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AGRAVO DE INSTRUMENTO (202) 1011503-98.2021.4.01.

0000

Processo de origem: 1012643-55.2021.4.01.3400

RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL SOUZA PRUDENTE

AGRAVANTE: DISTRITO FEDERAL

AGRAVADO: DEFENSORIA PUBLICA DA UNIAO

DECISÃO

Trata-se de Agravo de Instrumento interposto contra decisão proferida pelo


juízo federal da 3ª Vara Federal da Seção Judiciária do Distrito Federal, nos autos da
ação civil pública ajuizada pela Defensoria Pública da União contra a União Federal, o
Distrito Federal, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária e a Companhia do
Metropolitano do Distrito Federal (METRÔ/DF), em que se busca a concessão de
provimento judicial, no sentido de que sejam implementadas medidas de natureza
sanitária e de isolamento/distanciamento social com à minimização dos reflexos da
pandemia da Covid-19, no âmbito do Distrito Federal.

Em sede de tutela de urgência, postulou-se:

“b.1) A determinação ao Réu, Distrito Federal para que mantenha todas as


medidas restritivas consubstanciadas no chamado "lockdown" até que passe
a relaxá-las gradualmente em data futura APENAS quando concomitantes
duas circunstâncias; primeiro, seja comprovado nos autos a ocupação de não
mais que 70% (setenta por cento) dos leitos de UTI, adultos e pediátricos
disponíveis no sistema, segundo, seja atingida meta de redução contínua de
novos casos e mortes em virtude da COVID -19 por ao menos duas semanas;

b.2.) No sentido acima, a comprovação dos esforços, seja com hospitais de


campanha, seja com locação de leitos privados ou soluções administrativas
outras de acréscimo contínuo de leitos ao sistema regulatório do DF até que
seja atendido o determinado em b.1, primeira parte;

b.3) Conforme resolução do Conselho de Saúde do Distrito Federal, sejam


inclusas nas medidas de lockdown até data futura conforme descrito em b.1:

1. o fechamento das instituições de ensino particulares (colégios, escolas,


faculdades e afins), bem como seja determinada a não abertura das escolas
e instituições públicas de ensino (prevista para 23.03.2021);

2. o fechamento de templos, igrejas e locais de culto - considerados


incidentalmente inconstitucionais quaisquer normativos que impeçam a
medida;

3. o fechamento de academias; Para além do determinado pelo CSDF, mas


em mesmo sentido lógico, a fim de evitar aglomeração populacional e
restringir tráfego de pessoas:

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4. o fechamento do zoológico, parques ecológicos, recreativos, urbanos,
vivenciais e afins.

5. o fechamento dos escritórios e profissionais autônomos, a exemplo de:

a) advocacia;

b) contabilidade;

c) engenharia;

d) arquitetura;

e) imobiliárias, que devem seguir em trabalho remoto/home office.

6. o fechamento de atividades administrativas do Sistema S que devem


seguir em trabalho remoto/home office.

7. o fechamento toda a cadeia do segmento de construção civil, excetuados


os que estejam em curso de reformas e manutenção de serviços tidos por
essenciais e sem restrição ante a pandemia, a exemplo de obras em
hospitais, clínicas particulares, órgãos de segurança e similares.

8. A determinação que nas atividades que seguem abertas dada necessidade


de apoio às demais (como óticas, papelarias e setor de automotivos) os
atendimentos se dêem de forma presencial INDIVIDUALMENTE, com
distanciamento social na fila de espera que deve se dar em local aberto.

9. A determinação de que no serviço de transporte intradistrital de


passageiros, seja via ônibus, seja no metrô, seja comprovado pelos órgãos
de fiscalização do DF e do Metrô/DF a manutenção do distanciamento social,
especificamente com os esforços do poder público para que os passageiros
se mantenham todos a metro e meio de distância, notadamente sendo
vedada a lotação total de cada ônibus ou vagão, passando essa a ser
contabilizada como o número total de passageiros sentados para fins de
lotação máxima permitida, com inclusão de tal medida na previsão do
"lockdown" em curso e ampla divulgação.

b.4) A determinação à Ré, União para que garanta o permanente fluxo de


vacinas x Covid-19 ao Distrito Federal de modo que o processo não sofra
solução de continuidade, sob pena de multa diária a ser arbitrada pelo juízo, a
ser revertida ao ente federado e vinculada à aplicação direta em medidas de
contenção da pandemia x Covid 19 e ainda:

1. Que a União determine a seus órgãos no Distrito Federal e RECOMENDE


a todas as suas autarquias, fundações, empresas estatais e agências
reguladoras no Distrito Federal a adoção do teletrabalho/home office quando
este não representar risco de cessação de serviço público essencial de
segurança ou saúde ou outro, devidamente fundamentado, mantendo em
trabalho presencial nas unidades localizadas no DF não essenciais no

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máximo 30% (trinta por cento) da força original de trabalho;

2. Que a Agência Nacional de Transportes Terrestres - ANTT aplique ao


transporte interestadual de passageiros, via ônibus, medida semelhante ao
exigido do DF, com comprovação pelos órgãos de fiscalização da
manutenção do distanciamento social, especificamente com os esforços do
poder público para que os passageiros se mantenham todos a metro e meio
de distância, notadamente sendo vedada a lotação total de cada ônibus,
passando essa a ser contabilizada como o número total de passageiros
sentados para fins de lotação máxima permitida, com inclusão de tal medida
na previsão do "lockdown" em curso e ampla divulgação;

c) o agendamento URGENTE de audiência de conciliação, para a qual desde


já manifesta interesse essa Defensoria Pública da União, inclusive sendo o
Conselho de Saúde do Distrito Federal convidado por esse MM. Juízo a
participar da audiência, bem como a manifestar-se como amicus curiae, caso
queira (id. 472486386)”

Inicialmente, o juízo monocrático, após oitiva prévia dos promovidos e tecer


considerações acerca do contexto atual do Distrito Federal, notadamente no que pertine
às medidas já adotadas pelo governo local, visando a contenção dos efeitos decorrentes
da pandemia da Coid-19, rechaçou preliminares suscitadas nos autos e deferiu, em parte,
o pedido de tutela de urgência, tão somente, em relação aos pleitos formulados em face
da União Federal e da ANTT, para determinar que:

“1. a UNIÃO: Junte normativos que promovam a unificação de critérios de


teletrabalho dos servidores públicos e prestadores de serviço em seus órgãos
situados no Distrito Federal, apresentando, no prazo máximo de 05 (cinco)
dias, uma regulamentação/determinação que atenda o objetivo de reduzir o
número de pessoas em trabalho presencial - não essenciais – ou uma
alteração de jornada, de modo a contribuir, assim para diminuição de pessoas
em circulação e, eventualmente, utilizando transporte público durante o
período de calamidade pública da COVID-19 no DF.

2. a ANTT: comprove, no prazo máximo de 05 (cinco) dias, as medidas


atuais de fiscalização adotadas em relação ao período de agravamento da
pandemia de COVID-19 (...)”

Posteriormente, o referido juízo proferiu o decisum aqui impugnado,


deferindo, também em parte, o pedido de tutelar de urgência ali formulado, com estas
letras:

O Juízo deferiu, em parte, o pedido de tutela de urgência formulado pela


parte autora em decisão proferida em 19.03.2021 (id. 483173494) para
determinar que: 1. a UNIÃO: Junte normativos que promovam a unificação
de critérios de teletrabalho dos servidores públicos e prestadores de serviço

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em seus órgãos situados no Distrito Federal, apresentando, no prazo
máximo de 05 (cinco) dias, uma regulamentação/determinação que atenda
o objetivo de reduzir o número de pessoas em trabalho presencial - não
essenciais – ou uma alteração de jornada, de modo a contribuir, assim para
diminuição de pessoas em circulação e, eventualmente, utilizando transporte
público durante o período de calamidade pública da COVID-19 no DF; 2. a
ANTT: comprove, no prazo máximo de 05 (cinco) dias, as medidas atuais
de fiscalização adotadas em relação ao período de agravamento da
pandemia de COVID-19 no Distrito Federal, que auxiliem na manutenção do
distanciamento social no âmbito do serviço de transporte rodoviário
interestadual de passageiros/metrô no âmbito do Distrito Federal (id.
483173494).

A DPU, em 22.03.2021, à título de atualização fática, peticionou novamente


nos autos e requereu a adequação daquele decisum para que se inclua na
tutela de urgência parcialmente deferida a determinação para que o réu,
Distrito Federal, apenas adote as medidas de flexibilização contidas no
novo Decreto do Executivo de nº 41.913, de 19.03.2021, se
comprovados, concomitantemente: a contínua queda na taxa de
transmissão da Covid-19 no DF e a contínua diminuição na fila de
espera dos leitos de UTI, MANTENDO-SE para todos os fins o regime
anterior disposto nos decretos já debatidos no presente feito, que
poderão, ainda, ser objeto de maiores restrições, nos termos da inicial, caso
haja o agravamento dos índices e da situação geral, o que se pede em estrito
acordo com a evolução fática da situação, como inclusive faz parte da ratio
decidendi da r. decisão judicial vigente no feito; 3. Seja deferida tutela
cautelar, determinando que o Distrito Federal passe a informar nos
autos da presente ação civil pública, em periodicidade a ser previamente
definida pelo próprio Juízo, a) o número de pessoas que estavam à
espera de leitos de UTI, mas vieram a óbito, b) o tempo médio de espera
até o óbito; c) o tempo médio de espera até o fornecimento de leito de
UTI e, d) o número de óbitos ocorridos nos leitos de UTI COVID-19 no
mesmo período, bem como e) a taxa de transmissão da Covid-19 no DF,
mensurada dia a dia a ser sempre incluída no boletim diário da Diretoria
de Vigilância Epidemiológica/SVS/SESDF para acesso público no sítio
onde já são publicados. 4. Seja deferida tutela cautelar, determinando ao
Distrito Federal que informe nos autos quanto as medidas expansão de novos
leitos de UTI, não somente no que concerne ao aspecto
material/estrutural (número de leitos em expansão propriamente ditos),
mas também sobre o aspecto subjetivo/humano (comprovação do
aumento efetivo da quantidade de profissionais da saúde necessários
para receber adequadamente nova demanda expandida); 5. Não se opõe
à audiência urgente de conciliação sugerida pelos ilustres presentantes do
Ministério Público em sua manifestação de Id.479703363 destacando que
esta, para maior efetividade, deve, se deferida pelo juízo, se dar em data
ANTERIOR à programada para entrada em vigor do novo regime exposto
pelo Réu, Distrito Federal, no Decreto 41.913, de 19.03.0221, que ocorrerá
em 29.03.2021 (id. 484446348).

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Alega, em apertada síntese, que ainda que a taxa de transmissão esteja
supostamente em 0,99 e, embora se reconheça que as autoridades do Poder
Executivo tomaram algumas medidas possíveis para promover a saúde e vida
da população, tais medidas não refletiram positivamente no colapso do
serviço de saúde público e privado no Distrito Federal, que segue com UTI’s
lotadas e com aumento de pacientes graves em filas de espera.

Sustenta que a fila de espera por UTIs no DF quando proposta a ação estava
em 181 (cento e oitenta e uma) pessoas e hoje, às 14h, se encontra em 411
(quatrocentos e onze pessoas), em franco crescimento nos últimos dias.
Taxar tão situação de normalidade ou de melhoria ofende à razão (id.
484446348).

Entende que, apesar de o Distrito Federal argumentar que vem adotando


todas as medidas necessárias e atrelar qualquer maior flexibilização à
continuidade da melhoria dos números, sustenta que, formalmente, o citado
ente distrital não o fez, uma vez que prorrogou as medidas em vigor somente
até a data de 28.03.2021 por meio do novo Decreto 41.913 de 19.03.2021,
mas nele já previu uma grande flexibilização para a data de 29.03.2021, com
abertura de shoppings centers, liberação de praticamente toda atividade
comercial (ainda que com todo um Anexo de restrições) e, inclusive, liberando
treinos e eventos esportivos (embora sem público). Não há no decreto
Decreto 41.913, de 19.03.2021 esse compromisso do Réu, DF, qual seja, o
de que as medidas flexibilizadoras só venham a ser implementadas se
mantida a taxa de contaminação abaixo de 1 (id. 484446348).

Ademais, sustenta que deve ser informado pelo Distrito Federal quanto a
expansão de novos leitos de UTI, não somente no que concerne ao aspecto
material/estrutural (número de leitos em expansão propriamente ditos), mas
também sobre o aspecto subjetivo/humano (aumento da quantidade de
profissionais da saúde necessários para receber adequadamente nova
demanda) (id. 484446348).

Juntou documentos (id. 484446348 ao id. 484459862).

O Juízo postergou a apreciação do pedido de tutela de urgência após


o cumprimento do art. 2º da Lei nº 8.437/92 (id. 484661382).

O Ministério Público Federal e o Ministério Público do Trabalho informam que


irão atuar na qualidade de custos legis na presente ação civil pública (id.
484830864).

A ANTT juntou manifestação e documentos, em que noticia o cumprimento da


tutela de urgência (id. 489108346 ao id. 488612053).

O Distrito Federal se manifestou por meio da petição acostada no id.


490465927 e id. 490465937 ao id. 490419945, em que informa as estatísticas
mais recentes, que demonstram significativa redução da média móvel dos
casos confirmados (Figura 4 do Boletim COVID n. 388), início de queda da
média móvel dos óbitos (Figura 5 do Boletim COVID n. 388), e continuidade

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da taxa de transmissão da doença abaixo de 1,00 (atualmente em 0,99 -
Figura 6 do Boletim COVID n. 388). Junta também informações sobre a
continuidade de providências adotadas pelo Poder Executivo na ampliação
dos leitos (id. 490465927).

Outrossim, esclarece com relação aos pedidos 3 e 4 contidos na petição da


Defensoria Pública, o Distrito Federal reitera a manifestação em sua defesa
prévia no sentido de que as informações sobre a pandemia são públicas e
transparentes, e “estas são disponibilizadas e atualizadas diariamente pela
Secretaria de Saúde do DF no portal da “Sala de Situação”, disponível em
http://info.saude.df.gov.br/area-tecnica/covid-leitos-publicos-covid-19/, na
Página do Portal Covid, disponível em http://www.coronavirus.df.gov.br/, bem
como informações sobre a vacinação, disponíveis em
http://www.saude.df.gov.br/vacinometro/ (id. 490465927).

Menciona que os links contém os dados necessários e suficientes para o


devido acompanhamento dos números da pandemia e que já foi ajuizada
ação civil pública pelo Ministério Público Federal em que se questionou a
disponibilização dos dados da pandemia, sendo proferida sentença que
condenou o DISTRITO FEDERAL e o IGESDF, em obrigação de fazer, para
que mantenham atualizados, em seus respectivos sítios eletrônicos
(www.coronavirus.df.gov.br, salasit.saude.df.gov.br e
https://igesdf.org.br/prestacao-contas-covid-19/) ou outro meio oficial (como
os Boletins Epidemiológicos do COE), todos os dados e informações de
alíneas “a” a “m” do referido ID, até o fim da pandemia, observando-se,
também, a parte dispositiva das decisões de ID’s 65311540 e 66732853, que
transitou em julgado em 22.09.2020.

Entende que nova discussão sobre o assunto esbarraria no óbice da coisa


julgada. Ademais, reitera a continência com a ação popular 0701252-
39.2021.8.07.0018 já anteriormente indicada na sua anterior petição, o
Distrito Federal vem também informar continência com a ação popular
0701650-83.2021.8.07.0018, na qual também se pretende que o Poder
Judiciário interfira indevidamente na gestão na crise de saúde pública, para
determinar o fechamento das atividades presenciais nas creches, escolas,
universidades e faculdades da rede de ensino privadas (id. 490465927).

Em nova manifestação, o Distrito Federal juntou o Boletim Epidemiológico nº


391 (id. 49418362 ao id. 491418375).

A União juntou manifestação, em que alega, em apertada síntese, que o


Poder Judiciário não tem ingerência na estratégia de enfrentamento da
pandemia e no cronograma de vacinação estabelecidos pelo Executivo, não
lhe cabendo proferir decisão judicial para alterar a política discricionária
atribuída pelo Poder Discricionário inerente à Administração para regular o
combate à pandemia, oportunidade em que também pugna pela perda de
objeto em virtude da Instrução Normativa SGP/SEDGG/ME n. 37, de 25 de
março de 2021, e comunica a interposição de agravo de instrumento (id.
492111353 ao id. 492109371).

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É o relatório. DECIDO.

O deferimento da medida liminar na Ação Civil Pública, previsto no artigo 12


da Lei nº 7.347/85, pressupõe a presença dos seguintes requisitos:
probabilidade do direito e perigo de dano, previstos no art. 300 do Código de
Processo Civil.

De plano, destaco que a decisão a ser tomada no presente momento, em


face da extrema urgência, agravada pela reabertura de diversas atividades no
Distrito Federal na data de ontem, pelos índices atuais disponibilizados pela
Secretaria de Saúde do Distrito Federal - http://info.saude.df.gov.br/resumo-
executivo/, pela proximidade do feriado da Semana Santa a incentivar maior
socialização, não tem a pretensão de sanear todos os pontos levantados
pelas partes, que ensejarão contraditório e instrução adequados, mantendo o
foco necessário na saúde e sua análise dentro do princípio estabelecido no
art. 196 da Carta Magna e no art. 2º da Lei nº 8.080/96, in verbis:

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante


políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e
de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e
serviços para sua promoção, proteção e recuperação.

Art. 2º A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o


Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício.

Ademais, o Ministro do Supremo Tribunal Federal, Kassio Nunes Marques, à


época integrante do TRF1, ao julgar o AC 0009855-16.2016.4.01.3803, em
01.09.2017, ponderou que consoante se extrai da Constituição Federal de
1988, à Saúde foi dispensado o status de direito social fundamental (art. 6º),
atrelado ao direito à vida e à dignidade da pessoa humana,
consubstanciando-se em "direito de todos e dever do Estado, garantido
mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de
doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e
serviços para sua promoção, proteção e recuperação" (art. 196). Confira-se a
ementa na íntegra:

ADMINISTRATIVO, CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. SAÚDE.


TRATAMENTO MÉDICO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. PARALISIA CEREBRAL E
EPILEPSIA. VACINAS. MENINGOCOCO B E MENINGITE ACWY.
COMPROVAÇÃO. PROVA DOCUMENTAL. PRELIMINARES:
INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA, ILEGITIMIDADE ATIVA DO MPF E
PASSIVA DOS ENTES PÚBLICOS. PRINCÍPIO DA DESCENTRALIZAÇÃO

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DO SUS. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. VEDAÇÃO DE
INTERFERÊNCIA DO JUDICIÁRIO. POLÍTICAS PÚBLICAS. SENTENÇA
MANTIDA. 1. "A ação civil pública é o meio adequado para que o Ministério
Público Federal promova a proteção de direitos individuais indisponíveis,
como, no caso, em que se busca resguardar o direito à saúde e à vida de
pessoa enferma e carente de recursos financeiros para o custeio de
tratamento médico (CF, art. 127, caput)" (AC 0000896-66.2010.4.01.3803 /
MG, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL SOUZA PRUDENTE, QUINTA
TURMA, e-DJF1 p.1466 de 11/05/2012). 2. A legitimidade ativa do órgão
ministerial para defesa dos direitos individuais indisponíveis decorre de
expressa disposição constitucional, a teor do art. 127 da Carta Magna, na
qual se inclui a tutela de pessoa individualmente considerada. A
indisponibilidade do direito à vida é suficiente para fundamentar a legitimidade
ativa do Ministério Público Federal. 3. Nos termos do art. 196 da Constituição
da República, incumbe ao Estado, em todas as suas esferas, prestar
assistência à saúde da população, configurando essa obrigação, consoante
entendimento pacificado do Supremo Tribunal Federal, responsabilidade
solidária entre os entes da Federação. Portanto, é possível o ajuizamento da
ação contra um, alguns ou todos os entes estatais. 4. Quanto à alegação da
impossibilidade de interferência do Poder Judiciário na formulação de
Políticas Públicas, o Supremo Tribunal Federal entende que reconhecer
a legitimidade do Poder Judiciário para determinar a concretização de
políticas públicas constitucionalmente previstas, quando houver
omissão da administração pública, não configura violação do princípio
da separação dos poderes, haja vista não se tratar de ingerência
ilegítima de um poder na esfera de outro 5. Consoante se extrai da
Constituição Federal de 1988, à Saúde foi dispensado o status de direito
social fundamental (art. 6º), atrelado ao direito à vida e à dignidade da
pessoa humana, consubstanciando-se em "direito de todos e dever do
Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à
redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e
igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação" (art. 196). 6. É responsabilidade do Poder Público,
independentemente de qual seja o ente público em questão, garantir a
saúde ao cidadão. No caso em análise, a obrigação de fazer consistiu em
determinar aos Réus, que fornecessem, imediatamente, ao paciente Fellipe
Eduardo Ribeiro Reis as vacinas Meningococco B e Meningite ACWY, por ser
o autor, portador de paralisia cerebral e epilepsia, e precisa fazer uso das
vacinas solicitadas e que elas são caras e não fornecidas pelo SUS. 7. Não
pode a divisão administrativa de atribuições estabelecida pela legislação
decorrente da Lei n. 8.080/1990 restringir essa responsabilidade, servindo
ela, apenas, como parâmetro da repartição do ônus financeiro final dessa
atuação, o qual, no entanto, deve ser resolvido pelos entes federativos
administrativamente ou em ação judicial própria e não pode ser óbice à
pretensão da população ao reconhecimento de seus direitos
constitucionalmente garantidos como exigíveis deles de forma solidária. 8.
Encontra-se presente, no caso, a excepcionalidade apta a justificar a atuação
do Judiciário pelos seguintes motivos: a) a parte autora demonstrou que não
tem condições financeiras de arcar com o custo do tratamento pleiteado; b)

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não existe outro medicamento fornecido pelo SUS para a doença que a
acomete; c) o tratamento não é de cunho experimental, como disposto na
decisão proferida na STA 244/STF e d) o Poder Público não demonstrou a
impossibilidade de arcar com os custos do tratamento, aí incluída prova do
direcionamento dos meios disponíveis para a satisfação de outras
necessidades essenciais. 9. Recurso de apelação conhecido e não
provido. (AC 0009855-16.2016.4.01.3803, Desembargador Federal Kassio
Nunes Marques, TRF1 - SEXTA TURMA, e-DJF1 01/09/2017) grifei

No mesmo sentido, o Ilustre Desembargador Federal Souza Prudente, ao


julgar o REO 0013342-82.2015.4.01.3300, em 13.12.2020, ponderou que,
em princípio, o Poder Judiciário não deve intervir em esfera reservada a outro
Poder para substituí-lo em juízos de conveniência e oportunidade, querendo
controlar as opções legislativas de organização e prestação, a não ser,
excepcionalmente, quando haja uma violação evidente e arbitrária, pelo
legislador, da incumbência constitucional. Confira-se:

CONSTITUCIONAL. DIREITO À SAÚDE. AÇÃO NO PROCEDIMENTO


ORDINÁRIO. APELAÇÃO. INTERNAÇÃO HOSPITALAR. UNIÃO FEDERAL,
ESTADO E MUNICÍPIO. LEGITIMIDADE PASSIVA E SOLIDÁRIA. DIREITO
HUMANO FUNDAMENTAL E DIFUSO CONSTITUCIONALMENTE
GARANTIDO. APELAÇÃO DESPROVIDA. SENTENÇA CONFIRMADA. I -
Inicialmente, não merece prosperar a alegação de falta de interesse de agir,
na medida em que a saúde é direito de todos e dever do Estado, a ser
cumprido em relação a todos que comprovadamente necessitem do serviço
de saúde, como na espécie dos autos, não se exigindo o prévio requerimento
administrativo, mormente, na hipótese dos autos, em que os réus resistiram
ao pleito autoral. Preliminar rejeitada. II - Na inteligência jurisprudencial do
egrégio Supremo Tribunal Federal, "o recebimento de medicamentos pelo
Estado é direito fundamental, podendo o requerente pleiteá-los de qualquer
um dos entes federativos, desde que demonstrada sua necessidade e a
impossibilidade de custeá-los com recursos próprios. Isto por que, uma vez
satisfeitos tais requisitos, o ente federativo deve se pautar no espírito de
solidariedade para conferir efetividade ao direito garantido pela Constituição,
e não criar entraves jurídicos para postergar a devida prestação jurisdicional"
(RE 607381 AgR, Rel. Min. LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, DJe 17/06/2011).
III - Há de ver-se, ainda, que na visão jurisprudencial do egrégio
Supremo Tribunal Federal é certo que não se inclui, ordinariamente, no
âmbito das funções institucionais do Poder Judiciário - e nas desta
Suprema Corte, em especial - a atribuição de formular e de implementar
políticas públicas (JOSÉ CARLOS VIEIRA DE ANDRADE, Os Direitos
Fundamentais na Constituição Portuguesa de 1976, p. 207, item n. 05,
1987, Almedina, Coimbra), pois, nesse domínio, o encargo reside,
primariamente, nos Poderes Legislativo e Executivo. Tal incumbência,
no entanto, embora em bases excepcionais, poderá atribuir-se ao Poder

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Judiciário, se e quando os órgãos estatais competentes, por
descumprirem os encargos político-jurídicos que sobre eles incidem,
vierem a comprometer, com tal comportamento, a eficácia e a
integridade de direitos individuais e/ou coletivos impregnados de
estatura constitucional, ainda que derivados de cláusulas revestidas de
conteúdo programático. Cabe assinalar, presente esse contexto consoante
já proclamou esta Suprema Corte que o caráter programático das regras
inscritas no texto da Carta Política não pode converter-se em promessa
constitucional inconseqüente, sob pena de o Poder Público, fraudando justas
expectativas nele depositadas pela coletividade, substituir, de maneira
ilegítima, o cumprimento de seu impostergável dever, por um gesto
irresponsável de infidelidade governamental ao que determina a própria Lei
Fundamental do Estado (RTJ 175/1212-1213, Rel. Min. CELSO DE MELLO).
Não deixo de conferir, no entanto, assentadas tais premissas, significativo
relevo ao tema pertinente à reserva do possível (STEPHEN HOLMES/CASS
R. SUNSTEIN, The Cost of Rights, 1999, Norton, New York), notadamente
em sede de efetivação e implementação (sempre onerosas) dos direitos de
segunda geração (direitos econômicos, sociais e culturais), cujo
adimplemento, pelo Poder Público, impõe e exige, deste, prestações estatais
positivas concretizadoras de tais prerrogativas individuais e/ou coletivas. É
que a realização dos direitos econômicos, sociais e culturais além de
caracterizar-se pela gradualidade de seu processo de concretização
depende, em grande medida, de um inescapável vínculo financeiro
subordinado às possibilidades orçamentárias do Estado, de tal modo que,
comprovada, objetivamente, a incapacidade econômico-financeira da pessoa
estatal, desta não se poderá razoavelmente exigir, considerada a limitação
material referida, a imediata efetivação do comando fundado no texto da
Carta Política. Não se mostrará lícito, no entanto, ao Poder Público, em tal
hipótese mediante indevida manipulação de sua atividade financeira e/ou
político-administrativa criar obstáculo artificial que revele o ilegítimo, arbitrário
e censurável propósito de fraudar, de frustrar e de inviabilizar o
estabelecimento e a preservação, em favor da pessoa e dos cidadãos, de
condições materiais mínimas de existência. Cumpre advertir, desse modo,
que a cláusula da reserva do possível ressalvada a ocorrência de justo motivo
objetivamente aferível não pode ser invocada, pelo Estado, com a finalidade
de exonerar-se do cumprimento de suas obrigações constitucionais,
notadamente quando, dessa conduta governamental negativa, puder resultar
nulificação ou, até mesmo, aniquilação de direitos constitucionais
impregnados de um sentido de essencial fundamentalidade. Daí a correta
ponderação de ANA PAULA DE BARCELLOS (A Eficácia Jurídica dos
Princípios Constitucionais, p. 245-246, 2002, Renovar): Em resumo: a
limitação de recursos existe e é uma contingência que não se pode ignorar. O
intérprete deverá levá-la em conta ao afirmar que algum bem pode ser
exigido judicialmente, assim como o magistrado, ao determinar seu
fornecimento pelo Estado. Por outro lado, não se pode esquecer que a
finalidade do Estado ao obter recursos, para, em seguida, gastá-los sob a
forma de obras, prestação de serviços, ou qualquer outra política pública, é
exatamente realizar os objetivos fundamentais da Constituição. A meta
central das Constituições modernas, e da Carta de 1988 em particular, pode

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ser resumida, como já exposto, na promoção do bem-estar do homem, cujo
ponto de partida está em assegurar as condições de sua própria dignidade,
que inclui, além da proteção dos direitos individuais, condições materiais
mínimas de existência. Ao apurar os elementos fundamentais dessa
dignidade (o mínimo existencial), estar-se-ão estabelecendo exatamente os
alvos prioritários dos gastos públicos. Apenas depois de atingi-los é que se
poderá discutir, relativamente aos recursos remanescentes, em que outros
projetos se deverá investir. O mínimo existencial, como se vê, associado ao
estabelecimento de prioridades orçamentárias, é capaz de conviver
produtivamente com a reserva do possível. Vê-se, pois, que os
condicionamentos impostos, pela cláusula da reserva do possível, ao
processo de concretização dos direitos de segunda geração - de implantação
sempre onerosa -, traduzem-se em um binômio que compreende, de um lado,
(1) a razoabilidade da pretensão individual/social deduzida em face do Poder
Público e, de outro, (2) a existência de disponibilidade financeira do Estado
para tornar efetivas as prestações positivas dele reclamadas. Desnecessário
acentuar-se, considerado o encargo governamental de tornar efetiva a
aplicação dos direitos econômicos, sociais e culturais, que os elementos
componentes do mencionado binômio (razoabilidade da pretensão +
disponibilidade financeira do Estado) devem configurar-se de modo afirmativo
e em situação de cumulativa ocorrência, pois, ausente qualquer desses
elementos, descaracterizar-se-á a possibilidade estatal de realização prática
de tais direitos. Não obstante a formulação e a execução de políticas públicas
dependam de opções políticas a cargo daqueles que, por delegação popular,
receberam investidura em mandato eletivo, cumpre reconhecer que não se
revela absoluta, nesse domínio, a liberdade de conformação do legislador,
nem a de atuação do Poder Executivo. É que, se tais Poderes do Estado
agirem de modo irrazoável ou procederem com a clara intenção de
neutralizar, comprometendo-a, a eficácia dos direitos sociais, econômicos e
culturais, afetando, como decorrência causal de uma injustificável inércia
estatal ou de um abusivo comportamento governamental, aquele núcleo
intangível consubstanciador de um conjunto irredutível de condições mínimas
necessárias a uma existência digna e essenciais à própria sobrevivência do
indivíduo, aí, então, justificar-se-á, como precedentemente já enfatizado - e
até mesmo por razões fundadas em um imperativo ético-jurídico -, a
possibilidade de intervenção do Poder Judiciário, em ordem a viabilizar, a
todos, o acesso aos bens cuja fruição lhes haja sido injustamente recusada
pelo Estado. Extremamente pertinentes, a tal propósito, as observações de
ANDREAS JOACHIM KRELL (Direitos Sociais e Controle Judicial no Brasil e
na Alemanha, p. 22-23, 2002, Fabris): A constituição confere ao legislador
uma margem substancial de autonomia na definição da forma e medida em
que o direito social deve ser assegurado, o chamado `livre espaço de
conformação (...). Num sistema político pluralista, as normas constitucionais
sobre direitos sociais devem ser abertas para receber diversas
concretizações consoante as alternativas periodicamente escolhidas pelo
eleitorado. A apreciação dos fatores econômicos para uma tomada de
decisão quanto às possibilidades e aos meios de efetivação desses direitos
cabe, principalmente, aos governos e parlamentos. Em princípio, o Poder
Judiciário não deve intervir em esfera reservada a outro Poder para

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substituí-lo em juízos de conveniência e oportunidade, querendo
controlar as opções legislativas de organização e prestação, a não ser,
excepcionalmente, quando haja uma violação evidente e arbitrária, pelo
legislador, da incumbência constitucional. No entanto, parece-nos cada
vez mais necessária a revisão do vetusto dogma da Separação dos Poderes
em relação ao controle dos gastos públicos e da prestação dos serviços
básicos no Estado Social, visto que os Poderes Legislativo e Executivo no
Brasil se mostraram incapazes de garantir um cumprimento racional dos
respectivos preceitos constitucionais. (ADPF 45 MC, Rel. Min. CELSO DE
MELLO, DJ 04/05/2004). IV - Em sendo assim, caracterizada, na espécie, a
impossibilidade de a parte autora, portadora de diabetes mellitus, hipertensão
arterial, cardiopatia dilatada, atualmente cursando com descontrole dos
membros inferiores, com dificuldades de deambular e outras enfermidades;
arcar com os custos do tratamento de saúde, afigura-se juridicamente
possível o fornecimento pelo Poder Público da internação requerida conforme
indicação médica, possibilitando-lhe o exercício do seu direito à vida, à saúde
e à assistência médica, como garantia fundamental assegurada em nossa
Carta Magna, a sobrepor-se a qualquer outro interesse de cunho político e/ou
material. Precedentes. V - Processo julgado na linha da prioridade legal
estabelecida no artigo 1.048, I, do novo CPC. VI Remessa necessária e
apelação do Município de Salvador desprovidas. Sentença confirmada. (REO
0013342-82.2015.4.01.3300, Desembargador Federal Souza Prudente, TRF1
- Quinta Turma, PJe 13/12/2020) grifei

Feitas tais ponderações iniciais, registro que não resta qualquer dúvida que a
sociedade como um todo se debate e se divide entre opiniões sobre a
necessidade de manter ou não atividades fechadas, considerando
abordagens de interesse pessoal, profissional, econômico e político.

Este Juízo, no entanto, inclusive, como membro do Comitê de Saúde no


Distrito Federal, tem oportunidade de diálogo produtivo com diversos
representantes de setores da sociedade, que se debruçam de forma
prioritária sobre dados referentes à saúde pública e atendimento à população,
e procura, no bojo da presente decisão, se ater a questões de ordem técnica
que são trazidas aos autos e que se encontram disponíveis publicamente.

Como afirma o ilustre Min. Roberto Barroso, que muito engrandece a Corte
Constitucional, na obra A Judicialização da Vida, (...) atores políticos, muitas
vezes, preferem que o Judiciário seja a instância decisória de certas questões
polemicas, em relação às quais exista desacordo moral razoável na
sociedade. Com isso, evitam o próprio desgaste na deliberação de temas
dicisivos...(p.134).

Aqui neste momento, a abordagem é, tão somente, uma proteção em relação


ao direito de saúde da população.

Ainda que, em momento anterior, não se tenha vislumbrado omissão por

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parte do Governo do Distrito Federal na adoção de medidas necessárias ao
enfrentamento da pandemia decorrente do novo coronavírus, os números
atuais, infelizmente, revelam o contrário.

Importante que se tenha em mente que não se trata apenas de números,


mas de pessoas que, lamentavelmente, vieram à óbito e de pessoas que
aguardam na fila de espera por uma vaga de leito de UTI e se agonizam nos
corredores dos hospitais.

Em 19.03.2021, data da decisão proferida por este Juízo (id. 483173494),


tínhamos a seguinte realidade fática, que transcrevo para me ater a exatidão
dos números:

Outrossim, em relação aos dados extraídos do Boletim Epidemiológico nº


382, de 19.03.21[9], verifica-se que, até às 17h:00 do dia 19/03/2021 foram
notificados no Distrito Federal 326.083 casos confirmados de COVID-19
(1.507 casos novos em relação ao dia anterior), ao passo que, do Boletim
Epidemiológico nº 378, de 15.03.21 (id. 477884864), consta que até às 17h00
do dia 15.03.2021 haviam sido notificados no Distrito Federal 319.936 casos
confirmados de COVID-19 (2.056 casos novos em relação ao dia anterior),
pelo que se depreende haver diariamente alguma redução do número de
contaminados.

[...]

Igual diminuição também se vê no número de óbitos, uma vez que, apesar de


em 18.03.21 terem sido foram notificados 68 óbitos[10] (o maior número no
DF desde o início da pandemia), na data de hoje, 19.03.21, foram notificados
12 (doze) óbitos [11], um número menor do que no dia 15.03.2021, quando
foram notificados 29 óbitos[12], conforme informações extraídas do resumo
diário de óbitos por COVID-19 divulgado pela Diretoria de Vigilância
Epidemiológica do Distrito Federal, ocupando o DF, no coeficiente de
mortalidade, a 6ª colocação[13].

Em relação aos óbitos, temos os seguintes números, de acordo informações


extraídas do resumo de óbitos por COVID-19, divulgado pela Diretoria de
Vigilância Epidemiológica do Distrito Federal juntamente com o Boletim
Epidemiológico de nº 392, datado de 29.03.21.

(...)

Na data de hoje, por sua vez, de acordo informações extraídas do resumo de


óbitos por COVID-19, divulgado pela Diretoria de Vigilância Epidemiológica
do Distrito Federal juntamente com o Boletim Epidemiológico de nº 393,
datado de 30.03.21, verifica-se que foram notificados 94 (noventa e quatro)
óbitos no DF.

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(...)

Em relação ao número de casos notificados, de acordo com o citado Boletim


Epidemiológico de nº 392, de 29.03.21, temos que até às 17h:00 do dia
29/03/2021 foram notificados no Distrito Federal 341.758 casos confirmados
de COVID-19 (1.592 casos novos em relação ao dia anterior).

Dos citados números extrai-se, portanto, que houve aumento do número de


óbitos e que, apesar de não ter tido um aumento exponencial, não houve
uma redução do número casos confirmados.

A tabela abaixo, também extraída do Boletim Epidemiológico de nº 392,


datado de 29.03.21, confirma o citado aumento da curva de óbitos, confira-se:

(...)

Ademais, no dia 19.03.21, tínhamos a seguinte realidade relacionada à taxa


de ocupação de leito UTI-COVID 19, tanto em relação aos termos percentuais
de ocupação quanto em relação à lista de espera, conforme trecho da
decisão sobre tal ponto:

[...]

Hoje, dia 19.03.2021, em consulta à sala de situação [8] - última atualização


ocorreu em 19.03.2021, às 18:10h - verificou-se que a taxa de ocupação de
leito UTI-COVID 19 encontrava-se em 92.83% de ocupação e com uma
lista de espera de 325 (trezentos e vinte e cinco) pacientes aguardando
leito de UTI, sendo para UTI-COVID 19 uma lista de espera de 237
(duzentos e trinta e sete) pacientes (atualização em 19.03.2021, às 19h e
18:30h, respectivamente).Confira-se:[...]

Hoje, dia 30.03.2021, em consulta à sala de situação – última atualização


datada de 30.03.21, às 12:10h, verificou-se que a taxa de ocupação de leito
UTI – COVID 19 encontrava-se em 94.34% de ocupação e com uma lista
de espera de 379 (trezentos e setenta e nove) pacientes aguardando
leito de UTI, sendo para UTI-COVID 19 uma lista de espera de 272
(duzentos e setenta e dois) pacientes (atualização em 30.03.2021, às
13:30h e 13:45h, respectivamente). Confira-se:

(...)

Ademais, dados extraídos da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, com

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atualização datada de 30.03.21, no site http://info.saude.df.gov.br/covid-
resumo-executivo/ igualmente revelam os crescentes números que estamos
vivenciando, confira-se:

(...)

No dia 19.03.21, em relação à taxa de transmissão tínhamos os seguintes


dados, confira-se o trecho da decisão sobre tal ponto:

Em relação à taxa de transmissão, consta do referido boletim que o cálculo é


realizado a partir do número de casos confirmados, por data de início de
sintomas de todos os casos confirmados no Distrito Federal, desde
23/02/2020 até 12/03/2021. Utilizando o EpiEstim/R na interface Estimador
COVID-19 disponibilizado pela Organização Pan-Americana da Saúde
(OPAS) e da Organização Mundial da Saúde (OMS). A reprodução da
epidemia pode ser medida a partir do valor encontrado para R(t). Se R(t) for
menor que 1, a epidemia tende a acabar, para R(t) maior que 1, a epidemia
avança. É necessário avaliar os resultados obtidos pelo cálculo do R(t) em
conjunto com outros indicadores epidemiológicos e assistenciais, pois o
método possui limitações. A Figura 6 mostra que os maiores valores de R(t)
registrados foram em março 3,10 e 2,99. Com oscilações abaixo de 2.0 entre
os meses de abril a julho, e atualmente com um R(t) de 0,99. Assim, embora
o Boletim Epidemiológico nº 373, de 10.03.2021 (data da propositura da
demanda) acusasse um R(t) de 1,22, os dados demonstram que houve uma
retração na circulação do vírus.

Por sua vez, no Boletim Epidemiológico de nº 392, datado de 29.03.21,


constava um R(t) de 0,91.

A taxa de transmissibilidade, embora tenha reduzido nos últimos dias,


infelizmente já começou a subir, segundo dados extraídos da Secretaria de
Saúde do Distrito Federal, com atualização datada de 30.03.21, no site
http://info.saude.df.gov.br/covid-resumo-executivo/i, estando atualmente em
0,94, confira-se:

(...)

Da citada tabela, à propósito, é possível extrair diversas outras informações


importantes e que estão sendo consideradas por este Juízo, tais como o fato
de que, o número de leitos de UTI - 81 leitos - a serem entregues nos
próximos 15 (quinze) dias sequer são suficientes para gerar algum impacto
necessário na lista espera de leitos de UTI COVID-19, que não apresentou
qualquer redução nos últimos dias, embora tenha havido alguma ampliação
do número de leitos ; e, o Gestor Público não pode se socorrer dos leitos
privados de UTI-COVID-19, uma vez tais estabelecimentos se encontram
com uma taxa de ocupação de 99,31% de sua capacidade. Esses dados

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nos conduzem à constatação do quase que completo esgotamento da
capacidade dos hospitais públicos e privados.

Outrossim, no documento acostado no id 490465941, temos a seguinte


informação do Subsecretário de Atenção Integral à Saúde, prestada em 24 de
março de 2021:

(...)

Ressalto que, no entanto, na presente data, existem apenas 407


(quatrocentos e sete) leitos de UTI COVID (entre ocupados e vagos),
quando a previsão acima apontava para um plano de 470 (quatrocentos e
setenta) leitos de UTI COVID até 26 de março passado. Confira-se:

(...)

Na data de ontem, o Distrito Federal peticionou informando a continuidade da


taxa de transmissão da doença abaixo de 1,00 (atualmente em 0,91 - Figura
6 do Boletim COVID n. 391) e a continuidade na redução da média móvel dos
casos confirmados (Figura 4 do Boletim COVID n. 391) (id. 491418366).

Ocorre que, 01 (um) dia após a reabertura de diversas atividades


determinadas pelo Decreto nº 41.913, de 19 de março de 2021, o índice de
transmissão já se encontra em crescimento, sendo que o número de óbitos, a
taxa de ocupação de UTI’s públicas e privadas e a lista de espera de UTI’s
(COVID e não COVID), indicam que não existem elementos que apontem
para a possibilidade de mudança na conduta de isolamento social na véspera
de um feriado, como que a sinalizar para a população que a pandemia está
sob controle.

Interessante notar que as medidas tomadas pelo Distrito Federal, às quais


este Juízo demonstrou total deferência, sem qualquer juízo de valor sobre a
essencialidade das atividades autorizadas no período, comprovaram uma
capacidade de reduzir aos poucos o índice de transmissão, mas, decorridos
mais de 15 (quinze) dias, ainda não surtiram o efeito esperado na gestão da
saúde pública, que segue incapaz de atender a demanda.

Como afirmou o Diretor Geral da Organização Mundial de Saúde - OMS, em


agosto de 2020, nós não temos que escolher entre a vida e o sustento, ou
entre saúde e economia. Essa é uma falsa escolha. Muito pelo contrário, a
pandemia é um lembrete de que saúde e economia são inseparáveis. (We do
not need to choose between lives and livelihoods, or between health and the
economy. That’s a false choice. On the contrary, the pandemic is a reminder
that health and the economy are inseparable) [1].

Vale ressaltar que dentro das preocupações econômicas com relação a


medidas mais fortes de combate a transmissão, vemos o apoio de
economistas renomados. Um estudo feito pela Five Thirty Eight, em parceria
com a Initiative on Global Markets na University of Chicago Booth School of
Business, constantemente considerada uma das melhores do mundo,

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mostrou que, dos macroeconomistas entrevistados em setembro de 2020,
74% acreditam que os Estados Unidos estariam melhor economicamente se
medidas mais fortes tivessem sido tomadas no início da pandemia, e o
principal motivo dado à essa resposta foi que um controle do vírus teria
permitido uma volta mais suave e abrangente da atividade econômica.
Sustentam, assim, que medidas que protegem a saúde da população não vão
contra o desenvolvimento econômico e sua recuperação.

Apoiadores de medidas mais restritas tem apontado para o Japão, Nova


Zelândia e diversos países europeus como exemplos de como uma redução
dos níveis de infecção permite uma recuperação econômica mais rápida que
caminha de mãos dadas a questões sanitárias [2].

Sobre um estudo realizado pela International Journal of Infectious Diseases


(https://www.ijidonline.com/article/S1201-9712(20)32270-0/fulltext),
interessante destacar:

Um estudo do International Journal of Infectious Diseases analisou as


medidas de 190 países entre 23 de janeiro e 13 de abril de 2020, durante a
primeira onda da covid-19 pelo mundo. Ele levou em consideração quatro
tipos de intervenções não-farmacêuticas (NPI, na sua sigla em inglês) para a
redução do coronavírus: o uso obrigatório de máscara em público; isolamento
social ou quarentena; distanciamento social e restrição na mobilidade urbana.

Qualquer intervenção realizada isoladamente levou a uma redução


significativa na transmissão do coronavírus: máscaras (-15,14%); quarentena
(-11,40%); distanciamento social (-42,94%) e mobilidade urbana (-9,26%).

Porém, as intervenções mais efetivas foram aquelas feitas com mais de um


NPI, especialmente as que incluíram distanciamento social, prática
recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) desde o início da
pandemia. Já a intervenção mais comum nos países analisados foi a restrição
na mobilidade urbana.

Levando em consideração apenas a quarentena, houve uma diminuição de


10,6% na transmissão da covid-19. Quando combinada com outros NPIs, a
redução se intensifica: -17,83% com restrição ao transporte público, -38.58%
com distanciamento social e -54.12% juntando os três.

Com a adição do último NPI, máscara obrigatória, o número chega a -62.81%


na redução no número de novas infecções. “As combinações com mais tipos
de NPIs pareceram estar associadas a uma maior diminuição na transmissão
da covid-19”, conclui o estudo. (in https://exame.com/ciencia/lockdown-
funciona-o-que-diz-a-ciencia-sobre-as-medidas-de-distaciamento-social/)

Embora este Juízo tenha procurado se informar sobre a existência de algum

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dado organizado sobre a relação entre óbitos, a lista de espera de UTI’s e a
ocupação de leitos em percentuais de quase 100% (se é que não poderíamos
dizer que somando os dois a taxa seriam superior à ocupação integral – 13
vagas e 288 pessoas esperando, em um total de 407 leitos disponíveis – às
17:06 do dia 30.03.2021), certo é que estes três fatores atualmente indicam
que, apesar da taxa de transmissão, segundo boletins epidemiológicos oficias
(http://www.saude.df.gov.br/boletinsinformativos-divep-cieves/) encontrar-se
abaixo de 1,00 desde o dia 19 de março, o sistema de saúde no DF não
está cumprindo a garantia constitucional de saúde e coloca em risco a
vida de todos que habitam no Distrito Federal.

Respeito aqui pensamentos divergentes, mas respeito maior é devido à


saúde daqueles que se encontram agonizando nos corredores dos hospitais,
que são devolvidos para casa sem atendimento, que buscam no Poder
Judiciário uma vaga de UTI (NJUD/SES informou na reunião do Comitê de
Saúde nesta data dados aproximados de 473 demandas judiciais por leito de
UTI COVID em março 2021) e das famílias que se enlutam diariamente com o
óbito de seus entes queridos, sentindo-se órfãs da tutela estatal.

O colapso do sistema de saúde público e privado no DF é demonstrado,


ainda, por medidas radicais, como o fechamento do pronto socorro do
Hospital Sírio Libanês, que, na sua unidade de Brasília, também adiou
cirurgias eletivas e alguns exames invasivos. A suspensão dos serviços,
conforme noticiado pela imprensa, valerá por até 15 dias e é motivada pela
alta demanda de pacientes graves de covid-19 [3].

Com estes dados e utilizando de interferência mínima e essencial, é


importante que retornemos para a situação prevista antes da
flexibilização ocorrida nesta segunda-feira, 29 de março, até que a
ocupação de UTI’s chegue a um percentual que garanta o acesso a
saúde, o que se espera ocorra em breve, considerando inclusive o
investimento do Governo do Distrito Federal na ampliação de vagas,
como se verifica com a construção de 3 hospitais de campanha.

O passo para frente no sentido de autorizar novas atividades que reduzem o


distanciamento social, especialmente com a abertura de bares e restaurantes
na véspera do feriado de Páscoa, sem que existam dados que demonstrem
haver capacidade de atendimento à população, demonstra, com vênia devida,
que existe uma falha de gestão que viola o art. 196 da Constituição Federal e,
conforme já sinalizado em manifestação anterior, a omissão e a negligência
com a saúde coletiva dos brasileiros têm como consequências esperadas,
além das mortes que poderiam ser evitadas, o comprometimento, muitas
vezes crônico, das capacidades físicas dos sobreviventes que são
significativamente subtraídos em suas esferas de liberdades, sendo possível,
verificada a omissão estatal ou gerenciamento errático em situação de
emergência, a interferência judicial para a concretização do direito social à
saúde, cujas ações e serviços são marcadas constitucionalmente pelo acesso
igualitário e universal (CF, arts. 6º e 196) [4].

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O risco de grave dano irreparável a justificar a concessão da tutela resta
evidente, uma vez que, em meio a uma crise sanitária sem qualquer
precedente, o Distrito Federal está “à beira” do colapso no sistema de saúde,
não havendo qualquer dado a justificar e fundamentar a flexibilização de
atividades, ainda mais às vésperas do Feriado de Semana Santa.

Ante o exposto, atento este Juízo à Recomendação CNJ de nº 66 do


Conselho Nacional de Justiça – CNJ [5] e com vistas ao cumprimento do
interesse púbico e a segurança do sistema sanitário, CONCEDO, EM
PARTE, A TUTELA DE URGÊNCIA PARA DETERMINAR QUE O DISTRITO
FEDERAL restabeleça, a partir de 01.04.2021, as medidas para
enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional
decorrente do COVID-19, parcialmente revogadas no dia de ontem
(29.03.2021) pelos artigos 24, 25 e 26 do Decreto nº 41.913, de 19.03.21, até
que a ocupação de leitos de UTI COVID-19 da rede pública esteja entre 80%
a 85% de sua capacidade de lotação, e, concomitantemente, a lista de espera
de leitos UTI COVID-19 da rede pública esteja com menos de 100 (cem)
pacientes, suspendendo-se a vigência, por, consequência, os artigos 1º a 8º
do Decreto nº 41.913, de 19.03.21.

Intime-se o Distrito Federal, com urgência, por mandado a ser cumprido


por oficial de justiça, para a adoção de medidas necessárias ao
IMEDIATO CUMPRIMENTO da presente liminar, inclusive de fiscalização, a
partir do dia 01.04.2021.

Mantenho, por ora, a decisão agravada no que diz respeito a União Federal,
até porque visualizo, em princípio, o seu cumprimento com a edição da
Instrução normativa SGP/SEDGG/ME nº 37, de 25 de março de 2021.

Defiro a atuação do MPF e do MPT na qualidade de custos legis na presente


ação civil pública, nos termos do art. 178 do Código de Processo Civil.

Dê-se vista à Defensoria Pública da União – DPU dos documentos juntados


pela União e pela ANTT, no prazo de 15 (quinze) dias.

Encaminhe-se cópia da presente ao ilustre Des. Souza Prudente, Relator do


Agravo de Instrumento n. 1010703-70.2021.4.01.0000.

Em suas razões recursais, suscita o recorrente a prevenção do Exmº Sr.


Desembargador Federal Daniel Paes Ribeiro, em virtude de suposta conexão com o AI nº
1014006-29.2020.4.01.0000, extraído contra decisão proferida nos autos da Ação Civil
Pública 1025277-20.2020.4.01.3400. Ainda em sede preliminar, suscitada a conexão a
inúmeras outras ações em trâmite no âmbito do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e
Territórios – TJDFT e na Justiça do Trabalho, devendo, portanto, todos os feitos serem
reunidos em um único Juízo. Sustenta, ainda, a incompetência da Justiça Federal para
apreciar o feito, destacando a necessidade de cisão da presente ação, para que
permaneçam na Justiça Federal apenas os pedidos direcionados à União. Quanto ao
mais, sustenta, em resumo, que a decisão agravada teria adentrado de forma indevida no

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rol de competências reservado ao Poder Executivo, na definição de políticas públicas
para o enfrentamento da pandemia da Covid-19, violando, assim, o princípio da
separação dos Poderes.

O presente agravo de instrumento foi interposto, perante o colendo Tribunal


Regional Federal, no dia 31 de março p. passado, sobrevindo decisão proferida pela
eminente Desembargadora Federal Ângela Catão Alves, durante o plantão judiciário,
sobrestando a eficácia da decisão agravada.

Posteriormente, os presentes autos foram regularmente distribuídos, por


dependência, perante a colenda Quinta Turma deste egrégio Tribunal, sob a minha
Relatoria, em face da prevenção pela anterior distribuição do AI nº 1010703-
70.2021.4.01.0000, interposto contra o decisum inicialmente proferido no feito de origem.

***

Registro, inicialmente, que, a despeito do quanto disposto na parte final do


decisum aqui hostilizado, a primeira decisão proferida no feito de origem, no ponto
alusivo às determinações dirigidas à União Federal teve os seus efeitos suspensos, por
força do julgado por mim prolatado no bojo do referido agravo de instrumento nº 1010703-
70.2021.4.01.0000.

Quanto ao mais, não obstante os argumentos deduzidos pelo Distrito Federal


e com a devida vênia das razões lançadas pela eminente Desembargadora Federal
plantonista, não vejo presentes, na espécie, os pressupostos do art. 1.019, I, do CPC, a
autorizar a concessão da almejada antecipação da tutela recursal, na medida em que não
conseguem infirmar os fundamentos em que se amparou a decisão agravada, que
examinou, e resolveu, com inegável acerto, o pedido de antecipação da tutela de urgência
postulado no feito de origem, notadamente em face do seu caráter nitidamente precautivo
e, por isso, compatível com a tutela cautelar manifestada nas letras e na inteligência do
referido dispositivo legal.

Com efeito, no que pertine às questões preliminares suscitadas pelo


recorrente, o juízo monocrático assim se pronunciou:

“(...)

No tocante às preliminares suscitadas pelas rés, ressalto que este Juízo


apenas intimou as partes rés para manifestação nos termos do art. 2º da Lei
nº 8.437, de 30.06.92, ou seja, pronunciamento prévio à apreciação do
pedido de tutela de urgência. É certo, no entanto, que, pela importância da
matéria sob exame, as peças apresentadas, apesar de produzidas no curto
tempo fixado, possuem a abordagem própria de contestações de mérito e
trazem questões que poderão ser reanalisadas no momento processual
próprio, tal como exige o art. 10 do Código de Processo Civil, a fim de garantir
o contraditório prévio.

De todo modo, ainda que maiores ilações possam vir a ser feitas após a
apresentação das contestações e réplica, passo à análise dos principais
pontos, uma vez que interferem na apreciação do mérito nesta ação.

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No tocante ao pedido de distribuição por dependência a ação civil
pública de nº 1025277-20.2020.4.01.3400, protocolada em 28.04.2020,
oportuno registrar, em primeiro lugar, que a presente ação veio distribuída
por livre distribuição e não por dependência à citada ACP.

A propósito, na citada ação civil pública, este Juízo determinou em despacho


datado de 05 de março de 2021, antes mesmo da propositura desta demanda
(ocorrida em 10.03.2021), a intimação da parte autora para manifestar
interesse no prosseguimento do feito, considerando que os pedidos
formulados naquela ação se referiam a um quadro fático diverso e que, em
razão da própria dinâmica da pandemia de COVID-19, modificaram-se ao
longo do tempo, tornando necessárias, inclusive, novas medidas
administrativas por parte do Governo do Distrito Federal, o que motivou o
Ministério Público do Distrito Federal – MPDFT a requerer a sua exclusão do
polo ativo da ação, por entender não subsistir interesse de agir, diante das
medidas adotadas pelo DISTRITO FEDERAL para prevenir e conter a
disseminação da COVID-19 nesta unidade da Federação, consubstanciadas
nos Decretos nº 41.841 e nº 41.849, de 26 e 27 de fevereiro de 2021, o último
alterado pelo de nº. 41.869 de 05 de março de 2021, e considerando o
avanço do plano de vacinação contra a COVID-19 executado pela SES/DF.

Outrossim, na citada ação civil pública, ajuizada, à época, pelo Ministério


Público Federal - MPF, o Ministério Público do Trabalho – MPT e o Ministério
Público do Distrito Federal e Territórios – MPDFT em face da União e do
Distrito Federal, os autores requereram, em sede de mérito, a procedência da
ação para, confirmando a liminar, e enquanto durar o Estado de Emergência
de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPIN) ou equivalente nos
termos da norma aplicável: 2.3.1. OBRIGUE o Distrito Federal a tomar todas
as providências necessárias para SUSPENDER as atividades não essenciais
em seu território, até o término do Estado de Emergência de Saúde Pública
de Importância Internacional (ESPIN), ou até que fique atestado, consoante
critérios e prazos estabelecidos em sentença, que a suspensão das
atividades não essenciais no DF é desnecessária para assegurar: A) regular
funcionamento do SUS no DF; B) prestação de adequado atendimento
médico-hospitalar aos pacientes contaminados pela Covid-19, bem com a
pacientes com outros agravos; C) atendimento pelo DF às recomendações,
orientações e normas da Organização Mundial da Saúde (OMS), do
Ministério da Saúde, do Conselho de Saúde do DF, e de outros entes de
regulação sanitária, que forem de cumprimento cogente, referentes à retirada
de medidas de distanciamento social para enfrentamento à Covid-19; 2.3.2.
OBRIGUE o Distrito Federal a se ABSTER da liberação de toda e qualquer
atividade não essencial, enquanto, através de seus órgãos de vigilância em
saúde: A) não fundamentá-la específica, prévia e publicamente com
evidências técnico-científicas sobre o atendimento aos itens 1.1.1 e 1.1.2
acima, em particular à Recomendação Temporária da OMS, de 16/4/2020 e
seus dispositivos, bem como B) não estabelecer protocolos sanitários
específicos para cada uma das atividades econômicas específicas, e para a
mobilidade dos trabalhadores que utilizam transporte público, indicando os
órgãos responsáveis pela fiscalização; 2.3.3. OBRIGUE a União e o DF a

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estruturarem adequadamente seus serviços de vigilância em saúde e
segurança no trabalho, inclusive com fornecimento de EPI (equipamento de
proteção individual) adequado e em quantidade suficiente para a realização
de todas as inspeções necessárias durante a pandemia de Covid-19; 2.3.4.
OBRIGUE à União, com fundamento nos incisos I, V, VI e VII do artigo 2º da
Lei n. 9.782\99 e Decreto Legislativo nº 395/09: 2.3.4.1. normatize e defina os
parâmetros técnicos científicos mínimos, com a apresentação concomitante
dos respectivos estudos, para orientar as unidades federativas no
cumprimento das recomendações temporárias definidas pela Organização
Mundial da Saúde no território nacional, relacionadas às medidas de redução
do distanciamento social, para enfrentamento à Covid-19; 2.3.4.2. estabeleça
mecanismos adequados para o acompanhamento, coordenação e prestação
de cooperação técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios, para o fim de assegurar o cumprimento das recomendações
temporárias definidas pela Organização Mundial da Saúde no território
nacional, relacionadas às medidas de redução do isolamentodistanciamento
social para enfrentamento à Covid-19.

Com respeito à compreensão diversa, ainda que se possa, em uma rápida


análise, entender que há conexão entre as ações, um estudo mais cuidadoso
e detalhado entre os fundamentos de fato e de direito e a tramitação dos
feitos (marco temporal) afasta a conexão entre elas, seja pela diversidade do
contexto fático, que se modifica constantemente diante do dinamismo e total
imprevisibilidade da pandemia de COVID-19, que, atualmente, já se mostra
ainda mais desafiadora; seja porque os decretos que se pretendia impugnar,
a liberação de atividades tidas como essenciais ou não e, obviamente, os
pedidos, também se modificaram; seja porque, à luz do art. 55, §3º, do CPC,
não há qualquer risco de decisões conflitantes.

Ademais, aquela lide já se encontra estabilizada, com a apresentação de


contestação pelos réus, não sendo mais possível modificar o pedido ou a
causa de pedir, sem o seu consentimento, nos termos do art. 329, I, do CPC .

Desta forma, acatar tal conexão significaria admitir que toda e qualquer ação
em que se pretendesse assegurar o distanciamento e o isolamento social
como estratégia de redução da velocidade de contágio da doença, com o
objetivo de se mitigar os impactos sobre o sistema de saúde do Distrito
Federal e assegurar o efetivo tratamento da população, seriam deste Juízo. E
isto tanto não é verdade, pois, ainda que tenham como causa de pedir remota
a pandemia, inúmeras outras ações judiciais tramitam tanto nesta Seção
Judiciária quanto no âmbito do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos
Territórios – TJDFT e não foram e nem deviam ser direcionadas a este Juízo,
à luz das regras de competência. Entender de forma diversa seria tornar este
Juízo universal para demandas referentes a medidas administrativas diversas
relativas à COVID-19, em total afronta ao princípio do juízo natural. Rejeito,
portanto, o pedido de distribuição por dependência da presente ação de
nº 1025277-20.2020.4.01.3400, devendo a tramitação correr em separado.

Pelo mesmo fundamento, não há conexão da presente ação à de nº

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1038959- 42.2020.4.01.3400, em trâmite na 6ª Vara Federal desta Seção
Judiciária, uma vez que também se refere a uma situação fática anterior e
diversa, além do que os pedidos são diferentes, embora todos se refiram a
medidas referentes a transporte interestadual. Explico.

Analisando os pedidos constantes da ação nº 1038959- 42.2020.4.01.3400, é


possível perceber que o seu objeto se refere à regulamentação em 2020, dos
serviços de transporte, em relação aos horários e às frotas disponíveis nas
linhas disponibilizados pelas empresas que realizam o transporte
interestadual e semiurbano entre a região do entorno e o DF, ao passo que
nesta ação o pedido é diferente, uma vez que se pretende a efetivação de
medidas sanitárias dentro dos coletivos, tanto no serviço de transporte
intradistrital, ônibus e metrô, quanto no interestadual, com medidas de
fiscalização que assegurem o distanciamento entre os passageiros. Referidas
atribuições são autônomas e não excludentes, o que afasta a alegação de
conexão, pois não há risco de decisões conflitantes.

No tocante a competência da Justiça Federal, é certo que Defensoria


Pública da União, por meio das EC nos 74/2013 e 80/2014, foi dotada de
autonomia funcional, administrativa e orçamentária, nos termos do art. 134,
§§3º e 4ª da Constituição Federal.

Ademais, a simples presença de entes federais (no caso, a União e ANTT),


atrai a competência da Justiça Federal para apreciar o feito, nos termos do
art. 109, I, da Constituição Federal[, sendo certo, ainda, que o Supremo
Tribunal Federal, ao julgar o Recurso Extraordinário nº 733.433, com
repercussão geral reconhecida, fixou a tese de que a Defensoria Pública tem
legitimidade para a propositura de ação civil pública que vise a promover a
tutela judicial de direitos difusos e coletivos de que sejam titulares, em tese,
pessoas necessitadas. (RE 733.433, Relator: Ministro Dias Toffoli, Tribunal
Pleno, julgado em 04.11.2015, Acórdão Eletrônico Repercussão Geral –
Mérito, julgamento 04/11/2015 e publicado em 07/04/2016).

A propósito, na decisão proferida pelo Ilustre Desembargador Federal Daniel


Paes Ribeiro, nos autos do agravo de instrumento de nº 1014006-
29.2020.4.01.0000, proferida, em 08.06.2020, após agravo interno interposto
pelo Ministério Público Federal, e que reformou a decisão proferida pelo Juiz
Federal Roberto Carlos de Oliveira, o Exmo. Desembargador deixou claro
que se afastava a preliminar de incompetência da Justiça Federal, porquanto
o simples ajuizamento da ação por parte do Ministério Público Federal atrai o
enquadramento no disposto no art. 109, I, da Constituição Federal, por se
tratar de competência em razão da pessoa. Precedentes deste Tribunal e do
Superior Tribunal de Justiça (AC n. 0001992-85.2016.4.01.3810/MG.
Desembargador Federal Daniel Paes Ribeiro, em 11.05.2018. e-DJF1 de
25.05.2018). Ainda que se refira a ente diverso, a considerar que o Ministério
Público Federal, tal com a Defensoria Pública da União, são instituições
autônomas e independentes, o citado precedente pode ser usado por
analogia.

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A referida decisão também foi expressa ao afirmar que, não obstante os
pedidos formulados em face do Distrito Federal, a Justiça Federal
é competente para apreciar a demanda, inclusive em relação ao citado
ente federal.

Da mesma forma, não se sustenta a ilegitimidade passiva arguida pela


União, seja porque há pedidos específicos formulados contra si e, ao
contrário do que alegado pela citada ré, a petição inicial não é inepta, uma
vez que a causa de pedir e o pedido estão adequadamente declinados na
petição inicial, sendo possível concluir o objeto da pretensão autoral e o
alcance pretendido.

Acrescenta-se, por oportuno, o fato de que a competência dos Estados e


Municípios não desonera a União do múnus de atuar como ente central no
planejamento e coordenação de ações integradas de saúde pública, em
especial de segurança sanitária e epidemiológica no enfrentamento à
pandemia da COVID-19, inclusive no tocante ao financiamento e apoio
logístico aos órgãos regionais e locais de saúde pública, conforme
mencionado pelo Ministro Alexandre de Moraes, relator da ADPF 672 MC-
REF/DF, julgado em 13.10.2020.

Quanto às afirmações dos demais réus, ANTT e METRÔ/DF, melhor sorte


não possuem. Além do já alegado quanto à legitimidade da DPU para a ação
e a competência desse foro federal, são entes com personalidade jurídica
própria e cujas eventuais medidas a ele destinadas exigem que figurem como
partes, de modo a garantir seu cumprimento.

Ademais, embora o DF tenha autonomia para estabelecer regras dentro do


seu território, a própria ANTT afirma em sua manifestação que, no exercício
de suas atribuições, e como medida enfrentamento do COVID-19 no âmbito
do serviço de transporte rodoviário interestadual e internacional de
passageiros, publicou as Resoluções nº 5.875/2020, 5.878/2020 5.879/2020 e
5.893/2020”

Como visto, a discussão envolvendo a prevenção, ou não, da colenda Sexta


Turma deste egrégio Tribunal, sob a Relatoria do eminente Desembargador Federal
Daniel Paes Ribeiro, ampara-se na alegada conexão da demanda instaurada nos autos
de origem a sobredita ação civil pública nº 1025277-20.2020.4.01.3400, rechaçada pelo
juízo monocrático, cujos fundamentos, ao menos nesse exame preliminar, não merecem
reparos, sem prejuízo de melhor exame dessa matéria, após a regular formação do
contraditório.

Quanto à questão de fundo, impende consignar, conforme assim bem


registrou o juízo monocrático, que a situação fática em que se amparou o Governo do
Distrito Federal a adotar as medidas preventivas e de contenção do agravante dos efeitos
maléficos da pandemia da Covid-19, com vistas na proteção da saúde pública, reveladas
no Decreto nº 41.874, de 09 de março de 2021, não apenas continua presente como

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restou agravada, a desautorizar, por conseguinte, o relaxamento das medidas ali
adotadas, eis que não alcançado, ainda, o objetivo ali delineado.

Com efeito, ao editar a referida norma, o Distrito Federal fez consignar que as
medidas ali estabelecidas tiveram por suporte, dentre outras motivações, “a necessidade
de praticar atos administrativos dotados de eficácia imediata e adequação para diminuir a
circulação de pessoas no perímetro urbano, bem como a necessidade de proteger a
saúde pública contra perigo grave e iminente representado pelo agravamento da
pandemia”, bem assim, “a necessidade premente de garantir o atendimento adequado e
universal dos serviços de saúde à população do Distrito Federal infectada com o Novo
Coronavírus (COVID-19), bem como o risco iminente de superlotação das UTIs e
unidades hospitalares na fase aguda da pandemia disciplinada pelo Decreto n.º 41.849,
de 27 de fevereiro de 2021”.

Conforme bem demonstrado pelo juízo monocrático, calcado em dados


analíticos diariamente atualizados, a gravidade do quadro inicialmente verificado e que
serviu de base para a adoção de medidas restritivas de mobilidade urbana no âmbito do
Distrito Federal não sofreu qualquer redução, mas sim agravamento, a demonstrar que
houve e há uma escalada no risco de iminente colapso do serviço de saúde público e
privado no Distrito Federal, não se justificando, dessa maneira, o relaxamento de tais
medidas, enquanto não reduzidos os índices de contaminação e de capacidade de
atendimento e tratamento às enfermidades decorrentes do contágio do coronavírus, seja
por meio das denominadas intervenções não farmacêuticas – utilização de máscaras,
quarentena, distanciamento social e mobilidade – ou alcançados índices maiores de
imunização, mediante a implementação de vacinação, em percentuais superiores àqueles
atualmente verificados em toda a população.

De outra senda, não se pode olvidar que, em casos assim, há de privilegiar,


sempre, os princípios da prevenção e da precaução, em harmonia com o princípio da
dignidade da pessoa humana e o direito à saúde pública, como garantias fundamentais
asseguradas em nossa Carta Magna, não se podendo olvidar que, no caso, se trata da
proteção de um direito de todos e de um dever do Estado, garantido mediante políticas
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao
acesso universal igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação (artigo 196, da Constituição Federal).

Por oportuno, trago à baila os lúcidos fundamentos lançados pelo eminente


Ministro Gilmar Mendes, no bojo de decisão proferida nesta data (05 de abril de 2021, nos
autos da ADPF nº 811/SP, em que se discute, também, a validade de medidas restritivas
visando o combate aos malefícios decorrentes da pandemia da Covid-19, dos quais
destaco os seguintes trechos:

“(...)

Ainda no âmbito dessa jurisprudência de Crise desenvolvida pelo STF, a


Corte teve a oportunidade de discutir quais seriam os parâmetros para a
responsabilização civil e administrativa dos gestores públicos pela adoção
das medidas de combate à pandemia. Ao apreciar a constitucionalidade da
Medida Provisória 966/2020 na Ação Direta de Inconstitucionalidade 6421,

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relatoria do eminente MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO, o Tribunal
decidiu, de forma clara que as “decisões administrativas relacionadas à
proteção à vida, à saúde e ao meio ambiente devem observar standards,
normas e critérios científicos e técnicos, tal como estabelecidos por
organizações e entidades internacional e nacionalmente reconhecidas” (ADI
6421 MC, Relator(a): ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em
21/05/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-270 DIVULG 11-11-2020
PUBLIC 12-11-2020).

Mais do que assentar a necessária observância desses critérios científicos, a


Corte seguiu a proposta de tese fixada pelo eminente relator Ministro Roberto
Barroso para a autoridade a quem compete decidir deve exigir que as
opiniões técnicas em que baseará sua decisão tratem expressamente “da
observância dos princípios constitucionais da precaução e da prevenção, sob
pena de se tornarem corresponsáveis por eventuais violações a direitos”
Como ressaltado pelo relator, a observância desses princípios impõe que
sejam a priori evitadas “medidas ou protocolos a respeito dos quais haja
dúvida sobre impactos adversos a tais bens jurídicos”. (ADI 6421 MC,
Relator(a): Roberto Barroso, Tribunal Pleno, julgado em 21/05/2020, DJe 12-
11-2020)

No caso em tela, a própria norma impugnada esposa o entendimento de que


as medidas impostas foram resultantes de análises técnicas relativas ao risco
ambiental de contágio pela COVID-19 conforme o setor econômico e social,
bem como a necessidade de preservar a capacidade de atendimento da rede
de serviço de saúde pública.

Ainda que assim não fosse, a simples observância da média móvel de mortes
e de casos de contaminação no Estado de São Paulo no período
compreendido após a promulgação do Decreto estadual impugnado não
deixa dúvidas sobre o gravíssimo cenário que subjaz às restrições impostas
na norma.

Enquanto em 11.03.2021, o Estado de São Paulo atingia a marca histórica de


2.233 (duas mil duzentos e trinta e três) mortes somente naquele dia, no dia
01.04.2021, o estado bateu o recorde de 3.769 (três mil setecentas e
sessenta e nove) mortes diárias pelo novo Coronavírus. (Fonte: JHU CSSE
COVID-19 Data).

Além da escalada do número de mortes, o Estado vive um verdadeiro colapso


no sistema de saúde pública. De acordo com o último balanço da Secretaria
Estadual da Saúde, divulgado na quarta-feira (31), havia 31.175 internados,
sendo 12.961 pacientes em leitos de UTI e 18.214 em enfermaria. As taxas
de ocupação dos leitos de UTI eram de 89,9% no estado e de 88,5% na
Grande São Paulo (disponível em: https://g1.globo.com/sp/sao-
paulo/noticia/2021/04/03/sp-encerra-semanacom-mais-de-5-mil-mortes-por-
covid-19-total-de-vitimas-passa-de-76- mil-no-estado.ghtml).

Em um cenário tão devastador, é patente reconhecer que as medidas de

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restrição à realização de cultos coletivos, por mais duras que sejam, são não
apenas adequadas, mas necessárias ao objetivo maior de realização da
proteção da vida e do sistema de saúde pública (...)”.

Na hipótese dos autos, conforme já consignado, o Decreto nº 41.874, de 09


de março de 2021, editado pelo Sr. Governador do Distrito Federal, amparou-se em
dados técnicos e analíticos, reveladores da “necessidade de proteger a saúde pública
contra perigo grave e iminente representado pelo agravamento da pandemia”, bem assim,
“a necessidade premente de garantir o atendimento adequado e universal dos serviços de
saúde à população do Distrito Federal infectada com o Novo Coronavírus (COVID-19),
bem como o risco iminente de superlotação das UTIs e unidades hospitalares na fase
aguda da pandemia disciplinada pelo Decreto n.º 41.849, de 27 de fevereiro de 2021”.

Por sua vez, o Decreto nº 41.913, de 19.03.2021, flexibilizou tais medidas, a


partir de 19 de março de 2021, sem sequer mencionar qualquer estudo técnico que
pudesse justificar a sua suspensão, até mesmo porque, conforme bem pontuado na
decisão gravada, os dados estatísticos que se lhe seguiram comprovam não a redução
dos efeitos nefastos da pandemia, mas sim, o seu agravamento, espelhado pela escalada
ascendente do número de casos diários de contágio pelo novo coronavírus e da média
móvel diária de óbitos dele decorrentes, em contraste com a redução de disponibilidade
de leitos para fins de internação para o tratamento devido.

Nesse cenário nefasto a que se encontra exposto todo o povo brasileiro,


impõe-se a manutenção das referidas medidas restritivas, até que se alcance o patamar
sinalizado na decisão agravada, mormente num contexto em que alguns governantes –
nas esferas federal, estadual e municipal –, rompendo com o compromisso inerente aos
relevantes cargos públicos que ocupam, adotam uma inadmissível postura negacionista
da pandemia, expondo a população – pelo mal exemplo e pela indução a procedimentos
inadequados – a riscos desnecessários e passíveis de serem evitados, em flagrante
violação ao próprio exercício da cidadania.

O quadro, já desolador, agrava-se a cada dia, conforme registro veiculado no


Jornal de Brasília (Versão digital) do dia 06 de abril corrente, intitulado “Brasil supera 4
mil mortos por covid-19 em 24h pela 1ª vez”, nestes termos:

O Brasil ultrapassou pela primeira vez nesta terça-feira, 6, a marca de 4 mil


mortes pelo novo coronavírus nas últimas 24 horas, com 4.211 registros,
recorde na pandemia. Ainda com aumento de infecções após quase um mês
de medidas restritivas e vacinação lenta, a crise sanitária deve piorar antes
de dar trégua e o País pode chegar a 5 mil vítimas diárias, segundo
especialistas. Na contramão, outros países que tiveram número alto de óbitos
– como Estados Unidos e Reino Unido – têm apresentado tendência de
redução.

Apenas em março, a média de mortes diárias pelo coronavírus no Brasil ficou


em 2.147, transformando este no pior mês de toda a pandemia no País,
segundo dados do consórcio de imprensa, formado por Estadão

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, Folha, G1, O Globo, Extra e Uol – a média dos últimos sete dias está em
2.775. Em contrapartida, a média dos Estados Unidos, que concentra a maior
parte de vítimas da covid-19, ficou em 1.223 no mesmo período. Grande
parte dos especialistas defende lockdown para conter o avanço do contágio,
mas a restrição mais severa só foi adotada por algumas cidades, como
Araraquara, que viu redução significativa de doentes e mortes.

Domingos Alves, epidemiologista da Faculdade de Medicina de Ribeirão


Preto da USP, prevê que ainda neste mês a situação se agrave, com
expectativa de atingirmos um patamar de 100 mil infecções diárias. Os efeitos
desses casos na quantidade de internações e óbitos ainda leva semanas
para aparecer, por causa do perfil de evolução da doença. Em vários
Estados, os sistemas de saúde chegaram ao colapso e há mortes de
pacientes na fila de espera por leito.

O País tem registrado mais de 60 mil novos diagnósticos diários há 32 dias,


maior patamar de toda a pandemia. Ao longo de março, foram mais de 2,2
milhões de pessoas que receberam a confirmação da covid, 63% a mais do
que em fevereiro. A média diária passou de 56 mil casos em 1º de março
para 75 mil no último dia do mês, alta de 34%. Apenas nos últimos dias que
essa média tem apresentado queda, com o feriado da Páscoa, o que leva ao
represamento de registros. Além disso, o País tem um sistema falha de
testagem, o que eleva o risco de subnotificação e dificulta o controle sobre o
avanço da transmissão.

Segundo Alves, a média móvel ainda deve chegar a 4,5 mil ou 5 mil mortes.
O professor aponta que a disparidade no avanço da pandemia entre o Brasil
e outros países se dá por uma série de fatores que vão desde estratégias de
vacinação até medidas efetivas de restrição, como o lockdown.”Países com
processo de vacinação mais acelerado que o nosso conseguiram controlar
casos No início do ano, a Grã-Bretanha decretou lockdown e logo depois
atingiu o seu maior pico. Em pouco mais de um mês reduziram os casos de
60 para 5 mil por dia”, afirma Alves. “Esse cenário mostra que o Brasil, em
toda a história da pandemia, não adotou nenhum protocolo dos países que
controlaram a epidemia efetivamente. Essa situação tem culpado, e não é o
vírus.”

Com o novo recorde, o Brasil chegou ao total de 337.364 mortes pelo


coronavírus desde o início da pandemia, e outros 13.106.058 testes positivos
em todo o País, dos quais 82.869 foram registrados entre esta segunda-feira
e esta terça-feira.

Para o epidemiologista e pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública


da Fiocruz Paulo Nadanovsky, faltou uma ação coordenada entre os
governos federal, estadual e municipal. “A resposta curta e simples é que sim,
se a gente tivesse tentado fazer o que outros países fizeram, não estaríamos
nessa situação”, afirma.

Nadanovsky se refere às medidas tomadas em países onde a estratégia de

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combate à pandemia seria baseada na “eliminação” ou “supressão” do vírus,
ao contrário do que aconteceu aqui, onde houve apenas reação de
“mitigação”. “Desde o início, temos alternado entre políticas de mitigação e,
quando isso começa a dar certo, as atividades voltam de forma muito rápida e
antes de os casos terem caído drasticamente”, avalia. “Estamos lidando
agora com o resultado desse relaxamento mais imediato, que aconteceu por
volta de setembro e outubro, quando tudo parecia mais ‘tranquilo’.” A
pesquisadora da Fiocruz Adelyne Mendes Pereira também acredita que a
única saída é um lockdown efetivo e duradouro. Países como Espanha,
Inglaterra, França, Itália e Alemanha, destacam, adotaram essas restrições
por uma média de 50 dias, para só depois verem cair as taxas de transmissão
e a retomada gradativa de atividades comerciais. Alguns deles, como França
e Itália, tiveram de endurecer novamente as restrições nas últimas semanas:
“Esperamos chegar a níveis alarmantes de ocupação dos hospitais e das
mortes para tomarmos mais medidas restritivas. Por parte do governo federal,
ainda temos política de não incentivo às medidas restritivas”, avalia Adelyne,
frisando que os alertas e análises epidemiológicos já apontavam para a
necessidade de restrições desde o final do ano passado.

Apesar de alguns Estados terem adotado medidas mais restritivas desde o


início de março, como São Paulo, especialistas são unânimes em afirmar que
elas chegaram mais tarde do que deveriam e que seus efeitos ainda vão
demorar a diminuir a crescente de óbitos.

“Por mais que as medidas de agora deem resultado, a queda de mortes


diárias é a última parte dessa equação”, avalia Adelyne. “Por isso, ainda
vamos piorar antes de conseguir melhorar.” Natalia Pasternak,
microbiologista e presidente do Instituto Questão de Ciência (IQC), acredita
que o Brasil chegou nesse patamar após perder duas chances cruciais de
combate à covid por “falta de liderança política adequada”. “A primeira,
quando recusamos os acordos de vacina oferecidos. Perder essa janela de
oportunidades foi de extrema burrice”, aponta. “Depois, no começo do ano,
quando vimos a tendência de subida dessa curva e não implementamos um
lockdown de verdade, extremamente restritivo por três semanas, pelo
menos.”

(https://jornaldebrasilia.com.br/noticias/brasil-supera-4-mil-mortos-por-covid-
19-em-24h-pela-1a-vez/)

No que pertine aos reflexos de ordem econômica, impende consignar que, a


despeito da sua relevância, não se prestam a inibir a concessão da tutela liminarmente
requerida no feito de origem, sob pena de inviabilizar-se um dos objetivos fundamentais
inseridos na Constituição da República Federativa do Brasil, no sentido de se construir
uma sociedade livre, justa e solidária (CF, art. 3º, I), cabendo à Poder Público e à
sociedade de forma geral contribuir, na implementação de medidas que favoreçam a sua
mitigação, na medida das forças de cada um, seja pela institucionalização de auxílios
emergenciais, concessão de incentivos fiscais, distribuição de cestas básicas e outras

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medidas similares.

Neste atual contexto da pandemia viral, com devastador efeitos letais, todas
as autoridades públicas devem conduzir os passos de nossa coletividade, aderindo às
posturas cientificamente recomendadas como o uso de máscaras, distanciamento físico e
social, bem assim as medidas de higiene pessoal, evitando-se os cenários de
aglomerações de pessoas, visando inibir a expansão do coronavírus. Posturas contrárias
e negacionistas à defesa da vida, sem agilização nas vacinas cientificamente disponíveis,
levará toda a sociedade das presentes e futuras gerações ao genocídio global, sem
esperança de construirmos juntos um meio ambiente planetário, essencial à sadia
qualidade de vida, como assim determina a nossa Constituição da República Federativa
do Brasil (CF., art.225, caput).

Com estas considerações, indefiro o pedido de antecipação da tutela


recursal formulado na inicial.

Intime-se a recorrida, nos termos e para as finalidades do art. 1.019, II, do


CPC, comunicando-se, também, ao juízo monocrático, na dimensão eficacial do art. 1008
do referido diploma legal.

Dê-se vistas, após, à douta Procuradoria Regional da República, na forma


regimental.

Publique-se. Intime-se.

Brasília/DF., em 08 de abril de 2021.

Desembargador Federal SOUZA PRUDENTE

Relator

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