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Formas Clínicas
Suas várias formas de apresentação incluem implantes peritoneais superficiais e
profundos ( descreve as formas infiltrativas da doença que envolvem os ligamentos
uterossacros, septo retovaginal, intestino, ureteres e/ou bexiga. Alguns autores a
definem como a endometriose que penetra mais de 5 mm da superfície peritoneal),
aderências e cistos ovarianos. As aderências podem ser mínimas ou extensas e,
neste último caso, envolvem frequentemente o intestino, a bexiga e o ureter. Os
cistos endometrióticos maciços comumente distorcem a anatomia tubo-ovariana
(umas da teorias para a alta incidência de infertilidade dessas pacientes). Pacientes
com endometriose profunda podem ser totalmente assintomáticas, enquanto
aquelas com endometriose leve e moderada podem apresentar dor incapacitante.
Este paradoxo pode ser explicado pela hipótese dos sintomas se correlacionarem
mais com a reação inflamatória peritoneal local do que com o volume dos implantes.
Forma Macroscópica
A endometriose peritoneal pode ser reconhecida por meio de lesões típicas e
atípicas. As lesões atípicas se apresentam através de vesículas, lesões vermelhas
em chama de vela, defeitos peritoneais (janela peritoneal) e finas aderências (em
véu de noiva) no hilo ovariano ou no fundo de saco posterior.
As lesões típicas são consideradas de acordo com sua evolução e idade, a saber:
Vermelhas:são muito ativas. Podem se apresentar como petéquias;
Pretas: são menos ativas. Descritas como “queimadura por pólvora”. Podem se
apresentar como nódulos pretos, castanho-escuros (café com leite) ou azulados, ou
como pequenos cistos contendo hemorragia antiga circundada por um grau variável
de fibrose;
Brancas: são consideradas resquícios cicatriciais.
A evolução ocorre num período aproximado de 7 a 10 anos. Com a progressão da
idade, ocorre uma diminuição do número de lesões avermelhadas e um incremento
das lesões escuras ou das cicatriciais. No entanto, vale ressaltar que nem todas as
lesões seguem rigorosamente a evolução natural.
Na microscopia, são observadas glândulas e estroma endometriais com ou sem
macrófagos repletos de hemossiderina. (não tem no slide, mas tem que citar)
Sítios de Envolvimento
A endometriose pélvica incide nos ovários, ligamentos uterossacros, fundo de saco
posterior, folheto posterior do ligamento largo, fundo de saco anterior, vagina,
cérvice e septo retovaginal.
A endometriose extrapélvica, embora seja assintomática na maioria dos casos,
deve ser suspeitada quando há dor e/ou massa palpável fora da pelve com um
padrão cíclico de aparecimento. O local mais comum de doença extrapélvica é o
intestino, principalmente o cólon e o reto.
● Endometriose Ovariana → No ovário, a lesão característica é o
endometrioma (cisto endometrioide), que se apresenta como estrutura cística
com conteúdo líquido espesso e achocolatado cercado de áreas de fibrose.
Os endometriomas ovarianos estão presentes em 17 a 44% das mulheres
com endometriose. São mais comuns no lado esquerdo devido à presença do
sigmoide, que dificulta o trânsito do sangue menstrual.
● Endometriose do Trato Gastrointestinal (TGI) → O acometimento pode ser
superficial, limitado à serosa, ou profundo, quando atinge a muscular. Neste
último caso, raramente perfura a mucosa. Além disso, além dos sintomas,
como desconforto e distensão abdominal, constipação ou diarreia (mais
frequente), náuseas e vômitos, dores em hipo ou mesogástrio, apresenta
sangramento recorrente cíclico (hematoquezia). Tenesmo, diminuição do
calibre das fezes, urgência para defecar e dor baixa posterior, principalmente
no período menstrual, podem se manifestar. A dispareunia profunda está
frequentemente presente quando há acometimento retal. Em caso de lesões
extensas e antigas, não é incomum a evolução para obstrução intestinal.
Diagnóstico Clínico
A endometriose caracteriza-se principalmente por dor (dismenorreia, dispareunia e
dor pélvica crônica) e infertilidade.
Dismenorreia → É a queixa mais comum das pacientes com endometriose e,
geralmente, se inicia a partir da terceira década de vida. Possui caráter progressivo,
ou seja, aumenta de intensidade com o passar do tempo. A intensidade progressiva
e o seu aparecimento após longo tempo de menstruações indolores são altamente
sugestivos de endometriose, embora não sejam patognomônicos. A dor é difusa,
referida profundamente na pelve e intensa. Pode irradiar para a região lombar ou
para as coxas. Pode estar associada à sensação de compressão retal, náuseas e
episódios diarreicos.
Dispareunia → A dispareunia associada à endometriose caracteriza-se pelo início
recente (ou seja, não está presente desde o primeiro ato sexual), pela maior
intensidade com a penetração profunda, por anteceder a menstruação e
correlaciona-se com o envolvimento do fundo de saco e do septo retovaginal.
Dor Pélvica Crônica → A dor da endometriose parece resultar da ação de citocinas
inflamatórias na cavidade peritoneal, dos efeitos diretos e indiretos do sangramento
nos implantes e da irritação ou infiltração direta de nervos pélvicos.
Infertilidade → A endometriose é intimamente associada à infertilidade. Cerca de 20
a 40% das pacientes inférteis apresentam a doença.
EXAME FÍSICO → O exame físico é fundamental na propedêutica da
endometriose, principalmente profunda. Ele se fundamenta na identificação por
visão direta de nódulos azulados ou marrons da vagina e do colo do útero pelo
exame especular ou através de vaginoscopia nas pacientes virgens. Na palpação
abdominal, grandes endometriomas podem estar presentes em fossas ilíacas, assim
como a queixa de dor à palpação profunda. O toque bimanual permite a
investigação tátil da vagina e colo do útero; as dimensões, a superfície, a
consistência, a mobilização do útero e dos anexos, assim como dos ligamentos
uterossacros e da região retrocervical. Este deve ser realizado preferencialmente à
época da menstruação, quando a sensibilidade é mais facilmente detectada.
Diagnóstico por imagem
O exame clínico apresenta limitações para estabelecer a extensão das lesões
endometrióticas profundas2,3 (A), tornando necessária a utilização de outras
ferramentas para auxiliar no diagnóstico e estadiamento da doença. Durante muito
tempo a videolaparoscopia foi o único método considerado adequado para este fim,
restando para os métodos de imagem, principalmente ultrassom transvaginal e
ressonância magnética, o papel de auxiliar na avaliação da endometriose ovariana.
Inicialmente, o USTR era o método mais utilizado para a avaliação do
retossigmoide, mas atualmente a tendência dos Centros de Referência é
desenvolver a metodologia por RM e USTV, por serem mais abrangentes e haver
mais equipamentos instalados. Os dois métodos são eficientes no estadiamento
global da endometriose, com vantagem da RM nos pequenos endometriomas
ovarianos e do ultrassom (transabdominal associado ao transvaginal) nos sítios
intestinais. Como a detecção das lesões intestinais é prioritária, vários artigos têm
defendido recentemente o ultrassom (transabdominal associado ao transvaginal)
como método de primeira escolha para as pacientes com suspeita de
endometriose.3,9,12 Na maioria dos artigos publicados na literatura, o exame de
USTV é realizado sem preparo intestinal12,18, mas, no nosso meio, predomina o
exame com preparo intestinal prévio, pela maior facilidade na detecção do(s)
nódulo(s), determinação das camadas e da distância da borda anal.3,9 O USTV e a
RM também têm um papel fundamental no controle evolutivo do tratamento clínico
e/ou cirúrgico. De forma geral recomendamos controle com exames especializados
anuais, ou, a qualquer tempo, caso hajam novos dados clínicos que indiquem a
necessidade de reavaliação.
Diagnóstico por Laparoscopia
O diagnóstico clínico e por imagem é importantíssimo e suficiente para o início da
terapia e seguimento na maioria dos casos, sendo a videolaparoscopia indicada
para o tratamento de casos graves, na suspeição diagnóstica com esclarecimento
de exames de imagem especializados normais (pode haver lesões superficiais não
detectáveis com os métodos de imagem), na presença de massa anexial ou pélvica
suspeita e nas pacientes sem resposta adequada ao tratamento clínico de primeira
linha.Nos casos indicados, deve-se proceder a laparoscopia para confirmar o
diagnóstico de endometriose. Em geral, este diagnóstico definitivo é necessário para
planejar terapias mais agressivas, na dor pélvica de difícil controle, em casos
selecionados de infertilidade ou quando o tratamento cirúrgico encontra-se
formalmente recomendado. Idealmente, deve ser seguida a recomendação de “see
and treat” (ver e tratar). O diagnóstico definitivo e padrão-ouro da endometriose é a
videolaparoscopia com biópsia e confirmação histológica. Durante a laparoscopia, o
aspecto visual sugestivo de endometriose, quando comparado ao diagnóstico
histológico definitivo, apresenta sensibilidade entre 94% e 97%. Importante
ressaltar que a histologia positiva para endometriose confirma o diagnóstico, mas a
histologia negativa não o exclui.
Classificação da Endometriose
A classificação da endometriose está em constante mudança, desde seu início. Isso se dá
por que as classificações variam de acordo com o método usado. Dentre elas temos:
Classificação Usada Pela ASRM: Essa classificação vem sendo alterada desde 1979,
para que se adeque melhor ao tema estudado. É um método que utiliza um escore para
graduar a endometriose em estágios (mínimo, leve, moderado e severo), esse método
apesar de ser bem reproduzível, conta com problemas como a arbitrariedade que foi
utilizada para o peso de cada escore, Além disso, novos estudos estão constantemente
procurando novos parâmetros e critérios para auxiliar nessa classificação.
Classificação baseada em Achados Macroscópicos: Nesta classificação temos 3
categorias, endometriose peritoneal superficial, endometriose cística, endometriose
infiltrativa. O uso desta classificação tem conseguido correlacionar sintomas clínicos como a
dismenorreia com profundidade e localização da lesão, porém, em muitos casos existem
uma sobreposição de lesões que leva a uma dificuldade de interpretação dos achados.
Além disso, encontra-se a maior relação entre superficialidade com infertilidade e
profundidade com dor.
Classificação baseada na fertilidade e endometriose: É uma classificação
subjetiva que varia de acordo com o cirurgião que analisa a situação, pois leva em
consideração diversos fatores como história obstétrica anterior, porcentagem e
aspecto das aderências. Essa classificação é caracterizada como
examinador-dependente.
Classificação Enzian: Em 2011, Haas e colaboradores propuseram um escore
denominado ENZIAN (figura 4), introduzido para fornecer uma maneira de
documentar melhor a endometriose profunda. Esta classificação veio suplementar o
escore da ASRM em relação da descrição da endometriose profunda, estruturas
retroperitoneais e envolvimento de outros órgãos. Este escore também avalia a
doença em três compartimentos, assim como analisa a severidade da endometriose
dependendo da sua disseminação na cavidade pélvica. Avalia a presença de
doença à distância, o tamanho das lesões observadas e a bilateralidade da doença.
Os autores acreditam que tal classificação é mais complexa e mais precisa quando
comparada à da ASRM, pois permite várias classificações em diferentes
compartimentos e órgãos, e sugerem seu uso associado à classificação
internacionalmente aceita da ASRM.
Abordagem Clínica e Tratamento da Endometriose.
Existe uma variedade de opções de tratamento para pacientes com endometriose. Estas
incluem:
● Conduta expectante;
● Analgesia com anti-inflamatórios não esteroidais;
● Contraceptivos orais;
● Terapia com progestogênios, danazol, análogos do GnRH;
● Tratamento cirúrgico com videolaparoscopia ou laparotomia. A cirurgia pode ser
conservadora (mantém o útero e o ovário) ou definitiva (histerectomia e ooforectomia
bilateral). A única forma de tratar a doença definitivamente é através da cirurgia.
Consiste na ooforectomia bilateral, com a consequente suspensão da produção de
esteroides sexuais;
● Terapias combinadas em que o tratamento clínico é oferecido antes e/ou após a
cirurgia.
Os tratamentos clínico e cirúrgico são recomendados para pacientes que apresentam
sintomas mais graves. Para pacientes em que a doença se caracteriza por dor pélvica,
infertilidade ou massa pélvica, as decisões terapêuticas dependerão da queixa principal da
paciente e dos seus objetivos terapêuticos.
O tratamento hormonal tem por objetivo a inibição da produção de estrogênio, que é um
indutor de crescimento do tecido endometrioide. A terapia medicamentosa não cura a
doença na maioria das vezes.
As diversas drogas e seus mecanismos de ação para o tratamento da endometriose
apresentam eficácia semelhante, com exceção dos contraceptivos orais em que esta é algo
inferior. Por outro lado, seus efeitos colaterais são aceitáveis e permitem uma melhor
adesão ao tratamento. Os estudos disponíveis até o momento evidenciaram uma eficácia
semelhante entre o danazol, os análogos do GnRH e a gestrinona, no que diz respeito ao
alívio de sintomas e redução do tamanho de focos endometrióticos.
Assim, como não há superioridade nítida de um medicamento sobre o outro, a questão de
preço e tolerância para cada droga deve ser avaliada.
ACO
O uso de anticoncepcional oral combinado pode ser feito de maneira ciclica ou contínua,
sendo que nenhuma das duas maneiras prevalece, comprovadamente, sobre a outra em
questão de eficácia. No seu uso cíclico apresentou uma redução da dismenorreia em até 6
meses após o início do uso, com resultados inferiores para a dispareunia. Apesar de não
haver estudos que comprovem, acredita-se que o uso contínuo apresenta melhores
resultados que o uso cíclico.
DIU-Levonogestrel
No estudo feito, mulheres no estado pós cirúrgico foram submetidas à implantação de DIU
de Levonogestrel ou de um DIU inerte de maneira randomizada. Após 3 meses de estudo,
as mulheres que utilizavam o DIU-Levonogestrel, correspondentes ao grupo teste,
apresentaram significativa melhora nas dores e no fluxo menstrual, além de relatarem uma
melhora na qualidade de vida (Apesar de não ser um quesito mensurado no estudo).
Danazol
Os análogos de GnRH competem com o GnRH, ligando-se aos seus receptores. Eles
produzem uma menopausa medicamentosa, com todos os sintomas característicos deste
período. Os análogos são inativados por via oral e, portanto, só podem ser administrados
pelas vias nasal, subcutânea ou intramuscular. Apresentam um bom resultado sintomático.
Despertam como efeitos colaterais: fogachos, ressecamento vaginal, redução da libido e
dispareunia. A perda da matriz óssea pode ser importante (pode chegar a 5% na coluna
lombar em seis meses). A paciente deve ser monitorada pela realização de densitometria
óssea, principalmente quando o tratamento durar mais de seis meses. Quando o tratamento
durar mais de seis meses ou em pacientes com fator de risco para osteoporose, seu uso
pode ser associado à add-back therapy, ou seja, o emprego de algum tipo de estrógeno ou
associação de estrógeno com progestógeno que, apesar de poder diminuir parcialmente o
efeito da terapia, evitaria a osteoporose quando utilizado por até 24 meses. Não é prudente
fazer uso deste artifício por mais de 12 meses. Após este período, nem mais esta estratégia
é capaz de impedir uma osteoporose precoce.
Gosserrelina: 3,6 mg, por via subcutânea, mensalmente, ou 10,8 mg, a cada 3 meses −
Leuprorrelina: 3,75 mg, por via intramuscular, mensalmente, ou 11,25 mg, a cada 3 meses −
Triptorrelina: 3,75 mg, por via intramuscular, mensalmente, ou 11,25 mg, a cada 3 meses
AINES
Os anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) devem ser administrados vários dias antes do
início da menstruação, a fim de bloquear a formação de prostaglandina que leva a dor e
inchaço associado a endometriose. Para o tratamento da endometriose, a maior dose de
AINE tolerada pelo paciente deve ser administrada. Se o primeiro AINE não é efetivo após 4
a 6 semanas, outro AINE deve ser tentado por causa da variabilidade na resposta à droga
entre indivíduos. Nenhum AINE foi observado como sendo superior a outro. Para o manejo
da endometriose, um AINE pode ser combinado com outro agente farmacológico, como
contraceptivos hormonais. Os AINEs não devem ser administrados de forma crônica pois
podem resultar em lesões renais levando a uma redução na taxa de filtração glomerular,
podem diminuir os efeitos de anti-hipertensivos, como também aumentar a toxicidade do
lítio em pessoas que necessitam de estabilizadores do humor.
Novas Perspectivas
TRATAMENTO CIRÚRGICO
Esta proposta permite que apenas pacientes selecionadas sejam encaminhadas aos
centros especializados, ou seja, aquelas que tenham a soma dos escores ≥4. As pacientes
com escores de 0 a 3 poderão ser acompanhadas pelo ginecologista, com tratamento
hormonal na maioria dos casos. No escore 4, metade das pacientes foram operadas, isto
mostra a necessidade de avaliação pelo especialista, que uma vez não indicando conduta
cirúrgica, encaminhe novamente a paciente ao seu ginecologista.
Endometriose e Dor
Endometriose e Infertilidade
ENDOMETRIOSE E INFERTILIDADE
EPIDEMIOLOGIA:
Existe grande associação entre endometriose e a infertilidade, sendo que alguns estudos
mostram que entre 25 a 50% das mulheres inférteis são portadoras de endometriose; e que
30 a 50% das mulheres com endometriose apresentam infertilidade. (FEBRASGO, 2018).
A abordagem da paciente com endometriose e infertilidade é controversa, uma vez que
muitas condutas não foram avaliadas em ensaios clínicos randomizados, o que reduz o
nível de evidência para as recomendações. Portanto, deve ser considerado o quadro clínico
da paciente, sua idade, sintomas, tempo de infertilidade e presença de outros fatores de
infertilidade. (FEBRASGO, 2018).
FISIOPATOLOGIA:
O mecanismo pelo qual a endometriose causa a infertilidade ainda é obscuro. Quando a
doença é avançada, a distorção da anatomia pélvica, aderências e oclusão tubária
apresentam óbvia relação causal com a infertilidade. A maioria das mulheres, entretanto,
apresenta-se com endometriose mínima e/ou moderada, sem evidência física de problema
na liberação e/ou captura de ovócitos e sem disfunções anatômicas. Esse grupo de
pacientes com formas leves de endometriose e com fecundidade reduzida ainda constitui
objeto de discussão. (CROSERA et al, 2010).
Estudos descrevem anormalidades endócrinas como crescimento folicular alterado ou sua
diminuição, fase folicular curta, insuficiência lútea, síndrome do folículo luteinizado (LUF) e
maior incidência de hiperprolactinemia em pacientes portadoras de infertilidade associada à
endometriose. (CROSERA et al, 2010).
Outros estudos descrevem também a participação de células imunológicas, como
linfócitos, células natural killers, macrófagos ativados e concentrações elevadas de
interleucinas 2 (IL-2) (resposta Th-1) dosada no fluido peritonial como causa da persistência
e progressão dos implantes, e determinam uma associação com a infertilidade. (CROSERA
et al, 2010).
Ainda no ambiente peritonial, caracterizado pelo aumento das prostaglandinas, de
citocinas locais, e aumento do estresse oxidativo. Algumas citocinas interfeririam na
interação entre os gametas, na reação acrossômica e na motilidade dos espermatozoides,
assim como no desenvolvimento embrionário. (CROSERA et al, 2010).
Talvez todos os fatores possam agir sinergicamente. (CROSERA et al, 2010).
DIAGNÓSTICO:
O diagnóstico da infertilidade associada à endometriose é muitas vezes tardio, havendo um
retardo diagnóstico de cerca de três anos. Este retardo é menor do que o presente em
pacientes com sintomatologia apenas dolorosa ou naquelas com endometriose profunda,
mas ainda é importante. Os métodos de imagem contribuem de forma significativa para o
diagnóstico definitivo de endometriose, porém, ainda há uma questão a ser respondida
sobre quando uma laparoscopia deve ser realizada para confirmar o diagnóstico. Uma série
de dados pode ser utilizada para selecionar as pacientes a serem submetidas à cirurgia,
como sintomatologia dolorosa pélvica (dismenorreia, dispareunia, dor pélvica crônica etc.),
história familiar, abstinência escolar ou ao trabalho, alteração do exame físico (nodularidade
em fundo de saco vaginal, espessamento de ligamentos uterossacros), massa anexial e os
dados obtidos com os exames de imagem especializados. (FEBRASGO, 2015).
A ultrassonografia e a ressonância magnética auxiliam na avaliação do endometrioma
ovariano e da endometriose profunda, tendo pouco auxílio em endometriose mínima ou
leve, casos em que o diagnóstico somente será confirmado com a laparoscopia. O uso de
marcadores sorológicos como o CA 125, CA 19-9, interleucinas não apresenta utilidade
clínica e a classificação da endometriose segundo os critérios da ASRM não possui uma
boa correlação com taxas de concepção, assim como com prognóstico fértil. Desta forma, o
manejo da infertilidade associada à endometriose acaba sendo baseado não no tratamento
das lesões, mas na tentativa de resolução do quadro de infertilidade da paciente.
(FEBRASGO, 2015).
TRATAMENTO:
O tratamento medicamentoso hormonal para supressão ovariana em pacientes com
infertilidade e endometriose não deve ser prescrito, pois não existe evidência científica de
qualquer benefício no tocante à melhora da fertilidade. A única medicação que pode auxiliar
na melhora das taxas de gestação são os análogos de GnRH, quando utilizados por até 3
meses, porém especificamente antes da fertilização in vitro (FIV). (FEBRASGO, 2018).
Uma alternativa para essas pacientes é o tratamento cirúrgico da endometriose para
melhora da fertilidade. Nas pacientes com endometriose estádio I e II é recomendado
realizar exérese dos focos, e não apenas a laparoscopia diagnóstica. Quanto às pacientes
com estádio III e IV não existe consenso se é indicada abordagem cirúrgica apenas para
tratamento da infertilidade. Alguns trabalhos indicam melhora das taxas de sucesso da FIV,
quando precedida pela cirurgia. (FEBRASGO, 2018).
Em pacientes com endometrioma ovariano, o procedimento cirúrgico deve ser indicado nos
endometriomas volumosos ou com dúvida para comprovação histológica, controle da dor ou
para facilitar o acesso aos folículos no momento da captação oocitária. Nos casos em que a
cirurgia for indicada é preferível realizar a exérese da cápsula do cisto ao invés de
drenagem e eletrocoagulação da parede do cisto. (FEBRASGO, 2018).
TRATAMENTO PÓS-OPERATÓRIO:
Nos últimos 20 anos, o uso de agonista de GnRH tem sido incorporado a protocolos de
estimulação ovariana e, hoje, mais de 85% dos ciclos de FIV realizados utilizam alguns dos
agonistas do GnRH disponíveis no mercado. Com o uso deles, conseguiu-se diminuir a
incidência de luteinização prematura de 20 para 2% e o recrutamento de uma maior número
de folículos. (CROSERA et al, 2010).
Alguns estudos, contudo, sugerem haver um aumento nas taxas de gravidez se uma
supressão prolongada com agonista do GnRH for realizada antes do ciclo de reprodução
assistida. (CROSERA et al, 2010).
A administração de agonista de GnRH por três meses, antes da hiperestimulação ovariana
controlada em mulheres inférteis com endometriose, tem resultado significativamente mais
alto em taxas de gravidez em curso após FIV — do que apenas hiperestimulação ovariana
controlada, em pacientes similares. (CROSERA et al, 2010).
A terapia ultralonga com agonista do GnRH após cirurgia pode aumentar a taxa de gravidez
em ciclos de reprodução assistida nas pacientes com endometriose avançada. Esse achado
é especialmente evidente em pacientes submetidas à FIV ou injeção intracitoplasmática de
espermatozoide (ICSI). Assim, pacientes com estágios avançados de endometriose (III-IV)
deverão se beneficiar da terapia ultralonga com a-GnRH. Em contrapartida, pacientes com
estágios (I-II) de endometriose não se beneficiarão com esse tratamento. (CROSERA et al,
2010).
A administração de análogos de GnRH por um período de três a seis meses antes da FIV
ou da ICSI,em mulheres com endometriose, aumentam em quatro vezes a probabilidade de
gravidez clínica. (CROSERA et al, 2010).
CONCLUSÃO INFERTILIDADE:
Sendo assim, o tratamento da infertilidade associada à endometriose é uma tarefa
complexa em que deve ser avaliado um conjunto de fatores. Não se pode excluir, desta
decisão, a presença de outras causas de infertilidade tanto femininas como masculinas,
pois a coexistência de outras causas de infertilidade poderá decidir o manejo a ser realizado
no casal infértil. Dentro desta situação, a idade da paciente é um fator muito importante,
pois após a idade de 35 anos há uma importante diminuição da fecundidade, com um
aumento da taxa de aborto espontâneo. Deve-se destacar também o desejo do casal em
proceder ou não a tratamentos cirúrgicos, bem como às técnicas de reprodução assistida no
momento do planejamento terapêutico. (FEBRASGO, 2015)