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Possíveis perigos
Vivências com a respiração atingem todo o ser humano no seu modo
individual.
Por isso, elas não podem ser generalizadas.
Naturalmente existem reações que surgem com mais frequência, mas cada
classificação e a mera designação dos estados que surgem contêm uma
limitação e podem roubar da pessoa que respira a chance de sua
experiência individual.
A verdadeira experiência só pode acontecer quando entramos em contato
direto e despreconceituoso com âmbitos mais profundos.
Cada "opinião prévia" que formulamos, como a palavra já diz, acontece
antes da experiência e, com isso, torna-se um impedimento criado.
Se, por exemplo, encontramos uma pessoa totalmente desconhecida, que
foi mencionada antes como uma pessoa impossível por um amigo nosso, já
estamos condicionados.
Antes mesmo de entrarmos em contato, a percepção já está determinada.
Consciente ou inconscientemente, buscaremos as características descritas
que possam confirmar a opinião do amigo.
Prestaremos atenção sobretudo a elas, e nem sequer perceberemos as
outras características da sua personalidade.
Esse não é um conhecimento novo.
Depois da relação de incerteza de Heisenberg o observador influencia o
sistema observado por ele.
Na medida em que observa algo, ele se torna parte do sistema e, com isso,
perde sua objetividade.
Na física quântica não existe mais objetividade absoluta.
O que avaliamos como resultado torna-se uma pedra de tropeço da nossa
própria percepção.
Esse efeito da incerteza se torna tanto maior quanto menor e mais
influenciável for o sistema percebido.
A psicoterapia sistêmica integrou há tempo esse efeito no cotidiano
terapêutico.
Ali se parte de que é impossível ao terapeuta ter uma imagem objetiva do
seu paciente.
Desde o primeiro contato ambos estão num relacionamento mútuo que se
pode modificar somente como sistema de relacionamento.
Algo novo surge, e obedece a leis próprias.
Poder-se-ia dizer que existem pactos silenciosos e secretos sobre a quais
regras pertence um relacionamento.
Se estivermos brigando com uma pessoa, nós descobrimos indicações
contínuas do porquê é impossível viver em sintonia com essa pessoa.
Se temos amizade com uma pessoa, descobrimos muitas provas da nossa
atração mútua.
Da mesma maneira, o efeito de uma terapia ou método de cura depende do
seu contexto.
Por isso é melindroso falar sobre o que podemos esperar de um método
terapêutico e que experiência teremos com ele.
Apesar disso, ele é irrenunciável para os objetivos de formação, mas
devemos ter consciência dos problemas relacionados a ele.
Todo sistema de cura é sustentado por uma base filosófica que facilita aos
indivíduos integrarem as experiências feitas em seu próprio sistema
momentâneo socialmente válido.
Se ao aplicar uma técnica tiramos o meio de cura do seu contexto original,
sua eficácia se modifica em certas circunstâncias.
Na nossa ciência baseada na eficiência tentamos otimizar a eficácia dos
meios de cura.
A indústria farmacêutica examina substâncias naturais para descobrir seus
componentes mais eficazes.
Se obtivermos êxito na extração de uma substância ativa e se levarmos
essa substância ao uso, muitas vezes constatamos que surgem efeitos
colaterais desagradáveis e perigosos no sentido médico.
Originalmente, esses efeitos não eram observados, e culturas inteiras
consumiam essas substâncias vegetais sem sofrerem danos.
Há muitos exemplos disso.
Um exemplo muito conhecido é o café.
Como bebida cozida, como é preparado ainda hoje na Grécia e em outros
países, ele é essencialmente mais saudável do que o nosso café de filtro.
No café filtrado a cafeína é mantida e é essencialmente mais nociva para
nós do que a do café grego.
Isso se deve ao fato de as substâncias nocivas ficarem presas na borra
deixada.
Algo semelhante acontece com a nicotina.
Os índios eram menosprezados como raça primitiva, no entanto nós os
admiramos pela sua saúde e atribuíamos isso ao uso livre do tabaco.
Por isso a nicotina foi introduzida como panaceia no mundo ocidental, como
um meio de curar tudo.
Por exemplo, permitiu-se aos alunos ingleses da elite inalar nicotina antes
da aula tendo em vista a manutenção da saúde.
Nesses casos foi roubado o significado da substância ativa existente no
xamanismo.
O fumo em um cachimbo indígena servia exclusivamente para fins rituais.
O fumo era o traço de união entre o âmbito humano e o âmbito divino.
Todos os meios de prazer e o fumo eram originalmente enquadrados num
contexto ritual e, comprovadamente, o prazer em rituais não levava a
doença física.
Essas substâncias serviam e em parte servem até hoje para a orientação no
caminho espiritual.
Fora da Europa, muitos métodos de cura, que nos últimos tempos são cada
vez mais apreciados, têm um desses contextos de crença, como também
muitos dos nossos próprios métodos de cura.
Trata-se sempre de pessoas que foram e são religiosamente orientadas,
que desenvolveram ou reavivaram outra vez esses métodos.
Elas se preocupam com o bem-estar das pessoas em todos os âmbitos da
sua vida.
Samuel Hahnemann, o fundador da homeopatia, Edward Bach ou Carl
Gustav Jung foram pessoas sustentadas pela fé nas profundezas do seu ser.
A fé lhes deu a força de traduzir suas visões.
Assim, não importa se o contexto de um meio é do tipo material ou sutil;
decisivo é que as circunstâncias do acompanhamento contribuam de modo
competente para o efeito de uma substância ou método terapêutico.
Portanto, o ambiente determina amplamente como nós elaboramos ou
podemos usar o que vivemos ou ingerimos.
Mas, infelizmente, essas condições contextuais contam cada vez menos na
nossa sociedade moderna.
Nós procuramos muito mais a eficiência pura; as condições marginais e
ambientais parecem somente um acessório sem sentido.
Por outro lado, tradições milenares de cura estão vivendo um renascimento.
Muitas vezes os seus métodos só puderam sobreviver por estarem inseridos
num contexto de crença.
Eles foram transmitidos de mestre para discípulo durante gerações e
transportaram imagens para uma direção de vida interior e exterior.
Os terapeutas que desejam aprender hoje esses métodos de cura em seu
país de origem, não raro ficam surpresos quando os professores lhes pedem
coisas cujo sentido não entendem.
Na maioria das vezes pede-se que o desenvolvimento interior ande junto
com o aprendizado da técnica, o que pode ser praticado na forma de
exercícios e meditações.
Aos homens ocidentais o contexto de crença que encontram ali parece
suspeito e eles logo duvidam da seriedade do todo.
Tão logo percebe que se trata de crença ou de sentido, a maioria é vítima
de ceticismo e de insegurança.
Sem dúvida, alguns também tendem ao oposto.
Muitos homens modernos, apesar de todo o ceticismo, estão em busca do
conteúdo de vida e de sentido, ou de alguma coisa em que possam
acreditar.
Para muitos, as igrejas já não satisfazem mais esse anseio.
Eles só podem acreditar realmente em uma coisa que seja totalmente
superior a eles mesmos e que possa dar-lhes proteção, bem como apoio
paternal.
Se esse anseio não é atendido eles dependem de soluções de emergência.
Eles começam a acreditar na sua firma, ou se tornam uma autoridade de
força psíquica pessoal, à qual se entregam incondicionalmente.
A crença doentia em regimes ou orientações religiosas muitas vezes surge
desse anseio mal dirigido que estimula uma troca dos planos terreno e
psíquico.
Um forte anseio, que originalmente objetivava os âmbitos espirituais,
muitas vezes é projetado também sobre os planos materiais e ali provoca
crescimentos extremos.
A necessidade básica humana de ter algo em que acreditar não é usada
apenas por seitas, mas também por muitas outras instituições.
Se uma autoridade tem êxito em unir essa necessidade a si mesma ou à
própria instituição, a pessoa fica dependente e perde sua capacidade de
crítica.
Com frequência são pessoas de boa fé que chegam às seitas e, quanto mais
tempo elas permanecerem em sua atmosfera, tanto mais diminui o seu bom
senso saudável.
As dúvidas são deixadas de lado e acontece uma total dependência.
Desse ponto de vista a respiração associada é um instrumento que
apresenta problemas, pois no âmbito energético ela pode colocar tantas
coisas em movimento que pode levar pessoas despreparadas à tendência de
relatar essas vivências aos terapeutas ou aos dirigentes de grupos.
Aí reside um perigo essencial para a pessoa que pratica essa respiração e
uma tentação para os terapeutas.
Onde falta uma porção de ceticismo sadio às pessoas vítimas de seitas, o
resto da população o tem em quantidade exagerada.
Isso faz com que cada instituição que usa a palavra alma ou espiritualidade
imediatamente seja suspeita de ser uma seita.
Se queremos controlar o problema das seitas e instituições semelhantes, de
nada adianta proibi-las.
É melhor tirar-lhes a água à medida que as tornamos supérfluas.
É necessário e muito mais saudável satisfazer a necessidade de
espiritualidade, em vez de rotulá-la por inteiro como doentia.
Culturas antigas conheciam as necessidades espirituais básicas dos homens,
e suas cerimônias rituais representavam um elo entre o mundo terreno e o
divino.
Os perigos são visíveis.
O homem moderno, no entanto, em geral se separou de cada tradição, e
suas raízes espirituais não alcançam mais suficientemente fundo para
fornecer apoio.
Por meio da respiração associada temos a chance de realmente entrar em
contato com a própria espiritualidade.
Ela possibilita a muitas pessoas viver uma troca viva com imagens
mitológicas e símbolos arquetípicos, sem estarem ligadas a qualquer
tradição espiritual.
É por isso que a respiração associada é uma resposta ideal aos anseios
espirituais da nossa época.
Seja como for, ela também pode ser mal usada quando é criado um contato
que gera dependência.
Um bom sinal é sempre quando o excesso de energia vital criada pela
respiração é deixado ao paciente para o seu desenvolvimento e não "é mal
usado" pelo terapeuta, na medida em que ele, por exemplo, bombardeia o
paciente com pensamentos positivos depois da sessão, mostrando-lhe
previamente o "seu caminho".
Continua