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NUTRIÇÃO E A

SAÚDE DA MULHER
AUTORIA: BIANCA INNOCENCIO
Contato: biainnocencio@hotmail.com
Inta: @nutribiancainnocencio

As mulheres são maioria no consultório do Nutricionista. As oscilações


hormonais as quais as mulheres estão expostas ao longo da vida são
fisiológicas e muitas vezes precisam de uma abordagem individual, tais
alterações podem trazer questões e queixas importantes e muitas vezes
levam as mulheres aos consultórios sem uma abordagem satisfatória.
Neste curso abordaremos questões como: Síndrome Pré Menstrual,
Síndrome do Ovário policístico, endometriose, menopausa, candidíase e
como podemos intervir via alimentação e suplementação para auxiliar
as mulheres a viveram melhor. Hoje, para você se familiarizar com o
tema vamos falar um pouco da endometriose e SOP:
ENDOMETRIOSE (EDT)

A endometriose (EDT) é uma desordem crônica estrogênio-dependente


e é caracterizada pela presença de tecido endometrial funcionante fora
da cavidade uterina, podendo comprometer diversos locais como, por
exemplo: ovários, peritônio, ligamentos uterossacros, região
retrocervical, septo retovaginal, além de bexiga, reto, sigmoide e outras
porções do tubo digestivo. É uma das afecções benignas mais comuns
durante o período de vida reprodutiva da mulher, em todos os grupos
étnicos e sociais.
A endometriose acomete aproximadamente 10 a 20% das mulheres em
idade reprodutiva, e alguns estudos relatam que de 30 a 50% das
mulheres com endometriose são inférteis, sugerindo um possível papel
da doença na etiopatogênese da infertilidade.
Do ponto de vista fisiopatológico, a presença de focos endometriais
ectópicos está associada a alterações anatômicas, endócrinas,
imunológicas e inflamatórias no peritônio pélvico, o que causa liberação
de prostaglandinas e possibilita o aparecimento de processo aderencial
com diferentes graus de distorções anatômicas. Trata-se de uma
condição que requer a presença de hormônios ovarianos para sua
manutenção. Assim, a presença de tais focos pode causar o binômio dor
e infertilidade nas portadoras da doença.
O mecanismo pelo qual a endometriose causa a infertilidade ainda não
está totalmente clara mas se baseia em 3 teorias principais:
Menstruação retrógrada, metaplasia celômica e teoria da indução.

MENSTRUAÇÃO RETRÓGRADA: Quando o sangue menstrual, ao invés de


sair do útero pela vagina, segue em direção às trompas de Falópio e
cavidade pélvica, espalhando-se sem ter por onde sair na menstruação.

O sangue menstrual contém células do endométrio e quando elas


atingem outros órgãos como ovários, intestino ou bexiga aderem às suas
paredes.

É normal algumas mulheres terem menstruação retrógrada sem


desenvolver endometriose, pois o seu sistema imunológico é capaz de
impedir o crescimento das células do endométrio noutros órgãos. Em
algumas mulheres os restos menstruais não são totalmente eliminados,
levando ao aparecimento da endometriose.

METAPLASIA CELÔMICA: Que parte do princípio de que o endométrio e


as células peritoneais derivam do mesmo epitélio embrionário (epitélio
celomático), que teria a capacidade de transformar-se em vários tipos
celulares, inclusive células endometriais.
TEORIA DA INDUÇÃO: a última teoria mais aceita, coloca-se a teoria da
Indução, onde substâncias indutoras liberadas por células endometriais
ectópicas induziriam as células multipotenciais do mesênquima
indiferenciado a transformar-se em novas células endometriais.

Diversos autores reforçam a ideia de que a EDT não compromete


exclusivamente a receptividade do endométrio, mas também o
desenvolvimento dos ovócitos e pré-embriões.

Quando a doença é avançada, a distorção da anatomia pélvica,


aderências e oclusão tubária apresentam óbvia relação causal com a
infertilidade. A maioria das mulheres, entretanto, apresenta-se com
endometriose mínima e/ou moderada, sem evidência física de problema
na liberação e/ou captura de oócitos e sem disfunções anatômicas. Esse
grupo de pacientes com formas leves de endometriose e com
fecundidade reduzida ainda constitui objeto de discussão e podem se
beneficiar da nossa abordagem nutricional.

Algumas evidências tem demonstrado que a alimentação ocidental,


estilo de vida e a exposição a disruptores endócrinos podem estar
envolvidos na etiologia da endometriose. Ou seja, pode haver uma
relação direta desta patologia inflamatória e o stress oxidativo causado
pelo meio ambiente e pela alimentação.
ALIMENTAÇÃO, ESTILO DE VIDA Benefícios do exercício para mulheres portadoras de endometriose
E SUPLEMENTAÇÃO NA EDT segundo a FEBRASGO- 2 horas de exercício aeróbico por semana: efeito
protetor na regulação do estradiol, redução nos níveis de citocinas
inflamatórias.

Estudo de revisão publicado em 2017 em Am J Matern Child Nurs. Relata


que dieta e o estilo de vida podem influenciar na inflamação crônica .
Consumo de carne vermelha e embutidos maior risco de endometriose.
Níveis adequados de Vit D, suplementação Vit A, C, E e complexo B
,menor risco de endometriose. Alimentação rica em ômega 6 , uso de
álcool relação com aumento da dor. Constataram ainda que o consumo
de fitoestrógenos , aumentam o risco de EDT.

O estudo de revisão citado concluiu que a deficiência de nutrientes


resulta nas mudanças no metabolismo lipídico, no estresse oxidativo e
na promoção de anormalidades epigenéticas, que podem estar
envolvidos na gênese e progressão da doença.

Alimentos ricos em ômega 3 com efeitos anti-inflamatórios,


suplementação com N-acetilcisteína, Vitamina D e resveratrol, além do
aumento do consumo de frutas, vegetais (de preferência orgânicos) e
grãos inteiros exercem proteção reduzindo o risco de desenvolvimento
e possível regressão da doença.
Além dos nutrientes acima citados, a suplementação de resveratrol e
Pinus Pinaster vem sendo estudada com resultados interessantes na
redução da dor e do perfil inflamatório Magnésio, é um mineral que deve
ser priorizado na alimentação destas pacientes pelo seu efeito
anti-inflamatório e como relaxante natural. Assim como gengibre,
cúrcuma, alho (devido ao potencial anti-inflamatório).

SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS (SOP)

A síndrome dos ovários policísticos (SOP) representa a principal


endocrinopatia ginecológica na idade reprodutiva, com incidência de 6
a 10% das mulheres no menacme . É considerada a causa mais comum
de infertilidade por anovulação, podendo, em alguns países, como nos
Estados Unidos, representar a principal causa de infertilidade feminina.
Atualmente, acredita-se que sua etiopatogenia seja devido a fatores de
origem genética desencadeados por fatores ambientais. O tipo de
herança genética provavelmente é poligênica, sendo que os genes mais
frequentemente associados com a SOP são os relacionados com a
biossíntese, ação e regulação de androgênios, genes envolvidos na
resistência insulínica e no processo inflamatório crônico e
aterosclerose.
As diversas manifestações clínicas desta doença fazem com que essas
mulheres sejam atualmente consideradas parte integrante de diferentes
fenótipos, com a presença de hiperandrogenismo, irregularidade
menstrual e alterações dos ovários à ultra-sonografia.

O diagnóstico dessa síndrome é firmado na presença de dois dos três


fatores seguintes: anovulação crônica; sinais clínicos e/ou bioquímicos
de hiperandrogenismo e presença de padrão ultra-sonográfico ovariano
policístico (ver tabela abaixo).

NIH 1 Rotterdam 2 AES-PCOS Society 3

Presença de dois Presença de dois Presença de dois


critérios: critérios: critérios:

Disfunção menstrual e
Disfunção menstrual Disfunção menstrual
ou ovários policísticos

Hiperandrogenemia Hiperandrogenemia Hiperandrogenemia


e/ou e/ou e/ou
hiperandrogenismo hiperandrogenismo hiperandrogenismo

ovários policísticos

1 National Institute of Health Consensus Conference


2 The Rotterdam ESHRE/ASRM-sponsored PCOS consensus workshop group
3 Position Statement of The Androgen Excess and Polycystic Ovary Syndrome Society
A SOP, como síndrome, é um diagnóstico de exclusão, devendo-se
pesquisar doenças que possam mimetizar seu fenótipo.

É na adolescência que normalmente se dão os primeiros sinais da SOP -


Manifestações cutâneas de hiperandrogenismo podem demonstrar a
necessidade de acompanhamento específico.

Hirsutismo é definido pela presença de pelo terminal na mulher em


áreas de distribuição masculina, é reconhecido como o marcador clínico
mais fiável de SOP. Nesta síndrome, o hirsutismo tem habitualmente um
início gradual e intensifica-se mais tarde. É classificado com base no
Score de Ferriman e Gallwey (1961) (figura 1) que quantifica o
crescimento de pelo em nove zonas sensíveis à ação dos androgénios.
Assim, hirsutismo é definido por um score final superior ou igual a 8,
sendo que existem variabilidades étnicas a considerar (por exemplo, a
pontuação normal é menor em populações asiáticas).

A acne que surge precocemente, é grave e persistente e não apresenta


resposta à terapêutica dermatológica de primeira linha deve fazer
suspeitar de hiperandrogenismo.Outros Alopécia androgénica
(manifestação rara nos adolescentes), seborreia, hiperhidrose e
hidradenite supurativa. Irregularidades menstruais. As irregularidades
menstruais são uma característica comum de SOP nas adolescentes e
estão incluídas em todos os critérios diagnósticos nos adultos. Contudo,
como já referido, são frequentes em adolescentes saudáveis, tornando a
sua utilização, difícil como critério neste grupo etário. Nesta fase existe
ainda uma imaturidade do eixo hipotálamo-hipófise-ovário, sendo assim
os ciclos menstruais serão irregulares o que será frequente nos
dois/três anos após a menarca. Se as alterações persistirem após esse
período, maior é a probabilidade de disfunção ovariana subjacente.

Além dos aspectos supracitados, é comum, na SOP, a presença de fatores


de risco para desenvolvimento de doença cardiovascular (DCV), tais
como resistência à insulina, dislipidemia , diabetes mellitus ,
hipertensão arterial sistêmica , disfunção endotelial , obesidade central
e marcadores pró-inflamatórios crônicos , além de baixa aptidão física.
Sendo assim se faz necessário um diagnóstico precoce.
Nas Recomendações Clínicas para Mulheres com SOP segundo a
FEBRASGO a modificação do estilo de vida e a redução de peso reduzem
a resistência à insulina e podem melhorar significativamente a ovulação.
Trazendo assim uma melhora sistêmica para esta mulher.

No tratamento da SOP é necessário que o Nutricionista estimule a


Prática regular de exercício físico e uma alimentação com perfil menos
inflamatório: estas são estratégias de primeira linha no tratamento da
obesidade, hiperandrogenismo e infertilidade das mulheres com SOP.
Mulheres com SOP e sobrepeso apresentam elevada prevalência de
obesidade central, aspecto que se correlaciona diretamente com
resistência aumentada à insulina. Estudos mostraram que, após seis
meses de exercício e dieta, mulheres obesas com SOP obtiveram
alteração positiva na composição corporal, com redução da
circunferência da cintura, melhora na sensibilidade à insulina,
diminuição da insulina basal e redução do nível de hormônio
luteinizante (LH). A perda de peso tem mostrado um efeito positivo na
fertilidade e no perfil metabólico das mulheres com SOP.

Ao se comparar os efeitos da mudança do estilo de vida com dieta e


exercício físico e a utilização de metformina e combinação entre dieta,
exercício e metformina em mulheres com SOP, observou- se que, em
todos os grupos, houve diminuição da massa corporal total, sendo a
perda de peso mais significativa no grupo que praticou exercício, dieta e
utilizou metformina . Os autores deste estudo utilizaram 150 minutos de
atividade física por semana como recomendação padrão para essas
pacientes (50 minutos 3 x na semana).

*O impacto da metformina na fertilidade é controverso, uma revisão


Cochrane de 2012 concluiu que isso não acontece.

McGrice, M., & Porter, J. (2017) em revisão sistemática, publicada em


Nutrientes, abordaram o efeito da dieta com baixo teor de carboidratos
e a SOP e constataram que dietas pobres em carboidratos possuem
efeito positivo na questão hormonal e fertilidade (com ou sem déficit de
energia).

A farmacoterapia é frequentemente usada para tratar as manifestações


mais predominantes em cada faixa etária, como menstruação irregular e
hirsutismo na adolescência, problemas de fertilidade na idade adulta e
problemas metabólicos e risco de câncer na velhice. A vigilância
rigorosa é obrigatória em cada estágio da vida para evitar riscos à saúde
que também podem afetar a prole, uma vez que as complicações fetais e
pós-natais parecem estar aumentadas em mulheres com SOP. (BELLVER,
et al 2018).
-Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia FEBRASGO- Manual de reprodução humana (2011)
e Manual de endometriose- Disponível em: www.febrasgo.com acesso em 20/03/2018

-Guyton, A. M.D. Fisiologia Humana – Sexta Edição

-McGrice, M., & Porter, J. (2017). O efeito de dietas pobres em carboidratos sobre hormônios de
fertilidade e resultados em mulheres com sobrepeso e obesidade: uma revisão sistemática.
Nutrientes , 9 (3),204.

-Naves, Andréia (2010). Nutrição clínica funcional: modulação hormonal.

-Rossi, BV, Abusief, M., e Missmer, SA (2014). Fatores de risco modificáveis e infertilidade: quais são as
conexões? American Journal of Lifestyle Medicine ,10 (4),

-Sociedade de ginecologia e obstetrícia de Brasília- Manual de Ginicologia e Obstetrícia de Brasília


(2017) . Disponível em: http://www.sgob.org.br Acesso em 10/04/2018.

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