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UNIPAC - Uberlândia
2021
RESUMO
ETIOPATOGÊNESE
Embora a etiopatogênese da SOP ainda não tenha sido totalmente esclarecida, percebe-se
que vários mecanismos foram propostos na tentativa de elucidá-la. Há diversas evidências
acerca da interação de genes com fatores ambientais, além da relação familiar através de uma
herança autossômica dominante (PASSOS et al, 2017).
Estudos mostram que a esteroidogênese anormal, de origem ovariana ou adrenal, seja a
desordem primária da SOP, ocorrendo altas concentrações de testosterona circulante e de
hidro epiandrosterona e, ainda, o aumento da produção de estradiol pelas células granulosas
ovarianas (MOURA et al, 2011).
Acerca dos genes estudados na SOP, verifica-se alterações no gene Fator de Crescimento
Endotelial Vascular (VEGF), o qual codifica uma proteína que participa da regulação da
angiogênese ovariana, estabilização dos vasos sanguíneos, formação, função e regressão do
corpo lúteo, podendo, então, desempenhar um importante papel na etiologia da síndrome
(FERNANDES et al, 2020).
Mais de 100 variantes genéticas foram descritas em pacientes com SOP, incluindo os
riscos de obesidade, resistência à insulina e anormalidades do receptor. Talvez os fatores
genéticos por si só não sejam suficientes para desencadear a SOP, mas sua associação com
fatores ambientais, comportamentais e psicológicos determinarão o surgimento da síndrome,
principalmente, a forma mais grave (FERNANDES; SA et al, 2019).
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
A respeito da SOP, observa-se diversas implicações reprodutivas, endocrinológicas,
dermatológicas, ginecológicas, cardíacas e psicológicas (SANTOS; ÁLVARES, 2018).
Apesar de não haver uma etiologia bem estabelecida, constata-se o aumento da produção de
andrógenos, os quais acarretam as manifestações clínicas de hiperandrogenismo, como
hirsutismo, acne e alopecia Andro genética. Vale ressaltar também que pode haver a
ocorrência de amenorreia e infertilidade. (MOREIRA; SA et al, 2013).
O hirsutismo refere-se ao crescimento excessivo de pelos terminais em áreas andrógeno-
dependente das mulheres. Foi estabelecido que mulheres hirsutas possuem atividade
aumentada da 5 α-redutase, responsável pela conversão da testosterona em di-
hidrotestosterona (DHT), a qual é estimulada tanto pelo hiperandrogenismo quanto pelo fator
de crescimento insulina-like e pela própria insulina.
A partir disso, sabe-se que a testosterona e DHT serão as responsáveis por alterar os
pelos, transformando-os em mais espessos e pigmentados nas áreas andrógeno-sensíveis
(MOURA et al, 2011).
A alopecia Andro genética na mulher é determinada pela perda de cabelo na região
central do couro cabeludo, culminando com importante fator psicossocial. Já a acne constitui
uma desordem da unidade pilo-sebácea, com lesões na face, pescoço, dorso e região peitoral
(OZDEMIR et al, 2010).
Além disso, são comuns a resistência à insulina (RI), dislipidemia, diabetes (DM),
hipertensão arterial sistêmica (HAS), disfunção endotelial, obesidade central e alterações nos
marcadores pró-inflamatórios crônicos. Portanto, mulheres com SOP estão mais sujeitas a
sintomas clínicos adversos, como o desenvolvimento precoce da síndrome metabólica (SM)
(SOUSA et al, 2013).
Estudos acerca dos aspectos psicossociais das mulheres com SOP mostram que há maior
risco de desenvolvimento de transtornos de ordem psíquica, como ansiedade, estresse,
depressão e insatisfação sexual, contribuindo com o isolamento social. Além disso, pode
ocorrer o comprometimento da adesão ao tratamento proposto devido a essa sintomatologia
(BERNARD et al, 2007).
Diante desse cenário psicossocial encontrado na SOP, pode-se inferir que há o
comprometimento da qualidade de vida dessas mulheres (MOREIRA, et al, 2010). Muitas
vezes essas pacientes se sentem estigmatizadas por não corresponderem ao padrão de beleza
física. Dessa forma, é de grande valia que os médicos tenham uma abordagem mais
humanizada, buscando estratégias satisfatórias que propiciem mudanças no estilo de vida
dessas pacientes, garantindo uma melhora na qualidade de vida (MOREIRA; SA et al, 2013).
DIAGNÓSTICO
Embora seja o distúrbio metabólico mais comum entre as mulheres, seus critérios
diagnósticos são controversos. Várias sociedades médicas desenvolveram propostas de
protocolos diagnósticos através de consensos baseados em evidências disponíveis na época
(FERNANDES; SA et al, 2019).
Atualmente existem três métodos diagnósticos mais conhecidos, NIH, Consenso de
Rotterdam e AE-PCOS Society. Contudo, o protocolo diagnóstico mais amplamente utilizado
é o consenso de Rotterdam (FAUSER et al, 2012), uma vez que engloba fenótipos mais
amplos do que os contemplados pelo Consenso de NIH, ou seja, mais dois fenótipos passam a
ser compatíveis com o diagnóstico de SOP: pacientes com evidências clínicas ou laboratoriais
de hiperandrogenismo associados com ovários policísticos, mas sem disfunção menstrual; e
pacientes com disfunção menstrual e ovários policísticos, mas sem a presença de
hiperandrogenismo (MARCONDES et al, 2011).
Segundo o Consenso de Rotterdam, deve haver a existência de dois entre os seguintes
fatores: oligo ou anovulação, tendo como manifestação clínica oligo ou amenorreia,
sangramento vaginal disfuncional e infertilidade; níveis elevados de androgênios circulantes
e/ou manifestações clínicas do excesso de androgênios como hirsutismo, acne e alopecia;
ovários com morfologia policística com presença de 12 ou mais folículos medindo entre 2 a 9
mm de diâmetro e/ou volume ovariano maior que 10 cm3 à ultrassonografia (BOUZAS,
2007).
Além disso, a exclusão de outras doenças que também cursam com hiperandrogenismo
constitui-se no quarto, e obrigatório, critério diagnóstico (ROSA-E-SILVA, 2018).
Outrossim, outros aspectos podem ser levados em consideração a fim de ampliar o
diagnóstico, dentre eles, tem-se a RI (TEEDE et al, 2018) e a DM tipo 2.
Além disso, há uma relação já bem documentada entre a SOP e a obesidade. Dessa forma,
faz parte da propedêutica diagnóstica desta síndrome a investigação metabólica e bioquímica
na busca de fatores de risco para DCV, além da avaliação do metabolismo glicídico e lipídico
(FERNANDES; SA et al, 2019).
TRATAMENTO
É importante salientar a necessidade de um planejamento de práticas de saúde mais
eficazes, que contemplem não apenas a condição biológica, mas também a psicossocial da
paciente. Deve se valorizar e reconhecer os sentimentos advindos dos seus sintomas, uma vez
que pode contribuir com a adesão ao tratamento (MOREIRA; SA et al, 2013).
Dessa forma, torna-se necessário um atendimento multidisciplinar e principalmente, o
acompanhamento psicológico a essas pacientes, a fim de criar estratégias adaptativas diante
do diagnóstico e quadro clínico (MOREIRA et al, 2010).
O primeiro e mais efetivo ponto do tratamento da SOP é a modificação do estilo de vida, a
perda de peso atrelada ao exercício físico regular e restrição dietética. Essas ações podem
contribuir com a restauração da ovulação e da regularidade menstrual, além de diminuir a RI
(BOUZAS, 2007).
Além dessas medidas iniciais, se for comprovado laboratorialmente a RI, o uso de
metformina pode contribuir com a melhor foliculogênese até o retorno dos ciclos ovula tórios
(MOTTA et al, 2012).
Dessa forma, o tratamento medicamentoso visa amenizar os sintomas de
hiperandrogenismo, reparar o ciclo menstrual e ovula tório e atenuar a SM (PEREIRA et al,
2015). A metformina tem sido utilizada em pacientes com sinais, sintomas e/ou alterações
laboratoriais de RI, sendo capaz de melhorar a sensibilidade à insulina, sinais de
hiperandrogenismo e irregularidade menstrual. É um medicamento que tem mostrado eficácia
na restauração da ovulação (BOUZAS, 2007) e tem se mostrado muito eficaz na prevenção a
longo prazo de DCV em pacientes com SOP (PEREIRA et al, 2015).
Segundo estudos, pacientes com IMC (índice de massa corporal) < 30 kg/m2 e
infertilidade de causa ovulam tória, podem se beneficiar do uso da metformina, porém devem
ser orientadas quanto a outros medicamentos mais eficazes como o citrato de clomifeno (CC)
(MACIEL, 2018).
Nas mulheres anovulatórias com SOP, o tratamento com CC tem sido utilizado,
entretanto, há possibilidade de aumentar a chance de multiparidade em 10%. Grande parte
dessas pacientes (80%) irão responder ao estímulo ovariano do CC, mas apenas cerca de 50%
engravidam em até seis meses de tratamento (MOTTA et al, 2012).
Segundo estudos, mulheres com IMC > 30 kg/m2 podem se beneficiar com o uso dessa
medicação, melhorando os resultados reprodutivos (MACIEL, 2018). O uso de
anticoncepcionais orais é empregado em pacientes com anovulação e hiperandrogenismo,
uma vez que os estrogênios diminuem os níveis de andrógenos circulantes ao incrementar os
níveis de globulina transportadora de hormônios sexuais (SHBG) e por diminuir a atividade
da 5 α-redutase, que também é determinada pelo progestogênio, o qual reduz a síntese e a
secreção de gonadotrofinas hipofisárias (SOARES JUNIOR; BARACAT, 2010).
Além disso, os contraceptivos orais desempenham um papel importante no tratamento do
hirsutismo e na regulação do perfil hormonal. Conseguem reduzir cerca de dois terços do
crescimento dos pelos nessas pacientes. O recomendado é utilizar doses de progestogênios
com baixa atividade androgênica. Os mais conhecidos são: desogestrel, gestodeno,
norgestimato e drospirenona (PEREIRA et al, 2015).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dessa forma, a SOP constitui uma desordem endócrina que está vinculada a diversos
problemas de saúde, incluindo dislipidemia, HAS, DM tipo 2, DCV e infertilidade.
Além disso, pode levar a implicações de ordem psíquica, como ansiedade, estresse,
depressão e insatisfação sexual. Devido a isso, faz-se necessário uma abordagem
multidisciplinar, englobando médico, educador físico, psicólogo e nutricionista, uma vez que
a sintomatologia da SOP afeta não só seu bem estar físico, mas também o psíquico.
Apesar de ser um distúrbio relativamente comum em mulheres em idade fértil, sua
etiologia ainda carece de estudos e seus critérios diagnósticos ainda não apresentam um
consenso, mas observa-se grande predileção na utilização dos critérios de Rotterdam, uma
vez que engloba fenótipos mais amplos que não são considerados pelo Consenso de NIH.
Outrossim, o tratamento dessa desordem deve ser prolongado, incluindo mudanças no
estilo de vida e uso de medicações como a metformina e os anticoncepcionais orais a fim de
corrigir as anormalidades hormonais e aliviar os sintomas. Além disso, o uso de CC tem
mostrado grande eficácia no tratamento da infertilidade, garantindo melhora reprodutiva
dessas mulheres.
Assim sendo, observa-se que ainda há uma certa carência em estudos que busquem
compreender a etiologia da doença a fim de garantir um diagnóstico e um rastreio mais
efetivo.
REFERÊNCIAS
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