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VAZAMENTO DE ENERGIA EM ESTRUTURAS

SUB-CARREGADAS E SOBRE-CARREGADAS **

Odila Weigand *

Vamos falar hoje de dissolução de identidade e vazamento de energia; espero que ao sair tenhamos avançado
um pouco mais neste caminho de pesquisa, onde muito do que vamos abordar é ainda bastante nebuloso nos
termos da linguagem reichiana. Mais do que trazer respostas, gostaria de abrir espaço para pesquisa e diálogo.

Quando proponho reconhecer vazamento de energia, é como tentar ver um gato preto (o gato está com os
olhos fechados) num quanto escuro. Se eu sei que ele está lá, posso pressenti-lo.

Minha identificação com a Análise Bioenergética começou desde a faculdade. A Bioenergética me fascinou
porque vi que não havia mistério, a interpretação do corpo era transparente. Dava-me recursos para trabalhar
comigo mesma. Lidava com sexualidade e agressividade abertamente, enquanto nas outras terapias eu sentia
que esses temas ficavam meio camuflados.

O meu caminho: Desde 1982, a Bioenergética funcionou para mim como a coluna vertebral, o eixo para
compreensão da personalidade. Outras formações, como psicanálise, análise transacional, biodança, gestalt,
curso com Prof. Sandor. inseriram-se nessa coluna. Depois acrescentei Terapia Familiar Sistêmica,
Programação Neuro Linguística, Terapia da Linha do Tempo. Terminei uma formação de cinco anos em Core
Energetics com John Pierrakos, que integrou a espiritualidade e seu substrato energético, o campo energético
humano, ao âmbito da terapia.

Estamos continuamente buscando ampliar nossa compreensão do mundo atual, de como as pessoas estão
lidando neste mundo com as mudanças. Um mundo onde a violência e a criminalidade ocupam o lugar do sexo
para oferecer o prazer da excitação negativa e da transgressão. Como resultado observamos muitas pessoas
em estados variáveis de choque, que se apresentam nos consultórios.

A minha visão a longo prazo é otimista. Acho que estamos marchando num continuum evolutivo para
encontrar a auto regulação preconizada por Reich - de forma dialética, como Reich dizia. A Dialética é
pendular. De um extremo a outro. Há mudanças muito súbitas, porém, que desestruturam, provocam
rupturas. Nosso trabalho como psicoterapeutas é ajudar na busca da evolução, facilitar a mudança com o
mínimo de ruptura possível. Já sabemos que terapia corporal é eficiente. Agora, como praticá-la com menos
sofrimento e mais eficácia? Porque na verdade acredito que o que cura é o amor, é conseguirmos o que
precisamos e não a dor revivida em repetidas catarses.

MUDANÇA

Terapia diz respeito a mudanças. Keleman fala que mudanças implicam em 3 fases: Endings (algo que termina.
É quando a estrutura de caráter se desmonta durante a terapia. Ou quando um sistema que sustentava a
identidade na vida externa deixa de funcionar. Por ex. Término de um casamento, fim de um emprego…)
Então entramos no Middle Ground (tempo nebuloso em que o antigo já não existe e o novo ainda não surgiu.
É um tempo de confusão, indefinição. Nesse momento é que surge a dissolução do senso de identidade.
Vivendo a etapa da identidade dissolvida, começa a tomar forma a terceira etapa, o Processo Formativo, que
será uma nova forma de funcionamento. A terapia deve ajudar para que o passo seja evolutivo.

* Odila Weigand, Psicóloga, Terapeuta Certificada em Análise Bioenergética - CBT, Core Energetics,
Terapia Familiar Sistêmica, PNL, Terapia da Linha do Tempo

** Palestra apresentada no III Encontro Paranaense de Psicoterapias Corporais, Curitiba, PR, 1998.
Vazamento de Energia 2

VAZAMENTO

Nós estamos familiarizados com estes passos, e também com a frequência que ocorre depressão, doenças
psicossomáticas e mesmo biopatias, nos momentos em que as estruturas antigas se desmontam.. Nós vamos
enfocar aqui o Middle Ground, a fase da diluição da identidade.

A Dra. Barbara Koopman, orgonoterapeuta do International College of Orgonomy, no seu artigo “Misticismo,
OR e DOR” afirma que a sensação de identidade e integridade egoica está diretamente ligada à coesão do
campo energético e que “a coesão do campo energético está relacionada com a vitalidade e pulsação do
cerne.” Eu acrescentaria o vice-versa: restaurando a coesão do campo energético, ativa-se a vitalidade e
pulsação do cerne (Fig. 1)

campo

cerne
contraído

(sist.nervoso,
órgãos internos,
vísceras)

periferia
músculos,
ossos
(fraqueza)

campo
em
expansão

Fig. 1
Vazamento de Energia 3

O que é vazamento de Energia? É quando a energia escapa, se desprende do sistema vivo. Há fluxo de
energia, mas pouca contenção e pouca pulsação. As contrações no cerne são profundas, ocorrem no sistema
vegetativo, no segmento ocular incluindo o cérebro, garganta, diafragma, área ocipital. O sistema muscular
fica enfraquecido, a pessoa se sente colapsando, é comum aparecerem sensações de queda. O campo
energético, enquanto órgão de contato, filtragem e descarga, possui uma “ferida” ou “rasgão” por onde
ocorre vazamento e por onde podem penetrar diretamente, sem filtragem, energias do inconsciente que
inundam a pessoa, sem que ela possa dar significado a essas sensações avassaladoras.

O que existe em comum nas pessoas que apresentam vazamento, independente da causa ou da estrutura de
caráter?

PROBLEMAS COM LIMITES


FRONTEIRAS DILUIDAS
FALTA DE COESÃO DE CAMPO
CAMPO EM EXPANSÃO, AO MESMO TEMPO CONTRAÇÃO
PROFUNDA DO CERNE

VAZAMENTO NO PACIENTE BORDERLINE

No segundo ano do meu treinamento em Bioenergética, entusiasmada com a potência e os resultados da


Bioenergética, naquele élan de principiante, achava que o que funcionava para mim, era bom para todos.
Nessa época, comecei a tratar uma paciente que parecia oral/ histérica. Depois, fui descobrindo que era
borderline. Borderline não era uma categoria clara dentro do ensino da psicoterapia corporal na época, 1984.

Vamos ver o desenho da cliente, onde aparece vazamento (Fig 2 – Anexo). Ela estava também sob cuidados
de um psiquiatra e tomava medicação antidepressiva e ansiolítica.

Às propostas que eu fazia, em termos de abordagem corporal, ela reagia piorando. Ao fazer grounding,
respiração, aumentar a carga energética, expressar agressividade, expressar medo, trabalhar com os olhos, a
emoção aparecia facilmente, mas em vez de melhorar a paciente apresentava sintomas de inflamações de
gengiva, menstruações dolorosas com hemorragia, crises de ansiedade... Caracterologicamente se explicava
como estrutura borderline, narcisista com oralidade e esquizoidia. Mas o que fazer, como trabalhar para de
fato ajudar? Além da estrutura de caráter borderline, podemos esperar vazamento durante a terapia:

- em pessoas que passaram por choque e trauma

- nas estruturas de caráter sub carregadas (oral e esquizoide)

- quando a pessoa faz ou fez uso de drogas (causam expansão artificial do campo energético)

- nas estruturas de caráter sobre carregadas (psicopática ou de deslocamento, masoquista e rígida) em


fases de mudança profunda, quando as defesas se diluem

No meu próprio processo, alguns anos depois do início da terapia, comecei a ter episódios de perda de
energia, mas continuava sem entender como vinham e como passavam..
Vazamento de Energia 4

Em 93, quando estava em Nova York, tive uma grande crise que começou com stress, perda de energia,
perda de forças e me levou a passar na minha vida profissional pelos estágios de mudança que Keleman chama
- Endings
- Middle Ground (durou dois anos) chegando na fase do
- Processo Formativo.

Em Nova York passei pela experiência de quase-morte e trouxe de volta as sequelas de um estado de choque.
Foi um reviver do choque da primeira infância - “problema oral”. Agora me dou conta que sentir tudo isso foi
útil de duas formas: fez parte de um processo de mudança profundo e me motivou a buscar recursos
terapêuticos adequados para tratar quem está atravessando essa fase de desestruturação, com a menor dose de
sofrimento e perda de funções possível. Eu cheguei ao ponto do “BURN OUT”, e a última gota, a ruptura, foi
desencadeada numa série de cinco sessões de terapia com uma terapeuta experiente, porém que desconhecia a
noção de vazamento, e ignorava que vazamento podia ocorrer numa pessoa com estrutura sobrecarregada,
como eu me apresentava numa leitura corporal.

Durante esse período não usei antidepressivos. Foi um aprendizado de lidar com a energia, as mudanças
externas e internas e os sentimentos que surgiam.

“TAKE IN OR NOT TAKE IN?”

Quando falei pela primeira vez deste tema nos Estados Unidos, Robert Hilton levantou a seguinte questão: Na
opinião dele as pessoas ficam colapsadas porque não conseguem “take in”, nutrir-se, receber. Eu vejo
diferente: Penso que quando estão vazando energia, elas tomam sim, buscam e recebem energia do ambiente
ou das pessoas, mas não conseguem contê-la no sistema, não conseguem “ligar” a energia ao corpo físico.
Não se nutrem porque no cerne estão fechadas, contraídas. E no campo, que permanece expandido e com
pouca pulsação, possuem “feridas”. Concomitantemente, como o vazamento provoca um esvaziamento,
ocorre uma reação de medo. No medo, o diafragma fica preso na posição expiratória. No medo o corpo
se congela numa posição expiratória crônica (Fig. 3). Esta posição é o contrário da posição inspiratória
crônica descrita por Reich no livro A Função do Orgasmo, em que ele fala do indivíduo com peito inflado,
cuja principal emoção reprimida era a raiva.

Vamos pensar porquê as pessoas sentem prazer na montanha russa, nos brinquedos de queda livre em parques
de diversão, no bungy jumping onde a pessoa se atira no ar pendurada pelos pés. Nessas quedas, o diafragma
se solta, as pessoas soltam um grito que descarrega a tensão do medo.

Diafragma em posição
Inspiratória Crônica
Vazamento de Energia 5

Fig. 3

Na parte prática, vamos fazer um exercício respiratório para mobilizar o peito paralisado no medo. John
Pierrakos utiliza esta respiração - stacatto - para recarregar o organismo. Lowen por sua vez utiliza bastante
o exercício de expirar mais e mais, esvaziar tudo, ficar no vazio até o organismo reagir inspirando
espontaneamente, que é indicada para as pessoas com peito inflado e raiva contida. A respiração stacatto
apresenta-se como uma alternativa, para quando o organismo já está tão vazio que não suportaria aquele
trabalho de esvaziamento. Parece-me razoável que, se o organismo está aterrorizado, não convém assustá-lo
mais.

BOUNDARIES (LIMITES, FRONTEIRAS)

Parece mais fácil entender que estruturas borderline, orais e esquizoides, bem como os psicopáticos, tenham
problemas com limites. Assim como quando ocorreu choque ou trauma.

Mas rígidos também terão problemas com fronteira que se rompem quando as defesas rígidas cedem
subitamente, e surgem as camadas subjacentes, mais primitivas. Nas organizações rígidas aparece o
movimento pendular rigidez / vazamento, antes de se estabelecer um novo funcionamento, mais flexível.

No âmbito psíquico, esta crise tem a ver com queda da barreira narcisista, com o momento em que o Falso
Self fracassa na vida, com o Medo de Breakdown que Winnicott descreve no seu artigo Fear of Breakdown.

Mas tem a ver também com aquilo que Reich observou e descreveu como Angustia de Queda. É por este
prisma que acho interessante considerarmos a questão do vazamento.

REICH E A BIOPATIA DO CANCER

Reich na Função do Orgasmo postula quatro fases para o movimento da vida: tensão/ carga/ descarga/
relaxamento. Nós hoje sabemos que precisamos de outros conceitos para entender a energia no organismo
vivo: fluxo, pulsação, grounding, centramento e CONTENÇÃO. Na Função do Orgasmo Reich disse que a
neurose seria resolvida se a energia contida na couraça pudesse ser descarregada, porque sem energia para dar
suporte à neurose, a pessoa seria saudável. Mais tarde, na Biopatia do Cancer, ele descreve como pacientes
cancerosos com condições anorgonóticas (com falta de energia no sistema vivo) melhoravam temporariamente
com a terapia reichiana e o uso do acumulador de energia orgone, porém logo após a melhora desenvolviam
intensa ansiedade acompanhada de perda de força muscular, especialmente nas pernas. Reich escreve: “O
organismo reage a uma forte e inusitada excitação plasmática, criando um bloqueio à motilidade que se
expressa como ‘fraqueza’, ‘colapso’, ‘tontura’, distúrbio do equilíbrio e ansiedade de queda. É como se a
expansão orgonótica começasse mas não pudesse seguir seu curso completo, como se o impulso para a
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expansão se extinguisse subitamente”.1 Elsworth Baker comenta em O Labirinto Humano: “A anorgonia


parece ser uma condição alternativa à da couraça, constituindo-se numa reação do organismo a situações
altamente carregadas do ponto de vista emocional. Talvez o melhor seja dizer que o processo de
encouraçamento produz uma imobilização através de contrações musculares, enquanto que na anorgonia o
que se dá é a imobilização causada em nível do sistema plasmático. 2Não está claro qual das três
possibilidades seguintes seria a responsável pela anorgonia: retenção da energia fora daquela parte do corpo,
falta de excitação da carga energética da área, ou excitação excessiva do sistema vegetativo. Acredito que,
para a maioria dos casos pelo menos, prevalece a última alternativa, sendo que poderá dar-se até uma paralisia
do sistema vegetativo, bem como do tecido plasmático em geral. O bloqueio evidencia-se na fraqueza, na
ansiedade da queda, no equilíbrio instável, ou nos desmaios. É como se a expansão fosse começar e não
tivesse condições de seguir seu curso natural, como se o próprio impulso em si fosse subitamente extinto e
com isso se desse uma perda do contato com a parte afetada.”

Na sua descrição de Ansiedade de Queda numa Criança de Três Semanas, no livro Biopatia do Cancer, Reich
afirma que ‘os primórdios da anorgonia devem ser buscados nos períodos anterior e logo após o nascimento.’

Reich continua: “Da mesma maneira que uma queda real causa uma contração biológica, assim também uma
contração causa a sensação de queda. Compreendemos agora porque uma contração com expansão orgástica
resulta em ansiedade de queda, e porque a ansiedade de queda aparece quando a couraça muscular é
quebrada e as primeiras correntes plasmáticas se manifestam. Uma contração durante uma expansão
plasmática perturba a sensação de equilíbrio. Mas alguma coisa permanece sem explicação”. ... “Aqui temos
que renunciar à ambição de entender tudo sobre anorgonia e ansiedade de queda. Por enquanto, devemos nos
contentar com a conexão entre o bloqueio da pulsação orgonótica por um lado e a perda da sensação dos
orgãos e do equilíbrio do outro lado”.

Anorgonia é o resultado da inibição da função de expansão, ou psicologicamente falando, da inibição da


experiência do prazer. Reich e Baker concordam que aparentemente há um impulso para expansão, que
desaparece, ao mesmo tempo que há uma perda de contato com a área corporal afetada. O que vamos supor
aqui é que a energia que “desaparece” vai para o campo e se escapa do sistema. Rompe-se a barreira da
couraça muscular, o campo energético também fragilizado não possui força de coesão suficiente para manter a
energia dentro do campo morfogenético pessoal. Como o campo energético está em estreita relação com o
cerne vegetativo (que corresponde ao cerne emocional), se o cerne vegetativo está desenergizado, ele perde a
capacidade de atrair a energia que constitui o campo e manter coeso e funcional esse campo. Podemos
compara com um átomo, que tem seu núcleo e elétrons que giram em torno, mantendo um campo.

Quando consideramos o sistema dos chakras, fica mais fácil entender essa relação entre cerne e campo. Os
chakras são estruturas energéticas que têm sua raiz no cerne do organismo e se abrem no campo, com funções
específicas de carga, descarga e regulação do funcionamento dos órgãos internos.

Os termos usados por Reich foram Biopatia do Encolhimento, Ansiedade de Queda, Medo da Morte,
Angustia do Prazer, Sobre Excitação, cujas origens ele atribuiu à anorgonia ocorrida no início da vida e a uma
correspondente atitude de resignação em face do prazer na vida adulta. Mas será que aquela alguma coisa que
permanece sem explicação poderia ser melhor compreendida se utilizássemos o conceito de que a energia
estaria vazando, e que se a terapia cuidasse dessa hemorragia energética, talvez o processo biopático
caminhasse de maneira diferente? E se pensarmos que aquilo que Reich chamava de ansiedade orgástica pode
ser resultado da expansão do campo enquanto o cerne se contrai pelo medo da perda de identidade? No
1
Grifo da autora
2
Idem
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orgasmo pleno, o que ocorre é uma expansão simultânea do corpo físico (músculos e órgãos) e do campo
proporcionando a sensação de fusão com o outro. Algo semelhante se dá na experiência mística vivida pelo
indivíduo bem enraizado no corpo. Porém quando esse processo sofre uma cisão, com os músculos e órgãos
se contraindo ao mesmo tempo que o campo se expande, ocorre vazamento.

BOUNDARIES (LIMITES OU FRONTEIRAS) FUNCIONAIS E DISFUNCIONAIS

Boundaries funcionais - Correspondem a um senso de identidade, de integração


corpo/mente/sentimentos/espírito. A carga e descarga funcional se dão através da Sexualidade, Criatividade,
Movimento, Auto Expressão, Sentimentos, Interações Humanas, Trabalho, Jogos, Brincadeiras, Sono, etc. O
campo energético, quando coeso e integrado com o cerne, tem uma função de descarga sutil e constante,
diluindo as pressões. No indivíduo saudável, na entrega sexual há difusão momentânea de identidade com a
descarga energética. Em seguida, ocorre a recarga que vem como corolário do amor, confiança, relaxamento.
A identidade se refaz, o coração bate forte e tranquilo.

Boundaries disfuncionais - Ocorre uma descarga disfuncional, uma ruptura entre cerne e campo, a pulsação
fica prejudicada. O campo se expande e vai ficando esparso, sem coesão. O cerne se encolhe naquilo que
Reich chamou encolhimento biopático.

Quando a energia “escapa” do sistema, o que nós vemos é colapso, esvaziamento, parece que a energia
sumiu! As figuras 4 e 5 mostram esquematicamente os locais mais comuns desse escape, no corpo. Mas
também é bom lembrar que o órgão chamado campo energético está com problemas. Vai se apresentar
diluído, esparso (contrário de denso), expandido e talvez sobre excitado. Os centro energéticos (ou chakras)
conforme mostra John Pierrakos, que são órgãos encarregados da ligação entre a energia externa e a interna
que alimenta os órgãos, se fecham, ou invertem o sentido da sua rotação passando a descarregar apenas, sem
efetuar a recarga do sistema.

Os órgãos internos, em contrapartida, se contraem, provavelmente para preservar a energia vital mínima
requerida para a sobrevivência.

Quando o vazamento perdura, este estado é percebido psiquicamente como perda de identidade. A pessoa tem
dificuldade de concentração, perda de memória, medo de ficar sozinha já que a presença de outra pessoa a
ajuda a se organizar porque faz contato fusional através do campo energético com o campo do outro e se
organiza como um bebê se organiza através do contato fusional com a mãe.

Na contra transferência, quando ocorre contato fusional com pessoa vazando, o terapeuta provavelmente
sentirá cansaço, exaustão, às vezes irritabilidade, às vezes contração de algum órgão que se contraiu por
imitação plasmática.

Em função disso, estar atento aos vazamentos não é apenas um cuidado com o cliente, mas também um
cuidado com a saúde do terapeuta.

QUANDO OCORRE VAZAMENTO?


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1 - Quantidade excessiva de energia foi mobilizada, que o organismo não consegue lidar. Exemplo:
Esquizóide e Oral - descarga de ódio profundo sem acalmar o organismo e nutrí-lo. Pequenos passos são
melhores que grandes passos com os pacientes esquizoides e orais (Fig. 4 Anexa).

2 - Quando as defesas estão cedendo, durante um processo de mudança - aqui os rígidos também estão
sujeitos a rupturas no sistema energético (Fig. 5 Anexa). Mas rupturas não são desejáveis. Preferível é
trabalhar com ceder. Se ocorre ruptura, ocorrerá vazamento. Um pouco de vazamento é tolerável, pode servir
para amolecer a estrutura. Se prolongado, é provável que surja algum sintoma psíquico ou biopático,
provavelmente inflamatório.

OBSERVAÇÕES

1) Vibrações laterais das pernas quando se aumenta a carga durante a sessão de terapia não é vazamento, é um
tipo diferente de descarga. E’ muscular, visível e momentânea. Embora essas vibrações laterais possam ser
entendidas como defesa contra aumento da carga e da excitação sexual, é diferente da descarga disfuncional
que estou descrevendo como vazamento.

2) O vazamento é sutil, não é visível. É uma diluição do campo, o qual segue no movimento expansivo, não
retoma a pulsação.

3) O vazamento, no início, é sentido como prazeroso, por isso é enganoso: O movimento da energia do
centro para a periferia é identificado pela nossa consciência como prazeroso. Da periferia para o centro é
identificado como desprazer. Só quando a energia já ficou tão fraca que sua falta ameaça o funcionamento
normal do organismo, o organismo reage com alarme e profunda ansiedade. Este esgotamento pode acontecer
no dia seguinte a uma sessão considerada forte e significativa. A sessão continuaria sendo forte e significativa,
sem efeitos colaterais indesejáveis, se pudéssemos identificar e sanar o vazamento. Eu costumo educar os
clientes a respeito de vazamento, de modo que possam identificar e me telefonar se algo acontece nesse
sentido.

Na nossa prática hoje em dia, vemos menos pessoas rigidamente neuróticas e mais pessoas fragmentadas
entrando nos consultórios. Isto não é surpreendente porque as rápidas mudanças do mundo dissolvem limites
e identidades.

Muitos terapeutas, com longa experiência e fino senso da energia, desenvolveram a própria maneira de
conduzir a terapia corporal na direção de dissolver ego ou construir ego, evitando efeitos colaterais como
depressão, pânico e somatizações. Acho que o conceito de vazamento vai ajudar a entender o que muitos já
fazem intuitivamente. Porém se entendemos e conceituamos, podemos transmitir e ensinar, encurtando
caminhos.

DIFERENCIANDO ALGUNS CONCEITOS:


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Algumas palavras usadas nos textos em inglês não têm correspondente em português:
- Flooding (inundação): Quando energia demais é mobilizada, muito depressa.

- Overwhelm ( inundação): Quando a energia e o conteúdo são demais para o Ego da pessoa. O Ego não
consegue integrar a energia, mais a excitação, mais o conteúdo inconsciente que emerge. O Ego colapsa ou se
fragmenta.

- Energia sobre excitada: Diferente de sobrecarga. Energia sobre excitada é difícil de ser contida. Lembre
das crianças hiper excitadas – às vezes descarregam-se chorando, depois dormem. Se não conseguem chorar e
aliviar a pressão, podem ter febre - aumento de temperatura - para descarregar, que é um mecanismo
primitivo, do bebê.

Na sobrecarga, a energia se condensa. Se aumentamos a carga, aprofundamos a expressão emocional. A


energia sobre excitada está em expansão, não se condensa, escapa se aumentarmos o fluxo energético. Vem
sem conteúdo emocional, exceto o medo costuma ser uma percepção confusa, fragmentada.

- Sobrecarga: alta carga, pouco fluxo, pouca descarga. Muito contida, densa.

- Subcarga: baixa carga, pouca energia, pouca vivacidade.

- Vazamento: escape de energia que conduz a sub carga. Pode vir junto com energia sobre excitada.

CONCLUSÃO

Para recapitular: Vazar energia é um mecanismo frequente em pessoas que funcionam conforme de estágios
primitivos de desenvolvimento, esquizóide e oral, organizações que chamamos sub-carregadas.

Também ocorre em fases de mudança em terapias de pessoas que classificamos como sobrecarregadas
(rígidos, masoquistas, estruturas de deslocamento ou psicopatas).

Ocorre quando há uma contração profunda no cerne do organismo, na presença de expansão do campo.

Toda mudança profunda envolve certo grau de dissolução de limites e perda de identidade. Talvez possamos
ajudar melhor nossos pacientes explorando em nós mesmos quais foram nossas experiências dolorosas que
conduziram a crescimento e aquelas que foram apenas reviver dores de desamparo porque havia se esgotado a
energia? Reviver essas dores me ajudou a desenvolver novos recursos? A recuperar a vitalidade interna? Ou
apenas me tornei um expert em catarses dolorosas ou apavorantes?

Keleman em REALIDADE SOMÁTICA fala de três fases do processo de mudança: Endings, middle ground e
processo formativo.
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Para viver Endings precisamos dissolver as fronteiras do Ego. Em Bioenergética desenvolvemos muitas
formas de dissolver fronteiras do Ego. O esquizóide tem facilidade com Endings - desmancham, rompem com
facilidade. Masoquistas têm a maior dificuldade em romper. Todos os caráteres têm episódios de dissolução
de identidade, quando nos encontramos no middle ground. A vivência aí costuma ser o medo. Cada um vai
enfrentar nesse Middle Ground sua tarefa de vida, sua dificuldade: A tarefa do Esquizoide é encarnar, estar
presente neste mundo por inteiro; do Oral é ficar de pé nas próprias pernas; do Psicopata é deixar-se ficar
vulnerável e ser a si mesmo, não viver no falso self; do masoquista é expor-se, expressar-se, viver a liberdade,
deixar o controle; do Rígido é unir coração e sexualidade, intimidade. Confrontar nosso fio vermelho do
caráter nos leva a viver o medo da morte. O resultado é que saímos mais evoluídos, pois o que morre é a
parte do nosso ego identificada com a atitude de caráter.

Para atravessar o nebuloso middle ground e sair mais evoluído, acho útil para nós, terapeutas, saber
reconhecer a perda de energia por vazamento. Vamos poder minimizar os efeitos colaterais indesejáveis do
processo de mudança (como depressões, doenças auto-imunes, diabetes, perda de capacidade de trabalho,
ataques de pânico). O que almejamos é que Endings, Middle Ground e Processo Formativo vão ocorrendo,
evolutivamente, dentro do processo da terapia, que vai funcionar como um container facilitador.

Hoje é questão de sobrevivência ser capaz de se desmanchar e se refazer. A estrutura rígida que costumava
prevalecer, hoje se vê forçada a tornar-se maleável, adaptável. Especialistas buscam tornar-se polivalentes.
Temos fé no impulso de evolução do ser humano. Investimos no amor, reafirmamos a esperança, e vivemos a
excitação da criação de nós mesmos a cada momento.

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ALGUNS INDICADORES PARA RECONHECER


ESTADOS DE VAZAMENTO DE ENERGIA

- Dificuldade respiratória, com contração severa do diafragma, garganta/nuca.

- Perda de líquidos através de micção excessiva, diarréia, suor pegajoso. Não há infecção urinária ou intestinal.
(Sabemos que 80% do nosso corpo é água. Reich demonstrou que energia “liga” a matéria no nosso corpo.
Logo, se a água está escapando, drenando, significa que a energia já escapou. Não há energia suficiente para
“ligar” aquela matéria dentro da membrana do corpo vivo.).

- Fraqueza muscular - especialmente na parte superior da coxa e joelhos que parecem incapazes de sustentar o
corpo.

- Sensação de arrepios e frio correndo pela espinha abaixo.

- Cabeça quente, corpo frio.

- A pele fica quente, com sensação febril, às vezes, seca. Não há necessariamente aumento de temperatura
verificável por termômetro.

- Confusão.

- Dissociação.

- Desmaio ou quase desmaio.

- Articulações: muito contraídas, podem deixar escapar energia porque são pontos de “quebra” no organismo.

- Constrói-se carga através de trabalho corporal, mas a carga não se condensa para descarregar
emocionalmente. Em vez disso, a pessoa colapsa (colapso muscular, colapso da consciência, ou ambos). Se
persistir o vazamento, pode chegar à ruptura do Ego - surto psicótico, ou doença biopática.

- Quando após sessão significativa que mexe com identidade aparecem sintomas do tipo inflamatório: rinite,
colite, conjuntivite, gengivite, inflamações ITE, é sinal que a energia está sobre excitada. As inflamações são
um prenúncio. Se persistir esse estado, poderá vir outro sintoma, já como doença.
Vazamento de Energia 12

Bibliografia:

Baker, Elsworth.
O Labirinto Humano. S Paulo, Summus, 1980.
Brennan, Barbara.
Mãos de Luz. S. Paulo, Pensamento, 1993.
Luz Emergente. S. Paulo, Cultrix, 1993.
Keleman, Stanley.
Realidade Somática. SP, Summus, 1979.
Koopman, Barbara.
Misticismo, OR e DOR. In: The Journal of Orgonomy, vol. 13, no. 2, 1979.
Lowen, Alexander.
O Corpo em Depressão, SP, Summus, 1972.
Pierrakos, John.
Energética da Essência (Core Energetics). SP, Pensamento, 1987.
Reich, Wilhelm.
The Cancer Biopathy. NY, Orgone Institute Press, 1948.
A Função do Orgasmo, SP, Brasiliense, 1975.
Weigand, Ocilla
Transference/Countertransference with a borderline patient. In The Clinical Journal of the IIBA, vol. 3, no. l,
1987.
Winnicott, D. W.
Fear of Breakdown. In: Int. Rev. Psycho-Anal., vol.1, no. 103, 1974.

Odila Weigand, Int. Trainer, Int. Inst. For Bioenergetic Analysis


Rua Arapiraca 7 – Vila Madalena
05443-020 – S. Paulo, SP
Tel: (011) 3813 2261
e-mail: odilawei@matrix.com.br

Este trabalho foi apresentado na Conferência Internacional de Análise Bioenergética, Pocono, USA, 1996.
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EXERCICIOS:

Que exercícios usar? Depende do que o terapeuta acredita, de sua formação, dos recursos que
dispõe. Desde que identifique o vazamento e procure estancá-lo. Ativar músculos flexores,
centrar e não aumentar o fluxo da energia. Ter o objetivo de criar carga e conter.

Vou sugerir aqui alguns. Nos exercícios de bioenergética, pedimos que a pessoa dobre bem os
pulsos. Mantenha um certo tônus nos braços e pernas. Expire enquanto sobe. Utilize a
consciência aliada ao movimento para retirar energia da terra e trazer a energia para cima, em
direção ao coração, à garganta, e ao centro da cabeça atrás dos olhos. Centrar no eixo do corpo.

Formar Duplas para ter uma referência, manter contato visual se quiser, desvie o olhar quando for
demais. Manter sempre os olhos abertos, não vá embora.

Olho: foco perto / longe com caneta ou barbante

Abaixar e levantar, de pé, expirando quando sobe.


Abrir as mãos na inspiração, fechar na expiração.
Soalho pélvico: abrir na insp., fechar e erguer na exp.

Pulsos dobrados, braços estendidos, pulsar com o


parceiro, na altura do coração.

Pulsos dobrados, pulsar a toda volta, braços semiflexionados.

Grounding invertido para aliviar a carga se necessário

Respiração stacatto, erguendo soalho pélvico na exp.

Pegar energia da terra e soltar acima, movimento


de espiral, som de RRRRR. Descer. Terminar em cima.
O som e o movimento passam pelo eixo do corpo.

Delimitar espaço, os dois braços em ligeira flexão, com tônus no


ombro, braço, pulso bem dobrado, olhar na ponta
do dedo. Devagar. Leve até o chão, crie o espaço em
baixo, atrás, acima, dos lados, à frente.

Sair com movimento leve, transforme suas mãos em leques, seus braços são leques, seu corpo é
um grande leque. Deslocando-se pelo espaço. Sinta a pele empurrando o ar. (para aliviar a
tensão de sobrecarga que estes exercícios criam em quem não está vazando)
MÚSICA: VALSA DAS FLORES

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