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POST LISEX

Ligantes: Rafaela Manetti Geisler e Paula Grippa

Data da entrega: até 17/08/2022

O que é endometriose?

A endometriose é uma condição benigna, crônica, inflamatória e dependente


de estrogênio onde há crescimento de tecido similar ao estroma e endometrial fora do
útero, seu sítio anatômico habitual, podendo, muitas vezes, fazer com que a mulher
desenvolva aderências dolorosas. Durante a relação sexual, a tensão em tais
aderências, principalmente se elas estão localizadas nos ligamentos uterossacros,
pode causar intensa dor e desconforto para a mulher.

Os principais sintomas da endometriose são: dismenorreia progressiva,


dispareunia profunda, dor pélvica crônica não-relacionada ao ciclo menstrual e
infertilidade. Ademais, pessoas com útero que possuem endometriose possuem maior
propensão em desenvolver transtornos depressivos e de ansiedade.

Em um estudo com 170 mulheres com diagnóstico de endometriose, 103


(60,6%) relataram sofrer de dispareunia (dor durante a relação sexual) grave, uma
incidência maior do que no grupo controle (34,9%) que não apresentava a doença.
Além disso, as mulheres com endometriose afirmaram menos frequência dessas
relações e menos satisfação na hora do orgasmo do que o grupo controle.

Fatores de risco:

Os fatores de risco para a endometriose incluem: história familiar positiva para


a doença, nuliparidade, exposição prolongada ao estrogênio endógeno (ou seja,
especialmente mulheres que tiveram a menarca precoce ou a menopausa tardia),
polimenorréia (ciclos muito curtos, principalmente aqueles com menos de 27 dias),
hipermenorreia, obstrução do fluxo menstrual (por estenose cervical e anormalidades
müllerianas, por exemplo), exposição a dietilestilbestrol, altura elevada e baixo IMC.

Por outro lado, constituem-se como fatores que reduzem o risco do


desenvolvimento de endometriose: multiparidade, intervalos estendidos de lactação e
menarca tardia (após os 14 anos de idade).

Sintomas como preditores do tipo de endometriose:

1. Dispareunia: sugere endometriose peritoneal ou lesões profundas;


a. Dispareunia proximal (profunda): lesões infiltrativas pela endometriose
nos ligamentos uterossacros e cardinais, fundo de saco de Douglas,
fórnice posterior e parede retal anterior.
b. Dispareunia distal (superficial): dispareunia introital ou superficial podem
resultar de lesões na cérvice, hímen, períneo e em cicatrizes de
episiotomia.
2. Frequência urinária, urgência urinária ou disúria: endometriose na bexiga.
Sintomas podem piorar durante a menstruação. Endometriose nos ureteres
pode ser assintomática ou associada à dor em cólica e hematúria.
3. Diarreia, constipação e/ou dor abdominal em cólica: endometriose intestinal
pode causar diarreia, constipação, disquezia menstrual e cólica intestinal. Dor à
evacuação associada à dispareunia pode ser sugestiva de endometriose
profunda infiltrativa no septo retovaginal.
4. Dor na parede abdominal: a dor pode ser cíclica com a menstruação ou
contínua, podendo ser acompanhada de sangramento.
5. Dor torácica, hemoptise e/ou pneumotórax: indivíduos com endometriose
torácica podem apresentar dor, pneumotórax ou hemotórax, hemoptise ou dor
cervical e/ou escapular.

Consequências:

Pacientes com endometriose podem ter impactadas diversas condições


clínicas. Entre elas, a endometriose tem se mostrado fator de risco aumentado para
obstáculos na gestação (com as gestantes com endometriose tendo maior dificuldade
para engravidar e manter a gestação, e maior risco de gestação ectópica), câncer
epitelial de ovário e aterosclerose.

Ademais, a endometriose pode afetar a sexualidade e as relações íntimas das


pessoas com útero e de suas parceiras sexuais. Os efeitos da patologia e de seu
tratamento podem alterar as relações de um casal por vários motivos, como a falta de
uma causa óbvia ou de cura para a doença, a probabilidade da recorrência dos
sintomas crônicos após tratamento e o potencial impacto na saúde sexual - tanto em
relação à dispareunia quanto ao psicológico da pessoa com útero - e na fertilidade.

Estudos mostraram, entre casais onde uma pessoa com útero possui
endometriose, tensões e discussões causadas pela diminuição da frequência de
relações sexuais podem estar muito presentes. Tais estudos trazem significantes
correlações estatísticas entre a disfunção sexual feminina (presente em 32% das
pacientes com endometriose) e presença de dor à penetração, menor número de
relações sexuais por mês, sentimento importante de culpa perante o parceiro e
ansiedade e sintomas depressivos por sentir a feminilidade diminuída. Por tais
motivos, devem ser levadas em consideração durante o planejamento do manejo tanto
os sintomas físicos quanto os psicológicos e mentais da pessoa com útero.

Tratamento:

“A endometriose deve ser vista como uma doença crônica que requer
planejamento do manejo pela vida toda, com o objetivo de maximizar o uso de
tratamentos sem que a pessoa com útero seja submetida a procedimentos cirúrgicos
repetidamente.”
As decisões quanto a conduta frente à pessoa com útero que apresenta
endometriose devem ser individualizadas, levando em consideração sua apresentação
clínica, severidade dos sintomas, localização e extensão do tecido endometrial,
vontade reprodutiva por parte da pessoa, idade da paciente, efeitos colaterais das
medicações, custo dos tratamentos e probabilidade de complicações cirúrgicas.

Na paciente com dor leve a moderada, o tratamento primário se dá com


antiinflamatórios não-esteroidais e uso contínuo de contraceptivos hormonais. Tais
terapêuticas mostraram baixo risco, poucos efeitos colaterais e baixo custo, sendo
geralmente bem toleradas pelas pacientes. Se a pessoa com útero apresentar
sintomas severos ou refratários, é indicado o uso dos análogos de GnRH, fármacos de
segunda linha no tratamento clínico. A laparoscopia para confirmação diagnóstica e
ressecção cirúrgica após a mulher não responder aos tratamentos supracitados
também é indicada.

Endometrioma: excisão laparoscópica para tratar o endometrioma associado à


dor, confirmar o diagnóstico, excluir malignidade e prevenir complicações (como torção
de ovário) é indicada. Se os endometriomas são pequenos ou assintomáticos, o
tratamento primário é expectante.

Referências bibliográficas:

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deep infiltrating endometriosis. Fertil Steril 2002;78:719–26.

FERRERO S, et. al. Quality of sex life in women with endometriosis and deep
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NORINHO, P, MARTINS, M, FERREIRA, H. A systematic review on the effects of


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