12%. | Não deixe o inverno | pegar você de surpresa.|| (VEJA, 28/04/99)

Na variante européia, considerando-se as funções sujeito, OD e OI, os pronomes


ele e você são invariavelmente nominativos, interpretados como pronomes fortes,
enquanto os complementos dativos e acusativos são realizados pelas formas átonas de
terceira pessoa, ou seja, permanece a transparência casual. Desse modo, como observado
na seção anterior, o pronominal lhe(s), é sempre dativo, e constitui a forma anafórica
única para expressão do dativo:

(36) Olhamos para si de maneira diferente. || Se os seus sonhos são diferentes dos outros, por que é que o
seu banco não há-de-ser? No Finibanco, porque acreditamos | que você é diferente, propomos - lhe as
melhores soluções para o seu caso. | Descubra as diferenças num dos nossos balcões, ou através do
Finibanco | OnLine, via telefone ou Internet, ou do Agente Financeiro mais perto de si. | Consulte o
Finibanco, o banco com soluções diferentes para pessoas diferentes. (VISÃO, 7 a 13/10 /1999)

Observe-se que a expressão preposicionada para si destacada no texto não


expressa o dativo ou acusativo, mas um complemento oblíquo. A cliticização do
complemento dativo dos verbos ditransitivos do tipo de descontar, oferecer, propor se
faz exclusivamente pelo lhe anafórico. Se comparamos os exemplos em (36) do PE com
(35) do PB, fica clara a possibilidade de substituição do lhe pela forma a/para ele ou
a/para você na variante brasileira em oposição ao PE. Como mostrado anteriormente, as
formas a ele(s)/a ela(s) são produtivas no PE como OI apenas com interpretação enfática
ou contrastiva e redobro do clítico obrigatório.

A baixa produtividade do dativo lhe no PB inclui-se, portanto, no conjunto das


reanálises que atingem o sistema pronominal como um todo e refletem a perda do caráter
referencial da flexão verbal e a reorganização do sistema pronominal na expressão das
relações referenciais. Além disso, expressa uma alteração do uso discursivo do lhe que se
apresenta não mais como forma de terceira pessoa, mas como forma de segunda pessoa
formal, ao lado do correspondente a você. Portanto, fica restrito à função oblíqua.

É importante observar, porém, que na escrita mais formal, editoriais ou ensaios,


em oposição aos anúncios, por exemplo, a forma lhe anafórica continua produtiva no PB
na expressão dos diferentes significados: meta/recipiente, benefativo, locativos e
possessivos em (37):

15
16

(37) a.Alega que o texto lhe foi lido pelo repórter. (VEJA, 19/01/00)
b.O aspecto que mais me interessou nessa correspondência, porém, foram os pronomes. Nós,
brasileiros, temos sérias dificuldades com pronomes. Os meus correspondentes, na maioria dos casos,
começavam se dirigindo a mim com um respeitoso "senhor". Depois de umas poucas linhas, passavam
informalmente para "você". A certa altura, escapava-lhes a segunda pessoa do singular, algo como "o teu
filho" (VEJA, 22/03/00)
c .Os últimos a surgir foram os adolescentes que espancavam seus coetâneos e roubavam-lhes o
telefones celulares. (VEJA, 19/01/00)
d.....que a boa solução para a Rocinha seria atirar-lhe uma bomba atômica. (VEJA. 19/01/00)
e. Só por troça, reconhecem-lhe a majestade…(VEJA, 08/03/00)

Com base nas diferenças pronominais entre o PB e PE, a questão é entender como
se deu a criação das novas estratégias para expressão das valores dativos, considerando-
se as reanálises em dois aspectos: (i) com respeito à substituição dos clíticos lhe/lhes
pelas formas anafóricas preposicionadas a ele/para ele e (ii) com relação à substituição
da preposição a pela preposição para como índice funcional próprio dos complementos
indiretos com os verbos ditransitivos. 14 Os exemplos em (38) manifestam esta última
tendência:

(38) a. Os internautas fazem exatamente a mesma coisa. Instalam câmaras em todos os cantos de suas
casas e transmitem essas imagens para o resto do mundo.(VEJA 21/06/00)
b. (…) Enriquecida com 11 vitaminas e sais minerais , é tão deliciosa que seria um pecado não
dar pra eles. (VEJA 21/06/00)
c.A minha amiga telefonou várias vezes para o pediatra de seu filho... (VEJA, 10/11/99)
d. ... admite que haja 20 bilhões de dólares de brasileiros enviados de forma irregular para paraísos
fiscais... (VEJA, 10/05/00).

Também exemplos selecionados do estudo de Martins (1998), comparando as


traduções para o PE e PB da obra de Gabriel G. Marques “Cem Anos de Solidão”
mostram que estão presentes os aspectos inovadores na tradução para o PB, em oposição
ao PE, referentes à substituição dos clíticos dativos pelas formas pronominais oblíquas:

(39) a. Casa com ele, disse-lhe. (trad.PE)


b. Casa com ele- disse a ela. (trad. PB)
c . E demonstrou-lhes. (trad.PE)
d. E demonstrou a eles. (trad. PB
e. e deixou-lhe também uns mapas portugueses. (trad.PE)
f. e deixou para ele também uns mapas portugueses. (trad. PB)

6.0. Proposta inicial de análise da mudança

14
Lembramos que alguns verbos de transferência e movimento perceptual não permitem o emprego de
para, entre eles: anexar, filiar, imputar, incorporar, juntar, sensibilizar, submeter, subordinar, e verbos
intransitivos do tipo de obedecer.

(i) Acrescentou novos itens ao documento.


(ii) *Acrescentou novos itens para o documento.
(iii) O José obedeceu ao pai.
(iv) * O José obedeceu para o pai.

16
17

Seguindo a tradição da teoria chomskyana, vamos considerar que noção de


Caso sintático ou abstrato é relevante para uma abordgem da distribuição e interpretação
dos DPs. Nesta perspectiva, a marcação de Caso nos DPs é um fenômeno universal, ou
seja, não está presente apenas nas línguas que o manifestam morfologicamente, como o
latim. Em línguas como o português, espanhol, inglês e tantas outras, os DPs recebem
Caso abstrato na sintaxe, independentemente da manifestação morfológica. O Caso
nominativo manifesta-se na presença do verbo finito. O Caso acusativo como argumento
interno de verbos transitivos. O Caso oblíquo em DPs complementos de preposição.
Desta forma, são considerados como Casos estruturais. Entretanto, existem enormes
divergências quanto ao Caso dativo. Muitos autores afirmam que ele é inerente, atribuído
pelo verbo como uma propriedade lexical, a qual está restrita à atribuição de uma função
semântica ou temática, ou seja, associada a papéis-θ específicos. Conseqüentemente, a
preposição a nos contextos dativos será entendida como um mero marcador de Caso
inerente, uma vez que o papel-θ mapeado no DP-OI é atribuído pelo verbo. Nos
contextos oblíquos, porém, a pode ser uma preposição semanticamente ativa.

Como dito anteriormente, partimos da afirmação de que o OI é uma função muito


singular no âmbito da estrutura argumental do verbo pois, embora em alguns casos se
apresente como um argumento selecionado por verbos de determinada natureza, em
outros, é uma função construída, ou incorporada a verbos que não a selecionam em sua
estrutura argumental. Pela incorporação, constituintes externos ao verbo, como
benefativos, locativos, possessivos, ou dependentes de nomes e adjetivos, se convertem
em OI autênticos. Esta promoção leva a um rearranjo gramatical, com a presença
obrigatória do lhe e preposição a.

Com base neste quadro teórico, vamos assumir que, para se entender as reanálises
ocorridas no sistema pronominal do PB como um todo, em especial a difusão das formas
pronominais oblíquas no sistema acusativo e dativo, com a perda gradativa dos clíticos
dativos de terceira pessoa, é necessário postular uma mudança ou reanálise no estatuto
gramatical do pronominal ele, relacionada aos seus traços formais de Caso, nos termos
propostos em Raposo (1998) e Lobato (2000). Raposo, em particular, afirma que a forma
lhe foi reanalisada e está desaparecendo como forma de terceira pessoa no PB porque a
preposição a está sendo substituída por para, a preposição plena, que atribui Caso
oblíquo junto com um papel- θ, levando à perda da propriedade do verbo de atribuir
Caso inerente a um argumento. O que está sendo reanalisado no PB, portanto, é a
propriedade lexical dos verbos atribuírem Caso inerente dativo e papel- θ ao NP nos
contextos de verbos ditransitivos. De acordo com o autor, no PE ele e lhe têm um traço
de Caso nominativo e dativo respectivamente [+Intrínseco] na sua entrada lexical. A
diferença entre o PB e PE se deve ao fato de que, no PB, a forma ele perdeu o traço de
Caso nominativo que caracteriza o PE, o que permite que possa aparecer em contextos
nominativos, acusativos e dativos. Se essas considerações estiverem corretas, as
mudanças que ocorrem no sistema pronominal do PB representam novas evidências para
a hipótese da interdependência, nos contextos dativos, da preposição a e do pronome lhe.
Assim, o ponto fundamental na gramática do PB parece ser a possibilidade de alternar
pronomes clíticos de terceira pessoa pelos anafóricos oblíquos. No PE, ao contrário, a
forma ele jamais substitui os clíticos acusativos ou dativos de terceira pessoa.

17
18

Como dissemos, com a perda das características gramaticias que identificam o OI


no PB, este passa a ser analisado como oblíquo preposicionado, ganha o estatuto de PP,
introduzido por a ou para. Afirmamos ainda que a preposição a deixa de ser um
marcador de Caso, é reanalisada como preposição plena, com conteúdo semântico,
alinhando-se à preposição para. 15

Desta forma, o emprego da forma a ele nos contextos dativos na fala e escrita dos
falantes brasileiros pode ser entendido como uma reanálise do OI como uma função
oblíqua na presença dos verbos ditransitivos. Observe-se ainda que a baixa freqüência do
dativo lhe no PB é intrigante porque envolve não apenas a substituição de uma forma
clítica anafórica de terceira pessoa pelas formas preposicionadas, como também a perda
de seu valor possessivo e locativo. O lhe é substituído pelo pronome possessivo
anafórico.

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15
Dillinger & alii (1996) afirmam que a possibilidade de OI nulo no PB se deve ao fato de esta função ser
tratada não como um argumento do verbo, mas como um adjunto. Cf. também Cyrino (2000)

18
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