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tratamento da
endometriose?
11.2 LOCALIZAÇÃO
Diversos locais podem ser acometidos pela doença, isolados ou
simultaneamente. A forma mais comum é a multifocal, e os sítios
principais são o peritônio pélvico, principalmente nos ligamentos
uterossacros. Também pode acometer os órgãos pélvicos —
ovários, tubas, bexiga, sigmoide e reto — e, mais raramente,
órgãos extrapélvicos, como fígado, pulmões, pleura e outros. A
frequência exata em que os diversos locais são acometidos
diverge na literatura. Os focos de endometriose no ovário tornam-
se encapsulados, formando cistos denominados endometriomas.
A endometriose extragenital, na maioria dos casos, é
assintomática, mas deve ser suspeitada quando há dor ou massa
fora da pelve com sintomas cíclicos. O local mais comum de
acometimento é o intestino, principalmente na região do
sigmoide e do reto (85%), seguido pelo apêndice cecal e intestino
delgado.
11.3 ETIOPATOGENIA
As hipóteses etiopatogênicas para explicar o desenvolvimento da
doença são muitas. As mais aceitas estão relacionadas a seguir.
Hipóteses etiopatogênicas mais aceitas:
▶ Teoria da menstruação retrógrada — teoria de Sampson:
defende ser o refluxo do sangue menstrual, por meio das tubas
uterinas pérvias, o responsável pelo distúrbio. O sangue
menstrual contém células viáveis, com capacidade de
implantação, que, por fatores locais e sob estímulo estrogênico,
formariam focos de tecido endometrial ectópico. Apesar da
plausibilidade biológica, essa teoria é muito contestada, pois a
maioria das mulheres apresenta menstruação retrógrada e não
tem endometriose;
▶ Teoria da metaplasia celômica: algumas células indiferenciadas
— pluripotenciais — situadas nos ovários, no peritônio e em outros
locais sofrem diferenciação em células de endométrio. A
incitação para tal diferenciação seria o estímulo hormonal sobre
esse epitélio celômico indiferenciado, que se transforma em
tecido endometrial, em vez do tecido correspondente — tecido
peritoneal, ovariano etc.;
▶ Teoria combinada ou teoria de Javert: aceita ambas as hipóteses
concomitantemente e explica, em parte, a ocorrência dos focos
pélvicos — pelo refluxo de células endometriais, de acordo com a
teoria de Sampson; por outro lado, os focos longínquos seriam
explicados pela metaplasia celômica;
▶ Teoria imunológica: proposta de meados da década de 1990,
considera uma série de alterações imunológicas, principalmente
relacionadas à resposta imune celular Th1, como fator principal.
Essa teoria explicaria o fato de apenas algumas mulheres
desenvolverem endometriose, mesmo com a maioria delas
apresentando menstruação retrógrada. Os defeitos imunológicos
estudados e já comprovados nessa teoria incluem alteração na
ação citotóxica e no reconhecimento de antígenos das células NK
(Natural Killer) e alteração na secreção de diversas citocinas — IL-
1, IL-6, IL-8, TNF-alfa, IL-12, IL-18 e outras. Apesar de não ser uma
teoria comprovada, a endometriose tem importante associação
com alterações imunológicas;
▶ Teoria da implantação: propõe que células endometriais
manipuladas durante cirurgias — parto cesárea — podem ser
implantadas na cavidade endometrial e na parede pélvica, criando
focos de endometriose. Tal teoria foi desenvolvida na tentativa de
explicar o aparecimento de focos de endometriose cicatricial.
Como exposto, apesar da alta prevalência e da evolução no
diagnóstico e tratamento da endometriose, a sua origem ainda
não é bem compreendida. Nenhuma das teorias conseguiu
comprovar a etiologia da endometriose até o momento.
11.4 EPIDEMIOLOGIA E FATORES DE RISCO
A prevalência não pode ser determinada com exatidão, em parte
porque o diagnóstico de certeza só pode ser feito por
laparoscopia, nem sempre realizada mesmo nos casos suspeitos.
Além disso, pacientes assintomáticas só são diagnosticadas se
submetidas à cirurgia por indicações diversas, e pacientes
sintomáticas podem ter sintomas variados e não específicos.
Estima-se que cerca de 10% de todas as mulheres na menacma
tenham endometriose, em torno de 30% das inférteis e cerca de
50% daquelas com queixa de dor pélvica crônica. Sabe-se que a
prevalência em mulheres negras é menor do que em mulheres
brancas. Com relação às asiáticas, há controvérsias.
A endometriose é diagnosticada, em média, na terceira década de
vida. É descrita a associação a mulheres com baixo índice de
massa corpórea e níveis de ansiedade acima da média. O
diagnóstico tardio favorece baixa qualidade de vida pelos
sintomas álgicos, grande abstenção no trabalho ou escola e
implicações na fertilidade.
Por ser uma doença estrogênio-dependente, todos os fatores que
propiciam o ambiente hiperestrogênico podem favorecer seu
aparecimento. A seguir, estão listados os principais fatores
envolvidos.
11.4.1 Fatores envolvidos
11.4.1.1 Fatores de risco
▶ Tabagismo;
▶ Uso de contraceptivos hormonais;
▶ Multiparidade;
▶ Primeira gestação precoce — antes dos 18 anos.
#importante
A endometriose é a causa mais comum
de dismenorreia secundária; entre as
mulheres com queixa de dor pélvica
crônica, a incidência chega a atingir 45 a
70%.
#importante
Pacientes com pequeno foco único
podem apresentar muita dor pélvica,
assim como pacientes com pelve
extensamente comprometida por
implantes de endometriose podem ser
absolutamente assintomáticas.
11.6 DIAGNÓSTICO
A suspeita da doença baseia-se na história clínica, no exame físico
e em exames laboratoriais. O diagnóstico definitivo é feito por
videolaparoscopia diagnóstica. No entanto, o diagnóstico de
presunção é possível por meio da combinação de sinais, sintomas
e exames laboratoriais e de imagem, permitindo iniciar um plano
terapêutico de baixo risco e bem tolerado.
11.6.1 Exames laboratoriais
▶ CA-125 — limite superior = 35 UI/mL:
▷▷ Apresenta sensibilidade e especificidade medianas, por esse
motivo não é mais utilizado;
▷▷ A dosagem deve ser feita entre o primeiro e o terceiro dias do
ciclo menstrual quando, normalmente, apresenta-se elevada.
Pode ser repetida entre o oitavo e o décimo dias do ciclo. Se o
valor comparativo, mesmo que normal, mostrar queda superior a
30% na dosagem da segunda amostra, aumenta a suspeita de
endometriose; em alguns casos, no entanto, mesmo com
dosagens normais, o diagnóstico da endometriose não pode ser
afastado;
▷▷ Melhor relação para endometriose estádios III e IV com
doença peritoneal extensa, aderências ou endometriomas;
▷▷ O marcador também pode se mostrar elevado nas pacientes
com neoplasias ovarianas.
▶ Proteína sérica amiloide A — normal até 5 UI/mL: mais
relacionada aos casos de acometimento intestinal. Foi muito
utilizada até alguns anos atrás; hoje, também está em desuso;
▶ Outras provas de atividade inflamatória — por exemplo, proteína
C reativa: são bastante inespecíficas;
▶ Anticardiolipinas IgM e IgG — normais até 10 UI/mL: também
são consideradas inespecíficas, mas podem se elevar nas
dosagens da fase folicular inicial, entre o primeiro e o terceiro
dias.
11.6.2 Exames de imagem
Podem ser de grande importância no diagnóstico. Nenhum deles
pode fornecer o diagnóstico final, o qual só pode ser obtido com a
realização de videolaparoscopia. Nos últimos anos, houve intenso
desenvolvimento e aperfeiçoamento de técnicas de
interpretação, além da própria melhora dos equipamentos, o que
permite pré-diagnosticar, com boa acurácia, lesões
endometrióticas.
11.6.2.1 Ultrassonografia pélvica e transvaginal
#importante
A abordagem inicial para mulheres com
suspeita de endometriose que não
desejam engravidar no momento, sem
evidência de endometriomas maiores de
6 cm na ultrassonografia e sem sinais de
obstrução ureteral e/ou intestinal é a
prescrição de contraceptivos contínuos.
Qual é o objetivo do
tratamento da
endometriose?
A endometriose é uma patologia que cursa com tecido
endometrial fora da cavidade uterina. As pacientes
podem ser assintomáticas ou apresentar dor pélvica
cíclica, dispareunia e/ou infertilidade. Como os sintomas
são associados ao período menstrual, o objetivo do
tratamento é que a paciente entre em amenorreia.
Métodos hormonais ou outros métodos de bloqueio do
eixo são usados no arsenal terapêutico com o intuito de
cumprir esse objetivo.