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FACULDADE DE SUZANO – UNIESP S.A.

CURSO DE DIREITO

FRANCISCA NATALIA C. MARTINO – 2018032109 3ºA MATUTINO

ROSI CLER BIONI – 201950468 2ºA MATUTINO

DIREITO À VIDA: A VIOLAÇÃO DO DIREITO À VIDA NAS RELAÇÕES DE


TRABALHO

SUZANO

2019
FRANCISCA NATALIA C. MARTINO – 2018032109 3ºA MATUTINO

ROSI CLER BIONI – 201950468 MATUTINO

DIREITO À VIDA: A VIOLAÇÃO DO DIREITO À VIDA NAS RELAÇÕES DE


TRABALHO

Trabalho Integrado Interdisciplinar de Direito


apresentado à Faculdade de Suzano –
UNIESP S.A., como requisito parcial para a
composição da nota da avaliação N2 de todas
as disciplinas do semestre.

SUZANO

2019
3

RESUMO

O presente trabalho buscou evidenciar por dados estatísticos atualizados a


violação do direito à vida nas relações laborais. Discorrendo sobre a enorme
distância entre as declarações de direitos humanos e as práticas adotadas nas
organizações públicas e privadas no Brasil, o qual vem causando danos tanto no
âmbito social como econômico, e que apesar das medidas legislativas no campo
da prevenção de acidentes parecerem superprotetoras, observou-se que não
foram suficientes para garantir um meio ambiente de trabalho salubre.

Palavras-chave: Direito à vida, Acidente de trabalho, Trabalho seguro

1. Introdução

Vida, no contexto Constitucional, conforme conceituado por José Afonso da


Silva, não é apenas o seu sentido biológico, mas todo um processo que se
transforma e progride, até que muda de qualidade, deixando de ser vida para ser
morte. “Tudo que interfere nesse fluir espontâneo e incessante contraria a vida”.
(SILVA, 2016, PG.199).
Assim como a Vida, o Trabalho também é um direito garantido pela
Constituição Federal.1 A ideia atual de que o trabalho dignifica a vida do homem
apresenta uma conotação positiva e benéfica ao reconhecer a importância do
trabalhador. Porém a palavra trabalho sugere uma analogia ao castigo, a punição
e a tortura, pois o trabalho tem desde sua origem um status de depreciação da
própria existência humana.
A violação da vida e da integridade física e emocional acomete os
trabalhadores geralmente por meio de acidentes ou doenças que se desenvolve
ao longo dos anos. Sobre acidente de trabalho, a própria legislação brasileira
define como:
“acidente de trabalho é o que ocorre pelo exercício do
trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do
trabalho dos segurados referidos no inciso VIII do
artigo 11 desta lei provocando lesão corporal ou
perturbação funcional que cause a morte ou a perda

1 Considerado um direito social de segunda dimensão e previsto no Art. 6 da Constituição


Federal de 1988.
4

ou redução, permanente ou temporária, da


capacidade para o trabalho” (BRASIL, 1991).2

As estatísticas sobre acidentes do trabalho com ou sem afastamento e de


menor ou maior gravidade, bem como sobre as doenças ocupacionais estão no
banco de dados da previdência social, ou seja, são referentes a trabalhadores
segurados. Porém, acredita-se que estes números não condizem com a
realidade, pois sabe-se que o mercado de trabalho informal no Brasil é muito
grande3 . Além disso, a comunicação de acidente do trabalho sem
consequências graves é feita pela empresa empregadora, e há uma resistência
muito grande ainda por parte das empresas de gerar esses dados sobre seu
negócio. Portanto, estima-se que esses acidentes são subnotificados.
Este artigo tratará especificamente dos acidentes de trabalho que resultaram
em óbito, uma vez que estes refletem com maior precisão como as relações de
trabalho no Brasil violam o direito à vida.

2. Histórico de acidentes do trabalho no Brasil

A relação entre trabalho e os danos à saúde foi descrita em 1700 por


Ramazzini4 ao longo de sua obra. Somente em 1884, na Alemanha, foi editada
a primeira Lei relacionada aos acidentes do trabalho.
Apesar do Brasil nunca ter sido proativo em elaborar e revisar leis que
beneficiem a classe trabalhadora, muitas conquistas foram alcançadas como a
regulamentação de carga horária de trabalho, proibição de trabalho infantil,
férias, aposentadoria, entre outros. A grande maioria delas só foram possíveis
após a entrada do País na Organização Internacional do Trabalho (OIT) em
1919. (CARVALHO, 2002, Página 63). 5 E mais tarde com a divulgação de dados

2
Lei nº 8.213 de 24 de julho de 1991, art. 19
3
De acordo com o IBGE, o percentual de trabalhadores informais na população ocupada
chegou a 41,3% em 2019, atingindo 38,683 milhões de brasileiros.
4 O Médico Italiano Bernardino Ramazzini, foi considerado o Pai da Medicina Ocupacional e

seu livro intitulado “As doenças dos Trabalhadores” tornou-se referência para os estudos das doenças
laborais.
5 Em 13 de maio de 2008 foi criada por meio da Portaria Interministerial nº 152 a Comissão
Tripartite de Saúde e Segurança no Trabalho, com o objetivo de avaliar e propor medidas para
implementação da Convenção nº 187, da Organização Internacional do Trabalho - OIT, que trata da
5

alarmantes que colocaram o País negativamente em evidência e mobilizou


trabalhadores, sindicatos, instituições acadêmicas e de pesquisas entre outros.
Durante a revolução industrial no Brasil, a violação da vida e saúde dos
trabalhadores se potencializaram, expandindo a condição dos trabalhadores
brasileiros, de escravos rurais à escravos industriais, cujos danos físicos e
psicológicos colocaram esses dois direitos em conflito, em lados opostos da
balança, onde há trabalho há violação da vida ou da saúde do trabalhador.
A década de 1970 ficou para a história como o “milagre brasileiro” período
de prosperidade e crescimento econômico. E nesse mesmo período, o Brasil se
tornou o campeão mundial de acidentes do trabalho, com a estatística apontando
o insustentável número de 1.220.111 (um milhão, duzentos e vinte mil, cento e
onze) acidentados, para uma população economicamente ativa (PEA) de
7.284.022 (sete milhões, duzentos e oitenta e quatro mil, vinte e dois)
trabalhadores, o que representava 17% dessa população.
A partir de 1972, foram desenvolvidas muitas ações na prevenção dos
acidentes. Dentre elas, destaca-se a Portaria 3.237/72 que criou o Serviço
Especializado em Segurança, Higiene e Medicina do Trabalho, integrada por
uma equipe interdisciplinar e composta por Engenheiros de Segurança do
Trabalho, Médicos do trabalho, Inspetores de segurança do Trabalho e
Auxiliares de enfermagem do trabalho, numa tentativa de atuação proativa na
prevenção dos acidentes, entretanto, os acidentes seguiram subindo.
Em 1976, os acidentes começaram a declinar. Mesmo assim, as autoridades
competentes continuaram com o trabalho de prevenção, fazendo a revisão na
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), criada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de
1º de maio de 1943, e incluindo, em 1977, o importante Capítulo V, intitulado “Da
Segurança e da Medicina do Trabalho”, composto pelos Artigos 154 a 201,
atualmente em vigor. 6

promoção da Segurança e Saúde no Trabalho. A Comissão Tripartite é composta de representantes


do Governo, da Previdência Social, Trabalho e Emprego e Saúde, de representantes dos trabalhadores
e dos empregadores.
6
Em 1977 foi incluída na CLT os artigos relacionados à Periculosidade e Insalubridade, bem
como suas formas de caracterização. As atividades insalubres são aquelas cujos riscos estão dispostos
na NR 15 e seus anexos, podem ser caracterizados de forma qualitativa como a radiação não ionizante
ou quantitativa como ruído, fumos metálicos, solventes etc. Comparando-se o valor coletado no
ambiente de trabalho com os limites de tolerância de seu anexo correspondente. Já a Periculosidade
6

3. Violação da vida nas relações de trabalho

Apesar de muitas ações adotadas no Brasil para reduzir o número de


acidentes fatais, o mercado de trabalho brasileiro continua agressivo e as perdas
humanas denunciam que o país ainda tem um longo caminho a percorrer para
melhorar nossos índices.
As informações que subsidiaram este trabalho estão disponíveis no
Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho, um portal que reúne dados de
todos os acidentes do trabalho notificados via CATWEB7.
O portal é uma iniciativa conjunta do MPT – Ministério Público do trabalho e
da OIT Brasil com a colaboração de pesquisadores da Faculdade de Saúde
Pública da Universidade de São Paulo -USP, com o objetivo de facilitar o acesso
a estatísticas que antes eram dispersas em banco de dados governamentais e
anuários que dificultavam a pesquisa e a compreensão.
Através do exame da série histórica de acidentes que resultaram em óbito,
observou-se que entre 2012 e 2018, os acidentes de trabalho provocaram a
morte de 17.380 trabalhadores, o equivalente a 1 morte a cada 3 horas, 43
minutos e 42 segundos em todo o País. Conforme mostra a tabela a seguir:

Tabela 1 – Série histórica de acidentes fatais


2012 2.768
2013 2.841
2014 2.819
Acidentes com Óbito 2015 2.546
2016 2.288
2017 2.096
2018 2.022
Fonte: INSS/CATWEB (2000 a 2018)

é regulamentada pela NR 16 e é caraterizada de forma qualitativa, ou seja, o simples fato de o


trabalhador ficar exposto à determinado risco de forma habitual ou até mesmo intermitente
(conforme súmula 364 TST) já lhe garante o direito ao adicional de Periculosidade. São exemplos de
trabalhos periculosos: Energia Elétrica, radiação ionizante, explosivos, inflamáveis entre outros.
7
CAT - Comunicação de Acidente de Trabalho, é um documento emitido na ocorrência de
acidente de trabalho, de trajeto ou doença ocupacional. Deve ser emitida via WEB através do portal
do INSS até um dia útil após o acidente, e em caso de óbito, deverá ser emitido imediatamente.
Conforme Portaria nº 589 de 30 de abril de 2014, do Ministério do Trabalho e Emprego - MTE
7

Na tabela, apresenta-se a evolução histórica do número de notificações sobre


óbitos derivados de acidentes do trabalho no período.
Os danos ocasionados pelas mortes por acidente de trabalho refletem na
sociedade, desestabilizando a família, já que se perde um componente
fundamental que muitas vezes faz o papel de provedor e educador da célula
familiar. Os prejuízos causados pelas mortes são irreparáveis, especialmente os
de cunho emocionais pois atingem tanto a família como companheiros de
trabalho.
Os prejuízos estendem-se para o campo da economia, uma vez que as
mortes enfraquecem a força de trabalho e geram gastos excessivos com
indenizações e pensões para os dependentes.
A tabela a seguir mostra os valores pagos a título de pensão por mortes para
dependentes de vítimas de acidente laboral de 2012 a 2018.

Tabela 2 – Despesas previdenciárias


2012 1,6bi
2013 1,7bi
2014 1,8bi
Pensão por morte por acidente do trabalho 2015 1,9bi
2016 2,1bi
2017 2,2bi
2018 2,2bi
Fonte: INSS - SUB/Maciça - Tratamento e análise: SmartLab

Analisando a tabela acima, verifica-se que há um crescimento continuo nos


gastos da previdência social sendo que o acumulado dos últimos sete anos
ultrapassa onze bilhões de reais.

4. Conclusão

O liberalismo econômico somado ao desatendimento de medidas de


segurança e a cultura prevencionista precária tanto dos empregadores como dos
empregados resultam em tragédias diárias.
Conforme visto, evoluímos bastante, ainda que de forma lenta e gradual, na
criação de Leis que regulam as relações de trabalho no país, bem como a criação
8

de normas regulamentadoras que, se eficazmente aplicadas, mudaria o cenário


das estatísticas de acidentes de trabalho.
Porém, essas leis e normas regulamentadoras tem sido apontada como
superprotetoras e a classe empresarial tem pressionado os governantes para
reverem tais legislações, atribuindo a proteção ao trabalhador como um entrave
para desenvolvimento econômico. Atendendo a pedido da classe de
empresários o Brasil vem regredindo em alta velocidade para transformar o
mercado de trabalho brasileiro o mesmo da década de 70 com 17% da
população economicamente ativa doente ou acidentado.

5. Bibliografia

BITENCOURT, Celso Lima; QUELHAS, Osvaldo Luís Gonçalves (s/d) Histórico


da Evolução dos Conceitos de Segurança. Disponível em:
http://www.abepro.org.br/biblioteca/ENEGEP1998_ART369.pdf;

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Presidência da


República. 5 de outubro de 1988. Brasília, DF;

BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Presidência da República. 1 de


maio de 1943. Brasília, DF;

CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil. O longo Caminho. 3ª ed. Rio
de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002;

FUNDACENTRO – Estatística de acidentes de trabalho – Disponível em:


<http://www.fundacentro.gov.br/estatisticas-de-acidentes-de-trabalho/inicio> -
acesso em 09.10.2019 às 20h24;

LIMONGI-FRANÇA, Ana Cristina, Qualidade de vida no Trabalho – QVT:


Conceitos e práticas na sociedade pós-industrial. 2. Ed. São Paulo, Atlas, 2007;

SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional positivo, 40. Ed. São
Paulo, Malheiros, 2016;
9

Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho – Promoção do Meio Ambiente


do Trabalho Guiada por Dados. Disponível em: <https://smartlabbr.org/sst> -
Acesso em: 09.10.2019 às 15h;

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