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INTEGRAÇÃO REGIONAL, INTERCONTINENTAL E INTERNACIONAL


Desafios e Perspectivas para Moçambique

Contribuições para a Estratégia de Desenvolvimento em Moçambique

Sérgio Jeremias Langa


NOSSACASA
(Associação Moçambicana para o Meioambiente e Desenvolvimento Comunitário)
Maputo, 2012

RESUMO
A concorrência no mercado internacional é renhida e favorece naturalmente aos países menos
importadores e mais exportadores. No entanto, entende-se que, pesa embora Moçambique
tenha liberalizado a importação de factores de produção para a agricultura, continua sendo
altamente dependente de importações de bens de consumo e não de investimento. Este facto
coloca o país, uma vez mais, em situação de grande desafio, a ter que reverter o cenário para
poder estar ao pé de igualdade com os membros da região e outros.

Palavras-chave: Integração Regional, Intercontinental; Internacional e Desenvolvimento


Económico

ABSTRACT
The international market competition is fierce and naturally favors the countries importing
less and exporting more. However, it is understood that, although Mozambique has
liberalized the import of inputs for agriculture, remains highly dependent on imports of
consumer goods rather than investment. This places the country once again, in a situation of
great challenge, having to reverse the scenario to be able to be at par with the members of the
region and others.

Keywords: Regional Integration, Intercontinental; International and Economic Development


2

INTRODUÇÃO

"Com a execução do Protocolo Comercial da SADC, que prevê a integração dos mercados da
região..., Os produtores nacionais estarão sujeitos a uma competição ainda maior proveniente
de indústrias mais desenvolvidas e mais avançadas tecnologicamente. Este desafio deve
traduzir-se num aproveitamento das vantagens comparativas derivadas de condições
específicas que existem no país para a produção de algumas culturas". MINAG (2011:13)1,

Hoje, Moçambique está num contexto onde se vislumbra um crescimento económico que
pode se tornar um exemplo para outros países africanos. O sector agrário, considerado o pilar
da economia nacional, empregando 90% da força laboral feminina do país e 70% masculina,
contribuiu em 2010, segundo dados do INE, com 23% para o Produto Interno Bruto. Porém
para que o país se posicione de forma privilegiada no mercado regional, intercontinental e
internacional deverá ultrapassar os actuais desafios que se impõem, de modo a estar em pé de
igualdade ou mesmo superior aos membros da integração.

É neste âmbito que o presente trabalho pretende compreender que desafios e perspectivas
existem para Moçambique, no âmbito da Integração Regional, Intercontinental e Internacional
(Integração RII), na perspectiva dos seus impactos. O estudo, antecedido por uma introdução
onde se apresenta a localização da área de estudo; a pergunta de partida; as hipóteses; os
objectivos; a justificativa e importância; e a metodologia, está estruturado em três capítulos,
nomeadamente: a Revisão Bibliográfica; O Cenário Actual dos Aspectos Económicos de
Moçambique; a Análise dos Desafios e Perspectivas da Integração Regional, Intercontinental
e Internacional e por último a Conclusão.

Para orientar esta pesquisa, tomou-se como base a seguinte pergunta de partida: Que desafios
e perspectivas existem para Moçambique, no âmbito da integração regional, intercontinental e
internacional?

H1 – A necessidade de: melhorar a competitividade do agro-negócio moçambicano; apostar


nas vantagens comparativas; definir claramente o modelo de desenvolvimento moçambicano;
melhorar a precariedade e, em alguns casos, ausência de infraestruturas que propiciam a
carestia e dificuldades no escoamento dos produtos; investir na qualificação da mão-de-obra;
e criar e/ou melhorar a plataforma de certificação de qualidade e de autenticidade dos

1
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA. Plano Estratégico para o Desenvolvimento do Sector Agrário - PESDA.2011
3

produtos moçambicanos, por parte dos pequenos produtores, constituem desafios que perigam
a posição de Moçambique na integração regional. Se este cenário for invertido estará
propiciado um ambiente, com perspectivas positivas, que vislumbra um desenvolvimento para
Moçambique.

H2 – A necessidade de: melhorar a competitividade do agro-negócio moçambicano; apostar


nas vantagens comparativas; definir claramente o modelo de desenvolvimento moçambicano;
melhorar a precariedade, e construção, de infraestruturas que propiciam a carestia e
dificuldades no escoamento dos produtos; investir na qualificação da mão-de-obra; criar e
melhorar a plataforma de certificação de qualidade e de autenticidade dos produtos
moçambicanos, constituem desafios para Moçambique, no âmbito da integração regional,
intercontinental e internacional. Este cenário periga a posição de Moçambique no contexto da
integração e se não for invertido estará propiciado um ambiente, com perspectivas negativas,
que não vislumbra um desenvolvimento para Moçambique.

Constitui objectivo geral da presente pesquisa, avaliar o impacto dos desafios e perspectivas
para Moçambique, no âmbito da integração regional, intercontinental e internacional.
Especificamente, este, vai procurar descrever a conceptualização sobre a integração regional;
intercontinental; internacional e outros factores que interferem no processo. Para além de
caracterizar o cenário actual dos aspectos socioeconómicos de Moçambique, irá analisar os
desafios e perspectivas da Integração Regional, Intercontinental e Internacional.

A escolha do tema foi orientada pela necessidade de compreender o real impacto que a
Integração RII tem para os países da SADC e suas perspectivas, com particular destaque para
Moçambique. A outra motivação que leva o autor a desenvolver esta pesquisa surge na
sequência dos grandes e “acesos” debates em torno da Integração Regional, que revelam um
cepticismo, por parte de académicos, analistas, políticos e outros intervenientes. Para além de
ser membro da SADC e naturalmente abrangido na Integração RII, Moçambique é o país
onde reside o autor por isso foi escolhido como estudo de caso.

Para a elaboração do presente trabalho o autor recorreu à Consulta bibliográfica que consistiu
no levantamento bibliográfico e documental sobre o tema em estudo, visando a
conceptualização sobre a integração regional; intercontinental; internacional e outros factores
que interferem no processo, tendo contribuído para a compreensão e melhor assimilação dos
conteúdos.
4

CAPITULO UM
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O autor consultou algumas obras visando produzir um suporte teórico para auxiliar a
avaliação. Neste capítulo serão abordados os conceitos de integração regional,
intercontinental e internacional; vantagens comparativas; agro-negócio;
desenvolvimento económico; modelo de desenvolvimento.

Para PASSO (2009)2, a literatura corrente refere que o mercado regional repousa sobre seis
princípios fundamentais, sendo três de natureza política e três de natureza económica. Para
este autor os princípios de Natureza Política traduzem-se em: “a) igual oportunidade, isto é,
todos os participantes têm assegurado o pleno desenvolvimento de seus recursos e
possibilidades e, se forem pequenos e atrasados, terão tratamento adequado a esse menor
desenvolvimento económico relativo; b) voluntariedade, ou seja, que cada país membro
resolve, por livre arbítrio, participar da forma de integração no momento que julgar melhor; e
c) não exclusividade, que significa que não haverá, dentro da área integrada, blocos cerrados,
sendo os acordos acessíveis a todos”.

Enquanto que os princípios de Natureza Económica consistem em: “a) produtividade, o que
significa que a área integrada buscará o aumento da produtividade em regime de livre
concorrência para atingir progressiva especialização das actividades produtivas; b)
concorrência; c) especialização. O mercado regional será assim, multilateral e competitivo. ”

De acordo com a Secretaria da ACP (1997), citado por MURAPA (2000:156)3, Integração
Regional é “um movimento para estabelecer ligações entre um grupo de países dentro de um
determinado espaço geográfico, motivado pelos interesses comuns e compartilhados para
cooperação nas áreas de comércio e outros sectores económicos, com vistas a alcançar uma
zona de livre comércio e, subsequentemente, estabelecer uma união alfandegária”.
 
Neste trabalho, de acordo com o conceito de Integração Regional acima abordado, entende-se
por Integração Intercontinental as relações comerciais e de regionalização económica que

2
Artigo de Lodovico Sidónio Passo (Msc), extraído da Revista Científica Inter-Universitária, 2009. CAP - Centro de
Análise de Políticas da FLCS/UEM
3
Artigo elaborado por Rukudzo Murapa, Vice-Chanceler da Africa University (Zimbábue), consultor da UNDP, World
Bank e outras agências internacionais
5

se estabelecem entre continentes. O processo é caracterizado pela ampliação, interligação e


integração dos sistemas internacionais de produção, financeiros e sociais.

A integração Internacional, na visão de SMIT & MCCARTHY (2000), citado por


CHICHAVA (2009)4 é “o processo através do qual dois ou mais países se juntam numa
relação económica mais estreita do que cada um deles tem com o resto do mundo”. Para estes
autores “nem sempre é clara a sua distinção com a cooperação económica na medida em que
todos os esquemas de integração podem ser vistos como formas de cooperação económica”.

Este posicionamento encontra sustento em KRUGMAN & OBSTFELD (2006), também


citado por CHICHAVA (2009), que entendem que, “enquanto a cooperação tem uma
aplicação mais geral e limitada a acordos comerciais, a integração vai para além do
movimento de bens, serviços e factores de produção. Ela inclui o desmantelamento de
fronteiras económicas tais como tarifas e controlo migratório, e tem como objectivo
económico geral elevar o nível de vida nos países participantes, sobretudo quando leva a uma
substituição da produção doméstica de alto custo por importações de outros países membros
do acordo.

David Ricardo, autor do conceito de Vantagens Comparativas, citado por CHIAU5 (2008),
defende a “especialização das nações na produção de bens em que detêm vantagens
específicas comparativamente aos seus concorrentes”. Este autor explica ainda que “há
vantagens económicas da eliminação das barreiras do comércio internacional”. Alguns
autores fazem uma análise crítica e dão um subsidio à essas teorias, aproximando-os mais à
realidade porém todos convergem num aspecto central, apostar na especialização e ganhos
com o comércio.

CHICHAVA (2009)6, citando Hill (1998) e WTO (2001), menciona que “as teorias das
vantagens comparativas (vantagem da especialização da produção de cada país em função dos
seus recursos naturais ou do seu avanço tecnológico) desenvolvidas, em 1817, pelo
economista David Ricardo, e mais tarde explicadas por Eli Heckscher, em 1919, e Bertil

4
Artigo de José António da Conceição Chichava (PhD), extraído da Revista Científica Inter-Universitária, 2009. CAP -
Centro de Análise de Políticas da FLCS/UEM
5
CHIAU, Manuel Joaquim. A Cadeia de Produção Agro-Industrial e os Desafios da Integração Económica Regional na
SADC: O caso de Moçambique. Maputo, 2008, pp 73 (trabalho de diploma apresentado a Faculdade de Economia da
UEM, para a obtencao do grau de licenciatura em Economia)
6
Artigo de José António da Conceição Chichava (PhD), extraído da Revista Científica Inter-Universitária, 2009. CAP -
Centro de Análise de Políticas da FLCS/UEM
6

Ohlin, em 1933, deixaram de servir como explicação para o desenvolvimento do comércio


internacional, sendo, em parte, substituídas pela teoria da vantagem competitiva desenvolvida
por Michael Porter”.

CHIAU7 (2008:23), citando KRUGMAN & OBSTFELD (2000), refere-se as críticas feitas
por estes dois, relativamente a visão de que “sempre o comércio bem sucedido constitui
resultado de vantagens comparativas, ressalvando que pode também ser resultado de
economia de escala”. Ainda na visão crítica destes autores “as economias de escala dão aos
países o incentivo de se especializarem e comercializarem, mesmo não havendo diferenças
entre os países no que respeita aos seus recursos e suas tecnologias”. As economias de escala,
podem ser internas, no âmbito da firma ou externas no âmbito da indústria agregada”.

Apesar de KRUGMAN & OBSTFELD (2000) advogarem que o modelo de David Ricardo é,
em parte, irreal, a visão de apostar na especialização e ganhos com o comércio, na maioria
dos casos, tem sido confirmada e sublinhada por várias pesquisas.

Segundo BRESSER-PEREIRA (2006)8, O desenvolvimento económico “é um fenómeno


histórico que passa a ocorrer nos países ou Estados-nação que realizam sua revolução
capitalista; é o processo de sistemática acumulação de capital e de incorporação do progresso
técnico ao trabalho e ao capital que leva ao aumento sustentado da produtividade ou da renda
por habitante e, em consequência, dos salários e dos padrões de consumo de uma determinada
sociedade”.

Este autor entende que “uma vez iniciado, o desenvolvimento económico tende a ser
relativamente automático ou auto-sustentado na medida em que no sistema capitalista os
mecanismos de mercado envolvem incentivos para o continuado aumento do stok de capital e
de conhecimentos técnicos. Isto não significa, porém, que as taxas de desenvolvimento serão
iguais para todos: pelo contrário, variarão substancialmente dependendo da capacidade das
nações de utilizarem seus respectivos Estados para formular estratégias nacionais de
desenvolvimento que lhes permitam serem bem sucedidas na competição global”.

7
CHIAU, Manuel Joaquim. A Cadeia de Produção Agro-Industrial e os Desafios da Integração Económica Regional na
SADC: O caso de Moçambique. Maputo, 2008, pp 73 (trabalho de diploma apresentado a Faculdade de Economia da
UEM, para a obtencao do grau de licenciatura em Economia)
8
BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Conceito Histórico de Desenvolvimento Económico: Textos para discussão 157.
Escola de Economia, São Paulo, 2006, pp 24
7

CISTAC e CHIZIANE (2007)9 e VALA (2009)10, consideram que o desenvolvimento é “a


capacidade de satisfazer adequadamente as necessidades básicas humanas, tais como:
alimentação, habitação, saúde, água, educação e protecção social. Quando esses bens e
serviços faltam de forma drástica, está-se perante um estado de indigência ou de
subdesenvolvimento”.

Por sua vez, Oliveira (2002)11 defende que o desenvolvimento deve ser entendido como “um
processo complexo de mudanças e transformações de ordem económica, política e,
principalmente, humana e social”.

Para conceituar modelo de desenvolvimento tomar-se-á como base a visão segundo o portal
(conceito.de)12, que olha para o modelo como "um exemplar que se deve seguir pela sua
perfeição. Um modelo também é o esquema teórico de um sistema ou de uma realidade
complexa. Por outro lado, o desenvolvimento consiste em acrescentar ou em incrementar algo
de ordem física, intelectual ou moral. Quando o conceito de desenvolvimento se aplica a uma
realidade humana, refere-se, nesse caso, ao progresso económico, social, cultural ou político".

Segundo o PORTAL DO AGRONEGÁCIO13, o conceito de agro-negácio, agribusiness em


inglês, "foi proposto pela primeira vez em 1957, por Davis e Goldberg, como a soma das
operações de produção e distribuição de suprimentos agrícolas, processamentos e distribuição
dos produtos agrícolas e itens produzidos a partir deles. Assim, de acordo com o conceito de
agronegócio, a agricultura passa a ser abordada de maneira associada aos outros agentes
responsáveis por todas as atividades, que garantem a produção, transformação, distribuição e
consumo de alimentos, considerando assim, a agricultura como parte de uma extensa rede de
agentes económicos".

Esta visão também é partilhada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária


(EMBRAPA)14, que entende que o agronegócio "tem como escopo a soma das operações de

9
CISTAC,Gilles e CHIZIANE, Eduardo. Turismo e Desenvolvimento local. UEM, Maputo, 2007,pp 366
10
VALA, Cripton Salim, Desenvolvimento Rural em Moçambique Um desafio ao nosso alcance, 1ª ed., Maputo
11
OLIVEIRA, António PereiraTurismo e Desenvolvimento: Planeamento e Organização. 4 Edição, E Atlas S.A, São
Paulo, Brasil, 2002, pp 287
12
http://conceito.de/modelo-de-desenvolvimento, acessado ao 02/09/12
13
http://www.portaldoagronegocio.com.br/texto.php?p=oquee, acessado ao 03/09/12

14
http://www.embrapa.br/imprensa/artigos/2007/artigo.2007-01-24.7477201343, acessado ao 30/09/12
8

produção, comercialização e distribuição de suprimentos agrícolas, das operações de


produção nas unidades agrícolas, além do armazenamento, processamento, comercialização e
distribuição dos produtos agrícolas e dos itens produzidos a partir dos mesmos".
9

CAPITULO DOIS
ASPECTOS ECONÓMICOS DE MOÇAMBIQUE: CENÁRIO ACTUAL

2.1 Características gerais de Moçambique

"A República de Moçambique está localizada na faixa sul-oriental do continente africano,


entre os paralelos 10º27’ e 26º52’ de latitude Sul e entre os 30º12’ e 40º51’ de longitude
Leste. Faz fronteira com a Tanzânia, ao Norte; e com Malawi, Zâmbia, Zimbabwe e África do
Sul, na parte sudeste. A leste é banhado pelo Oceano Índico, em uma extensão de linha de
costa de 2515 quilômetros". MANGUE at all (2011)15 citando ARNALDO (2007)

"A superfície total do país é de 799.380 km2. Fazem parte 11 províncias administrativas
distribuídas em três grandes regiões (Norte, Centro e Sul). A Região Norte é composta pelas
províncias de Niassa, Cabo Delgado e Nampula; da Região Centro fazem parte as províncias
de Zambézia, Tete, Manica e Sofala e a Região Sul compreende as províncias de Inhambane,
Gaza, Maputo-Província e Maputo-Cidade. O país apresenta três tipos de relevo: o de planície
do litoral; planaltos e grandes planaltos; e montanhas". Ibdem

2.2 Contexto Socioeconómico

"A localização geográfica de Moçambique confere-lhe um importante corredor para entrada e


escoamento de produção dos países do interior (Malawi, Zâmbia, Zimbabwe) e ainda para
África do Sul, contribuindo assim, embora não de forma directa, para o desenvolvimento
desses países. Contudo, Moçambique ainda é um país muito pobre. Os avanços nos
indicadores de educação e longevidade, condicionados à ampliação da rede pública de ensino,
às aulas de alfabetização de adultos e à queda da mortalidade infantil, resultaram em uma
redução significativa da pobreza". PNUD (2005)16

15
MANGUE, João at ALL. MOÇAMBIQUE, 1997 A 2007: Aspectos Sociais, Econômicos, Demográficos e de Saúde.
Belo Horizonte, 2011, pp 18 (Texto para discussão nº432)
16
PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO. Centro de Documentação e Pesquisa para
África Austral (SARDC). Relatório Nacional do Desenvolvimento Humano de Moçambique 2008. O papel das
tecnologias de informação e comunicação na realização dos objectivos de desenvolvimento do milénio. Maputo, 2008.
10

"A economia de Moçambique tem registado um ritmo de crescimento anual satisfatório


(TAB. 1). Em 2006, o PIB cresceu 8,5%, o mais elevado desde 2003". MOÇAMBIQUE -
Banco Espírito Santo (2008)17.

TABELA 1: Indicadores socioeconômicos selecionados por região e geral, 2001-2006

Fontes: (a) Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, 2007; Programa das
Nações
Unidas para o Desenvolvimento, 2008

Em termos do crescimento do PIB o destaque cabe às províncias do Norte, embora em 2001 e


2002 o maior crescimento tenha sido registado nas províncias do Sul que, ao longo de todo
período considerado, apresentaram PIB per capita mais elevado. As províncias do Sul
também se sobressaem como aquelas de maior participação do PIB do país. Já as províncias
do Norte, detentoras do maior crescimento do PIB, contribuem com a menor parcela do PIB
de Moçambique, além de apresentarem os valores mais baixos per capita do indicador. Esse
quadro indica, além de heterogeneidade, grande complexidade no contexto de análise dos
indicadores econômicos de Moçambique.

A cidade de Maputo, que contribui com 18,5% do PIB nacional destaca-se pelo comércio. A
província de Maputo, com um peso de 14,5% do PIB do país, destaca-se na indústria

17
MOÇAMBIQUE. Banco Espírito Santo. República de Moçambique. Realidade e Futuro. Maputo [s.n.], 2010.
Disponível em: <http://www.bes.pt/sitebes/cms.aspx?plg=e9840b56-68ba-4129-b429- b139c1f5a97c> Acesso em: 25
abril 2011.
11

manufatureira. As províncias do Centro, como Zambézia, Sofala e Tete, destacam-se,


respectivamente, pela agricultura, pecuária e silvicultura; transportes e comunicações;
electricidade e água PNUD (2008)18 e MOÇAMBIQUE - Banco Espírito Santo (2008)19.

TABELA 2: Percentual da população abaixo da linha de pobreza por situação censitária


(urbano e rural), Moçambique, 1997 e 2005

Fonte: MOÇAMBIQUE.MISAU. Observatório da equidade, 2010

Os índices relativos à qualidade de vida indicam que, no geral, a pobreza rural baixou de
71,3% em 1997 para 55,3% em 2005. No meio urbano, passou de 62,0% para 51,5% (TAB.
2). De acordo com MOÇAMBIQUE.MISAU (2010), o Índice de Pobreza Humana (IPH) de
Moçambique passou de 55,9% em 1997 para 48% em 2003.

2.2.1 Estrutura dos sectores produtivos da economia nacional

A economia moçambicana é dominada por três Sectores, nomeadamente o sector de Serviços


que compreende o comércio, serviços de reparação, restaurantes, hotéis, transportes e
comunicações, finanças e serviços do governo; o sector Agrário e o sector da Indústria. “O
FMI estimava em 2004 que os três Sectores contribuem para o PIB nacional em 98 porcento.
Com base nos dados do FMI de Setembro 2005, a contribuição do sector industrial no PIB em
2004 situou-se em 27.3 porcento, enquanto a construção e o sector manufactureiro foi 9.6
porcento e 14 porcento respectivamente". GOVERNO (2012)20

18
PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO. Centro de Documentação e Pesquisa para
África Austral (SARDC). Relatório Nacional do Desenvolvimento Humano de Moçambique 2008. O papel das
tecnologias de informação e comunicação na realização dos objectivos de desenvolvimento do milénio. Maputo, 2008.
19
MOÇAMBIQUE. Banco Espírito Santo. República de Moçambique. Realidade e Futuro. Maputo [s.n.], 2010.
Disponível em: <http://www.bes.pt/sitebes/cms.aspx?plg=e9840b56-68ba-4129-b429- b139c1f5a97c> Acesso em: 25
abril 2011.
20
http://www.portaldogoverno.gov.mz/docs_gov/estrategia/agricultura/Estrategia_DesenAgrario.pdf. Acesso em: 25 abril
2011
12

Em termos práticos, "a economia de Moçambique é essencialmente agrária. A agricultura


moçambicana é predominantemente de subsistência, caracterizando-se por baixos níveis de
produção e de produtividade". MINAG (2011)21

2.2.2 Contribuição do sector agrário (actividade principal) para a economia nacional

"Moçambique tem sido um dos países da África com maior desempenho económico nos
últimos anos, tendo alcançado uma taxa média de crescimento económico anual de 7% no
período compreendido entre 1994 e 2010. A taxa de crescimento desceu para 6,7% em 2008,
como resultado do aumento do preço dos alimentos e do petróleo. A taxa de crescimento em
2009 foi de 6,1 % e a projecção para 2010 é de 6,3%. O sector agrário é um pilar da economia
nacional. Em 2010 contribuiu com 23% para o Produto Interno Bruto (INE). Para além disso,
a agricultura emprega 90% da força laboral feminina do país e 70% da força laboral
masculina. Isto significa que 80% da população activa do país está empregue no sector
agrário". MINAG (2011)

A taxa de crescimento da agricultura para o PIB tem variado entre 5% e 11% (gráfico 1.)

GRÁFICO 1: Evolução das taxa de crescimento do PIB e da taxa de crescimento da


contribuição do sector agrário para o PIB).

Fonte:  INE,  CAADP22

"Como resultado da recuperação económica das últimas duas décadas, o País fez grandes
progressos na redução da pobreza e na melhoria de outros indicadores sociais. A incidência da

21
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA. Plano Estratégico para o Desenvolvimento do Sector Agrário - PESDA.2011
22
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA. Plano Estratégico para o Desenvolvimento do Sector Agrário - PESDA.2011
13

pobreza reduziu de 69,4% em 1996-1997 para 54,1% em 2002-2003, e o Plano de Acção para
a Redução da Pobreza Absoluta - PARPA II - visava diminuir esta incidência para 45% em
2009 (este objectivo está presentemente em fase de avaliação). Não obstante os progressos
atingidos, a situação continua critica pois quase 10 milhões de pessoas vivem em pobreza
absoluta, com problemas de insegurança alimentar, baixos rendimentos e desemprego.
Embora a pobreza tenha reduzido mais nas zonas rurais do que nas zonas urbanas, continua a
ser maior nas zonas rurais". MINAG (2011)

A pobreza rural deve-se sobretudo ao limitado desenvolvimento da agricultura, ao


limitado acesso ao mercado e à fraca produtividade das culturas alimentares. O
desenvolvimento da agricultura é fundamental para reduzir a pobreza pois 80% do
rendimento das famílias rurais provem do sector agrário e os restantes 20% dos outros
sectores da economia. TIA (2002) e CAP (2000) citado por MINAG (2011).

"A agricultura tem também um papel essencial na segurança alimentaria e nutricional. Para
a maioria das pessoas no meio rural a agricultura é a sua principal fonte de alimentos e de
rendimento. Sendo a produção agrícola doméstica altamente variável, com uma fraca
comercialização de alimentos básicos, e havendo restrições na disponibilidade de divisas
para satisfazer as necessidades alimentares por meio de importações, o aumento e a
estabilização da produção doméstica é essencial para se atingir segurança alimentar". Ibdem
14

CAPITULO III
INTEGRAÇÃO REGIONAL, INTERCONTINENTAL E INTERNACIONAL
ANÁLISE DOS DESAFIOS E PERSPECTIVAS

Após a contextualização socioeconômica de Moçambique, precisamente da estrutura dos


sectores produtivos da economia nacional, a análise terá maior incidência sobre a contribuição
do sector agrário para a economia nacional dado facto de, de acordo com a revisão
bibliográfica, este constituir a essência da economia moçambicana (actividade principal), ou
seja, onde se encontra a maior parte de intervenientes.

3.1 Desafios

O mercado nacional tem um papel vital porque consome a produção interna porém
Moçambique continua dependente dos mercados a nível regional e internacional, sobretudo
para aquisição de cereais e outros produtos básicos, como forma de fazer face à incapacidade
interna de produção. Este cenário coloca Moçambique numa posição desprivilegiada,
relativamente à integração regional, intercontinental e internacional.

A concorrência no mercado internacional é renhida e favorece naturalmente aos países menos


importadores e mais exportadores. No entanto, resumindo o que foi anteriormente abordado
por MINAG (2011)23, entende-se que, pesa embora Moçambique tenha liberalizado a
importação de factores de produção para a agricultura, continua sendo altamente dependente
de importações de bens de consumo e não de investimento. Este facto coloca o país, uma vez
mais, em situação de grande desafio, a ter que reverter o cenário para poder estar ao pé de
igualdade com os membros da região e outros.

Por outro lado, o grande desafio seria a aposta, que o país deve fazer, nas vantagens
comparativas, uma vez que Moçambique tem condições específicas para produção de
algumas culturas. Assim, estaria propiciado um ambiente para melhorar a competitividade do
agro-negócio moçambicano.

A aposta devia se estender, também, para a melhoraria da precariedade das infraestruturas que
propiciam a carestia e dificuldades no escoamento dos produtos. Enquanto for mais caro
importar cereais entre as províncias, e mais barato no exterior do país, a competitividade
agrícola vai ser baixa.

23
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA. Plano Estratégico para o Desenvolvimento do Sector Agrário - PESDA.2011
15

Um aspecto, não menos importante, prende-se com a falta de uma plataforma eficaz de
certificação de qualidade e de autenticidade dos produtos moçambicanos, por parte dos
pequenos produtores. A burocracia e outros factores externos não facilitam aos pequenos
produtores, na medida em que estes revelam dificuldades para colocar seus produtos no
mercado regional dada falta de prova de certificação da autenticidade dos mesmos.

O outro desafio vai para a melhoria da actual mão-de-obra nacional. O país assinalou
melhorias na educação e formação de quadros porém ainda está aquém de fazer face aos
desafios tecnológicos que se impõem actualmente, entre tanto, Moçambique precisa investir
na qualificação da mão-de-obra. No caso do sector agrário, urge transferir as tecnologias
resultantes da investigação para junto dos pequenos produtores que constituem a grande
maioria.

Como foi possível constatar nas várias literaturas consultadas, e que abordam questões de
desenvolvimento económico de Moçambique, nenhuma faz referência a existência de um ou
mais modelos específicos de desenvolvimento. Portanto, a necessidade de definição clara de
um ou mais modelos de desenvolvimento moçambicano também constitui um desafio que
deve estar na ordem das prioridades.

3.2 Perspectivas

Moçambique poderá estar em situação de privilégio se, relativamente a importação de bens de


consumo, optar pela menor dependência possível do mercado regional bem como
internacional. O país poderá experimentar um cenário onde assume o papel de maior
exportador regional, se apostar nas vantagens comparativas, uma vez que tem condições
específicas para produção de certas culturas de rendimento bem como de consumo. Neste
prisma, o agro-negócio moçambicano será competitivo.

A construção e/ou melhoria da precariedade das infraestruturas irá facilitar o escoamento dos
produtos e reduzir o preço, dando estímulo, incentivo e vantagens adicionais, sobretudo, aos
pequenos produtores. Com infraestruturas em condições melhoradas, será mais barato fazer
importações inter-provinciais de cereais, não havendo necessidade de recorrer ao exterior do
país para o efeito.

Se houver uma plataforma eficaz que permita, os pequenos produtores, certificarem a


qualidade e a autenticidade dos produtos moçambicanos, haverá maior incentivo por parte dos
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mesmos, na medida em que haverá cada vez menos barreiras para colocarem seus produtos no
mercado regional.

Se Moçambique assinalar muitas melhorias na educação e formação técnico-profissional, e se


houver também um investimento adicional para a divulgação dos resultados da investigação,
transferências de tecnologias, para os pequenos produtores (grande maioria), terá uma mão-
de-obra super competitiva regionalmente.

Por último porém não menos importante, se o país definir, com clareza, o modelo ou modelos
de desenvolvimento económico, haverá pouca ou quase nenhuma dispersão na prossecução de
actividades que visam alcançar o desenvolvimento.
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CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES

A materialização dos objectivo e/ou das perspectivas de desenvolvimento económico do


Estado moçambicano, relativamente a Integração Regional; Intercontinental e Internacional,
em última análise, dependem da acomodação das recomendações feitas a partir dos resultados
da investigação científica nacional, a nível de vários sectores, sobretudo o sector agrário.
Entre vários desafios que o país deverá vencer, o destaque vai, indubitavelmente, para a
aposta nas vantagens comparativas; a alta competitividade do agro-negócio moçambicano; a
melhoria da qualidade da mão-de-obra; a melhoria de infraestruturas e a definição clara de
modelos de desenvolvimento económico.
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BIBLIOGRAFIA

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Textos para discussão 157. Escola de Economia, São Paulo, 2006, pp 24

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(trabalho de diploma apresentado a Faculdade de Economia da UEM, para a obtencao do grau
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alcance, 1ª ed., Maputo
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Artigos
Artigo de Lodovico Sidónio Passo (Msc), extraído da Revista Científica Inter-Universitária,
2009. CAP - Centro de Análise de Políticas da FLCS/UEM

Artigo elaborado por Rukudzo Murapa, Vice-Chanceler da Africa University (Zimbábue),


consultor da UNDP, World Bank e outras agências internacionais

Artigo de José António da Conceição Chichava (PhD), extraído da Revista Científica Inter-
Universitária, 2009. CAP - Centro de Análise de Políticas da FLCS/UEM

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Maputo [s.n.], 2010. Disponível em: <http://www.bes.pt/sitebes/cms.aspx?plg=e9840b56-
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